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APRESENTAÇÃO SEMINÁRIO 2

-Introdução formal

O caso que a gente vai tratar é a Ação Direta de Inconstitucionalidade 6622


que questiona o 1.º parágrafo do 13.º artigo da lei 14.021 e tem como
requerentes A Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) e o Partido
dos Trabalhadores (PT)

-O que é a lei

Bom então vamos por partes, primeiro o que é a lei 14.021? Ela é uma lei
proposta no contexto da pandemia de COVID-19 e tem em vista criar medidas
que auxiliem o combate à doença, prevenir o contágio e criar planos de ação
para garantir a segurança alimentar dos povos indígenas, comunidades
quilombolas e pescadores artesanais.

Segundo, o que diz o 13.º artigo? O artigo 13 proíbe a entrada de pessoas em


territórios ocupados por povos indígenas isolados, a menos que sejam pessoas
autorizadas pelo governo que estejam lá para prevenir uma catástrofe

Terceiro, o que diz o 1.º parágrafo? O primeiro parágrafo permite que as


missões religiosas que já estiverem nesses territórios permaneçam se tiverem
o aval médico, mesmo essas missões não estejam lá para combater a
pandemia ou evitar uma catástrofe.

-Artigos violados

De acordo com o PT e a APIB, esse parágrafo é inconstitucional, pois fere os


artigos 5, 196 e 231 da Constituição Federal de 88 e o artigo 18, item 3 do
Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos.

O artigo 5 ta localizado no título II, que fala dos direitos e garantias


fundamentais, Capítulo I, Dos Direitos e Deveres Individuais e Coletivos. Ele
estaria sendo violado, porque a ação dos missionários em terras de indígenas
isolados feriria o direito à vida que o artigo considera inviolável.

Já o artigo 196 do Título VIII, Da Ordem Social, Capítulo II, Da Saúde; garante
que a saúde e a redução do risco de doenças são uma obrigação do Estado e,
portanto, permitir as ações religiosas num contexto de pandemia colocaria em
cheque esse direito para os povos originários.

E por fim o artigo 231, também do Título VIII, Da Ordem Social, Capítulo VIII,
Dos Índios; garante aos povos indígenas que serão reconhecidos sua
organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos
originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam, e assim, a
catequização desses indígenas pode ferir esse direito também.

Além da Constituição Federal, os requerentes também alegaram que o


parágrafo em questão fere o Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos,
mais precisamente o item 3, do artigo 18. O artigo fala sobre a liberdade
religiosa e aponta que existem limites para ela, entre esses limites está a
proteção da saúde da população.

E isso é importante, porque o próprio pacto internacional vai colocar em lei a


discussão sobre direitos fundamentais e como eles muitas vezes conflitam
entre si. O pacto coloca que a saúde e a segurança podem colocar limites na
liberdade religiosa.

-Lado dos indígenas

Do lado de quem requisitou a ação temos a Articulação dos Povos indígenas


do Brasil e o Partido dos Trabalhadores, que argumentam que historicamente,
o contato com comunidades isoladas com terceiros produziu tragédias à essas
comunidades, devido a transmissão de doenças. Por isso num contexto de
pandemia a vida dos indígenas tem que ser mais valorizada do que a liberdade
religiosa dos missionários.

A APIB aponta que a FUNAI tem historicamente adotado medidas para não
permitir missionários em terras de indígenas isolados para proteger a sua
saúde, cultura e escolha por isolamento. Além de apontar que os serviços de
saúde aos indígenas são precários caso essa interação gerasse essa
necessidade e questiona a falta de órgãos responsáveis por fazer essa
avaliação médica prevista na lei.

-Lado do governo
Do outro lado a AGU junto com seus amicus, advogam que a lei na verdade é
constitucional. Eles apontam que não existe direito superior a outro e que
quando há conflito entre dois direitos, os dois devem ser respeitados, com a
solução não podendo ferir nenhum deles. Eles argumentam que nesse caso a
lei é clara em permitir que apenas missões já estabelecidas permaneçam nos
territórios e que novas missões estão proibidas. Também sustentam que essa
permanência só pode ocorrer mediante avaliação médica e que isso mostra o
espirito da lei de cuidado com as populações indígenas.

Outra parte do argumento é que as missões que estão lá hoje foram


autorizadas pelos órgãos indigenistas responsáveis e que elas só podem entrar
com a permissão das tribos indígenas afastadas.

Assim a PGR opina validando argumentos dos dois lados, mas ainda sim
reconhece uma possível brecha na lei onde pessoas que teriam sido
autorizadas a entrar nas terras de indígenas isolados antes da pandemia e
tivessem se retirado, poderiam voltar por meio de avaliação médica. Sendo
assim a PGR reconhece a medida cautelar, para a necessidade de correção
desse possível equivoco interpretativo.

-Povos isolados

E quais são os impactos dessa discussão nas políticas públicas? Para


começas a entender vamos para a definição que o Fundo Amazônia dá para
povos isolados. “Grupos indígenas com ausências de relações permanentes
com as sociedades nacionais ou com pouca frequência de interação com
outros povos indígenas ou com não-índios”

Até o final da década de 80 a política do Estado brasileiro era a de integrar


esses povos a sociedade, mas isso gerou efeitos desastrosos de mortes e
aculturação. Por isso em 87 a política muda para o não contato com esses
povos, como forma de garantir seus direitos fundamentais.

Em dezembro de 2020 com a publicação da Resolução 44 do Conselho


Nacional de Direitos Humanos que dispõe sobre princípios, diretrizes e
recomendações para garantia dos direitos dos povos indígenas isolados e de
recente contato. Isso foi um avanço pois pela primeira vez, lideranças
indígenas participaram diretamente da organização de um documento oficial
acerca da proteção desses povos.

-Impactos

A resolução implica na maior participação dos povos indígenas na elaboração


de políticas públicas de seu interesse, mas o governo atual tem ignorado essa
resolução.

A política de não contato vem sofrendo reveses desde 2013 com a


precarização dos órgãos indigenistas e o sucateamento de políticas públicas no
geral. Junto a deficiência do poder público, temos como ameaça aos direitos
dos indígenas o avanço do agronegócio, da exploração ilegal de madeira, o
desmatamento e o garimpo ilegal, o narcotráfico e a própria atuação dos
missionários.

Além disso o PL 490 voltou a caminhar no congresso e ele permite que o


Estado terceirize o contato com os povos indígenas, podendo passa-lo para
empresas por exemplo. Nesse contexto a decisão acerca da ADI 6622 pode ter
um indicativo de qual rumo a política em relação aos povos indígenas pode
tomar. Caso o STF decida a favor da constitucionalidade dessa lei,
continuaremos a ir no sentido de reversão da política de não contato, caso a
decisão do STF seja contrária a constitucionalidade, pode-se ver essa
tendência enfraquecer.

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