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Simone de Souza Da “Revolugao de 30” ao Estado Novo ravolta nas abordagens sobre o pés-30. Emblematicos sao os textos de Edgar DeDecca e Carlos Vesentini "A Revclugéo do Vencedor” e de Kazumi Munakata “O Lugar do Movimento Operdrio”, Esses autores criticam as elaboragées his- torcas sobre 30 que privilegiam, como agentes sociais, “as oligar- cuias, a classe média urbana, o tenentismo, o Estado e, mais tardia- mente, as classes ‘populares’, quase que apenas como massa de manobra, Nao h4, portanto, nenhum lugar para os trabalhadores”. Nessas abordagens os embates politicos excluem os trabalha- dows, considerando os conflitos entre “oligarquias dissidentes*, ‘tenentes revolucionérios” versus ‘oligarquias tradicionais” como Sujeitos histéricos que definem 0 campo da luta politica do pés- 50. Daf, a sugestiva questo de Munakata: qual o lugar do movi- mento operério? N adécada de 70, a historiografia brasileira marca uma revi- Por que a construcdo de uma historia, em que as oligarquias se ‘ualficam como sujeitos sociais que organizam a sociedade, exclui SS ttabalhadores da cena politica, néo consideram suas lutas com ®van¢os e recuos, suas experiéncias vividas no cotidiano e nos emba- ee Cuttos sujeitos sociais buscando construir sua cidadania e "tidade no mundo do trabalho? Seguindo algumas pistas sugeridas por esses autores € que pre~ "MOS construir esse texto. Digitalizado com CamScanner A 1° Republica e os Trabalhadores A histdria politica do Ceard, na Primeita Replica, ter come tema de estudo privilegiado as oligarquias, entendidas como classe, 2 aE ae oligdrquica, nao hé lugar Para os trabalhadores, Vig tos como “imaturos” e “inconscientes”, condigio que 05 exclui dy processo politico. Esta imagem construfda pelos setores dominantes impede a participacdo dos trabalhadores na cena publica, quer seja no processo politico formal, quer seja nas organizacées de classe Daf ser recorrente, em nossa histéria, 0 uso da violéncia contra og trabalhadores. E significativa a expresso de Rodolfo Tedfilo ~ “Os batbaros nada deixaram’, quando os populares, na deposigéo de Accioly, des. trufram a praca de Manqués de Herval (hoje José de Alencar). Os mani. festantes nao preservaram os “bens piiblicos”. Por que os “bérbaros? destrufram os simbolos de modernidade que embelezavam os logra- douros piblicos, construidos como expressao da belle éyoque no Ceara? A Repiiblica era vista com desconfianca pelos trabalhadores, as préticas politicas dos governantes, com a exclusio social e a repressio 4s suas organizacées politicas, eram motivo de insatisfacao e protestos. Convidados a participarem das comemoracées do primeiro aniversdrio da Reptblica, por intermédio de seu dirigente ‘Teodomiro de Castro, os trabalhadores cearenses responderam: ‘néo viam motivos para isso, desde quando, em vez de risos e flores, s6 viam desolacao e terror.” Os trabalhadores cearenses, que vinham construindo suas experiéncias nos mais diversos espacos sociais — oficinas, fébricas, greves, sindicatos, associacées, partidos, imprensa — buscam, nos primeiros anos da Repiblica, participar do sistema politico formal, Por meio do partido operdrio, fundado no dia 15 de junho de 1890. Era congénere do partido operdrio existente, na Capital Federal, de corte social-democrata. £m Fortaleza, os debates sobre a fundacao do partido operério 840 veiculados pelo jornal O Cearense, periddico pertencente 20 grupo politico liderado por Rodrigues Jtinior, que fazia oposigéo a0 entao governador Gal. Ferraz, Nos Fstatutos do Partido Operatio, o art, [estabelecia que “O partido tern por fim eriar agremiagées politicas em todas as locali- dades do Estado; promover 6 bem. estar de seus associados, benefi- Giando-os ¢ instruindo-os.""O manifesto do partido expressa que Jutard “pelo estabelecimento da jornada de trabalho de oito horas; a Digitalizado com CamScanner 288 = Uma nova Histéria do Cearé | —_gghoras de trabalho de mulheres e ciangas, democratiza- fi “alc habitagio higiénica para trabalhadotes," j 7 vir visiilidade & presenga dos trabalhadores na cena fava Tra a congquista. de direitos sociais na construgio de sua tic patie, negada pelo Impéaio com o estatuto da esrav an ‘am, naquele contexto de implantagao da Repiiblica, par aD via parlamentat. Heh js classe5 dominantes cearenses, pela imprensa, criticavam o par- nooo PO se “ em mera ‘imitagio” dos partidos euro- pens ee influéncia socialista, nos moldes da social-democracia alema. Os espagos formais Fr, 1991, 0 partido opersrio funda o jornal O Combate, que rasa a yeicular discurso, objetivando influenciar os trabalhadores es com estratégias polfticas para o enfrentamento das ques- O Partido Operdrio Cearense criticava as formas de _aligarquias sobre os politica dos trabalhadores, até entéo em associacdes partidos, 0 processo cepalstase beneficentes, ue Vinham ocortendo desde os tempos fompéo, como a Fundagdo da Unido dos Artistas, raternidade e Sjabalho, Unigo Artistica Maranguapense, Associagéo Tipogrética Crane. Esta sitima liderou, em 1876, a greve por melhores salé- traudes e eleigees a roscoe grficos do jomal Pedro Il, 6rgio do Partido Conservador* oS ‘Acreditando nas mudangas na sociedade por via parlamentar, " conclama a participacao dos trabalhadores no pleito eleitoral que comers, em setembro de 1890, para compor o Congreso Constituinte. ti da politica, com 0 controle das ses socials cngenizacao eleitoral e aparatos de repressao, além das impediam o voto das oposigdes & dos trabalhadores. E esta a primeira vez em que ns, os artistas, constituidos em partido e de nossa conta propria, pleiteamos uma eleigao no intuito de, como as demais classes sociais, também tomarmos parte nos altos problemas da Patria.” O processo eleitoral é bastante tumultuado. Do confronto, tesulta@ priséo do chefe do Partido Operdtio, Aderson Ferro, sob a {io deconspirar contra o governador Os dirigentes do Partido ee a ee com a violéncia policial, deliberam abandonar 0 _—. oral. Os Os espacos formais da politica, com 0 controle das oligar Je repressio, além es rquias sabre os % partidos, © processo eleitoral e aparatos 4 Fan eleigées a bico de pena, impediam o voto cas oposivoe Get hades, favorecendo os grupos situacionistas. As elet- Em cet ag eee dos grupos dominant Digitalizado com CamScanner | primeiro interventor, F nandes ‘Tavora, em COnsonAngi com as ditetrizes do governo de Gettilio Vargas, que considera petiodo pés-30 como de “teconstrugio nacional’, desaloja do pojc as chamadhas oligarquias tradicionais, também chamnadas de deca, das, €coloca, nos cargos da piblica administracao, seus apanigy, dos politicos no que é criticado pelos tenentes, por dar continurdy de as praticas politicas clientelistas da Reptiblica Velha, Quanto aos movimentos dos trabalhadores, Fernandes Téyory age em consonancia com o governo de Gettlio, na desmotilzacig Quanto ao do movimento operdrio e sindical. © PCB estava preparando, para dia 19 de janeiro de 1981, a realizacéo da Passeata da Fome, que deveria reunir os desempregados de Fortaleza, e vinha sendo plane. ‘rabalhadores,os jada desde os fins de 1930. interventores A interventoria mobiliza os aparatos de repressao e impede a plasmavam-se pela _"ealizagdo da Passeata da Fome. Nomeia delegado especial, raliza diligéncias policiais na capital e interior; profbe a distribuicio do material de propaganda da Passeata, prende 56 operdrios, sendo 16 “reprimir militantes deportados para o Rio de Janeiro. O militante comunis- ipicnieniee. ta de Camocim, Francisco Theodoro Rodrigues, registrou, na forma de didtio, “os 16 deportados cearenses” as desventuras que sofem em diversos presfdios. No relat6rio apresentado ao interventor Fernandes, como titulo comicios e greves a “O comunismo no Cearé”, publicado no jornal O POVO de 28.01.31, . justifica a repressio, afirmando que: ‘A Passeata da Fome estava desti- bala e nao permitir 4 nada a ser o primeiro movimento de agitacdo comunista entre nds, apés a Revolugao de Outubro. Seguir-se-iam outros levantes..” manifestagées.” O que a interventoria queria impedir era a participagao politica dos trabalhadores na vida publica por meio de suas organizacées - partidos, sindicatos, imprensa Operdria —, para isso contava com 0 apoio da Igreja Catdlica, por intermédio do jornal O Nordeste, dos Circulos Operdrios Catélicos e dos intelectuais pertencentes & Unio dos Mogos Catélicos que realizavam programagdo cultural “antic munista’, com conferéncias e debates nos sindicatos e associagées beneficentes, a fim de evitar a divulgacdo de idéias comunistas 10s Melos operdrios. Os intelectuais catélicos cearenses, seguindo a onientagoes do Centro Dom Vital, faziam 0 papel de educador dos trabalhadores pelo jornal O Nordeste, com pregacdes civico-religios3s da LEC (Liga Hleitoral Catélica) e dos Circulos dos Trabalhadores Catélicos, na construgdo de uma sociedade de harmonia entre aS classes sociais. movimento dos politica varguista de movimento operario, de dissolver suas © primeiro interventor, Fernandes Tavora, se, por um lado, consegue desmobilizar os setores do movimento dos trabalhadores . nova Histéria do Ceara 300 = Uma i Digitalizado com CamScanner FG, nfo consepue, contudo, overnay, sem inteferén ie os politicos locais, considerados obst4culos para imple es eformas de moderizago do Estado, propugnadas pate Tor press dos tenents, Fernandes Tvara é subs. ae velo capita Carneiro de Mendonga (1931/1934) 1 ategosl de orientagio tenentista, a Nacdo (28.08.31, p ), justi interventores militares: ntores militares... além das vantagens de I geral,€5 scolha de militares sem ligagies From o meio em que v3o agit, possibilita a prética de de quaisquer partido ou interesse subalternos. O for que interve se critério da pessoal sentos Fernandes T4vora ilustra admiravelmente a impos- que se encontra um politico de exercer imparcial- x cago do Dt sibilidade em vente as fungoes de administrador. Na perspectiva de governo dos tenentes, um interventor “mili- tar”, ‘neutro- politicamente” e “estrangeiro”, administraria melhor o snd, pelo seu distanciamento dos grupos locais que disputavarm o poder. Quanto 20 movimento dos trabalhadores, os interventores sfomavarn-se pela politica varguista de *..ceprimir violentamente enovimento operario, de dissolver comicios e greves & bala ¢ no permitir suas manifestagoes.”* ‘A tepresséo a0 movimento oper: raltca das organizac6es de trabalhadores em (legigo Cearense do Trabalho) e Circulos Operérios Catédlicos que deiendem acolaborecdo entre as classes socizs, fato que benelica a ges- tSointerventorial de Carneiro de Mendonga. Além dessas organizacoes que favorecem a politica de intervencéo no controle do movimento dos tabalhadores, o Estado brasileiro — que se constréi no pés-30 -, procu- ingir, com os seus tentaculos, todos os maovimentos da sociedade | mais, especificamente, quer controlar o movimento opersiio € cal Fora tanto, cria-se o arsenal de érgios tecnoburocraticos, sendo anes importantes: 0 Ministério do Trabalho, Indistria e Comércio, ee oe Nacional do Trabalho, além de uma copiosa legislagio ulhista, que, ao “conceder” beneficios a0s trabalhadores, a0 mesmo lhacores. Pais, na ne postura de nett 1933. O processo elei- Jo poder no Estado, 4rio, no pés-30, favorece a agéo movimentos como LCT “po, mpd limites as oxganizagoes dos traball say oes de econsiuconalizasSo do lidade nag oe Carneiro de Mendonga assur sg es para Constituinte Federal de Visibilidade as forgas politicas que lutam pe Jo inter Da “Reevolugdo de 90" ao Estado Novo a 301 Digitalizado com CamScanner A Igreja Catélica, que fundara a Liga Eleitoral Catélicg orientar os fiéis para as eleigées da Constituinte Federal de 1gg¢ Ceard, se transforma em verdadeiro partido politico, oo) O discurso politico-teligioso da LEC atinge o Operariads cag, rense que vem sendo doutrinado politicamente pelos citculos agers rios catélicos ¢ Legiio Cearense do Trabalho. colaborando com Fstado, no que concerne aos movimentos da sociedade civil » organizages dos trabalhadores, que a LEC elabora 0 decélego, em que expoe suas posicdes: (jornal O Nordeste 20.01.33, p.1) A Liga Eleitoral Catélica ¢ o proletariado: 1° defender a constituicéo da familia, 2° difundir a instrugio, 3° elevar o nivel de educagio, 42- desenvolver o ensino profis. sional, 5° - cuidar da assisténcia, 6° - fomentar o desenvolvi- mento econémico e saneamento do solo, 7° - promover a har- monia das classes, 8° - proteger 0 trabalho na base do sindica- lismo cristo, 9° - manter e fomentar a unio entre 05 Estados, 10° - velar pelo patriotismo moral da nacionalidade. A Liga Eleitoral Catélica, os Circulos Operdrios Catélicos e Legiéo Cearense do Trabalho colaboram, assim, na montagem de um projeto politico para o operariado cearense, educando-o para, juntamente com os patrées, fundarem uma sociedade em que a onganizacdo corporativista das classes impede as manifestacdes dos conflitos sociais. Nos debates de constitucionalizagao do Pais, o PCB busca “o seu registro no Tribunal Regional Eleitoral do Cearé, o que Ihe é negado’. O jomnal Legiondrio da LCT desenvolve discurso anticomunis- ta, esclarecendo que nao basta apenas proibir o registro do partido mas também sua existéncia, pela influéncia “negativa” que exert? no movimento operdrio. No Legiondrio de (15/04/38), pronuncia-se contra a expansio do partido: “Daf por que combatemos a liberal democracia, regite suave € gelatinoso, macio e tolerante, que permite o Partido Comunista, mas nao o registro” Os grupos politicos constituidos pelas oligarquias di “tenentes Revoluciondrios fundam o PSD. (Partido Social Democratico). Os tenentes véem, na constituinte, possibilidades de aprofundar as reformas politicas de “modernizagao” do Estado int ciadas com a “Revolugao de 30". © voto, com a decretagio do Cédigo Eleitoral em 1982, para o PSD, expressaré “a verdade das dentese urnas", bandeira dos tenentes contra os desmandos da 1* Republica | a 4 302 = Uma nova Historia do Ceara ] Digitalizado com CamScanner Aarma €0 voto - Atos arma infavel para a sas itias muicipas \ va oarunfo geral co Tartido Soy al Democratico, A revolu- armas, na! cps = pels cu porque os politicos do extin gio, - ci se nfo respeitavam o dito do voto se apoiavam ui tone nas eleigdes fradulentas vemos a segutanga de que o Governo Provisério, que mere gc 0 nosso apoio, velard pelo prestigio do voto e pela verdade dos cess Destarte, é indiscutivel a necessidade de intensificarmos 0 ajstamento clitoral, pois somente com a maioria dos votos “ eremos acautelat, Nas urnas, os principios da Revolugio de 0, ornal O POVO 04/02/88, p.1) As eleigées tealizadas, em maio de 1983, confirmam a vitéria asétoral do grupo politico liderado pela LEC. ee Em continuidade ao processo de constitucionalizacéo, reali- dominantes zam-se, em 1934, eleigdes para a constituinte estadual. A brasileiras, nbiéia Legislativa, por via indireta, escolhe, em mai 198: 7 Assernbléia Legis P Ho de 1985, opjetivando impedir ‘Menezes Pimentel governador do Estado. ‘Avitéria da LEC tem ampla repercusséo no movimento dos tra- telhadores cearenses, que nao seguem as orientagdes do sindicalismo movimentos dos catdlico, como 03 comunistas e os considerados “independentes” O comportamento do interventor Carneiro de Mendonga é considerado contraditério, pois, no contexto de constitucionalizacao do Fais, os tenentes optam pelas disputas eleitorais como meio de dar fantasma do continuidade as reformas do Estado, enquanto o interventor cearen- ‘comunismo, para semantém a postura de “neutralidade” frente ao proceso eleitoral. Apés as eleigoes para a Constituinte Estadual, objetivando nao aprofundar os conflitos com os setores dominantes locais, Getiilio repressdo que actita o pedido de exoneracio do interventor Carneiro de Mendonga. instelam nd Pals, os avancos dos trabalhadores, ressuscitam 0 justificar 0 clima de A interventoria de Felipe Moreira Lima e os trabalhadores cearenses sy Consiga Federal de 1984, apesar dos dispositive corp Kane de organizacéo das classes sociais, propici, pelo clima de rn tizagio do Fats, ampla mobilizacko dos trabalhadores por € Suas orpanizacoes de classe. Senin crescente agitagao dos trabalhadores é vista pelas classes alnggaiteS como pervurbagio da orem, por isso deveria ser disci alto gms “4 intranguilidade é fruto das condigées do Pais, do “usto de vida e da inflacdo... Da “Revolugéo de 20" ao Estado Novo » 303 i Digitalizado com CamScanner E é contra as justas manifestagoes de inquietude da época que as novas classes ditigentes se manifestam, tentanclo impor a Lej ge eguiranga Nacional”* ‘As classes dominantes brasileiras, objetivando impedie og bbalhadores, ressuscitam 0 fantay. avancos dos movimentos dos tral ma do comunismo, para justificar 0 clima de repressio que instalamy no Pais. Contudo, o que as classe dominantes nao permitem ¢ organizagao dos trabalhadores em partidos € sindicatos que nig sejam atrelados ao Estado. ‘A fundagio, em marco de 1935, da Alianga Nacional Libertadora (ANL), que engloba amplos setores da sociedade brasi leira, inconformados com a situag3o politica do Pais, aumenta 9 contingente dos insatisfeitos. Por outro lado, ‘A classe média, mais austera consigo mesma, especialmente nas suas camadas juvenis, entrega-se aos movimentos idealistas, que deveriam levar a transformagao da ordem existente. O Partido Integralista, obra de exploracao desse estado de animo, arrasta grande nimero de mogos e compromete, nas suas refle- xées copiadas da literatura fascista européia, varios intelectuais.* Para as classes dominantes brasileiras, os movimentos de esquerda e direita esto tumultuando a vida politica do Pafs, quan- do esse perfodo deveria ser de consolidacdo do regime democritico, de acordo com a Constituigao de 1934. No Ceard, o ano de 1935 é marcado por intensa mobilizagio politica. O calendério eleitoral marca, para o dia 26 de maio, as elei- Ges para a escolha do governador Constitucional do Cearé, fato que provocaré novamente o confronto politico da LEC e PSD; porém numa conjuntura diferente marcada pela presenca dos comunistas, socialistas, liberais e antifascistas, que se agrupam no movimento chamado ANL (Alianga Nacional Libertadora), que, fundada no Rio de Janeiro, expande-se para os Estados. No Cearé, no perfodo que antecede a instalagéo do nticleo da ANL, realizam-se concentracdes piiblicas e debates politicos nas faculdades e escolas, onde se discutem os objetivos do movimento, que, de imediato, recebe adesdo dos trabalhadores cearenses. Os diti- gentes da ANI, no jomnal (O Unitdrio, 19.05.35, p.5), conclamam a participacao de todos: ‘Alianga Nacional Libertadora A Comissio Organizadora do Diretério Provisrio d2 Alianga Nacional Libertadora, organizagdo de frente dnica 304 = Uma nova Historia do Ceara oo i Digitalizado com CamScanner om um programa essencialmente antiimperialista, Cpildindios € pelas hiberdades democriticas do Povo, yoru wea hora de angtistia, de sofrimentos e de miséria, a ta © one " sr eatos opersT05, COoperativas,e estudantes, gr Soares, Escola Normal, Liceu do Ceara ¢ Escolas = PT Centros Espiritas, Igreja Presbiteriana, Igreja re enfir, as clementos de todas as tendéncis pl ate gist, sem ditinco de ida, sexo, cor ou credo pol case gjoso, convidando a todos para tomarem parte, 20 eo peste gigantesca Baal pela ibetago defini sol .o do Capital financeiro internacional - O impe- io Brasil do jugs emo, que explora © nosso solo. yperiores> een ia om muitos debates ¢ concentragbes populares, no dia 22 de se 1965 éinstaledo 0 ncleo da ANI. em Fortaleza 6 documento de divulgacéo da ANL é considerado de orienta- go comunista por expressar conflitos e desigualdades sociais. ‘A Acdo Integralista Brasileira, em fase de expansao no Cearé, valca eessio doutrindria em que critica 0 programa da ANI. pela “desorientacao doutrindria, hfbrido do liberalismo decrépito e mar- yismo dissolvente.” (O Nordeste, 15/05/35) O contetido nacionalis- te da ANL é considerado uma tética dos comunistas, visto que 0 racionalismo verdadeiro € o integralismo, pois os comunistas pau- tam suas estratégias politicas pelo internacionelismo. Os debates polarizados entre integralistas ¢ comunistas pela imprenss cetdlica (jomnal O Nordeste) objetivam impedir que os traba- lads se organizer em sindicato que fuja as orientacoes do sindica- lismo cat6lico dos Cfrculos Operdrios e Legiéo Cearense do Trabalho. CO interventor Felipe Moreira apéia a ANL, por considerar um movimento de “reacéo natural de todos os espiritos emancipados Contra a tentativa de estabelecimento do fascismo, cuja propagan- 4avinha sendo feita impunemente no Pafs"™” ee operério, no Cearé, ganha nova dimensio com Fag tio da LCT. Com a Le de Sinicalizasto do governo 0 don ond isa j4 nfo fica tao dependente da LCT. Na media- Viassuming a * patrio-empregados, o sindicato paulatinamente a itemnediagdo tee de negociador, o que contribui para esvaziar Cen ig ICT. Outro ftor qu combi pao enfraque- nage! divisio que se processa no movimento, com a Relig eno Sombra do ext, que, por sua participagéo da Contra ‘Onstitucionalista de 1932, em Sao Paulo, colocando-se vero de Gettlio, perde a chefia do movimento, sendo ~~ Da “Revolugao de 30” ao Estado Novo » 305, Digitalizado com CamScanner De volta do exilio, Severing « substitufdo por Jeové Mota i Sorby, vimento legiondtio, mas pa. anga do movimento egionario, mas nage 4 nao véem mais legitimiclade na che tenta recuperar a lider segue. As bases operAtias j j Sombra, A politica getulista, referente 3 questio trabaiy que toma diffcil pata Soran fia de absorve as liderangas sindicais, perar sua lideranga junto a0 operariado cearense. Severino Sombra, nao tendo mais espaco politico na icy funda outro movimento com objetivos idénticos a LCT: " ‘A Campanha Legionéria tem por objetivo principal a defesa do operariado, ¢ implantar, no Brasil, o estado Sindical. Corporativo-Legjonsrio, isto é, 0 Estado em que 0s brasileitos estejam organizados dentro de suas profiss6es, de acorda com os interesses da produgéo e no com os interesses dos partidos O novo movimento de Sombra nao consegue a repercussio da LCT, $6 conseguindo a adesio de algumas associagdes de classe, sendo o sufficiente para o seu fracasso. A Campanha Legionétia entra em choque com os elementos da LCT, que nao mais aceitam alideranca de Severino Sombra. A sede da LCT é invadida pelos par. ticipantes da Campanha Legionéria. Moreira uae A luta entre os dois movimentos e a conjuntura politica do permitir as periodo favorecem a maior mobilizagéo do operariado fora das amarras do sindicalismo catélico. O operariado independente (que nao pertence & LCT) funda a trabalhadores,n0 «Frente Unica Sindical’. Nos seus objetivos, consta que espago publico das O interventor Felipe manifestagdes dos A Frente Unica Sindical, que sendo uma organizacéo sem cor politica ou religiosa, mas organizada e dirigida por operdtios, considerado tem como finalidade real e Gnica lutar sem desénimo em defesa comunista pelo jornal do proletariado cearense. (jornal O Unitdrio 11.05.35, p.3) pragas e avenidas, ¢ catélico O Nordeste J As greves que surgem, no periodo, so lideradas pela “Frente Unica Sindical’, como é 0 caso da greve dos operdrios da Usina Cearé, do setor téxtil, que reivindicam melhores salérios e condigdes de trabalho e o cumprimento da legislacao trabalhista dentre outras © aparato burocratico que estava sendo montado pelo gove™ no Cental ainda nao era suficientemente forte pata fazer prevale ces, nos Estados, as determinacées da Legislagao Trabalhista, Dente 5 motivos da greve, os operdrios reclamam conta. 0 nio cumprimento das nossa les protetoras do prole tariado ~ agrava-se, nas i : lado ~ agrava-se, nas tltimas semanas, a situagao da “Usina 306 = Uma nova Histéria do Ceara Digitalizado com CamScanner +cqmn0 trabalho noturno imposto pelos patres,auxitados, éri0 do Trabalho. (jornal O Unitério 07.05.35, p:8) | cea eto minis ente Unica $ indical, diferentemente da LCT, que, nos con- fe or eaa aia ; | Hvis, buscava a conciliag4o patrio-empregados, é intransi- | gitos . defesa dos interesses da categoria. Os patrées, com o nivel mate tem ego desse SLOT Operétio € 0s perigos da generalizacéo do . mobiliz z i m nenta, arendem as reivindicacdes dos trabalhadores, que sio: mento, , AR movi 1 Cumprimento integral das oito horas de trabalho; 2° - ajo respeito moral ¢assisténcia material a nossas companhei- lo ras, pois fines eesposes, vem sofrendo humilhagOes que os trabalhado- tes nio mais consentirao; 3®- Aumento de 50% nos salérios de todos os operérios, tendo-se em vista os grandes lucros auferi- doscom o nosso trabalho; 4®- Abolicéo das multas, suspensdes e trabalho noturno, injustificdveis que s4o anticonstitucionais; 5 - Construgo de aparelhos sanitérios (banheiros, sentina, javatrios) e outras medidas de higiene, como sejam: ilumina- cdo, ventilacdo indispensdveis a satide dos trabalhadores; 6° - Fagamento integral dos salérios durante os dias de greve, saben- do-se que sé 0s patrées sio os responsaveis por ela; 7° - Liberdade de propaganda e defesa de nossos direitos, dentro da {ébrica, principalmente das reivindicagdes defendidas pela Frente Unica Sindical; 8 - Conservagao de todos os grevistas nos respectivos lugares. (O Unitdrio, 17/05/35, p.3) até hoje, as operdrias dessa fébrica, nossas irmas, As greves que esto ocorrendo no periodo, os patrées atribuem ‘sliderancas comunistas no meio operdrio, e a mobilizacdo dos tra- talhedores é denunciada amplamente no jornal catélico O Nordeste, chamando a atencdo do perigo comunista que ronda o movimento Operdrio cearense. _ Ointerventor Felipe Moreira Lima, por permitir as manifes- ‘3s dos trabelhadores, no espaco puiblico das pracas e avenidas, ‘onsiderado comunista pelo jornal catélico O Nordeste (20.01.35, p.2) Atitude Subversiva f Est sendo feita nesta capital, de maneira mais desassom- brads franca, propaganda comunista, em comicios ruidosos, durante 05 quais se prega abertamente a destruigao do regime. sas idéas extsemistas visam ao confisco de propriedade, & ani f uilardo da famnflia, ao esmagamento da liberdade de consciéncia Da "Revolugao de 30” ao Estado Novo = 307 Digitalizado com CamScanner ‘Além das falas da imprensa catélica contra a gestio interye toil de Felipe Morera, a bancadn federal eit, representa interesses dos setores dominantes cearenses, pressiona, no Bovey Vargas, a tetirada de Felipe Moreira Lima da interventoria do Cen A ggstio de Felipe Morcita € contraditéria para a5 cage: dominantes cearenses, pois a repressio as reves, aos sindcatosg a0s partidos ¢ movimentos de esquerda, se constituem numa pr tica politica dos interventores, enquanto delegados do poder cen. tral para desmobilizarem os movimentos da sociedade, Para mobilizar a opiniéo publica contra a interventoria, 9 jor- nal O Nordeste abre suas pdginas para reproduzir 0 material de pro. paganda dos trabalhadores. Vejamos o boletim que foi distribuido na cidade. (jornal 0 Nordeste 14.11.34, p.1) | Situagao Excepcional © Cearé atravessa uma situacdo excepcional, tinica, em toda a histéria do regime Republicano no Brasil, - pela primei- ra vez o diteito sagrado de livre manifestacao do pensamento, imprescindtvel & vida, é respeitado, assegurado, pelo governo, revoluciondrio idealista, companheiro de Luiz Carlos Prestes, o livre-pensador convicto, Felipe Moreira Lima, desas- sombradamente, por cima dos preconceitos da politicagem, garante aos trabalhadores, aos explorados, o direito de reunido, o diteito & palavra oral, o direito palavra escrital Fato Unico neste Bais oprimido e explorado pelas camari- thas polfticas. Reconhecendo tudo isto, um grupo de militantes responsé- veis do movimento operério resolveu levar ao Cel. Moreira Lima a afirmacao de sua simpatia, a orientacao progressista € libertéria da sua administragdo ¢ declarar-Ihe que esté ao seu lado contra os reacionérios lecistas e integralistas que procuram criar embarago & sua atuacdo benéfica para este Estado, ¢ con- tra os sabujos da imprensa clerical que tentam macular com a sua pena venal a honestidade de seu governo, Operérios das oficinas, trabalhadores explorados, todos & Praca do Ferreira, no dia 15 de novembro, as 4 horas da tarde! Facamos esta demonstragao de consciéncia political | | O contexto politico que antecede a decretagéo do Estado Novo é marcado por uma série de acontecimentos, como 0 fech- mento da Alianga Nacional Libertadora, considerada uma frent® ampla para defesa da democracia. A decretacao da Lei de Segurans? 308 = Uma nova Hist6ria do Cearé = Digitalizado com CamScanner | al plo gowero Federal, utilizada pelos governos estaduais, M Prepressio € desmobilizacio dos movimentos dos traba, fet politica que 14 vinha se processando no pés-30, com a inadoes P dos movimentos dos trabalhadores e a instituigio de ame en Jeis, que passam a considerar os sindicatos como “6rgio de * go do Estado.” Edgar DeDecca, em entrevista ao jornal iste (10.11.87), sintetiza o que a politica varguista para 0 movimento operario: gc ve Desde final de século XIX, houve um processo de formagio de sindicatos independentes, que sio banidos por uma Lei Sindical, conhecida por Lei de Centralizacao (1931), atrelando te sindicstos 20 Estado, tirando-thes a independéncia que tive- ram anteriormente, impondo-lhes uma profunda derrota. No discurso oficial a classe operéria ndo aparece como agente de suas proprias ages, que vao sempre aparecer paternalizadas na figura de Vargas, ou seja, no discurso oficial ele € 0 pa, ele dew a legislacdo social e as garantias ao trabalhador No item sobre as interventorias (1930/35) e os movimentos dos trabalhadores, elaboramos uma narrativa que foge dos embates da politica que ocorrem somente no campo intra-oligarquico — oli- garguias dissidentes, “tenentes revolucionérios” versus oligarquias tradicionais pois esses procedimentos metodoldgicos, elegem, como Ixus das decisoes politicas, 0 Estado oligarquico, nao havendo lugar 21a 0s trabalhadores e outros sujeitos histéricos que séo excluidos do ‘mundo das oligarquias”. O Ceara no Estado Novo No dia 10 de novembro de 1937, Gettlio Vargas, em longo manifesto & nagdo, expde os motivos da decretagao do Estado Novo, ‘elamos um pequeno trecho do discurso Quando as competigées politicas ameagam degenerar em guerra civil, é sinal de que o regime constitucional perdeu o seu valor prético, subsistindo, apenas como abstragdo. A tanto havenia chegado o Pais. A complicada maquina de que dispunha Pata governar-se nfio funcionava. Nao existiam 6rgios apro- Puiados através dos quais pudesse exprimir os pronunciamen- tos da sua intelij éncia ¢ os decretos da sua vontade.” © governo de Getiilio, do periodo que vai de 1980 a 1987, € mar - cado por muitos conflitos ¢ disputas politicas, azo por que Da “Revolugao de 30" ao Estado Novo = 309. — Digitalizado com CamScanner nao podemos analisé-to como fazendo Lode do Percur80 tinico de lima intencionalidade pessoal, objetivando a construgéo de um vemno io, te ae provisério de Gettlio Vargas, em 1982, teve que enfrentar a Revol Paulista, ue, entre outras reivindicagées, ei. giut a democratizagio do Fais. Mesmo derrotada por Gettlio, a ban. dita da democratizagio do Fats é vitoriosa, com a convocagio de cleigses para escolha dos parlamentares para assembléia nacional constituinte, que, promulgada a constituigao de 1934, elegeu Getdlig Vargas presidente da Repiiblica, cargo que ocupava como chefe do governo provis6ri, por ser um dos lideres do movimento de 30, Para Pandolfi, Com a decretacao do Estado Novo, i a grosso modo, a nova carta representava uma vit6ria dos seto- res mais liberais. Ao mesmo tempo em que assegurava o predo- minio do Legislativo e ampliava a capacidade intervencionista como interventor do Estado, buscava evitar que essa ampliag3o do poder inter- vencionista do Estado fosse confundida com 0 aumento do poder do Presidente da Repilica.” Menezes Pimentel 6 confirmado no poder federal, significando que no Estado do Ceard implantara as Os dispositivos liberais da constituigéo de 1934 propiciam a expressio politica de diversos setores da sociedade, como ANL (Alianga Nacional Libertadora) formada de comunista, socialistas, catGlicos e nacionalistas e a AIB (Ago Integralista Brasileira) que Estado Novo. desenvolve discurso antiliberal e anticomunista. Esses grupos, em confronto, ocupam a cena politica, mobilizando considerdveis setores da sociedade para adesio aos seus projetos politicos. Olevante comunista de 35, a decretagao do Estado de Sitio edo Estado de Guerra, a Lei de Seguranca Nacional sio sucessivos instru- mentos de represséo e supresséo das garantias individuais, fortale- cem 0 poder executivo federal, em detrimento das prerrogarivas do congresso nacional, além das disputas cleitorais para sucesso de Getiilio Vargas, que é vista como ameaca & unidade nacional; favore- cem a decretagao do golpe de 10 de novembro de 1937. O presidente denuncia como o processo eleitoral estava ocorrendo nos Estados: Giretrizes autoritarias € centralizantes do Chefes de governos locais capit aneando desassossegos & oportunismos transformaram-s , de um dla para outro, a teve- lia da vontade popular, em centro de decisdo polttca, cada qual dlecretando um candidato, como se a vida do bats, na sua signi- fieagto coletiva, Fosse simp convencionalismo, destinado a legitinar as ambigoes do caudithismo provinciano." 310" Uma nova Historia do Ceard Digitalizado com CamScanner ¢ politicas do Estado Novo, expressas na nova girettiz rucional ? Bed seus pr s ais baseados agio politica, no intervencionismo estatal ¢ num 10. da sociedade”™? const entaliZ cer iliberal de organiz ejo anti A jmplantagao do Estado Novo no Ceara om a decretagao do Estado Novo, Menezes Pimentel é con- no poder como interventor federal, significando que no Co edo plantaré as diretrizes autoritarias e centralizan- io do Ceardé im 5 Estado Novo. 1 pair dat, todas as organizagbes da sociedade, no campo da altura, educacao, do trabalho, dentre outras, terao o controle do govern estadual eso pimentelismo recebe o apoio dos setores mais conservadores & sociedade dando continuidade a praticas politicas que vinham ‘remlvendo, mesmo antes da decretagdo do Estado Novo. Quanto 3 organizacées dos trabalhadores, que nao fossem pau- sedas nos prinefpios do corporativismo, eram consideradas “comunis- " sortanto, objeto dos olhares vigilantes da policia de Pimentel O Estado Novo fortalece os aparatos de represséo, para o que, em ome da moral e dos bons costumes, o regime instaurado ainda macénicas ¢ centros espiritas na capital € no fecharia as lojas ques revisados interior do Estado, as livrarias tiveram seus esto revistas portadoras de filosofia e ensi- fazer vingat doutrines subversivas tervigo de controle em para apreensao de livros € namentos que procuravam no espirito do povo; foi instalado um s pensbes e hovéis.® divulgando os atos da adminis- O jomal O Estado que jé vern stemati- Pimentel e da Prefeitura de Fortaleza, agora, mals Si canente, divulga as diretrizes do Estado Nacional, expressas na crnstituicgo de 1987, que deveria ser submetida a um processo ple- ério, f2to que no ocorreu. a No plano nacional, a propagan' lo DIP (Departamento de Imprensa ¢ Pro) eae dos mais diversos temas qu ea oe ee Nacional e das idéias ¢ Conflitas sanateutctey do Estado Novo projetain writ Oe Un bers € lutas de classe, importante para consol dar ie ; que PO social que ndo esta fragmentado por lutas polit as Of partidos fesnan evzintos, os sindicatos atrelados 20 Hstadl. da do Estado Novo é realizada paganda) que, eficien- re contribuem para 2 onsignadas na Carta ‘am uma nagao sem Da spevolugto de 30" a0 Estado Novo = 311 Digitalizado com CamScanner a se fard diretamente com o chefe, que Agora a mediagio politic i n abera conduzir, com sabedoria, o5 2 vontade da nagao ¢ § encarna seus destinos - ‘A constituicio de 1937 € objeto de divulgacdo no jornal C onstrugao de uma cidadania ctvica proposta na nova Estado, para ¢ rizada para os diversos setores da constituigao. Precisa ser popula sociedade em artigos, "palestras pelo rédio, nas explanagées para 9 povo, nas sociedades de classe, conferéncias nos meios mais erudi- tos, distribuicao, aos milhares, de panfletos e boletins de propagan- da.” (O Estado, 10.07.38) Para a tarefa de divulgar e popularizar a constituigéo de 37, além do jornal O Estado, 0 governo de Fimentel contara com a par- ticipagao de intelectuais cearenses que apdiam o Estado Novo. A adesio de setores da intelectualidade ao projeto estadonovista vinha das experiéncias de movimento como LEC (Liga Eleitoral Catdlica), Unio dos Mocos Catdlicos, Movimento Integralista Brasileiro, antes do golpe de 1988 e outros, que propugnavam por uma socie- dade baseada nas forcas de tradigéo, sem os conflitos sociais que dilaceram as sociedades modernas. A propaganda assume dimensao especial durante 0 Estado Novo 312.5 Uma nova Histéria do Ceara Digitalizado com CamScanner goexpssivos 08 artigos dos que apdiam o combate sie emo antes da d2cretagio do Estado Nove, hi i. gnticomunismo na imprensa catélica © Noy pois deveriam proteger as mass a0 comu- ma exacer- rdeste e no jor ‘ 28, vigiando tos comunistas, acompanhé-los no trabalho os clemet de orga- e assem, pela 0, pemiciosos & ordem social, que pretendem sx segregando-os do convivio geral.(O Estado, 7/10/37) el wl como propaganda assume dimensdo especial no Estado yo, tanto NO ambito federal, como estadual, no Ceardo jornal O informa os diversos aspectos da administracdo do interven- Si ederal Menezes Pimentel. Contudo, sugere nio confundir o wy po da administracZo com 0 campo da politica. A politica até omnes aqtio, considerada como a arena dos interesses partidarios, dos gru-_Projetam uma nagao qos de interesses, agora a administragéo objetiva a construgdo do sem confltos ¢ lutas Eaado nacional, sem os regionalismos e os localismos do passado, que tanto fragmentavam a nacao. "Em 1938, foi criado o Departamento de Divulgacio, Censurae --Pa"@ Consolidar a Fropeganda, como parte da Secretaria de Seguranga Publica, que idéia de um corpo objetiva divulgar os atos da interventoria no Ceard para consolidar, eznte a sociedade, o Estado nacional Nov Os construtores do de classe, importante social que nao esta fragmentado por O Estado Novo na cidade de Fortaleza lutas politicas, jé que : os partidos foram Aimplantagao do Estado Novo ocasiona mudangas na admi- aistracéo municipal — os prefeitos serao nomeados pelos interven- totes federais dos Estados. Sem a representagao das camaras muni- _ sindicatos atrelados pais, o governo federal cria o Departamento Administrativo para ao Estado. erercer a fiscalizagio dos atos dos governadores e prefeitos, poden- ¢oserconstituido de quatro a dez membros, nomeados por Vargas. A cidadania polftica dos municipes fica comprometida com 0 Estado Novo. Como, a partir dat, viver, sentir a cidade, poder dis- “Utir seus problemas com 0 peso da presenga instituida do Estado ‘toritério? Doravante, os governantes municipais, seguindo as thetrizes do Estado Novo, projetam “intervengGes nao apenas na “Paténcia fisica da cidade mas também no universo das relagoes ‘Stidianas — no trabalho, no lazer e na politica” sucesg il’ @ partir da 2* metade do século XIX, passa por vas intervenges urbanas, que foram mudando sua paisa "Some também a elaboragio de imagens © representacoes cla extintos, os a ‘Revolugdo de 30” ao Estado Novo #313 Digitalizado com CamScanner wo dzcurso do Estado Novo, as intervenes do poder pic, a imagem de uma cidade “progressista e Civilizg. buscam construir z buseam cons ase constitu em elementos defi, da”, onde a racionalidade téc i ‘i la cidade, oe a tagens do DEIP (Departamento Estadya, de inprensaefrpaganda),veiculada plo joral O Estado, 6 pry tada como cidade moderna contudo selt crescimento desordenads est a exigir intervengoes dos poderes puiblicos para definigao dousy e ocupaczo do espago urbano, para mefhorar a qualidade de vids de bitantes. a Cane Decreto n® 450, de 31 de marco de 1939, o prefeito Na década de 40, Raimundo Alencar Araripe reestrutura a comissao do plano da cida. Fortaleza conta com de. Essa comissdo tinha sido criada pelo Decreto n? 128, de 10 de janeiro de 1984, na gesto Raimundo Girdo, em decorréncia da sus. pensio dos trabalhos do plano de remodelacéo ¢ expanséo de Fortaleza, elaborado pelo engenheiro e arquiteto Nestor de Figueredo, coe toe ‘A restauracao da comisséo do plano de cidade evidencia crescimento das que os problemas urbanos de Fortaleza se agudizaram, contudo demandas de sua _@ forma de resolvé-los no Estado Novo esta embasada no urba- nismo moderno, jé experimentado na remodelagdo de outras cidades brasileira. Na década de 40, Fortaleza conta com uma populagio de 200 urbanos ~ moradia, _ mil habitantes, dado que mostra o crescimento das demandas de sua postos de sadde, _populaco por equipamentos urbanos — moradia, postos de satide, escolas, luz, agua, escolas, luz, 4gua, calgamento de ruas, avenidas, dentre outros. Aimagem de cidade moderna do discurso estadonovista se con- trapoe a de cidade doente, onde o saber médico higienista® que teve expressio, na Primeira Reptiblica, com a remodelacéo de Fortaleza, outros. ainda é apropriado pelo Estado Novo para as intervencdes urbana. O Dr. Otdvio Lobo, no 22 Congresso Médico, na Bahia, em 1988, apresentou a tese de que Fortaleza é “uma cidade aberta tuberculose” e onde se multiplicam os focos de contagio dessa terti- vel doenga. Nos casebres, que no dizer do Dr. Lobo, “sao a expressio objetiva da pobreza e da anti-higiene, prolifera, em abundancia, a tuberculose.” (jornal O Estado 30.08, 38) As autoridades municipais estabelecem a relagdo pobreza- doenga, que para erradicé-la se faz necesséria uma agao mais eficien- te do governo Federal, na elaboracdo de politicas puiblicas com a construgéo de moradias populares, vilas operdrias, satide, educacs0, cultura, lazer, pois a valorizagao do trabalho e dos trabalhadores passa por Ihes oferecer melhores condigdes de vida, Est nos funda- mentos ideol6gicos do trabalhismo da era Vargas, uma populagao de 200 mil habitantes, populacao por equipamentos calgamento de ruas, avenidas, dentre 314m Uma nova Histéria do Coard Digitalizado com CamScanner Fra Of, de 90.0.8, calcula a poping opera de | em A000 pessoas, alm ds desempregados que sto obj. | | ttt eancia eda caridade pica, Uma cidade modema e po. tt M9 pode conviver com o espectro da pobreza urbana ton- ssl? pragas, avenidas, cafés. Daf o papel das associagées cati- | jin mencialistas no combate a pobreza urbana. Muitos sio os | sje combate & pobreza es estratgas implementadas, 0 F.0242) divulge: “Crato, cidade sem mendligos prossegue fm Crato nfo hé mendigos, pode-se afirmar, porque nin- ems vé,ninguém os perceb. Els ndo aparecem nas ras da aes. a0ssabados as levas de pestilentos enchiam as calga gasem higubre procissto de cegos,aleijados, ulerosos, malta- p couemente ae pilhos apelando para a caridade piblica pobrezaldrtana: 5 ‘ TT O artigo comenta que a mendicdncia, em Crato, foi resolvida 916 4° Produzira jee iiéacia dos mecanismos de controle, pela SCAN (Sociedade fia de progresso Cratense de Auxilio a Necessitados), exclufdos os falsos mendigose que o Estado Novo combate 2 malandragem, ‘Assim 0 ocultamento da pobreza urbana, além de produzir a ifia de progresso que o Estado Novo est construindo, omite tam- bulla também as tém ag relagées sociais que as produz. relagées sociais que Ainterventoria federal, por ocasido do 1° de maio, do aniver- sitio da decretacao do Estado Novo e aniversdrio da cidade, introdu- zu Fortaleza nos tempos festivos das comemoracbes da fundacéo do Estado nacional. Nas comemoragées do 1° aniversério de decretacao do Estado Novo, foram inauguradas em Fortaleza, as novas instalacoes da 5® lnspetoria Regional do Ministério do Trabalho, momento solene em ques ‘classes trabalhistas, conduzindo estandartes e disticos”, em fil, se dirigem ao Palécio do Governo para homenagear 0 inter- ventor Na fala do lider operério Vital Felix de Souza, estd construindo, as produzs. © operariado cearense estava decididamente ao lado do Governo do Estado, porque se reconhecia, no atual interventor Federal, um verdadeiro propugnador dos interesses coletivos, um grande estadista inteiramente voltado ao progresso da *ossa terra, & felicidade do povo cearense ¢ ao bem-estar das massas trabalhadoras (0) Estado 13/10/38). As comemoragées do Estado Novo, no Cearé, esto em conso- Ring @.com o que ocorria no plano federal, quando todos os recur- k Da “Revolugao de 30" ao Estado Novo # 315. _— Digitalizado com CamScanner sos da comunicagao da época ~ tadiodifusao, cinema etc ~ gq uti zados para exaltar o Estado Novo e a figura do chefe da nacio, O interventor do Cearé € prédigo em discursos de exalt das virtues do Estado Novo, pois sua politica de paz, de ordem, de trabalho e de economia fez ddesaparecer da face da terra cearense, sem o emprego do choque ¢ da violéncia policial, as convulsdes do partidarismo malsio profundamente infiltrado no organismo politico-econdmico do Estado, (O Estado 01.08.41) Os temas do trabalho, do trabalhador e da ordem sao recorten. tes na propaganda doutrinéria do Estado Novo, como base para construgo de uma sociedade do trabalho baseada na “harmonia entre as classes.” 316 = Uma nova Historia do Ceara ) Digitalizado com CamScanner

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