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O Ambiente e as

Doenças do Trabalho
Introdução à Medicina do trabalho

Responsável pelo Conteúdo:


Prof. Esp. Uerley Franchi

Revisão Textual:
Prof. Ms. Luciano Vieira Francisco
Introdução à Medicina do trabalho

Nesta unidade, trabalharemos os seguintes tópicos:


• Introdução ao tema
• Leitura Obrigatória
• Material Complementar

Fonte: iStock/Getty Images


·· Apresentar a base da Medicina ocupacional, bem como aprofundar conceitos primordiais
desta Disciplina.

Caro(a) aluno(a),
Nesta Unidade abordaremos um pouco da história da Medicina ocupacional e seus
conceitos, assim como as atribuições e dificuldades do médico do trabalho; a história da
Medicina do trabalho; a Revolução Industrial e seus impactos sobre a saúde do trabalhador;
os conceitos de Medicina do trabalho, saúde ocupacional e saúde do trabalhador.
Não se esqueça de acessar o link Materiais didáticos, onde encontrará conteúdos interessantes
para seu aprendizado e uma palestra sobre a profissão de Engenharia de segurança.
As atividades propostas para esta Unidade também estão disponíveis, assim como as
videoaulas para auxiliar seu entendimento.
Bom estudo!

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Unidade: Introdução à Medicina do trabalho

Introdução ao tema
O trabalho e o processo de saúde e doença estão relacionados desde a Antiguidade, com
foco principal a partir da Revolução Industrial. Neste período o trabalhador passou a ter maior
força de trabalho, o que colaborou para o aumento da produção em escala e a ampliação do
acúmulo de capital.
Nesse cenário criaram-se jornadas de trabalho mais longas e com ambientes que
proporcionavam danos à saúde devido ao aumento de doenças infectocontagiosas e
também ao grau de perigo oferecido pelas máquinas que os trabalhadores operavam, sendo
as responsáveis por mutilações e morte dos trabalhadores. Ao longo do tempo e com o
surgimento de doenças e acidentes de trabalho, o Estado passou a analisar os ambientes.
Para isso, baseou-se no estudo da causalidade de doenças.
Para a realização da análise técnica, o médico do trabalho é o responsável por examinar
a predisposição dos riscos, podendo, assim, agir sobre as consequências, dando tratamento
aos sinais existentes, tal como aos sintomas. Propagou-se então a matéria de Segurança e
Medicina do trabalho.
No Brasil há uma legislação específica composta por normas regulamentadoras, leis,
portarias, decretos e convenções internacionais da Organização Internacional do Trabalho
(OIT). Assim, é importante o conhecimento dos trabalhadores sobre as doenças profissionais
decorrentes da exposição aos riscos, sejam ambientais, ergonômicos ou mesmo os acidentes
sofridos. O objetivo é prevenir os riscos ocupacionais. Trata-se da forma mais eficiente de se
promover e preservar tanto a saúde, quanto a integridade física dos trabalhadores.
Alguns profissionais são fundamentais para o desenvolvimento dessas questões, tais como
o técnico em segurança do trabalho; o engenheiro de segurança do trabalho; o médico do
trabalho; o enfermeiro e o técnico de enfermagem do trabalho. Esses profissionais têm como
objetivo eliminar os riscos, prevenir doenças ou até mesmo impedir que se agravem. São
esses profissionais que reconhecem o risco e acabam por intervir no ambiente de trabalho.
Para tanto, torna-se necessária a observação rigorosa dos ambientes, a caracterização das
atividades, a realização de triagens e pesquisas, entre outras ações.
A etapa de controle é fundamental para a prevenção. O engenheiro de segurança é o
responsável por especificar e propor equipamentos, obras, serviços e também instalações e
procedimentos que contribuam à recomendação técnica dos serviços de Engenharia.
Para que haja a correta utilização dos Equipamentos de Proteção Individual (EPI) e/ou
Coletiva (EPC), é extremamente importante que seja fornecido aos trabalhadores o devido
treinamento. Treinamento esse que deve ser fornecido com recursos próprios da empresa ou
dos próprios fabricantes de EPI, por meio de palestras e cursos.
A verificação do local de trabalho é essencial para a antecipação das ocorrências
dos acidentes, principalmente em relação à segurança e à medicina do trabalho. Dessa
forma, eliminam-se as condições e atos inseguros, reduzindo, assim, acidentes e doenças
ocupacionais, função desempenhada pela Medicina e segurança do trabalho e desenvolvida
de forma preventiva.
Por meio dos cenários políticos e sociais, foram desenvolvidas as relações entre o trabalho
e a saúde (MENDES; DIAS, 1991). Os fatores de doença e morte dos trabalhadores e como

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é feita a organização para atender tais necessidades são considerados como construções
sociais, diferenciando-se conforme o tempo, o lugar e a forma de organização das sociedades
(DIAS, 2000).
A Organização Mundial de Saúde (OMS) destaca a noção do processo estático e a do bem-
estar como fatores impossíveis de serem atingidos. Dejours (1986) dá ênfase à contribuição
dada pela Fisiologia, Psicossomática e Psicopatologia do trabalho para o correto entendimento
do conceito de saúde.
A Fisiologia discorre sobre o organismo humano, que vive de forma dinâmica, dando
importante atenção ao estado de saúde e de movimento, onde é necessário que os movimentos
do corpo estejam livres e não fixados de maneira rígida nos locais de trabalho.
A Psicossomática faz a análise entre o corpo e a mente, onde cada um tem a sua história de
vida, suas experiências e que possuir saúde está diretamente ligado a ter desejos e esperanças.
Finalmente, a Psicopatologia do trabalho aponta a organização e o aspecto do trabalho
como os principais causadores de impacto no funcionamento psíquico do trabalhador. Assim,
é possível entender o trabalho como um elemento importante à saúde.
Na Inglaterra da metade do século XIX surgiu a Medicina do trabalho, devido à Revolução
Industrial. Nesse período o consumo da força de trabalho fazia com que os trabalhadores fossem
submissos a um processo acelerado e desumano de produção, de modo que a intervenção
foi necessária (MENDES; DIAS, 1991). Tais intervenções tiveram como objetivo agir nas
empresas; logo após foram sucedidas por normatizações e legislações na Inglaterra.
Os médicos, no interior das fábricas, representavam um esforço na detecção de processos
que causassem danos à saúde dos trabalhadores, agindo como auxílio para que o trabalhador
pudesse se recuperar e, assim, retornar mais rapidamente à linha de produção, devido à força
de trabalho ser fundamental no momento da industrialização emergente.
Assim, tornou-se predominante uma característica mantida até hoje sobre a Medicina do
Trabalho: uma visão eminentemente biológica individual em um espaço restrito da fábrica
através de uma relação unívoca e unicausal, buscando conhecer as causas das doenças e
dos acidentes.
A Medicina do trabalho é guiada pela teoria da unicausalidade, onde para cada doença
existe um agente etiológico. Quando essa teoria é repassada ao ambiente do trabalho, reflete
na propensão de isolar os riscos específicos, atuando sobre as consequências, medicalizando,
assim, os sintomas e sinais, ou os associando a uma doença reconhecida.
O fato de as doenças que tiveram origem no ambiente de trabalho serem verificadas nos
seus estágios mais avançados – aspecto que se deve a muitas das quais em seu estágio inicial
provocarem sintomas mais comuns que outras patologias –, acaba por tornar mais difícil a
identificação dos processos causadores.
Serviços implantados e baseados nesses modelos foram expandidos a outros países
atrelados aos processos de industrialização, passando a nações periféricas por meio da
transnacionalização da economia. Os serviços, ao mesmo tempo em que funcionavam,
mantinham e criavam a independência do trabalhador e, consequentemente, a de seus
familiares, o que possibilitava o exercício direto do controle da força de trabalho.

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Unidade: Introdução à Medicina do trabalho

Leitura Obrigatória

A Relação Entre a Saúde e o Trabalho


É necessário preservar a autonomia e a profundidade do conhecimento de cada profissional
que está envolvido no processo de trabalho devido à sua complexidade, dessa forma é possível
ultrapassar e ampliar a compreensão dos objetivos.
Ciências como as Sociais e Humanas – Psicologia, Assistência Social e Sociologia –, Ciências
Biomédicas – Medicina do trabalho e Toxicologia – e áreas mais tecnológicas, como higiene e
ergonomia são os campos que mais têm influência na saúde do trabalhador.
Atualmente, é necessário que os trabalhadores tenham conhecimento em diferentes
disciplinas, as quais necessárias para incorporação no processo de ampliação e atuação
nas situações de trabalho. Assim, um engenheiro de segurança do trabalho deve dominar
determinados conteúdos, a fim de compreender as condições de trabalho como: toxicologia,
higiene ocupacional e ergonomia, sendo necessário também compreender como esses sistemas
repercutem na saúde do trabalhador e também na psicodinâmica do trabalho.
Para se manter distante do conceito de risco, por o considerar insuficiente para verificar
a lógica do processo de trabalho, Laurell e Noriega (1989) utilizaram da carga de trabalho,
que englobava situações físicas, químicas e mecânicas e também as fisiológicas e psíquicas,
situações essas que interagiam entre si e com o corpo do trabalhador. Assim, “[...] não tem
materialidade visível externa ao corpo humano”. As exigências são atribuídas por Noriega
(1993) à organização do trabalho e da atividade do trabalhador, o que se torna relevante na
formação do perfil saúde-doença dos trabalhadores, na distinção dos riscos e aos objetos e
meios de trabalho.
A metodologia da ergonomia francesa (WISNER, 1987) tem como base a compreensão de
como riscos, cargas e exigências se manifestam nos processos de trabalho, assim há distinção
entre a tarefa prescrita e a atividade real.
A atividade de um trabalhador é analisada pela ergonomia através de um conjunto de
regulações contextualizadas em relação ao ambiente de trabalho e à variabilidade do trabalhador,
isso se o ambiente de trabalho em que o trabalhador se encontra para atuar for incoerente ao
objetivo de qualidade de produção e incompatível às características e necessidades humanas
para a realização de tarefas (ASSUNÇÃO, 2003).
Para a formulação de propostas, é necessário investigar a sua transformação, captando
as exigências e características do trabalho, avaliando o ambiente através de aspectos
físicos, químicos e biológicos, e também dos instrumentos de trabalho, tais como máquinas,
ferramentas, fontes de informação e espaço.
A investigação da relação da saúde e do trabalho é importante para trazer melhorias às
condições oferecidas. Perceber que os trabalhadores devem participar para a resolução de

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problemas e avaliação do ambiente de trabalho são aspectos que devem ser considerados na
organização do trabalho e na qualidade de vida desses trabalhadores.
A participação dos profissionais na melhoria das condições se dá em dois níveis: o primeiro
ocorre na participação ativa no próprio local de trabalho e o segundo pela mobilização dos
representantes dos trabalhadores – os sindicatos.
É necessário o empenho dos trabalhadores, de técnicos para alcançar o reconhecimento,
eliminar e controlar as doenças profissionais.
A saúde dos trabalhadores pode ser classificada em: doenças de trabalho ou relacionadas
ao trabalho, decorrentes de distúrbios e alterações laboratoriais, funcionais e perfil de saúde.
Doenças de trabalho são aquelas diretamente ligadas pela nocividade da matéria que é
manipulada; doenças profissionais específicas ou tecnopatias são aquelas ocasionadas pelas
condições de trabalho e também relacionadas ao trabalho.
A saúde possui um perfil que é caracterizado pela população trabalhadora relacionada às
suas condições de vida, socioeconômicas, hábitos alimentares, sociais, de sono e também a
caracterização da população em relação a doenças crônicas, hipertensão, obesidade etc.

Ministério do Trabalho e Emprego (MTE)


Formula as diretrizes, regulação e controla, por meio do Departamento de Segurança e
Saúde no Trabalho (DSST) e das Delegacias Regionais do Trabalho (DRT), ações e programas
ligados à saúde e à segurança do trabalhador. As principais Normas Regulamentadoras (NR)
são as de número 7, 9 e 15.
A NR 9, conhecida como Programa de Prevenção dos Riscos Ambientais (PPRA), identifica
de forma qualitativa e quantitativa as medidas corretivas e de controle para todas as situações
de risco à saúde, orientando e fornecendo elementos para a ação do médico do trabalho.
A NR 15 – Atividades e operações insalubres – relata sobre os agentes e condições de
trabalho além dos limites de tolerância, que provocam danos ao organismo.
A NR 7 – Programa de Controle Médico em Saúde Ocupacional (PCMSO) – refere-se às
ações que devem ser cumpridas pelo profissional com a finalidade de cuidar, em todos os
sentidos, da saúde do trabalhador, desde a sua admissão até o desligamento da empresa.
Utiliza como ferramentas os seguintes exames médicos: admissional, periódico, para mudança
de função, de retorno ao trabalho após afastamento por doença, demissional. O objetivo
desses exames é a proteção, assistência e recuperação da saúde do trabalhador.
Foram estabelecidos, assim, fatores que dentro dos limites de conhecimento e de
recursos, tornam possível identificar a exposição, o controle e a monitoração dos agentes
de risco e seus diferentes componentes. O Centro Brasileiro de Pesquisa em Segurança,
Saúde e Meio Ambiente de Trabalho (Fundacentro) é um órgão do MTE responsável pela
realização de cursos e pesquisas, com o objetivo de aperfeiçoar os profissionais de saúde
e segurança no trabalho.

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Unidade: Introdução à Medicina do trabalho

Ministério da Saúde (MS)


O MS coordena, por intermédio do Sistema Único de Saúde (SUS), a política de saúde do
trabalhador, através de ações de vigilância epidemiológica e sanitária. Surgiu em 1988 através
das leis regulamentadoras n.º 8.080/90 e n.º 8.142/90 e das portarias n.º 3.120/98 e
n.º 3.908/98.
Em seu Artigo 6º, a Lei n.º 8.080, de 19 de setembro de 1990 – Lei orgânica da saúde
–, estabelece ações em relação à saúde do trabalhador. Nessa mesma Lei ficam estabelecidos
os assuntos de competência do SUS para promover, coordenar e executar ações, com o
objetivo de:
· Garantir assistência ao trabalhador acidentado ou portador de doença profissional e
do trabalho;
· Promover estudos, pesquisas e avaliar e controlar os riscos e seus agravantes à saúde
dentro dos processos de trabalho;
· Fiscalizar e controlar as condições de produção, armazenamento, distribuição e manuseio
de substâncias, produtos e máquinas que venham causar danos à saúde do trabalhador;
· Avaliar o impacto da adoção de novas tecnologias;
· Orientar trabalhadores e empregadores sobre riscos no ambiente de trabalho e divulgar
os resultados dos estudos nesses locais.

Vigilância epidemiológica é um conjunto de ações que tem por objetivo prevenir ou


detectar as mudanças dos atores que influenciam na saúde individual ou coletiva, possibilita
também adotar medidas visando à sua prevenção. Sobre a ação de vigilância em saúde
do trabalhador:
· Inclui ações de vigilância realizadas sistematicamente para compreender e possibilitar a
análise das informações, inspeções do local de trabalho, identificação de situações de
risco, elaborando relatórios e adotando os procedimentos administrativos segundo as
prioridades contidas no plano municipal de saúde;
· Estabelecidas as rotinas de sistematização, os dados gerados no atendimento aos agravos
à saúde relacionados ao trabalho servem para orientar as intervenções de vigilância, tal
como elaborar as revisões dos planos de saúde;
· Pode-se ainda atualizar o cadastro das empresas, as quais são classificadas conforme a
atividade econômica dentro dos municípios, estando associadas aos fatores de risco e ao
contingente populacional, mesmo estando direta ou indiretamente submetidas aos quais.

Os Programas de Saúde do Trabalhador (PST) elaboram ações regulamentadas pelo MS.


Tais programas são executados nos Centros de Referência em Saúde do Trabalhador (CRST)
e também nos Centros Estaduais de Referência em Saúde do Trabalhador (Cerest).

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Nesses centros são prestados diversos atendimentos de assistência direta e específica
aos trabalhadores e à análise de ambientes e processos nocivos à saúde, possibilitando a
compreensão de todas as etapas de trabalho: desde a extração, passando pela produção,
armazenamento, transporte, distribuição e manuseio. Adotawdas novas políticas para a área da
saúde do trabalhador, é possível reorganizar a estrutura e priorizar a integração e o atendimento
ao trabalhador, tornando viável o processo de referência e contrarreferência, conforme a
denominação de Rede Nacional de Atenção Integral à Saúde do Trabalhador (Renast).

Poder Judiciário
Ao Ministério Público (MP) cabe a abertura de investigações e até intervenção em ambientes
e situações individuais que ofereçam risco à saúde no trabalho, poderes esses conferidos pela
Constituição de 1988. É atribuída ao MP a qualidade de vida e o comprometimento com o
meio ambiente em geral dentro dos processos industriais. Atua em todos os tipos de empresa,
das que realizam a extração ou síntese de matérias-primas, até o consumo do produto final,
o que permite se ampliar o dano à saúde não somente para o ambiente de trabalho, mas
também para a comunidade, ecossistema e sociedade em geral.
Como instrumento de trabalho, a Justiça utiliza-se das perícias. Perícia é definida como
a análise das situações ou fatos relacionados a determinadas coisas ou pessoas, sendo o
responsável por essa análise um especialista na matéria a ser verificada (BRANDIMILLER,
1996). No termo situação relacionam-se coisas e/ou pessoas, já os fatos são determinados
pelas ocorrências onde coisas e/ou pessoas estão envolvidas. Os trabalhos de perícia envolvem
variadas atividades, a saber:
· Verificação de coisas, situações e fatos que foram estabelecidos, além dos documentos
que foram apresentados ao especialista da perícia;
· Realização da análise qualitativa – examinar, vistoriar e inspecionar;
· Promover o estudo quantitativo dos documentos, envolvendo avaliações, medições
e cálculos;
· Investigar situações e fatos, com a finalidade de esclarecer as circunstâncias e
determinadas relações temporais de causa-efeito, responsabilidade.
· Por meio do processo judicial, além de se informar, a Justiça analisa e decide os
conflitos de interesse nos quais não há acordo entre as partes. Na perícia judicial, onde
atuam peritos e assistentes, é fundamental a apresentação para o juízo dos elementos
considerados como relevantes, a fim de que possam ser apreciados os fatos controversos,
o que possibilita julgar a ação.

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Unidade: Introdução à Medicina do trabalho

Entidades de Classe
Os sindicatos, considerados como entidades representativas de classes, atuam de forma
significante, contribuindo na legalização, fiscalização e aplicação das leis. Atualmente, ações de
ordem econômica comprometem a participação dos sindicatos de forma efetiva. Mesmo diante
deste cenário, a participação dos sindicatos nas ações que envolvem a saúde do trabalhador é
um preceito constitucional, na definição de políticas e na gestão dos serviços públicos.

Ética dos Profissionais de Saúde no Trabalho


Moral é definida conforme o conjunto de princípios, valores e normas que regulam a
conduta humana em todas as suas relações sociais em determinado momento. Dessa forma,
moral está ligada ao coletivo. A ética diz respeito ao individual, ou seja, são questões íntimas
de cada pessoa, normalmente relacionadas a valores, princípios e normas morais, onde cada
um se torna responsável por definir a sua ética.
Para reconhecer as complexas, concorrentes e contraditórias responsabilidades dos
profissionais de saúde e segurança do trabalho, foi criado o Código Internacional de Ética,
voltado aos profissionais de saúde, no ano de 2002 pela Comissão Internacional de Saúde no
Trabalho (Icoh).
Entre as obrigações dos profissionais de saúde do trabalho, estão a proteção da vida e da
saúde dos trabalhadores, promovendo a ética na implementação das políticas e programas de
saúde no trabalho e a dignidade humana.
Para ser mantida a integridade na conduta do profissional, deve-se manter a imparcialidade
e proteção da confidencialidade dos dados à saúde, as quais são deveres dos profissionais de
saúde no trabalho.
Os profissionais de saúde no trabalho devem ter assegurado a sua independência
profissional no exercício de suas funções, uma vez que são profissionais especializados.
O exercício da saúde no trabalho assegura a saúde dos trabalhadores, além de promover um
ambiente de trabalho seguro e saudável, garantindo o acesso ao emprego. Para atingir esse
objetivo, os profissionais de saúde no trabalho devem utilizar os métodos de avaliação de risco
validados, propondo, assim, medidas preventivas e eficazes.
É de competência de o profissional de saúde no trabalho orientar os empregadores e
trabalhadores em relação ao cumprimento de suas responsabilidades na área da saúde no
trabalho, de modo que esses profissionais são responsáveis por manter contato com os
comitês de saúde e segurança. Ademais, devem estar bem-informados sobre o trabalho e seu
ambiente para que possa ser desenvolvida a sua própria competência, além de se manter bem-
informado em conhecimentos técnico-científicos e fatores de riscos ocupacionais, o que lhe
permite propor medidas eficientes a fim de eliminar ou minimizar os riscos.
A avaliação dos riscos ocupacionais permite às empresas uma política de saúde e
segurança adequada aos locais de trabalho. Dessa forma, cabe ao profissional de saúde no
trabalho propor políticas e programas, uma vez que é o detentor do conhecimento técnico
e científico disponível, além de conhecer os trabalhadores, a organização e o ambiente do
trabalho. Tais profissionais devem assegurar a própria qualificação profissional necessária

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e garantir que seja disponibilizada de modo a promover a devida orientação sobre os
programas de prevenção.
Deve ainda ser verificada a aplicação rápida de medidas simples de prevenção nos locais de
trabalho e, posteriormente, a eficácia dessas medidas ou até mesmo soluções mais completas
necessárias a serem implementadas. Caso haja dúvidas em relação ao nível de um risco ocupacional,
deve-se adotar medidas conservadoras para que, assim, os riscos sejam prevenidos imediatamente.
Na incerteza ou diferença de opinião em relação ao perigo ou riscos, os profissionais de saúde no
trabalho devem manter a transparência no momento de avaliação em relação a todas as partes
envolvidas, evitando a incoerência na comunicação da opinião.
Na falta de iniciativa por parte da empresa na tomada das providências necessárias à
remoção de um risco injustificável, é necessária a adoção de medida remediadora em relação à
situação que representa um risco evidente à saúde e à segurança. Os profissionais de saúde no
trabalho devem notificar imediatamente os responsáveis da empresa, na mais alta hierarquia
possível, apontando a necessidade de se considerar o conhecimento técnico-científico.
Os trabalhadores e as organizações que os representam devem ser notificados, se for o
caso, tal como as autoridades competentes. Cabe aos profissionais de saúde no trabalho
informar de forma clara e objetiva sobre os riscos aos quais os trabalhadores estão expostos,
não omitindo nenhum fato, destacando as medidas de prevenção necessárias. Esses
profissionais devem promover a informação adequada aos empregadores, trabalhadores
e seus representantes, garantindo o nível de certeza e incerteza sobre os perigos e riscos
conhecidos ou suspeitados nos locais de trabalho.
Os profissionais de saúde no trabalho devem manter o sigilo sobre as informações
industriais ou comerciais às quais tenham acesso no exercício de suas atividades, porém, não
devem omitir informação importante na proteção da saúde ou segurança dos trabalhadores
e da sociedade. Se necessário, o profissional de Medicina do trabalho deve consultar a
autoridade competente para aplicação da legislação relativa a este tema.
Devem ser definidos os métodos da saúde no trabalho, como os procedimentos de vigilância
da saúde e seus objetivos, a fim de que os locais de trabalho e os trabalhadores possam ser
informados e posteriormente adaptados às mudanças. Para que haja a vigilância, deve haver
o consentimento dos trabalhadores envolvidos e suas consequências, sejam negativas ou
positivas, ocasionadas pela participação nos programas de vigilância da saúde e detecção
precoce – screening – discutidas com todos os envolvidos, sendo esta parte integrante do
processo de consentimento. Dessa forma, é de responsabilidade do profissional da saúde
manter a vigilância, de forma que o mesmo deve ser credenciado por autoridade competente e
os trabalhadores envolvidos devem ter acesso aos exames realizados no contexto da vigilância
de saúde na empresa.
Termo é o documento utilizado para a análise da capacidade de exercício da função pretendida
ou de contraindicação de ordem médica para a transmissão dos resultados dos exames restritos
pela legislação nacional ou por normas específicas. Nesses termos são informadas as condições
de trabalho ou exposições ocupacionais. Informações sobre a capacidade de trabalho relacionada
à condição de saúde ou potenciais efeitos adversos em relação à saúde do candidato devem ser
informadas ao empregador após o consentimento do trabalhador somente se esse procedimento
se fizer necessário para garantir a proteção de sua saúde.

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Unidade: Introdução à Medicina do trabalho

Deve ser informado ao trabalhador sobre seu estado de saúde e a natureza do trabalho
realizado quando esta oferece perigo à segurança de terceiros. Caso se trate de circunstância
particularmente perigosa à administração e esteja prevista em legislação vigente, a autoridade
competente deve ser comunicada sobre medidas necessárias para assegurar pessoas vulneráveis
aos riscos.
Os exames e pesquisas de laboratórios devem ser realizados em função da validade e de
sua capacidade de assegurar a proteção à saúde do trabalhador, considerando a sensibilidade
e a necessidade de revisão desses exames. Exames de screening ou testes laboratoriais,
quando não confiáveis, não devem ser utilizados, uma vez que não têm valor suficiente
que atenda à sua finalidade, em função do posto de trabalho específico. O mais indicado
é se optar pelos métodos não invasivos e aos exames que não ofereçam risco à saúde dos
trabalhadores, tendo em vista que os exames invasivos ou que ofereçam algum grau de risco
aos trabalhadores podem ser realizados somente após a análise dos benefícios e riscos. O
trabalhador deve consentir com a realização de tais exames, os quais devem seguir padrões
profissionais elevados.

Condições de Execução das Funções dos Profissionais de Saúde no Trabalho


A saúde e a segurança dos trabalhadores devem ser prioridades para os profissionais de
saúde no trabalho. Os profissionais devem ter como fundamento em seus julgamentos bases
científicas e com competência técnica para, se necessário, recorrer à assessoria de especialistas
ou consultores. Não é permitida a realização de qualquer atividade que comprometa a
confiança em sua integridade ou imparcialidade, na emissão de qualquer juízo ou parecer.
Os profissionais de saúde no trabalho devem possuir total independência profissional, essa
garantida na execução de suas funções a confidencialidade das informações. Em momento
algum é permitido que a sua análise e posicionamento sejam influenciados por conflitos de
interesse particular, no que diz respeito ao exercício da função orientadora e de assessoria aos
empregadores, trabalhadores e seus representantes em relação aos riscos ocupacionais onde
é evidente a situação de perigo à saúde ou à segurança.
Cabe ao profissional de saúde no trabalho manter a relação de confiança e igualdade com
as pessoas para as quais presta serviços. Os trabalhadores devem ser tratados de maneira
igual, assegurando que não haja a discriminação em função das condições socioeconômicas,
de convicções em relação à natureza da doença ou dos motivos que os levam à consulta aos
profissionais de saúde no trabalho.
A comunicação deve ser clara entre os profissionais, os dirigentes das empresas e os
representantes dos trabalhadores, em posição de decisão sobre a condição de trabalho e as
condições do ambiente. Sempre que julgar necessário, o profissional de saúde no trabalho
pode requerer a inclusão de cláusula sobre ética nos contratos de trabalho, cláusula essa
que deve especificar em particular o cumprimento das normas de exercício profissional e as
diretrizes de código de ética das respectivas profissões. Não se deve permitir a prática dos
profissionais em desacordo com o cumprimento dos padrões profissionais e princípios éticos.
Nos contratos de trabalho devem constar especificamente condições legais, contratuais
e éticas, em particular em relação a conflitos, acesso a dados e à confidencialidade. Deve
ser assegurado que esses contratos não contenham cláusulas que limitem a independência

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profissional. No caso de dúvidas, devem ser verificados os termos de contrato e discutidos com
autoridades competentes.
Os profissionais de saúde no trabalho devem manter os arquivos e registros utilizados
para identificar problemas de saúde na empresa com devido grau de confidencialidade. Tais
registros são dados sobre vigilância nos ambientes de trabalho, dados de pessoas, como o
histórico profissional e informações de interesse da saúde do trabalhador, registro de exposição
ocupacional e atestado de capacidade para o trabalho. É assegurado ao trabalhador o direito
de acesso aos documentos e às informações que lhe dizem respeito.
Os exames médicos e de laboratórios individuais devem ser mantidos em arquivos médicos
confidenciais, guardados de forma segura, sob a responsabilidade do médico do trabalho
ou enfermeiro do trabalho. O acesso aos prontuários, a sua transmissão e a liberação de
informações devem se dar em conformidade com a legislação nacional pertinente, de acordo
com o Código de Ética das Profissões de Saúde, onde as informações contidas nos prontuários
são utilizadas exclusivamente com o propósito de segurança no trabalho.
Os processos produtivos podem deixar o trabalhador exposto a agentes que, sem o devido
o monitoramento e controle, causam doenças irreversíveis e até mesmo a morte. Movimentos
repetitivos podem ser considerados como agentes causadores de doenças ocupacionais,
agravando a saúde do trabalhador. Causas indiretas estão ligadas ao bem-estar dos trabalhadores
como, por exemplo, analfabetismo, tabagismo, inadequada habilitação, entre outras. Para
evitar esses fatores, criaram-se leis obrigando as empresas a dedicarem maior atenção à
saúde dos trabalhadores, realizando exames médicos admissionais, periódicos, de retorno ao
trabalho, de mudança de função, demissionais, ou cumprindo programas de controle médico de
saúde ocupacional, a fim de proporcionar melhor condição de trabalho e monitorar possíveis
problemas de saúde, identificando locais de risco e adotando medidas, visando à redução das
doenças ocupacionais.

Ambiente do Trabalhador
O trabalhador integra o meio ambiente, formado através do espaço dentro e fora do local
de trabalho. Com a intensificação da busca pela melhoria da qualidade de vida e nos processos
produtivos, utilizou-se dos avanços tecnológicos, o que, com a utilização dos recursos naturais,
comprometeu a própria sobrevivência do homem.
Os resíduos sólidos e líquidos resultantes dos processos produtivos, se não tiverem o devido
destino, entrarão em contato com elementos da natureza, o que prejudicará a qualidade
do ar, a agricultura, a pecuária e as águas, destruindo os elementos naturais, resultando no
esgotamento dos recursos. Na atualidade, não há organização de defesa ecológica que não
esteja preocupada com a destruição da camada de ozônio, provocada por produtos químicos
lançados na atmosfera. A qualidade de vida do ser humano afeta seu desempenho no local de
trabalho, de modo que quanto melhor estiverem suas funções orgânicas, melhor será a sua
resistência e menor será a fadiga e o estresse.
A propensão a cometer erros, a sofrer ou a causar acidentes está ligada ao contexto do
homem organicamente comprometido, onde o estado de saúde física e mental pode ser
afetado pelas condições ambientais, dentro ou fora do ambiente do trabalho.

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Unidade: Introdução à Medicina do trabalho

A Investigação das Relações Saúde-Trabalho, o Estabelecimento do Nexo


Causal da Doença com o Trabalho e as Ações Decorrentes
O papel do trabalho determina a evolução do processo de saúde-doença dos trabalhadores,
que tem implicações éticas, técnicas e legais, que se reflete sobre a organização e o provimento
de ações de saúde para esse segmento da população, na rede de serviços de saúde.
Nessa perspectiva, o estabelecimento da relação causal ou do nexo entre um determinado
evento de saúde – dano ou doença – individual ou coletivo, potencial ou instalado, e uma
dada condição de trabalho constitui a circunstância básica para a implementação das ações de
saúde do trabalhador nos serviços de saúde. Esse processo pode se iniciar pela identificação
e controle dos fatores de risco à saúde presentes nos ambientes e condições de trabalho a
partir do diagnóstico, tratamento e prevenção dos danos, lesões ou doenças, no indivíduo e
no coletivo de trabalhadores.

Adoecimento dos Trabalhadores e sua Relação com o Trabalho


Os trabalhadores compartilham os perfis de adoecimento e morte da população em geral,
em função de sua idade, gênero, grupo social ou inserção em um grupo específico de risco.
Além disso, os trabalhadores podem adoecer ou morrer por causas relacionadas ao trabalho,
como consequência da profissão que exercem ou exerceram, ou pelas condições adversas em
que seu trabalho é ou foi realizado. Assim, o perfil de adoecimento e morte dos trabalhadores
resultará da amalgamação desses fatores, que podem ser sintetizados em quatro grupos de
causas (MENDES; DIAS, 1999):
· Doenças que não estão aparentemente ligadas ao trabalho;
· Doenças comuns: crônico-degenerativas, infecciosas, neoplásicas, traumáticas, que são
modificadas no aumento da sua frequência ou ocorrência, determinadas pelas condições
de trabalho, como exemplo: hipertensão arterial em motoristas de ônibus urbanos, nas
grandes cidades;
· Doenças comuns originadas e ampliadas pelo trabalho mais complexo: a asma brônquica, a
dermatite de contato alérgica, a perda auditiva induzida pelo ruído – ocupacional –, doenças
musculoesqueléticas e alguns transtornos mentais exemplificam essa possibilidade, na qual,
em decorrência do trabalho, somam-se – feito aditivo – ou multiplicam-se – efeito sinérgico
– as condições provocadoras ou desencadeadoras desses quadros nosológicos, agravos à
saúde, específicos e tipificados pelos acidentes do trabalho e pelas doenças profissionais. A
silicose e a asbestose exemplificam esse grupo de agravos específicos.

Os fatores de risco à saúde e à segurança dos trabalhadores, identificados ou relacionados


ao trabalho, podem ser classificados em cinco grandes grupos:
· Físicos: ruído contínuo, calor, frio, pressões, umidade, radiações ionizantes e não ionizantes
– micro-ondas, laser, ultravioleta etc.;
· Químicos: poeira, fumo metálico, gases, vapores, neblina – condensação que ocorre junto
à superfície –, névoa – condensação do vapor de água associado à poeira, fumaça e outros
poluentes etc.;

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· Biológicos: fungos, vírus, parasitas, bactérias, protozoários, insetos etc.;
· Ergonômicos e psicossociais: levantamento e transporte manual de peso, repetitividade,
ritmo excessivo, imposição de nível de produtividade, relações de trabalho impositivas etc.;
· Mecânicos e de acidentes: arranjo físico, iluminação inadequada, incêndio, probabilidade
de explosão, eletricidade imprópria etc.

Recursos e Instrumentos para a Investigação das Relações Saúde, Trabalho


e Doença
Os recursos e instrumentos tecnicamente disponíveis para a investigação das relações
saúde, trabalho e doença estão organizados e apresentados segundo o foco da investigação,
do dano e/ou dos fatores de risco, no indivíduo e no coletivo de trabalhadores. Mais
informações quanto aos aspectos conceituais e operacionais, seus usos e limitações poderão
ser encontradas nas Referências desta Unidade.
É importante ressaltar que, para a investigação das relações saúde, trabalho e doença, é
imprescindível considerar o relato dos trabalhadores, tanto individual quanto coletivamente.
Apesar dos avanços e da sofisticação das técnicas para o estudo dos ambientes e condições
de trabalho, muitas vezes, apenas os trabalhadores sabem descrever as reais condições,
circunstâncias e imprevistos que ocorrem no cotidiano e são capazes de explicar o
adoecimento em si.
No âmbito dos serviços de saúde, o principal instrumento para a investigação das relações
saúde, trabalho e doença e, portanto, para o diagnóstico correto do dano à saúde e da relação
etiológica com o trabalho, é representado pela anamnese ocupacional. Lamentavelmente, na
formação médica, pouca ou nenhuma atenção é dada ao desenvolvimento dessa habilidade,
fazendo com que os profissionais tenham dificuldade para utilizá-la no dia a dia de trabalho.
A anamnese ocupacional faz parte da entrevista médica, que compreende a história clínica atual,
a investigação sobre os diversos sistemas ou aparelhos, os antecedentes pessoais e familiares, a
história ocupacional, hábitos e estilo de vida, o exame físico e a propedêutica complementar.
A exploração das condições de exposição a fatores de risco para a saúde presentes
nos ambientes e condições de trabalho, levantadas a partir da entrevista com o paciente/
trabalhador, poderá ser complementada por meio da literatura técnica especializada, da
observação direta do posto de trabalho, da análise ergonômica da atividade, da descrição dos
produtos químicos utilizados no processo de trabalho e da respectiva ficha toxicológica obtida
diretamente dos responsáveis pelo processo, como encarregados, gerentes, fabricantes de
produtos e junto aos próprios trabalhadores.
É fundamental analisar como os trabalhadores reagem em relação ao seu ofício, suas
impressões e sentimentos sobre o trabalho, de como seus corpos reagem. Essa é a recomendação
feita em 1700, pelo médico italiano Bernardino Ramazzini, de que todos os médicos deveriam
perguntar a seus pacientes a profissão exercida por cada um dos quais.
A realização da anamnese ocupacional deve estar incorporada à entrevista clínica e
seguir uma sistematização para que nenhum aspecto relevante seja esquecido, por meio
de algumas perguntas básicas: o que faz? Como faz? Com quais produtos e instrumentos?
Quanto faz? Onde? Em quais condições? Há quanto tempo? Como se sente e o que pensa

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Unidade: Introdução à Medicina do trabalho

sobre seu trabalho? Se conhece outros trabalhadores com problemas semelhantes aos seus?
Assim é possível se ter uma ideia das condições de trabalho e de suas repercussões sobre
a saúde do trabalhador.
Igual importância deve ser dada às ocupações anteriormente desempenhadas pelo
trabalhador, particularmente aquelas às quais o trabalhador dedicou mais tempo ou que
envolveram situações de maior risco à sua saúde.
Vários roteiros para a realização da anamnese ocupacional estão disponíveis, podendo
ser adaptados às necessidades e/ou particularidades dos serviços de saúde e da população
trabalhadora atendida. Podem ser abreviados e expandidos, ou focalizar algum aspecto
particular, de acordo com as queixas e o quadro do paciente.
Ainda que não seja possível fazer um diagnóstico de certeza, a história ocupacional colhida
do trabalhador servirá para orientar o raciocínio clínico quanto à contribuição do trabalho, atual
ou anterior, na determinação, evolução ou agravamento da doença. A história ocupacional
pode desvelar a exposição a uma situação ou fator de risco para a saúde presente no trabalho
que, mesmo na ausência de qualquer manifestação clínica e laboratorial, indique a necessidade
de monitoramento ou vigilância, como no caso de um paciente que relata, na sua história
ocupacional, exposição significativa ao asbesto, à sílica ou a solventes orgânicos, por exemplo.
Além da ocupação atual, é importante investigar as anteriores, em função da variabilidade dos
períodos de latência requeridos para o surgimento de uma patologia relacionada ao trabalho:
de algumas horas, como no caso de uma conjuntivite por exposição a irritantes químicos ou
para o desencadeamento de um quadro de asma ocupacional; a períodos superiores a vinte
anos, como no caso da silicose e de alguns cânceres.
Em algumas situações particulares pode ser útil a realização da anamnese ocupacional de um
grupo de trabalhadores que desenvolvem uma mesma atividade – grupo operário homogêneo
–, em uma adaptação da metodologia desenvolvida por profissionais de saúde e sindicalistas
italianos, na década de 1980. Essa prática tem se revelado um importante instrumento
de resgate e valorização do saber dos trabalhadores sobre os processos de trabalho, suas
consequências à saúde e à identificação de estratégias visando à melhoria das condições de
trabalho e saúde.

Estabelecimento da Relação Causal Entre o Dano ou Doença e o Trabalho


A relação entre uma doença diagnosticada ou uma suspeita e uma situação de trabalho ou
ambiental para Dembe (1996) se trata de um processo social. Para Desoille, Scherrer e Truhaut
(1975) a comprovação deve ser feita de modo que seja permitida a sua presunção, sem que
haja prova absoluta. A presunção na legislação de diversos países beneficia o trabalhador, para
evitar discussões sobre as relações.
Como base para direcionamento, as questões verificadas a seguir, tendo suas respostas positivas,
auxiliam no estabelecimento da relação etiológica ou nexo causal entre doença e trabalho:
· Natureza da exposição: é possível identificar o agente patogênico através do histórico ocupa-
cional, analisados nos locais de trabalho, ou de pessoal familiarizado com o trabalhador?
· Especificidade da relação causal e a força da associação causal: o agente patogênico ou
fator de risco é causador ou contribuinte da doença?

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· Tipo de relação causal ao trabalho: conforme classificação de Schilling, o trabalho é
considerado causa necessária (Tipo I)? Fator de risco contributivo de doença de etiologia
multicausal (Tipo II)? Fator desencadeante ou agravante de doença preexistente (Tipo III)?
No caso de doenças relacionadas ao trabalho, do Tipo II, as outras causas, não ocupacionais,
foram devidamente analisadas e hierarquicamente consideradas em relação às causas de
natureza ocupacional?
· Grau de intensidade da exposição: é adaptável à causa da doença?
· Tempo de exposição: é o bastante para causar a doença?
· Tempo de latência: é o tempo necessário para que a doença se instale e manifeste?
· Registros anteriores: qual a verificação do estado anterior da saúde do trabalhador? Depois
de verificados, os registros contribuem para a relação causal ao estado atual e ao trabalho?
· Evidências epidemiológicas: é verificada a evidência epidemiológica que reforce a
relação causal entre a doença e o trabalho atual ou precedente do segurado?

Para identificar de forma precoce os efeitos da exposição ocupacional a fatores ou


situações de risco, é necessário realizar exames complementares específicos: toxicológicos,
imagens, audiometria, entre outros. É importante se atentar aos cuidados necessários aos
procedimentos de coleta, armazenamento e transporte do material biológico coletado para
exame. Os exames toxicológicos são ferramentas utilizadas para auxiliar na identificação de
intoxicação pelas substâncias químicas presentes nos processos de trabalho. São também
utilizados para verificar casos suspeitos e detectar ocorrências de exposição, possibilitando
controlar os níveis dos poluentes depositados no meio ambiente. Porém, esse processo tem
um custo elevado, além da necessidade de laboratórios que disponibilizem equipamento
para que seja feita adequada análise. Os resultados dos exames têm valor relativo, cabendo
interpretação com correlação clínica (CÂMARA; GALVÃO, 1995), dado que situações
onde são identificadas as superposições de quadros clínicos acabam por gerar resultados
incaracterísticos, portanto, inconclusivos.
Parte dos procedimentos de vigilância são realizados através de exames toxicológicos, o
que possibilita a monitoração biológica dos trabalhadores expostos a substâncias químicas
lesivas à saúde. A legislação trabalhista, por meio da NR 7 e da Portaria/MTb n.º 3.214/78,
regulamenta situações, condições, parâmetros e indicadores biológicos para a adequada
realização e interpretação das informações. Entre outros parâmetros que são utilizados
para análise, estão o Índice Biológico Máximo Permitido (IBMP) e o Valor de Referência da
Normalidade (VRN).
Para o adequado diagnóstico na relação entre doença e trabalho, pode ser necessária a
utilização de informações auxiliares sobre os fatores de riscos levantados a partir de entrevista
com paciente. No caso dos trabalhadores empregados, podem ser levantadas através
de informações contidas no PPRA, conforme orientação da NR 9 e da Portaria/MTb n.º
3.214/78. Avaliações clínicas e laboratoriais realizadas para o PCMSO, conforme a NR 7,
podem ser úteis para a obtenção dos resultados.
Na maioria dos casos, o profissional de saúde encontra dificuldades para conseguir informações
necessárias a fim de completar o diagnóstico, fato que se deve à grande parte dos empregadores

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Unidade: Introdução à Medicina do trabalho

não cumprir a legislação ou, quando cumprida, devido ao inadequado armazenamento da


informação, esta acaba, por vezes, perdida ou não se mantendo em seus níveis confiáveis. Para
estimar a exposição aos fatores de risco, utiliza-se a identificação das tarefas mais frequentes, que
acabam por exigir maior esforço físico, postura, gestos e movimentos, e também aos produtos
utilizados, suas quantidades e tempo de uso nos processos produtivos.
As principais barreiras para o estabelecimento do nexo ou da relação trabalho-doença são:
· Imprecisão dos fatores de risco aos quais os trabalhadores estão expostos;
· Impossibilidade de se dimensionar o potencial de risco de cada exposição;
· Desconhecimento dos efeitos causados pela exposição;
· Desvalorização do histórico clínico, relacionado ao quadro de doença ocupacional ou
ao trabalho;
· Indisponibilidade de métodos propedêuticos e abordagens por equipes multiprofissionais.

A abordagem multiprofissional em relação à saúde do trabalhador e o estabelecimento


da relação causal ou nexo técnico constatado nesse trabalho está a cargo do médico, uma
vez que este está adequadamente capacitado para fazê-lo. O médico e a equipe de saúde
responsável pelo atendimento ao trabalhador devem manter um relacionamento de cooperação
com todos os envolvidos, sejam pacientes, empresas, outros serviços de saúde e até mesmo
com peritos da Previdência Social, porém, deve-se considerar que essas relações
frequentemente são conflituosas; dessa forma, é necessário que todos os procedimentos
estejam registrados e documentados.

Bases Técnicas para o Controle dos Fatores de Risco e para a Melhoria dos Ambientes
e das Condições de Trabalho
Para eliminar ou reduzir a exposição a condições, riscos e melhorar o ambiente de trabalho
para promover a saúde do trabalhador, é necessária a utilização das soluções técnicas mais
avançadas, as quais necessitam de maior investimento. Em alguns ambientes de trabalho,
apenas algumas medidas que são simples e pouco onerosas às empresas, quando utilizadas,
apresentam impactos positivos, tanto na saúde do trabalhado quanto ao meio ambiente. São
necessárias algumas etapas para o controle das condições de risco, saúde e melhoria do
ambiente, a saber:
· Verificar condições de risco para a saúde no ambiente de trabalho;
· Caracterizar e quantificar as condições de risco;
· Promover alternativas que possibilitem eliminar ou controlar as condições de risco;
· Implementar e avaliar as medidas adotadas.

Ressalta-se a importância na atuação dos trabalhadores em todas as fases do processo,


pois, em muitos casos, mesmo com toda a sofisticação técnica, apenas os trabalhadores são
capazes de identificar as diferenças sutis existentes entre o trabalho prescrito e o real, o que
justifica as doenças e o que pode ser modificado a fim de se obter os resultados desejados.

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A preocupação com o meio ambiente e com a saúde da população é um tema extremamente
defendido na atualidade, isto fortalece a busca por mudanças nos processos de trabalho considerados
lesivos à saúde da população e ao ambiente, o que é ampliado à saúde do trabalhador.
Mais informações e o aprofundamento dessas questões poderão ser encontrados nas
Referências desta Unidade.

O Corpo Humano
A Anatomia Humana é a Ciência que estuda a forma, o conhecimento do corpo humano
com a descrição dos ossos, articulações, músculos, vasos e nervos, de modo que a Fisiologia
visa conhecer o funcionamento do organismo. Assim, ambas as ciências não devem ser
fragmentadas.
O corpo humano é composto por uma cabeça, constituída por crânio e face, pescoço ou
região cervical, tronco – tórax, abdome e região pélvica ou quadril –, dois membros superiores
– braços, antebraços e mãos – e dois membros inferiores – coxas, pernas, pés.
A posição anatômica é uma convenção adotada em Anatomia para descrever as posições
espaciais dos órgãos, ossos e demais componentes do corpo humano. Na posição anatômica,
o corpo estudado deve ficar ereto – de pé –, calcanhares unidos, com os olhos voltados para
o horizonte, os pés apontados para frente e perpendiculares ao restante do corpo, braços
estendidos e alinhados ao tronco e com as palmas das mãos voltadas para frente – os dedos
estendidos e unidos (BRASIL, 2003).
O corpo humano na posição anatômica pode ser dividido em planos, os quais:
· Plano sagital, onde se visualiza a porção direita e esquerda do corpo;
· Plano coronal – frontal –, que se refere à porção anterior ou ventral e posterior ou dorsal;
· Plano transversal, que possibilita observar a porção cranial – superior ou proximal – e a
caudal – inferior ou distal – do corpo.

Sistema locomotor – é formado por ossos, cartilagens, articulações e músculos estriados,


sendo responsáveis pela sustentação e movimentação do corpo, sob comando do sistema
nervoso central.
Estrutura óssea – os ossos apresentam grande variedade de formas, tamanhos e estruturas
internas e são responsáveis pela firmeza, sustentação, postura do corpo humano, fixação de
tecido muscular esquelético – ou voluntário – e proteção dos órgãos moles, tais como cérebro,
coração, pulmões, entre outros.
O corpo humano é constituído por, aproximadamente, 206 ossos que são normalmente
estudados pela divisão do corpo em cabeça, tronco e membros.
Estrutura óssea da cabeça e face – a cabeça é formada pela face e crânio. A estrutura
óssea do crânio é composta pelo osso frontal, parietal, temporal, esfenoide, etmoide e occipital,
que possuem como função a proteção do cérebro, nervos cranianos e vasos sanguíneos. O
esqueleto da face contém órbitas – locais onde se encaixam os olhos –, cavidades do nariz,
maxilar e mandíbula – osso móvel da face que permite a mastigação.

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Unidade: Introdução à Medicina do trabalho

Estrutura óssea do tronco – no tronco estão a coluna vertebral e caixa torácica. A


coluna vertebral inicia-se logo abaixo do crânio e é formada por cinco regiões: região cervical
– composta por sete vértebras –, sendo que a primeira e a segunda vértebras são denominadas,
respectivamente, de atlas e áxis e são responsáveis pela sustentação e movimentação da
cabeça. A seguir, encontra-se a região torácica ou dorsal com doze vértebras, seguida da
região lombar com cinco vértebras e região sacral, igualmente com cinco vértebras. Ao final da
coluna temos a região coccigeana com quatro vértebras, todas fixadas entre si (FIGUEIREDO;
VIANA; MACHADO, 2008).
Cada vértebra possui um espaço no centro, conhecido como forâmen vertebral. O
posicionamento das vértebras, umas sobre as outras, permite a formação do canal vertebral,
por onde passa a medula espinhal.
A caixa torácica é composta por 24 costelas divididas em doze pares e pelo osso esterno.
O esterno é um osso grosso e denso subdividido em três partes, assim denominadas: manúbrio
– parte superior –, corpo – parte mediana – e apêndice xifoide – parte inferior. Já as costelas
possuem forma chata e longa. Entre uma costela e outra há um espaço conhecido como
intercostal. As costelas são fixadas anteriormente no osso esterno e posteriormente nas
vértebras da região torácica ou dorsal.
Os primeiros sete pares de costelas são denominados costelas verdadeiras, por serem
articulados diretamente ao osso esterno. As costelas que compõem os próximos três pares
– do oitavo ao decido par – são consideradas como falsas, pois se articulam à cartilagem do
osso esterno e não diretamente a esse. Os dois últimos pares de costelas – do décimo primeiro
ao décimo segundo par – são fixados apenas nas vértebras da região dorsal e não possuem
contato com o osso esterno, então denominadas costelas flutuantes (BRASIL, 2003).
Estrutura óssea dos membros superiores – o esqueleto dos membros superiores é
composto pela cintura escapular e pelos ossos dos braços e mãos. A cintura escapular se une
anteriormente ao manúbrio esternal e é formada pelas clavículas e escápula. A região do braço
inicia no ombro ou cintura escapular, de onde parte a clavícula. O úmero, osso do braço situado
na porção proximal, apresenta forma longa e encaixa-se à escápula, formando a articulação
que permite a movimentação. O antebraço é composto por dois ossos denominados rádio
e ulna, articulando-se ao úmero em uma de suas extremidades, formando o cotovelo. Nas
mãos encontram-se grupos de ossos: o punho ou carpo é formado por oito ossos pequenos;
na palma da mão ou metacarpo, somam-se cinco ossos pequenos; os dedos compõem-se de
três ossículos denominados de falange proximal, medial e distal. Apenas no polegar não há
falange medial.
Estrutura óssea do quadril ou cintura pélvica – é formada por três ossos: ilíaco,
ísquio e púbis que, com o sacro e cóccix, constituem a bacia ou pélvis. O ílio é o maior osso
do quadril e oferece suporte para as vísceras abdominais. Na sua parte superior se articula a
cabeça do fêmur e é comumente conhecida como crista ilíaca. O ísquio forma a parte inferior
posterior da pélvis, é o ponto de apoio para a pessoa na posição sentada. O púbis situa-se na
parte anterior da pélvis e liga-se ao ílio e ísquio, originando a sínfi se púbica.

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Homens e mulheres têm ossos de tamanhos diferentes. A bacia feminina, por exemplo,
tem formato mais circular que a do homem e uma cavidade maior, importante para
facilitar a passagem do bebê durante o parto normal.

Estrutura óssea dos membros inferiores – os membros inferiores são subdivididos em


coxas, pernas e pés. A coxa contém o fêmur que é o osso mais longo do corpo humano. Sua
extremidade superior articula-se com o quadril e a inferior com o joelho. A perna é parte do
membro inferior entre a coxa e o pé, formada pelos ossos tíbia e fíbula. A tíbia localizada na
parte anterior e a fíbula na parte posterior da perna. Os pés são compostos de três divisões
de ossos: o tarso – sete ossos –, que se encontra na parte articular com a perna, onde se
encontra o calcanhar; o metatarso – com cinco ossos – é a região do peito do pé; e a falange
– com quatorze ossos –, que se caracteriza pela extremidade do corpo e divide-se em proximal,
medial e distal com exceção do hálux, que não possui a falange média.

Cartilagens
A cartilagem é um tecido flexível constituído por fibras colágenas, em sua estrutura não há
vasos sanguíneos. As cartilagens se dividem em três tipos: hialina, fibrosa ou fibrocartilagem
e a elástica:
· Hialina – reveste as superfícies articulares e é encontrada nas paredes das fossas nasais,
traqueia e brônquios, na extremidade ventral das costelas e recobre as superfícies articulares
dos ossos longos;
· Fibrosa ou fibrocartilagem – tecido intermediário entre o conjuntivo denso e a cartilagem
hialina. Pode ser encontrada nos discos intervertebrais, sínfise púbica, entre outros locais.
· Elástica – é semelhante à hialina. No entanto, além de fibrilas de colágeno, inclui
também uma grande rede de fibras elásticas de espessura fina e contínua. Pode ser
encontrada no pavilhão auditivo, conduto auditivo externo, na epiglote e na cartilagem
da laringe (BRASIL, 2003).

Articulações
Caracteriza-se como a junção de dois ou mais ossos distintos, permitindo a movimentação.
As articulações podem ser divididas de acordo com o material que une os ossos em
fibrosas que são unidas por tecido fibroso; as cartilagíneas, unidas por cartilagem ou por
uma combinação de cartilagem e tecido fibroso e sinoviais, unidas por cartilagem com
uma membrana sinovial que circunda a cavidade articular. A maioria dessas articulações
possui o líquido sinovial, cuja função lubrificante impede o atrito e facilita a execução do
movimento. As articulações sinoviais são as mais comuns, estão presentes em quase todas
as articulações dos membros e proporcionam o movimento livre entre os ossos. Essas
articulações são envolvidas por uma cápsula articular fibrosa, internamente revestida por
uma membrana sinovial.

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Unidade: Introdução à Medicina do trabalho

A junção com os ossos pode ser denominada, conforme suas características, como diartrose
– articulação móvel –, sinartrose – articulação imóvel ou fixa – e anfiartrose – articulação
semimóvel. Abaixo temos alguns exemplos:
· Diartrose: a articulação do ombro com o braço e a articulação do joelho;
· Sinartrose: ossos do crânio que estão firmemente encaixados e são imóveis;
· Anfiartrose: coluna vertebral, que possui movimentos limitados. Junto às articulações,
encontram-se os ligamentos que são responsáveis pela união dos ossos e limitam o
movimento a determinadas direções.

Músculos
Os músculos distribuem-se por todo o corpo e sua principal característica é a capacidade
“elástica” de contração e distensão. A musculatura é utilizada em todos os movimentos realizados,
sejam intencionais ou não. Muitos são constituídos por fibras, possuem forma alongada, parte
central alargada e extremidades afuniladas que se fixam aos ossos ou órgãos por meio de
tendões – cordões fibrosos – ou aponeuroses – lâminas fibrosas. Cada fibra muscular é uma
célula com vários núcleos e filamentos microscópicos a preencher seu citoplasma. O conjunto
de fibras constitui o feixe muscular e cada músculo constitui numerosos feixes (BRASIL,
2003). Existem, ainda, músculos de formato plano, como a musculatura abdominal e glútea.
A musculatura diferencia-se de acordo com a função a ser desempenhada em musculatura
esquelética estriada, lisa ou visceral e musculatura estriada cardíaca:
· Musculatura esquelética estriada – situa-se nas camadas superficiais do corpo e
recobre todo o esqueleto, permitindo controlar os movimentos da face, braços etc. Seus
movimentos são voluntários, obedecem aos nossos comandos;
· Musculatura lisa ou visceral – é responsável pelo movimento de órgãos como
esôfago, estômago e intestinos, assim como os vasos sanguíneos. Contrai-se lentamente,
independente de nossa vontade, determinando uma contratação denominada tônica;
· Musculatura estriada cardíaca – conhecida como miocárdio, é responsável pelas
contrações cardíacas de forma involuntária, apesar de ser composto por fibras estriadas.

Músculos da Face e Pescoço


Os músculos da face contraem-se e relaxam inúmeras vezes, possibilitando expressões
como sorrir e chorar. No pescoço estão os músculos platisma e esternocleidomastoide, que
permitem a rotação da cabeça. Para cada expressão são utilizados movimentos de diversos
músculos da face. Principais músculos da face:
· Frontal: situa-se na região da testa, responsável pelas rugas quando se eleva;
· Músculo do supercílio: responsável por movimentar as sobrancelhas;
· Orbicular dos olhos: responsável pelo movimento de abrir e fechar os olhos. Localiza-se
em torno das pálpebras;
· Músculo do nariz: permite o movimento de franzir o nariz;

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· Bucinador: musculatura da bochecha que permite inflar e contrair;
· Masseter: localizados nos lados da face, movimentam-se durante a mastigação;
· Orbicular dos lábios: situado ao redor dos lábios, responsável pela movimentação
para realizar a sucção, beijo e assobio;
· Músculo depressor do lábio inferior: atua na projeção do lábio inferior e na contração
do queixo.

Músculos dos Membros Superiores


Permitem os movimentos realizados pelos braços por meio dos músculos flexores que
participam da retração muscular e dos músculos extensores que permitem a extensão dos
mesmos. Na região do braço encontram-se músculos que são responsáveis pela força. Entre
os quais, destaca-se o deltoide – músculo que se encontra na articulação do ombro e possibilita
a elevação (abdução) do braço. O bíceps – músculo que consiste em duas estruturas com um
ponto de inserção comum próximo ao cotovelo e tem diversas funções, tais como flexão da
articulação do ombro e cotovelo. O tríceps é um largo músculo esquelético de três cabeças.
Localiza-se na superfície posterior do braço.
O antebraço é formado pelos ossos cúbito ou ulna e rádio. Encontra-se dividido em dois
compartimentos fasciais: o compartimento posterior contém os extensores das mãos, que são
comandados pelo nervo radial; o compartimento anterior contém os flexores, comandados
pelo nervo mediano.

Músculos do Tronco
Os músculos do tronco são apresentados como a musculatura do tórax e musculatura do
abdome. Os principais músculos do tórax são:
· Trapézio: encontra-se na região superior das costas e é responsável pela elevação
dos ombros;
· Grande dorsal: localizado na região inferior das costas e tem como principal função
elevar os braços para trás;
· Peitoral maior: musculatura do peito que permite movimentar os braços para frente;
· Serrátil: localiza-se na parte lateral do tórax e promove a elevação das costelas, auxiliando
no processo de respiração.

A musculatura abdominal é importante, pois é a responsável por sustentar o peso e a


pressão dos órgãos viscerais. No abdome, os principais músculos são:
· Reto abdominal: encontra-se na frente do abdome e permite o movimento de
aproximação da coluna vertebral com a pelve;
· Oblíquo externo: situa-se nos lados do abdome. Quando ambos os lados atuam
bilateralmente, permitem o movimento da coluna vertebral para frente e, quando
atuam unilateralmente, permitem a rotação da coluna vertebral.

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Unidade: Introdução à Medicina do trabalho

Músculos dos Membros Inferiores


Os principais músculos dos membros inferiores são:
· Glúteo: localiza-se nas nádegas e uma de suas funções é a extensão do quadril;
· Quadríceps: encontra-se na parte anterior da coxa, sendo responsável pela extensão
da articulação do joelho e flexão da articulação do quadril;
· Sartório – costureiro: músculo mais longo do corpo. Inicia-se no quadril, cruza a coxa e
termina na lateral interna do joelho, sua função é aproximar a coxa do abdome, ou seja,
flexão, rotação lateral e abdução da articulação do quadril;
· Bíceps crural ou femoral: localiza-se na face posterior da coxa, permitindo o movimento
de flexão, rotação lateral da articulação do joelho e auxilia na rotação lateral da articulação
do quadril;
· Gastrocnêmios: situam-se na face posterior da coxa e permitem o movimento de
flexão plantar do tornozelo e flexão do joelho.
Os pés possuem movimentos de extensão, flexão e rotação, que são possíveis devido aos
músculos extensores e flexores inseridos pelos tendões.

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Material Complementar

Como leitura complementar desta unidade, observe:

Leituras:
Vigilância epidemiológica de doenças ocupacionais
AUGUSTO, L. G. da S. et al. Vigilância epidemiológica de doenças ocupacionais. 21
out. 2014. Disponível em: https://goo.gl/iegshG
Doenças Ocupacionais
DOENÇAS Ocupacionais. [20--]. Disponível em: https://goo.gl/ONqIrv
Doenças Ocupacionais
DOENÇAS Ocupacionais: o que são e como preveni-las? Boletim Cipa, 7 mar. 2013.
Disponível em: http://goo.gl/gl4ZRU
Acidentes de trabalho e doença ocupacional:
OLIVEIRA, B. R. G. de.; MUROFUSE, N. T. Acidentes de trabalho e doença
ocupacional: estudo sobre o conhecimento do trabalhador hospitalar dos riscos à saúde
de seu trabalho. Rev. Latino-Americana de Enfermagem, Ribeirão Preto, SP, v. 9, n.
1, p. 109-115, jan. 2001. Disponível em: http://goo.gl/LZRUWb
As doenças respiratórias ocupacionais causadas pela poeira na armazenagem de grãos vegetais
TIETBOEHL FILHO, C. N. As doenças respiratórias ocupacionais causadas pela poeira
na armazenagem de grãos vegetais. 2004. Tese (Doutorado) – Universidade Federal do
Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS, 2004. Disponível em: http://goo.gl/im4QOX
Doenças respiratórias profissionais
UVA, A. S.; LEITE, E. Doenças respiratórias profissionais: mais vale prevenir que
remediar. [20--?]. Disponível em: https://goo.gl/18kO67

Livros:
Alternativa e processos de vigilância em saúde do trabalhador
MACHADO, J. H. M. Alternativa e processos de vigilância em saúde do trabalhador:
a heterogeneidade da intervenção. 1996. Tese (Doutorado) - Escola Nacional de Saúde
Pública, Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, 1996.
Patologia do trabalho
MENDES, R. (Org.). Patologia do trabalho. Rio de Janeiro: Atheneu, 1995.
A construção do campo da saúde do trabalhador
MINAYO GOMEZ, C.; COSTA, S. T. A construção do campo da saúde do trabalhador:
percurso e dilemas. Cadernos de Saúde Pública: Suplemento n. 2, Rio de Janeiro, v. 13,
p. 95-109, 1997.
Sistema de informação em saúde do trabalhador no SUS
NOBRE, L.; FREITAS, C. V. Sistema de informação em saúde do trabalhador no SUS:
proposta de sistema de informação de riscos e danos no trabalho a partir do nível local.
Brasília, DF: Ministério da Saúde. Secretaria Nacional de Vigilância Sanitária, 1995.
(projeto apresentado à Divisão de Saúde do Trabalhador). Mimeografado.

27
Unidade: Introdução à Medicina do trabalho

Referências

Associação Nacional de Medicina do Trabalho. [20--]. Disponível em: <http://www.


anamt.org.br>. Acesso em: 30 mar. 2016.

Assunção AA & Lima FPA. A contribuição da ergonomia para a identificação, redução


e eliminação da nocividade do trabalho, 2003.

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Unidade: Introdução à Medicina do trabalho

Anotações

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