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Unidade 03
Unidade 03
Doenças do Trabalho
Doenças relacionadas ao trabalho
Revisão Textual:
Prof. Ms. Luciano Vieira Francisco
Doenças relacionadas ao trabalho
Normalmente com a correria do dia a dia, não nos organizamos e deixamos para o último
momento o acesso ao estudo, o que implicará o não aprofundamento no material trabalhado
ou, ainda, a perda dos prazos para o lançamento das atividades solicitadas.
Assim, organize seus estudos de maneira que entrem na sua rotina. Por exemplo, você poderá
escolher um dia ao longo da semana ou um determinado horário todos ou alguns dias e
determinar como o seu “momento do estudo”.
No material de cada Unidade, há videoaulas e leituras indicadas, assim como sugestões de
materiais complementares, elementos didáticos que ampliarão sua interpretação e auxiliarão
o pleno entendimento dos temas abordados.
Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de
discussão, pois estes ajudarão a verificar o quanto você absorveu do conteúdo, além de
propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca
de ideias e aprendizagem.
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Unidade: Doenças relacionadas ao trabalho
Introdução ao Tema
No século XVI já se descreviam as primeiras relações entre trabalho e doença, mas apenas
em 1700, no século XVIII, foi que se chamou atenção para as doenças profissionais, quando
o italiano Bernardino Ramazzini publicou o livro De morbis artificum diatriba – As doenças dos
trabalhadores. Nessa obra, Ramazzini descreve, com extraordinária precisão para a época,
uma série de doenças relacionadas com mais de cinquenta profissões diferentes. Diante disso,
Ramazzini foi cognominado o “pai da Medicina do trabalho”, de modo que nas perguntas
clássicas que o médico faz ao paciente na anamnese clínica foi acrescentada mais uma
indagação: “Qual a sua ocupação?”
Com a Revolução Industrial houve o aumento no número de fábricas, contingente fabril
que empregou um grande número de pessoas, multiplicando as ocupações e acarretando uma
série de problemas de saúde. Assim, surgiu a necessidade de se ter nas fábricas um médico que
se dedicasse ao trabalhador e às suas condições de trabalho. Assim, os primeiros médicos de
fábrica surgiram na Inglaterra, em 1830, o “berço da Revolução Industrial”.
É fundamental o diagnóstico e a prevenção das doenças ocupacionais na Medicina do trabalho.
Doença ocupacional é conceituada como toda a moléstia ocasionada pelo trabalho ou pelas
condições do ambiente onde o mesmo é executado.
O Decreto n.º 2.172, de 5 de março de 1997, em seu Artigo 132, incisos I e II e no Anexo
II desse mesmo Decreto, define as doenças profissionais ou do trabalho. Caso uma doença não
esteja relacionada no Anexo II desse Decreto e a mesma seja resultante do trabalho executado,
a Previdência Social deve equipará-la ao acidente do trabalho. Embora sejam causadas pelo
trabalho, diversas doenças ocupacionais não foram relacionadas anteriormente.
As dermatoses ocupacionais são responsáveis por grande parte do atendimento das doenças
ocupacionais. Doenças como bronquite e as ocasionadas por substâncias químicas, que são
evidentes, não estão também relacionadas no mencionado Anexo.
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Leitura Obrigatória
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Unidade: Doenças relacionadas ao trabalho
Para conservar sua saúde, o ser humano trava uma constante batalha contra as forças
biológicas, físicas, mentais e sociais que podem alterar o equilíbrio do seu organismo. A
doença, portanto, não é um evento estático, mas um processo, pois o aparecimento de
sinais e/ou sintomas significa que a enfermidade já se instalou. Daí a necessidade de se
dar prioridade à prevenção.
Conforme os princípios da epidemiologia, o processo doença é desencadeado pelo
desequilíbrio na interação dinâmica entre os elementos denominados agente, hospedeiro e
meio ambiente.
Entende-se por agente um elemento, uma substância, cuja presença ou ausência pode, em
condições favoráveis existentes no organismo e no meio ambiente, provocar o início de um
processo patológico. Tais agentes se classificam em físicos, químicos, biológicos, ergonômicos
e mecânicos, podendo causar acidentes, doenças inespecíficas e/ou do trabalho.
Inespecíficas são doenças físicas e psíquicas, cada vez mais frequentes nas sociedades
industriais e atribuíveis a um ou mais fatores do ambiente de trabalho, entre os quais: cansaço
e insônia persistentes; distúrbios digestivos – gastrite, úlcera gastroduodenal –, neuroses,
artroses, asma brônquica, hipertensão arterial etc.
O hospedeiro é representado pelo homem e contribui através de hábitos, costumes e de
condicionantes – idade, gênero, estado civil, etnia, ocupação, carga genética e eficiência de
seus mecanismos de defesa.
O meio ambiente engloba o ambiente de trabalho – características do local, dimensões,
iluminamento, aeração, níveis de ruído, poeiras, gases, vapores, fumos etc. –, bem como
os elementos conexos à atividade em si – tipo de trabalho, posição do trabalhador, ritmo de
trabalho, ocupação do tempo, horário de trabalho diário, turnos, horário semanal.
Dessa forma, é importante identificar o quanto antes as alterações existentes, pois assim
torna-se maior a possibilidade de reverter a evolução da doença. Para se realizar esse
diagnóstico, são utilizadas como ferramentas a:
• Abordagem epidemiológica.
A patologia do trabalho é responsável pela análise do sofrimento, dano ou agravo à saúde
decorrente ou relacionado ao trabalho.
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O ruído é o responsável por provocar perturbações em vários órgãos e até mesmo no
sistema antes que haja a perda auditiva, onde é identificada a fase final dos efeitos do ruído,
essa perda auditiva ocorre através da degeneração celular do órgão de corte, provocando,
assim, a perda neurossensorial. Uma vez que as células neurossensoriais são destruídas, não
mais se regeneram.
Efeitos extra-auditivos:
Sistema nervoso central: modificação do eletroencefalograma; fadiga nervosa; alterações
emocionais; perda da memória; coordenação de ideias; irritabilidade; diminuição da libido e
da capacidade de reprodução.
Aparelho cardiovascular: alterações do ritmo cardíaco e do calibre dos vasos; hipertensão arterial.
Aparelho respiratório: modificações do ritmo.
Aparelho digestivo: alterações do trânsito gástrico e intestinal; alteração da secreção
gástrica e salivar; aumento da incidência de úlcera péptica.
Órgãos da visão: diminuição da visão noturna; confusão na percepção das cores; dificuldade
de apreciação de distâncias de relevo.
Sistema endócrino: modificação da glicemia; tireoide.
Sistema imunológico: aumento da predisposição a infecções.
Efeitos no aparelho auditivo:
Fadiga auditiva: perda temporária da sensibilidade auditiva.
Trauma acústico agudo: dor, diminuição da audição, zumbidos; otorragia.
Trauma acústico crônico: perda auditiva contínua e permanente.
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Unidade: Doenças relacionadas ao trabalho
Temperaturas Extremas
O ambiente térmico pode ser descrito através da temperatura, da umidade, da movimentação
do ar e do calor radiante. Esses parâmetros servem para avaliar a capacidade de resistência do
indivíduo quando confrontados com os registros clínicos obtidos nos trabalhadores expostos.
Os mecanismos de controle da temperatura do corpo permitem a manutenção da temperatura
interna, mesmo diante de agressões ambientais. Tais mecanismos são: metabolismo basal
– aumenta ou diminui a perda de calor através do hipotálamo (hormônios tireoidianos e
adrenérgicos), provocando a trepidação (tremedeira) para obter calor ou lassidão (relaxamento),
a fim de impedir a produção de calor. Além desse, utilizamos a irradiação, a convecção, a
evaporação e as vias respiratória e urinária.
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Exposição ao Frio
Podem ocorrer infecções das vias aéreas superiores, resfriados, gripes, faringite,
pneumonias e dores articulares. A queda da temperatura do corpo atinge órgãos vitais –
coração, pulmões, vísceras. Ao baixar para 36ºC, ocorre aumento do metabolismo basal;
entre 31ºC e 32ºC, há perda da consciência e dificuldade na obtenção da pressão arterial;
já entre 29ºC e 30ºC, aumenta a rigidez muscular; com 24ºC surge edema pulmonar e,
atingindo 20ºC, há parada cardíaca.
Na pele e nas extremidades – face, orelhas, queixo e joelhos – podem ocorrer: frosbite,
fenômeno de Raynaud, pé de imersão, urticária pelo frio. Trabalhadores idosos ou com
problemas circulatórios exigem o uso de roupa com isolamento extra e/ou redução do período
de exposição.
A vestimenta úmida ou molhada deve ser trocada por uma seca, antes de entrar na área fria.
Os que manuseiam líquidos voláteis – gasolina, álcool ou fluidos de limpeza – a temperaturas
do ar inferiores a 4°C, devem evitar molhar as roupas ou luvas com esses líquidos, em função
do risco adicional de resfriamento por evaporação.
Vibrações
Osteoarticulares: osteonecrose; lombalgia; degeneração precoce dos discos intervertebrais;
hérnia de disco lombar.
Angioneuróticas – principalmente nas mãos: sensibilidade alterada – formigamento –;
isquemia dos dedos.
Doença dos dedos brancos – o uso recorrente de máquinas com vibrações de alta frequência
– furadeiras manuais, britadeiras, motonetas etc. – pode acarretar danos na microcirculação e
vasoespasmo nas extremidades das mãos: clarear a área afetada – dedo branco –, diminuir ou
perder a sensibilidade e reduzir a temperatura do(s) dedo(s) afetado(s).
Radiações Ionizantes
Desde a descoberta da radioatividade natural e do raio-x, ficou clara a possibilidade de seus
efeitos nocivos aos tecidos biológicos. As constatações iniciais foram na pele de radiologistas e
cabelos dos pacientes irradiados. Depois, descobriram-se efeitos nos descendentes de plantas
e animais submetidos à irradiação.
No organismo humano as células têm sensibilidade diferente à radiação, sendo os efeitos
biológicos nos tecidos assim descritos:
• Medula óssea – diminuição dos glóbulos brancos e da resistência às infecções;
• Deficiência plaquetária – hemorragia;
• Diminuição de glóbulos vermelhos – anemia;
• Sistema digestivo – náuseas e vômitos;
• Olhos – catarata;
• Sistema reprodutivo – esterilidade.
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Unidade: Doenças relacionadas ao trabalho
O dano mais importante que essa condição pode provocar nas células é no DNA – mutação.
Essas mutações são prejudiciais por refletirem mudanças aleatórias em células somáticas – no
próprio indivíduo – ou germinativas – para seus descendentes.
Caso as mutações não sejam reparadas corretamente pelas próprias células, podem resultar
em: morte celular ou impedimento de sua funcionalidade; morte reprodutiva da célula – efeitos
determinísticos –, ou desenvolver uma célula viável, mas transformada – efeitos estocásticos.
Os efeitos determinísticos são agudos, têm severidade proporcional à dose, não são
detectados abaixo do limiar de dose e podem ser medidos experimentalmente. Como exemplos,
podemos citar: catarata, leucopenia, radiodermite, entre outros.
Já os efeitos estocásticos – câncer e efeitos hereditários – têm aparecimento tardio;
são cumulativos; sem limiar de dose; sua severidade independe da dose e possuem longo
período de latência.
Deve-se ressaltar os cuidados especiais com as trabalhadoras porque entre a terceira semana
e o final da gravidez pode ocorrer má-formação no órgão que estiver se desenvolvendo à
época da exposição.
Ambientes Hiperbáricos
As doenças dos trabalhadores expostos a condições hiperbáricas se instalam, muitas vezes, de
forma rápida, exigindo que essas atividades tenham programação planejada, com previsão de
equipamentos, recursos humanos especializados e decisões rápidas.
Barotrauma: dificuldade de equilibrar a pressão de cavidade pneumática do organismo com a
pressão variável do meio ambiente. O mais comum é o do ouvido médio. O sintoma predominante
é a dor, que pode irradiar-se para a região otomastoide, frontal, face e pescoço.
Embolia traumática: uma das ocorrências mais graves; durante a descompressão, a pressão
intrapulmonar fica aumentada em relação ao meio ambiente – por exemplo, mergulhador, em
uma emergência, abandona o equipamento e realiza uma subida livre com a glote fechada –; pode
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ocorrer: tontura, desorientação, náuseas, vômitos, dispneia e dor torácica; nos casos mais
graves, inconsciência, choque e convulsões.
Artralgia hiperbárica: mergulhos a grandes profundidades e descompressão rápida com
sensação de rigidez articular; dor aos movimentos bruscos – ombro, joelho, punho, coxofemoral
e coluna.
Doença descompressiva: confundida com embolia traumática, tem como causa: obesidade,
idade avançada, mau condicionamento físico e baixa temperatura. Prevenção: usar a tabela
de descompressão. Pode causar dor articular – cotovelo e ombro – ou mal-estar difuso, fadiga
e parestesias, paraplegia; dor abdominal, cefaleia, visão turva, diplopia, redução do campo
visual, disartria e tontura, convulsões e morte.
Síndrome neurológica das altas pressões: tremores e contrações musculares involuntárias,
sonolência, alterações significativas do eletroencefalograma, distúrbios visuais, tontura, náuseas
e convulsões.
Intoxicação pelo oxigênio: formam-se superóxidos e radicais livres causando, nos mergulhos
profundos: irritação respiratória, crise convulsiva – precedida ou não de sinais de alerta –
abalos musculares na face, pálpebras e boca; náuseas, confusão mental, pupilas dilatadas.
Necrose asséptica: acomete ossos longos – úmero, fêmur e tíbia –, inicialmente assintomática
e detectável apenas por radiografias. É a única de forma irreversível e de evolução longa.
Ocorre ainda por alcoolismo, uso de esteroides ou fenilbutazona, artrite reumatoide – em
histórico ocupacional decisivo para o diagnóstico.
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• Nível de adequação dos locais de trabalho, relacionados à zona de atenção, visão, posturas
ou métodos de trabalho: lesões osteomusculares;
• Baixas temperaturas, pressões locais mecânicas sobre o corpo humano ou trajetos nervosos;
• Carga osteomuscular oriunda de: carga excessiva, pressão ou postura decorrente das
rotinas de trabalho;
A dor é um dos elementos mais presentes na caracterização dos Dort. Em geral é insidiosa;
às vezes relacionada ao período de sobrecarga; localização variável e, por vezes, pouco
definida; a duração tende a ser mais breve no início – final do expediente e melhorando com
repouso noturno –; depois, transforma-se em mais duradoura e, finalmente, contínua – casos
mais graves. As posturas antálgicas e a reação do paciente devem ser valorizadas; dormências
indicam compressão nervosa. Nos casos mais graves há incapacidade para as mais simples
atividades domésticas e de cuidados pessoais.
Os quadros clínicos podem ter causa compressiva, inflamatória ou desconhecida e
representam várias patologias, entre as quais:
Síndrome do desfiladeiro torácico: trabalhos com os braços elevados por períodos
prolongados ou que comprimem o ombro contra algum objeto – telefone apoiado entre a
orelha e o ombro, por exemplo;
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• Síndrome do supinador: apertar parafusos e praticar musculação;
Dermatoses Ocupacionais
Dermatose ocupacional é toda alteração da pele, mucosas e anexos, direta ou indiretamente
causada, condicionada, mantida ou agravada por tudo aquilo que seja utilizado na atividade
profissional ou exista no ambiente de trabalho.
A pele é o órgão que envolve o corpo, exercendo diversas funções: regulação térmica,
defesa orgânica, controle do fluxo sanguíneo, proteção contra agentes do ambiente e funções
sensoriais – calor, frio, pressão, dor e tato. Possui três camadas: epiderme, derme e hipoderme.
Epiderme: a mais externa é constituída por células epiteliais que formam a camada córnea,
composta basicamente de queratina – impermeabilização da pele. É nessa também que se
originam os anexos cutâneos: unhas, pelos, glândulas sudoríparas – que produzem suor e
ajudam na regulação da temperatura corporal – e glândulas sebáceas – oleosidade.
Derme: camada intermediária é responsável pela resistência e elasticidade da pele.
Hipoderme: é a porção mais profunda e sua estrutura fornece proteção contra traumas
físicos, além de ser um depósito de calorias.
Os cuidados com a pele e as membranas mucosas partem do princípio de que, estando
intactas e saudáveis, servem como primeiras linhas de defesa, evitando agravos à sua integridade.
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• Candidíase da pele e das unhas: imersões prolongadas em água e irritação mecânica das
mãos – profissional de limpeza, lavadeiras, cozinheiras;
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Dermatoses por Agentes Químicos
Estima-se que 80% das dermatoses ocupacionais decorram da ação de agentes químicos –
orgânicos e inorgânicos – irritantes ou sensibilizantes. Na maioria dos casos são dermatoses
do tipo irritativo.
Cimento: ação alcalina sobre a camada córnea causa dermatose irritativa nas mãos e pés.
As dermatoses de contato alérgico são causadas por contaminantes do cimento – cromo e
cobalto. Podem ocorrer ainda calosidades palmares, plantares e ungueais, conjuntivite química
irritativa – ensacamento, carga e descarga – e “sarna dos pedreiros”.
Borracha: diversas substâncias usadas no processo de produção são potencialmente causadoras
de dermatite alérgica de contato, acometendo a pele previamente lesada e no uso de Equipamento
de Proteção Individual (EPI) de má qualidade – sem forro de tecido de algodão.
Outras substancias: solventes e óleos de corte – ação irritativa;
Cloracne: exposição excessiva a determinados hidrocarbonetos policromáticos halogenados,
sendo o escroto e o pênis frequentemente envolvidos. Ocorre por exposição a: cloronaftalenos
e bifenilas policloradas; dioxinas e em preservativos de madeira, como o pentaclorofenol.
Outros agentes: monoclorobenzeno, monobromobenzeno, hexaclorobenzeno.
Sais de cromo: úlceras de cromo; perfuração do septo nasal e dermatite de contato alérgica.
Níquel: conjuntivite, rinite, sarna dos niqueladores e eczema de contato alérgico.
Madeiras: dermatite, conjuntivite, rinite, câncer do septo nasal;
Resinas epóxi: dermatite, rinite, conjuntivite.
Leucodermia: pode ser provocada por queimaduras térmicas, radiodermite por raio-x e
agentes químicos – fenóis, arsênio e hidroquinona.
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Unidade: Doenças relacionadas ao trabalho
do poro ou até mesmo pela pele lesionada – e digestiva – falta de higiene, uso de recipientes
não etiquetados para outros fins etc. –; intoxicação aguda que não tem o correto diagnóstico é
condição corriqueira, fato que se deve aos sintomas não serem característicos da intoxicação:
cefaleia, vertigens, falta de força etc.
Na composição dos fertilizantes ou adubos são encontrados nitratos, fosfatos e sais de
potássio, a ocorrência de intoxicações graves, acidentais de origem alimentar que evolui
progressivamente, podendo atingir o coma e até mesmo a morte.
Quando ingeridos, os fosfatos formam complexos com o cálcio, o que reduz este elemento
no sangue. Os acidentes são decorrentes da ingestão de alimento ou por água contaminada
de chuva ou de irrigação, por exemplo. Em relação ao potássio, podem também ocorrer
acidentes através da contaminação de alimentos, o que causa úlcera na mucosa gástrica,
hemorragia e até mesmo perfuração do intestino delgado.
Os praguicidas utilizados em domicílios, recintos públicos, agricultura, reflorestamento e
pecuária tem registro frequente de intoxicação e, por vezes, mortais. Esse fato se dá ao uso
abusivo e despreparo no diagnóstico médico para o devido tratamento. Entre os praguicidas,
temos: organoclorados, carbamatos, fungicidas etc.
Organoclorados: atuam sobre o sistema nervoso central e são armazenados nas gorduras do
organismo. Na intoxicação, temos: cefaleia, tontura, excitabilidade, desorientação, contrações
musculares, convulsão, alteração do equilíbrio, dormência – na língua, lábios, face e mãos –,
náuseas e vômitos; estão associados ao câncer de mama.
Organofosforados: – Paration, Malation, Azinfós, Demeton – inibem as colinesterases.
Quadros: miose, visão borrada, sialorreia, tosse, náuseas, vômitos, cólicas, incontinência
urinária e fecal, dispneia; cãibras, dores musculares; cefaleia, tontura, convulsões e coma.
Carbamatos: inibidores irreversíveis da acetil-colinesterase, provocando os mesmos sinais e
sintomas dos organofosforados.
Piretroides: sensibilizantes da pele e dos pulmões e neurotóxicos; podem causar:
formigamento, prurido e sensação de queimação – face (após a transpiração ou a exposição ao
Sol) –; hipersecreção nasal e lacrimejamento; paralisia do trigêmeo; aplasia medular e leucemia.
Quanto aos fungicidas, ocorrem os mesmos efeitos do Antabuse – rubor cutâneo intenso,
cefaleia, dispneia, vômitos, vertigem.
No grupo dos herbicidas encontramos: cefaleia, hiperestesia, tremores, cólicas, diarreia
hemorrágica, dor retroesternal, hematúria, oligúria, uremia, dispneia e morte.
A maioria dos agrotóxicos atravessa a barreira placentária, causando risco de mutagênese
e teratogênese. Os bebês, as grávidas e os idosos são muito mais sensíveis aos seus efeitos
maléficos. Alguns dos efeitos agem diminuindo a libido e causando infertilidade masculina.
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Doenças Infecciosas e Parasitárias
Tuberculose: trabalhadores de laboratórios de Biologia e profissionais da saúde; há também
a forma pulmonar nos silicóticos.
Carbúnculo: contato direto com animais infectados ou seus cadáveres; manipulação de
peles, pelos, couro ou lã – tratadores de animais, trabalhadores em matadouros, curtumes,
manipuladores de lã crua, veterinários e seus auxiliares, artesãos.
Leptospirose: o principal reservatório é o rato; contato direto com águas sujas ou em
locais contendo dejetos de animais portadores de germes – minas, túneis, galerias, esgotos
–; trabalhos em drenagem; contato com roedores; trabalhos com animais domésticos e
com gado.
Tétano: penetração de esporos através de lesões contaminadas – perfurantes dilacerações
e queimaduras. Os esporos são encontrados no solo – tratado com adubo animal –, em
vegetais – espinhos e pequenos galhos –, em pregos enferrujados sujos, em instrumentos de
trabalho contaminados, fezes de animais ou humanas e agulhas de injeção não esterilizadas. A
prevenção tem um forte aliado na vacinação.
Hepatite viral: causada por vários vírus da hepatite. Na hepatite A, a fonte de infecção é
o próprio homem – mãos sujas; água ou alimentos contaminados. Já o vírus da hepatite B se
encontra nas secreções e excreções do corpo, porém, apenas o sangue, o esperma e a saliva
podem transmiti-lo – pela transfusão, injeções percutâneas com derivados de sangue, uso de
agulhas e seringas contaminadas.
Quanto à hepatite C, estima-se que 2% dos casos decorrem de exposição de trabalhadores
acidentados com material contaminado.
A hepatite viral D é endêmica na Amazônia Ocidental e pode associar-se ao vírus da hepatite B.
Imunodeficiência Humana (HIV): os trabalhadores da área da saúde, em decorrência
de acidentes perfuro-cortantes, decorrentes do manuseio de agulhas ou material cirúrgico
contaminado, tiveram registrados na literatura internacional acidentes ocupacionais.
Malária: trabalhadores em zona endêmica – mineração, construção de barragens ou
rodovias, extração de petróleo, entre outras circunstâncias.
Leishmaniose cutânea e cutâneo-mucosa: acomete trabalhadores agrícolas ou florestais,
em zonas endêmicas.
Câncer Ocupacional
Neoplasia maligna do estomago – câncer de estomago: exposição ocupacional ao asbesto ou
amianto – trabalhadores em minas de carvão, refinarias de petróleo e na indústria da borracha.
Angiosarcoma do fígado: exposição ao cloreto de vinila.
Neoplasia maligna do pâncreas – câncer de pâncreas: exposição ao Dicloro-Difenil-
Tricloroetano (DDT); a óleos minerais – indústrias mecânico-metalúrgicas e automobilísticas
– e a radiações ionizantes – radiologistas;
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Exposição ocupacional: indústrias de cloro-soda; manufatura de inseticidas, fungicidas e
pesticidas; equipamentos elétricos; fabricação de lâmpadas e de equipamentos laboratoriais;
fabricação de tintas, papéis e pilhas; garimpos de ouro; clínicas dentárias.
Sintomatologia: inorgânico – irritabilidade, mudança de personalidade, depressão, insônia
e perda da memória; sangramento da gengiva, perda de dentes, queda de cabelo, cólicas
abdominais, diarreia e gosto metálico no paladar –; orgânico – redução do campo visual;
incoordenação de movimentos voluntários; dores de cabeça; perda do sono. Diagnóstico:
associando sinais/sintomas à dosagem de mercúrio na urina – inorgânico. Iniciar monitorização
após doze meses de exposição.
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Há ainda uma tendência para pressão arterial mais elevada em motoristas de ônibus urbanos,
nas grandes metrópoles, e em trabalhadores com jornada superior à 48 horas semanais, ao
compará-los aos que trabalhavam menos que esse limite.
Infarto agudo do miocárdio: maior incidência de doença coronariana, incluindo infarto, em
trabalhadores expostos a sulfeto de carbono – aterosclerose –, monóxido de carbono e nitratos.
Arritmias cardíacas: fatores causais – exposição ao monóxido de carbono; gás arsina;
nitratos orgânicos; solventes; agrotóxicos organofosforados e carbamatos; antimônio, arsênico,
mercúrio e chumbo.
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Unidade: Doenças relacionadas ao trabalho
Rinite crônica: com os mesmos sinais e sintomas da rinite aguda, por exposição a cloro
gasoso, cromo, gás flúor e fluoreto de hidrogênio; amônia; anidrido sulfuroso; cimento.
Ulceração ou necrose do septo nasal e perfuração do septo nasal: aerossóis irritantes,
cromo, arsênio, cádmio etc. Pode evoluir para a perfuração do septo – entre 3 e 36 meses
de exposição.
• Aguda: rara – jateamento de areia ou moagem de quartzo puro –; latência de cinco anos
e sobrevida em torno de um ano;
• Crônica: latência longa – dez anos –; ao raio-x, notam-se nódulos que evoluem para
grandes opacidades. Os sintomas aparecem nas fases tardias.
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Assintomática no início, com a progressão das lesões – doenças respiratórias concomitantes
–, aparece dispneia aos esforços e astenia; nas fases avançadas há insuficiência respiratória,
dispneia aos mínimos esforços e de repouso.
São fatores de risco: concentração total de poeira respirável; dimensão das partículas
(<10 µm podem atingir os alvéolos); composição mineralógica da poeira respirável – em
porcentagem de sílica-livre –; tempo de exposição.
• “Pulmão do granjeiro” – ou “do fazendeiro”, ou “do agricultor”: feno, palha, grãos mofados;
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Material Complementar
Sites:
MENDES, L. F.; CASAROTTO, R. A. Tratamento fisioterápico em distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho: um estudo de
caso. Rev. Fisioter. Univ. São Paulo, v. 5, n. 2, p. 127-132, jul./dez. 1998. Disponível em:
http://www.revistas.usp.br/fpusp/article/download/77304/81168
Leituras:
BRASIL. Ministério da Saúde; Organização Pan-Americana da Saúde. Doenças relacionadas ao trabalho: manual de procedimentos
para os serviços de saúde. Brasília, DF, 2001. (Série A. Normas e manuais técnicos; 114). Disponível em:
http://goo.gl/Cwkpf
DOENÇAS ocupacionais: o que são e como preveni-las? Boletim Cipa, 7 mar. 2013. Disponível em:
http://goo.gl/Wiw1pY
OLIVEIRA, B. R. G. de O.; MUROFUSE, N. T. Acidentes de trabalho e doença ocupacional: estudo sobre o conhecimento do
trabalhador hospitalar dos riscos à saúde de seu trabalho. Rev. Latino-Am. Enfermagem, Ribeirão Preto, SP, v. 9, n. 1, p. 109-115,
jan. 2001. Disponível em:
http://www.scielo.br/pdf/rlae/v9n1/11538.pdf
TERSARIOLLI, A. et al. Doenças ocupacionais em profissionais de unidade de informação. 2005. Trabalho de Conclusão de Curso
(Bacharel em Biblioteconomia) - Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo, São Paulo, 2005. Disponível em:
http://goo.gl/IKrc93
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Referências
ODDONE, I. Ambiente de trabalho – a luta dos trabalhadores pela saúde. [S.l.]: Hucitec, 1986.
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Anotações
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