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Maio de 1968

Os protestos de maio de 1968 foram o resultado de um mundo que estava em agitação. Vários
acontecimentos marcantes contribuíram para a agitação popular em diferentes partes do mundo,
e isso, de certa maneira, reforçou o desejo pela mudança na França, o que resultou num
movimento estudantil.

Os Estados Unidos viam o país ser varrido por protestos contra a Guerra do Vietnã e passavam por
transformações significativas no combate ao racismo; a Checoslováquia era agitada por um
reformismo que procurava democratizar o socialismo no país; na Alemanha, protestos estudantis
aconteciam em Berlim.

Maio de 1968 mobilizou milhões de estudantes e trabalhadores


em defesa de mudanças na sociedade francesa e influenciou
gerações.

Esses acontecimentos reforçavam a retórica inspirada nos ideais socialistas entre os estudantes
franceses. Uma das correntes mais influentes naquele período era a maoista, e, desde 1966, a China
passava pela Revolução Cultural, acontecimento em que Mao Tsé-Tung mobilizou os estudantes
para defendê-lo sob o mote do combate às “velhas ideias”.

A Revolução Cultural foi de grande inspiração para os estudantes franceses, principalmente,


porque, ainda não se conheciam os excessos cometidos por Mao Tsé-Tung durante os 10 anos
dessa revolução.
Causas para o Maio de 1968

Embora as mobilizações estudantis tivessem sido influenciadas por acontecimentos globais, havia
também problemas relacionados com as insatisfações com o desemprego, que estava em
crescimento na década de 1960, com o sistema educacional francês e com o governo de Charles
De Gaulle.

Daniel Cohn-Bendit foi um dos estudantes que lideraram os


protestos em Nanterre. Esses protestos serviram de motivo
para o Maio de 1968.

As universidades francesas ainda funcionavam sob normas bastante conservadoras, e a expansão


do número de vagas universitárias criou incertezas acerca das perspectivas de carreira no mercado
de trabalho na França. A maioria dos professores era considerada muito reacionária e considerava-
se que o ensino francês não conseguiria atender as demandas das novas gerações.

O aumento no número de estudantes na França possibilitou o fortalecimento do movimento


estudantil, e protestos contra o sistema educacional francês já existiam desde, pelo menos, 1966.

Em março de 1968, estudantes decidiram ocupar o prédio da administração da Universidade de


Paris em Nanterre, região metropolitana de Paris. Nesse momento nasceu o Mouvement du 22
Mars (Movimento de 22 de Março), sob a liderança de Daniel Cohn-Bendit, um estudante
anarquista.

Maio de 1968

O protesto dos estudantes em Nanterre foi encerrado após a chegada da polícia, convocada pela
própria administração de Nanterre. Novos protestos seguiram acontecendo nos meses de março e
abril, e a ação policial era baseada na violência, o que indignava os estudantes. Os protestos, no
entanto, continuaram.

Em 2 de maio, a administração da universidade em Nanterre decidiu autorizar o fecho do campus


e ameaçou expulsar os estudantes que participavam dos protestos. No dia seguinte, 3 de maio, os
estudantes de Nanterre começaram a contar com o apoio dos estudantes do campus da
Universidade de Sorbonne, em Paris.

Milhares de estudantes da Sorbonne, em


Paris, aderiram aos protestos de Maio de
1968.

Nesse dia, os confrontos entre policiais e estudantes foram violentos. A polícia incendiava carros
para incriminá-los e usava a violência para dispersá-los, e os estudantes responderam construindo
barricadas para impedir o avanço policial.
Barricadas durante os confrontos

Novas pautas foram adicionadas às reivindicações estudantis, como o fim da separação de géneros
nos alojamentos, e a força do movimento cresceu porque a violência policial fez com que ele
passasse a contar com o apoio de outras classes, principalmente a dos trabalhadores.

Os sindicatos decidiram convocar greve geral na França, e funcionários públicos, metalúrgicos,


eletricistas, professores etc. decidiram aderir à paralisação. Estima-se que, nesse mês de maio,
cerca de 10 milhões de trabalhadores estiveram em greve no território francês. Em muitos lugares,
eles ocuparam as fábricas e assumiram o controle da produção.

A adesão dos trabalhadores aos protestos estudantis forçou o governo do presidente De Gaulle a
negociar. Governo, representantes dos sindicatos e empresários sentaram-se à mesa para debater
condições para que os trabalhadores voltassem ao trabalho. As negociações estenderam-se por
todo o mês de maio, e, ao final, chegou-se aos Acordos de Grenelle.

Os trabalhadores ganharam uma série de benefícios, como aumentos salariais e redução do horário
de trabalho, e os sindicatos ganharam maior liberdade para organizar-se.

Enquanto o governo negociava com os trabalhadores, os estudantes seguiam firmes na sua


mobilização. Dezenas de barricadas foram construídas nas ruas de Paris, e os estudantes, além dos
protestos, produziram cartazes que manifestavam as suas insatisfações. Mensagens contra o
capitalismo e contra o governo De Gaulle eram comuns. Uma das expressões mais populares desse
período foi “é proibido proibir”, uma mensagem clara contra os padrões da sociedade francesa,
visto pelos estudantes como conservadores.

A força nos cartazes Algumas das frases mais marcantes nos protestos

Fim dos protestos

O ímpeto dos protestos seguiu-se durante o mês de maio, mas perderam força no final dele.

A 30 de maio de 1968, Charles De Gaulle anunciou que não renunciaria ao governo, como
reivindicava os estudantes e que as medidas para ampliar a participação popular que ele havia
anunciado dias antes seriam canceladas. Também ameaçou os trabalhadores a retornarem ao
trabalho, ou seriam reprimidos pela polícia. Por fim, convocou eleições legislativas para junho.

Em meados de junho, os 10 milhões de trabalhadores em greve tornaram-se apenas 150 mil. O


ímpeto revolucionário dos estudantes também perdeu força, e a normalidade foi retomada nas
ruas parisienses. As eleições de junho aconteceram, e o partido de Charles De Gaulle saiu
fortalecido.

Maio de 1968 tornou-se um símbolo da mobilização estudantil e influenciou gerações no mundo,


mas, no final, não foi a revolução que muitos pretendia , principalmente porque não houve apoio
político consistente para as causas estudantis.

https://www.dn.pt/opiniao/opiniao-dn/convidados/maio-de-68-uma-revolucao-que-tambem-
foi-da-linguagem-9317827.html
https://pt.euronews.com/2018/05/03/50-anos-apos-o-maio-de-68

https://observador.pt/2018/05/09/maio-de-68-estudantes-contra-policias-e-no-fim-ganhou-o-
capitalismo/

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