Uma especial vénia à memória de todos quantos, crianças, mulheres e homens, pereceram nos campos de concentração e extermínio nazi, nos que ali conseguiram sobreviver ,e dum modo muito especial, a todos quantos aqui me concederam o privilégio de "querer falar comigo". Foram todos.
Uma também muito especial vénia de respeito e reconhecimento a todos os fotógrafos, profissionais ou não, que tiveram a coragem, o discernimento e o arrojo de registar as imagens de que aqui pude dispor.
Uma especial vénia à memória de todos quantos, crianças, mulheres e homens, pereceram nos campos de concentração e extermínio nazi, nos que ali conseguiram sobreviver ,e dum modo muito especial, a todos quantos aqui me concederam o privilégio de "querer falar comigo". Foram todos.
Uma também muito especial vénia de respeito e reconhecimento a todos os fotógrafos, profissionais ou não, que tiveram a coragem, o discernimento e o arrojo de registar as imagens de que aqui pude dispor.
Uma especial vénia à memória de todos quantos, crianças, mulheres e homens, pereceram nos campos de concentração e extermínio nazi, nos que ali conseguiram sobreviver ,e dum modo muito especial, a todos quantos aqui me concederam o privilégio de "querer falar comigo". Foram todos.
Uma também muito especial vénia de respeito e reconhecimento a todos os fotógrafos, profissionais ou não, que tiveram a coragem, o discernimento e o arrojo de registar as imagens de que aqui pude dispor.
15 poemas7 Oaniversdrioda libertagio
de Auschwitz=—Birkenau
Oo poemas
O Holocausto sempre me inquietou
aalma,o pensamento e afé a consciéncia.
Nao ha memoria de sofrimento
ehumilhacao maior, imposto a tantas
mulheres, homens e criangas, familias
inteiras, seres humanos absolutamente
inocentes. O seu tinico “pecado” era,
nao exclusivamente, mas na sua
esmagadora maioria serem judeus.
Mas também polacos, russos,
homossexuais, jeovas, ciganos e outras
minorias étnicas foram vitimas desta
criminosa accao nos intimeros campos
de concentracao e exterminio nazis.
O que aqui vos deixo, sdo 15 poemas.
15 poemas em discurso directo e em que
visito, olho, interpelo e, sobretudo,
sou interpelado pelas vitimas que ali,
como sombras, encontro aprisionadas.
Etudo “como se li tivesse estado”.
> Q campo de Auschavitz-Birkenau foi libertado
hid 73 anos, ent 27 de Janeiro de 1945.wf (oP rect Sa K BRR Sar Tete)
de Auschwitz=Birkenau
Memérias de Auschwitz - Birkenau
(Como se lé tivesse estado)
“Reflitam e recordem que tudo isto aconteceu”
Primo Levi
A Primo Levi,
@ minha companheira Eva,
aos meus filhos Ivo e David.
Detido pelas tropas alemds em Dezembro de 1943, Primo Levi, quimico
de formagéo académica e membro da resistencia, é um dos mais icidos
¢ impressionantes escritores sabre os campos de exterminio nazis.
Tendo confessado a sua ascendéncia judaica é deportado e internado,
em Fevereiro de 1944, no campo de conceniragao de Auschwitz.
Primo Levi é um dos mais icidos ¢ impressionantes escritores acerca dos
campos de exterminio nazis.
Deziicou a sua vida a escrever e a fazer palestras, sobretudo em escolas,
sobre o Holocausto,
Nunca conseguindo libertar-se totalmente de tal pesadelo,
viria a suicidar-se em 11 de Abril de 1987, em Turim, Itdlia, terra onde nascera
em 31 de Julho de 1919.vp aniversdrioda libertagio
de Auschwitz=Birkenau
Memérias de Auschwitz - Birkenau
(Como se lé tivesse estado)
Vés que viveis tranquilos
Nas vossas casas aquecidas,
Vos que encontrais regressando a noite
Comida quente e rostos amigos:
Considerai se isto é um homem
Quem trabatha na lama
Quem nao couhece a paz
Quem luta por meio pao
Quem morre por um sim ou por um ndo.
Considerai se isto é uma mulher,
Sem cabelo e sem nome
Sem mais forca para recordar
Vazios os olhos e frio 0 regago
Como uma ra no Inverno.
Meditai que isto aconteceu:
Recomendo-vos estas palavras.
Esculpi-as no vosso coragio
Estando em casa, andando pela rua,
Ao deitar-vos e ao levantar-vos;
Repeti-as aos vossos filhos.
Ou que desmorone a vossa casa,
Que a doenca vos eutrave,
Que os vossos filhos vos virem a cara.
(Primo Levi, in Se isto é wm homem)Ny TUR Lee KU ee edt
(Como se la tivesse estado)
Que fique um rosto
Czestazva Kiwoka era uma crianea polaca, catélica, que morreu no campo de concen-
tracao de Auschwitz com 14 anos. Ela foi uma dos milhares de criancas vitimas do terror
nazi. Entrou no campo em Dezembro de 1942 e morreu em 12 de Marco de 1943. Czestawa
nasceu em Wolka Ztojecka, na Polonia, em 15 de Agosto de 1928, filha de mae catélica
e também prisioneira naquele campo. Czeslawa (prisioneira niimero 26947) havia sido
COUN PAs EOE MOTE eee rancor stg! MeN See N
sua mde ali morrer também. Lé-se no seu obituario: As causas da morte de Czestawa Kwoka
tee ae ee eee cL ERC M TNE RC RUS tey
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deportadas para Auschwitz-Birkenau de 1940 a 1945. Dessas cerca de 230 mil criangas
e jovens, mais de 216 mil eram de descendéncia judaica; Mais de 11 mil vieram de familias
ciganas, sendo as outras de varias origens étnicas. A maioria dessas criancas chegou
a Auschwitz acompanhada das suas familias. Estas operagdes faziam parte das varias
tdcticas que os nazis levaram a cabo contra grupos étnicos ou sociais inteiros, visando de
forma especial os judeus, como parte da orientacdo para o exterminio total desse povo.
O mesmo se passava com os ciganos, os polacos, os bielorrussos e os soviéticos.
INE CBrText oon elo CRU as COC MELE Br uoucCeCORt OMe TU eOeN ene Ton CLL OeMemiorias de Auschwitz - Birkenau,
Comics ia tveseeeatnich
Nao entreis
Faz-te ao portao o mais serenamente que puderes, poeta
e olha bem.
Vé com olhos de ver 0 que vés.
Vé, mas verdadeiramente nao entres.
Nao, poeta, nao entres nunca!
Eu digo-te: aqui é 0 inferno e sao as chamas do inferno
eo terror todo a uma s6 vez!
Eo terror e o inferno, aqui, rimam com Auschwitz,
com Birkenau logo ao lado e rimam com pérfidos carrascos, com o mal.
Com todo o mal do mundo aqui, entrando este portao.
Faz-te ao portao, poeta e leva os teus filhos,
os teus amigos e os teus inimigos contigo e olhem bem.
Vede com olhos de ver 0 que vedes.
Vede, mas verdadeiramente nao entreis.
Anténio F. MartinsCTT a ae Une Lae 2
(Como se la tivesse estado)
(Em memoria de Primo Levi )
Nao nos esquecas, nunca
OP Ce ete c eee tree
Rear enn Rest tse
OCR EBC co ic
ea revolta a cada dia se faz vida
CER CE roc Cets
SEB EO Ons emo none loec
Gerona er canister niece
Ja nao somos sequer gente.
Jénem sabemos softer.
Nao nos esquecas, nunca, poeta.I Greg eee eer bis gee iii 21)
(Como se la tivesse estado)
CT Ean Eh
Nao sei dos meus pais.
Preemie ETE
entre casernas frias e gente,
Ponce ote CRE Bin Rese oe to nc
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Nao sei dos meus pais.
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ECR Om OB Ce toe
Aqui nao encontro nada mais que nada.
Orgone
Antonio F. MartinsMemirias de Auschwitz - Birkenau, Poema IV
(Como se a tivesse estado)
Nunca me esquecas
Repara no meu olhar,
1é nos meus olhos
o que eu nunca
te vou poder dizer.
Nao me perguntes nada.
Aqui, eu ja nao tenho
nem idade nem nome
que te diga.
Guarda de mim s6 0 olhar.
Nunca me esquegas.
Anténio F. MartinsMemorias de Auschwitz - Birkenau, Poema V
(Como se la tivesse estado)
Krystyna Trzesniewska - Polaca, judia, 13 anos
Enttrou emt Auschwitz em 13 de Dezenibro de 1942 - Morren em 18 de Maio de 1943
Taluvez seja medo
Nao me perguntes se é medo se é raiva
se é espanto envergonhado
0 que sinto aqui neste lugar perto do meu
e ao mesmo tempo tao distante.
Nao me perguntes o que sei deste lugar
que eu s6 sei que aqui eu sou igual a dor
dos outros que aqui estao.
Nao me perguntes de onde vim, quem me trouxe,
porque me querem aqui, que eu nao sei dizer-te.
Agora, aqui, so tenho frio.
Um frio que me gela mais que 0 corpo a alma toda.
Olha, poeta, talvez seja medo.
Vé nos meus olhos,
talvez seja medo!
Lembra-te de mim, assim.
Antonio F. Martinsie de Auschw
Memorias de Auschwitz - Birkenau, Poema VI
(Como se lé tivesse estado)
Temos que ir
Abraca-me assim
com a alma e o coracao.
Nao tenho medo,
minha mae.
Leva-me em ti
assim como se tu eu
fossemos um s6,
num cais de partidas,
tao perto da viagem
e oalém muito além.
E eu que nao sei nada
do caminho, minha mae.
Aperta-me bem agora
contra o teu peito
que eu vou contigo,
minha mae.
Temos que ir.
Anténio F. Martins. @ 5
“ wae er |
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A a
Memiorias de Auschwitz -Birkenau, ff
[eonmiea inet ett) |
i
Um HOMEM aqui
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Um HOMEM perguntou-se em Auschwitz:
O que é aqui? O que faco aqui?
Does
Perctsg
Deveria um HOMEM, cada HOMEM,
Coto m Mune ey asia
Um HOMEM sobreviveu em Auschwitz
PUPP CBE CHE gy Que Clya
Um HOMEM morreu, sobrevivendo
nee lea i
Um HOMEM estando, nunca esteve
ConmU ani iea
Que sabem vocés, os que nunca estiveram
mw eoniesg
Nenhum HOMEM sobreviveu
uence lea
Um HOMEM
aqui.
Anténio F. MartinsMemérias de Auschwitz - Birkenau,
(Como se la tivesse estado)
Vé como te olhamos
Nao sei 0 que vai ser de nds, poeta,
aqui, nesta tragica gare dos destinos,
aguardando firmes a escolha do verdugo.
Vé como parecemos serenos, esperando
talvez a morte num grito anunciada.
Olha para nos: criancas, velhos, mulheres
eo mundo inteiro caindo negro sobre nos,
um a um ja quase mortos, perdida a esperanca.
Vé como te olhamos.
‘Vé como queremos que saibas que te olhamos.
Fala de nés, poeta.
Nao esquecas nunca a nossa dor.
Vamos.
Anténio F. Martinsirkenau
Memérias de Auschwitz - Birkenau, Poema 1X
(Como se la tivesse estado)
Fala de nos
Que sabes tu deste lugar, poeta?
Desta gente que nos grita o medo
e dia-a-dia nos ensina o perto e a morte
e um destino destruido no presente.
Que sabes tu deste lugar, poeta?
Desta gente que nos levou os pais,
0s av6s, os tios, a familia toda e os amigos
e nos levou até os sonhos e os sorrisos de crianca.
Que sabes tu deste lugar, poeta?
Que sabes tu deste frio que nos mata,
da fome, tanta fome que j4 nem a sentimos
e desta dor que nos nao larga
e nos consome, medonha, os dias
ea esperanca?
Que sabes tu deste lugar, poeta?
Que podes tu saber?
Que aqui, nunca 0s teus olhos
nem a tua alma o saibam,
nem 0 teu corpo aqui o sinta.
Nem os teus filhos
eos filhos dos teus filhos
Fala de nés.
Anténio F. MartinsMemorias de Auschwitz - Birkenau,
ener eelMemérias de Auschwitz - Birkenau,
(Como se la tivesce estado}
Nao morrerei sozinho
Ajuda-me, poeta,
perdi-me e perdi aqui o meu amigo,
o amigo do meu amigo.
Ja nem sei de mim
e entre tanta morte
nao encontro ja sequer
a minha alma no olhar.
Nao hei-de morrer sozinho, poeta.
Anténio F. MartinsMemb6rias de Auschwitz - Birkenau,
(Como se la tivesse estado)
Dos velhos chegados
Que vés em nés, poeta,
que nao seja espanto nos olhares,
que nao seja veres em cada um
um velho rosto marcado de destinos?
Que vés em nés, homens de pé, aqui
neste cais medonho de tragicas chegadas,
e nunca, nunca de partidas?
E nés viemos de tao longe, poeta,
do longe do fundo das raizes mais profundas,
ancestrais, das casas, das aldeias, das cidades,
do mais longe de nos mesmos.
Porque nos trouxeram eles de tao longe
e nos deixaram aqui, neste lugar
que nao é lugar nenhum?
Porqué?
Nunca te esquecas de nés, poeta.
PNG Enin)Memi6rias de Auschwitz -Birkenau, =
(Como se lA tivesse estado)
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aqui tivesse estado
Cp COC rapier ice)
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nunca querem ver.
Estou aqui, poeta,
no mais profundo
PEW ComnG ears (EC
Ron enn Ey
e eu olhando-te nao te visse.
Estou aqui, poeta,
SOR Tse SC hos)
e atordoantes siléncios,
como se fora s6 eu,
COC Ror were LEC
Cero neo
no fundo dos meus olhos.
NT RoC eC Btw etsy
Ca Cees ECO SL Le
Quando te fores, poeta,
CMa enone
Bote ent
quando chegar a primavera.
POOP etyMemérias de Auschwitz - Birkenau, Poema XIV
(Como se i tivesse estado)
Nao deixes que nos esquecam
Diz-nos, poeta, se aqui, neste lugar medonho
ainda parecemos gente.
Diz-nos se vés no fundo dos nossos olhos
que ainda estamos vivos?
Se aqui, em nés, ainda vés, batendo, um coracao de gente
e um pedaco de alma ainda no olhar?
Diz-nos, poeta, se os que aqui vés atras da dor farpada
te parecem homens iguais aos outros homens?
Nos ja nao sabemos nada. Nada!
Sequer quem somos.
Liberta-nos agora, para sempre, poeta.
Liberta-nos agora, nas asas longas da palavra
e leva-nos daqui, pelo menos na memoria.
Poeta, nao deixes que nos esquecam.
Antonio F. Martins peppy aeMemiorias de Auschwitz - Birkenau,
(Como se la tivesse estado)
Nao sei do sol, poeta
Nao sei do sol, poeta,
nao sei do sol aqui neste lugar.
Ja ha muito me perdi nos dias
sempre tao vagos da memoria.
Sem memé6ria nenhuma.
Perdi-me na noite, poeta e é tudo noite,
tudo negro aqui neste lugar.
Diz-me poeta:
Porque me olhas como se aqui nao visses nada,
nada mais que dor, sé dor e nada?
De onde vieste tu, de que terras, de que cidades,
de tao longe ver-me aqui, assim como aqui estou
neste fim no fim do fim do mundo?
Leva-me contigo nesse teu olhar aceso, poeta.
Leva-me num qualquer lugar vazio da tua alma,
leva-me daqui, impio lugar que me tortura
ou deixa-me talvez, de vez, aqui perdido,
morrendo de frio nos frios ventos da infami
Olha, esta tao escuro aqui.
Nao sei do sol, poeta.
Anténio F. Martins7 Oaniversdrioda libertago
de Auschwitz=—Birkenau
Memérias de Auschwitz - Birkenau
(Como se lé tivesse estado)
Uma especial vénia i memséria de todos quantos,
criangas, mulheres e homens,
pereceram nos campos de concentragdo e exterminio nazi,
aos que ali conseguiram sobreviver e, dun modo muito especial,
a todos quantos aqui me concederam o privilégio
de “querer falar comigo”.
Foram todos.
Uma tanibém muito especial vénia de respeito
e reconhecimentto a todos os fotdgrafos, profissionais ou néo,
que tiveram a coragem, 0 discernimento e o arrojo
de registar as imagens de que aqui pude dispor.