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Qualidade ambiental e promoção de saúde: o que

determina a realização de atividades físicas em parques


urbanos?
Alba Regina Azevedo Arana*
Fernanda Berguerand Xavier**

Resumo
Evidências encontradas em estudos recentes indicam que a oferta
de parques urbanos está associada a benefícios na saúde da
população local. Um mecanismo proposto para essa questão é que
os parques influenciam positivamente a auto percepção de saúde
do indivíduo e incentiva a prática de atividades físicas. No entanto,
estudos que exploram essa associação têm produzido resultados
mistos. O objetivo deste estudo, portanto, foi revisar evidências
documentadas no Brasil e no mundo que associam parques urbanos
como fator de qualidade ambiental com o nível de atividade física
da população, e propor a seguinte reflexão: em que extensão os
parques compreendem uma chave para a redução do sedentarismo
e quais as características determinantes desses locais que atuam
como promotoras de saúde através da prática de atividades físicas?
Concluiu-se que os parques urbanos trazem benefícios à saúde,
mas não garantem por si sós o aumento do nível de atividade física.
Muitos outros fatores facilitam ou impedem a utilização dos
parques de maneira ativa. Pesquisas nacionais que exploram o tema
são extremamente escassas e precisam ser incentivadas no para que

*
Coordenadora do Programa de Meio Ambiente e Desenvolvimento
Regional da UNOESTE (MMADRE). (alba@unoeste.br).
**
Mestre em Meio Ambiente (Universidade do Oeste Paulista -
UNOESTE - em Presidente Prudente/SP.).
(ernandaberguerand@hotmail.com).
Geosul, Florianópolis, v. 32, n. 63, p 201-228, jan./abr. 2017
ARANA, A.R.A. & XAVIER, F.B. Qualidade ambiental e promoção de ...
haja maior clareza a respeito desse importante papel dos parques
urbanos no Brasil.
Palavras chave: Parques urbanos; Atividade física; Qualidade
ambiental; Saúde.

Environmental quality and health promotion: what determines


performance of physical activity in urban parks?

Abstract
The evidence from recent studies indicate that the supply of urban
parks is associated with the local population’s health benefits. A
proposed mechanism for this question is that the parks positively
influence the self-perception of the individual's health and
encourages physical activity. However, studies exploring this
association have produced mixed results. The objective of this
study was to review evidences documented in Brazil and in the
world that linked urban parks and environmental quality factor
with the physical activity level of the population, and propose the
following reflection: to what extent the parks comprehend a key to
reducing sedentary habits and what are the determining
characteristics of those places that act as promoters of health
through physical activity? We conclude that urban parks provide
health benefits, but do not guarantee increased physical activity
level by itself. Many other factors facilitate or impede the use of
parks actively. National surveys that explore the theme are
extremely scarce and need to be encouraged for clarifying this
important role of urban parks in Brazil.
Key words: urban parks; physical activity; environmental quality;
health.

Introdução
A inatividade física possui uma relação causal com quase
30% de todas as mortes por cardiopatia, câncer de cólon e diabetes

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ARANA, A.R.A. & XAVIER, F.B. Qualidade ambiental e promoção de ...
(MCARDLE, 2011). Em qualquer idade, tornar-se fisicamente
mais ativo retarda a mortalidade relacionada a essas e outras
causas. As pessoas com estilo de vida mais saudáveis sobrevivem
por mais tempo, e o risco de incapacitação e de procura por
assistência médica é protelado (MCARDLE, 2011).
O sedentarismo é apontado como problema de saúde púbica
no Brasil. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia Estatística
(IBGE) em pesquisa divulgada em Dezembro de 2014 apontam
que 46% da população com idade superior a 18 anos é sedentária,
não atingindo a recomendação de 150 minutos de atividade física
por semana, seja nos momentos de lazer, no trabalho ou nos
deslocamentos até o trabalho (PNS, 2014). Ainda segundo a
pesquisa, o percentual de pessoas que praticam atividades físicas
no lazer diminui de acordo com a faixa etária. De 18 a 24 anos, a
proporção é de 35,3%. Essas taxas vão caindo para 25,5% (de 25 a
39 anos), 18,3% (de 40 a 59 anos) e 13,6% (de 60 anos ou mais).
Intervenções de saúde direcionadas à mudança comportamental
do indivíduo para torna-lo fisicamente ativo têm alcançado mudanças
positivas, mas os efeitos têm se mostrado pequenos e de curto prazo,
não havendo avanço substancial nos níveis de atividade física da
população (BEDIMO-RUNG et al., 2005).
Ademais, pesquisadores têm constatado que a vida em
ambientes mais naturais influencia positivamente a auto percepção
de saúde das pessoas e leva a um menor risco de mortalidade
(MAAS et al., 2008). De acordo com Branas et al. (2011), uma
estratégia multinível que combine indivíduo e meio ambiente pode
atingir metas maiores e mais sustentáveis, pois influenciam maior
número de pessoas por um período de tempo significativamente
superior aos programas individuais de saúde.
As grandes concentrações urbanas, a redução dos espaços
livres, assim como a revolução tecnológica criaram cenários que
predispõem ao estilo de vida inativo (COLLET et al., 2008). Ainda
que constitua apenas um único fator, parques urbanos são espaços
públicos comuns que podem desempenhar um papel significativo
no aumento dos níveis de atividade física da população. Eles

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fornecem locais propícios para que as pessoas caminhem ou
corram, muitas vezes possuem instalações específicas para
esportes, exercícios e outras atividades vigorosas, oferecendo a
oportunidade de incluir atividades físicas nos momentos de lazer
de forma gratuita.
Fredric Olmstead (1999, apud COHEN et al., 2007), o ―pai
dos parques urbanos‖ observa que esses devem ser construídos
como locais onde os moradores da cidade possam experimentar a
beleza da natureza, respirar ar fresco e ter um lugar receptivo para
ouvir música e apreciar a arte, praticar atividades esportivas, bem
como conviver com amigos e vizinhos. Sendo assim, parques
urbanos podem desempenhar um papel na facilitação da atividade
física, mas não necessariamente fazê-lo, por também proporcionar
oportunidades para que as pessoas se envolvam em comportamento
sedentário (WALKER, 2004; apud COHEN et al., 2007).
A escassez de informações quanto à forma de utilização e os
fatores que podem facilitar ou impedir a utilização dos parques de
maneira ativa, traz à tona a necessidade de compreensão dos
fatores que possam intervir na ocupação de parques urbanos
enquanto espaço de lazer (COLLET et al., 2008).
Diante destes elementos apresentados temos alguns
questionamentos para a reflexão: em que extensão os parques
compreendem uma chave para a redução do sedentarismo? Quais as
características determinantes desses locais que atuam como promotoras
de saúde através da prática de atividades físicas? Como os parques
urbanos ajudam na promoção da qualidade de vida das pessoas?
Desta forma, este artigo tem como objetivo apresentar a
importância dos parques urbanos para a promoção de saúde e
práticas de atividades físicas no espaço urbano. Busca ainda revisar
evidências documentadas no Brasil e no mundo que associam
parques urbanos como fator de qualidade ambiental com o nível de
atividade física da população.
A metodologia utilizada para a realização deste trabalho
está fundamentada na pesquisa bibliográfica. Diferentes fontes
foram pesquisadas (artigos, teses, dissertações e livros), sendo as

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ARANA, A.R.A. & XAVIER, F.B. Qualidade ambiental e promoção de ...
fontes primárias identificadas com base no seu título e selecionadas
todos os resumos considerados relevantes. A partir disso, todos os
artigos selecionados foram obtidos em sua versão integral e então
examinados. Por último, realizaram-se consultas às referências
bibliográficas e também buscas pelo nome do primeiro autor
desses estudos selecionados a fim de identificar outras fontes que
estivessem dentro dos requeridos critérios.
Informações sobre quem são os potenciais frequentadores
dos parques públicos, o que eles buscam e quais as atividades que
realizam nesses ambientes podem elucidar a real contribuição
desses locais na estratégia de promoção de saúde bem como
potencializar seus benefícios. No entanto, a diversidade de
resultados e variáveis encontradas nesses estudos têm produzido
resultados mistos (ORD et al., 2013), não concebendo padrões
consistentes de associação.
O texto organizado em quatro partes e uma conclusão. Na
primeira parte são apresentados como a atividade física favorece na
promoção a saúde enfocando a epidemiologia da atividade física.
Na segunda parte são expostos o conceito de qualidade ambiental
urbana, qualidade de vida e qualidade ambiental das cidades
salientando suas inter-relações e multidimensionalidade dos
conceitos. Na terceira parte estudam-se os fatores utilizados para
medir o uso dos parques, tais como: as condições dos parques,
facilidade ou dificuldade de acesso, estética do local, segurança
percebida, vegetação, acessibilidade entre outros fatores. Na quarta
parte são discutidos as razões individuais para utilização dos
parques urbanos, enfocando que a utilização dos parques não
depende apenas de atributos que o local oferece, mas também se
relacionam com preferências individuais como idade, hábitos de
exercício e raça/etnia dos frequentadores.

Saúde e atividade fisica


É importante analisarmos, do ponto de vista da saúde, o
potencial que a prática regular de atividades físicas oferece na

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ARANA, A.R.A. & XAVIER, F.B. Qualidade ambiental e promoção de ...
estratégia de promoção de saúde e qualidade de vida. Para isso,
faremos a conceituação de alguns termos utilizados durante este
estudo para maior esclarecimento do tema, e também
apresentaremos os benefícios comprovados pela ciência que a
atividade física estruturada proporciona aos indivíduos que dela se
utilizam.
A atividade física é tradicionalmente definida como qualquer
movimento corporal produzido pela contração dos músculos
esqueléticos que resulte em um aumento substancial em relação ao
dispêndio de energia em repouso (ACSM,2010). Com frequência,
os termos atividade física e exercício físico são erroneamente
utilizados como sinônimos. A American College of Sports
Medicine (ACSM) ressalta essa diferença, particularizando o
exercício físico como um tipo de atividade física que consiste em
movimentos corporais planejados, estruturados e repetitivos
realizados para aprimorar ou preservar um ou mais componentes
da aptidão física.
A definição apresentada pelo Manifesto do Cirurgião Geral
dos Estados Unidos em 1996 e citada por Araújo e Araújo (2000)
considera como atividade física todo movimento corporal com
gasto energético acima dos níveis de repouso, incluindo atividades
decorrentes do dia-a-dia, como tomar banho, vestir-se; atividades
realizadas durante o trabalho, como andar, carregar, levantar-se; e
também as atividades de lazer, como a prática de exercícios,
esportes, danças, etc. Shephard (1990) define atividade física como
qualquer movimento corporal produzido pelos músculos
esqueléticos que resultem em gasto energético, não se preocupando
com a magnitude desse gasto de energia. Esses autores também
diferenciam atividade física e exercício físico a partir da
intencionalidade do movimento, considerando que o exercício
físico é um subgrupo das atividades físicas, que é estruturado,
planejado e repetitivo, objetivando a manutenção ou otimização da
aptidão física.
A ACSM define aptidão física como um conjunto de
atributos ou características que as pessoas possuem ou adquirem e

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se relacionam com a capacidade de realizar uma atividade física.
Esses atributos são subdivididos em ―Componentes de Aptidão
Física Relacionados à Saúde‖ e ―Componentes da Aptidão Física
Relacionados às Habilidades‖, como vemos no quadro 1.

Quadro 1: Componentes de Aptidão Física Relacionados à Saúde


e Relacionados às Habilidades
Componentes de Aptidão Física Relacionados à Saúde e Relacionados às
Habilidades
COMPONENTES DE APTIDÃO FÍSICA RELACIONADOS À SAÚDE
 Endurance cardiovascular: Capacidade dos sistemas circulatório e
respiratório de fornecerem oxigênio durante uma atividade física
sustentada.
 Composição corporal: As quantidades relativas de músculo, gordura,
osso e outras partes vitais do organismo.
 Vigor muscular: A capacidade do músculo de exercer força.
 Endurance muscular: A capacidade do músculo de continuar se
contraindo sem contrair fadiga.
 Flexibilidade: A amplitude de movimento disponível em uma
articulação.

COMPONENTES DA APTIDÃO FÍSICA RELACIONADOS ÀS HABILIDADES


 Agilidade: A capacidade de modificar a posição do corpo no espaço
com velocidade e acurácia.
 Coordenação: A capacidade de utilizar os sentidos, como a vista e a
audição, juntamente com outras partes corporais para realizar as
tarefas com regularidade e exatidão.
 Balanço (equilíbrio): A manutenção do equilíbrio na condição
estacionária ou em movimento.
 Potência: A capacidade ou o ritmo com que se consegue realizar um
trabalho.
 Tempo de reação: O tempo transcorrido entre a estimulação e o
início da reação a essa estimulação.
 Velocidade: A capacidade de realizar um movimento dentro de um
curto período.

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ARANA, A.R.A. & XAVIER, F.B. Qualidade ambiental e promoção de ...
Fonte: Adaptado de ACSM's 2010. p2.

Em complemento a essas definições, a questão da aptidão


física é abordada por Guedes (1996) em seu capítulo nas
"Orientações Básicas sobre Atividades Físicas e Saúde para
Profissionais das Áreas de Educação e Saúde", definindo-a como
"um estado dinâmico de energia e vitalidade que permite a cada um
não apenas a realização das tarefas do cotidiano, as ocupações
ativas das horas de lazer e enfrentar emergências imprevistas sem
fadiga excessiva, mas, também, evitar o aparecimento das funções
hipocinéticas, enquanto funcionando no pico da capacidade
intelectual e sentindo uma alegria de viver". Propõe também que a
aptidão física seria a capacidade de realizar esforços físicos sem
fadiga excessiva, garantindo a sobrevivência de pessoas em boas
condições orgânicas no meio ambiente em que vivem.
Dentro desse contexto, a epidemiologia da atividade física é
abordada por McArdle (2011) em seu capítulo ―Atividade Física,
Saúde e Envelhecimento‖, e definições são aplicadas para
caracterizar os padrões de comportamento e suas consequências
nos grupos investigados. Para o autor, a terminologia relevante
inclui o seguinte:
• Atividade física: Movimento corporal produzido pela
contração muscular e que faz aumentar o dispêndio de
energia.
• Exercício: Atividade física planejada, estruturada,
repetitiva e intencional.
• Aptidão física: Atributos relacionados com a maneira pela
qual se executa uma atividade física.
• Saúde: Bem estar físico, mental e social, e não apenas
ausência de doença.
A definição de saúde concentra-se no amplo espectro de
bem-estar e varia da ausência completa de saúde (quase morte) aos
mais altos níveis de função fisiológica. Com frequência, essas
definições desafiam nossa maneira de medir e quantificar
objetivamente a saúde e a atividade física. Entretanto, elas

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proporcionam uma ampla perspectiva para estudar o papel da
atividade física na saúde e na doença.
Para McArdle (2011), a tendência na avaliação da aptidão
física durante os últimos 40 anos deixa de enfatizar os testes que
realçam o desempenho motor e a aptidão atlética (i.e., velocidade,
potência, equilíbrio e agilidade) e passa a focar as capacidades
funcionais, relacionadas com a boa saúde global e com a prevenção
de doenças. O autor define quatro componentes mais comuns da
atividade física relacionada com a saúde, sendo estes: aptidão
aeróbica e/ou cardiovascular, a composição corporal, a endurance
dos músculos abdominais e a flexibilidade da região lombossacra e
da musculatura posterior da coxa (hamstring).
Após definirmos atividade física, exercício e aptidão física,
esclarecemos mais uma vez que a saúde não se caracteriza apenas
como um estado de ausência de doenças, mas como um estado
geral de equilíbrio no indivíduo, nos diferentes aspectos e sistemas
que caracterizam o homem: biológico, psicológico, social,
emocional, mental e intelectual, resultando em sensação de bem-
estar.

Benefícios da atividade física na saúde


A investigação sobre a relação entre saúde e atividade física
iniciou-se por volta dos anos 20, com foco em doenças coronárias e
estendendo-se posteriormente a estudos dos mais diversos
problemas e condições associadas ao sedentarismo. Atualmente
existe um número cada vez maior de estudos e documentos que
comprovam e relatam os benefícios da aptidão física para a saúde
(ARAÚJO & ARAÚJO, 2000).
A inatividade física possui uma relação causal com quase
30% de todas as mortes por cardiopatia, câncer de cólon e diabetes
(MCARDLE, 2011). As mudanças no estilo de vida poderiam
reduzir a mortalidade devida a esses males e aprimorar
grandemente as capacidades funcionais cardiovasculares, a
qualidade de vida e a vida independente. Sendo assim, os maiores
benefícios para a saúde resultariam de estratégias que promovem o

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exercício físico regular. Em qualquer idade, as alterações
comportamentais – tornar-se fisicamente mais ativo, deixar de
fumar e controlar o peso corporal e a pressão arterial - atuam
independentemente, retardando a mortalidade devida a todas as
causas. As pessoas com estilo de vida mais saudáveis sobrevivem
por mais tempo, e o risco de incapacitação e a necessidade de
procurar assistência de saúde no lar é protelada e compactada em
um menor número de anos no final da vida (MCARDLE, 2011).
O sedentarismo é apontado como problema de saúde púbica
no Brasil. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia Estatística
(IBGE) em pesquisa divulgada em Dezembro de 2014 apontam
que 46% da população com idade superior a 18 anos é sedentária,
não atingindo a recomendação de 150 minutos de atividade física
por semana, seja nos momentos de lazer, no trabalho ou nos
deslocamentos até o trabalho (PNS, 2014). Ainda segundo a
pesquisa, o percentual de pessoas que praticam atividades físicas
no lazer diminui de acordo com a faixa etária. De 18 a 24 anos, a
proporção é de 35,3%. Essas taxas vão caindo para 25,5% (de 25 a
39 anos), 18,3% (de 40 a 59 anos) e 13,6% (de 60 anos ou mais).
Através da realização de uma revisão de literatura mundial
durante os últimos 50 anos, Dr.Frank Booth, cunhador do termo
―síndrome de morte ambiental sedentária‖ (SMSe), concluiu que a
inatividade, isoladamente, resulta em uma constelação de
problemas e condições capazes de evoluir para a morte prematura.
Essa condição de deterioração magistralmente identificada revelou
que a SMSe causaria a morte prematura de 2,5 milhões de
americanos e custaria 2 a 3 trilhões de dólares em despesas com
assistência de saúde nos EUA na década seguinte ao seu estudo
(MCARDLE, 2011).
O autor relaciona a SMSe com as condições de: níveis
séricos altos de triacilgliceróis, de colesterol e de glicose, diabetes
tipo 2, hipertensão, isquemia miocárdica, arritmias, insuficiência
cardíaca congestiva, obesidade, câncer de mama, depressão, dor
crônica nas costas, lesão medular, acidente vascular cerebral,
caquexia patológica, enfermidades debilitantes, quedas que

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resultam em quadris fraturados, fraturas vertebrais/femorais.
Conclui que se forem feitos esforços destinados à diminuição do
tempo em frente ao computador/televisão e acoplados com o
aumento da atividade física diária acima da rotina, seria obtido um
declínio no número de pessoas que sofrem de síndrome metabólica.
Os indivíduos que não participam de nenhuma atividade física
moderada ou vigorosa durante as horas de lazer comportam uma
probabilidade cerca de duas vezes maior de apresentar a síndrome
metabólica que aqueles que se exercitam 150min por semana ou
mais (MCARDLE, 2011).
A participação nos exercícios consegue reverter a perda de
função, independentemente de quando uma pessoa torna-se
fisicamente mais ativa. Um estilo de vida sedentário representa um
prognosticador independente e poderoso do risco de doença
coronariana e de mortalidade; consequentemente, se os 25% mais
sedentários da população adulta norte-americana forem
encorajados a se tornar apenas moderadamente ativos, serão
conseguidos benefícios substanciais na esfera de saúde pública
(MCARDLE, 2011).
Desde os anos 70 que se sabe que os serviços de saúde são
insuficientes, por si sós, para obter ganhos em saúde. A declaração
de Alma-Ata há pouco mais de 30 anos, chamava a atenção para o
papel das várias instituições e setores de atividade na prevenção da
doença e promoção da saúde, principalmente nos países de maior
vulnerabilidade econômica e social. De fato, tem-se vindo a
verificar ser necessário expandir a avaliação, o planejamento e as
ações de saúde pública para além do campo restrito do setor da
saúde (SANTANA et al., 2010).
Políticas públicas no país precisam estimular a prática de
atividades físicas através de programas que chamem a atenção da
população para os seus benefícios na saúde. O ato de exercitar-se
precisa estar incorporado não somente ao cotidiano das pessoas,
mas também à cultura popular, aos tratamentos médicos, ao
planejamento da família e à educação infantil. Essa necessidade se
dá por diferentes fatores: do fator social, quando se proporciona ao

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homem o direito de estar ativo fisicamente em grupo, ao fator
econômico, quando se constata que os custos com saúde individual
e coletiva caem em populações fisicamente ativas (ARAÚJO &
ARAÚJO, 2000).
A atividade física pode não representar necessariamente uma
―fonte da juventude‖, porém a maior parte da evidência mostra que
quando praticada regularmente ela tem o poder de retardar
substancialmente o declínio na capacidade funcional associado ao
envelhecimento e ao desuso. Em meio a um quadro crescente de
doenças crônicas que atinge a população no país, a cultura da
medicalização a que estamos inseridos precisa urgentemente ser
substituída pela cultura da promoção e proteção à saúde. Para isso
são necessárias iniciativas públicas que não somente informem a
população a respeito dos benefícios trazidos pela atividade física,
mas também propiciem condições para isso, promovendo ações de
incentivo e criando espaços e ambientes que favoreçam a vida
ativa.

Qualidade urbana ambiental e saúde


A qualidade ambiental urbana é um conceito de difícil
definição, e está atrelada a vários fatores de infraestrutura,
desenvolvimento econômico-social e aqueles ligados à questão
ambiental das cidades. Oliveira (1983, apud GOMES; SOARES,
2004) salienta que a qualidade de vida está intimamente ligada à
qualidade ambiental, pois vida e meio ambiente são inseparáveis, o
que não significa que o meio ambiente determina as várias formas
e atividades de vida ou que a vida determina o meio ambiente. Na
verdade, o que existe é uma interação entre ambos que variam de
escala em tempo e lugar.
A partir do início da década de 90, parece consolidar-se um
consenso entre os estudiosos quanto a dois aspectos relevantes do
conceito de qualidade de vida: subjetividade e
multidimensionalidade. A subjetividade trata-se de considerar a
percepção da pessoa sobre o seu estado de saúde e sobre os

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ARANA, A.R.A. & XAVIER, F.B. Qualidade ambiental e promoção de ...
aspectos não médicos do seu contexto de vida, ou seja, uma análise
que só pode ser feita pelo próprio indivíduo, ao contrário das
tendências iniciais de uso do conceito que direcionavam a
avaliação a um profissional de saúde. Quanto à
multidimensionalidade refere-se ao reconhecimento de que o
construto é composto por diferentes dimensões (SEIDL, 2004).
Um estudo feito pela Organização Mundial da Saúde (OMS)
em 1994 (UFRGS, 2010), que teve como objetivo a criação de
instrumentos medidores de qualidade de vida, classificou-a com
um sentido mais amplo. Observou-se uma multidimensionalidade
do conceito, surgindo assim uma estrutura composta por seis
domínios:
• domínio I (físico): dor, desconforto, energia, fadiga, sono e
repouso;
• domínio II (psicológico): sentimentos positivos,
autoestima, aparência, sentimentos negativos, etc.;
• domínio III (nível de independência): mobilidade,
atividades da vida cotidiana, uso de medicação e
tratamentos, capacidade de trabalho/produção, etc.;
• domínio IV (relações sociais): relações interpessoais, apoio
social, atividade sexual, etc.;
• domínio V (ambiente): segurança física e proteção,
recursos financeiros, lazer, ambiente físico - poluição,
ruído, trânsito, clima - etc.;
• domínio VI (aspectos espirituais, crenças pessoais ou
religião): espiritualidade, religião e crenças pessoais.
Nesse caso, percebe-se claramente que o ambiente - domínio
V, com destaque para lazer, além do ambiente físico propriamente
dito - torna-se um elemento relevante para a avaliação da qualidade
de vida, principalmente no contexto urbano, no qual a poluição do
ar, a sonora e a visual podem influenciar diretamente no bem-estar
da população (UFRGS, 2010).
No entanto, o tema qualidade ambiental é bastante
complexo, bem como seus padrões e seus indicadores. Fatores
subjetivos que levam em conta a percepção que o indivíduo tem

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ARANA, A.R.A. & XAVIER, F.B. Qualidade ambiental e promoção de ...
em relação ao seu ambiente e ao seu próprio modo de vida estão
contidos nesses indicadores (SILVA, 2002). Além disso, existem
os fatores objetivos: econômicos, sociais, culturais e políticos, que
se manifestam distintamente no espaço (SILVA, 2002),
possibilitando diversos tipos de interpretações, e tornando difícil de
chegar a uma conclusão.
A despeito dessa dificuldade, há, porém um consenso
quando se relaciona qualidade ambiental urbana e vegetação.
Considera-se que a qualidade ambiental satisfatória é determinada
por composições paisagísticas que privilegie, sobretudo, mas não
somente, a vegetação; vista desde um simples gramado às mais
diversas espécies arbóreas. Nessas condições, a vegetação constitui
componente chave, embora outros componentes também sejam
necessários para o alcance de um padrão mínimo de qualidade do
ambiente (GOMES; SOARES, 2004).
Sobre essa relação, Richter & Bocker afirmam:
A qualidade ambiental urbana está diretamente ligada ao
acesso dos moradores à quantidade, qualidade e
distribuição de espaços livres de construção que possam
permitir um saudável contato com a natureza, propiciando
também possibilidades de socialização e expressão cultural;
portanto, uma combinação entre conservação da natureza,
conservação da flora e da fauna, conservação do solo,
funções climáticas e as necessidades da população em
relação à recreação e relaxamento em contato com a
natureza. Nesse caso, é essencial a implantação de espaços
livres urbanos que possam satisfazer os diversos interesses
humanos das mais variadas formas (RICHTER; BÖCKER,
1998, p57).

A manutenção das áreas verdes urbanas sempre foi


justificada pelo seu potencial em propiciar qualidade ambiental à
população. Ela interfere diretamente na qualidade de vida dos seres
por meio das funções sociais, ecológicas, estéticas e educativas que
elas exercem para amenização das consequências negativas da

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ARANA, A.R.A. & XAVIER, F.B. Qualidade ambiental e promoção de ...
urbanização (CAPORUSSO; MATIAS, 2008). O impacto do
espaço verde sobre a saúde é cada vez mais reconhecido.
Para Milano (1990, apud CAPORUSSO; MATIAS, 2008) a
principal função do sistema de áreas verdes urbanas não deve ser
apenas a criação de refúgios para que as pessoas possam ―escapar‖
da cidade. Além disso, estas áreas devem possibilitar à população
momentos de lazer e recreação em contato com a natureza,
respeitando sua vivência urbana e contato com outras pessoas.
A oferta de espaços verdes seguros, limpos e confortáveis
tem impactos na saúde, medidos de forma direta através do estado
de saúde auto avaliado e, de forma indireta, através da melhoria da
qualidade ambiental. Dado o crescente consenso que o ambiente é
a chave em promover expansão da energia, garantir oportunidades
para o aumento da atividade física é um meio promissor de
combate ao comportamento sedentário associado com uma
variedade de doenças crônicas.
Alguns planejamentos urbanos desconsideram o papel
multifuncional desses espaços verdes e muitas decisões são
baseadas apenas em estética e custo. O que falta em muitos casos é
uma visão abrangente do papel dos parques urbanos e a
compreensão de que eles formam uma estrutura que pode resultar
em qualidade de vida e constituir uma chave na estratégia de saúde
proposta por autoridades.

Fatores para o uso ativo de parques urbanos


Os fatores utilizados para medir o uso dos parques variam
em termos de período, tempo de atividade, tipos de parques
estudados, entre outros. Isso produz estimativas igualmente
variadas de prevalência de seu uso. Mensurar o nível de atividade
física realizada nos parques e relevância dos mesmos na estratégia
de promoção de saúde através de uma população mais ativa torna-
se um desafio multidisciplinar.
Nos Estados Unidos e na Austrália as atividades passivas
realizadas nos parques superam a prática de atividade física regular

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ARANA, A.R.A. & XAVIER, F.B. Qualidade ambiental e promoção de ...
(GILES-CORTI et al., 2005). Na Austrália, por exemplo, a
prevalência do uso adulto de parques para a atividade física nas
duas semanas anteriores ao estudo variou de 13,0% a 17,3% do
total de frequência do parque (GILES-CORTI et al., 2005). Já no
Brasil, um estudo realizado por Reis (2001) na cidade de Curitiba
constatou que a maioria da população presente no Jardim Botânico
encontra-se fisicamente ativa, e ainda que 61,85% desses
indivíduos atingem as recomendações para a prática de atividade
física. À proporção disso, Brownson (2000, apud REIS, 2001)
constatou que em 50 estados americanos somente 38% da
população analisada atingiu as mesmas recomendações.
Inúmeros fatores observáveis podem influenciar o uso dos
parques urbanos. Uma revisão da literatura por Broomhall (2005,
apud GILES-CORTI et al., 2005) incluiu a esses: as características
do próprio parque - qualidade e quantidade do espaço disponível; o
acesso a instalações locais - quadras e centros de lazer; a relação
entre atributos do parque e necessidades dos usuários locais; a
manutenção do parque e ainda os fatores de segurança percebida.
Em sua proposta conceitual, Bendimo-Rung et al. (2005)
propõem um modelo para guiar pensamentos e sugerir hipóteses, e
define alguns atributos dos parques que podem ser utilizados como
padrão para futuras pesquisas. Nesta classificação, a discussão
centra-se sobre as características ambientais do parque que
poderiam estar relacionados à atividade física, sendo essas as
características do ambiente, condições dos parques, facilidade ou
dificuldade de acesso, estética do local, segurança percebida e
políticas voltadas a esse objetivo. De outra maneira, Tinsley et al.
(2002) atribui o uso dos parques a fatores como proximidade,
acessibilidade (não existência de rodovias), aspectos estéticos
como a presença de árvores, água (lago) e existência de pássaros,
manutenção do parque, tamanho e a disponibilidade de facilidades
como calçadas ou percursos para pedestres (caminhada).
Em meio à diversidade de variáveis, existe certo consenso
encontrado em um número significativo de pesquisas ao se tratar
da relação positiva entre o fácil acesso e/ou proximidade a parques

216 Geosul, v.32, n.63, 2017


ARANA, A.R.A. & XAVIER, F.B. Qualidade ambiental e promoção de ...
urbanos e o aumento do nível de atividade física nesses locais
(REIS, 2001; GILES-CORTI et al., 2005; COHEN et al., 2007;
KACZYNSKI AND HENDERSON, 2007; KACZYNSKI et al.,
2008; SUGIYAMA et al., 2010; COOMBES, 2010; VEITCH et
al., 2013). Em estudo recente realizado nos Estados Unidos,
participantes relataram-se propensos a visitar parques locais desde
que não seja necessário atravessar ou viajar em estrada de tráfego
intenso (KACZYNSKI, 2014, apud VEITCH 2014).
A despeito disso, ao explorar a disponibilidade de acesso a
parques urbanos e sua relação com a prática de atividades físicas,
muitos autores não encontraram relação alguma em Norwich, na
Inglaterra (HILLSDON, 2006), nos parques da Georgia e Missouri
nos Estados Unidos (HOEHNER et al., 2005), em estudo nacional
realizado na Nova Zelândia (WITTEN et al., 2008) e também na
Escócia (ORD et al., 2013). Esses autores partem da premissa que
os parques urbanos são influentes na saúde das populações
estudadas, mas desconsideram que a prática de atividade física seja
o mecanismo que explique essa associação. Esses resultados
adversos dificultam a elucidação da temática em questão.
A estética e características do parque também têm sido
positivamente associadas à visitação do parque para a manutenção
da vida ativa (GILES-CORTI et al., 2005; REIS et al., 2009). Ao
revisar 18 estudos, Owen et al. (2004) concluiu que fatores
estéticos e a presença colinas estavam diretamente associados a
atividades físicas auto percebidas, apesar de nenhum desses
estudos reportar qual o tipo de atividade física que ocorreu nesses
locais (COHEN et al., 2007). Na cidade de Curitiba, a beleza
geográfica do parque e as pistas de caminhada/corrida foram
atribuídas como incentivadoras da prática de atividade física por
mais de 94% dos entrevistados (REIS, 2001).
O tamanho dos parques e a proximidade a parques ―formais‖
foram considerados por Coombes et al. (2010) características
essenciais na busca de níveis de atividade física e diminuição do
sobrepeso. No que concerne a isso, Cohen et al. (2007) concluíram
que recursos, mais do que o tamanho do parque, atraem pessoas para

Geosul, v.32, n.63, 2017 217


ARANA, A.R.A. & XAVIER, F.B. Qualidade ambiental e promoção de ...
a prática de atividades físicas, incluindo acessibilidade,
disponibilidade e qualidade das facilidades. Kaczynski et al. (2008),
por sua vez, classifica a presença de trilhas – pavimentadas, não
pavimentadas e arborizadas – como os determinantes da prática em
questão, e desconsidera a influência da estética e segurança do
parque nos 33 parques analisados no Canadá.
No Brasil, um estudo feito em Florianópolis por Colett et al.
(2008) observou-se que os equipamentos disponíveis no parque
não se apresentaram como fatores relevantes, contrariando os
achados de Cohen et al. (2007). A mesma escala de auto percepção
do ambiente utilizada por Colett et al. (2008) foi posteriormente
utilizada por Silva; Petroski e Reis (2009) em Curitiba.
Curiosamente, o indicador ―equipamentos disponíveis‖ se
apresentou como fator fortemente estimulador para a prática de
atividades físicas. Observou-se que no segundo estudo, a
população que reportou esse fator como estimulante advinha de
famílias com baixo nível sócio econômico. Isso pode indicar que
quanto mais baixa a renda do indivíduo, maior a tendência em
perceber esse fator como estimulador. Uma possível explicação
seria que pessoas de baixa renda têm poucas oportunidades de
praticar atividades físicas em locais particulares (clubes e
academias) e valorizam ambientes públicos com equipamentos
disponíveis gratuitamente (SCOTT; JACKSON, 1996; BEDIMO-
RUNG et al., 2005; GORDON-LARSEN et al., 2006; POWELL et
al., 2006 apud SILVA; PETROSKI; REIS, 2009).
Quanto ao fator tecnológico e arquitetônico do ambiente no
parque, os resultados encontrados em Florianópolis (COLLET et
al.,2008) também diferiram quando comparados aos de Curitiba
(SILVA; PETROSKI; REIS, 2009). Enquanto Silva; Petroski e
Reis (2009) observaram que em Curitiba a pista de caminhada no
parque, estacionamento e beleza arquitetônica das estruturas
construídas foram fatores estimulantes para a população analisada,
Colett et al. (2008) concluiu que no parque de Florianópolis podem
ser considerados estímulos positivos somente a estética

218 Geosul, v.32, n.63, 2017


ARANA, A.R.A. & XAVIER, F.B. Qualidade ambiental e promoção de ...
arquitetônica das estruturas construídas e a pista de caminhada e
corrida, sendo considerado indiferente o estacionamento no parque.
Outro estudo realizado em Curitiba associou qualidade
ambiental à frequência no uso de parques e praças (CASSOU, 2009).
A maioria dos usuários dos parques estudados indicou ser a beleza e
presença de estacionamento os fatores mais significativos. Já os
frequentadores das praças consideram imprescindíveis a proximidade
de casa, estrutura, equipamentos e segurança percebida.
Embora muitos estudos incluam a vegetação presente nos
parques no grupo dos ―fatores estéticos‖, outros estudos buscam
esclarecer essa relação de maneira mais específica. Em 1999,
estudiosos da Filadélfia iniciaram um programa para transformar
lotes vagos da cidade em ambientes verdes. Estudos analisaram a
saúde e a segurança da população durante os 10 anos da intervenção,
e também compararam o resultado final com outros locais vagos
onde o programa não havia sido implantado (BRANAS et al., 2011).
Os resultados da pesquisa sugeriram que a ―verdificação‖ do lote foi
suficiente para reduzir a criminalidade e promover alguns aspectos
de saúde. Ademais, alguns pontos que sofreram essa transformação
obtiveram significante aumento na prática de exercício físico e
também na diminuição no stress (BRANAS et al., 2011). Contudo, o
fato de esse aumento só haver alcançado pontos isolados da cidade
sugere que normas culturais e/ou sociais podem relacionar-se mais
intimamente à prática de exercícios físicos quando comparadas à
presença de vegetação urbana.
Ainda em relação à vegetação, Maas et.al (2008) através de
estudo realizado na Nova Zelândia concluem que a quantidade de
espaço verde no ambiente de vida é dificilmente relacionada com o
nível de atividade física. Para os autores, a quantidade de atividade
física realizada em ambientes de vida mais ecológicos não explica
a relação entre o espaço verde e saúde.
Isso posto, a presença de espaços verdes públicos nas
cidades mostra-se fundamental para a qualidade ambiental e saúde
da população, mas somente o fato de existirem não parece garantir
os objetivos propostos por essa pesquisa. À essa presença atrelam-

Geosul, v.32, n.63, 2017 219


ARANA, A.R.A. & XAVIER, F.B. Qualidade ambiental e promoção de ...
se tantos outros fatores supracitados, a fim de que esses ambientes
atinjam o nível de atividade física necessário para obtenção de
ganhos em saúde.

Determinantes individuais para o uso ativo de parques


urbanos
A utilização dos parques não depende apenas de atributos
que o local oferece, mas também se relacionam com preferências
individuais como idade, hábitos de exercício e raça/etnia (COHEN
et al., 2007). Broomhall (2005) destaca as características dos
potenciais utilizadores como de extrema importância para sua
adesão à atividade física nesses ambientes, enumerando-as por:
status socioeconômico, idade, gênero, etnia, além de fatores
psicológicos como auto eficácia e barreiras individuais que
influenciam as preferências pessoais.
Em proposta conceitual, Bedimo-Rung et al. (2005) enumeram
também as razões pessoais mais comuns para não se envolver em
atividades nos parques, que incluem a falta de tempo, dinheiro, saúde
pessoal, informação, transporte e acesso, preocupações de segurança e
também a falta de companheiros de lazer.
Os resultados encontrados até o presente momento, apesar
de variados, apontam alguns perfis e preferências em questão.
Bedimo-Rung et al. (2005) constataram que os adultos mais
velhos, mulheres e as famílias de renda mais baixa são menos
propensos a frequentarem os parques públicos para a prática de
atividade física. A despeito disso, Reis (2001) aponta resultados
diferentes no Jardim Botânico em Curitiba: igualdade na
distribuição entre homens e mulheres e predomínio de adultos
acima de 35 anos. Posteriormente, também em Curitiba, Cassou
(2009) constatou que quanto maior a qualidade ambiental dos
parques e praças, maior é a utilização destes por mulheres, idosos e
pessoas escolarizadas.
Hillsdon et al. (2006), assim como Bedimo-Rung et al. (2005)
também encontrou na Inglaterra uma diferença significante de gêneros

220 Geosul, v.32, n.63, 2017


ARANA, A.R.A. & XAVIER, F.B. Qualidade ambiental e promoção de ...
fisicamente ativos nos parques de Norwich: os homens são duas vezes
mais ativos que as mulheres. Cohen et al. (2007), que também
observou essa diferença, chamou a atenção para a ausência de
mulheres em atividades vigorosas. Os autores observaram a presença
de mulheres em atividades sedentárias ou em locais que estivessem
observando crianças, sendo pouco presentes em campos, quadras e
locais de jogos competitivos. Chama a atenção o fato de essa diferença
significativa de gênero ativo não ter sido encontrada nos parques
analisados no Brasil (Florianópolis e Curitiba), o que sugere que as
mulheres brasileiras podem estar mais conscientes quanto a
necessidade de exercícios físicos no dia a dia.
O fator valores e atitudes foram considerados estimulantes
em parques de Florianópolis, uma vez que os indicadores de
comportamento frequentemente observados dos usuários,
apoio/incentivo de amigos e imagem atribuída pela comunidade,
foram declarados positivamente associados à realização de
atividades físicas no local (COLLET et al, 2008). Os resultados
encontrados confirmam as evidências de outros estudos que
indicam que há associação positiva entre atividades físicas em
parques e aspectos como o apoio e estímulo vindo de familiares e
amigos, além do contato com demais pessoas que também realizam
atividades físicas (COLLET et al, 2008), sugerindo que observar
pessoas praticando atividades físicas pode constituir um fator
intrinsicamente estimulante para a auto percepção de saúde do
indivíduo e busca por uma vida mais ativa.
O fator econômico da população no local em que o parque se
insere também demonstra influência na questão estudada. O nível
social do bairro determina muitas vezes a acessibilidade aos
parques, combinando fator individual com determinante físico.
Veitch et al. (2014) constataram que adolescentes que vivem em
bairros de classe social mais baixa costumam ter que se deslocar
duas vezes mais do que os adolescentes de classe alta para chegar
ao parque mais próximo, sugerindo que essa disparidade dificulte a
frequência dos primeiros.

Geosul, v.32, n.63, 2017 221


ARANA, A.R.A. & XAVIER, F.B. Qualidade ambiental e promoção de ...
Sendo assim, qualidade ambiental urbana e o uso dos
parques para a prática de atividades físicas atrelam-se à
subjetividade. Muitos são os determinantes que incutem
motivações intrínsecas ao ser humano na busca de saúde através
desses espaços. A diversidade de população e localizações
geográficas apresentados nesse estudo sugere que a própria
distribuição desigual de espaços públicos abertos em todas as
cidades e entre os países podem explicar as variações interculturais
e sócias econômicas abordadas.

Considerações finais
Desafios logísticos e até mesmo custos financeiros
dificultam a pesquisa que envolve a relação entre parques urbanos
e prática de atividade física, que ainda é reduzida. Muitas são as
barreiras encontradas na tentativa de traçar um perfil dos
frequentadores bem como enumerar as características desses
ambientes que atraem pessoas para seu uso ativo. Essa dificuldade
pode estar relacionada à diversidade de metodologias utilizadas, à
indefinição de qualidade dos espaços, às medidas e definições de
espaço verde, às diferentes populações e localizações geográficas
abordadas, bem como aos instrumentos de auto relato de atividade
física que nem sempre expõem a realidade.
Esta revisão demonstrou que a utilização de parques urbanos
possibilita melhoras na qualidade de vida da população. O fator
―proximidade‖ e a ―estética‖ dos parques parecem ser os principais
determinantes para a adesão e manutenção de frequentadores
assíduos. Nesse sentido, compreende-se que a disponibilidade de
parques não garante a promoção da atividade física se não forem
consideradas também o perfil e as necessidades da comunidade que
os cercam. É necessário que os parques apresentem facilidade de
acesso, qualidade e quantidade de infraestrutura, belezas naturais
entre outros fatores, para que as pessoas se sintam atraídas e
motivadas a frequentá-los.

222 Geosul, v.32, n.63, 2017


ARANA, A.R.A. & XAVIER, F.B. Qualidade ambiental e promoção de ...
No Brasil, ainda são raras as publicações que dissertam
sobre a importância da qualidade dos parques urbanos para a
atividade física (REIS, 2001; COLLET et al., 2008; SILVA;
PETROSKI; REIS, 2009; CASSOU, 2009), sendo essas
concentradas na região sul do país. Essa escassez torna difícil a
compreensão do potencial benefício que os espaços verdes urbanos
podem trazer à saúde da população brasileira.
Os artigos que abordam essa questão no país trouxeram
resultados dissidentes da pesquisa realizada pelo IBGE em 2014, já
que a população mais ativa encontrada nos parques estudados foi a
população adulta até 34 anos em Florianópolis e acima de 35 anos
em Curitiba, e por sua vez a pesquisa do Instituto Brasileiro
constatou que o nível de atividade física diminui com a idade.
Esses resultados podem sugerir que a população mais jovem
brasileira seja fisicamente ativa em outros locais que não sejam os
parques urbanos, como também podem incutir uma realidade
própria dos parques estudados, que por diversos fatores
econômicos e sociais pode refletir uma verdade diferente do
restante do país.
Além disso, três dos quatro estudos realizados no Brasil que
foram encontrados pelos pesquisadores desse artigo fizeram uso do
mesmo instrumento metodológico, a escala de auto percepção do
ambienta validada por Reis (2002). Outros instrumentos devem ser
utilizados e a pesquisa nesse ramo precisa ser estimulada, para que
uma estratégia multinível que combine indivíduo e meio ambiente
possa finalmente atingir as metas que o seu potencial econômico,
social e ambiental tem a capacidade de abranger.

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