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Escola Superior de Tecnologia da Saúde de Lisboa

Licenciatura em Fisioterapia

3º Ano – 2022/2023

Fisioterapia nos Cuidados Paliativos

Unidade Curricular: Fisioterapia na Comunidade – 2º Semestre

Docente: Professora Luísa Pedro

Discente: Raquel Ferreira – nº 2019542

Lisboa, junho de 2023

. i
Índice

1. Introdução.......................................................................................................................................1
2. Enquadramento Teórico..............................................................................................................2
3. Fisioterapia no Contexto dos Cuidados Paliativos..............................................................4
4. Intervenção da Fisioterapia na Comunidade..........................................................................8
5. Discussão.......................................................................................................................................9
6. Referências Bibliográficas........................................................................................................12

ii
1. Introdução

No âmbito da Unidade Curricular de Fisioterapia na Comunidade, lecionada no 2º


semestre do 3º ano da Licenciatura em Fisioterapia da Escola Superior de Tecnologia da
Saúde de Lisboa, foi proposta a realização de um trabalho escrito. Este tem como objetivo
selecionar uma área de intervenção da Fisioterapia, nomeadamente de entre as lecionadas
em aula, focando no âmbito comunitário e da promoção da saúde e prevenção da doença.

O tema escolhido foi a intervenção da Fisioterapia em Contexto de Cuidados


Paliativos, uma vez que sempre tive interesse por esta área e gostaria de aprofundar o meu
conhecimento neste campo, de modo a obter mais ferramentas para que a minha atuação
profissional se traduza numa melhoria da qualidade de vida (QV) e funcionalidade dos
utentes e dos que os rodeiam.

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) 1, os Cuidados Paliativos são


cuidados de saúde holísticos que procuram melhorar a QV dos doentes, das suas famílias e
cuidadores através da prevenção e alívio do sofrimento, da identificação precoce,
diagnóstico e tratamento adequado da dor e outros problemas, sejam estes físicos,
psicológicos, sociais ou espirituais. São cuidados integrados, prestados por uma equipa
interdisciplinar e baseiam-se em princípios éticos e de planeamento antecipado de cuidados,
pelo que não antecipam, nem prolongam o processo de morte, envolvendo ativamente os
membros da família e/ou cuidadores, capacitando-os e apoiando-os no processo de luto, de
forma personalizada, assegurando sempre o respeito pela autonomia da pessoa, opiniões,
valores e direitos.2 A OMS estima ainda que mais de 40 milhões de pessoas em todo mundo
necessitam de cuidados paliativos todos os anos e que apenas 1 em cada 10 pessoas
recebe o atendimento adequado. 2 Em Portugal, 100 mil pessoas - entre crianças, jovens e
idosos, necessitam de cuidados paliativos, e apenas 30% têm acesso a este tipo de
cuidados.3

Assim, torna-se importante realizar uma pesquisa detalhada acerca deste tema, bem
como a atuação da Fisioterapia neste contexto, de forma a que cada vez mais as pessoas
que necessitem destes cuidados possam usufruir de algo tão importante para a manutenção
da sua QV.

1
2. Enquadramento Teórico

Segundo o Decreto-Lei nº 101/2006, os Cuidados Paliativos são definidos como


cuidados ativos, coordenados e globais, prestados por unidades e equipas específicas, em
internamento ou no domicílio, a doentes em situação de sofrimento decorrente de doença
severa e/ou incurável em fase avançada e rapidamente progressiva, com o principal objetivo
de promover o seu bem-estar e qualidade de vida.4

De acordo com a Associação Portuguesa de Cuidados Paliativos (APCP) 3, estes


caracterizam-se por serem cuidados de saúde ativos, rigorosos, que combinam ciência e
humanismo como resposta ativa aos problemas decorrentes da doença prolongada,
incurável e progressiva, na tentativa de prevenir o sofrimento que ela gera e de proporcionar
a máxima QV possível a estes doentes e suas famílias.

São cuidados preventivos do sofrimento motivado por sintomas como a dor, fadiga,
dispneia, insónias, náuseas, vómitos e mal-estar, e das múltiplas perdas (físicas e
psicológicas) associadas à doença crónica e terminal. Têm como objetivo ainda evitar ou
reduzir o risco de lutos patológicos. Baseiam-se numa intervenção multiprofissional em que
a pessoa doente e a sua família são o centro de cuidados de uma equipa que, idealmente,
integra médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, psicólogos, assistentes sociais e,
eventualmente, outros profissionais de saúde. Visam ainda apoiar as pessoas e a sua
família a viverem tão ativamente quanto possível até à morte e a ajudar a família a superar o
sofrimento do período final da doença e do luto. Estes cuidados começam com o
diagnóstico da doença e continuam independentemente de haver ou não tratamento
curativo, sendo prestados com base nas necessidades, desejos e preferências das pessoas
e famílias. O objetivo é obter a melhor QV para os doentes e as suas famílias.

Os princípios gerais dos Cuidados Paliativos passam desde encarar a morte como
um processo natural, manter a autonomia do indivíduo o mais possível, apoiar o doente e
responsáveis no sofrimento e no medo perante a morte, abordando sempre de forma
integrada o sofrimento físico, psíquico, social e espiritual do doente. Este último deve ser

2
ainda acompanhado na humanidade, na disponibilidade e rigor científico, por equipas
diferenciadas e interdisciplinares. Estes tipos de cuidados destinam-se a indivíduos que não
têm perspetivado tratamento curativo, que experienciam uma rápida progressão da doença
com expectativas de vida limitada, que possuem intenso sofrimento e problemas que
exigem o apoio específico, organizado e interdisciplinar.

As Unidades de Cuidados Paliativos dividem-se ainda em Cuidados Paliativos tipo 1,


com equipas com formação diferenciada e móveis, sem estrutura e internamento próprias;
Cuidados Paliativos tipo II, que possui equipas multidisciplinares de internamento próprias
ou ao domicílio que prestam cuidados durante 24 horas; e Cuidados Paliativos tipo III, que
têm as mesmas características que as de tipo II, porém usufruem de mais programas
estruturados e regulares de formação específica e desenvolvem atividade de investigação.

Segundo as estimativas globais da OMS, as principais patologias que


requerem cuidados paliativos em indivíduos adultos são as doenças cardiovasculares,
neoplasias, doença pulmonar obstrutiva crónica (DPOC), síndrome da imunodeficiência
adquirida (SIDA) e algumas doenças de origem genética, degenerativas e progressivas. 1

Existem também unidades de Cuidados Paliativos Pediátricos (CPP), orientados para


as crianças e as suas famílias e apresentam especificidades relacionadas com o estádio de
desenvolvimento físico, psicomotor, cognitivo, psicossocial e moral da criança e todo o
contexto em que esta se insere. Nesta categoria, incluem-se as crianças com necessidades
especiais, ou seja, crianças com estado de saúde frágil e dependentes de cuidados de saúde
contínuos para assegurar a sua sobrevivência e as que sofrem de doença crónica complexa.
Assim, qualquer situação médica para o qual seja razoável esperar uma duração de pelo
menos 12 meses (exceto em caso de morte) e que atinja vários e diferentes sistemas ou um
órgão de forma suficientemente grave, requerendo cuidados pediátricos especializados e
provavelmente algum período de internamento num centro médico terciário. Assim, estes
cuidados diferenciam-se dos cuidados prestados a adultos por apresentarem
especificidades inerentes ao desenvolvimento da criança. 5

Os CPP visam assegurar a todas as crianças (recém-nascidos, crianças e


adolescentes) e às suas famílias, desde o diagnóstico de uma doença crónica complexa,
limitante ou ameaçadora da vida, os cuidados que respondam às suas necessidades,
desejos e preferências, e que vão para além da morte. Inserem-se numa abordagem ativa e

3
total com inclusão dos aspetos físicos, emocionais, sociais e espirituais com foco centrado
na prevenção e/ou controlo de sintomas, provisão de períodos de descanso aos cuidadores
e acompanhamento na fase terminal e luto visando a melhor QV. 3

Assim sendo, os CPP são a ciência que se ocupa de cuidar das crianças com
condições clínicas que ameaçam a sua vida, ajudando a prevenir e a aliviar o sofrimento das
mesmas, bem como dos seus familiares, e a melhorar a QV.

3. Fisioterapia no Contexto dos Cuidados Paliativos

Os Cuidados Paliativos emergiram há meio século com valores baseados em


compaixão e cuidado de doentes e das suas famílias/cuidadores, como forma de aliviar o
seu sofrimento. Implica uma mudança de paradigma do modelo biomédico para o modelo
biopsicoespiritual. As novas tecnologias médicas trazem novas esperanças de cura, mas
nem sempre aliviam o sofrimento dos pacientes com doenças que limitam a vida. Estes
cuidados foram consistentemente associados com melhorias no planeamento da saúde e na
satisfação dos cuidadores.6

No Reino Unido e na Austrália, os cuidados do final da vida incluem pessoas que


têm uma elevada probabilidade de falecer nos 12 meses posteriores e as pessoas que têm
uma morte iminente, tanto por ter uma patologia avançada, progressiva, incurável ou que
constitui uma ameaça à sua vida. 7 Os atributos mais importantes de uma “morte tranquila”
são apresentados como sendo8:

 Sem sofrimento agudo no momento da morte;


 Sintomas complicados sob controlo;
 Reconhecer a patologia e o seu prognóstico;
 Não se sentir um “peso” para os membros da família;
 Sentir-se satisfeito com a sua vida.

Com o avanço do conhecimento acerca dos benefícios do exercício para a saúde e


as suas contribuições para a diminuição do risco de patologia, o papel do Fisioterapeuta
sofreu uma expansão nestas unidades.9

Segundo a APFisio, a Fisioterapia em Cuidados Paliativos é definida como: “uma


abordagem baseada em todas as áreas do saber da fisioterapia, destinando-se a pessoas
com doenças que ameacem a sua vida e não respondam a uma intervenção curativa”. Tem
como principal objetivo prevenir e compensar o declínio da funcionalidade, maximizando a
capacidade funcional e conforto do utente, garantindo a segurança dos pacientes e

4
cuidadores, ajudando as pessoas a redefinir os seus objetivos de vida e fornecendo suporte
para questões físicas, emocionais e espirituais na fase final da vida.10

O livro “Oxford Textbook of Palliative Medicine” relata: “O foco da intervenção da


Fisioterapia são as sequelas funcionais e físicas da patologia e/ou do tratamento, no
paciente.”11

A intervenção da Fisioterapia é sempre centrada na pessoa e destinada a crianças,


adolescentes, adultos e idosos, já que em qualquer idade um indivíduo pode sofrer de uma
condição que justifique a sua admissão nos Cuidados Paliativos. As patologias integradas
nesta unidade variam amplamente, sendo consideradas uma ameaça à vida do utente, tais
como o cancro, HIV, doenças neurodegenerativas como a esclerose lateral amiotrófica,
esclerose múltipla e doenças respiratórias tais como a fibrose pulmonar idiopática.9

O Fisioterapeuta atua então no sentido de contribuir para o alívio de alguns sintomas


específicos comuns, tais como a dor, a dispneia, a fadiga, a desidratação, as náuseas e
vómitos, a obstipação, a diarreia, entre outros5, seguindo alguns objetivos e princípios
específicos do seu papel numa unidade de Cuidados Paliativos. São alguns dos princípios:12

 Promover o alívio da dor e de outros sintomas desagradáveis


 Afirmar a vida e considerar a morte um processo natural
 Não acelerar nem adiar a morte
 Integrar os aspetos psicológicos e espirituais no cuidado ao paciente
 Oferecer um sistema de suporte que possibilite ao paciente viver tão ativamente
quanto possível até o momento da sua morte
 Oferecer sistema de suporte para auxiliar os familiares durante a doença do
paciente e o luto
 Oferecer abordagem multiprofissional para focar as necessidades dos pacientes
e seus familiares, incluindo acompanhamento no luto
 Melhorar a qualidade de vida e influenciar positivamente o curso da doença

A APFisio define claramente os objetivos do Fisioterapeuta nos Cuidados Paliativos:10

1. Aplicar a filosofia dos cuidados paliativos no ambiente onde estão inseridos o


utente/família/cuidador
 Oferecer aos doentes e cuidadores/familiares o modelo de cuidados de
Fisioterapia, mais apropriado, em relação às suas necessidades atuais. A
adaptação é a chave do sucesso da intervenção em cuidados paliativos, mas
deve ser o fisioterapeuta a adaptar-se e não o contrário.
2. Aumentar o conforto físico durante toda a trajetória da doença;

5
 O conforto físico representa uma componente essencial da dignidade e
qualidade de vida das pessoas com doenças que limitam a sua vida e das
suas famílias.
3. Atender às necessidades psicológicas dos doentes;
 Todos os fisioterapeutas em cuidados paliativos necessitam de ter uma
compreensão das necessidades psicológicas dos doentes e devem ser
capazes de oferecer uma intervenção de suporte, de acordo com as
competências específicas do fisioterapeuta.
4. Atender às necessidades sociais dos doentes;
 A doença que limita a vida tem impacto nas relações interpessoais dos
doentes e famílias podendo levar à necessidade de recursos adicionais
(internos e/ou externos) de forma a que estes mantenham uma boa qualidade
de vida.
5. Atender às necessidades espirituais dos doentes;
 Uma doença que limite a vida pode levantar questões sobre problemas
existenciais mais profundos tais como o sentido da vida. As necessidades
espirituais devem ser alvo dos cuidados de fisioterapia, podendo ser
abordadas através, ou não, de uma prática religiosa formal ou informal
6. Reconhecer os cuidadores e familiares como prestadores e receptores de cuidados;
 A assistência ao doente deve incluir os cuidadores e familiares, tendo em
conta o seu meio ambiente, o sistema de saúde e as suas relações com os
profissionais de saúde
7. Responder aos desafios da tomada de decisão clínica e ética em cuidados paliativos;
 Todos os profissionais de saúde envolvidos em cuidados paliativos enfrentam
questões éticas e morais desafiantes, incluindo questões em torno da
hidratação e nutrição, sedação, suicídio assistido e/ou eutanásia
8. Reconhecer a importância de uma prática interdisciplinar e da articulação entre as
diferentes equipas;
 O trabalho em equipa é o eixo fundamental e o elo entre a avaliação e as
ações terapêuticas interdisciplinares, baseando-se numa comunicação eficaz
de pessoas com saberes e competências diferentes, consistindo assim, num
dos pilares dos cuidados paliativos.
9. Estabelecer uma relação interpessoal e comunicacional adequada aos cuidados
paliativos;
 Estas competências são particularmente importantes para o fisioterapeuta,
nomeadamente ao fazer um diagnóstico e um prognóstico, comunicar más
notícias, obter adesão a propostas terapêuticas, evitar conflitos, enfrentar

6
problemas éticos, disponibilizar apoio emocional, acompanhar em processos
de integração e ajudar quem sofre.
10. Promover o autoconhecimento e um desenvolvimento profissional contínuo.
 O fisioterapeuta deve reconhecer o impacto que trabalhar em cuidados
paliativos tem na sua própria vida, devendo por isso dominar estratégias para
reforçar a resiliência e prevenir o Burnout.

Com a crescente autonomia e expansão da Fisioterapia, o profissional desta área


deve utilizar vários métodos de tratamento baseados na melhor evidência científica, de
forma personalizada, tendo em conta todas as possibilidades e preferências do utente. As
intervenções mais comuns são:

 Exercício Terapêutico: Mobilização passiva, mobilização ativa, mobilização


ativa-assistida, mobilização ativa-resistida-assistida e mobilização resistida
quando aplicadas nas direções do movimento funcional pode ser uma abordagem
adaptada a cada doente, de forma individualizada. O relaxamento através de
técnicas de massagem, exercícios de resistência, exercícios aeróbios e
exercícios de estabilização, que contam muito com trabalho de core, são também
realizados. Também são utilizadas técnicas de Facilitação Neuromuscular
Propriocetiva (PNF), exercícios respiratórios, treino postural e treino
comportamental-cognitivo.13
 Eletroterapia: Modalidades de baixa frequência (correntes galvânicas, por
exemplo), estimulação elétrica funcional, iontoforese, neuroestimulação elétrica
transcutânea (TENS) e correntes diadinâmicas e interferenciais.9
 Modalidades Térmicas: Crioterapia (massagem com gelo, por exemplo), calor
superficial (como a parafina), calor profundo (ultrassom).9
 Modalidades Mecânicas: Mobilização acessória (como a tração ou compressão)
e taping.9
 Biofeedback: Utilizado sobretudo em utentes com habilidades cognitivas
limitadas e que não possuem um bom controlo neuromuscular.9
 Terapia Manual: Terapia miofascial (massagem, massagem transversal
profunda, libertação miofascial), mobilização articular utilizando mobilização
fisiológica passiva e acessória passiva, mobilização com movimentos
combinados, mobilização com movimento e manipulação. Em relação à
componente neural, o tratamento do tecido nervoso em si deve ser explorado, já
que pode estar na base de sintomas incapacitantes, como a dor. A utilização de
testes neurodinâmicos para o tratamento dos sintomas pode ser uma opção.9

7
 Equipamentos de Assistência: Ortóteses, auxiliares de mobilidade e auxiliares
de marcha. Estes equipamentos são importantes para treinar as atividades
funcionais dos pacientes com limitação na função.9

A utilização das modalidades acima indicadas deve ser focada no(s) principal(ais)
problema(s) identificados pelo utente e/ou pela família/cuidadores, que muitas vezes é a dor.
A aprendizagem das tarefas funcionais do dia a dia, em que é necessária a produção de
força, e o posicionamento para cuidados cutâneos são intervenções cruciais nestas
unidades. Outros objetivos que o Fisioterapeuta deve ter em mente para com estes doentes
são a manutenção da função respiratória e da função circulatória, prevenção de atrofias e
encurtamentos musculares, prevenção de contraturas, controlo da dor, otimizar a
independência e função, educação ao utente e família/cuidadores e a sua respetiva
participação. Naturalmente, dependendo da patologia, os problemas e objetivos irão ser
diferentes e com distintas intervenções.9

O Fisioterapeuta nos Cuidados Paliativos atua a 4 níveis: nos cuidados agudos e pós
agudos, na prevenção, na reabilitação baseada na comunidade e no controlo de sintomas,
focando-se sobretudo nos problemas funcionais, como o descondicionamento físico, a dor,
os desequilíbrios e fraqueza muscular.14

Felizmente, a Fisioterapia tem mostrado ter uma influência positiva na QV e na


perceção de bem-estar do doente e das suas famílias.9

4. Intervenção da Fisioterapia na Comunidade

As intervenções na comunidade referem-se a intervenções multidisciplinares que


geralmente combinam estratégias de mudança individual e ambiental em vários ambientes
com o objetivo de prevenir a incapacidade e promover o bem-estar entre determinados
grupos populacionais.15

A reabilitação baseada na comunidade (RBC) é uma estratégia dentro do


desenvolvimento comunitário para a reabilitação, igualdade de oportunidades e integração
social. É implementada através dos esforços combinados dos próprios indivíduos, as
famílias e comunidades e os serviços adequados de saúde. 16 A World Physiotherapy
incentiva o desenvolvimento de RBC e destaca a importância de uma abordagem
multidisciplinar forte, reconhecendo a reabilitação como um componente essencial dos
serviços integrados de saúde. O envolvimento da comunidade é muitas vezes necessário

8
para promover e cumprir os direitos humanos das pessoas com deficiência e permitir que
elas se tornem membros ativos da sociedade, incluindo estratégias educacionais, sociais,
vocacionais e económicas.16

O investimento na participação da comunidade para fornecer recursos, quer


materiais, humanos ou educacionais, e informar as intervenções é fundamental para existir
uma população com espírito crítico e que siga o caminho da promoção da saúde e
prevenção da doença.

Assim, as abordagens da Fisioterapia na Comunidade multidisciplinares e


comunitárias devem passar por: ajudar os indivíduos a entenderem a sua condição ou como
prevenir uma eventual patologia, o que existe a fazer (como exercícios, etc.), ser proativo
em relação a juntar as pessoas para fazerem coisas em grupo (maior motivação) e manter
os indivíduos informados. Para os fisioterapeutas, o conhecimento acerca dos seus direitos
caso um dia estejam em cuidados paliativos é importantíssimo e devem saber o que se faz
em cada uma faz unidades-tipo, caso já saibam que a sua condição só vai progredir (mesmo
tentando atrasar). A Fisioterapia na Comunidade deve então promover o bem estar social e
abordar todos os problemas e questões levantados para que se possa formar um utente
informado e autoconsciente do seu estado de saúde.

5. Discussão

Existe uma elevada necessidade dos Cuidados Paliativos na era moderna da


Medicina.7 Com a esperança media de vida a aumentar a cada ano, muitas patologias que
se consideravam fatais antes, persistem agora durante toda a vida do indivíduo e que, se
controladas e intervencionadas adequadamente, permitem que o mesmo contemple uma
vida o mais próximo do “normal” possível, atingindo graus de funcionalidade considerados
bons e mantendo a independência. Contudo, nem todas as patologias podem ser
controladas a este nível e nem para todos os doentes. Assim, mesmo com os avanços na
Medicina atual, os utentes que experienciam doenças que limitam a sua vida e a colocam
em risco ainda sofrem significativamente.7

O sofrimento é inteiramente pessoal e individual e pode apenas ser comunicado


pelo utente.17 É importante que os profissionais de saúde, incluindo o Fisioterapeuta,
mantenham uma atitude empática face a estes doentes e que se disponibilizem para ouvir e
ajudar. Um utente crítico encontra-se muitas vezes numa situação stressante, juntamente
com a sua família/cuidadores, uma vez que são confrontados com uma panóplia de

9
sintomas que têm um grande impacto na sua QV, para além do medo da morte num
ambiente não familiar, que pode ser o hospital, por exemplo. 18 É importante ainda estar
atento e apto para reconhecer sinais de sofrimento, mesmo que não verbais. Por exemplo, o
sofrimento psicoespiritual pode ser apresentado por mudanças de humor ou certos
comportamentos que nos podem ajudar a identificar que aquele indivíduo necessita de mais
cuidados.19 O alívio destes sintomas é imperativo para a saúde global, devendo o acesso
aos Cuidados Paliativos estar ao alcance de todos e focado na sintomatologia dos utentes
com estas condições.20

Outros pacientes, por exemplo, em estádios mais avançados de cancro sofrem


de inúmeros sintomas decorrentes quer da própria patologia, quer do tratamento desta, o
que leva à diminuição ou mesmo perda da função.21 Entre eles, destacam-se a insónia,
inatividade (que leva ao desuso e descondicionamento físico), anemia, inflamação e a
fadiga. Esta última encontra-se associada à perda de energia e exaustão demonstrada pelos
doentes na fase terminal da doença.22

Apesar do aumento da quantidade de estudos acerca deste tema, não existe


ainda uma guideline de como os Cuidados Paliativos podem ser organizados da melhor
forma, sobretudo em patologias como a demência, e como é possível prestar os cuidados
de saúde alinhados aos desejos dos utentes.23

Com cerca de 21 milhões de crianças a necessitar destes cuidados no mundo


inteiro24, a necessidade de um Fisioterapeuta nos Cuidados de Saúde Paliativos torna-se
imperativa. Os participantes de um estudo realizado em 2020 consideraram o Fisioterapeuta
uma parte importante da equipa multidisciplinar, referindo o exemplo na eficácia com que a
Fisioterapia Respiratória ajuda na prevenção e no tratamento de atelectasias. 25 Ou, por
exemplo, utilizando a realidade virtual como um meio de distração do ambiente hospitalar
em que a criança se encontra.26

Os participantes de outro estudo conduzido por Genik et al. também reportaram uma
diminuição da dor após 2 sessões de terapia utilizando massagem, bem como a redução da
preocupação das crianças após apenas 1 sessão.27 Os pais destas crianças relataram que
encontrar o melhor tratamento de Fisioterapia não foi fácil, mas que quando encontrado esta
reabilitação melhorou as skills motoras das crianças, tornando-se uma necessidade diária
para o seu bem-estar.28 Os pais também podem e devem ser envolvidos na intervenção,
fazendo com que os seus filhos se sintam apoiados, aumentando a sua capacidade para
lidar com os problemas recorrentes.

Em relação ao Fisioterapeuta, aproximadamente 93.2% não receberam um treino


adequado para a intervenção específica nos Cuidados Paliativos, e cerca de 34.1%

10
receberam-no após a graduação. Todos os Fisioterapeutas relataram ser importante a
aprendizagem de skills de comunicação e que deveriam ser ensinadas. 29 Este facto
demonstra a importância da abordagem deste tema a começar nas faculdades, contribuindo
para o desenvolvimento de competências e estimulação do raciocínio clínico adequado a
este tipo de doentes.

Nestas unidades, as intervenções não farmacológicas têm demonstrado eficácia,


sobretudo no controlo da dor, incluindo a Fisioterapia.29

Em suma, a Fisioterapia tem mostrado ser uma intervenção segura e sem efeitos
adversos21, sobretudo quando conjugada com outras intervenções de outros profissionais de
saúde.30 Para isso, é necessária uma intervenção bem estruturada com foco na
sintomatologia e função do utente, com o objetivo de promover a QV e o seu bem-estar
durante todo o tempo em que se encontra na Unidade de Cuidados de Saúde Paliativos.

11
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