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oarkone 10 aa 12 13 14 15 16 a7) 18 Prefacio 7 PARTE | Terror e transgressao Vestigio traumatico 17 Okitsch deBush 25 Estilo paranoico 31 Coisas selvagens 37 Pai Trump 45 Conspiradores 51. PARTE II Plutocracia e exibicao Deuses-fetiche 57 Belo halito 65 Greve humana 71 Exibicionistas 81 Caixas cinza 89 Underpainting 95 PARTE III Midia e ficgao Apianola 113 Olho-robé 123 Telas estilhagadas 137 Imagens de maquina 147 Mundos-modelo 159 Ficgdes reais 169 indice onoméstico 184 Sobre 0 autor 190 Prefacio ‘Quando Marcopresentou a idea pela primeira vez em O8de brumro de Lut Bonaparte (852, ela jésoave como cic: “Em slguma passagem Hegel comenta que todos os grandes fotos e todos os arandes personagens da istéria muncal so encenados, por assim dizer duas vezes Ele se esqueceu de acrescentara primeira vee coro crag, # segunda coms farsa Atragédia ocorreu quando, em 79, Napoli tomnouo poder dtatoralmente, ea frsa, quando seu sobrinho Nepolaso ui fer oresmo, m8. Como éque olé Bone- parte consequiu se ster duss vezes com a mesma tomada de poder? Embora a repetio pudesse sugericque nao se aprendera nada, Marc a interpretou de outro modo, pois, para ele, um pontoessencialse escarecia a burquesia estava mals do que dsposta a abondonor seus valores democritics -Rberté égalit, ratenté~ se pudesse preser- vr seu dominio econéica>Alarmada pela Revolugdo de 848, alesse dominente acsitou outro imperador, uma cbpia eis ricula que ooviginal Em nossa ép0ce, Donald Tum opera urn eLuisBonapare sy] ma. eclarecimento similar: aparentemente, muitos ‘él Semi S30 Pol: plutocratas norte-americanos consideram 0 2 verKarPolan "Tho Fost, ‘desmanche das leis constitucionais, a culpabiliza- ins" boa‘ndato\ Menta, 6800s imigrantes e a mobiizagao dos suprema- tlomordaremreog%0 cistas brancos um prego pequeno a pagar por uma enpamproetriade nto pole "Esae Bonaparte se concentragdo de capital ainda maior que a promo- aloe vida pela desregulamentagaofinenceira, a reducso Lumpaneraareds pores de impostos e transagées corruptas. E, do mesmo ‘le ueidentiica mecigament modo que o lumpemproletariado da Frangana crintrenses que preeque vanced €POC8, hoje, nos Estados Unidos, milhdes sucumbi- que promete proteg neserfigedetodasascises, dessa exploragdo, enquanto ao mesmo tempo os a ea css a qual pode so pei inconconainerts, deixa completamente vulnerdveis a ela? ‘ses eraparin ‘Sea farsa segue & tragédia, oque segue Srunsiop.p. Uo sansfase"(Ox8de farsa? Com um dedinho de clareza veio um monte cde merda. Como afirmou ofildsofo Harry Frankfurt rowenteeorant je, 69 see 0p Insti nome or que er quondo 2s estas prs etoqueot ss ‘em seu cléssico ensaio sobre o tema, o mentiroso mente consciente- ‘mente e, assim, mantém uma relago com a verdade, enquanto o falador cde merda [bulshtter] ndo tem a menor preocupacao com a veracidade «2, assim, a corrompe ainda mais Uma politica da pés-verdade é com ccerteza um enorme problema, mas uma poltica da pés-vergonha ‘também é. Em particular, onde se posicionam os artistas e os eriticos dda esquerda diante desse dilerna duplo? Entre outros efeitos, tal dilema complica os métodos citicos que visam & exposigao da verdade. Como desmistficar uma ordem hegemdnica que ignora as préprias contradi- ‘¢®es? Como menosprezar uma elite poltica que no se constrange ou ‘cagoar de lideres de partido que se valem do absurdo para serem bem-sucedidos? Como “desdadaizar’ um presidente cujo protstipo parece ser o monstro infantil Pai Ubu, de Alfred Jarry? E, em todo caso, por que agregar indignagdo a uma economia 3 Wert pean’ neste Toros Hay Fan, Sb or ed, a. ReardoGares ‘ui. Rode nai Inna, 2005 4 aque lamacsona ‘mandandover dearer, assim come nds. pote seca aaeu tor. 5 Umcomplamerto a Sad New ay (London New Yeo, 2016 presente vee pate doséeomcemtonpos ‘erargtnia. Sov grat soe ors pubcaram verses ii de mato esses toto, pacman Mary-Ky Wie «Paul jerecough Londen swf Boks Michele Kune ‘meus colge cs Octobr Tab gogo Thatcher ey Mex kink Juan Ron, porenartae agin dot pubiewem eos ales Dassen romance meu reconhes Preto mmididtica que se aimenta da propria?* Trato dessas questdes e de muitas outras nos breves enssios aqui reunidos. Esbocados ao longo dos tiltimos quinze anos, periodo pontuado pela crise fnanceira de 2008 e a catdstrofe perpétua que “Trump representa, nestes textos discorro sobre mudangas na arte, na critica e na ficgao em face do atual regime de guerra, teror e vigilancia, assim ‘como de desigualdade extrema, desastre climético € disrupgao midistica* Numa tentativa de avaliar essa situago, examino um conjunto variado de praticas como expressées sintomaticas, sondagens ceticas e propostas alternativas. A primeira parte cenfoca a poltica cultural da emergéncia a partir do ‘nde Setembro, incluindo o uso e o abuso do trauma, dda paranoia e do kitsch. A segunda parte examina 4 remodelagao neoliberal das insttuigSes de arte naquele mesmo periodo, quando tanto o mercado ‘como os museus se expandiram enormemente e 08 artistas reagiram, de maneire critica ou no, a essas mudangas espetaculares. Por fim, um tercsiro conjunto contemple as transformagdes na miia como se refetiram na arte, no cinema e naficgdo recentes; entre os fenémenos explorados esto avisdo computacional(6ignos produzidos por maquinas para coutras méquinas sem uma interface humans), ‘imagens operacionais (imagens que, meis que representar o mundo, neleintervém) a roteirizag80 algortimica da informacao, tao disseminada em nossas vidas cotidianas. ‘Se tudo isso parece terrivelmente sombrio,é porque é mesmo. Em muitos aspectos, olharnos para um mundo que fugiu a nosso controle - no 6 politica como tamibém tecnologicamente.€ essa situagSo extrema provocou formulagdes extremas por parte de artistas e-crtcos, Assim, por exemplo, Trevor Paglen v8 a arte como ur abrigo na esfera digital imsivel’, enquanto Clare Fontaine aimagina como ‘uma “greve humana" contra todas as identidades roteirizadas, sinda que Hito Steyer declare que, sea subjetividade esté colonizada pelo capitalism, também devernos nos identficar com os abjetos.* Sob e589 luz crua, 8s vezes é dificil distinguir entre critic eo distpico-As ve2es o nilsmo ambiental da ordem neoliberal parece redobrado tanto quanto contestado,” Nao obstante, cada uma dessas tr6s sogdes se conclui com prticas que oferecem um “brilho utépico da ficgs O padrio da tragédia sequida pela farsa tem, ainda, certa légica: a histéria preserva uma narrativa mesmo que anticlimatica. No entanto, nui “rove huans © “ls etogedo 7 “estooreserdo bursa so deo mietgr ois 8 sevapereo dedominas Sbeerou Wste Baron use reste ecb Paseogens 9,6) Hop, commute froquiriso betaine rae” ens érepicado ra eaquerd Se otenp nt nsnualguma cata éque¢ ‘clsnament fo denuncilas © sete, 8 Tomo essa fase amprostada ‘en emer Verge talvez essa coeréncia fosse uma ilusio e, mais uma vvez:0 que poderia vir depois da farsa, afinal? Necessariamente nada: Paliativos como "o arco do Universo moral se inclina em direcao & justice” ou “devernos trabalhar para uma unigo mais perfeita da ‘nag jé ndo trangulizam ninguém. Nada est Fal essa ilusao, de acordo com Greenberg, que tornou o kitsch (com as devides variagdes, segundo a ideologia polttica e a tradigo nacional) essencial 05 regimes de Mussolini, Hitler @ Stn Greenberg ainda salientou como o kitsch dita seu préprio con- ‘sumo por meio de formas pré-digeridas e efeitos programados. Essa nogao de "sentiments ficticios", comum a muitas pessoas, mas a 1inguém em particular, Ievou Theodor Adorno, em Teoria estética (1970), {defini o kitsch como uma parédia da catarse Também permitiu que Kundera, em A insustentavelleveze do ser (1984), afirmiasse que seu afeto caloroso e difuso tem valor instrumental para nosso “acordo categérico com o ser, isto 6, para nossa anuéncia com a proposigao {de “que 0 ser humano é bom’, a despeito de tudo que nele é “inaceité- vel", sobretudo a tealidade da merda e da marte, para a qual ‘a verda-

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