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Curso de Intervenção

Multidisciplinar nas Demências

Raquel Azevedo Freitas


22/02/2021 – 15/03/2021
“Our view of the forest is forever obscured by the trees. Yet
specialized knowledge derives its meaning from the context of
larger perspectives and questions. When it loses touch with that
larger context, it loses its coherence and meaning.”

(Ford, 1992, p. 19)

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I.M.D.: Enquadramento

Aumento da procura de Equipas Técnicas/Respostas Sociais (R.S.) para requerer


apoio/iniciar processos de institucionalização

- Escassez de R.S.;
- Incapacidade das equipas para efetuar abordagens diferenciadas em função do
perfil/quadro psicopatológico do utente;
- Necessidade de exploração do requisito da interdisciplinaridade;
- Constrangimentos na criação e implementação do PDIP – Plano de Desenvolvimento
Individual Psicoterapêutico;

É premente o investimento na capacitação das equipas multidisciplinares;

Criação e implementação de Estratégias que monitorizem e (co)respondam às


exigências da longevidade.

Raquel Azevedo Freitas – INTERVENÇÃO MULTIDISCIPLINAR NAS DEMÊNCIAS 27/12/2019 3


Objetivos

- Compreender o processo de envelhecimento biopsicossocial, incidindo-se na análise


conceptual em torno do conceito de demência, sua etiologia e processo evolutivo;
- Possuir uma visão integrada relativamente ao impacto que um processo
(psico)patológico pode ter, nos mais variados domínios, sensibilizando as equipas
para a importância da intervenção multidisciplinar;
- Distinguir e adotar os princípios da abordagem centrada na pessoa com demência;
- Preparar-se para a prestação de cuidados às pessoas com demência, identificando
estratégias facilitadoras de comunicação, estimulando e motivando para a realização
das A.V.D.´s;

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Objetivos

- Reconhecer e implementar as técnicas da estimulação cognitiva enquanto serviço


estruturado, devidamente orientados por técnicos especializados;
- (Re)conhecer os sinais e sintomas de alterações comportamentais – episódios
agudos;
- Adotar estratégias de atuação/intervenção em episódios de alteração
comportamental.
- Comunicar situações de crise à família/cuidadores informais.

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“Ninguém educa ninguém, ninguém se educa a si
mesmo, os homens educam-se entre si,
mediatizados pelo mundo.”

(Paulo Freire)

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Apresentação

Para mim a melhor coisa da vida Dos restantes formandos, eu espero...


é... Uma imagem que guardo da minha infância
Um problema difícil para mim é... é…
A maior dificuldade com que me deparo nesta
Gosto de ser homem/mulher área é…
porque...
O que mais valorizo na minha equipa de
Do futuro, eu espero... trabalho é…
Ter êxito é... O principal constrangimento que tenho que
ultrapassar na minha profissão é…
A família representa para mim...
No novo ano pretendo alterar…
Com esta formação eu espero...
Sou resistente a…
Com os meus amigos, eu
costumo... O que mais me surpreende no ser humano
é…

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O Envelhecimento Humano

 Gerontologia: (do grego gero = envelhecimento + logia = estudo);


“(…) é a ciência que estuda o processo de envelhecimento em suas
dimensões biológica, psicológica e social”. (Neri, 2008, p. 95)

 Geriatria: é o ramo da ciência que foca o estudo, a prevenção e o tratamento de


doenças e da incapacidade em idades avançadas.

O gerontólogo é um profissional que investiga, estuda tendências e comportamentos


sociais em torno do envelhecimento, ao passo que o geriatra intervém clinicamente e
diretamente com as pessoas idosas.

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O Envelhecimento como um conceito
multidimensional

Envelhecimento

Processo complexo e universal


Fenómeno comum – com variabilidade inter-individual

O envelhecimento não é um estado, mas um processo de degradação progressiva


e diferencial que afeta todos os organismos e cujo termo natural é a morte.

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O Envelhecimento como um conceito
multidimensional

O organismo humano encontra-se em constante desenvolvimento, sem pontos fixos,


alternando por uma fase de reconstrução - anabolismo – e uma constante fase de
destruição – catabolismo.

O envelhecimento constitui a fase do predomínio da destruição relativamente à


construção

Perante a impossibilidade de fixar um ponto no ciclo de vida para este fenómeno, será
mais correcto falar do envelhecimento enquanto processo e não como
acontecimento.

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O Envelhecimento como um conceito multidimensional

 Contudo, ainda que a dimensão biológica do


envelhecimento seja um facto, ela não é suficiente para
compreender a complexidade subjacente a este fenómeno.

O envelhecimento é um processo multidimensional

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O Envelhecimento: processo biopsicossocial

3 componentes do envelhecimento (Sroots & Birren, 1998):

 Envelhecimento biológico: resulta da vulnerabilidade crescente e de uma maior


probabilidade de doença/morte, a que se chama senescência;

 Envelhecimento psicológico: definido pela capacidade de auto-regulação do


individuo (tomar decisões e fazer opções) em adaptar-se ao processo de
senescência e envelhecimento;

 Envelhecimento social: relativo aos papéis sociais apropriados às expectativas da


sociedade para este nível etário (ex.: mudança de estatuto provocada pela
passagem à reforma).

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Envelhecimento – período de adaptação a novas
condições/circunstâncias da realidade

 O Envelhecimento constitui um período de oportunidades, das quais


podemos salientar:
- Otimização de algumas capacidades já existentes, encontrando
alternativas/novas estratégias de realização das atividades;
- Compensação da perda de algumas capacidades, encontrando novas
tarefas/atividades;
- Seleção de objetivos, em menor quantidade, mas com mais significado;
- Mudança de objetivos, prioridades e preferências, abandonando as
preocupações mais mundanas e materialistas;

(Organização Mundial de Saúde, 2015)

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O envelhecimento e a idade

Duas pessoas com 70 anos, não têm a mesma idade senão sob o ponto de vista cronológico.

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Aspetos que configuram o
processo de envelhecimento

 A idade cronológica não é a única forma de mensurar o processo de


envelhecimento, sendo este uma interação de fatores complexos que apresentam
uma influência variável sobre o indivíduo (Schneiber & Irigaray, 2008);
 4 tipos de Idade:
Idade cronológica;
Idade biológica;
Idade psicológica;
Idade social.

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Idade cronológica

 Mensura a passagem do tempo decorrido em dias, meses e anos desde o


nascimento, é um dos meios mais usuais e simples de se obter informações
concretas sobre uma pessoa. Porém, o conceito de idade é multidimensional e,
por isso, a idade cronológica não se torna uma boa medida da função
desenvolvimental (Hoyer & Roodin, 2003).

Esta idade é passível de delimitação

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Idade cronológica
Categorização da faixa etária do adulto idoso
(Papalia, Olds & Feldman, 2006)

 Idosos jovens: situam-se entre os 65 aos 74 anos (demonstram-se normalmente


ativas e vigorosas, constituem a rede de suporte dos restantes elementos
familiares, estão normalmente motivados para o estabelecimento de objetivos);

 Idosos: situam-se entre os 75 aos 84 anos (período de maior oscilação entre o


catabolismo e anabolismo; relevância da auto-regulação; a forma como se
experiencia e preconiza o conceito de envelhecimento manifesta forte impacto
sobre a atitude e comportamento do idoso);

 Muito idosos: com idade superior aos 85 anos (são aqueles que têm maior
tendência para a fragilidade e catabolismo, e podem ter dificuldade para
desempenhar algumas Atividades da Vida Diária (A.V.D´s).

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Idade cronológica e o processo de
envelhecimento

 Embora a idade cronológica seja útil para sistematizar grupos etários, este conceito
é redutor na análise/explicação do processo de envelhecimento caso seja
desenvolvido por um agente em geriatria;

índice de passagem do tempo – variável vazia

Incapaz de explicar as variadas mudanças do processo de envelhecimento,


que resultam de uma complexa interação de múltiplos fatores – biológicos,
psicológicos e sociais;

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Aspetos que configuram o processo de
envelhecimento (Schneiber & Irigaray, 2008)

Idade Biológica:

 Capacidade funcional dos sistemas orgânicos com referência às capacidades


frequentes observadas em cada grupo etário;

 Medida pelas capacidades funcionais ou vitais e pelo limite de vida dos sistemas
orgânicos, que vão perdendo a sua capacidade adaptativa e de auto-regulação;

 Cada órgão sofre modificações que diminuem o seu funcionamento durante a


vida, sendo que a capacidade de auto-regulação torna-se também menos eficaz.

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Aspetos que configuram o processo de
envelhecimento (Schneiber & Irigaray, 2008)

Idade Psicológica:

 Refere-se às capacidades comportamentais do indivíduo na sua adaptação ao meio


ambiente;

 Influenciada pelos fatores biológicos e sociais, implica o uso de capacidades adaptativas


para exercer controlo comportamental ou auto-regulação; recorre aos processos top
down da cognição humana (ex. memória, aprendizagem, inteligência, habilidades,
estado emocional, motivação);

 Reação, adaptação do indivíduo na resposta às exigências ambientais (ex. stress,


estados emocionais e resiliência).

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Aspetos que configuram o processo de
envelhecimento

A juventude é o tempo que resta a cada indivíduo para viver…

(Simone de Beauvoir)

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Aspetos que configuram o processo de
envelhecimento (Schneiber & Irigaray, 2008)

Idade Social:

 A idade social é definida pela obtenção/procura de hábitos e status social pelo


indivíduo para o preenchimento de papéis sociais ou expectativas em relação às
pessoas de sua idade, da sua cultura e do seu grupo social;

 A medida da idade social é composta por performances individuais de papéis


sociais e envolve características como a forma de vestir, hábitos e linguagem, bem
como o respeito social por parte de outras pessoas em posição de liderança.

 Naturalmente dependente da idade cronológica, biológica e psicológica, a idade


social depende da cultura e tempo de determinada sociedade.

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O Envelhecimento – perspetiva biológica
Senescência versus Senilidade

 À componente biológica do envelhecimento chamamos Senescência. Esta palavra é


aplicável ao envelhecimento de cada uma das células do organismo, levando à perda
progressiva das capacidades:
 Diminuição da força muscular;
 Perda da massa óssea;
 Alterações nos vasos sanguíneos;
 Perda da capacidade contráctil do coração;
 Perda neuronal;
 Incapacidade sensorial (táctil, gustativa, olfativa, visual e auditiva).

Qual/Quais os grandes desafios das equipas?

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O Envelhecimento – perspetiva biológica
Senescência versus Senilidade

 A senilidade decorre em resultado de um processo patológico e pode surgir com o


envelhecimento, porém não está condicionado a ele (Jacon; Scortegagna; Oliveira,
2007).
 Portanto, a senilidade ocorre maioritariamente em indivíduos idosos, mas também
pode estar presente em jovens, sendo caracterizada pela perda de capacidade de
memorização, déficit de atenção, discursos incoerentes, desorientação, perda da
capacidade de controlo de esfíncter anal e incontinência urinária.
 Por norma, o indivíduo senil tem a sua vida limitada ao leito, constituindo-se como o
reflexo direto e observável da demência (Andréa, 2010).

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 Indiquem as 3 doenças de que têm
mais receio?

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A multicaudalidade do Envelhecimento

 Encontrando-se a multicausalidade na base do envelhecimento, devem, os


prestadores de cuidados/agentes e elementos das equipas multidisciplinares, estar
sensíveis a três premissas inerentes a esta fase da vida (Moraes, 2004):

(i) Vulnerabilidade: Encontrando-se o idoso com maior suscetibilidade aos


estímulos e agressões – quer internas quer externas;
(ii) Variabilidade: já que as diferentes células, tecidos, órgãos, aparelhos e
sistemas envelhecem de forma diferenciada;
(iii) Irreversibilidade: grande parte das perdas, uma vez instaladas, não são
recuperáveis.

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Envelhecimento – alterações fisiológicas

 O processo de envelhecimento compreende, inevitavelmente, alterações


fisiológicas, às quais os cuidadores/equipas devem estar atentas, analisando assim
se se trata de um processo de envelhecimento usual (Moraes, 2004), com início
insidioso e manifestação lenta, devendo adotar-se estratégias para a minimização
de danos:

- Sarcopenia ou perda de massa muscular;


- Aumento da massa gorda;
- Perda de massa óssea;
- Redução do volume de líquidos e modificações génito-urinárias;
- Alterações do sistema gastrointestinal;

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Envelhecimento – alterações fisiológicas
(cont.)

- Repercussões nutricionais;
- Diminuição da resposta imunitária;
- Comprometimento da regulação da temperatura corporal;
- Alterações na pele, mucosas e couro cabeludo (modificações nos tegumentos);
- Alterações no sistema endócrino;
- Alterações da função pancreática;
- Modificações cardiovasculares;
- Modificações no sistema respiratório;

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Envelhecimento – alterações fisiológicas
(cont.)

- Modificações no sistema nervoso central e periférico;


- Modificações sensoriais;
- Alterações nas rotinas de sono e repouso;

Raquel Azevedo Freitas – INTERVENÇÃO MULTIDISCIPLINAR NAS DEMÊNCIAS 29


Envelhecimento – alterações psicossociais

 Como já elencado, a perceção de várias perdas funcionais, associada às


alterações de rotina, aos constrangimentos na interação social e às modificações
nas relações interpessoais que tomam lugar, fomentam uma maior fragilidade e
vulnerabilidade psicológica e emocional.

 A esperança diminuída, a consciencialização das dificuldades e a vivências das


suas implicações, bem como a diminuição da auto-estima, são alguns dos fatores
que potenciam a depressão no idoso/pessoa dependente.

 São evidentes as fragilidades na capacidade de se adptar às alterações, bem


como na resiliência para se recuperar das adversidades.

Raquel Azevedo Freitas – INTERVENÇÃO MULTIDISCIPLINAR NAS DEMÊNCIAS 30


Envelhecimento – alterações psicossociais

 Perdas nos processos top down da cognição humana, sendo significativas as


perdas de memória (sobretudo na Memória de Trabalho e na Memória a Curto
Prazo), ou a lentificação dos processos de raciocínio.

Todas estas alterações constrangem a vivência de um


processo de envelhecimento bem-sucedido!

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“Education can give you a better perspective…”
(Ford, 1992)

Raquel Azevedo Freitas – INTERVENÇÃO MULTIDISCPLINAR NAS DEMÊNCIAS 32


 É, portanto, fundamental que, durante toda a vida, mais especificamente durante a
idade adulta, se tome consciência das alterações a que o ser humano está
suscetível, reconhecendo que os processos de envelhecimento bem-sucedido
resultam de um forte e contínuo investimento pessoal e preventivo.

 Segundo Moraes, (2004), são três as variáveis que influenciam e estimulam um


processo de envelhecimento bem sucedido:

a) Autonomia;
b) Independência;
c) Sabedoria;

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A importância do trabalho em equipa

Atividade “Caça ao Criminoso”


(Departamento de Psicologia e Comunicação da Faculdade de Psicologia da Universidade do Minho, 2012)

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Modelos que conceptualizam o processo de
Envelhecimento

 Quadros de referência/modelos teóricos que se têm destacado nos últimos anos:

- Modelo do Envelhecimento Saudável;


- Modelo do Envelhecimento bem-sucedido;
- Modelo do Envelhecimento Produtivo;
- Modelo do Envelhecimento Ativo;
- Modelo do Envelhecimento Positivo.

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Modelos que conceptualizam o processo de
Envelhecimento

 Modelo do Envelhecimento Saudável (Almeida 2007):

Associado à condição de saúde sob a perspetiva biomédica, considerando o envelhecimento:


- Positivo, no sentido de envelhecimento normal sem doenças;
- Negativo, enquanto envelhecimento patológico, com doenças;
- Normal, resultando da capacidade dos sujeitos, por si só, prevenirem o envelhecimento
patológico.

Esta abordagem identifica questões associadas às doenças degenerativas, à dependência e à


necessidade de cuidados;
Enfatiza, (segundo Viegas & Gomes, 2007), o afastamento dos indivíduos da vida social como
determinante para o aumento das doenças.

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Modelos que conceptualizam o processo de
Envelhecimento

 Modelo do Envelhecimento bem-sucedido (Sequeira, 2007):

- O modelo em causa não enfatiza um aspeto em concreto, defendendo que o


envelhecimento bem-sucedido depende do conjunto e interação de determinantes –
biológicas, psicológicas e sociais.

- Esta abordagem apela à postura ativa do sujeito que, em função das expectativas e
interesses podem participar e escolher o modo de vida, naturalmente que dentro de
circunstâncias concretas;

- O envelhecimento bem-sucedido consiste na capacidade de prevenção de


doenças, da maximização das funções cognitivas, da participação e da integração
nas redes de suporte familiar e social, estando relacionado com a capacidade dos
indivíduos e da sociedade se adaptarem ao processo dinâmico do envelhecimento.

Raquel Azevedo Freitas – INTERVENÇÃO MULTIDISCIPLINAR NAS DEMÊNCIAS 37


Modelos que conceptualizam o processo de
Envelhecimento

 Modelo do Envelhecimento produtivo (Guillemard, 2010):

- Este modelo enfatiza a repartição do tempo social (tempo de trabalho, tempo de


lazer e tempo da família);

- É um modelo que se encontra na base da reflexão, consideração e implementação


de políticas públicas, refletindo na relação entre as variáveis envelhecimento e
mercado de trabalho;

- Defende a sustentabilidade do sistema de proteção social, através de várias


estratégias, incluindo a participação dos mais velhos no sistema produtivo e o
combate às reformas antecipadas.

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Comunidades Pró-Envelhecimento
Ordem dos Psicólogos Portugueses (OPP, 2020)

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Nome do Formador - TÍTULO DA FORMAÇÃO 40
Comunidades Pró-Envelhecimento
Ordem dos Psicólogos Portugueses (OPP, 2020)

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Comunidades Pró-Envelhecimento
Ordem dos Psicólogos Portugueses (OPP, 2020)

Raquel Azevedo Freitas – INTERVENÇÃO MULTIDISCIPLINAR NAS DEMÊNCIAS 42


Comunidades Pró-Envelhecimento
Ordem dos Psicólogos Portugueses (OPP, 2020)

Raquel Azevedo Freitas – INTERVENÇÃO MULTIDISICPLINAR NAS DEMÊNCIAS 43


Comunidades Pró-Envelhecimento
Ordem dos Psicólogos Portugueses (OPP, 2020)

Raquel Azevedo Freitas – Intervenção Multidisciplinar nas Demências 44


Comunidades Pró-Envelhecimento
Ordem dos Psicólogos Portugueses (OPP, 2020)

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Modelos que conceptualizam o processo de
Envelhecimento

 Modelo do Envelhecimento Ativo:

Modelo que apela para uma convergência das abordagens anteriores, numa perspetiva integrada
que tem em conta o ambiente, bem como um conjunto de determinantes mais alargados, tais
como (ONU, 2002, p. 59):

- Pessoais (biológicos, genéticos e psicológicos);


- Comportamentais (saúde mental, participação social e escolha de estilos de vida saudáveis);
- Económicos (rendimento e trabalho digno e proteção social – sistema de pensões);
- Sociais (apoio social e acesso a recursos sociais, educacionais e a direitos fundamentais);
- Ambiente físico (acessibilidades a serviços básicos – sem barreiras arquitetónicas, assim
como alimentação adequada, bom ambiente, transportes e integração social).

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Modelos que conceptualizam o processo de
Envelhecimento

 Modelo do Envelhecimento Ativo:

- Este modelo potencia a construção de uma teoria do envelhecimento


integrada, conceptualizando-se como um processo de otimização de
oportunidades de saúde, participação e segurança;

- Concebendo o envelhecimento como um processo que faz parte do ciclo de


vida dos seres humanos, permite, de acordo com as suas expectativas, desejos
e capacidades, a realização do seu potencial para o próprio providenciar;

- O desafio do envelhecimento ativo potencia novas formas de emancipar o


indivíduos pela valorização das suas capacidades, colocando-o em arenas
sociais significativas como o trabalho, o voluntariado e participação social.

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Modelos que conceptualizam o processo de
Envelhecimento

 Modelo do Envelhecimento Ativo:


Este modelo destaca os direitos e deveres
individuais e coletivos:

Autonomia; Responsabilidade Social;


Participação; Justiça Social;
Dignidade Humana; Segurança;
Responsabilidade; Programas de estimulação e
Proatividade; participação na vida pública.

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Modelos que conceptualizam o processo de
Envelhecimento

 Envelhecimento Positivo
 O que acrescenta o envelhecimento positivo ao Modelo de Envelhecimento Ativo?

- O envelhecimento positivo é um conceito que tem sido alvo de forma reflexão e investigação,
fomentando o envolvimento e momentos positivos gerados por quem está à volta do idoso, que,
no âmbito do seu processo de envelhecimento pode alternar entre períodos de descompensação
e de lucidez;

- Trata-se de uma tendência que deverá começar a ganhar força e sustentação teórica,
respondendo-se e prestando-se um acompanhamento digno, mesmo perante um elevado nível
de comprometimento/dependência.

- Esta linha de pensamento contempla os determinantes promotores de bem-estar, bem como o


fácil acesso aos serviços sociais e de saúde.

Raquel Azevedo Freitas – INTERVENÇÃO MULTIDISICPLINAR NAS DEMÊNCIAS 49


Modelos que conceptualizam o processo de
Envelhecimento

 Envelhecimento Positivo

No caso do nosso objeto de estudo – Intervenção nas Demências, apesar do modelo de


intervenção positiva ainda não ser considerado uma corrente, deverá servir de atuação
para quem trabalha com idosos e, simultaneamente, com utentes portadores de quadros
demenciais.

- Esta linha fomenta o estabelecimento de objetivos partilhados, em rede, que darão a


força para ultrapassar/contornar adversidades e limitações. Não precisam (nem podem
ser) objetivos muito elaborados, (ex. ver a família crescer), desde que conduzam a um
propósito para o sénior se manter vivo e a família motivada para dar continuidade à
prestação de cuidados, melhorando a sua performance, sobretudo, emocional;

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Modelos que conceptualizam o processo de
Envelhecimento

 Envelhecimento Positivo

- O Conceito de envelhecimento positivo vai além do envelhecimento ativo, porque este


último considera os determinantes psicológicos do envelhecimento, os quais são
promotores de bem-estar.

- O bem-estar advém da atribuição de significado à vida do sénior/pessoa dependente e


valorização das suas forças, em detrimento das suas limitações.

- A valorização destas forças, em articulação com a compreensão do significado de vida


do sénior, estreitará, certamente a relação entre este e o seu cuidador, envolvendo e
promovendo bem-estar a toda a família.

Raquel Azevedo Freitas – INTERVENÇÃO MULTIDISCIPLINAR NAS DEMÊNCIAS 51


Multidisciplinaridade – a importância do
trabalho em rede

 Reconhecer potencial em todos os agentes/intervenientes;


 Identificar, em determinado processo de intervenção, a designada pessoa-chave;
 Elevada necessidade de homogeneidade na comunicação;
 Aumento das exigências ao nível da organização e da disponibilização de respostas
sociais, fomentando-se o trabalho em rede;
 É fundamental analisar o padrão motivacional dos técnicos que constituem as
equipas;
 Necessidade de adoção de estilos proativos de comunicação e argumentação,
estimulando o reconhecimento da importância da formação - quer para os
elementos das equipas, quer, sobretudo, para as instituições/quadros dirigentes.

Raquel Azevedo Freitas – INTERVENÇÃO MULTIDISCIPLINAR NAS DEMÊNCIAS 52


Hard-Skills - Soft-Skills

Entende-se por Hard-Skills as habilidades técnicas do profissional, adquiridas em


contexto educativo/académico, passíveis de medição e facilmente testadas em
entrevista/período de experimentação (ex. domínio de técnicas de intervenção com
pessoas dependentes; facilidade de comunicação; conhecimento de orientações
técnicas e facilidade em interpretar enquadramentos legais);

As soft skills são as competências comportamentais e sociais do profissional. Estão


associadas às suas habilidades mentais/construtos psicológicos e emocionais. Elas são
mais difíceis de serem ensinadas e de serem medidas, correspondendo muitas vezes a
capacidades inatas da pessoa.

Raquel Azevedo Freitas - INTERVENÇÃO MULTIDISCIPLINAR NAS DEMÊNCIAS 53


Soft-Skills

Exemplos de Soft-Skills:

- Confiança/positivismo;
- Orientação para servir;
- Paciência/resistência à frustração;
- Flexibilidade cognitiva;
- Capacidade de comunicação;
- Capacidade de relacionamento interpessoal;
- Tomada de decisão;
- Negociação/ resolução de problemas;
- Coordenação/organização; A atitude_postura de proatividade.mp4
- Moral comum e ética profissional.

Raquel Azevedo Freitas – INTERVENÇÃO MULTIDISCIPLINAR NAS DEMÊNCIAS 54


Nome do Formador - TÍTULO DA FORMAÇÃO 55
Motivational Systems Theory (M.S.T.)
Ford, 1992; Ford & Smith, 2007

Funcion. Humano = Motivação x Conhecimento e Competência x Ambiente


1/ Biologia

Motivação (M) = Metas x Crenças Pessoais x Emoções

Metas G

MOTIVAÇÃO
Crenças Pessoais M Emoções
PAB E

Figura 2: Fórmula heurística do funcionamento humano (adaptada de Ford & Smith, 2007, p. 156)
Raquel Azevedo Freitas – INTERVENÇÃO MULTIDISCIPLINAR NAS DEMÊNCIAS 56
Motivational Systems Theory (M.S.T.)
Crenças Pessoais - Personal Agency Beliefs

• As crenças pessoais são determinantes para manter fortes níveis de padrões


motivacionais, tal como refere Snyder (1994, cit. in Ford & Smith, 2007, p. 158), ao
afirmar que “uma das chaves para desenvolver e manter padrões de motivação fortes
é ter a convicção que o futuro pode ser melhor que o presente”.

• Existem dois focos fundamentais das crenças:

Crenças nas capacidades pessoais Crenças no contexto

Nome do Formador - TÍTULO DA FORMAÇÃO 57


Motivational Systems Theory (M.S.T.)
Padrões Motivacionais

Taxonomia dos padrões de crenças pessoais (Ford


& Smith, 2007, p. 159)

Raquel Azevedo Freitas – INTERVENÇÃO MULTIDISCIPLINAR NAS DEMÊNCIAS 58


Motivational Systems Theory (M.S.T.)

Ford e Smith (2007) alertam ainda para o facto do funcionamento humano não ser
apenas determinado pelos três fatores psicológicos apresentados: objetivos, crenças
pessoais e emoções, sendo também determinado pelos conhecimentos e competências
existentes, bem como a resposta por parte do contexto/ambiente.

Realização/Competência = Motivação x Habilidade x Ambiente

Integração dos processos que contribuem para o funcionamento eficaz, (adaptado de Ford, 1992, p. 123)

Nome do Formador - TÍTULO DA FORMAÇÃO 59


Motivational Systems Theory (M.S.T.)

Realização/Competências = Motivação (Objetivos/Metas x Emoções

x Crenças nas Capacidades x Crenças no Contexto)

x Habilidades x Ambiente

Figura 4: Representação da integração do sistema motivacional (adaptada de Ford, 1992, p. 124)

Nome do Formador - TÍTULO DA FORMAÇÃO 60


 Brainstorming…

Raquel Azevedo Freitas - INTERVENÇÃO MULTIDISCIPLINAR NAS DEMÊNCIAS 61


Funcionamento neuronal

 O cérebro humano tem cerca de100 biliões de células nervosas – Neurónios;


 Cada célula nervosa liga-se a muitas outras, criando uma rede de comunicações:
- Células nervosas;
- Células especializadas;

 Os grupos de células nervosas compreendem funções específicas (captação sensorial,


capacidade cognitiva, processamento da informação, memória, emitindo informação aos
músculos e restantes órgãos, para iniciarem as suas funções).

Morte neuronal – doença cerebral adquirida

Raquel Azevedo Freitas – INTERVENÇÃO MULTIDISCIPLINAR NAS DEMÊNCIAS 62


Demência – análise conceptual

 As demências são um conjunto heterogéneo de doenças, com sinais e sintomas


semelhantes, mas etiologias (causas) distintas. Em todos os casos, no entanto, existe
doença cerebral adquirida (não presente desde o nascimento), progressiva que provoca
défice cognitivo em múltiplos domínios, perda de autonomia e funcionalidade.

 A deterioração cognitiva que caracteriza a síndrome demencial pode afetar a memória,


linguagem, a orientação temporal e espacial, o raciocínio, a própria realização de tarefas
motoras, sem que a memória seja necessariamente a função mais afetada nas fases
iniciais da demência.

 Isto conduz ao comprometimento de várias competências importantes para a vida


quotidiana e para a interação social, tornando o doente menos autónomo e
progressivamente mais dependente de terceiros.

Raquel Azevedo Freitas - INTERVENÇÃO MULTIDISCIPLINAR NAS DEMÊNCIAS 63


Demência – análise conceptual

 Todos os tipos de demência resultam do mau funcionamento e da progressiva morte


de células cerebrais (neurónios).

 É no contexto destas lesões orgânicas que devem ser interpretadas as


manifestações da doença, nomeadamente, as alterações de memória e do
comportamento, a perda de autonomia, as mudanças súbitas de humor e até mesmo
as alterações de personalidade.

 Portanto, nem a evolução da doença, nem os seus sintomas estão dependentes da


vontade do doente.
(Almeida, Barrios, Pereira, Santos, Pinto, Costa, Conde & Pedrosa, 2008)

Raquel Azevedo Freitas - INTERVENÇÃO MULTIDISCIPLINAR NAS DEMÊNCIAS 64


Demência – Prevalência

 A prevalência de demência aumenta com a idade, sendo cerca de 90% dos casos
diagnosticados acima dos 65 anos;

 No entanto, existem casos em pessoas mais jovens. O envelhecimento por si só não a


provoca, e a demência não é uma doença exclusiva dos idosos (Alzheimer Europe,
2008);

 Na Europa, estima-se que 6.1 milhões de pessoas sofrem deste tipo de doenças;

 Todos os anos, 1.4 milhões de cidadãos europeus desenvolvem demências, ou seja, a


cada 24 segundos é diagnosticado um novo caso (Alzheimer Europe, 2008);

 O número estimado de pessoas com demência em Portugal é de 153 mil, 90 mil dos
quais com doença de Alzheimer (Alzheimer Portugal, 2009).

Raquel Azevedo Freitas – INTERVENÇÃO MULTIDISCIPLINAR NAS DEMÊNCIAS 65


Prevalência
(Observatório Global de Demência - O.M.S. 2017; OCDE, 2017;
Alzheimer Europe, 2018)

 Em Portugal, de acordo com os mais recentes dados fornecidos pela Alzheimer


Europe, cerca de 1,7% da população (180 000 pessoas) sofre de alguma forma de
demência;

 Segundo um relatório publicado pela OCDE, a 10 de novembro de 2017, são


apresentados novos dados sobre a prevalência da demência, colocando Portugal
como o 4.º país com mais casos por cada mil habitantes. A média da OCDE é de
14.8 casos por cada mil habitantes, sendo que para Portugal a estimativa é de
19.9;

 A estimativa do número de casos com demência para Portugal sobe para mais de
205 mil pessoas, número que subirá para os 322 mil casos até 2037.

Raquel Azevedo Freitas – INTERVENÇÃO MULTIDISCIPLINAR NAS DEMÊNCIAS 66


Avaliação abrangente da mortalidade e incapacidade
por doenças, lesões e factos de risco

1990 2030

Doença ou Traumatismo Doença ou Traumatismo

1 Infeções do sistema respiratório 1 Doença isquémica do coração

2 Doenças diarreicas 2 Doença/perturbações mentais/Processos Demenciais

3 Problemas perinatais 3 Traumatismos rodoviários

4 Doença/perturbações mentais/Processos Demenciais 4 Doença cérebrovascular

5 Doença isquémica do coração 5 Doença pulmonar obstrutuva crónica

6 Doença cérebrovascular 6 Infeções do sistema respitatório

7 Tuberculose 7 Tuberculose

8 Rubéola 8 Guerra

9 Traumatismos rodoviários 9 Doenças diarreicas

10 Anomalias congénitas 10 SIDA

Fonte: Murray CJL, Lopez AD, eds. The Global burden of disease: a comprehensive assessment of mortaly and disability
from diseases, injuries, and risk factos in 1990 and projected to 2010. Boston, Harvard University Press, 1996.

Raquel Azevedo Freitas – INTERVENÇÃO MULTIDISCIPLINAR NAS DEMÊNCIAS 67


Demências

Reversibilidade ou Irreversibilidade?

Raquel Azevedo Freitas – INTERVENÇÃO MULTIDISCIPLINAR NAS DEMÊNCIAS 68


(Almeida, Barrios, Pereira, Santos, Pinto, Costa, Conde & Pedrosa, 2008, p. 8)

Raquel Azevedo Freitas –INTERVENÇÃO MULTIDISCIPLINAR NAS DEMÊNCIAS 69


Demências

 D. Endócrinas (ex.: hipertiroidismo, hipotiroidismo, diabetes, outras alterações ao sistema


imunológico);
 Deficiências vitamínicas (a anemia perniciosa pode produzir demência, parcialmente reversível
com a administração de vitamina B12; A deficiência de tiamina, se não tratada, pode conduzir ao
desenvolvimento do síndrome de Korsakoff que é habitualmente reversível);
 Tumores intracranianos: podem condicionar um quadro demencial variável, conforme as suas
dimensões e localização.

Raquel Azevedo Freitas - INTERVENÇÃO MULTIDISCIPLINAR NAS DEMÊNCIAS 70


Demências
Córtex Cerebral – áreas e funções

Raquel Azevedo Freitas - INTERVENÇÃO MULTIDISCIPLINAR NAS DEMÊNCIAS 71


(Almeida, Barrios, Pereira, Santos, Pinto, Costa, Conde & Pedrosa, 2008, p. 8)

Raquel Azevedo Freitas –INTERVENÇÃO MULTIDISCIPLINAR NAS DEMÊNCIAS 72


Demências irreversíveis e não preveníveis/
degenerativas

 Doença de Alzheimer (DA):


- Constitui o caso mais frequente de demência (50 a 70% de todos os casos);
- Não existe nenhum marcador biológico para confirmar a doença, contudo, critérios clínicos
estandardizados aumentam a certeza do diagnóstico.;
- O seu início é insidioso e a progressão lenta;
- Os distúrbios da linguagem podem ser um sinal precoce, progredindo até a afasia ou
parafasia e défices de compreensão;
- A memória recente e a habilidade para adquirir nova informação são precocemente
afetadas;
- Outros distúrbios comuns da função cortical incluem a apraxia, agnosia e alexia;
- Delírios e alucinações ocorrem em mais de 50% dos doentes.
Alzheimer_ a forma mais comum da Demência.mp4

Raquel Azevedo Freitas – INTERVENÇÃO MULTIDISCIPLINAR NAS DEMÊNCIAS 73


Raquel Azevedo Freitas – INTERVENÇÃO MULTIDISCIPLINAR NAS DEMÊNCIAS 74
Demências irreversíveis e não preveníveis/
degenerativas

Raquel Azevedo Freitas – INTERVENÇÃO MULTIDISCIPLINAR NAS DEMÊNCIAS 75


Demências irreversíveis e não preveníveis/
degenerativas

 Demência Fronto-temporal (DFT):


- Grupo clínico e patológico heterogéneo de distúrbios, que têm em comum a degenerescência do
lobo frontal e temporal;
- É responsável por até 10% das demências;
- Em geral, o início ocorre entre os 55 e 65 anos e a prevalência é similar entre homens e
mulheres;
- Alterações comportamentais, com desinibição, impulsividade, comportamentos sociais
inapropriados, apatia, isolamento, são sintomas precoces e frequentes;
- Estas alterações permitem fazer o diagnóstico diferencial com a doença de Alzheimer;
- Os distúrbios da linguagem podem aparecer precocemente, enquanto que a função visoespacial
permanece intacta até fases avançadas da doença;
- As DFT são de origem genética, sendo que, cerca de metade, é hereditária.

Raquel Azevedo Freitas – INTERVENÇÃO MULTIDISCIPLINAR NAS DEMÊNCIAS 76


Demências irreversíveis e não preveníveis/
degenerativas

 Demência Fronto-temporal (DFT):


- A neuroimagem permite a visualização
de atrofia;

Raquel Azevedo Freitas – INTERVENÇÃO MULTIDISCIPLINAR NAS DEMÊNCIAS 77


Demências irreversíveis e não preveníveis/
degenerativas

 Demência de Corpos de Lewy:


- A Demência de Corpos de Lewy é uma forma comum de Demência e que partilha muitas
similaridades com a Doença de Alzheimer;
- A Demência de Corpos de Lewy difere da Doença de Alzheimer no que concerne à progressão
da doença sendo, habitualmente, mais rápida;
- A Demência de Corpos de Lewy é causada pela degeneração e morte das células nervosas do
cérebro;
- O nome deriva da presença de estruturas esféricas anormais, denominadas por corpos de Lewy,
que se desenvolvem dentro das células nervosas;
- Atualmente, ainda não existe uma causa conhecida para a Demência de Corpos de Lewy e não
foram identificados quaisquer fatores de risco. Também, não existe qualquer evidência de que a
Demência de Corpos de Lewy seja uma doença hereditária.
- Sintomas de alerta: dificuldades em avaliar as distâncias, o que resulta muitas vezes em quedas.

Raquel Azevedo Freitas – INTERVENÇÃO MULTIDISCIPLINAR NAS DEMÊNCIAS 78


Demências irreversíveis e não preveníveis/
degenerativas

 Demência associada ao parkinsonismo:

- O parkinsonismo é uma perturbação da função motora alterada, caracterizada por


bradicinésia, rigidez muscular, tremor em repouso e instabilidade postural;
- A demência é frequentemente uma consequência, ocorrendo em cerca de 40% dos doentes
com doença de Parkinson;
- O declínio cognitivo surge cerca de um ano após o início das alterações do movimento,
com alterações da memória, défices da função executiva, permanecendo a linguagem
intacta.

Raquel Azevedo Freitas – INTERVENÇÃO MULTIDISCIPLINAR NAS DEMÊNCIAS 79


(Almeida, Barrios, Pereira, Santos, Pinto, Costa, Conde & Pedrosa, 2008, p. 8)

Raquel Azevedo Freitas –INTERVENÇÃO MULTIDISCIPLINAR NAS DEMÊNCIAS 80


Demências irreversíveis, porém, preveníveis

 Demência Vascular
- A ocorrência de múltiplos Acidentes Vasculares Cerebrais pode condicionar uma
deterioração das capacidades cognitivas e produzir uma verdadeira demência, muitas vezes
designada como demência multienfartes.;
- Dados recentes sugerem que entre os indivíduos mais idosos (mais de 85 anos), a
demência vascular rivaliza com a DA como etiologia principal da demência;
- A demência vascular é clinicamente reconhecida em doentes com história de AVC, sinais
neurológicos focais ou enfarte nos exames imagiológicos;

Raquel Azevedo Freitas – INTERVENÇÃO MULTIDISCIPLINAR NAS DEMÊNCIAS 81


Demências irreversíveis, porém, preveníveis

 Demência Alcoólica:
- A Demência Alcoólica é, como o próprio nome sugere, uma forma de Demência provocada pelo
consumo excessivo de álcool;
- A síndrome de Korsakoff são formas particulares de lesões cerebrais provocadas pelo álcool e
que podem estar relacionadas com a Demência Alcoólica;
- Esta atinge mais frequentemente homens com idades entre os 45 e 65 anos, com uma história
longa de abuso de álcool, embora possa afetar homens e mulheres de qualquer idade;
- A progressão da demência pode ser interrompida se a pessoa se abstiver totalmente de
consumir álcool, adotar uma alimentação saudável e tomar suplementos vitamínicos, incluindo
vitamina B1;

Raquel Azevedo Freitas – INTERVENÇÃO MULTIDISCIPLINAR NAS DEMÊNCIAS 82


Demências irreversíveis, porém, preveníveis

 Demência associada ao vírus HIV:


- Quando alguém tem o Vírus da Imunodeficiência Humana (VIH) e a síndrome da
Imunodeficiência Adquirida (SIDA), pode desenvolver uma complicação da doença,
conhecida por Demência associada à SIDA (DAS) ou por Complexo Demencial relacionado
com a SIDA;
- Embora tenha sido demonstrado que o VIH não afeta diretamente as células nervosas
pensa-se que pode, de alguma forma, afetá-las indiretamente. As células imunitárias que
estão presentes no cérebro funcionam como reservatórios de VIH e são a fonte principal dos
danos indiretos causados nas células nervosas;
- Apresenta-se geralmente como uma demência que progride em semanas ou meses; é
muitas vezes rapidamente progressiva. A depressão e a labilidade emocional são frequentes.

Raquel Azevedo Freitas – INTERVENÇÃO MULTIDISCIPLINAR NAS DEMÊNCIAS 83


Principais sintomas nas Demências

 Cada zona do cérebro está relacionada com diferentes funções, como a memória, as
emoções, os movimentos ou a sensibilidade. Quando uma doença como a demência afeta o
cérebro, ocorre degenerescência de células cerebrais em várias zonas.
 Os sintomas iniciais de demência manifestam-se sob diferentes formas. Por exemplo, na
Doença de Alzheimer é frequente a diminuição da memória recente, e a dificuldade em
realizar tarefas complexas;
 Com o agravamento da doença surgem dificuldades em realizar atividades básicas como
vestir, fazer a sua higiene ou ir à casa de banho.

Comprometimento da Capacidade Funcional

Raquel Azevedo Freitas – INTERVENÇÃO MULTIDISCIPLINAR NAS DEMÊNCIAS 84


Principais sintomas nas Demências

 Perda de memória;
 Diminuição da capacidade de realizar tarefas e de comunicar;
 Desorientação no tempo e no espaço;
 Alterações da personalidade e humor;
 Alterações do comportamento;
 Alterações físicas;

Raquel Azevedo Freitas – INTERVENÇÃO MULTIDISCIPLINAR NAS DEMÊNCIAS 85


Demências: processo de Diagnóstico

 Na presença de sinais de alarme, a pessoa deve procurar o seu médico assistente/ médico
de família;
 Quando o doente não tem capacidade de identificá-los, a família deve procurar o médico no
sentido de expor o problema;
 Inicialmente é necessário excluir diagnósticos de demência secundária, isto é, situações em
que a demência resulta de outra condição clínica (por exemplo hipertiroidismo);
 É de particular relevância, durante a investigação, distinguir a demência de outras situações
que apresentam características comuns.

Raquel Azevedo Freitas – INTERVENÇÃO MULTIDISCIPLINAR NAS DEMÊNCIAS 86


Demências: Diagnóstico Diferencial

 Nem todos os doentes com perda de memória ou défice cognitivo ligeiro reúnem critérios
para ter o diagnóstico de demência:
 Envelhecimento cerebral;
 Depressão;
 Delírio/Delirium;
 Síndromes amnésticos;

Raquel Azevedo Freitas – INTERVENÇÃO MULTIDISCIPLINAR NAS DEMÊNCIAS 87


Demências: processo de Diagnóstico

 A confirmação do diagnóstico de demência requer a realização de uma avaliação clínica


aprofundada que engloba uma cuidadosa avaliação cognitiva, funcional, comportamental;

 Na presença de uma história clínica com sintomas e sinais compatíveis e de uma avaliação
neuropsicológica positiva, será necessário, sob orientação de um médico com competência
específica na área da demência, a realização de exames complementares de diagnóstico
específicos (biomarcadores e imagiologia), que serão solicitados consoante o tipo de demência
em causa. Estes poderão ser exames imagiológicos cerebrais, exames analíticos ou outros.

Este diagnóstico precoce logo que se detetam sintomas é fundamental porque é nestas fases
que a medicação existente é mais eficaz.

Raquel Azevedo Freitas – INTERVENÇÃO MULTIDISCIPLINAR NAS DEMÊNCIAS 88


Demências: processo de Diagnóstico
Abordagem Cognitiva e Funcional

 Mini Mental State Examination (MMS);


 Bateria Cognitiva Breve – teste das figuras;
 Bateria Cognitiva Breve – fluência verbal;
 Bateria Cognitiva Breve – teste do relógio de Sunderland;
 Montreal Cognitive Assentment (MOCA);
 Escala de Pfeiffer (Questionário de Atividades Funcionais).

Raquel Azevedo Freitas – INTERVENÇÃO MULTIDISCIPLINAR NAS DEMÊNCIAS 89


Demências: processo de Diagnóstico

Raquel Azevedo Freitas – INTERVENÇÃO MULTIDISCIPLINAR NAS DEMÊNCIAS 90


Demências: processo de Diagnóstico

Raquel Azevedo Freitas – INTERVENÇÃO MULTIDISCIPLINAR NAS DEMÊNCIAS 91


Demências: Evolução e Prognóstico

 Todas as demências são doenças progressivas. A progressão tende a obedecer a um padrão,


pelo que se identificam habitualmente três fases na evolução da demência:

 Fase Ligeira;
 Fase Moderada;
 Fase avançada.

Raquel Azevedo Freitas – INTERVENÇÃO MULTIDISCIPLINAR NAS DEMÊNCIAS 06/01/2020 92


Demências: Evolução e Prognóstico
Fase Ligeira/Inicial

 Exemplo: não se lembrar se as contas já foram pagas; perder objetos; necessidade de ver constantemente o
calendário para se situar no tempo;

Existem sintomas ligeiros (e muitas vezes negligenciados):


• Ligeiros défices de memória recente;
• Desorientação no tempo e no espaço;
• Perda de iniciativa;
• Dificuldade em encontrar as palavras, discurso menos fluente;
• Dificuldade em manter as rotinas;
• Problemas com decisões e gestão do dinheiro;
• Ações e discurso repetitivo;
• Alterações do humor / personalidade;
• Dificuldade na aquisição de novas competências;
• Diminuição de adaptação à mudança;

Raquel Azevedo Freitas – INTERVENÇÃO MULTIDISCIPLINAR NAS DEMÊNCIAS 06/01/2020 93


Demências: Evolução e Prognóstico
Fase Ligeira/Inicial

 Intervenção - prioridades:
 O apoio na consciencialização e adaptação ao diagnóstico e o esclarecimento das suas
implicações, quer ao utente/doente quer à família, determinarão a procura de apoio
especializado e a tomada de decisões informadas em relação ao futuro;

 A instituição precoce de medidas farmacológicas é fundamental;


 Nesta fase, é particularmente importante a estimulação cognitiva e de funcionalidade, de
forma a manter a autonomia e preservar, durante o maior período de tempo possível, a
capacidade cognitiva.

Raquel Azevedo Freitas – INTERVENÇÃO MULTIDISCIPLINAR NAS DEMÊNCIAS 06/01/2020 94


Demências: Evolução e Prognóstico
Fase Moderada

 Exemplo: alteração do padrão de sono - adormece com facilidade durante o dia, e durante a noite, por vezes,
acorda e levanta-se; dificuldade em sentar-se numa cadeira, pôr a mesa, dificuldade em ler sinais, escrever o
nome, fazer contas; revela comportamentos de suspeição delirante (pode acusar a esposa de esconder coisas ou
de infidelidade), tem dificuldade no controlo dos impulsos (pode despir-se em situações ou locais inapropriados,
ter alterações do apetite e ingestão alimentar, como comer demais ou de menos).

Sintomas:
- Agravamento da perda de memória, confusão e diminuição da capacidade de atenção;
- Dificuldade em reconhecer amigos íntimos ou família;
- Deambulação sem sentido aparente, perde-se facilmente;
- Inquietude, especialmente ao final da tarde/início da noite;
- Dificuldade no pensamento lógico ou em organizar o raciocínio;
- Pode ver ou ouvir coisas que não existem (alucinações);
- Pode ter convicções de factos que não ocorreram (delírios);
- Agravamento dos problemas de linguagem.

Raquel Azevedo Freitas – INTERVENÇÃO MULTIDISCIPLINAR NAS DEMÊNCIAS 06/01/2020 95


Demências: Evolução e Prognóstico
Fase Moderada

 Intervenção - prioridades:
 Nesta fase, é essencial manter um investimento de reabilitação adaptada à situação, para
preservação de capacidades remanescentes.
 É necessário o ajuste da terapêutica farmacológica, com preocupação acrescida no
controlo de sintomas.
 A família e cuidadores necessitam de apoio na adaptação progressiva aos novos desafios.
 Devemos continuar a investir na capacidade funcional, através de tarefas muito simples,
desde que em contexto seguro;
 A estimulação emocional e o conforto físico são as prioridades.

Raquel Azevedo Freitas – INTERVENÇÃO MULTIDISCIPLINAR NAS DEMÊNCIAS 06/01/2020 96


Demências: Evolução e Prognóstico
Fase Avançada/Severa

 Exemplo: olha para o espelho e fala com a sua imagem, discurso incompreensível, totalmente
dependente no que respeita às necessidades básicas (no banho, na alimentação, na higiene e no
vestir).
 Sintomas:
O doente apresenta dependência total, as alterações cognitivas acompanham-se de decadência
física significativa:
- Incapacidade para reconhecer os familiares/cuidadores ou a si próprio no espelho;
- Perda de capacidade de comunicação oral;
- Tendência para levar todos os objetos à boca, compulsão pelo toque;
- Incontinência urinária e fecal;
- Dependência total dos cuidadores;
- Diminuição da capacidade de deglutição/mastigação;
- Perda da capacidade de deambulação.

Raquel Azevedo Freitas – INTERVENÇÃO MULTIDISCIPLINAR NAS DEMÊNCIAS 06/01/2020 97


Demências: Evolução e Prognóstico
Fase Avançada/Severa

 Intervenção:
Nesta fase, os cuidados de conforto e controlo sintomático são preponderantes.
Os familiares e cuidadores devem estar informados da evolução da doença e preparados
para lidar com a dependência total.

É, normalmente nesta fase que se enquadra a fase terminal:


 Objetivo: a correta informação dos cuidadores e familiares permite instituir e manter um plano
adequado de conforto e controlo de sintomas, evitando um fim de vida em sofrimento.

Raquel Azevedo Freitas – INTERVENÇÃO MULTIDISCIPLINAR NAS DEMÊNCIAS 06/01/2020 98


A Capacidade Funcional da Pessoa Idosa

 Falamos em dependência nos cuidados, para designar o momento/a fase em que alguém
necessita da ajuda de terceiros para realizar as Atividades da Vida Diária (AVD´s), isto é, as
tarefas básicas do quotidiano, como a alimentação, a higiene, a locomoção, entre outras.

 A dependência é a consequência prática da diminuição da capacidade funcional, sendo que, os


cuidados prestados visam, precisamente, aumentar esta capacidade funcional, permitindo que
o individuo viva para cumprir os seus objetivos, da forma mais ativa e positiva possível, sendo
esse um dos grandes desafios do cuidador/equipas.

Raquel Azevedo Freitas – INTERVENÇÃO MULTIDISCIPLINAR NAS DEMÊNCIAS 06/01/2020 99


A Capacidade Funcional da Pessoa Idosa

 Intervir em utentes portadores de quadros demenciais exige, muito mais que uma abordagem
ativa, uma abordagem positiva, estimulando-se, de forma constante, a capacidade funcional,
que, por sua vez, se encontra dependente de dois fatores:

Capacidade física Ambiente

Raquel Azevedo Freitas – INTERVENÇÃO MULTIDISCIPLINAR NAS DEMÊNCIAS 06/01/2020 100


A Capacidade Funcional nas Demências

 Capacidade Física:

- Consiste no parâmetro que se refere ao estado físico


do individuo, ou seja, à sua saúde cardiovascular,
osteoarticular, respiratória, mental, etc.

- O ideal é que o adulto/idoso, adotando um estilo de


vida saudável, se mantenha com boa capacidade
física, decaindo apenas pouco tempo antes do fim da
vida. No caso de quadros demenciais já instalados, a
estimulação da capacidade física inibirá a progressão
para outras fases de demência;

Fonte: World report on ageing and health. Organização Mundial de Saúde, 2015, p. 31

Raquel Azevedo Freitas – INTERVENÇÃO MULTIDISCIPLINAR NAS DEMÊNCIAS 101


A Capacidade Funcional nas Demências

 Funcionalidade:

- A Funcionalidade é definida, pela Organização Mundial de


Saúde, como a capacidade do individuo fazer as coisas que
são importantes para si, ou seja, as atividades quotidianas, e
aquelas que lhe permitem realizar os seus sonhos e objetivos.

- Como podemos ver na figura que seguidamente


apresentamos, a capacidade funcional pode ser mantida acima
da curva das capacidades físicas, devendo-se, em grande
parte, à adaptação do ambiente/contexto.

- Existem, porém, muitos outros fatores influentes na


funcionalidade, como por exemplo a educação, a
acessibilidade a instituições dentro da sociedade em que o
idoso possa desempenhar um papel proativo, ou que tenha
uma equipa capaz de efetuar uma abordagem positivista.
Fonte: World report on ageing and health. Organização Mundial de Saúde, 2015, p. 32

Raquel Azevedo Freitas – INTERVENÇÃO MULTIDISCIPLINAR NAS DEMÊNCIAS 102


A Capacidade Funcional nas Demências

 A promoção de uma intervenção/abordagem positivista passa pelo investimento contínuo no


indivíduo em declínio, potenciando a sua capacidade funcional, a sua reabilitação ou o
constrangimento dos sintomas de catabolismo inerentes a processos de senilidade (Freitas &
Gonçalves, 2019, p.35):

Raquel Azevedo Freitas – INTERVENÇÃO MULTIDISCIPLINAR NAS DEMÊNCIAS 103


Medidas para potenciar a capacidade funcional
do idoso/ pessoa dependente

 Encontrando-se a capacidade funcional inevitavelmente associada à capacidade física, importa analisar como se
pode manter e/ou, se possível, melhorar a capacidade física. Tratam-se de medidas simples, mas que deverão ser
adotadas de forma constante:

- Promoção de uma alimentação saudável;


- Promoção da prática de atividade física;
- Visitar periodicamente o Médico de Família, e ter um papel proativo no diagnóstico e prevenção da doença;
- Eliminar possíveis fontes de risco no ambiente/contexto;
- Remover barreiras físicas;
- Promover a participação em associações e organizações na comunidade;
- Ouvir, compreender e respeitar as opiniões do idoso…

Garantir dignidade ao processo de prestação de cuidados!

Raquel Azevedo Freitas – INTERVENÇÃO MULTIDISCIPLINAR NAS DEMÊNCIAS 06/01/2020 104


Demências: a procura de apoio/respostas sociais

 A procura de apoio/respostas surge:

 Num momento onde é percetível a falta de controlo da situação por parte do potencial cuidador;
 Numa fase pouco estável (ainda não está formalizado o processo de diagnóstico);
 Onde é notória a falta de informação e conhecimento sobre este domínio (saúde mental);
 Escassez de recursos;
 Perceção da necessidade de mudanças, acompanhada de resistência;
 Pouca concentração nas adptações a realizar, mas antes na procura de responsáveis;
 Não raras vezes têm tempo extremamente limitado para a institucionalização/início de
intervenção pelos cuidadores formais.

Raquel Azevedo Freitas – INTERVENÇÃO MULTIDISCIPLINAR NAS DEMÊNCIAS 06/01/2020 105


Dinâmica de Grupo

 “O Testemunho”

Raquel Azevedo Freitas – INTERVENÇÃO MULTIDISCIPLINAR NAS DEMÊNCIAS 106


O cuidador e os papéis a assumir

 O surgimento da Demência num familiar ou pessoa relevante pode implicar para o


cuidador ter de aceitar uma inversão de papéis.

 Além desta inversão de funções, o prestador de cuidados vai ter de assumir papéis
múltiplos:

- No diagnóstico;
- Na recolha de informação;
- No apoio moral e psicológico;
- No acompanhamento terapêutico;
- No apoio administrativo;

Raquel Azevedo Freitas – INTERVENÇÃO MULTIDISCIPLINAR NAS DEMÊNCIAS 107


Os sentimentos e as dificuldades do cuidador

 Um diagnóstico de Demência altera o percurso de vida de toda a


família.
 Quanto menos informação se tiver sobre a doença, maior pode ser o
medo e o sentimento de desespero.
 Alguns dos sentimentos que o cuidador pode experienciar são:
 Sofrimento: a pessoa com Demência torna-se numa pessoa diferente,
que o cuidador já não reconhece;
 Revolta: O cuidador pode enfrentar sentimentos de frustração e não
compreender porque é que esta situação aconteceu com o seu ente
querido. Pode ainda sentir-se revoltado por ter de ser ela a cuidar da
pessoa e por não obter as respostas e ajudas que necessita de outras
pessoas ou instituições;

Raquel Azevedo Freitas – INTERVENÇÃO MULTIDISCIPLINAR NAS DEMÊNCIAS 108


Os sentimentos e as dificuldades do cuidador

 Alguns dos sentimentos que o cuidador pode experienciar são:


 Embaraço/Vergonha: a pessoa que cuida por vezes tem vergonha dos
comportamentos da pessoa com Demência, isolando-se do mundo (evita sair, não
convida pessoas para ir a sua casa, etc.).
 Culpa: O cuidador pode experimentar sentimentos de culpa por vários motivos, tais
como, a forma com trata a pessoa, a vergonha que sente pelo comportamento da
mesma, o facto de por vezes não ter paciência, não desejar a responsabilidade que
tem, ter internado a pessoa, etc.

Raquel Azevedo Freitas – INTERVENÇÃO MULTIDISCIPLINAR NAS DEMÊNCIAS 109


Como apoiar o cuidador

 Há pequenos comportamentos/instruções que podemos emitir para apoiar o


cuidador:
 Escuta ativa (acalmar sem desvalorizar);
 Informar;
 Convidar a participar em atividades da instituição;
 Apelar à manutenção de macanismos de coping (fazer atividades de que lhe
dão prazer);
 Manter-se em boa forma física e com alimentação equilibrada;
 Ser recetivo à ajuda/reconhecer limitações;
 Tentar descansar e abstrair-se;

Raquel Azevedo Freitas – INTERVENÇÃO MULTIDISCIPLINAR NAS DEMÊNCIAS 110


Intervenção nas Demências – o cuidar

 Cuidar de uma pessoa com demência é um desafio que exige enorme capacidade
de dádiva, adaptação e criatividade, mas pode ser uma atividade extremamente
recompensadora;
 Os objetivos do cuidar vão-se modificando e adaptando ao curso/evolução da
patologia (doença);
 O cuidador do doente com demência necessita dominar técnicas e estratégias
complexas de comunicação, de gestão de problemas e comportamentos difíceis.
Trata-se, assim, de uma atividade de elevada diferenciação e sujeita a um
grande risco de sobrecarga.

Raquel Azevedo Freitas – INTERVENÇÃO MULTIDISCIPLINAR NAS DEMÊNCIAS 111


Intervenção nas Demências:
A necessidade de cuidado

 Durante a evolução da demência, vai-se verificando perda progressiva de autonomia:

 Nas fases iniciais da doença, é possível ao doente assegurar a totalidade do seu auto
cuidado e bastar-se a si próprio. No entanto, à medida que a doença evolui, pode passar a
necessitar de apoio esporádico de um cuidador familiar, que apoie nas atividades
instrumentais de vida diária, como fazer compras ou preparar as refeições;
 A partir de determinado momento, passa a ser necessária a presença de um cuidador
permanente no domicílio, quer devido à diminuição da autonomia, quer por motivos de
segurança (por exemplo, risco de se perder ou de cair).
 Em momentos de agravamento sintomático, na presença de problemas de saúde graves ou
por exaustão do cuidador principal, pode ser necessária a institucionalização temporária.

Raquel Azevedo Freitas – INTERVENÇÃO MULTIDISCIPLINAR NAS DEMÊNCIAS 112


Demências:
Intervenção não farmacológica

 A intervenção não-farmacológica tem demonstrado eficácia nas alterações associadas


ao envelhecimento e doenças degenerativas como a Doença de Alzheimer. Em
combinação com as intervenções farmacológicas, pretende atrasar o aparecimento de
manifestação da doença e otimizar o controlo de sintomas.

 Cuidados diretos e competências relacionais;


 Manutenção da dignidade e auto-estima;
 Comunicação eficaz;
 Promoção da autonomia;
 Atividades da Vida Diária (alimentação, higiene, vestuário, controlo de esfíncteres e
deambulação).

Raquel Azevedo Freitas – INTERVENÇÃO MULTIDISCIPLINAR NAS DEMÊNCIAS 113


Demências:
Intervenção não farmacológica

 Cuidados Diretos e Competências Relacionais – princípios gerais:


 Estabelecer rotinas diárias claras e simples;
 Manter um ambiente familiar e com referências conhecidas;
 Atividade física, nutrição adequada, boa saúde física e socialização são importantes para
pessoas com demência;
 Permitir e estimular o auto cuidado de forma adequada às capacidades;
 Evitar o perigo, por exemplo, removendo objetos perigosos;
 Sempre que surgem comportamentos inesperados ou perda de capacidades, contactar o
médico assistente.
 Cuidar do cuidador.

Raquel Azevedo Freitas – INTERVENÇÃO MULTIDISCIPLINAR NAS DEMÊNCIAS 114


Demências:
Intervenção não farmacológica

 Manter a Dignidade e Auto-estima – princípios gerais:

 Os doentes com demência tendem a ser tratados de forma relativamente uniformizada.


Devido às dificuldades de comunicação impostas pela doença, muitas vezes entende-se
que o doente deixou de ser sensível à manifestação de respeito e dignidade.
 Na realidade, porém, o doente mantém-se sensível à forma como é tratado, até estádios
muito avançados da doença:
 Reconhecer e respeitar a história de vida;
 Valorizar e maximizar as competências que ainda existem;
 Estimular a autonomia;
 Ouvir a pessoa na tomada de decisões que a afetam, sempre que possível;
 Relacionar-se com a pessoa de forma respeitosa, evitando o paternalismo e a infantilização;
 Adaptar a abordagem à evolução da doença.

Raquel Azevedo Freitas – INTERVENÇÃO MULTIDISCIPLINAR NAS DEMÊNCIAS 115


Demências:
Intervenção não farmacológica

 Comunicação Eficaz – princípios gerais:

 A comunicação com uma pessoa com demência é um desafio complexo;

 Existem múltiplos entraves à comunicação por parte da pessoa com demência: alterações do
raciocínio, dificuldades de expressão e compreensão de linguagem, alterações da atenção,
alterações de comportamento, entre outros;

 Melhorar a capacidade de comunicação pode tornar o cuidar menos difícil e, provavelmente,


melhorará a qualidade do relacionamento com a pessoa doente.

Raquel Azevedo Freitas – INTERVENÇÃO MULTIDISCIPLINAR NAS DEMÊNCIAS 116


Demências:
Intervenção não farmacológica

 Princípios gerais que favorecem a comunicação com uma pessoa com


demência:

 Estabelecer um ambiente que favoreça a comunicação (comunicação verbal e não verbal);


 Obter/captar a atenção da pessoa;
 Manter o contacto visual;
 Transmitir a mensagem de forma clara;
 Colocar questões simples;
 Estar atento à comunicação não-verbal;

Raquel Azevedo Freitas – INTERVENÇÃO MULTIDISCIPLINAR NAS DEMÊNCIAS 117


Demências:
Intervenção não farmacológica

 Promoção da autonomia:
 A demência compromete a autonomia.
 Na fase inicial, ficam comprometidas as atividades instrumentais de vida diária;
 Com a evolução da doença, começam a surgir dificuldades nas tarefas/Atividades básicas
da Vida Diária (AVD´s).
 As dificuldades nas A.V.D. situam-se a vários níveis:
• Iniciar a tarefa;
• Manter a atenção;
• Localizar os objetos;
• Utilizar corretamente os utensílios;
• Manter a segurança;
• Terminar a tarefa.

Raquel Azevedo Freitas – INTERVENÇÃO MULTIDISCIPLINAR NAS DEMÊNCIAS 118


Demências:
Intervenção não farmacológica

 Como promover/estimular a autonomia nas AVD?


 Escolher o momento e o local adequado, de preferência respeitando uma rotina;
 Preparar para a atividade;
 Dividir a tarefa e orientar passo a passo;
 Orientar na execução;
 Adequar a linguagem verbal;
 Linguagem não-verbal;
 Ajuda física – mão na mão;
 Encorajar a participação;
 Facilitar as escolhas reduzindo as opções;

Se encontrar resistência, não forçar!

Raquel Azevedo Freitas – INTERVENÇÃO MULTIDISCIPLINAR NAS DEMÊNCIAS 119


Demências:
Intervenção não farmacológica

 Alimentação:
 Múltiplos fatores contribuem para que a pessoa com demência diminua a sua ingestão
alimentar, sobretudo com a progressão da doença:
• Diminuição do apetite;
• Apatia e diminuição da iniciativa;
• Não reconhecer a necessidade de se alimentar e de beber;
• Problemas dentários;
• Alteração do paladar;
• Agitação que provoca a interrupção da refeição.

Raquel Azevedo Freitas – INTERVENÇÃO MULTIDISCIPLINAR NAS DEMÊNCIAS 120


Demências:
Intervenção não farmacológica

 Alimentação:
 Estratégias para melhoria da ingestão alimentar:
 Adequar a dieta ao gosto e hábitos do doente;
 Variar os alimentos e sabores (utilizar adoçantes, especiarias, alimentos frios);
 Ter em atenção a consistência (usar espessante, pudins, gelatinas);
 Usar preferencialmente alimentos que possam ser manipulados com a mão;
 Usar material adaptado às necessidades do doente (pratos, talheres);
 Fazer várias pequenas refeições, em vez de poucas refeições abundantes;
 Adicionar leite em pó à sopa ou às sobremesas, como reforço nutricional;
 Adicionar pequenas quantidades de sumo de fruta à água, para reforçar a ingestão de água;
 Ponderar suplementos nutricionais específicos;
 Tentar manter um ambiente agradável;
 Se possível, não comer no quarto;
 Utilizar o toque, dialogar ou cantar.

Raquel Azevedo Freitas – INTERVENÇÃO MULTIDISCIPLINAR NAS DEMÊNCIAS 121


Demências:
Intervenção não farmacológica

 Vestir/despir:
 Vestir-se é uma atividade que se torna difícil com a progressão do processo demencial. De
forma a facilitar o vestir, é recomendável:
 Facilitar a escolha do vestuário reduzindo as opções (inicialmente, retirar roupa pouco
usada do armário; em fases mais avançadas, apresentar duas peças de roupa que
possam ser escolhidas em alternativa);
 Escolher roupa confortável e prática que seja fácil de vestir (por exemplo, com fechos e
velcros em vez de botões);
 Estimular o uso de acessórios e adereços (permite a estimulação cognitiva e proporciona
reminiscências).

Raquel Azevedo Freitas – INTERVENÇÃO MULTIDISCIPLINAR NAS DEMÊNCIAS 122


Demências:
Intervenção não farmacológica

 Higiene:
 A pessoa com demência frequentemente deixa de perceber o que é uma higiene adequada
(como lavar os dentes, tomar banho ou mudar a roupa).
 A participação de terceiros na higiene pessoal pode ser sentida como humilhante ou
ameaçadora, pois as atividades de higiene são de natureza eminentemente privada.
 Para facilitar os cuidados de higiene, há que seguir os seguintes passos e recomendações:
 Preparar a pessoa para cada passo (descrever o que vai fazer, escolher o momento e o local
adequado);
 Promover a privacidade;
 Preparar as condições ideais para o banho/duche (temperatura do ambiente e da água, colocar todos
os utensílios necessários em local facilmente acessível);
 Verificar as condições de segurança na casa de banho e nunca deixar a pessoa sozinha;

Raquel Azevedo Freitas – INTERVENÇÃO MULTIDISCIPLINAR NAS DEMÊNCIAS 123


Demências:
Intervenção não farmacológica

 Higiene:
 Evitar ruídos e conversas cruzadas;
 Despir apenas no local do duche;
 Descrever o que está a fazer;
 Encorajar a participação do doente;
 Diminuir a força do duche, colocando uma mão para a água correr docemente;
 Lavar a cara e cabeça em último;
 Utilizar a música;
 Ponderar realizar a higiene com toalha molhada, sem água corrente, se encontrar elevada resistência;
 Se lavar o cabelo for uma atividade que provoca muita resistência, ponderar separar o duche da
lavagem do cabelo.

Raquel Azevedo Freitas – INTERVENÇÃO MULTIDISCIPLINAR NAS DEMÊNCIAS 124


Demências:
Intervenção não farmacológica

 Controlo dos esfíncteres:


 A perda de controlo urinário ou intestinal é frequente com a progressão da demência. Muitas
vezes, os acidentes resultam de fatores ambientais: por exemplo, a pessoa pode não se
lembrar onde fica a casa de banho ou não consegue chegar lá a tempo.

 Assim, é importante:
 Estabelecer uma rotina de utilização do WC. Recordar a pessoa ou levá-la ao WC de 2 em 2 horas;
 Usar roupa apropriada, fácil de vestir e despir (por exemplo, com elástico ou velcro na cintura) e
facilmente lavável;
 Usar sinais com ilustrações para indicar a porta do WC;

Raquel Azevedo Freitas – INTERVENÇÃO MULTIDISCIPLINAR NAS DEMÊNCIAS 125


Demências:
Intervenção não farmacológica

 Controlo dos esfíncteres:

 Reforçar a ingestão de líquidos, de forma a evitar a desidratação. Diminuir, contudo, a


ingestão de água antes de deitar;
 Introduzir, no quarto, dispositivo de auxílio (arrastadeira, urinol, cadeira sanitária…);
 Ponderar a utilização de fralda. O início do uso da fralda deve ser abordado com cuidado
e discutido com o doente e família, de forma a não provocar vergonha ou revolta;
 Usar resguardos de cama.

Raquel Azevedo Freitas – INTERVENÇÃO MULTIDISCIPLINAR NAS DEMÊNCIAS 126


Demências:
Intervenção não farmacológica

 Deambulação:

 As pessoas com demência tendem a andar, aparentemente sem motivo e sem finalidade ou
objetivo.
 Assim, é importante:
 Reservar tempo durante o dia para exercício regular de forma a minimizar a inquietude;
 Instituir medidas de segurança para que possa deambular sem risco de queda ou risco
de sair de casa e se perder (por exemplo, retirar tapetes de casa, de forma a não
tropeçar; colocar proteções em escadas e fechaduras nas portas);

Raquel Azevedo Freitas – INTERVENÇÃO MULTIDISCIPLINAR NAS DEMÊNCIAS 127


Demências:
Intervenção não farmacológica

 Deambulação:

 Criar barreiras visuais para evitar que a pessoa se afaste de determinadas zonas
(cortina, tapete preto no chão, sinal de stop ou proibido podem ser interpretados como
barreiras);
 Supervisionar a deambulação;
 A pessoa com demência deve trazer sempre consigo identificação com nome e pessoa a
contactar, de forma a poder ser ajudada se se perder.

Raquel Azevedo Freitas – INTERVENÇÃO MULTIDISCIPLINAR NAS DEMÊNCIAS 128


Neuroestimulação:
Intervenção cognitiva, comportamental e funcional

Raquel Azevedo Freitas – Intervenção Multidisciplinar nas Demências 129


Neuroestimulação
Intervenção cognitiva, comportamental e funcional

 A Neuroestimulação, como uma área de intervenção cognitiva, comportamental e


funcional, representa uma das possibilidades de intervenção não-farmacológica;

 Pode ser realizada em contexto institucional, ou em contexto domiciliário;

 A estimulação cognitiva pretende que os doentes com alterações cognitivas atinjam


um nível otimizado de funcionamento e bem-estar, pela recuperação, redução e/ou
controlo dos défices cognitivos, comportamentais e funcionais resultantes da doença
neurológica.

Raquel Azevedo Freitas – Intervenção Multidisciplinar nas Demências 130


Neuroestimulação
Intervenção cognitiva, comportamental e funcional

 Qualquer Plano de Estimulação deve basear-se nas características clínicas/fragilidades e


desenvolvimento do processo (fase);

 Em qualquer fase da demência, particularmente nos estádios inicias, é importante manter


a estimulação cognitiva, seja esta numa vertente de envolvimento nas atividades do dia-a-
dia, manutenção das atividades de lazer e intervenção cognitiva estruturada;

Raquel Azevedo Freitas – Intervenção Multidisciplinar nas Demências 131


Neuroestimulação
Intervenção cognitiva, comportamental e funcional

 Deve, impreterivelmente, considerar-se diversos fatores:


• Estádio/fase da doença;
• Estado clínico geral do paciente;
• Presença de alterações neuropsiquiátricas;
• Tratamento farmacológico;
• Funcionamento cognitivo e personalidade prévios;
• Nível Sociocultural;
• Família e relações familiares;
• Institucionalização;
• Reserva cognitiva.

Raquel Azevedo Freitas – Intervenção Multidisciplinar nas Demências 132


Neuroestimulação
Intervenção cognitiva, comportamental e funcional

 A reserva cognitiva é influenciada positivamente por diversos fatores:


 Elevados níveis de escolaridade;
 Ocupações diversificadas;
 Presença de atividades de lazer/estimulação mental;

Pessoas com uma elevada reserva cognitiva, conseguem compensar, numa fase inicial,
dificuldades resultantes do processo demencial, atrasando assim o impacto funcional
dos primeiros sintomas.

Raquel Azevedo Freitas – Intervenção Multidisciplinar nas Demências 133


Neuroestimulação
Intervenção cognitiva, comportamental e funcional

 Intervenção Cognitiva: Princípios Gerais


 Início precoce;
 Diversidade e dinamismo;
 Interdisciplinaridade;

 Pressupostos:
 Aprendizagem sem erros;
 Recuperação espaçada;
 Encadeamento;

Raquel Azevedo Freitas – Intervenção Multidisciplinar nas Demências 134


Neuroestimulação - Principais Terapias

 Terapia da Validação (TV);


 Terapia de Reminiscência (TR);
 Terapia de Orientação para a Realidade (TOR);

Raquel Azevedo Freitas – Intervenção Multidisciplinar nas Demências 135


Neuroestimulação - Principais Terapias

 Terapia da Validação – Pressupostos:

 Todos as pessoas são únicas e devem ser tratados como indivíduos;


 Todas as pessoas têm valor, mesmo quando muito desorientadas;
 Existe capacidade de raciocínio por trás da desorientação dos indivíduos;
 O comportamento nos indivíduos idosos não é apenas o resultado de alterações
anatómicas, mas também o produto das alterações físicas, sociais e psicológicas que
ocorreram ao longo da vida;
 As pessoas idosas não podem ser forçadas a alterar o seu comportamento;
 As pessoas idosas devem ser aceites sem julgamentos;

Raquel Azevedo Freitas – Intervenção Multidisciplinar nas Demências 136


Neuroestimulação - Principais Terapias

 Terapia da Validação – Pressupostos:

 Determinadas tarefas estão associadas a fases de vida, pelo que a incapacidade de as


realizar numa altura pode levar ao aparecimento de problemas psicológicos;
 Quando a memória recente falha, os idosos procuram restabelecê-la pela evocação de
memórias antigas. Quando a vista falha, utilizam a visão mental. Quando o ouvido falha,
escutam os sons do passado;
 Os sentimentos dolorosos diminuem quando são expressos, compreendidos e validados por
um ouvinte confiável;
 A empatia constrói confiança, reduz a ansiedade e restitui a dignidade.

Raquel Azevedo Freitas – Intervenção Multidisciplinar nas Demências 137


Neuroestimulação - Principais Terapias

 Terapia da Validação – Em que consiste:

 Centrar-se no indivíduo;
 Uso de palavras não ameaçadoras (por ex. quem, quando, onde mas não porquê);
 Manter contacto visual genuíno;
 Manter um tom de voz claro, baixo e afetuoso;
 Identificar e utilizar o sentido mais desenvolvido (preferido) do doente;
 Utilizar música como desencadeante de recordações agradáveis.

Raquel Azevedo Freitas – Intervenção Multidisciplinar nas Demências 138


Neuroestimulação - Principais Terapias

 Terapia da Validação – Benefícios:

 Recuperação da autoestima;
 Redução da necessidade de restritivos físicos e farmacológicos;
 Minimização do grau de alheamento em relação ao exterior;
 Promoção da comunicação e interação com os outros;
 Redução do stress e ansiedade;
 Ajuda na resolução de assuntos inacabados;
 Maximização da autonomia.

Raquel Azevedo Freitas – Intervenção Multidisciplinar nas Demências 139


Neuroestimulação - Principais Terapias

 Terapia da Reminiscência – Pressupostos:

 Técnica terapêutica que pode ser definida como a evocação de acontecimentos de vida de
uma pessoa;
 Geralmente é realizado em grupos terapêuticos, onde os participantes são encorajados a
falar acerca dos acontecimentos passados, auxiliados por fotografias, música, vídeos, etc.;
 Podem/devem ser efetuadas sessões com familiares / cuidadores para aprendizagem das
técnicas de reminiscência.

Raquel Azevedo Freitas – Intervenção Multidisciplinar nas Demências 140


Neuroestimulação - Principais Terapias

 Terapia da Orientação para a Realidade – Pressupostos:

 Inicialmente desenvolvida para a reabilitação de veteranos de guerra, o programa TOR


consiste numa intervenção psicossocial para reabilitação de pessoas com perda de
memória, episódios confusionais e desorientação espacial, temporal e pessoal;
 A sua popularidade reside no facto de ser uma técnica simples, não dispendiosa e não
requerer pessoal especializado.
 Objetivo: reorientação do doente pela estimulação contínua:
 TOR informal;

 TOR formal (ou em classes);

Raquel Azevedo Freitas – Intervenção Multidisciplinar nas Demências 141


Neuroestimulação – Outras Intervenções

 Aromaterapia:
 É, das terapias “alternativas”, a mais divulgada nos serviços de saúde britânicos e a mais
aplicada a pacientes com demência, sobretudo quando as capacidades de comunicação
estão gravemente comprometidas;
 Utiliza óleos essenciais que são referidos como tendo um efeito calmante que promove o
relaxamento e o sono, o alívio da dor e a diminuição dos sintomas depressivos.
 Os óleos são utilizados na água do banho, nas massagens ou evaporados (queimadores);

 A nível nacional há algumas atividades relacionadas com o paladar, que complementam


esta intervenção;

Raquel Azevedo Freitas – Intervenção Multidisciplinar nas Demências 142


Neuroestimulação – Outras Intervenções

 Musicoterapia:

 Técnica em que se utiliza a música ou elementos musicais (som, ritmo, melodia e harmonia)
como meio de promover e facilitar a comunicação, relação, aprendizagem, mobilização,
expressão, organização, ou outros objetivos terapêuticos (World Federation of Music
Therapy).
 Nos pacientes com demência, os objetivos incluem estimular a interação social, diminuir a
agitação e lidar com problemas emocionais.
 A música é utilizada de forma ativa (tocar um instrumento) ou recetiva (dançar, mover,
cantar).

Raquel Azevedo Freitas – Intervenção Multidisciplinar nas Demências 143


Neuroestimulação – Outras Intervenções

 Snoezelen:
 Técnica de estimulação multissensorial, introduzida nos anos 70, para sujeitos com défices de
aprendizagem;
 Utiliza uma variedade de materiais capazes de estimular os sentidos da visão, audição, tato, olfato e paladar,
tais como efeitos de luz, diferentes superfícies palpáveis, música meditativa, cheiro de óleos relaxantes.
 Em doentes com demência, opta-se por um ambiente menos exigente a nível cognitivo.

 Objetivos:
 a) Promover comportamentos positivos;

 b) Reduzir os comportamentos desadaptados;

 c) Promover o humor e afeto positivos;

 d) Facilitar a intenção e a comunicação;

 e) Promover a comunicação com o cuidador e diminuir o stress.

Raquel Azevedo Freitas – Intervenção Multidisciplinar nas Demências 144


“Ainda que os teus passos pareçam inúteis, vai abrindo
caminhos, como a água que desce contando a
montanha. Outros te seguirão…”

Saint-Exupéry

Raquel Azevedo Freitas – INTERVENÇÃO MULTIDISCIPLINAR NAS DEMÊNCIAS 145


Na prática…

 Em grupos de 3/4 elementos das


equipas multidisciplinares, expliquem
como organizariam um dia de
prestação de cuidados/ promoção e
estimulação das AVD.

 Sinalizem períodos em que poderão


ter lugar outras atividades (tendo em
conta o que já foi abordado).

Raquel Azevedo Freitas – INTERVANÇÃO MULTIDISCIPLINAS NAS DEMÊNCIAS 146


Eustress versus distress;
Atores versus autores;

Raquel Azevedo Freitas – INTERVENÇÃO MULTIDISCIPLINAR NAS DEMÊNCIAS 147


Stress – análise conceptual

 “(…) transação entre pessoas e o meio ambiente”

(Lazarus & Launier ,1979)

 “O Stress tem início quando se sente que o grau de exigência que dada
circunstância lhe cria é superior à sua capacidade de resposta e aos meios
que dispõe para a ultrapassar com êxito”

(Almeida, 1996)

Raquel Azevedo Freitas – INTERVENÇÃO MULTIDISCIPLINAR NAS DEMÊNCIAS 148


Categorias indutoras de Stress
(Lazarus & Folkman, 1984)

 Ameaça;

 Dano;

 Desafio.

Raquel Azevedo Freitas – INTERVENÇÃO MULTIDISCIPLINAR NAS DEMÊNCIAS 149


Stress – sintomatologia

Raquel Azevedo Freitas – INTERVENÇÃO MULTIDISCIPLINAR NAS DEMÊNCIAS 150


Burnout – análise conceptual

 “(…) estado de fadiga ou de frustração surgido pela devoção por uma causa, por uma
forma de vida ou por uma relação que fracassou no que respeita à recompensa
esperada”;

 “(…) exaustão dos profissionais de ajuda, traduzida num conjunto de sintomas


relacionados com a fadiga física e a desilusão emocional”
(Freudenberg, 1974)

 “Experiência subjetiva de cansaço emocional, de despersonalização e de baixa


competência profissional, provocada por cuidados contínuos e preocupações com os
outros.”
(Maslach, 1982)

Raquel Azevedo Freitas – INTERVENÇÃO MULTIDISCIPLINAR NAS DEMÊNCIAS 151


Burnout - prevalência

Estudo de Marcelino & Figueiras (2007):

 Emergência pré-hospitalar como área com alto stress - burnout ;


 Bombeiros profissionais Alemanha, 1998 – em 18,2%
 Tripulantes de ambulância Reino Unido, 1999 –em 21%
 Tripulantes de ambulância Escócia, 2001 – PTSD em 30%, burnout e baixa satisfação no trabalho
 Tripulantes de ambulância Suécia, 2003 – PTSD em 15,2% e 61,6% já foram expostos a
situações traumáticas
 Paramédicos Toronto – PTSD em 25 a 29%
 Bombeiros voluntários Portugal, 2004 – PTSD em 3,9%
 Bombeiros Portugal, 2005 – PTSD em 7,4%

Raquel Azevedo Freitas – INTERVENÇÃO MULTIDISCIPLINAR NAS DEMÊNCIAS 152


Burnout

Fontes de stress vivenciadas no trabalho (Outtlinger, 1998):

 Acidente com colegas de trabalho em serviço;


 Prestação de ajuda a jovens seriamente feridos ou em estado de óbito;
 Prestação de auxílio/cuidados a pessoas continuamente fragilizadas;
 Enfrentar problemas sobre os quais não se tem controlo;
 Colocar a vida em risco para outros;
 O desespero de não conseguir salvar alguém e pensar que não se faz o mais
correto ou que se podia ter feito mais;

Raquel Azevedo Freitas – INTERVENÇÃO MULTIDISCIPLINAR NAS DEMÊNCIAS 153


Circunstâncias específicas indutoras de Stress

Fontes de stress vivenciadas no trabalho (Outtlinger, 1998):

 Acontecimentos traumáticos;
 Acontecimento significativos de vida;
 Situações crónicas indutoras de stress;
 Micro indutores de stress;
 Macro indutores de stress;
 Acontecimentos desejados que não ocorrem.

Raquel Azevedo Freitas – INTERVENÇÃO MULTIDISCIPLINAR NAS DEMÊNCIAS 154


Burnout: alvo de intervenção

1. “procurar o sapato certo para o pé certo”

2. “adaptar o sapato ao pé”

3. “fortalecer o pé para se adaptar ao sapato”

(Metáfora: adaptado de Kompier, Levi, 1994)

Nome do Formador - TÍTULO DA FORMAÇÃO 155


Perfil dos intervenientes/cuidadores de doentes
portadores de quadros demenciais

 “Auxilium in Periculo”

 “Nosce te ipsum”

 “Multa Paucis”

(Bandeira, R., 2008, p. 19)

Nome do Formador - TÍTULO DA FORMAÇÃO 156


 Atividade Prática…

“Siga as minhas instruções”

Raquel Azevedo Freitas – Intervenção Multidisciplinar nas Demências 157


Emergências
Comportamentais
requerem uma
abordagem
diferenciada

Nome do Formador - TÍTULO DA FORMAÇÃO 158


Crise Comportamental

 “Qualquer interrupção grave ao equilíbrio de um indivíduo,


família ou grupo… Uma disfunção temporária do estado
psicológico com falência dos mecanismos de coping
habituais”

Jeffrey Michell, Phd

Raquel Azevedo Freitas – INTERVENÇÃO MULTIDISCIPLINAR NAS DEMÊNCIAS 159


Episódio de Crise Comportamental

A crise é uma resposta aguda em que:

- A homeostase psicológica é interrompida;


- Os mecanismos de resposta/resolução falharam;
- Há evidências de sofrimento humano e/ou disfunção;
(Everly, 2000)

Uma crise é sempre real para a pessoa que a experiencia!

Raquel Azevedo Freitas – INTERVENÇÃO MULTIDISCIPLINAR NAS DEMÊNCIAS 160


“Uma crise é sempre real para a pessoa que a
experiencia!”

Nome do Formador - TÍTULO DA FORMAÇÃO 161


Crise Comportamental - Causas

 Intrapsíquica;
 Contextual (interpessoal, ambiental ou situacional);
 Orgânica;

Raquel Azevedo Freitas – INTERVENÇÃO MULTIDISCIPLINAR NAS DEMÊNCIAS 162


Episódio de Crise Comportamental
Etiologia Intrapsíquica

 Alterações comportamentais resultantes do funcionamento mental:

– Durante um processo;
– Espectro alargado de alterações e manifestações;
– Episódio agudo de condições psiquiátricas prévias;

Raquel Azevedo Freitas – INTERVENÇÃO MULTIDISCIPLINAR NAS DEMÊNCIAS 163


Episódio de Crise Comportamental
Etiologia Intrapsíquica (exemplos)

 Quadros demenciais;
 Esquizofrenia e estados psicóticos;
 Perturbações do humor;
 Perturbações da ansiedade;
 Delirium
 Perturbações do sono
 Fobias
 Síndrome de explosão de raiva/descontrolo dos Impulsos

Raquel Azevedo Freitas – INTERVENÇÃO MULTIDISCIPLINAR NAS DEMÊNCIAS 164


Episódio de Crise Comportamental
Episódios de crise com etiologia Intrapsíquica

 Manifestações:
- Atos homicidas;
- Reação paranóide;
- Fobia;
- Histeria de conversão;
- Desorientação;
- Desorganização;
- Depressão;
- Agitação;
- Estado catatónico;
- Violência;
- Atos suicidas;

Raquel Azevedo Freitas – INTERVENÇÃO MULTIDISCIPLINAR NAS DEMÊNCIAS 165


Episódio de Crise Comportamental

“Os seres humanos não loucos, os mais poderosos e


inteligentes, os mais reconhecidamente escorreitos e
desembaraçados, historicamente pensaram que
encarcerando os loucos encarceravam a loucura…”

(F. Passos,1983)

Raquel Azevedo Freitas – INTERVENÇÃO MULTIDISCIPLINAR NAS DEMÊNCIAS 166


Episódio de Crise Comportamental
Etiologia Contextual

 Reações a estímulos externos à pessoa;


 Resultado de incidentes críticos;
 Acontecimentos específicos;
 Grande amplitude de comportamentos alterados;

Raquel Azevedo Freitas – INTERVENÇÃO MULTIDISCIPLINAR NAS DEMÊNCIAS 167


Episódio de Crise Comportamental
Etiologia Contextual

 Incidente crítico
“Evento que tem o potencial de afetar os mecanismos normais de adaptação de um
indivíduo.”

“Eventual desequilíbrio psicológico e uma diminuição do seu funcionamento


adaptativo normal”
Everly & Mitchell (1999)

Raquel Azevedo Freitas – INTERVENÇÃO MULTIDISCIPLINAR NAS DEMÊNCIAS 168


Episódio de Crise Comportamental
Etiologia orgânica

 Perturbação do estado físico/bioquímico produz alterações significativas no


comportamento;

 Compromisso de áreas específicas do cérebro promovem diferentes alterações


comportamentais;

Raquel Azevedo Freitas – INTERVENÇÃO MULTIDISCIPLINAR NAS DEMÊNCIAS 169


Episódio de Crise Comportamental
Etiologia orgânica (exemplos)

 Demência;
 Intoxicação alcoólica;
 Síndrome de Korsakoff;
 Abuso de substâncias;
 Trauma;
 Condições médicas:
– Hipo/Hipertermia;
– Diabetes;
– Alterações do equilíbrio electrolítico;

Raquel Azevedo Freitas – INTERVENÇÃO MULTIDISCIPLINAR NAS DEMÊNCIAS 170


Episódio de Crise Comportamental

“Crisis intervention, as it has evolved over the last five decades, has clearly
demonstratedits effectiveness as a tool to reduce human distress.
Nevertheless, as with any effort to alter humanbehavior, there are risks
associated with crisis intervention. One such risk is that of premature
intervention.”

Everly, G., (2000). International Journal of Emergency Mental Health, 2000, 2(1), p.1.

Raquel Azevedo Freitas – INTERVENÇÃO MULTIDISCIPLINAR NAS DEMÊNCIAS 171


Objetivos da Intervenção primária em situação
de crise comportamental

 Oferecer proteção e segurança;


 Proporcionar, de forma imediata, o alívio dos
sintomas agudos de stress;
 Prevenir reações retardadas de stress;

Raquel Azevedo Freitas – INTERVENÇÃO MULTIDISCIPLINAR NAS DEMÊNCIAS 172


Estratégias básicas de intervenção em crise

 Proteger;
 Dirigir;
 “Conectar”;
 Efetuar Triagem;
 Investir nos cuidados a sintomas agudos;

Raquel Azevedo Freitas – INTERVENÇÃO MULTIDISCIPLINAR NAS DEMÊNCIAS 173


Guia de intervenção em crise
Entrevista de Emergência (apoio individual)

 Abordagem e Identificação

- Apresentar-se;
- Explicar a razão da sua presença no local;
- Manter postura calma;
- Manter voz baixa e continuada

Raquel Azevedo Freitas – INTERVENÇÃO MULTIDISCIPLINAR NAS DEMÊNCIAS 174


Guia de intervenção em crise
Entrevista de Emergência (apoio individual)

 Efetue questões simples e factuais


- “O que aconteceu?”
- “O que o preocupa?
- “Pode falar-me um pouco acerca disso?”

 Demonstrar interesse e preocupação

 Desenvolva a intervenção com perguntas específicas

Raquel Azevedo Freitas – INTERVENÇÃO MULTIDISCIPLINAR NAS DEMÊNCIAS 175


Guia de intervenção em crise
Entrevista de Emergência (apoio individual)

 Respeite necessidades iniciais da pessoa (não minimizar ou negar o


acontecimento)

 Exceção:
- Pessoa dissociou da realidade (descompensação psicológica)

Testar realidade
(Técnicas de “Grounding”)

Raquel Azevedo Freitas – INTERVENÇÃO MULTIDISCIPLINAR NAS DEMÊNCIAS 176


Guia de intervenção em crise
Entrevista de Emergência (apoio individual)

 Técnicas de “Grounding”

- Intervenções que ajudam a manter a pessoa no presente;


- Reorientam a pessoa para o “aqui e agora”
- Ajudam a ganhar focalização mental

Raquel Azevedo Freitas – INTERVENÇÃO MULTIDISCIPLINAR NAS DEMÊNCIAS 177


Guia de intervenção em crise
Entrevista de Emergência (apoio individual)

 Técnicas de “Grounding”
1. Consciencialização cognitiva
- “Onde se encontra agora?”
- “Que dia é hoje?”
- “Em que mês / ano estamos?”
- “Quantos anos tem?”
2. Consciencialização sensorial
- Manter olhos abertos;
- Colocar pés firmes no chão;
- Olhar em volta da sala;
- Notar meio envolvente e detalhes (Ex. “Qual a cor desta sala?”)

Raquel Azevedo Freitas – INTERVENÇÃO MULTIDISCIPLINAR NAS DEMÊNCIAS 178


Guia de intervenção em crise
Entrevista de Emergência (apoio individual)

 Reconhecer e validar sentimentos, pensamentos e reações


- “vejo a sua preocupação!”
- “entendo como se deve ter sentido!”
- “Como se sentiu quando isso ocorreu?
- “Como se sente agora?”

Contudo:

Não deve facilitar ventilação de sentimentos em detalhe

Intervenção em crise = Psicoterapia

Raquel Azevedo Freitas – INTERVENÇÃO MULTIDISCIPLINAR NAS DEMÊNCIAS 179


Guia de intervenção em crise
Entrevista de Emergência (apoio individual)

 Focalizar
- problemas
- necessidades
- prioridades imediatas (necessidades básicas: comida, bebida e agasalho, etc.)

 Avaliar mecanismos de “coping” e fontes de apoio


- Que atitudes tomou a pessoa durante e depois do evento?
- A perceção do evento é realista e correta?
- Como está a lidar com a situação agora?
- Que apoios e recursos estão disponíveis para a pessoa?

Raquel Azevedo Freitas – INTERVENÇÃO MULTIDISICPLINAR NAS DEMÊNCIAS 180


Guia de intervenção em crise
Entrevista de Emergência (apoio individual)

 Ajudar a gerar alternativas


- Planos
- Ações
- Soluções
- Ajude a determinar o que necessita a seguir

 Encorajar a gestão ativa das necessidades


- Desencorajar passividade e dependência

Raquel Azevedo Freitas – INTERVENÇÃO MULTIDISCIPLINAR NAS DEMÊNCIAS 181


Guia de intervenção em crise
Entrevista de Emergência (apoio individual)

 Reforçar funcionamento adaptativo


- Encorajar a falar da experiência;
- Identificar e aceitar como “normal” a reação ao evento;
- Reforçar necessidade de interagir e se apoiar com família e amigos;

 Transmitir confiança de que a pessoa é capaz de tomar decisões, controlar o


seu destino, providenciar as suas próprias necessidades

 Obter informação sobre a pessoa (folha de registo)

Raquel Azevedo Freitas – INTERVENÇÃO MULTIDISCIPLINAR NAS DEMÊNCIAS 182


Guia de intervenção em crise
Entrevista de Emergência (apoio individual)

Comunicar versus Informar

Vias de comunicação

Verbal Não verbal

Nome do Formador - TÍTULO DA FORMAÇÃO 183


A comunicação em contexto de crise
comportamental - componentes paralinguísticos

 Volume;

 Entoação;

 Clareza;

 Tom ou timbre;

 Velocidade.

13/01/2020
Raquel Azevedo Freitas – Intervenção Multidisciplinar nas Demências 184
A comunicação em contexto de crise
comportamental – comunicação não verbal

Diversos estudos realizados colocam em evidência o papel decisivo que


desempenha a comunicação não verbal, tendo maior impacto que a
comunicação verbal:

- 55% do impacto total num processo de comunicação está relacionado com a


expressão facial;
- 38% deve-se ao impacto da voz;
- Apenas 7% se deve ao impacto do conteúdo da linguagem verbal.

13/01/2020
Raquel Azevedo Freitas – Intervenção Multidisciplinar nas Demências 185
A comunicação em contexto de crise
comportamental - componentes paralinguísticos

 Funções da Comunicação Não Verbal:

 Complementa e, por vezes, substitui as comunicações verbais;


 Pode reforçar o que se disse verbalmente e com a mesma intensidade;
 Pode também confirmar ou refutar o que foi dito verbalmente;
 Comunica atitudes, emoções e estados de ânimo;
 A maior parte das comunicações não verbais desencadeiam atitudes
recíprocas no interlocutor, mesmo que não exista consciência das
mesmas.

13/01/2020
Raquel Azevedo Freitas – Intervenção Multidisciplinar nas Demências 186
A comunicação em contexto de crise
comportamental – Comunicação de Suporte

Numa situação de emergência “a comunicação de suporte” é o estilo de comunicação


recomendado.

Este estilo implica que se comunique de forma empática, com preocupação, respeito e
confiança nas capacidades da pessoa afetada, e que se preste informação prática.

Raquel Azevedo Freitas – Intervenção Multidisciplinar nas Demências 187


A comunicação em contexto de crise comportamental
Princípios da Comunicação de Suporte

 Empatia;
 Respeito;
 Autenticidade;
 Postura de “Não Julgamento”;
 Promoção de pensamentos positivos/capacitar;
 Sentido prático;
 Confidencialidade.

Raquel Azevedo Freitas – Intervenção Multidisciplinar nas Demências 188


A comunicação em contexto de crise
comportamental – O que nunca se deve fazer!

 Demonstrar compaixão;
 Não dar importância ao problema;
 Apresentar situações de maior gravidade;
 Atribuir a culpa a terceiros;
 Desviar o problema.

Comentários a evitar:
 “Eu entendo, sei exactamente o que está a sentir”;
 “Você é forte/vai conseguir ultrapassar isso”;
 “Não chore”;
 “Podia ser pior”;
 “Pelo menos você ainda tem…”;
 “Apenas relaxe” ou “Aguente-se”.

Raquel Azevedo Freitas – Intervenção Multidisciplinar nas Demências 189


A comunicação em contexto de crise comportamental
Técnicas de “Paracomunicação”

 Técnicas de “Paracomunicação” (Silva 2010)

Técnicas de “paracomunicação”
– Silêncio
– Recetividade não verbal Questões Fechadas
Técnicas de espelho
– Reafirmação
– Parafrasear Questões Abertas
- Sumarizar
Questões
– Abertas
Questões Fechadas
– Fechadas

Raquel Azevedo Freitas – Intervenção Multidisciplinar nas Demências 190


A comunicação em contexto de crise
comportamental – Abordagem Diferenciada

 Explicação relativa ao episódio de crise (a Crianças):

- Falar ao nível dos olhos;


- Confirmar se compreendem a mensagem;
- Adequar a linguagem;
- Demonstrar respeito e consideração;
- Não abandonar;
- Não impedir que chore;
- Não separar a criança do brinquedo.

Raquel Azevedo Freitas – Intervenção Multidisciplinar nas Demências 191


A comunicação em contexto de crise
comportamental – Abordagem Diferenciada

 Abordagem à vítima (Idosos):

- Ter em atenção aos deficits de visão e audição;


- Sentar junto do idoso;
- Falar devagar e com clareza;
- Não gritar;
- Efetuar perguntas isoladas;
- Manter contacto físico (segurar a mão).

Raquel Azevedo Freitas – Intervenção Multidisciplinar nas Demências 192


A comunicação em contexto de crise
comportamental – Abordagem Diferenciada

 Abordagem à vítima (invisuais):

- Dar a entender que estamos a falar com ele;


- Contactar através da voz e tacto;
- Explicar detalhadamente os procedimentos;
- Não esquecer utensílios de mobilidade (bengala/cão guia).
- Ter em atenção o tom de voz;
- Manter a vítima informada sobre o que acontece à sua volta.

Raquel Azevedo Freitas – Intervenção Multidisciplinar nas Demências 193


A comunicação em contexto de crise
comportamental – Abordagem Diferenciada

 Abordagem à vítima (Deficientes Auditivos):


- Verificar se consegue ler os lábios;
- Manter contacto visual;
- Não virar as costas;
- Manter a boca visível;
- Usar linguagem clara, boa articulação de palavras;
- Em alternativa: usar papel e caneta.

Raquel Azevedo Freitas – Intervenção Multidisciplinar nas Demências 194


Gestão de Comportamentos Difíceis

 Agitação e Perturbação de Sono:

 A agitação pode manifestar-se por irritabilidade, insónia, agressão verbal e física.


Frequentemente, este tipo de problemas de comportamento agrava-se com a progressão da
demência.

 Tipicamente, as pessoas com demência sofrem um agravamento da agitação ao final da


tarde e início da noite, fenómeno conhecido como sundowning.

Raquel Azevedo Freitas – Intervenção Multidisciplinar nas Demências 195


Gestão de Comportamentos Difíceis

 Agitação e Perturbação de Sono – sundowning


 Estratégias:
• Evitar a confrontação;
• Identificar e controlar fatores que podem desencadear agitação;
• Promover o exercício físico, sobretudo durante a manhã;
• Maximizar a exposição à luz do dia;
• Planear o dia para que as atividades mais exigentes e cansativas ocorram durante a
manhã, e durante a tarde decorram atividades estruturadas mas tranquilizantes;
• Manter tranquilidade e silêncio no quarto, durante a noite, com luz de presença;
• Promover o relaxamento físico recorrendo a massagem corporal;
• Assegurar que a medicação se encontra adequada à fase que a pessoa com demência
atravessa.

Raquel Azevedo Freitas – Intervenção Multidisciplinar nas Demências 196


Gestão de Comportamentos Difíceis

 Alucinações e delírios
 Alucinações e delírios podem ocorrer com a evolução da demência. Nestes casos, afirme
de forma calma e clara a sua perceção da situação.

 Estratégias:

• Evite o confronto ou tentar convencer a pessoa de que está errada;


• Distraia-a com outra conversa ou atividade;
• Evite conversas e remova objetos que possam estar na origem da perturbação;

Raquel Azevedo Freitas – Intervenção Multidisciplinar nas Demências 197


Gestão de Comportamentos Difíceis

 Alucinações e delírios

 Estratégias:

• Se a pessoa suspeitar que lhe falta dinheiro, considere permitir-lhe ter pequenas
quantidades de dinheiro numa carteira de mão;
• Quando a pessoa afirma que perdeu ou lhe roubaram algo, ajude a procurar o objeto
perdido e depois distraia com outra atividade;
• Tente perceber os “esconderijos habituais”, onde a pessoa tende a guardar os objetos;
• Explique aos outros familiares ou cuidadores a situação e os procedimentos mais
adequados;
• Tente perceber qual a preocupação da pessoa que estará na origem do comportamento
desajustado;

Raquel Azevedo Freitas – Intervenção Multidisciplinar nas Demências 198


Gestão de Comportamentos Difíceis

 Resistência a cuidados:

 Há muitas pessoas que não gostam de ser tocadas, lavadas ou vestidas e que,
portanto, resistem aos cuidados que lhes são prestados.

 Tente tranquilizar, preparar a pessoa para o procedimento que vai ser realizado,
explicando cada passo previamente;

 Premeie a colaboração com um reforço positivo.

Raquel Azevedo Freitas – Intervenção Multidisciplinar nas Demências 199


Gestão de Comportamentos Difíceis

 Desinibição:

 Podem ocorrer comportamentos de desinibição relacionados ou não com uma


componente sexual.
 É importante ter presente que os comportamentos são resultantes da doença,
identificar os fatores ambientais que desencadeiam a desinibição e procurar evitar
as situações que levam o doente a exteriorizá-los.
 Sempre que se deteta um comportamento deste tipo, pode ser útil reorientar a
atenção.

Raquel Azevedo Freitas – Intervenção Multidisciplinar nas Demências 200


Gestão de Comportamentos Difíceis

 Apatia:

 A apatia pode ser um problema de difícil resolução na pessoa com demência.


 É importante incentivar e apoiar a participação em atividades que sejam do seu agrado
(cozinhar, tratar de um jardim, fazer a barba), elogiando e reforçando positivamente.
 Se a resistência é muito grande, é mais adequado não forçar no momento, mas retomar
mais tarde a sugestão.

Raquel Azevedo Freitas – Intervenção Multidisciplinar nas Demências 201


Situações de Emergência

 Convulsão;
 Asfixia;
 Desmaio.

Raquel Azevedo Freitas – Intervenção Multidisciplinar nas Demências 202


Situações de Emergência

 Convulsão:
 A convulsão (ou ataque epiléptico) é o resultado do descontrolo das ondas eléctricas
cerebrais e pode acontecer por diversas causas;
 Na crise convulsiva a pessoa pode cair, perder a consciência, movimentar os braços e
pernas involuntariamente e de forma desordenada, não controlando os esfíncteres;

 Estratégias:
• Apoiar a cabeça da vítima numa almofada;
• Desapertar a roupa da vítima;
• Virar a pessoa para o lado esquerdo (posição lateral de segurança);
• Afastar móveis e objetos perigosos, de forma a proteger a pessoa de riscos maiores;

Raquel Azevedo Freitas – Intervenção Multidisciplinar nas Demências 203


Situações de Emergência

 Convulsão:

 Estratégias:
• Não deite água sobre a vítima;
• Não coloque objectos na boca da vítima;
• Após a convulsão deixe a pessoa dormir, pois ao acordar irá sentir-se cansada;
• Tranquilize a vítima após esta acordar, pois irá ficar confusa e desorientada.

Raquel Azevedo Freitas – Intervenção Multidisciplinar nas Demências 204


Situações de Emergência

 Asfixia:

 O engasgamento e asfixia ocorrem quando um alimento sólido ou líquido entra


nas vias respiratórias, podendo desencadear:

• Aspiração: quando líquidos ou pedaços muito pequenos de alimentos chegam


aos pulmões, o que pode provocar pneumonia por aspiração.
• Asfixia: ocorre quando pedaços maiores de alimentos ou objetos param na
garganta e impedem a passagem do ar.

Raquel Azevedo Freitas – Intervenção Multidisciplinar nas Demências 205


Situações de Emergência

 Asfixia:
 Estratégias:
O cuidador, ao perceber que a pessoa cuidada está engasgada deve:
• Inicialmente tentar retirar com o dedo o pedaço de alimento que está a provocar o
engasgamento;
• Se não conseguir deve aplicar 5 pancadas entre as omoplatas da vítima;
• Caso se mantenha o processo de engasgamento, coloque a pessoa em pé, abrace-a
pelas costas apertando com os seus braços a “boca” do estômago da pessoa - (Manobra de
Heimlich) ·

Manobra de Heimlich: Deve-se manter por detrás da vítima e abraçá-la em redor da região
epigástrica (acima do umbigo). Cerre o punho sobre essa região e agarre-o com a outra mão,
faça um máximo de 5 movimentos bruscos para dentro e para cima;

Raquel Azevedo Freitas – Intervenção Multidisciplinar nas Demências 206


Situações de Emergência

 Desmaio:

 Um desmaio corresponde a uma perda temporária da consciência. Pode ocorrer quando a


pessoa tem uma descida brusca da tensão arterial, convulsões, doenças do coração,
hipoglicemia, cansaço, entre outras situações.
 É importante identificar a causa do desmaio.
 Enquanto a pessoa estiver inconsciente, não se devem dar líquidos ou alimentos;
 Deve manter a pessoa deitada, com a cabeça ao mesmo nível do corpo.
 Se a pessoa que desmaiou for diabética, deve fazer-se a avaliação da glicemia e, caso
tenha uma hipoglicemia, deve oferecer-lhe um copo de água com açúcar, assim que
recuperar a consciência;

Raquel Azevedo Freitas – Intervenção Multidisciplinar nas Demências 207


Situações de Emergência

 Desmaio
 Estratégias:
Perante uma situação prévia de desmaio deve:
• Sentar a pessoa;
• Colocar-lhe a cabeça entre as pernas;
• Molhar-lhe a testa com água fria;
• Dar-lhe a beber alguma coisa doce;
• Deitar a pessoa com a cabeça de lado;
• Elevar as pernas;
• Desapertar a roupa;
• Colocar um pedaço de papa de açúcar debaixo da língua.

Raquel Azevedo Freitas – Intervenção Multidisciplinar nas Demências 208


Demências: Intervenção Farmacológica

 Até ao momento, não existem tratamentos que previnam eficazmente ou que permitam a cura da
grande maioria das demências, incluindo a doença de Alzheimer;

 No entanto, há medicamentos que ajudam a combater o declínio cognitivo e permitem controlar


alguns sintomas da doença;

 O tratamento dirigido à doença, exige um diagnóstico preciso do tipo de demência e deve ser
orientado por neurologista ou psiquiatra.

Raquel Azevedo Freitas – Intervenção Multidisciplinar nas Demências 209


Demências: Intervenção Farmacológica

 A abordagem farmacológica da demência inclui:

 a) Tratamento dirigido à doença;


 b) Tratamento e controlo de sintomas;
 c) Abordagem de factores de risco e co-morbilidades.

Raquel Azevedo Freitas – Intervenção Multidisciplinar nas Demências 210


Demências: Intervenção Farmacológica

 Tratamento Dirigido à Doença:


 Existem dois grupos de fármacos: inibidores da acetilcolinesterase (donepezilo,
galantamina, rivastigmina) e um modulador dos antagonistas do receptor N-metil-D-
Aspartato para o glutamato, a memantina;

 Ambos os grupos atuam a nível cerebral, alterando a transmissão de sinais entre as


células cerebrais;

 Demonstram benefício nos sintomas cognitivos e não cognitivos em alguns tipos de


demência, podendo contribuir para o atraso temporário na progressão de alguns dos
sintomas.
 Direção Geral da Saúde, 2011

Raquel Azevedo Freitas – Intervenção Multidisciplinar nas Demências 211


Demências: Intervenção Farmacológica

 Tratamento e controlo dos sintomas:

 Existem também medicamentos que, não tratando a demência, ajudam a controlar os sintomas a ela
associados (a agitação e outros sintomas comportamentais ou o humor depressivo);

 Como princípio geral, este tipo de abordagem deve ser usado pelo menor período de tempo possível,
e tendo em conta a evolução da doença, e os factores desencadeantes do sintoma identificado.
 As medidas farmacológicas para controlo sintomático devem ser utilizadas apenas:
• Se existir grave disrupção / stress para o doente associado ao sintoma;
• Se existir risco para o doente / outros;
• Se esgotaram os recursos possíveis não farmacológicos;
• Se for excluída causa orgânica para a descompensação;
• Após ponderar relação risco / benefício;
• Após discutir com o cuidador / doente os riscos / benefícios (sempre que adequado).
 Direção Geral da Saúde, 2011

Raquel Azevedo Freitas – Intervenção Multidisciplinar nas Demências 212


Demências: Intervenção Farmacológica

 Tratamento e controlo dos sintomas:

 Terapêutica farmacológica adequada depende de:


• Diagnóstico preciso da causa do sintoma;
• Perfil comportamental do doente;
• Perturbações do humor prévias;
• Alterações motoras (incluindo a marcha);
• Perturbações do ciclo sono-vigília;
• Co-morbilidades;

Raquel Azevedo Freitas – Intervenção Multidisciplinar nas Demências 213


Demências: Intervenção Farmacológica

 Tratamento e controlo dos sintomas:

 Tendo em conta os princípios enunciados, os grupos farmacológicos disponíveis


para abordagem sintomática são (Direção Geral de Saúde, 2015):

 Antipsicóticos;
 Fármacos para o tratamento da depressão;
 Fármacos para o tratamento da ansiedade e perturbações do sono;

Raquel Azevedo Freitas – Intervenção Multidisciplinar nas Demências 214


Demências: Intervenção Farmacológica

 Abordagem de fatores de risco e co-morbilidades:

 Em todos os casos de demência, mas sobretudo na demência vascular, recomenda-se o


tratamento das condições médicas subjacentes, como hipertensão arterial, diabetes e doença
cardíaca, de acordo com as normas aceites para essas condições, na expectativa que assim
se possa reduzir o risco de novas lesões cerebrais e consequente deterioração cognitiva.

Raquel Azevedo Freitas – Intervenção Multidisciplinar nas Demências 215


Aos cuidadores, às equipas…

 Mais que cuidar, cabe-nos potenciar a capacidade funcional da pessoa cuidada,


pois só assim promoveremos um processo de envelhecimento saudável e positivo.

 A sociedade contemporânea tem desafios exigentes e ousados para superar na


área do envelhecimento, mas são vocês, os cuidadores (sobretudo formais), que
detêm o poder de cumprimento e alcance das mais atualizadas guidelines.

(Freitas & Gonçalves, 2019)

Raquel Azevedo Freitas – INTERVENÇÃO MULTIDISCIPLINAR NAS DEMÊNCIAS 216


Bibliografia de Referência

 Almeida, M. (2007). Envelhecimento Activo? Bem-Sucedido? Saudável? Possíveis Coordenadas de Análise. In Fórum Sociológico, n.º 17, pp. 17-24.
 Almeida, V. P., Barrios, H. Pereira, C. Santos, A. Pinto, V. Costa, S., Conde A. & Pedrosa, H. (2008). Manual de Boas Práticas na Demência. União das
Misericórdias Portuguesas.
 Andréa, F. (2010). O envelhecer, diferença entre senescência e senilidade. Biblioteca Digital Grátis. São Paulo.
 Ford, M. E. (1992). Motivating Humans – Goals Emotions and Personal Agency Beliefs. Newbury Park, CA: Sage Publications.
 Ford, M. E., & Smith, P. (2007). Thriving With Social Purpose: An Integrative Approach to the Development of Optimal Human Functioning. Educational
Psychologist, 42 (3), 153-171.
 Freitas, R. A. & Gonçalves, P. N. (2019). Guia Prático do Cuidador – Manual para o Prestador de Cuidados ao Idoso/pessoa dependente. Porto: Porto
Editora.
 Jacon, T. M.; Scortegagna, P. A.; Oliveira, R. C. (2007). A educação como processo de mudanças na terceira idade. Encontro Anual de Iniciação
Científica. Ponta Grossa. Anais do XVI EAIC.
 Moraes, E. (2004). Centro Interdisciplinar de Assistência e Pesquisa em Envelhecimento (CIAPE).
 Neri, A.L. (2008). Palavras-chave em Gerontologia. 3.ª ed. Campinas: Alínea.
 ONU (2002). International Plan of Ation on Ageing 2002. II Assembleia Mundial sobre o Envelhecimento. Madrid.
 Papalia, D. E., Olds, S. W., & Feldman, R. D. (2006). Desenvolvimento humano. Porto Alegre: Artmed.
 Schneider, R. H., & Irigaray, T. Q. (2008). O envelhecimento na atualidade: aspectos cronológicos, biológicos, psicológicos e sociais. Estudos de
Psicologia, 25(4), pp. 585-593.
 Sequeira, C. (2007). Cuidar de Idosos Dependentes. Coimbra: Quarteto.

Nome do Formador - TÍTULO DA FORMAÇÃO 217


Obrigada!
Raquel Azevedo Freitas
raquelazevedofreitas@gmail.com

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