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HISTÓRIA DO DIREITO PORTUGUÊS

A Justiça
A justiça é considerada a suma virtude, o fundamento da vida social, sem ela era impossível uma
convivência organizada. A justiça representa o hábito bom orientado para a ação, para o homem
ser justo teria de seguir a lei divina e natural tendente a uma perfeição individual que originava
a justiça, geral e universal. A justiça traduzia-se no hábito bom orientado para ação (possibilidade
de ter um bom caminho se seguisse atos virtuosos) e na manutenção da sociedade, uma vez que
se os Homens eram justos, justa seria a sociedade.

Além da justiça universal considerava-se: a justiça particular- enquanto virtude específica


aplicada caso a caso, definida como “atribuir a cada um o seu”. A justiça particular divide, ainda,
através da filosofia escolástica de S. Tomás de Aquino (posição defendida) a justiça comutativa,
que diz respeito às relações entre iguais e a justiça distributiva, que diz respeito às relações da
comunidade com os seus membros desiguais, associada à dignidade e mérito de cada um. Outras
posições, como a de Álvaro Pais, defendiam uma divisão entre Latria, Dulia, Obediência,
Disciplina e Equidade.

Além das já mencionadas é de salientar, ainda, a justiça objetiva- modelo de conduta enquanto
forma de retidão plena e normativa. Sendo Deus o modelo dos Homens, seguia-se a
consequência de uma justiça humana não perfeita, e apenas reflexo da justiça divina. Todavia,
usar Deus como modelo de conduta seria transcender o comum das pessoas, devendo ser usado
o critério de “bónus pater famílias”.

Assim, o Direito era apenas uma forma de traduzir e revelar a justiça, baseado em preceitos
como: viver honestamente, não prejudicar o próximo e dar a cada um o seu.

Direito Suprapositivo e Direito Humano


O Direito suprapositivo assume três dimensões: D divino, D natural e D das gentes; e está acima
do D. humano.

O D divino representa a razão de Deus, criadora e ordenadora das coisas, revela as manifestações
de Deus dirigidas ao Homem (criação divina). O D natural, no entanto, representa a manifestação
do D divino na razão humana, ou seja, o Homem, conhecendo o D divino, adapta-o e essa ação
traduz-se em D natural.

A passagem de D divino para D natural é origem de divergência. Santo agostinho diz-nos que a
lei eterna resulta da razão e vontade de deus que manda conservar a ordem natural, enquanto
a lei natural é inscrita por deus no coração do Homem, através da sua vontade e do que acha
necessário. Já S Tomás de Aquino, posição adotada, esquematiza as leis por lei eterna, que dela
decorre a lei divina e lei natural e que destas surge a lei humana. Para este, a lei eterna é a
própria razão de deus, governadora e reguladora das coisas. Já a lei natural é a participação da
lei eterna na criatura racional que lhe permite distinguir o bom e o mau; apreensão pela razão
humana da lei eterna. Por sua vez, a Lei divina caracteriza-se por ser a participação da lei eterna
revelada através das consagradas escrituras, reveladas para que o homem pudesse, sem
vacilações, ordenar-se em relação ao seu fim sobrenatural (bem aventuraça eterna). A lei
humana representa o Direito criado pelo Homem, não possível de derrogação.
Conclui-se pela sobreposição destes à vontade dos governantes e dos súbditos, de todo e
qualquer membro da comunidade. Entramos no D das gentes(elemento do direito
suprapositivo), que se estende a todos, concebido como direito costumeiro, posterior ao direito
natural e anterior a qualquer lei escrita, criado para se aplicar na relação entre Homens (de
hierarquia distinta).

Direito Supra regna- Direito Canónico e Direito Romano


O direito supra regna é o direito que sendo positivo, foi elaborado, redigido e escrito pelo
Homem e tem um aplicação, dimensão, acima do próprio reino, pois se impõe aos vários reinos
europeus. Este caracteriza-se pelos direitos canónico e romano funcionarem em paralelo
(utrumque ius),ou seja, por um ius commune.

O direito canónico considera-se um direito supra-estatal, encontrando-se num plano superior ao


dos reinos e caracteriza-se por ser um conjunto de normas jurídicas relativas à igreja, um direito
baseado no direito romano que vem reaparecer no séc xii.

As fontes de direito canónico, pela doutrina dos professores Albuquerque, são as sagradas
escrituras (disposições de cristo que no antigo testamento continham preceitos cerimoniais,
judicias e morais e no novo testamento continham também preceitos de direito divino),
tradição(forma da igreja adaptada a regras jurídicas tendo por fonte os livros dos padres da igreja
e sendo aprovada com unanimidade moral dos Santos Doutores) e costume (Práticas reiteradas
com convicção de obrigatoriedade da igreja, reduzidas a escrito e tendo o papel de suprimir
lacunas, sendo conformes à razão e observados há 10 ou 20 anos).

Destacam-se ainda outras fontes eclesiásticas, canónicas de direito humano: decretos(decisões


gerais e abstratas do papa que estatuía por conselho de cordeais, sem consulta de ninguém),
decretais (normas e comandos pontífices que o papa estatuía sozinho ou com os seus cardeais,
em resposta à consulta de alguém), cânone (determinações conciliares que vinculavam toda a
res publica cristiana), concórdias (acordo interno entre o poder do rei e o poder do clero
nacional), concordatas (acordo internacional entre o papa e um reino) e bulas (documentos
emanados pelo papa para conceder direitos a um determinado reino).

Importa referir a compilação Corpus juris canonici, a compilação de decretos e decretais como
pré-codificação do direito canónico, composto pelo decreto de graciano (compilação de d.
canónico aparecendo já algum direito romano), pelas decretais de 1234, o livro de Sexto das
decretais de Bonifácio vii, o livro sétimo de 1313 e as extravagantes de João xxii.

Este direito canónico já compilado começa penetrar-se na península, e essa penetração era tal
que houve necessidade de hierarquiza-lo, surgindo através de Afonso II a cúria de 1211 que
estabeleceu a prevalência do direito canónico perante as normas jurídicas dos monarcas. Através
do Beneplácito Régio, baseado no princípio QOT -as decisões que vinculam todos têm de ser
aprovadas por todos-, aludia-se a que para o direito canónico circulasse em Portugal e tivesse
aplicação era necessária um aprovação pelo rei. O clero veio criticar esta decisão, afirmando que
o direito canónico devia ser aplicado sem qualquer aprovação, a qual D.pedro e D.joao i vieram
responder. O primeiro alega que a aprovação do mesmo serviria para a proteção do direito, já
que havia muitas falsificações a circular, o segundo, tentando dar a mesma resposta, acaba por
revelar que a aceitação por parte do rei era importante na medida que este podia perceber o
que podia ser utilizado contra ele.

Assim, o DC foi aplicado nos tribunais civis e nos eclesiásticos, existindo tribunais da igreja que
conheciam as causas em função da matéria ou da pessoa. Havia, portanto, uma aplicação
eclesiástica em razão da matéria e da pessoa e uma aplicação civil baseada no critério do pecado,
n o entanto, pela cúria de 1211, em particular a lei ii, o direito canónico era tido como o direito
preferencial a ser aplicado nos tribunais e que este era superior ao direito do rei se a vontade
deste contraditasse o direito canónico.

O direto romano puro era o direito criado para os cidadãos de Roma, mas a sua generalização e
uniformização formou um direito romano vulgar, um direito aplicado nas províncias e distinto do
puro pela sua contaminação dos direitos indígenas. Há então uma divisão do império romano na
parte Oriental e na parte ocidental.

Inério vai descobrir, pq tem essa necessidade, o código justianeu, dividindo-o em Digesto velho
(livros 1 a 24), Digesto novo (39 a 50) e esforçado “o nosso direito está reforçado” (25 a 38). Já a
divisão do códex é feita pelos nove primeiros livros (1º volume) e os 3 libris; instituciones,
novelas e livros dos feudos -volumen parvum- (2º volume).

Surgem as escolas jurisprudenciais na idade média (escolas metodológicas)-a escola dos


glosadores e a dos comentadores.

A escola dos comentadores surge nos finais do séc XIII, com as obras de Jacques e Pierre,
devendo os eu nome ao comentário, como género literário, que se caracterizava pela
independência formal face à ordem dos textos romanos e a conjugação que nele é feita dos
preceitos justianeus com o de outras ordens jurídicas. Passava-se de uma interrogação ou de um
problema que se procurava resposta, recorrendo ao apuramento da verdade (contradictio),
concluindo-se a solução. Em XV inicia-se o declínio da escola, graças ao uso abusivo da
autoridade e ao excesso de casuísmo.

Já a escola dos glosadores teve inicio no sec Xii com Irnério e termina com Acúrsio. Esta escola
confere ao direito autonomia dentro do conjunto das disciplinas medievais, nomeadamente a
lógica e a ética. O nome da escola deve-se ao género literário utilizado por Irnério e seus
discípulos- a glosa. Esta era entendida como uma explicação de termos, conceitos ou passos de
um escrito e tinha o intuito de esclarecer um palavra, expressão ou passagem, e que a
interpretação era menos clara. Podiam ser classificadas como interlineares, escritas entre as
linhas do texto, marginais, quando colocadas nas margens dos livros, declarativas ou discursivas.

Surge a questão da aplicabilidade do DC ou do DR. Uma das vias seria consoante o critério do
pecado: regra geral, aplicava-se o DR mesmo que o DC despose-se em sentido contrário, mas
optar-se-ia pelo DC sempre que o DR pudesse dar azo a pecado (violação de preceitos de DC).

Posteriormente, com a Lei da boa razão define-se que o DR passa a estar absolutamente
submetido ao usus modernus pandectarum (o direito só pode ser aplicado naquilo em que for
intemporal), apenas sendo aplicado quando conforme à boa razão(aquela que decorria de
princípios que continham as verdades essenciais da ética dos romanos). O DC passa a ser
aplicado quando a lei do rei remetesse para ele, nos casos onde os seus preceitos fossem
aplicáveis pelo uso das nações civilizadas em correção do DR e quando não houver lugar ao
critério do pecado.
Direito Regni
É o direito que se faz no reino, o direito legislado, mais concretamente as leis germânicas, leis
lombardas, leis escandinavas e as leis dos visigodos. Destaca-se, dentro das leis dos visigodos, o
código de Eurico, o Breviário de Alarico, o código de Leovigildo e o Código Visigótico. Este último
representa a transição entre o rigorismo do direito romano e os costumes do povo godo. As suas
normas representam direito romano vulgar, estando longe de ser direito germânico puro.

O código visigótico continua a ser citado em Portugal, apesar de já não ter repercussões visíveis
desde xiii, fruto do crescimento da legislação nacional e da redescoberta do direito romano
justianeu.

Aos poucos, foi-se processando a crescente atividade legislativa dos monarcas com a
transferência desta função para o rei (vontade geral do rei) e para as cúrias. O monarca detém o
monopólio do poder legislativo, estando apenas subordinado a D divino e D natural.

As leis eram o estabelecimento para que os homens soubessem viver bem e ordeiramente e
teria de ser racional e fácil de entender. A forma de publicação da lei era a sua leitura repetida
junto ao tribunal do conselho. Depois de publicada entrava imediatamente em vigor, não sendo
retroativa e apenas podendo ser clarificada pelo seu sentido pelo órgão que a tivesse criado.

Direito Outorgado e Pactuado


As cartas de privilégio eram documentos que atribuem prerrogativas, liberdades, franquias e
isenções de qualquer ordem, que traçavam um regime jurídico específico para certo território
ou comunidade, possuindo um âmbito delimitado que possibilita diferenciá-las da lei.

As cartas de povoação, concedidas pelo rei, pela nobreza ou pelo clero, visavam atrair
habitantes para certas zonas escassamente povoadas ou despovoadas, fixando um conjunto de
normas que definiam os estatutos para os futuros colonos, em especial relativamente às
condições de exploração da terra, prestações obrigacionais e modos de detenção da terra. Os
contratos não tinham liberdade de estipulação, as pessoas mudavam-se aceitando as
condições que lhes eram dadas.

Os forais são mais extensos que as cartas de povoação e abarcam um maior número de
matérias, indo além das condições de assentamento da terra, contento disposições de direito
processual, militar, fiscal, penal… O foral rege como direito especial por se aplicar a uma
determinada população e território.

Os estatutos municipais são cadernos de leis, direitos elaborados de comum acordo com o
objetivo de criar um repositório de direitos a serem aplicados pelo juiz (compilação).

Costume e Direito Judicial


O costume é uma prática reiterada com convicção de obrigatoriedade não reduzida a escrito. É
a fonte mais antiga e foi criada pelos membros da comunidade, para principal aplicação dos
tribunais locais. Para ser aplicado, era necessário que fosse provado, fiado a escrito. Para tal
tinha de: haver uma repetição de 2 atos em 20 ou 10 anos, consoante a comunidade esteja ou
não presente; ser conforme a justiça, sem contrariar o D divino e D natural; consenso da
comunidade, assumindo se como repetir e obrigatório. O consenso voluntário do rei assumia o
costume com maior força. O costume valia como lei na falta desta (decreto de graciano) e é o
seu melhor intérprete (decretais), valendo apenas consoante os requisitos exigidos (primeira
partida). Os tribunais fortalecem e revelam o costume, utilizando para fundamentar decisões.

O estilo era uma regra oral (costume en casa del ray) utilizados pelos tribunais para prosseguir
nos processos. Foi considerada fonnte de direito principal desde a idade média até ao sec xix.

As façanhas eram decisões judiciais tomadas pelo rei por se estar perante um caso singular em
que não havia resposta de direito. Os alvidros eram decisões dos juízes arbitrais como
consequência de integrar lacunas, assentes na equidade, com possibilidade de recurso.

Ars inveniendi
Perceber como é que um jurista medieval pensava e definia as soluções para os casos concretos,
olha-se para o direito como um conhecimento possível de provar através de leges, rationes e
auctoritas.

Este processo dividia-se nestas 3 etapas: leges (parte analítica do pensamento, elemento
escrito), raciones (duvida-se da letra da lei e procura-se com isso fundamentar a posição, os
argumentos de justiça; servem para fundamentar as soluções de acordo com a retórica, a
dialética e a tópica) e autoritates (argumento de autoridade, vai recorrer à opinião comum).
Assim, a construção das soluções para os casos acontecia através da conjugação destes 3
elementos, era colocado o problema, que podia ser respondido de varias formas diferentes
através da aplicação de rationes- primeiro era dada a solução, só depois apresentada a
justificação.

Considerava-se a retórica (arte de argumentação, utilização de raciocínios lógicos que permitem


convencer que a nossa posição e solução é a mais adequada e justa) e a tópica (arte da procura
de argumentos capazes de computar o raciocínio para confirmar, podendo ser formal-
argumentos abstratos- ou material- argumentos com conteúdo-).

Ordenações e Leis extravagantes


OA- Reconheceu-se a importância de complicações de leis e procedeu-se ao aperfeiçoamento
destas.

As primeiras ordenações, as afonsinas, foram elaboradas por João Mendes (livro I- cargos
públicos) e Rui Fernandes (livro II-regras da igreja, III- processo civil, IV-direito civil e V-direito
penal e processual penal) e, apesar da sua pouca expressividade, tiveram extrema importância
por obedecerem á tentativa de reduzir o direito pátrio a um corpo devidamente organizado e
sistematizado.

As ordenações eram fonte de direito, destacando as principais: lei do rei, estilo da corte e
costume e indicando as fontes de direito secundárias através da sua epigrafe “quando a lei
contradiz o decretal, qual delas se deve aplicar?”. As fontes secundárias eram, por ordem de
aplicação: direito romano e canónico; glosas de Acúrsio e opinião de Bártolo; e resolução régia.
A aplicação de DR (matéria intemporal) ou DC (matéria espiritual, temporal)fazia-se consoante
o critério do pecado: regra geral, aplicava-se o DR mesmo que o DC despose-se em sentido
contrário, mas optar-se-ia pelo DC sempre que o DR pudesse dar azo a pecado (violação de
preceitos de DC), apenas em desconformidade com estas se passava para as glosas, opinião e
resolução régia.

OM-Foi reconhecida uma necessidade de revisão da compilação afonsina. Salientam-se as


edições de 1512 e 1513 onde o Prof Alves silva comprovou que já tinham sido revistos os 5
livros e a de 1521 onde D Manuel ordenou a destruição de certos exemplares e matérias
referentes aos judeus, sendo que a sistematização destas era semelhante ás anteriores, apenas
se destacando o seu estilo diretório. As fontes mencionadas eram iguais sendo que se aplicava
por ordem hierárquica o DR (exceto se causar pecado), DC, glosa quando por comum opinião
dos doutores não for reprovada, Opinião salvo se houvesse doutores posteriores a este com
opiniões contraditórias.

A epigrafe altera-se para “como se julgam os casos que não foram determinados pelas nossas
ordenações”, deixa de ser um privilégio da igreja, não está subjacente o critério do pecado mas
sim a concessão dos juristas de fontes de direito claro.

OF-Idênticas às anteriores, mas com o aditamento das leis posteriores e a remoção de leis que
tinham entretanto sido revogadas, a organização e a epigrafe é a mesma de que as manuelinas.
A diferença está que a matéria deixa de estar trabalhada no livro II e passa a estra no livro III,
fortalecendo o poder do rei. Apenas foi revogada no sec XIX, até à codificação.

LE-As leis que não ficaram incluídas nos grandes corpos legais eram as leis extravagantes. A
única recolha que teve valor oficial foi a Duarte nunes de leão, procedendo-se a um resumo de
cada lei que foi dotado de força de lei.

Humanismo, racionalismo e iluminismo- Lei da Boa razão


A lei da boa razão funda-se em correntes do humanismo, racionalismo e iluminismo.

O racionalismo é uma corrente do sec xviii que coloca o homem como o centro da razão (e não
deus), havendo um homem iluminado (rei) que é escolhido para estar à frente do seu povo
como legislador- iluminismo.

O humanismo traduziu-se na contestação de metodologia medieval, é marcado pela


centralização do poder do rei. Defendia-se que os juristas deviam estudar, em vez de através de
glosas e comentários, pela letra da lei, ou seja, que o direito tem de ser estudado como os
romanos o criaram, deve regressar-se ao direito clássico, à lei pura. O humanismo em Portugal
foi, no entanto, limitado, uma vez que os juristas não regressavam a PT, o panorama cultural
não permitia que se impusesse esta corrente ou nem havia tentativa de implementação. Como
não houve terreno para o desenvolvimento do humanismo, aplicavam-se as glosas de acursio e
a opinião de Bártolo ou a igreja ensinava-o com base na tradição medieval (métodos
baculásticos, direito envelhecido).

No sec XIX o humanismo atinge PT, sendo aplicada a lei da boa razão, lei herdada das
ordenações manuelinas, onde se vigorava as fontes de direito destas. Esta tem como objetivo
disciplinar as fontes de direito, revogando o dito nas ordenações filipinas.
A boa razão era aquela que decorria de princípios que continham as verdades essenciais da
ética dos romanos, que decorria de direito natural, divino e das gentes e pelo definido pelo
direito das nações cristas, polidas e iluminadas.

Denota-se que a fonte principal é a lei do rei e que o estilo permanece como fonte desde que
confirmado pelos assentos da casa da suplicação. O costume tinha de preencher requisitos
para vigorar (conforme á boa razão, não ser contrário à lei e exceder os 100 anos). Quanto ao
DR passa a estar absolutamente submetido ao usus modernus pandectarum (o direito só pode
ser aplicado naquilo em que for intemporal), apenas sendo aplicado quando conforme à boa
razão. O DC passa a ser aplicado quando a lei do rei remetesse para ele, nos casos onde os seus
preceitos fossem aplicáveis pelo uso das nações civilizadas em correção do DR e quando não
houver lugar ao critério do pecado. São revogadas as opiniões de Bártolo e recorre-se ao
direito das nações iluminadas e polidas (nova fonte), olha-se para os outros ordenamentos e
procura-se influencia nesses direitos.

Reforma dos Estudos Universitários


O objetivo da reforma dos estatutos era por fim ao domínio jesuíta do ensino em Portugal, em
especial das universidades de Coimbra e Évora.

É nomeada uma comissão para identificar as causas de decadência do ensino universitário e


propor medidas para reformas esses estatutos.

Marques de Pombal considerava que o ensino universitário estava em decadência e iniciou a sua
reforma por haver omissão do direito pátrio, abuso da opinião dos comuns doutores, falta de
método e critério de ensino, falta de preparação dos alunos para o ensino e o facto de ser de
extrema importância estudar o direito divino, natural e das gentes (complementa a lei da boa
razão). O compêndio vai concluir com a necessidade de reformar inteiramente o estudo jurídico.

Com os novos estatutos pombalinos há uma reforma do corpo docente, uma exigência de
formação prévia dos estudantes, uma alteração dos tempos de licenciatura, a introdução de
novas disciplinas e novas matérias. A maior alteração é quanto ao método de ensino que deixa
de ser analítico (grandes explanações), extenso e sem planificação para um método sintético
(apresenta os princípios e regras de direito de forma clara), demonstrativo (aplicação dos
conceitos à vida) e compendiário (necessidade de escreverem livros fidedignos para substituir
sebentas com erros dos alunos ou adoção destes dos países polidos e iluminados- exceção da
história do direito português e direito pátrio).

Liberalismo e Humanitarismo
Liberalismo é uma corrente do final do séc xviii que tenta unir características das revoluções com
a monarquia. Tem como características a soberania nacional, divisão de poderes, representação
politica da nação, consagração dos direitos e liberdades individuais ( que corresponde à
liberdade da pessoa, patrimonial e liberdade politica que é o direito de ser eleito e poder
escolher) e constituições escritas.

No sec xviii o Humanitarismo já tentava consagrar liberdades individuais através de códigos


penais com penas menos gravosas. O humanitarismo corresponde, então, à reforma do direito
penal para que ele se torne mais condicente com a razão humana (ideias de racionalismo),
defendendo a supressão de crimes religiosos, penas com finalidades preventivas, ideias de
reabilitação, proporcionalidade entre crimes e penas, eliminação de penas difamantes, e
corporais e abolição da pena de morte ou aplicação a casos graves.

O humanitarismo tem como premissas não haver crime sem lei (sem haver tipificação), só haver
pena se houver crime não haver pena se não houver culpa).

Freire de Melo defende uma reforma do direito penal que o torne mais previsível e garantistico,
havendo a possibilidade de transmissão de penas entre herdeiros, não havendo a cumulação de
leis.

Codificação
Surge no séc XIX o objetivo de elaborar códigos com base nas liberdades estipuladas pelo
liberalismo.

A codificação do direito privado começa pela codificação comercial. É o código comercial a ser o
primeiro a ser elaborado (facilidade pelo recurso às nações iluminadas e polidas: lei da boa
razão).

Quanto à codificação comercial cabe identificar que o primeiro era composto por 3 partes
(comercio terrestre, marítimo e parte de foro mercantil e ações comerciais) e o segundo era
divido em comercio geral, contratos especiais de comercio e comercio marítimo.

A codificação penal tinha como objetivo proceder ás ideias de humanitarismo. O primeiro


código, de 1852, segue estas ideias e consagra a redução da pena, no entanto, este código não
durou muito tempo . Em 1886 foi elaborado o segundo código penal que consagrava a abolição
da pena de morte já antes da sua entrada em vigor. Este durou até á primeira republica, sendo
revisto pelo novo código penal.

Já quanto ao CC, o 1º foi em 1867 (seabra) e este em vigor até 1967 , sendo revogado pelo atual.
Tem influências da tradição do código de napoleão, do código alemão, da tradição francesa
individualista e alemã socialista, do usos modernuns pandectarum, da corrente de defesa dos
princípios da comunidade e da corrente do positivismo jurídico.

O código de seabra era divido em 4 partes: civil e famílias; contratos; obrigações e reais; e ofensas
aos direitos, estando baseado na boa razão. A aprovação deste código revogou plenamente as
ordenações filipinas.
Direito penal medieval
As consequências dos crimes cometidos era tendencialmente deixada à auto-defesa do próprio
ofendido ou do seu grupo familiar. Era a própria comunidade que estabelecia as condições em
que a vingança privada podia ser exercida. O esquema de vingança privada poderia ser relativa
ou absoluta.

A relativa aplicava-se aos crimes graves- o esquema de reparação e punição do crime era a perda
de paz relativa. A vingança estava sujeita a normas impostas pelas autoridades locais: era
necessário que o ofendido ou os seus familiares viessem fazer um desafio formal ao agressor, de
pois de desafiar, o acusado gozava de um período de tréguas (9 dias), durante o qual beneficiava
de um seguro, e no fim desses dias havia a declaração de inimizade

Durante os 9 dias de tréguas o criminoso pode tomar 3 decisões- tem como objetivo adiar a
vingança: fredo (paga para se adiar a vingança por mais 8 dias), desterro (possibilidade de
abandonar o seu lugar não podendo regressar durante um determinado período de tempo) ou
faida (o criminoso poia ser perseguido pelo ofendido ou pelos seus familiares).

Poderia terminar com a composição (forma de pôr fim à vingança, repondo a amizade), sendo
ela: pecuniária (através de quantitativo em dinheiro que o agressor pagava); corporal (submissão
do ofendido a penas corporais, por exemplo, entrar às vara); por missas (o agressor mandava
rezar um determinado numero de missas em honra do ofendido) e por prisão (forma de
encarceramento privado).

Com o beijo da paz a amizade estaria reposta.

Quanto à perda de paz absoluta, aplicava-se a crimes de homicídio reiterado ou por traição à
pátria. Todas as pessoa podiam seguir o criminoso e matá-lo.

As penas podiam ser: pena de morte para crimes graves; pecuniárias para quem tivesse
património; corporais para aqueles que não tivessem bens; penas privativas de liberdade
quando não havia lugar ao pagamento de penas pecuniárias e penas infamantes (teor
psicológico/vergonha).

Começa, mais tarde a haver legislação dos reis neste sentido. Afonso II, em1211, produz um
conjunto de leis que proíbem a realização da vingança privada dentro da casa do inimigo. Assim,
se não houvesse lugar à morte, o conflito deveria ser julgado pelos juízes do rei; e se desse lugar
à morte de um homem de ambos os lados, a vingança estaria concluída sem necessidade de
haver lugar a mais atos.

Já Afonso IV, em 1325, vem definir a lei dos crimes públicos, a possibilidade de ilicitude da
vingança em certos casos. Vem tipificar o conjunto de crimes aos quais era obrigatória a
investigação do juiz- crimes contra o rei e religiosos, homicídio..

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