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um mero exercício. Apenas a nossa melhor parte, aquela que se expressa no necrológio, pode
falar com Deus. α1

5. A inspiração dada pela pessoa de Sócrates


O Curso Online de Filosofia inspira-se naquilo que a pessoa de Sócrates tem de
exemplo fundamental. Não perseguimos a filosofia como uma profissão, dado que isso nos
prenderia a exigências burocráticas, assim como ficaríamos presos à vaidade de
pertencermos a um clube restrito, que muitos esforços exigiria da nossa parte. A filosofia
começou de forma auto-consciente como uma espécie de clube de aficionados em redor de
Sócrates e depois continuou como um projecto legado por este, que foi modernamente
esquecido mas que tentamos resgatar aqui de alguma forma. Sócrates insistia numa vida
examinada: os seus interlocutores eram constantemente instados a olhar para a sua
verdadeira situação social e política, sendo este é o ponto de partida das meditações. Nunca o
académico moderno vai examinar a sua situação sociológica, constatando como isso o limita
ou beneficia. É algo que não faz parte do seu teatro; é como se ele partisse do princípio que
aquele ambiente universitário é o lugar natural para o conhecimento acontecer e tudo o resto
não passa de diletantismo. Sócrates mostrou como a sociedade pode tomar consciência de si
mesma. Nele confunde-se o conhecimento objectivo e universal das coisas com o
autoconhecimento, o que exige uma pessoa real, não um mero desempenhar de papéis
sociais. Isto já indica o que deve ser a técnica filosófica: uma conversão de conceitos gerais
em experiência existencial efectiva e vice-versa. α1

6. Santo Agostinho e a confissão


Santo Agostinho retomou à via socrática porque percebeu que a sua inteligência não
conseguia abordar com clareza as grandes questões. Antes disso era necessário limpar a sua
personalidade, como ele exemplificou nas Confissões. George Misch mostra, na História da
Autobiografia na Antiguidade, que isto foi uma novidade. Não encontramos na antiguidade
uma voz verdadeiramente pessoal. Agostinho já foi buscar o autoconhecimento dentro do
contexto da confissão cristã, onde tudo é exposto. Não há orgulho e nem vergonha, muito
menos especulação masoquista, apenas há a sinceridade mais profunda que nos é possível
naquele momento. Aqui se articulam o conhecimento almejado, a individualidade concreta –
com sua miséria, ignorância, esquecimento e auto-enganos – e a narrativa que nos coloca
diante do observador omnisciente. α1

7. O método da confissão
Agostinho faz-nos chegar ao método da confissão. Contamos para Deus a nossa vida,
mas Ele sabe mais do que nós, então, a nossa sinceridade é recompensada e obtemos um
pouco mais de conhecimento. Isto parece a descrição de uma prática mística a que poucos
poderão aceder, mas na realidade é algo quase impossível de não acontecer. Quando falamos
ou escrevemos sobre algo, usando toda a sinceridade, na sequência vem à nossa consciência
algo que antes não sabíamos, pontos se esclarecem, caminhos se abrem. Muitos vivem
escondidos, mesmo se exibidos publicamente, não tendo um lugar onde se expõem sem
restrições e sem condições, por isso não têm esta experiência tão simples quanto profunda,
sempre nova, revigorante. α1

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