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Resenha: “Memória operacional e percepção dinâmica”,

de Ricardo D. Freire

Por Ana Carolina Franco Silva


Campus Universitário Darcy Ribeiro
Linguagem e Estruturação Musical 1 - Departamento de Música

O solfejo é uma importante ferramenta de mediação entre os processos de


percepção e apreensão internas e externas do som. Entretanto, os processos
tradicionais de aprendizagem frequentemente não permitem aos estudantes que
tenham domínio e segurança do solfejar de forma que verdadeiramente usufruam deste
cumprindo esse papel. Pensando a percepção musical como elemento que leva
diretamente à decodificação e significação sonora, podemos relacioná-la
retrogradamente ao mecanismo da memória, frequentemente tendo função
significativa dentro de exercícios de percepção, especialmente a memória de curto
prazo. Um usual estudo e avaliação de percepção utilizado pelo ensino tradicional,
como citado pelo texto, é o ditado baseado em uma estrutura muito linear e pouco
propensa à alguma forma de maleabilidade, geralmente ao piano, de uma passagem
musical tida como clara e que deve, portanto, iluminar ao estudante um único caminho
de interpretação e transcrição.

Considerando que a organização das habilidades cognitivas é o que cria o


desenvolvimento da habilidade de compreensão do discurso musical, o artigo buscará
trazer um estudo das inter-relações Ouvir-Cantar-Ler-Escrever baseado na teoria de
audiação de Gordon (1997).

Dentro do foco em memória de curto prazo, temos um conceito crucial: a


memória operacional, como proposta por Baddeley e Hitch, que se categoriza como,
de forma simplificada, um sistema limitado simultâneo de armazenamento e
processamento de informação, administrado por uma Gestão Central dividida em um
rascunho que trabalha o aspecto visual e especial e outro que concerne à linguagem e
som. Este conceito trabalha com um processamento quase instantâneo da informação,
o qual bem se encaixa com o que concerne a momentos como a performance e seu
aparato de “execução musical” e “representação mental”.

Após a definição deste conceito, temos o de Percepção Dinâmica, baseado nos


“paradigmas de processamento da memória” e na teoria musical de Gordon. em
especial nos seus conceitos de um aprendizado construído dicotomicamente por
“discriminar” – o aluno com consciência de estar dentro de um processo de
aprendizado, este construído por meio de imitação e comparação – e “inferir” –
quando o aluno, compreendendo a estrutura musical de maneira mais generalizada,
consegue traçar seu próprio caminho de solução para certa atividade musical. O artigo
tratará exclusivamente da atividade de discriminação, estruturada por Gordon da
seguinte maneira, considerando a fase “Auditiva/Oral”, no estudo aqui presente, tida
como “Ouvir”; a “Associação verbal”, como “Cantar”; a “Associação simbólica”,
como “Ler”; e a “Síntese composta”, como “Escrever”:
A Percepção Dinâmica abordará a interação dinâmica – as habilidades em
tempo real –, e considera em seu desenvolvimento, apesar de plenamente capaz de
adaptação, a técnica de solfejo fixo-ampliado. Todas as atividades cognitivas abrigadas
em si tem seu centro no fim de êxito na Representação musical (audiação). Cada
mecanismo possui sua maneira de processamento e uma forma distinta de se relacionar
com a memória operacional e entre si, sendo a construção de conjuntos com lógicas e
fluxos de habilidades próprias e diferentes focos, como “Cantar” e depois “Escrever”
ou vice-versa, um recurso crucial para este trabalho, e sua aplicação em atividades
deve considerar a relação memória-imitação. A colocação de todas as atividades
perceptivas em relação às outras cria uma imagem ideal expandida e complexa do
espaço sonoro.

Entre as descrições de cada habilidade, destaco como o canto, mais


especificamente o solfejo, também interage com o campo mental que lida com o
processo da linguagem, sendo que ele já realiza algo impressionante, que é a
estimulação da representação mental de alturas para permitir a memória da associação
do que o corpo realiza com o resultado musical. Também destaco que a habilidade de
escrita é a que mais se ramifica em diversos e diferentes processos complexos,
considerando que, para existir, já necessita de uma lógica interna musical mental de
alguma maneira formada, uma percepção aguçada e uma maneira de relacioná-la com
a cognição motora de forma mais ou menos automatizada.

O texto, então, realiza descrições e dá exemplos de exercícios mais específicos


dedicadas a cada foco de habilidade e a cada possibilidade de “dupla”, com uma
principal e a outra complementar.

Observo esta técnica de ensino perfeitamente nas aulas realizadas, e imagino


que colherei seus frutos ainda mais no futuro, visto que ainda estamos no início de
aplicação de processos como o “Escrever-Cantar” e o “Cantar-Escrever”, aos quais
dou extrema importância por nunca ter tido e experienciado uma fluência orgânica
com a escrita musical e percebo minhas limitações decorrentes disto. Relações como o
“Ouvir-Cantar” já estão sendo utilizadas desde a primeira aula, muitas vezes ainda
aliado à leitura, e considero que se torna ainda mais interessante quando partimos para
a leitura da partitura depois da utilização da notação musical simplificada dos vídeos e
percebemos a possibilidade de colocar na primeira uma descomplicação semelhante
que, agora, já foi melhor trabalhada. O “Ler-Cantar” também possui seu destaque, e o
desenvolvimento da habilidade de ler antecipadamente permite o preparo da
performance previamente, criando-se uma semântica mais concisa até para quando não
se lê partitura, ainda permitindo que utilizemos o mesmo mecanismo de pensar à
frente para nos organizamos. Por fim, esta proposta estabelece uma possibilidade de
interação sensorial criada por meio da observação do objeto musical sob a perspectiva
de múltiplos pontos de vista cognitivos distintos, estruturando, assim, a matéria
sonora, com sua significação cultural, de forma profunda.

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