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Estado, políticas públicas e a
ação profissional de assistentes
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sociais é uma coletânea que,
como afirma Yazbek em seu
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construção do livro surgiu na A questão central desta publicação é de pertinência histórica prefácio, “vem suprir uma lacuna
visita da Coordenação de Área da inconteste. Trata-se da relação orgânica entre Estado capitalista, na análise dessa relação”, tanto
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Capes ao Programa de Pós- políticas públicas e ação profissional do Serviço Social em um na formação quanto no trabalho
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Graduação em Serviço Social da momento no qual a ordem do capital, em sua fase neoliberal- no âmbito do Serviço Social
Unioeste em 2017, quando foi brasileiro. Fruto do trabalho
aventada a possibilidade de sua conservadora, já deu o que tinha que dar de proteção social. Para intelectual de experientes
tematizá-la, seus/suas autores/as efetuam não apenas um exercício
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publicação pela Edunioeste. Da pesquisadoras(es), juntamente
ideia à finalização, houve muita analítico, mas, sobretudo, esforço renovado de depuração epistêmica, com a produção de recém-
articulação entre pesquisadoras e teórica e política ancorados/as na lógica dialética materialista doutoras na área de Serviço
pesquisadores do sul, sudeste e Social, em sua totalidade, a obra
histórica e na economia política marxiana. Nessa tarefa, o Estado,
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nordeste do país (UCPel, UFSC,
Unioeste, UFES, Faculdade do antes minimizado, deixa de ser um epifenômeno ou ente estritamente contribui na apreensão crítica
das mediações entre a análise
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Sul da Bahia, UFRG, UFPB, determinado pela economia; esta, por sua vez, perde seu caráter
UFPR, UFAL) e uma colega do macroscópica e a construção de
exclusivamente mercantil; e a política pública recusa-se a ser mero ato respostas profissionais a partir do
Uruguai (UDELAR). Podemos
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dizer que esta obra é a expressão gerencial do Estado sempre a serviço das classes dominantes. Nesta trabalho nas organizações e
de uma construção coletiva. relação complexa, dialeticamente contraditória, abre-se um cenário estruturas institucionais no
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Estes autores vinham discutindo adverso para a prática do Serviço Social crítico, mas ao mesmo tempo âmbito das políticas sociais,
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o tema do livro em diversos pedagógico e portador de evidências factuais de que, em meio à enfrentando a burocracia,
eventos e interessados em gerencialismo e tecnocracia
alimentar o debate com os barbárie social, o projeto ético-político desta profissão é válido
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crescentes no Estado brasileiro
assistentes sociais. O conteúdo, e necessário. em tempos ultraneoliberais.
portanto, sintetiza um processo
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Reafirmando o compromisso
de intercâmbio nacional e
Profa. Dra. Potyara Amazoneida Pereira Pereira com o legado histórico da
internacional, ofertando um
aporte de temas centrais à área de (Curso de Serviço Social – UnB) categoria e com a qualificação
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Serviço Social, em um processo das competências teórico-
de luta e consolidação dos metodológica, técnico-operativa
Programas de Pós-Graduação e ético-política, a obra é um
aqui representados. convite à praxis profissional.
As Organizadoras
SO Profa. Dra. Esther Luíza
de Souza Lemos
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(Curso de Serviço Social –
Unioeste)
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9 786587 438085
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Reitor Alexandre Almeida Webber
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Vice-Reitor Gilmar Ribeiro de Mello
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Editora da Universidade Estadual do Oeste do Paraná
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Conselho Editorial CO
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Aparecida Feola Sella Flávio Pereira
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Valdeci Batista de Melo Oliveira Susimeire Vivien Rosotti de Andrade
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Equipe
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Diagramadora Revisora
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Maria Lúcia Teixeira Garcia
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Vini Rabassa da Silva
(Organizadoras)
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Cascavel
2020
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© 2020, EDUNIOESTE
Capa
Giani Goulart
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Revisão
Vanessa Raini de Santana
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Diagramação e Finalização
Lohana Larissa Mariano Civiero
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Ficha Catalográfica
Helena Soterio Bejio
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Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP)
E79
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Estado, políticas públicas e a ação profissional de Assistentes Sociais. /
organizado por Vera Maria Ribeiro Nogueira ... [et al.]. Cascavel , PR:
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Edunioeste, 2020.
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274 p.
ISBN: 978-65-87438-08-5
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II. Mioto, Regina Celia Tamaso, Org. III. Bidarra, Zelimar Soares, Org. IV. Título.
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CIP-NBR 12899
Ficha catalográfica elaborada por Helena Soterio Bejio – CRB 9ª/965
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Impressão e Acabamento
Gráfica da Universidade Estadual do Oeste do Paraná
Rua Universitária, 1619 - Jardim Universitário - CEP 85819-110 - Cascavel-PR
Telefone: (45) 3220-3118
E-mail: unioeste@hotmail.com
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Maria Lúcia Teixeira Garcia
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Vini Rabassa da Silva
(Organizadoras)
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Cascavel
2020
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Sumário
09 Prefácio
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Maria Carmelita Yazbek
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13 Apresentação
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Organizadoras
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15 Parte I – Estado capitalista, Políticas Públicas e autonomia
profissional
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17 1. Estado capitalista e Políticas Públicas: o Estado em ação
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Paulo Nakatani;
Ademar Bogo
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2. Estado Instituição: contribuições da tradição marxista ao debate
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Silvana Marta Tumelero
65 3. Reflexões sobre a ação política dos agentes implementadores de
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garantia de direitos de crianças e adolescentes
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Zelimar Soares Bidarra
Eugênia Aparecida Cesconeto
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225 10. A reincidência da violência contra mulheres e meninas: elementos
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estruturantes e exigências para uma intervenção emancipatória
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Fernanda da Fonseca Pereira
Vini Rabassa da Silva
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249 11. Una mirada desde Trabajo Social acerca de las nuevas corrientes
migratorias en Uruguay
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Silvia Rivero O
271 Sobre os autores
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Prefácio
Este livro, que aborda as Políticas Públicas e o Serviço Social,
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foi organizado por cinco experientes e respeitáveis pesquisadoras: Vera
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Maria Ribeiro Nogueira (UCPEL/UFSC), Regina Mioto (UFSC), Zelimar
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Bidarra (UNIOESTE), Maria Lúcia Garcia (UFES) e Vini Rabassa da Silva
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(UCPEL). Está voltado para o desvendamento do Estado capitalista em
suas configurações teórico-práticas, na medida em que enfrenta o desafio de
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decifrar o campo relacional entre Serviço Social e Estado, particularmente
em termos de projetos que se confrontam no desenvolvimento capitalista
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e se expressam nas Políticas Sociais. Desafio enorme, se considerarmos a
atual conjuntura de crise do capital e as transformações que hoje caracte-
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rizam a esfera da acumulação capitalista, com seus impactos no mundo do
trabalho, na “questão social” e nas Políticas Sociais.
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Tempos difíceis nos quais a centralidade do capital financeiro e
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seu domínio sobre o capital produtivo traz consequências graves para a
população com a qual os assistentes sociais trabalham. Quadro que vem
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individualismo e pela competição. Processos que interferem nas múltiplas
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dimensões da vida, que interferem na esfera da cultura, da sociabilidade e
da comunicação. Contexto em que é essencial a elucidação da natureza e do
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papel do Estado, tomado como instância em que se projeta a complexidade
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de interesses societários em disputa. Desse modo, Estado e Política Social
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devem ser tomados como âmbitos de uma totalidade que compõe o pilar
analítico de referência, para pensar o Serviço Social profissional.
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Analisar a profissão nesse cenário exige, portanto, desvendar o
pressuposto de que há uma profunda relação entre as transformações, em
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andamento, no regime de acumulação na ordem capitalista, especialmente
as mudanças que caracterizam a esfera da produção e o mundo do traba-
lho, associadas à nova hegemonia liberal-financeira e as transformações
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que ocorrem nas políticas sociais com o advento, por um lado, da ruptura
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Estado, no âmbito das Políticas Sociais, são reducionistas, com alto grau de
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“uma nova era de devastação, uma espécie de fase ainda mais destrutiva da
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barbárie neoliberal e financista que almeja a completa corrosão dos direitos
do trabalho em escala global” (ANTUNES, 2018, p. 10).
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Efetivamente, o Serviço Social é parte integrante dessas relações e
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das características que assumem na sociedade burguesa em seus processos
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de mudanças, inserindo-se no conjunto da classe trabalhadora, de suas lu-
tas e apontando para a necessidade de um trabalho social orientado para a
LE
emancipação humana. Como profissionais, fazem parte da mudança, como
gestores e operadores de políticas sociais, que se tem constituído histori-
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camente numa das mediações fundamentais para o exercício profissional.
Assim, a profissão está envolvida diretamente com a construção cotidiana
da sociabilidade capitalista pela mediação dessas políticas, operando dentro
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de seus limites e de suas possibilidades.
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um pouco a vida das classes subalternas, nessa era de devastação que esta-
mos enfrentando... Nessa direção, o livro Estado, Políticas Públicas e a Ação
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livro que enfrenta desafios, polêmicas, e nos instiga a levantar novas ques-
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tões, que, ao mesmo tempo, coloca-nos diante de desafios contemporâneos
e marcas históricas persistentes na profissão.
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Considero a leitura imprescindível para todos os que buscam superar
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as perplexidades do presente.
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São Paulo, 27 de julho de 2019
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Maria Carmelita Yazbek
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
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Apresentação
A intervenção profissional do assistente social no campo das políticas
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públicas
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Este livro busca atender a uma demanda de profissionais e pesqui-
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sadores da área do Serviço Social sobre questões emergentes e desafiadoras
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ao debate contemporâneo. Uma delas é a reduzida aproximação entre os
profissionais e as referências teóricas que sustentam a intervenção profis-
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sional no campo das políticas públicas, particularmente, no movimento do
Estado no modo de produção capitalista. Outra questão parece residir na
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insuficiência da produção teórica em torno das mediações entre as análises
macroscópicas do contexto da profissão e a ação profissional no contexto
da burocracia, do gerencialismo e da tecnocracia contemporâneos. Ob-
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serva-se, ainda, a dificuldade dos profissionais em analisarem, de forma
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dual e municipal não “[...] deve ser entendido como estritamente técnico:
a identificação do problema e a construção da agenda envolvem valores e
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vista o eixo condutor – políticas públicas e ação profissional.
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O primeiro eixo1 aborda as políticas públicas na perspectiva do
Estado em ação, seja por meio de suas intervenções ou omissões. Entende-se
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como as articulações entre Estado e Sociedade são complexas e dinâmicas e
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dependem do momento histórico. São determinadas pelas particularidades
de cada país, região ou espaço local (SERAFIM, 2012). De acordo com
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Oszlak (1997), essas relações são transversais às esferas federativas (federal,
estadual e municipal) e entre os diferentes planos da relação Estado-Socie-
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dade: funcional, material e político.
O segundo eixo trata da integração de assistentes sociais na im-
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plementação das políticas públicas por meio de suas ações profissionais
favorecendo a apreensão do ciclo processual das policies. Busca-se superar o
O
mimetismo observado entre ação profissional e políticas públicas. Por meio
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dessa abordagem, resgatam-se as competências da profissão, demarcando
sua especificidade no campo interventivo e se apreendem as possibilidades
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ação. Desde a leitura do real visando subsidiar os atores políticos para a par-
ticipação social até o controle efetivo da implementação dos serviços sociais.
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Parte I CO
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autonomia profissional
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1.
Estado capitalista e Políticas Públicas: o Estado em ação
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Paulo Nakatani
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Ademar Bogo
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O Estado capitalista não é uma instituição separada da sociedade,
mas sim a forma social por meio da qual se expressam politicamente os in-
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teresses gerais das classes sociais. Os interesses particulares da luta entre
as diversas classes e frações sociais se manifestam no regime político, que é
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uma forma concreta, histórica e institucional de organização do Estado. Ao
mesmo tempo, esse regime reestrutura continuamente as relações sociais,
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intervindo nas esferas econômicas, jurídicas, políticas e ideológicas que
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direcionam ao processo histórico de desenvolvimento social.
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são a expressão das manifestações concretas das lutas e disputas entre as diver-
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sas classes e suas frações, as decisões sobre o direcionamento dos gastos
governamentais são os resultados dessa disputa.
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Os representantes políticos dos diversos capitalistas (capitais par-
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ticulares) atuam no âmbito dos mesmos poderes – executivo e legislativo
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– de maneira a atender aos interesses dessa ou daquela fração do capital e
do capital em geral.
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O Estado como forma social
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O Estado capitalista surgiu como uma necessidade política e jurídica
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do capitalismo. Ele é o resultado de uma longa e renhida disputa entre as
D
classes dos comerciantes e dos industriais capitalistas modernos, contra os
senhores feudais decadentes, desde o final da Idade Média e, principalmen-
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foram estruturados de uma só vez. Ele foi constituído por meio das formas
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de convencimento e, se preciso, usar legalmente a força.
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A partir desse ponto de vista, compreendemos que o poder político
e jurídico no capitalismo não se situa separadamente das questões produ-
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tivas, pelo contrário, esse mesmo sistema que produz a mais-valia também
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estende e abarca a esfera das decisões e do controle do poder político que,
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pela unidade das formas de reprodução da riqueza, mercadoria, dinheiro
e capital produtivo, articulam as forças motrizes das principais relações
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capitalistas.
Essa concepção que entrelaça os diferentes elementos estruturantes
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do modo de produção capitalista encontramos em Karl Marx, na Introdução
à crítica da economia política de 1959, que destaca:
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Minha investigação desembocou no seguinte resultado: Relações jurídicas,
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tais como forma de Estado, não podem ser compreendidas nem a partir
de si mesmas, nem a partir do assim chamado desenvolvimento geral do
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de vida, cuja totalidade foi resumida por Hegel sob o nome de “sociedade
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sociedade, mas posto por cima dela, distanciando-se cada vez mais, é o
Estado” (ENGELS, 2000, p. 191).
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vencilhar-se” (ENGELS, 2000, p. 191). Para que os interesses colidentes
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não destruam, por meio dos choques, a sociedade, segundo Engels (2000),
é necessário um poder que, aparentemente, coloque-se acima dela para
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amortecer o choque e mantê-la dentro do limite da ordem. Distancia-se,
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também, pela autonomia e pelo impedimento do acesso espontâneo da
classe às suas repartições, mas a sua estrutura permanece enraizada, em
TA
qualquer época, na base econômica, alimentando-se do funcionamento da
própria sociedade civil.
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Podemos encontrar no Manifesto do Partido Comunista, de 1848, o
sentido histórico da criação da forma Estado, especificamente quando
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Marx e Engels consideram que a formação da própria classe é também
histórica e, com isso, por meio do processo político, adquire o aprendizado
O
de como proceder:
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feudal, por não se coadunar com o novo modo de produção, não apenas
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fez com que as disputas entre as classes estruturassem o processo político
com essa finalidade. A luta contra os senhores feudais que dificultavam os
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avanços produtivos fortalecia também o objetivo da emancipação política
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que buscava estabelecer uma nova ordem e um novo regime político.
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Sendo assim, há determinados momentos históricos em que uma
classe, em busca de satisfazer os seus interesses, rompe com a ordem,
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colocando-se acima da sociedade, e todo o esforço que o Estado faz para
que as classes não se devorem torna-se em vão. É um momento crucial
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quando as classes assumem o propósito de se devorarem verdadeiramente. Elas
buscam inverter os papéis no comando do poder. A ascensão da burguesia
não apenas devorou a classe dos senhores feudais, como também destruiu
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o instrumento imprestável da forma de poder político e jurídico feudal,
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demonstrações dos limites do poder estatal ocorrerão pelo enfrentamento
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entre as classes que, desrespeitando as imposições públicas, buscam mu-
danças substanciais na esfera privada.
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A abrangência social do Estado como forma de poder não pode
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ser vista desvinculada do funcionamento da economia, da coerção jurídica
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e da dominação política que envolve a preservação dos interesses da classe
burguesa no capitalismo. Para Sweezy (1985), a não inclusão do Estado como
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tema da economia é uma omissão arbitrária e injustificável. A prerrogativa
fundamental da presença do Estado nas relações de produção não é a con-
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ciliação entre as classes, mas a imposição do poder de uma sobre a outra,
isso porque a economia, as classes, o Estado etc. são produtos do mesmo
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desenvolvimento histórico que não se deu sem a disputa de interesses e,
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para assegurá-los, a classe historicamente dominante lança mão, a todo
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XVII do livro I do O capital, quando descreve que o possuidor de dinheiro
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encontra no mercado não o trabalho especificamente, mas o trabalhador
que está disposto a vender a força de trabalho. Por essa razão, ao começar
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realmente a trabalhar, o seu trabalho deixa de lhe pertencer e por isso não
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pode mais vendê-lo (MARX, 2013).
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É o olho do Estado que vigia o contrato assinado e impede que o
trabalhador, após ter vendido a sua força de trabalho, tenha poder sobre
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ela, assim, mesmo estando socialmente livre, terá de entregá-la dia após dia
conforme combinado. Não é ao proprietário unicamente que o trabalhador
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deverá prestar contas da entrega da mercadoria, mas também ao poder
judiciário. Nesse sentido, por estar em todos os lugares e vigiar todas as
relações, compreende-se a caracterização de Hegel, quando denominou o
O
Estado de espírito absoluto: “[...] nele a liberdade obtém o seu valor supre-
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mo, e assim este último fim possui um direito soberano perante os indiví-
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duos que, em serem membros do Estado, têm o seu mais elevado dever”
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para a forma mercadoria, para a forma produtiva e para uma nova forma
mercadoria, enfim ao retorno à forma dinheiro. É nessa última mudança
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D–M{Ft
Mp
…P…M’– D’...D – M{DMp
Ft …P…M’– D’... D–M {Ft …P…M’– D’ ...
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Em geral, esse movimento global do capital ocorre, como nos refe-
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rimos anteriormente, por meio da autonomização de suas formas funcionais
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em seus respectivos ciclos:
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I) Ciclo do capital monetário: D-M...P...M’–D’;
II) Ciclo do capital produtivo: P...M’–D’–M...P;
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III) Ciclo do capital mercadoria: M’–D’–M...P...M’.
CO
Para compreendermos a totalidade das relações econômicas e po-
líticas envolvidas no processo de reprodução do capital, a estruturação e o
O
funcionamento do Estado capitalista, devemos evidenciar a dúplice relação
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intermediada pela presença humana, que acontece entre o capital e o Estado
e, simultaneamente, entre o Estado e o seu respectivo regime político.
O
pessoalizar algo que não tem vida humana. Nesse caso, é o capital que se
transfere para o corpo do capitalista que passa a representá-lo e agir de acor-
do com os seus comandos. Isso ocorre também com a forma mercadoria:
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mercadorias.
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capital que Marx chama de capital fictício, em operações diárias com o Banco Central. O
movimento cíclico e contínuo do capital ingressa e retorna ao ciclo do capital mediante
tributação e gastos estatais.
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O detalhamento da circulação global do capital em geral como totalidade e sua ma-
nifestação nos capitais particulares está apresentada nos quatro primeiros capítulos da
seção I, do livro II do O capital: “As metamorfoses do capital e seu ciclo” (MARX, 2014,
p. 107-200).
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vindas da existência do Estado responsável por elaborar e garantir a ordem
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política e jurídica.
Considerando real e necessária essa dúplice relação entre capital
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e Estado, e entre Estado e regime político, a personificação do capital no
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capitalista participa das relações estruturantes do sistema, desfazendo as
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ilusões de que é o capital que pertence ao capitalista; isso acontece apenas
na esfera jurídica, quando se quer estabelecer nominalmente a posse privada.
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No entanto, no processo natural de reprodução, é o capitalista que pertence
ao capital, pois obrigatoriamente coloca-se a serviço dele, submetendo-se às
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leis tendenciais estabelecidas. Por isso, segundo Marx: “Como capitalista ele
é apenas capital personificado. Sua alma é a alma do capital” (2013, p. 307).
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Dessa mesma forma, podemos considerar que não é o Estado que
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pertence ao cidadão, mas, ao contrário, é o cidadão que pertence ao Estado.
Podemos encontrar essa indicação tanto nos clássicos quando tratam do
O
contrato social, quanto nos primeiros escritos de Karl Marx que tratam da
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(2009) revelam:
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proprietários. Mas, o Estado é a forma política da qual advém a segurança
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do capitalista para a garantia dos seus interesses.
O Estado, tal qual o capital, é a generalização que comporta dentro
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de si diferentes formas de relações e de poder político. Conforme Mathias
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e Salama (1983), o regime político é distinto do Estado e um é a forma do
TA
outro. No entanto, se por um lado existe uma autonomia relativa do Estado
em relação à classe, o mesmo não se pode dizer do regime político, por isso,
LE
os autores reconhecem que a relação que liga o Estado ao regime político é
complexa. “[...] o Estado é uma abstração. Sua natureza de classe é ‘derivada’
CO
ou do capital, concebido como categoria, nos países capitalistas desenvol-
vidos; ou [...] da ‘economia’ mundial constituída, nos países desenvolvidos”
(MATHIAS; SALAMA, 1983, p. 15).
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Essa complexidade pode ser simplificada por intermédio da indi-
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das leis. Com elas, são legitimados os poderes estruturados nas formas de
poder: executivo, legislativo e judiciário4 que, em grande medida, repetem
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ção do capital, e possui uma estrutura estável, diferentemente do regime
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político que pode ser alterado segundo os riscos e os interesses da classe ou
alianças de grupos e frações que governa. Por intermédio da Constituição,
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tem-se a formalização jurídica que define a organização estatal por meio
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da separação dos poderes.
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É por meio da organização dos poderes que se entrelaçam as insti-
tuições, e que caracterizam os regimes políticos mais estáveis estruturados
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por meio das formas de governo. Assim, enquanto o regime político adotado
por um Estado se refere à estrutura da organização política com toda a
CO
complexidade institucional, a forma de governo está mais intrinsecamente
vinculada ao formato adotado por cada governo e, por isso, pode se dis-
O
tinguir de um para outro, devido às determinações históricas e concretas
D
em cada sociedade.
A personificação das formas sociais de poder no capitalismo se dá
O
pela encarnação das próprias formas nos indivíduos, isso porque a mercado-
V
por meio de suas próprias leis, a maneira de pensar e de ver a realidade social.
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uns dos outros em suas metamorfoses particulares. Cada capital indivi-
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dual no primeiro momento do seu ciclo em que deve adiantar o dinheiro
comprando meios de produção, sob a forma de máquinas, equipamentos
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e insumos, depende de uma multiplicidade de outros capitais. Ele deve
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encontrar no mercado de meios de produção todas as matérias-primas e
TA
outros materiais para a passagem ao segundo momento do ciclo. Também
necessita encontrar a força de trabalho adequada à forma concreta que seu
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capital deve assumir como capital produtivo. Quanto maior for a magnitude
do capital individual e mais complexa for a mercadoria produzida, maior
CO
será a diversidade e variedade de fornecedores que ele necessita.
Entretanto, o que sustenta de fato o poder dos capitalistas é o poder
econômico que, por força das circunstâncias de cada época, recorrem aos
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poderes executivo e legislativo para assegurarem o processo de reprodução
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dução do capital, todos concorrem contra todos e, por isso, são obrigados
a se aliarem quando os interesses recíprocos precisam ser alcançados. É o
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mês, mediante os descontos para a previdência social e a retenção da parte
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correspondente ao imposto de renda retido, se seus ganhos assim o exigi-
rem. Aos capitalistas, cabe pagar impostos sobre a produção e circulação
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dos produtos e todas as taxas expedidas pelas autoridades. No entanto,
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se para os trabalhadores as leis operam impondo rigidamente as normas,
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para os capitalistas há subterfúgios dos incentivos fiscais, taxas acessíveis,
negociação das dívidas particulares e supressão de impostos.
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As relações entre os capitais particulares e o governo oscilam se-
gundo os diferentes regimes econômicos adotados e os momentos do ciclo
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de expansão, contração do capital, por determinação das crises do próprio
sistema do capital, dos interesses particulares de grupos ou de frações do
capitalista e, até mesmo, do interesse de um capitalista em particular. Assim,
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em cada formação social, estrutura-se um sistema tributário para o finan-
D
que pode ser devolvido sob a forma dos gastos sociais. Assim, uma parcela
importante da massa de valor em circulação ingressa diariamente no aparato
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Por outro lado, essas políticas jamais se referem aos gastos finan-
ceiros do Estado. Como em seu movimento cotidiano, o capital na forma
dinheiro é convertido diariamente em capital a juros pelos bancos centrais;
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essa forma exige o pagamento diário de juros, assim como Marx (2017,
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p. 443) escreveu: “Tão logo é emprestado ou investido no processo de
reprodução [...] crescem seus juros, não importando se ele dorme ou está
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acordado, se está em casa ou viajando, se é dia ou noite”.
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Em qualquer variável, com maior ou menor presença do Estado na
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economia, por mais concentradoras ou liberais que possam ser as medidas
adotadas, elas não interferem na essência do funcionamento do sistema de
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reprodução do capitalismo, que se sustenta sobre as leis tendenciais que
garantem a exploração, a reprodução, a circulação e a expansão do capital,
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sempre ancorado na propriedade privada dos meios de produção.
Nenhum grupo ou classe que ascende ao poder governamental no
O
capitalismo tende a destituir os indivíduos do direito de propriedade, tão
pouco superar a essência do sistema que impõem as relações de produção.
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Isso apenas pode ser feito se houver uma profunda ruptura com a ordem
O
Para o curso usual das coisas, é possível confiar o trabalhador “‘às leis natu-
rais de produção”, isto é, à dependência em que ele mesmo se encontra em
relação ao capital, dependência que tem origem nas próprias condições de
produção, e que por elas é assegurada e perpetuada (MARX, 2013, p. 809).
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e judiciário), o Estado ordena que as intervenções sejam feitas seguindo as
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diretrizes constitucionais em favor da ordem econômica, quando necessário,
por meio da força policial.
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Portanto, a forma política estatal de poder centralizado no capita-
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lismo serve para salvaguardar a propriedade privada. Sua função é também
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garantir o direito à produção da forma mercadoria, tendo o trabalho, a
mais-valia, a troca e os impostos como fatores responsáveis pela produção
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e reprodução da valorização do valor. No entanto, as posições políticas dos
indivíduos proprietários nem sempre coadunam em favor do sucesso das
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relações entre a forma econômica e a forma política, isso porque devemos
admitir que não são todos os patrões e os trabalhadores que estão unificados
O
em torno de uma mesma posição política. Assim, muitas relações podem
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ser rompidas na sociedade capitalista, menos a do direito à propriedade
privada dos meios de produção e da propriedade em geral.
O
S
e de sustentação do poder político. Sendo assim, embora os capitalistas, de
PE
acordo com as suas categorias, também tenham as suas organizações de
classe, unificam-se estruturalmente nas instituições do Estado, fazendo-as
A
funcionar em seu favor.
/C
TA
As políticas públicas
LE
O desenvolvimento do modo de produção capitalista, nas distintas
formações sociais historicamente constituídas, desenrola suas contradições,
CO
de modo particular, a que é regulada pela lei geral da acumulação. Assim,
nos diferentes Estados nacionais, ocorrem processos de aguçamento das
O
desigualdades econômicas, políticas e sociais, de aumento da pobreza e da
D
miséria, mesmo com as relativas melhorias conquistadas historicamente. A
existência e expansão do pauperismo exigem dos Estados políticas públicas
O
welfare states, por uma parte e por outra, pela própria pressão social para o
U
S
distribuem medicamentos gratuitamente, eles são adquiridos dos grandes
PE
laboratórios farmacêuticos; quando elaboram e executam programas de
habitação popular, distribuindo residências a baixo custo, todo esse pro-
A
cesso de construção exigiu grandes financiamentos para as obras, aquisição
/C
de terrenos, materiais de construção etc.
TA
É nesse sentido que as políticas públicas, que, em grande medida,
mesmo sendo insuficientes para atenderem às necessidades das populações
LE
carentes, não se separam do processo de acumulação e reprodução do
capital nem tampouco do mercado. Os governos, para além dos objetivos
CO
políticos, também almejam alcançar resultados econômicos que são, acima
de tudo, os interesses da iniciativa privada presentes na elaboração das
O
políticas públicas.
D
Se no passado o mercado por si só era responsabilizado por
O
(AZEVEDO, 2004).
CL
quando e como cada uma das partes deve assumir certas responsabilidades.
O que a iniciativa privada frequentemente questiona é o volume de recursos
SO
tirem que uma das garantias para a manutenção dessas políticas públicas
RA
parcelas da população, não tendo mais para onde ir em busca de meios para
a sua reprodução, o capital exige que o atendimento aos direitos sociais, de
responsabilidade do poder público, sejam delegados para a iniciativa privada.
Isso uma vez que “O capital é o impulso infinito e ilimitado de ultrapassar
as barreiras que o limitam” (MÉSZÁROS, 2002, p. 251). Sendo assim, o
capital pode tudo, menos deixar de ser capital.
34
S
interrompam reformas, dentre elas a reforma do próprio Estado. Não se
PE
trata de pôr abaixo a superestrutura e delegar todo o poder à base econômica,
mas adaptar o funcionamento das estruturas políticas, jurídicas e ideológicas
A
às necessidades primárias da reprodução do capital. De alguma maneira,
/C
nesse processo, há um retorno ao modelo da acumulação primitiva por meio
TA
dos desvios de recursos que deveriam ser aplicados nas políticas públicas.
Para reformar o Estado e redefinir as suas funções, não são encar-
LE
regados apenas os administradores que atuam no seu interior, mas também
os representantes dos capitais particulares que assumem o comando e ela-
CO
boram as proposições que se encaminham para a direção de “uma forma
de gerencialismo, no qual a população atendida se converte em ‘cliente’ de
O
um serviço e o próprio Estado em nada mais que uma ‘empresa’ que presta
D
o tal serviço [...]” (IASI, 2017, p. 229).
O
rebaixamento do indivíduo para cliente que para ser atendido terá de pagar
U
gastos não se refere aos gastos financeiros. Nesse rumo, sem o interesse de
RA
S
De acordo com os elementos apontados neste estudo, tendo como
PE
entendimento que o modo de produção capitalista é um todo constituído e
funciona não apenas por meio das relações obrigatórias entre as estruturas,
A
mas fundamentalmente pelas necessidades da reprodução do capital com
/C
duas forças cooperadoras fundamentais a seu favor: o mercado e o Estado.
TA
Com o ajuntamento dessas duas mediações, movimentam-se as forças das
políticas públicas com a iniciativa privada, culminando para a satisfação das
LE
expectativas econômicas e políticas.
Por outro lado, se as relações jurídicas e a forma de Estado se en-
CO
raízam nas relações materiais que evoluem e, portanto, fazem progredir as
demais relações, aparentemente, causam a impressão de sobreviverem por
O
conta própria, alimentando-se do próprio movimento interno do poder e
D
confundem-se com a conclusão de Engels (2000), quando discorre: “Este
poder, nascido da sociedade, mas posto por cima dela, distanciando-se cada
O
sociedade civil das manobras e das operações feitas no âmbito dos negócios
SI
públicos/privados.
U
Desse modo, o banqueiro exige que o Estado funcione para que ele possa
garantir os seus lucros, assim como o funcionário público, o aposentado,
o pensionista, o dono do cartório, o cidadão que quer registrar seu imóvel
etc. possam receber seus salários, proventos e garantir o direito de pro-
priedade. A criação dessa forma de poder estatal “é a confissão de que a
sociedade se esbarrou em uma insolúvel contradição interna, se dividiu em
36
S
poder que, aparentemente, coloque-se acima dela para amortecer o choque
PE
e mantê-la dentro do limite da ordem.
As políticas públicas apresentam-se como a comprovação de que
A
o Estado e os governos são salvaguardos dos interesses sociais no que se
/C
refere aos serviços públicos. No entanto, a sociedade espera que seja respon-
TA
sabilidade do Estado atender ou não às populações carentes com serviços e
medidas que correspondam às contribuições tributárias da população. Isso
LE
foi parcialmente possível durante o período chamado de anos dourados, no
qual o capitalismo passou por um momento de prosperidades sem igual em
CO
sua história. Com o fim da prosperidade, as necessidades de reprodução
do capital foram se sobrepondo cada vez mais aos trabalhadores. Assim,
O
os direitos sociais obtidos pelos trabalhadores foram sendo suprimidos em
D
benefício do capital.
Nas relações públicas e privadas do capital, para implementar as
O
lucros. Por essas razões, concluímos que não há democracia real, mesmo em
regimes democráticos, pois o capital tem tendência de estar sempre atento
U
aos gastos públicos para extrair deles a sua parte e incorporá-la como parte
RA
da própria reprodução.
Ademais, o Estado capitalista atua continuamente procurando aten-
PA
S
O Estado capitalista em ação constitui-se, então, no principal bas-
PE
tião de defesa do capital, não só em termos econômicos como também
jurídicos, políticos, ideológicos e morais. Em termos de desenvolvimento
A
da luta de classes, formou-se uma pequena burguesia, chamada de classes
/C
médias5 que têm apoiado decisivamente as classes dominantes no desenrolar
TA
da luta de classes.
LE
CO
Referências
AZEVEDO, J. M. L. A educação como política pública: polêmicas de
O
nosso tempo. 3. ed. Campinas: Autores Associados, 2004.
D
Graal, 1977.
U
ICP, 2017.
S
de circulação do capital. São Paulo: Boitempo, 2014.
PE
MARX, K. O Capital. Crítica da Economia Política. Livro I: O processo
A
de produção do capital. São Paulo: Boitempo, 2013.
/C
MARX, K. Para a crítica da economia política; salário preço e lu-
TA
cro; rendimento e suas fontes: a economia vulgar. São Paulo: Abril
Cultural, 1982.
LE
MATHIAS, G.; SALAMA, P. O Estado superdesenvolvido. São Paulo:
CO
Brasiliense, 1983.
2.
Estado Instituição: contribuições da tradição
S
PE
marxista ao debate6
A
Silvana Marta Tumelero
/C
TA
Este capítulo objetiva trazer à tona reflexões sobre o caráter relacio-
nal do Estado e sua relativa autonomia no tocante à estrutura econômica,
LE
mantendo a análise sob a lógica dialética e a perspectiva de utilização de
classe do Estado e, para tal intento, retornamos às contribuições da tradição
CO
marxista ao debate de Estado. O necessário retorno a essa tradição teórica
possibilita refletir e problematizar as atuais configurações do Estado, nas
O
quais o traço repressivo, conservador e neoliberal disputa a hegemonia
D
política do momento em diferentes países do mundo. O retorno às teorias
críticas do Estado são centrais para avançarmos na construção de uma
O
cultura política que não se conforme aos limites do capitalismo. Tal como
V
S
que representam o Estado como um ente abstrato, desvinculado de qualquer
PE
interesse classista, como um espaço autonomizado e suscetível ao comando
de uma autoridade encarnada na figura de um governante.
A
Essa realidade nos faz refletir sobre como concebemos o Estado
/C
e como, no decorrer da história, as sociedades desenham em seus marcos
TA
constitucionais a representação jurídica e institucional de sua organização
política. Sobre ela, inúmeros estudos são gestados e, contemporaneamente,
LE
sobressaem-se aqueles relativos ao seu funcionamento operacional, muitos
sob a lógica gerencial, do caráter regulador sobre as relações mercantis e
CO
sociais. Essas evidenciam tanto a “necessária” redução da intervenção es-
tatal em processos que possam assegurar a maximização do capital quanto
O
sua intervenção disciplinar e criminalizadora sobre movimentos e relações
sociais consideradas como progressistas, compreendendo tanto o campo
D
do governante.
Portanto, entendemos como necessária a retomada de um debate
EX
rencial marxista.
U
teoria do Estado propriamente dita, isso não significa que não é possível
pensá-lo a partir desse clássico. Harvey (2006), Hirsch (2010), Codato e
Perissinotto (2011) e Mascaro (2013) defendem ser provável apreender as
concepções sobre o Estado a partir dos próprios textos de Marx e por meio
de autores inscritos nessa tradição, desde Engels e Lenin (Estado e Revolução,
1949), Gramsci (Cadernos do Cárcere, 2014a, 2014b) e Poulantzas (2000).
41
S
Estado e a política pela via da filosofia e da economia política, nos termos
PE
do que recomenda Coutinho (2011).
A
O caráter axiológico na análise do Estado
/C
TA
Entendemos que a análise do Estado a partir da filosofia e da eco-
nomia política marxista nos possibilita apreendê-lo na totalidade das estru-
LE
turas capitalistas. Desafiamo-nos, neste texto, a refletir sobre sua dimensão
institucional na implementação das políticas públicas, não somente pela
CO
ótica das conquistas de direitos sociais obtidas nas últimas décadas, e, sem
dúvida, decorrentes das incansáveis lutas de trabalhadores e da sociedade
civil organizada, mas também no quadro mais amplo de problematizações
O
que envolve esse mesmo Estado gestado como forma política da sociedade
D
capitalista.
O
S
Ao buscarmos refletir sobre o Estado, tendo em conta o seu alcance
PE
em termos de “dever ser”, lembramos que em Gramsci (2014b, p. 35) “[...]
o dever ser é algo concreto, ou melhor, somente ele é interpretação realista
A
e historicista da realidade, somente ele é história em ato e filosofia em ato,
/C
somente ele é política”. Sob essa premissa, ressaltamos que a produção mar-
TA
xista sobre a categoria Estado é gestada na estreita relação com a perspectiva
de “transição ao socialismo [...] e implica a construção de um novo tipo de
LE
Estado” (COUTINHO, 1994, p. 13), senão até mesmo sua supressão, no
que toca à atual forma política do sistema capitalista de produção.
CO
Essa é a dimensão teleológica que se coloca na produção das aná-
lises sobre as diferentes conformações do Estado, desde o século XIX
até os dias atuais no quadro da teoria social crítica. Ou seja, o percurso de
O
autores dessa tradição resultou em análises do que é e de como funciona o
D
de Estado.
CL
S
Codato e Perissinotto (2011) fazem menção às produções da década
PE
de 1970 que avançaram em análises do Estado considerando a autonomia
desse aparelho, em especial, Poulantzas (2000). Entretanto, não pautam suas
A
análises sobre o Estado instituição exclusivamente nesse autor. Eles próprios
/C
respondem mediante textos de Marx – sobre a revolução de 1848 na França
TA
– às críticas neoinstitucionalistas, que consideram a teoria social marxiana
limitada para análises do Estado como instituição, por entenderem que a
LE
teoria social não avança para além da “constatação da natureza de classe dos
processos de dominação política” (CODATO; PERISSINOTTO, 2011, p.
CO
40). Naqueles textos conjunturais, os autores evidenciam problematizações
que Marx fez sobre a dimensão institucional do Estado, transcritas a seguir:
O
Marx assinala [...] o fenômeno do parasitismo burocrático e do empre-
D
guismo público, ao lado do caráter despótico da organização estatal. [...]
O
estatal que não é simples tradução institucional do poder social. [...] Uma
CL
S
Por isso, nosso intento de problematizar concretamente o Estado se
PE
coloca não como um aperfeiçoamento dessa forma política neste sistema,
A
mas indaga: em que medida os agentes que colocam no horizonte a perspec-
tiva de uma nova ordem societária, no interior mesmo dessa forma política,
/C
produzem ou não estratégias que corroboram a edificação desse futuro?
TA
Se concordamos que a transição a uma nova possibilidade de orga-
nização societária se dá de modo processual e não explosivo (GRAMSCI,
LE
2014b), esse movimento demanda a consolidação de processos políticos
democráticos, a superação de Estados totalitários, a gestação de uma nova
CO
forma de organização política e social. Para tal, é necessário que coloquemos
em pauta as questões afetas ao Estado como instituição, evidenciando o seu
O
funcionamento e, especialmente, a relação entre seus agentes e pares, e a
sociedade civil, buscando compreender o quanto aqueles estão ensimesma-
D
S
sinônimo de governo político. Em Coutinho (2000), há a seguinte referência
PE
a essas duas teses gramscianas:
A
Onde não existe uma sociedade civil pluralista e desenvolvida – a luta
/C
de classes se trava predominantemente em torno da conquista do Es-
tado-coerção, mediante um “assalto revolucionário” [...] o que ocorre
TA
nas sociedades que Gramsci chamou de “orientais”. Já nas sociedades
“ocidentais”, onde o Estado se ampliou, as lutas por transformações
LE
radicais travam-se no âmbito da sociedade civil, visando à conquista do
consenso da maioria da população, mas se orientam, desde o início, no
CO
sentido de influir e de obter espaços no seio dos próprios aparelhos do
Estado, já que esses são agora permeáveis à ação das forças em conflito.
No primeiro caso, a estratégia se orienta para a “guerra de movimento”,
O
para um choque frontal, “explosivo” e concentrado no tempo, tendo como
meta a conquista imediata do Estado; no segundo, o centro da luta está
D
S
aos indivíduos singulares: daí, portanto, a obrigação da disciplina interior,
PE
e não apenas daquela exterior e mecânica (GRAMSCI, 2014a, p. 230).
A
Assim apresentada a questão da vontade coletiva, verificamos que
/C
ela está diretamente relacionada à reforma intelectual e moral proposta por
TA
Gramsci (2014a) e à construção da hegemonia com vistas à formação de
um novo bloco histórico.
LE
Outra categoria que nos parece central para problematizar o caráter
axiológico do Estado, nos termos de Gramsci (2014b), é a revolução passiva
CO
e o fato de que ela não determina apenas as transições pelo alto, ou seja, é
mais do que um programa político: uma referência analítica.
O
As proposições de que a sociedade não se põe problemas para cuja solu-
D
S
processos burocráticos e, com menor intensidade, à promoção de debates
PE
políticos que colocassem em causa a justiça social.
A
No plano político, o limite do reformismo social-democrata tem consis-
/C
tido em sua incapacidade de superar uma visão neutra e instrumental da
burocracia estatal. Na medida em que se atribui à burocracia estatal o papel
TA
de agente principal da execução das políticas de reforma, a ampliação dos
direitos sociais no capitalismo tem assumido fortes traços do que Gramsci
LE
chamou de revolução passiva. Portanto, o horizonte de superação do
capitalismo requer não só uma “mudança radical no aparelho de Estado
CO
pelas forças renovadoras [...] mas significa também uma desburocratização
do modo de fazer política, com a consequente transferência da execução
das reformas para os sujeitos coletivos interessados em sua realização”
O
(COUTINHO, 2000, p. 46-47).
D
que não sejam decorrentes da clássica transição pelo alto, passa pelo movi-
V
pela respectiva política pública. Esse é um desafio posto para mais de uma
CL
S
geral), como pretendiam Hegel e Rousseau (COUTINHO, 2000), ainda
PE
que entre esses dois clássicos haja algumas diferenças, conforme aponta
Coutinho (1998), referindo-se a Hegel:
A
/C
[...] a vontade geral tem uma base objetiva, ou seja, sofre um processo de
determinações histórico-genéticas que transcende a ação dos indivíduos
TA
e seus projetos volitivos singulares. Enquanto componente essencial do
mundo ético, a vontade geral não resulta de um postulado moral, não é
LE
mero resultado da ação virtuosa dos indivíduos ouvindo a voz própria
da consciência, como pensava Jean-Jacques [Rosseau] (COUTINHO,
1998, p. 63).
CO
Quando Marx (1844), no Prefácio à Crítica da Economia Política
O
(MARX; ENGELS, s. d.), recupera a trajetória que o aproximou das inves-
D
tigações nesse campo, afirma que foi por meio da revisão crítica da filosofia
hegeliana do direito que resultaram suas conclusões de que
O
V
de vida cujo conjunto Hegel resume [...] sob o nome de sociedade civil,
CL
S
novos referenciais de organização social e política, no qual se evidenciam
PE
interesses econômicos privados. A ruptura burguesa com o feudalismo
A
[...] afogou os êxtases mais celestiais do fervor religioso, do entusiasmo
/C
cavalheiresco, do sentimentalismo filisteu, nas águas geladas do calculismo
egoísta. E no lugar das incontáveis liberdades reconhecidas e adquiridas,
TA
implantou a liberdade única e sem caráter do mercado (MARX; ENGELS,
2004, p. 13).
LE
A dinâmica de instituição do mundo burguês criou enormes cidades,
CO
aumentou em escala a população urbana, tornou nações de camponeses
dependentes de nações burguesas. Aglomerou populações, concentrou a
O
propriedade de terras e de meios de produção em poucas mãos. Como
D
consequência, promoveu a centralização política.
O
S
mediador entre os interesses das classes fundamentais, ou seja, do capital
PE
e do trabalho, as quais possuem, estruturalmente, interesses antagônicos.
Entretanto, em análises das atuais configurações do Estado, há que se ter
A
presente que em sua estrutura institucional não se manifestam apenas os
/C
interesses das duas classes fundamentais, mas há toda uma série de outros
TA
coletivos organizados da sociedade que disputam espaços no Estado, por
exemplo, distintos setores do capital que apresentam interesses particula-
LE
rizados e por vezes conflitantes no interior de uma mesma classe funda-
mental, coletivos religiosos em que as pautas centrais estão colocadas no
CO
âmbito do conservadorismo moral, interesses corporativos de segmentos
militares, dentre uma série de outros coletivos com interesses particulares
O
que, por vezes, obscurecem os vínculos de classe, inclusive via processos
D
de regulação, conforme afirma Hirsch (2010).
Borón (2002) explicita que, para Marx, o Estado “é a expressão
O
S
Ainda, para Lênin, “a tomada do poder de Estado pelo proleta-
PE
riado implica a destruição completa da velha máquina estatal”, enquanto,
para Engels, “determinadas formas e instituições do velho aparelho de
A
Estado são respostas transfiguradas na nova configuração estatal” (COU-
/C
TINHO, 1994, p. 33). Para Marx e Engels, o que deve ser “quebrado da
TA
velha máquina estatal” – referindo-se à Comuna de Paris – “restringe-se
aos aparelhos burocráticos e militares do Estado” (COUTINHO, 1994, p.
LE
34) ultracentralizados.
Dessas considerações, é possível depreender a crítica de Borón (2002)
CO
às simplificações das análises do Estado, feitas em nome do marxismo, pois,
conforme também observa Coutinho (1994), a afirmação de Marx e Engels
O
no início do Manifesto Comunista, de que “a época da burguesia simplificou
D
os antagonismos de classe e dividiu a sociedade em dois campos opostos,
burguesia e proletariado” (COUTINHO, 1994, p. 16), é redimensionada em
O
S
por “inimizades pessoais, temores e esperanças, preconceitos e ilusões,
PE
simpatias e antipatias, convicções, questões de fé e de princípio” (MARX,
2003, p. 53) mantinham frações distintas de classes no interior mesmo das
A
classes fundamentais. Isso demonstra que as alianças políticas são sempre
/C
muito mais complexas do que a atribuição determinista do interesse de uma
TA
das classes no aparelho estatal.
Ademais, fez-se presente na cena política francesa do século XIX
LE
a pequena burguesia, representante dos comerciantes (lojistas), na defesa
da constituição de instituições democrático-republicanas que assegurassem
CO
a minimização dos antagonismos capital-trabalho e na defesa dos direitos
dos homens, contribuindo significativamente para a conformação institu-
cional que se convencionou chamar Estado de Direito, como estrutura da
O
democracia burguesa. “A centralização estatal, de que necessita a sociedade
D
S
as instituições do Estado, o Senado, o Conselho de Estado, o legislativo
PE
[...] os banheiros públicos, os serviços de utilidade pública, as estradas
de ferro, o état major da Guarda Nacional [...] – tudo se torna parte da
A
instituição do suborno. Todo posto do exército ou da máquina do Estado
/C
converte-se em meio de suborno (MARX, 2003, p. 146-147).
TA
Esses breves destaques a partir de O 18 Brumário de Luís Bonaparte,
LE
permitem ver que Marx (2003) explicita seu descrédito, na República que
se instituía na França, da via democrático-burguesa ser o instrumento de
CO
supressão dos antagonismos capital e trabalho assalariado. O que nos per-
mite reforçar, por um lado, sob a tradição marxista, a não autonomia do
Estado em termos de transformação das estruturas sociais, mas, de outro,
O
permite demarcar a existência no interior do Estado de uma multiplicidade
D
Ainda assim, é uma crítica que nos lembra os correntes discursos antiesta-
RA
S
estudos de Hirsch (2010) e Mascaro (2013) apresentam o Estado moderno
PE
como forma política gestada na forma social capitalista e que, portanto,
reproduz em sua estrutura institucional relações de interesses e valores con-
A
flitivos, tais quais os que se apresentam no âmbito estrutural da sociedade.
/C
No conceito de forma social trabalhado por Hirsch (2010), as cate-
TA
gorias da economia política marxiana estão presentes como a mercadoria,
a força de trabalho, a reprodução da força produtiva, a mais-valia, o lucro
LE
do capital, o dinheiro, os processos de reificação e coisificação. O autor
ainda faz referência à forma política como uma das duas formas sociais
CO
que dão sustentação ao sistema capitalista, conforme destacamos a seguir.
2010, p. 30-35).
CL
S
Para Hirsch (2010, p. 49), a forma social é definida como a “relação
PE
de articulação entre estrutura social – o modo de socialização –, instituições
e ações” e não somente pela organização das relações sociais produtivas.
A
Portanto, ainda que consideremos o peso que a estrutura produtiva tem
/C
sobre determinada formação social, há que se considerar, do autor, a afir-
TA
mação a seguir:
LE
pode nem ser determinada simplesmente pela estrutura, nem está isenta de
conflitos, mas é definida por estratégias de atores em disputa, os processos
CO
existentes de institucionalização e as suas configurações podem entrar
inteiramente em oposição com as formas sociais capitalistas determinadas
(HIRSCH, 2010, p. 49-50).
O
D
a relação entre forma social e instituição, ressaltando que não podem ser
tomadas “nem como relação entre ‘essência e aparência’, nem de maneira
EX
S
entre o Estado e as classes sociais, a relativa autonomia imputada à forma
PE
política, implica, segundo Hirsch (2010, p. 55), “um modo específico de
institucionalização das relações de classe”, ou seja, a conformação de repre-
A
sentação indireta das classes economicamente dominantes. Tal dinâmica,
/C
ao manter difusos ou mesmo obscuros os interesses dominantes, facilita
TA
o processo de formação da política do capital, dificultando a formação de
grupos opositores e fazendo aprovar seus interesses. A política do capital
LE
também é reforçada à medida do interesse do Estado em si mesmo, ou
seja, dos grupos dirigentes na perpetuação de sua estada no poder, faz
CO
com que criem, apoiem, aprovem e/ou ratifiquem políticas que assegurem
a manutenção da produção e reprodução capitalista. Esse processo, porém,
O
também incorre em contradições, pois há que se considerar a presença de
D
correlação de forças estabelecidas pelas lutas e reivindicações da classe
trabalhadora (assalariada) ou de frações de classe com força social, popular.
O
S
e traduzidos pela forma política em uma oposição entre o “povo” e o
PE
“Estado” (HIRSCH, 2010). Tais antagonismos não resultam somente das
relações econômicas de exploração e de classe, elementos que estão na base
A
da formação dos modernos Estados nacionais, mas também de “dimensões
/C
amplas e profundas do modo de socialização capitalista” (HIRSCH, 2010, p.
79) que se encontram presentes na forma social. São exemplos a presença
TA
de ideologias racistas e de gênero, que, sob uma identidade nacional, insti-
tuem e fortalecem a noção de povo unitário, com traços culturais, étnicos
LE
ou biológicos comuns. A identidade nacional também ofusca e obscurece
CO
relações de classe e neutraliza as lutas políticas. E mais, sob as designações
abstratas de cidadãos (eleitores) e sujeitos de direitos na relação com o Es-
tado, priorizamos direitos civis individuais que se traduzem na configuração
O
jurídico-formal da pessoa física, promovendo, em termos simbólicos, a “dis-
D
solução dos laços de parentesco, vizinhança e locais, destruindo ambientes
sociais e culturais existentes” (HIRSCH, 2010, p. 80), ou seja, alienando-o
O
S
tarefas básicas, tais como a de assegurar a constituição de personalidades
PE
jurídica e física, aparentemente livres e capazes de efetuar entre si relações
de trocas centrais para aquele modo de produção, garantir o direito de
A
propriedade, impor regulações em favor e/ou sobre o interesse privado e
/C
público, bem como reconhecer as regulações processadas fora do âmbito
TA
estatal propriamente dito.
A necessidade de a forma política do capitalismo aparecer como um
LE
modo impessoal de poder público, constituindo-se como uma estrutura par-
ticular, uma instituição que abarca uma série de recursos, “a administração,
CO
o orçamento, o poder executivo” (CODATO; PERISSINOTTO, 2011, p.
50) e que apresenta um interesse em “si mesmo, ou seja, a necessidade de
O
conservação de poder e de reprodução do pessoal dirigente” (HIRSCH,
D
2010, p. 55-56), é a dimensão da análise que se centra no poder governa-
mental, mas não o faz de modo independente das relações de classe, do
O
poder estatal.
V
ções, [e que ] nenhuma das quais pode, por si só dar conta do fenômeno
em sua plenitude” (BORÓN, 2002, p. 255), é possível reconhecermos o
caráter produtor e contraditório desse Estado que, não apenas inserido,
SO
S
‘política’ e ‘economia’” (HIRSCH, 2010, p. 31).
PE
Segundo Poulantzas (2000), o vínculo economia e política aparece
no caráter relacional do Estado, ou, ainda, de modo mais explícito: “as
A
relações de produção e as ligações que as compõem traduzem-se sob a
/C
forma de poderes de classe que são organicamente articulados às relações
TA
políticas e ideológicas que os consagram e legitimam”, e as relações polí-
ticas e ideológicas “estão presentes de maneira específica a cada modo de
LE
produção, na formação das relações de produção” (POULANTZAS, 2000,
p. 25) e reprodução.
CO
Corroboram essa perspectiva Codato e Perissinotto (2011), ao de-
fenderem que “[...] a tese materialista do Estado consiste em afirmar, como
sintetizou Marx no ‘Prefácio’, de 1859, a existência de uma correspondência
O
entre a estrutura jurídico-política e a ‘anatomia da sociedade burguesa’, isto
D
2011, p. 57).
V
S
socialização capitalista não é desconsiderar a relação entre trabalho assala-
PE
riado e capital, mas há que se considerar uma
A
inteira série de outros antagonismos sociais, de relações de domínio, de
/C
exploração e de subordinação: sexuais, religiosas, culturais, regionais [...]
que não resultam meramente das relações capitalistas de classe, e não
TA
desapareceriam de modo algum com elas (HIRSCH, 2010, p. 39).
LE
Desse modo, há que se ponderar o Estado na complexidade e
diversidade de seus aparelhos ou estruturas institucionais, as relações de
CO
classes e de grupos que se estabelecem, suas capacidades de “adaptação em
relação às modificações das relações sociais”, as contradições manifestas em
O
disputas e concorrências internas. Com isso, o Estado não é uma unidade
D
organizativa fechada que opera exclusivamente sob o “interesse próprio de
seus funcionários burocráticos e políticos” (HIRSCH, 2010, p. 32), ainda
O
ou de frações de classe.
U
-lo meramente como reflexo das relações de produção. Pensá-lo com uma
natureza de classe, preliminarmente, é retirar o caráter contraditório de suas
PA
interesses que seus agentes, por meio das instituições e dispositivos de que
dispõem, estabelecem com classes, segmentos de classe e grupos organi-
zados da sociedade civil no cotidiano das políticas públicas.
S
As reflexões teóricas apresentadas neste capítulo reforçam a ne-
PE
gação do Estado como representante do bem comum, põem em questão
A
a tese de que ele represente de modo exclusivo a classe economicamente
/C
dominante, reconhecem sua conformação moderna como a forma política
derivada da forma social capitalista, porém, dialeticamente, concebem-no
TA
como um espaço cuja estrutura institucional porta uma autonomia relativa.
E, assim entendido, o Estado, por ser um campo estratégico, é o lócus de
LE
excelência das lutas políticas.
CO
Segundo Poulantzas (2000), o Estado não se choca com limites
demarcados por um exterior autônomo, portanto, não representa “uma
entidade onipotente, [...] comporta, inscritos desde então em sua materiali-
O
dade, os limites, internos a seu campo, impostos pelas lutas dos dominados”
D
em sua obra Marxismo como Ciência Social, para aprimorar essa visão, quando,
V
poder de Estado”; possui uma “ossatura material própria que não pode
RA
S
Apresentado o debate que perpassa a autonomia relativa do Estado,
PE
com a explicitação dos interesses de classes nele presente e que o define
como a forma política derivada da forma social capitalista, é relevante con-
A
siderarmos o aspecto relacional do Estado e de seus agentes na produção
/C
de análises de alguns Estados ocidentais contemporâneos, nos quais os
TA
traços do neoliberalismo econômico (sob referenciais da democracia jurí-
dico-política burguesa) não asseguram isoladamente a direção política dos
LE
países, mas se articulam a elementos de conservadorismo moral, disciplina,
repressão social, manipulação midiática e cibernética, para a garantia de
CO
governabilidade. O
D
Referências
O
S
PE
HARVEY, D. A produção capitalista do espaço. 2. ed. Tradução de
Carlos Slak. São Paulo: Annablume, 2006.
A
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TA
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LE
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Donizete Chagas. 3. ed. São Paulo: Centauro, 2003.
CO
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Paz e Terra, 2004.
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Florianópolis, 2015.
SO
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64
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EX
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V
O
D
O
CO
LE
TA
/C
A
PE
S
65
3.
Reflexões sobre a ação política dos agentes implementadores
S
PE
de políticas públicas: “o pessoal do Estado”8
A
Silvana Marta Tumelero
/C
Vera Maria Ribeiro Nogueira
TA
Na tradição marxista, ao menos no percurso analítico que realiza-
LE
mos para a construção deste capítulo, o trato teórico conceitual aos agentes
estatais é difuso e polissêmico. Essa constatação nos provocou a apresentar
CO
reflexões baseadas em autores da tradição marxista que nos permitem carac-
terizar os agentes implementadores de políticas públicas, situados no quadro
mais amplo do pessoal do Estado. Temos consciência de que a opção por
O
construir um entendimento do que caracteriza esses sujeitos porta dúvidas
D
do, cabe lembrar que ela nos permite romper com a lógica de ver como
atribuição do Estado o bem comum, o qual se traduziria na forma de
PA
S
as considerações preliminares sobre o pessoal do Estado; o segundo trata
PE
o pessoal do Estado na tradição marxista; e o terceiro, na forma de con-
siderações finais, apresenta indagações e reflexões para uma nova práxis
A
política deste grupo.
/C
TA
Considerações preliminares sobre o Pessoal do Estado
LE
Retomemos Hegel (1997) para relembrar que, em sua obra, o pessoal
do Estado – ou burocracia – aparece como classe universal, que se efetiva
CO
como tal na medida em que representa os interesses gerais da vida social.
Essa, por sua condição, não deveria se ocupar da supressão de suas carências
O
imediatas. Para o autor, a burocracia, como classe, “deverá ser recompensada
D
mediante uma indenização dada pelo Estado que solicita sua atividade, de
modo que, nesse trabalho pelo universal, possa encontrar satisfação o seu
O
S
apresenta contribuições importantes quando pensamos o Estado em sua
PE
ossatura material e em seu funcionamento, na tradição marxiana, conforme
o autor explicita no excerto a seguir.
A
/C
O Estado, enquanto estrutura de dominação, extingue-se na medida da
constituição do comunismo. No entanto, existirá uma estrutura orga-
TA
nizativa ou administrativa dessa nova sociedade que não se confundirá
com dominação de classe. A ideia utópica de inexistência de estrutura
LE
de administração e organização da sociedade não se aplica à concepção
marxiana (SOUZA FILHO, 2006, p. 58-59).
CO
Diretamente em Marx e Engels (1989), podemos afirmar a relevância
que Marx dá à questão da dominação exercida pela burocracia na relação
O
mando-obediência, quando se refere à experiência da administração da
D
S
questões, ao mesmo tempo que indica uma relativa autonomia do Estado,
PE
pode também jogar um peso decisivo na manutenção do “[...] processo de
reprodução econômica como processo de valorização do capital” (HIRSCH,
A
2010, p. 32), pois, ainda segundo Hirsch (2010),
/C
[...] ‘o interesse do Estado em si mesmo’ — ou, mais precisamente: o
TA
interesse próprio de seus funcionários burocráticos e políticos — é, que
faz com que ele tenha relativa independência frente a influências diretas,
LE
tornando-se o garantidor das relações de produção capitalista. O pessoal
do Estado se vê então induzido a garantir os pressupostos para o êxito
CO
dos processos de acumulação e de valorização, mesmo quando não haja
qualquer influência ou pressão direta por parte do capital (HIRSCH,
2010, p. 32).
O
D
A tese de Hirsch (2010), apresentada anteriormente, se não desa-
credita, ao menos não explicita possibilidades de tensionamento às práticas
O
de dominação que possam ser provocadas pelo pessoal do Estado, seja via
V
S
agentes estatais podem constituir um processo de construção hegemônica
PE
como coletivo que defende práticas democráticas de gestão na perspectiva
de um processo transitório de sistema econômico e regime político. Ao
A
nos colocarmos tal questão, é possível tomá-la como elemento concreto,
/C
materialização de uma precondição ao tensionamento das formas até hoje
TA
predominantes de funcionamento do pessoal do Estado, isto é, a evidencia-
ção de defesa dos próprios interesses ou a falsa noção de agência passível de
LE
neutralidade, impessoalidade, rigidez normativa, ou ainda, a romântica tese
da ação para o bem comum. Desse modo, o uso da expressão burocracia,
CO
ao se referir ao pessoal do Estado, pode nos dar a noção equivocada de
uma unidade própria desse grupamento, retirando-lhe as contradições e
O
ocultando vínculos orgânicos e interesses distintos.
D
Também não é possível transpor para o interior da estrutura estatal,
O
tica, o seu funcionamento burocrático não poderá ser explicado pela lógica
U
S
peração da noção pessoal de Estado na tradição marxista, dando ênfase,
PE
ao final deste item, à categorização mais ampliada do que Gramsci trata
como funcionários do Estado. O autor, além de afirmar a necessidade de
A
reconstruir as análises do que toca ao desenvolvimento dessa questão,
/C
afirma que “o problema dos funcionários coincide em parte com o pro-
TA
blema dos intelectuais” (GRAMSCI, 1990, p. 92). São essas duas noções,
que se articulam em torno do que denominamos pessoal do Estado, que
LE
abordaremos adiante.
CO
Sobre o pessoal do Estado na tradição marxista O
Expressas algumas questões preliminares, voltamos à literatura na
D
tradição marxista, apresentando elementos que nos permitem reflexões
O
sobre o pessoal do Estado. Ainda que essa categoria tenha sido gestada por
Poulantzas, somente no último quarto do século XX, outras denominações
V
S
com um exército de meio milhão de funcionários, ao lado de mais meio
PE
milhão de tropas que, caracterizados como parasitas nascidos ao tempo da
monarquia absoluta, aprisionam a sociedade francesa. Dessas passagens,
A
Codato e Perissinotto (2011) destacam que Marx, ao se referir a um exército
/C
de funcionários, dá pistas para compreender o Estado como um aparelho
TA
cuja dinâmica de seus agentes tende a evidenciar o interesse nele próprio,
não se traduzindo unicamente como um poder subordinado à sociedade.
LE
Os autores destacam que “o fenômeno do parasitismo burocrático e do
empreguismo público ao lado do caráter despótico da organização estatal”
CO
(CODATO; PERISSINOTTO, 2011, p. 44-45) são passíveis de serem
apreendidos dos textos de Marx.
O
Outro aspecto importante quando se trata de pensar o quadro do
D
pessoal do Estado, é observar, na dimensão institucional do Estado, a dis-
tinção estabelecida por Marx entre aparelho e poder de Estado. Quando
O
sentada deixa explícito o fato de que uma classe ou fração determinada ter o
CL
S
da obra marxiana a afirmação de que a “capacidade de iniciativa governa-
PE
mental [ou] poder político, concentra-se em núcleos específicos do sistema
institucional de aparelhos do Estado” e o poder real que lhes cabe pode ser
A
avaliado pela “proximidade ou distância que mantiver em relação ao centro
/C
decisório” (CODATO; PERISSINOTTO, 2011, p. 49), e aos recursos or-
TA
çamentários e executivos de que dispõem. “Marx também chama de ‘postos
decisórios’, de onde se controlam efetivamente ‘as rédeas da administração’
LE
e níveis subordinados [àqueles] sem qualquer poder executivo” (CODATO;
PERISSINOTTO, 2011, p. 50). Um dos exemplos de organismo de nível
CO
subordinado, citado por Marx em Lutas de classe na França e destacado por
Codato e Perissinotto (2011), é a constituição de uma “comissão especial
permanente encarregada de pesquisar os meios para melhorar [as condições
O
de vida] das classes trabalhadoras” (CODATO; PERISSINOTTO, 2011, p.
D
sobre a qual persiste uma lógica própria, bem como interesses específicos
dos agentes estatais, sem que isso limite a análise sobre o poder de Estado.
U
S
tivas de Hirsch (2010) que podem ser aplicadas ao debate sobre o pessoal
PE
do Estado na tradição marxista, quando o autor afirma:
A
A separação entre trabalho manual e intelectual e a progressiva diferencia-
/C
ção dessa divisão de trabalho pertencem à ‘estrutura básica das relações
capitalistas de produção’. A isto está ligada a possibilidade de que surjam
TA
tipos bastante diversos de ‘intérpretes profissionais’ da sociedade e de
‘fabricantes de ideias’, o que representa um fundamento importante para
LE
a regulação. É isso o que permite a formulação de discursos relativamente
independentes das posições de interesses imediatos e das constelações
CO
de forças sociais, que podem ser reformados e combinados, tornando-se
fundamentos de projetos hegemônicos. O espaço para a autonomização
dos discursos ideológicos é, portanto, limitado. Eles sempre permanecem
O
vinculados a posições sociais e materiais, a práticas e experiências. Eles
não podem se desenvolver de maneira independente da estrutura concreta
D
rece dar-se conta de que o Estado burguês [...] e a sociedade burguesa [...]
mantêm entre si uma relação que transcende as influências pessoais que a
burguesia e seus membros possam eventualmente exercer sobre os agentes
estatais” (PERISSINOTTO, 2011, p. 73). O autor ainda apresenta uma série
de argumentos construídos a partir de análises de O 18 Brumário de Luís
Bonaparte, em que é possível evidenciar certo grau de autonomia da política
74
S
ciedade. Tal direção encontra-se em aberto, é possibilidade de devir e está
PE
condicionada diretamente à agência dos sujeitos políticos.
A
[...] nas análises que Marx faz da relação entre ação política e resultado
/C
histórico, isto é, a ideia de que um resultado histórico é, em grande parte,
um artigo não pretendido de antemão, mas sim produzido pela interde-
TA
pendência entre as diversas opções e decisões estratégicas tomadas pelos
agentes políticos no curso da luta política (PERISSINOTTO, 2011, p. 77).
LE
Entretanto, não podemos tomar essa análise para validação de vo-
CO
luntarismos na ação política como potência transformadora, pois uma das
garantias da burguesia de que certa autonomia do Estado não gere a ele riscos
de ruptura com o sistema econômico capitalista é o fato de o “funciona-
O
mento do Estado [estar] intimamente entrelaçado com o bom andamento
D
10
Os autores referenciam a obra em sua edição francesa: POULANTZAS, Nicos. Pouvoir
politique et classes sociales. v. II, Paris: Maspero, 1971, p. 153-193.
11
Esse elemento continua em aberto nas produções da tradição marxista e pode se con-
verter em um campo fértil para novas investigações, inclusive no confronto e/ou com-
plementaridade a estudos de Michel Foucault sobre a biopolítica e o neoliberalismo quan-
do ele demarca o caráter produtor e reprodutor do Estado, da forma social capitalista
contemporânea, evidenciando os efeitos sociais de práticas e dispositivos operados por
essa instituição via agentes estatais.
75
S
segmentos populares da participação política, traduzida “[...] por técnicas
PE
particulares de exercício do poder, por dispositivos precisos, inscritos na
trama do Estado, de distanciamento permanente das massas populares dos
A
centros de decisão [...] de formas de discurso [...] de formulação e tratamento
/C
dos problemas” (POULANTZAS, 2000, p. 59). Neste mesmo autor, há o
TA
reconhecimento de que, na ossatura material do Estado, as contradições
se expressam principalmente por meio das “divisões internas no seio do
LE
pessoal de Estado em amplo sentido” (POULANTZAS, 2000, p. 156-157)
e, mesmo que reconheça o pessoal do Estado ou funcionalismo estatal
CO
como uma categoria social portadora de unidade própria, enfatiza que seu
lugar12 de classe acaba por torná-la um grupo dividido.
O
Poulantzas (2000) identifica na divisão interna do pessoal do Estado
o lugar da classe burguesa com incumbências do alto escalão, enquanto a
D
plexas, determinadas, segundo ele, por ser “esse pessoal [...] uma categoria
CL
S
ções e experiências por vias particulares, as quais o autor denomina como
PE
mecanismos ideológicos no seio dos aparelhos e a participação política
em partidos e sindicatos. Poulantzas (2000) explicita a dinâmica pela qual
A
o Estado reproduz e inculca a ideologia dominante em seu pessoal, cuja
/C
função é produzir o cimento interno dos aparelhos de Estado e da unidade
TA
de seu pessoal. Ainda segundo o autor: “Esta ideologia é precisamente a do
Estado neutro [...] a administração ou a justiça acima das classes, o exército,
LE
pilar da nação, a polícia garantia da ordem republicana e das liberdades
dos cidadãos, a administração, motor da eficiência e do bem-estar geral”
CO
(POULANTZAS, 2000, p. 158).
Assim como em um recente período histórico, no campo de pro-
duções sobre a relação entre Estado e sociedade civil13, teve-se a ilusão de
O
que essa responderia, no quadro das lutas políticas contemporâneas, como
D
S
O autor também identifica certa ingenuidade nesses agentes do pes-
PE
soal de Estado que “reivindicam uma descolonização do Estado em relação
A
aos grandes interesses econômicos, o que [para eles] significa um retorno
/C
a uma virgindade, supostamente possível, do Estado” (POULANTZAS,
2000, p. 159), que permitiria aos agentes restabelecer a autoridade estatal
TA
e retomar seu papel de direção política. Esses mesmos grupos do pessoal
de Estado que tendem a alianças com as massas populares, raramente
LE
põem em questão a burocratização hierárquica enraizada no Estado, sua
dinâmica interna e a própria lógica institucional sob a qual assentam suas
CO
práticas. Essas características são identificadas por Poulantzas (2000) como
limites de politização do pessoal do Estado, os quais só poderão ser ultra-
O
passados sob “uma transformação radical deste arcabouço institucional”
D
(POULANTZAS, 2000, p. 160).
As saídas para esses dilemas do pessoal do Estado, propostas pelo
O
neomarxistas “não centraram sua atenção nos efeitos causados pelas inte-
rações estratégicas dos agentes políticos e nos impactos que suas opções
PA
S
Outro elemento que impacta diretamente na agência do pessoal do
PE
Estado tem a ver com o que é apontado por Hirsch (2010) em relação ao
modo como o mercado aborda os indivíduos, ou seja, como “aglomerados
A
de competitivos proprietários de mercadorias e bens” (HIRSCH, 2010 p.
/C
80) e o Estado adota essa individualização das pessoas para estruturar sua
TA
relação com elas. Desse modo, tornam-se objetos da intervenção do Estado,
apresentando-se como sujeitos de direitos ou eleitores (cidadãos isolados),
LE
independentemente de suas ligações econômicas, sociais e culturais. Ao
incorporar no cotidiano de seu trabalho essa lógica, os agentes implemen-
CO
tadores de políticas públicas reduzem sua percepção quanto à presença de
coletivos organizados ou diminuem a capacidade de identificação de sujeitos
coletivos. Como resultado, dão ênfase à produção de políticas públicas que
O
têm no sujeito de direito (cidadão), em sua individualidade, a finalidade de
D
S
PE
das iniciativas interessadas na constituição do espírito estatal e da busca de
afirmação do momento ético-político de superação da sociedade capitalista,
A
elemento central da função dos intelectuais atuantes na sociedade civil, na
/C
dimensão da superestrutura.
Gramsci (2014a) admite que a função do intelectual na direção
TA
política de uma sociedade é demandada com maior intensidade quando
não é possível a hegemonia por consenso espontâneo, em que as massas
LE
seguem o grupo fundamental dominante na vida social pela confiança nele
depositada, ou seja, quando crises no comando e na direção política exigem
CO
do Estado formas de intervenção legal no âmbito do disciplinamento de
grupos que não consentem nem ativa nem passivamente o consenso. Nessa
O
circunstância, jogam peso decisivo na formação do consenso os aparelhos
D
privados de hegemonia, integrantes da sociedade civil, os quais contemplam,
inclusive, as associações profissionais integrantes podem ser consideradas
O
(COUTINHO, 2000).
SI
S
Em Gramsci, a divisão do trabalho no âmbito da sociedade políti-
PE
ca, mais precisamente, no aparelho de direção política e estatal, explicita,
por um lado, uma série de funções e atribuições das quais se retira não só
A
o caráter político da ação quanto à dimensão volitiva desses agentes, e,
/C
por outro, demonstra que a adoção do conceito de intelectual fica restrita
TA
àqueles que desempenham atividades criativas. Isso a partir de análises dos
fenômenos do Estado, na realidade do sistema social democrático-buro-
LE
crático contemporâneo.
Há, desse modo, uma divisão no âmbito da burocracia civil que
CO
atribui a tarefa de administração e controle a determinado grupo técnico,
e, em alguma medida contemporaneamente, essa tarefa é direcionada tam-
O
bém aos quadros de especialistas, enquanto as ações de direção política
D
são atribuídas a um grupo de intelectuais que desempenham funções de
mais alto grau hierárquico no âmbito do Estado, seja por funcionários de
O
carreira ou nomeados.
V
S
ticas da pequena ou da grande política. Em nosso entendimento, é quando
PE
as ações se fundam no campo da grande política que evidenciamos alguma
possibilidade de retomada da relação dos agentes estatais implementadores
A
de políticas públicas, com o parlamento e com os sujeitos coletivos inte-
/C
grantes da sociedade civil, no âmbito do Estado ampliado. É uma pequena
TA
parcela de contribuição a colocar em questão os próprios regimes repre-
sentativos até hoje experimentados e vislumbrar num horizonte de longo
LE
prazo novas estruturas políticas possíveis numa sociedade cujas bases de
produção venham a superar o sistema capitalista.
CO
É tensionando processos macrossocietários com as contribuições do
pessoal do Estado na construção de práticas, que se assentem sob vínculos
O
orgânicos com as massas populares na direção de transformações sociais
profundas, que podemos chegar à produção do que Gramsci denomina
D
S
As possibilidades do pessoal do Estado na construção de uma gestão
PE
democrática
A
/C
Ao tratarmos do pessoal do Estado, nossa intenção foi explicitar
tanto o que ele é, no que se constitui, suas contradições e interesses distin-
TA
tos, quanto no que poderá vir a ser, ou seja, evidenciar a possibilidade de
reinvenção do aparato institucional no que toca ao seu pessoal, abordando-o
LE
no dever ser, num processo de transição a uma nova ordem social, isto
é, que elementos são passíveis de questionamentos em termos de práxis
CO
política desses agentes?
Sob a lógica da hegemonia construída no pluralismo, o pessoal do
O
Estado pode, sim, ser considerado como sujeito coletivo, sempre tendo
D
presente que em seu quadro mantêm-se interesses contraditórios e não
homogêneos, a contribuir com o processo de uma nova sociabilidade e, por
O
nho (2000, p. 32) que “[...] não há, na obra de Gramsci um desenho ‘a priori’
SI
a solução justa, pelo menos saber julgar entre as soluções projetadas pelos
especialistas e, consequentemente, escolher a que seja justa do ponto de
vista “sintético” da técnica política (GRAMSCI, 2014a, p. 35).
S
reção é que não podemos desconsiderar a potencialidade das práticas dos
PE
agentes implementadores de políticas públicas, valorizando a dimensão
criativa e inovadora sob bases distintas daquelas historicamente instituídas
A
e, particularmente, a potencialização do trabalho colegiado e de iniciativas
/C
coletivas. Consideramos também que muitos elementos objetivos já se
TA
colocam como condição para que problematizemos a agência do pessoal
do Estado para além da constatação de que sua ação se centra na defesa de
LE
seus próprios interesses ou de interesses meramente corporativistas, pois,
onde o Estado se ampliou,
CO
[...] as lutas por transformações radicais travam-se no âmbito da “sociedade
civil” [...] mas se orientam, desde o início, no sentido de influir e de obter
O
espaços no seio dos próprios aparelhos do Estado, já que esses são agora
D
permeáveis à ação das forças em conflito (COUTINHO, 2000, p. 39).
O
burocracia weberiana.
Atualmente, de modo lamentável, constatamos que é a partir dessa
mesma racionalidade que a instituição Estado e seus aparelhos são estru-
SO
turados pelos grupos que chegam ao governo, mesmo aqueles que apre-
sentam vínculos orgânicos com a classe trabalhadora e são gestados numa
U
S
que predomina nas práticas do pessoal de Estado que, caracterizado como
PE
intelectual orgânico ou tradicional, tem operado não apenas sob um discurso
A
ideológico, mas também no domínio e uso de uma série de mecanismos
/C
e dispositivos próprios do Estado, sejam jurídicos, administrativos ou mi-
litares/policiais de controle, que fortalecem posições políticas, por vezes
TA
transfiguradas de decisões técnicas. Gramsci (2014a) alerta para as mudanças
LE
necessárias a conformar um novo tipo de intelectual, em que se sobressaia
o caráter de construtor, persuasor permanente e dirigente, pautado numa
CO
concepção humanista histórica.
A relevância de repensar o modo de ser e as práticas políticas do
O
pessoal do Estado se fortalece sob a afirmação de Mascaro (2013, p. 116)
D
de que “a reprodução social capitalista se estabelece de modo atomizado,
com múltiplos agentes em concorrência [mas] tal estabelecimento é também
O
S
contribuição com esse processo, ao menos na relação interprofissional.
PE
É necessário colocar em questão as finalidades do trabalho desenvolvido
e sua apropriação e execução da forma mais crítica possível, pois essas
A
referências permitem relativizar interesses imediatos, pessoais, em razão
/C
da função social desempenhada. Essa reflexão corrobora a afirmação de
TA
Gramsci (2014a, p. 20) de que “a relação entre os intelectuais e o mundo
da produção não é imediata [...], mas é mediatizada, em diversos graus, por
LE
todo tecido social, pelo conjunto das superestruturas, do qual os intelectuais
são precisamente os funcionários”.
CO
Com isso, reiteramos a defesa de que é fundamental passarmos a
analisar as práticas do pessoal do Estado sob referenciais da teoria social
O
crítica. Ou seja, na perspectiva de sujeito político que vivencia a contradição
D
da ação fetichizada, porém não naturalizada, mas como possibilidade, como
devir de sujeito histórico-social.
O
bate sobre pessoal de Estado que precisamos fazer no campo das políticas
SI
prerrogativas que, a nosso ver, devem compor estudos que tenham como
objeto a particularidade do pessoal do Estado. Desse modo, apesar de certa
U
Referências
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S
Curitiba: UFPR, 2011.
PE
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LE
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89
4.
Burocracia e tecnocracia: impactos sobre as
S
ações profissionais
PE
A
Maria Luiza Amaral Rizzotti
/C
TA
O que nos inspira, ao escrever sobre esse tema, é o compromisso
com a qualidade, o aprimoramento da atuação do assistente social e a certeza
LE
de que a análise sobre o lócus do desenvolvimento da sua ação profissional
tem importante influência no desempenho e nos resultados do trabalho
CO
cotidiano. Organizar este pequeno capítulo e escolher o conjunto de argu-
mentos que pudesse despertar nos profissionais a necessidade de voltar o
O
olhar para as estruturas institucionais, como um dos elementos importantes
D
na análise do desempenho de sua ação, constitui-se num desafio, desde a
escolha dos elementos norteadores desta reflexão até a construção da nossa
O
S
apontar caminhos que podem se configurar como estratégias de construção
PE
da autonomia profissional em sua perspectiva intelectual e ética, assim como
reconstruir espaços institucionais em meio às estruturas burocráticas, de
A
modo a reconhecer que esses espaços são resultantes da práxis concreta
/C
dos seus sujeitos.
TA
O encadeamento argumentativo que trilhamos reconhece a essencia-
lidade e as consequências da burocracia e da tecnocracia, tanto na execução
LE
das políticas sociais quanto nos entraves para a ação específica do assistente
social em qualquer local de trabalho. Vale destacar que, em especial, no
CO
Brasil, há pouco mais de um quartil de século, tem ocorrido um processo
mais acelerado de profissionalismo na gestão de políticas sociais15. Esse fato
traz como consequência favorável a adoção de regramentos e da tecno-
O
cracia, desenhando um perfil institucional, que pode demarcar o caminho
D
15
Destaca-se que, a partir da Constituição de 1988 e do início dos anos 2000, quando as
políticas sociais se adensaram no interior do Estado Brasileiro e desenharam modelos de
gestão com base em sistemas únicos e pactos federativos reguladores, fez-se necessário
PA
S
fragmentar e separar o processo de trabalho do seu produto. Como afirma
PE
Lukács (1998):
A
A fragmentação do objeto da produção é também necessariamente a frag-
/C
mentação do sujeito. Em consequência da racionalização do processo de
trabalho, as propriedades particulares humanas do trabalhador aparecem
TA
cada vez mais como simples fontes de erro, racionalmente calculado de
antemão, desde as leis parciais e abstratas. O homem não aparece, nem
LE
objetivamente nem no seu comportamento em relação ao processo de
trabalho como verdadeiro portador do processo (LUKÁCS, 1989, p. 103).
CO
Não é o centro do nosso debate retomar a categoria trabalho concei-
tualmente, mas mostrar um caminho reflexivo que tem impacto no cotidiano
O
sobre a necessidade de dialogar entre a capacidade formada intelectual e
D
tecnicamente, e as categorias estruturantes do mundo do trabalho. Trata-se
de identificar a separação da ação intelectual e transformadora, assim como
O
são, uma direção ético-política que define nossa relação com a ampliação
dos direitos, da cidadania sob os marcos da democracia.
EX
S
política social; e (iv) a regulamentação e saber intelectual que moldam os
PE
profissionais e disputam seu lugar e saberes.
Este estudo se dedica às estruturas organizativas das unidades pres-
A
tadoras de serviços governamentais e não governamentais, mas com o olhar
/C
voltado ao diálogo entre as tradições, os procedimentos e as dificuldades
TA
dos agentes operadores das políticas sociais, tanto no que concerne as suas
explicações quanto à necessidade da busca dos caminhos de mudanças
LE
operadas por profissionais, situados ou não no escopo intermediário das
organizações públicas. Desse modo, o fio condutor também se deita sobre a
CO
ideia de que nas entranhas administrativas se tomam decisões e se expressam
os conflitos e contradições, retirando dos procedimentos mais corriqueiros
O
a ideia de neutralidade e lhes conferindo status de lócus político.
D
A organização dos conteúdos entrelaça diferentes focos, ao mesmo
tempo em que puxa diferentes fios que tecem o tema, sobretudo nas suas
O
S
poder econômico, social e político, alocado em todo o tipo de organização
PE
formal. Para Motta (1984a, p. 32): “as virtudes da burocracia são as mesmas
do capitalismo: um mundo de dominação e da falta de sentido. Assim, a
A
burocracia, que é a forma de organização mais racional, acaba sendo rigo-
/C
rosamente a mais irracional”.
TA
Assim como numa trama, um tema puxa o outro. Entender os
fundamentos da burocracia requer o acoplamento da rígida divisão do
LE
trabalho e seu rebatimento, tanto na necessária vinculação ao produto final
como na cooperação do trabalho. A leitura das relações institucionais com
CO
uma lente crítica constrói binômios como: cooperação/divisão, autonomia
intelectual/alienação e práxis/rigidez de regramento.
Ao transitar do senso comum para a formulação científica sobre
O
o tema da burocracia, todos os seus mais influentes autores a apresentam
D
S
uso das técnicas e da tecnologia, mas de abordar e reconhecer que sempre
PE
estará eivado de formulação teórica e ideológica. Esse reconhecimento
pode vir a oferecer ao profissional a capacidade de resistir e reconhecer
A
a práxis como uma possibilidade. No entanto, só se alcança esse patamar
/C
de formulação se envergarmos nossa leitura para o outro lado (dos efeitos
TA
disciplinadores), pois somente assim poderemos saber qual a medida do
enfrentamento necessário. Essa lógica pauta-se em Saviani (1983) ao tratar
LE
dos caminhos metodológicos diante dos embates ideológicos:
CO
[...] não basta anunciar a concepção correta para que os desvios sejam
corrigidos; é necessário abalar as certezas, desautorizar o senso comum. E,
para isso, nada melhor do que demonstrar a falsidade daquilo que é tido
O
como obviamente verdadeiro demonstrando ao mesmo tempo a verdade
D
daquilo que é tido como obviamente falso (SAVIANI, 1983, p. 63).
O
no interior das organizações não se faz por mérito ou honraria, mas pela
RA
S
dominação e à alienação como pontos fulcrais em qualquer processo de
PE
trabalho, pois exerce diferentes separações: o estranhamento do trabalhador
com o processo total de produção, a apartação entre os que planejam e
A
os que executam – do trabalho manual e intelectual, e a separação entre o
/C
processo e o produto final. Ao tratar dos efeitos da alienação na burocra-
TA
tização das organizações modernas, incluindo o setor público e inspirado
na principal obra sobre a burocracia de Marx Weber intitulada Economia e
LE
Sociedade, Motta (1984a) afirma:
CO
A alienação diz respeito a uma situação em que as pessoas não falam em
seu nome, não têm o domínio do seu próprio destino, não são incluídas
nos processos de decisão, mas são faladas pelos seus dirigentes (MOTTA,
O
1984a, p. 73).
D
S
Madel Luz (1981), ao fazer uma análise política das instituições,
PE
retoma o tema da disputa por hegemonia dos saberes e poderes, e destaca
a perversidade das amarras invisíveis. Assim, ao tratar da transversalidade
A
própria das instituições por onde perpassam instâncias econômicas, polí-
/C
ticas, ideológicas, e ao reconhecer a dimensão dialética dessas das relações
TA
institucionais, a autora destaca seus efeitos não ditos oficialmente:
LE
desde a infância no universo escolar e mais tarde no da Igreja, do Exér-
cito, da Justiça, de Cultura, dos lazeres e mesmo do sindicato e, assim
CO
até a morte, sem lhe deixar o menor repouso. Essa prisão de mil janelas
simboliza o reino de uma hegemonia cuja força reside menos na coerção
que no fato de que as barras são tanto mais eficazes porquanto menos
O
visíveis (LUZ, 1981, p. 31).
D
que: (i) separam o direito do acesso aos bens e serviços; (ii) dificultam a
passagem da abordagem individual para o coletivo; (iii) impossibilitam a
PA
S
fruto de uma relação de disciplina e poder.
PE
Prática profissional e a tecnocracia
A
/C
Ao iniciarmos esse debate, destacamos que há uma diferença entre
TA
o aprimoramento tecnológico na execução e gestão dos serviços, que é con-
siderado algo essencial, e a tecnocracia como um conceito formatado, tanto
LE
pelo uso da tecnologia quanto pela apropriação política. Assim, podemos
afirmar que a técnica e a tecnificação do trabalho e da gestão nas políticas
CO
sociais e serviços não são neutras e qualquer instrumental sempre tem seu
domínio configurado por ditames ideopolíticos
Antes de adentrarmos, especialmente, no tema da tecnocracia,
O
registramos que a ampliação de procedimentos técnicos e instrumentais,
D
suas vítimas.
Nogueira (1997), quando escreveu sobre o dilema da descentra-
EX
não inova sua tecnologia e sua linguagem não amplia sua cultura e seus
20
O uso do termo subalternização tem ancoragem tanto na leitura de classe adotada por
PA
Gramsci (2007), que trata do poder político sob a égide da práxis das classes subalter-
nas, como no termo cunhado por Yazbek (1993), ao tratar da relação dos sujeitos como
usuários dos serviços.
21
Os assistentes sociais têm, como uma de suas atribuições na lei que regulamenta a pro-
fissão, a função de gestores de políticas sociais, conforme expresso na Lei 8.662/93, em
seu Art. 4°, que trata das competências do assistente social: “I - elaborar, implementar,
executar e avaliar políticas sociais junto a órgãos da administração pública, direta ou indi-
reta, empresas, entidades e organizações populares” (BRASIL, 2012, s.p).
98
S
PE
Naturalmente, o tema da política tem diferentes dimensões inter-
A
pretativas e, neste caso, o tratamos como o resultante do lugar do diálogo
/C
e da disputa de projetos societários, do reconhecimento da existência do
contraditório, o respeito às lutas por emancipação e da leitura dos anta-
TA
gonismos de classe. Nesse lugar da política, suplanta-se o clientelismo, no
qual vigora e se impõe a subordinação dos favores.
LE
O debate da tecnocracia por sua dimensão política foi abordado
por Raymundo Faoro (1973), em um consistente texto sobre tecnocracia e
CO
política. Nele, o autor faz o resgate dos precursores do tema em diferentes
cenários e contextos políticos e econômicos. Vale destacar o apontamento
O
de Faoro (1973) para a interlocução entre a “classe de tecnocratas”. Ao
D
tratar os tecnocratas sob essa perspectiva, o autor reconhece a sua influên-
cia induzida pelo planejamento e por se conceberem como dirigentes ao
O
conflituosa, mas que também pode ser pacífica, entre a técnica e a política,
U
S
sobretudo para profissionais que atuam em políticas públicas, como é caso
PE
dos assistentes sociais.
Bobbio, Matteucii e Pasquino (2009), ao tratarem do tema da tecno-
A
cracia no dicionário de política, concedem a dimensão da influência e poder
/C
das categorias profissionais no interior das organizações. O texto considera
TA
que a tecnocracia é um dos conceitos mais ambíguos das ciências sociais,
e passa a delineá-lo a partir da amplitude histórica do conceito. Dentre as
LE
ambiguidades, interessa-nos a que se relaciona com as competências e o
poder dos detentores dos atributos tecnocratas, assim posto:
CO
Na verdade, ela (ambiguidade) vai desde a tese que configura tal poder
como mera capacidade de influenciar, mediante um papel de consultoria
O
técnica, e desde as decisões dos órgãos públicos, até a tese que individua-
D
liza na Tecnocracia um regime social caracterizado pela emancipação do
poder das suas tradicionais conotações políticas e pela tomada de uma
O
S
ramento no âmbito das estruturas administrativas, incorporando, de forma
PE
decisiva, o uso da tecnologia, em especial, a da informação, por meio de
sistemas cibernéticos que conversam entre si e coadunam informações
A
que constroem importantes bases de dados para serem utilizadas, tanto no
/C
planejamento quanto no monitoramento e avaliação.
TA
Ao mesmo tempo, no entanto, é comum ouvirmos os profissionais
se queixarem do acúmulo de tempo e ações que se dedicam apenas à orga-
LE
nização de procedimentos voltados ao registro de informações e, ainda, a
não utilização desses dados para a organização dos serviços, planejamento
CO
e procedimentos no cotidiano do trabalho. É necessário ter cuidado ao
endossar esse tipo de argumento, pois o aprimoramento tecnológico da
gestão de políticas sociais tem contribuído fortemente para demarcar sua
O
passagem dos modos voluntaristas e clientelistas para uma gestão impulsio-
D
alienante quanto aos fins últimos das ações. E, claro, não perder de vista
o adensamento do modelo democrático e a capacidade de dar robustez à
SO
S
que permitem transitar sistematicamente do senso comum à consciência
PE
filosófica e intelectual. Esses são fatores que sustentam diagnósticos e, por
conseguinte, planejamentos e práticas.
A
(ii) Planejamento e visão prospectiva – As diferentes abordagens
/C
sobre planejamento são comuns ao reconhecer a sua lógica racional, cien-
TA
tífica e técnica do que demandam, além de um diagnóstico aprimorado, a
construção de caminhos sistemáticos de otimizações, análise de condições
LE
objetivas e, também, um importante espaço de decisões. Miriam Veras
Baptista (2000), uma das autoras mais lidas na formação do Serviço So-
CO
cial, quando fala de planejamento, reconhece um processo dialético entre
os movimentos de reflexão, ação, retomada da reflexão. Por outro lado,
O
traz um aspecto fundamental que coaduna com a linha argumentativa
D
deste estudo, quando trata da indissociabilidade das dimensões técnicas e
políticas do planejamento: a dimensão política “decorre do fato de que ele
O
S
Serviços. Nesse consistente texto, a autora localiza o tema a partir do debate
PE
sobre o ordenamento social e o reconhecimento de que as demandas para
os serviços se alocam em grandes determinações, e também representam
A
especificidades, além do reconhecimento do lugar das organizações como
/C
“habituação e regulação” e suas especificidades no capitalismo monopólico
TA
(NOGUEIRA, 1990, p. 151).
Podemos depreender que a organização dos serviços se molda por
LE
diferentes determinantes, como dissemos anteriormente, como fios que se
trançam e se tramam. Desse modo, resta-nos ainda o trato de mais um deles:
CO
a influência do modelo de gestão, em especial, a estruturação administrativa
do Estado brasileiro, tema com o qual caminharemos nessa trama.
O
Dimensão política nos modelos de gestão e sua influência na organização
D
do trabalho
O
V
das políticas sociais são oferecidas em unidades públicas que, além de serem
CL
Bento (2003) e Souza Filho (2011)23 estão entre os que trataram o tema da
U
gerencial e o social24.
23
Esses autores publicam sobre o tema da gestão do Estado a partir do contexto históri-
co, econômico e político, além de tratarem das possibilidades de mudanças para modelos
que atendam mais ao Estado Social enunciado na Constituição Federal de 1988.
24
Reconhece-se que o modelo de gestão social pouco se concretizou como resposta aos
demais modelos em que pese sua aproximação com os ditames e diretrizes da Constitui-
ção Federal de 1988.
103
S
delo ou um misto deles, como é o caso da estrutura pública no Brasil. Cada
PE
tentativa de superação de determinado modelo (patrimonialista, burocrático,
gerencial) representou a necessidade de aprimoramento do modelo ante-
A
rior; dentre esses, interessa-nos, neste estudo, apontar a adoção do estado
/C
burocrático, pois ele se perpetua, mesmo com a tentativa de transição para
TA
o gerencial e, posteriormente, para o social.
Nos anos 1930, o Brasil institui o Departamento do Serviço Público
LE
(DASP)25, criado em 1937, que passou a organizar, formar e desenhar a
estrutura administrativa. Não só definiu as regras de contratação de pessoal,
CO
de serviços, de comunicação com os cidadãos, mas também estabelecer
muitas outras rotinas administrativas. Em que pese estar dentro da lógica
O
burocrática de regramento e controle26, naquele momento, estruturar a
D
gestão brasileira tinha todo o sentido, pois impunha-se ao modelo patrimo-
nialista em vigor até então, o qual a regra geral é a pura e simples vontade do
O
S
necessário para a organização das relações de trabalho. Retoma-se que esse
PE
mesmo patronato assume a produção urbana e toma o estado de assalto du-
rante séculos (FERNANDES, 1975). Além disso, as iniciativas de reformas
A
na administração pública sempre tiveram relação direta com regimes mais
/C
autoritários ou associados à redução das atribuições estatais. Prevalece o
TA
ritmo lento e resultados pífios que as reformas apresentaram a seu tempo.
Conforme se posiciona Nogueira (1998):
LE
Os principais avanços rumo à absorção, pela máquina administrativa, de
padrões organizacionais e gerenciais modernos, racionais-legais, burocráti-
CO
cos, ocorreram sempre como parte integrante do projeto de regimes fortes,
hostis à democracia, embora nem sempre hostis ao desenvolvimento
econômico ou estabelecimento de vínculos orgânicos com a sociedade
O
(NOGUEIRA, 1998, p. 92).
D
O
pela via informal, fora das regras instituídas e com traços de autoritarismo
CL
grande mentor intelectual foi também o ministro que conduziu essa nova
orientação – Bresser Pereira27.
U
Assim, o giro para as entregas finais aos cidadãos ou o produto das or-
ganizações seria um caminho a seguir. No entanto, o modelo gerencial
também oferece limitações, sobretudo, na busca por espelhamento com
a administração privada, a exemplo, o uso do termo cliente – um estado
27
Bresser Pereira é autor de inúmeros artigos e livros que tratam do desenho do modelo
gerencial e da condução da reforma do Estado no Brasil.
105
S
Devidamente alinhada com o modelo liberal, a gestão gerencial pro-
PE
punha restrições nas atribuições do Estado, o que permitiria que a maioria
das políticas sociais estaria na organização privada com simplificações que,
A
supostamente, superaria a complexidade dos processos burocráticos que
/C
reinavam na estrutura administrativa. Ao que toca mais proximamente ao
TA
nosso estudo, adverte-se quanto ao impacto na relação das organizações
com os cidadãos usuários dos serviços, porque os transforma em simples
LE
consumidores (clientes), subtraindo-lhes o status de sujeitos políticos
e coletivos.
CO
Outro ponto importante a ser destacado quando se volta o olhar
para os modelos de gestão é a possibilidade de instalação da gestão social28.
Definida por diferentes linhas interpretativas, resgatamos aqui apenas a in-
O
terlocução com um modelo de administrar que esteja em consonância com
D
mulgação da Carta Magna que o modelo adotado foi o gerencial que não
CL
S
pública serão sempre influenciadas pelo modelo de gestão adotado.
PE
Souza Filho (2011), ao tratar da burocracia nas estruturas estatais,
recupera Weber e afirma:
A
/C
A mecanização rigorosa do aparato burocrático, estabelecida através de
salário, carreira que não depende da arbitrariedade, sentimento de honra
TA
estamental e possibilidade de crítica pública, além de ser combatível com
a “subordinação incondicional aos superiores” estrutura o caráter profis-
LE
sional “objetivo” do cargo, facilitando a adaptação às condições objetivas
dadas (SOUZA FILHO, 2011, p. 66).
CO
Essa afirmação também encontra ancoragem em outros autores
que tratam dos efeitos da burocracia nos trabalhadores, ou mesmo das
O
especificidades das estruturas burocráticas estatais. Além disso, nos remete
D
ao seu reverso, ou seja, caminhos para o enfretamento dos mecanismos de
O
e ética.
U
CL
Caminhos de enfrentamento
EX
S
do uso da tecnologia para possibilitar a emancipação no mundo do trabalho.
PE
Além disso, também trata com restrições da saída pelo modelo de cogestão,
pois afirmava que a cessão de poder aos trabalhadores deveria ser radical
A
(partilha do poder), caso contrário poderia se tornar mais uma forma de
/C
dominação (TRAGTENBERG, 1980). Sob uma lente crítica, entendia que a
TA
emancipação tem relação direta com a configuração das forças sociais, com
o avanço emancipatório no interior das instituições que não pode e não
LE
deve estar desconectada dos avanços democráticos no âmbito da sociedade.
As possibilidades de enfrentamento dos efeitos perversos da bu-
CO
rocracia pela via da democratização também foram tratadas por diferentes
autores, sobretudo, os que discutem os modelos de gestão. Bento (2003)
se dedica a esse debate, construindo uma possibilidade de gestão que de-
O
nominou “pós burocrática” e conclui: “A potencialidade para repolitizar
D
S
e do reconhecimento do “saber” e das “verdades” trazidas por seus usuá-
PE
rios (população a quem se destinam os serviços), a partir de um desmonte
da hierarquização de saberes. Esse caminho pode contribuir tanto para a
A
construção de saberes transdisciplinares como para a compreensão das
/C
reais necessidades dos que buscam os serviços, levando às novas regras e
TA
práticas. Apostamos na possibilidade de construção de que outro produto,
além dos serviços e benefícios que buscam, pode ser adquirido por todos
LE
os sujeitos das organizações – o exercício da democratização – favorecida
pela instituição de espaços de participação. Trata-se, portanto, da forma
CO
como se estabelece a relação entre a organização e a sociedade civil. Segun-
do Gramsci (2000 apud SOUZA FILHO, 2011, p. 75), há a necessidade de
O
uma contínua adequação da organização ao movimento real, um modo
D
de equilibrar os impulsos a partir de baixo com o comando pelo alto, uma
contínua inserção dos elementos que brotam do mais fundo da massa
O
pelo menos, move-se numa direção fácil de prever, etc. (GRAMSCI, 2000
apud SOUZA FILHO, 2011, p. 75).
EX
individual, é inseparável dos fins que a consciência traça, estes fins não
se apresentam como produtos acabados, mas sim num processo que só
termina quando a finalidade ou resultado ideal, depois de sofrer as mu-
danças impostas pelo processo prático, já é um produto real (VASQUEZ,
S
1977, p. 243).
PE
A
Se por um lado estamos afirmando o cruel caminho da dominação/
/C
subordinação nas relações institucionais, por outro, e, ao mesmo tempo,
buscamos elementos capazes de indicar formas de resistência ao proces-
TA
so. Esse tema é importante nesse momento de mediação do desenho das
organizações burocráticas capazes de moldar o corpo e o intelecto. Desse
LE
modo, o resultado da práxis concreta dos sujeitos que convivem no espa-
ço institucional, o que Vasquez (1977) chama de “produto real” pode ter
CO
mais do que transformações, pode chegar à distorção, tanto da capacidade
intelectual do trabalho como do produto final das políticas sociais, que é
O
garantir direitos e ampliar o patamar civilizatório.
D
S
ter de mais nefasto na burocracia como facilitadora do exercício do poder,
PE
a divisão do trabalho que parcela também os homens, a separação entre o
trabalhador e o seu produto – a alienação.
A
Cabe uma retomada do tema sobre a articulação da teoria/capa-
/C
cidade intelectual adquirida e da prática, com um movimento dialético e
TA
contínuo com vistas à transformação da realidade. A capacidade intelectual
dos trabalhadores/profissionais pode e deve ampliar horizontes e rever-
LE
ter o institucionalismo. Não se trata de uma visão idílica da capacidade
profissional sobre a possibilidade de fazer a revolução a partir desse lugar
CO
(fazer profissional no interior das organizações), mas sim de reconhecer a
possibilidade de resistir ao curso natural da burocracia que divorcia o fazer
O
do seu resultado, que, em última instância, deve atender às necessidades
D
da população e garantir proteção, a mesma burocracia que restringe a ca-
pacidade criativa e intelectual dos trabalhadores, adestrando-os para que se
O
S
e em processo de consolidação), pois o impacto tem recaído não apenas
PE
na diminuição significativa dos investimentos nas políticas sociais, mas no
modo autoritário e conservador que penetra as orientações, permeando o
A
desenho das estruturas organizacionais. Esse cenário requer urgência na
/C
retomada da capacidade de resistência pelo ideário democrático dentro e
TA
fora das estruturas organizacionais.
Assim, os fundamentos da participação e da democratização preci-
LE
sam ser reforçados e, por conseguinte, uma resistência às amarras da buro-
cracia e da tecnocracia a serviço da dominação, uma busca incessante contra
CO
a subalternidade dos sujeitos que procuram as instituições e um olhar para
o potencial político que se faz a partir do foco no coletivo e na capacidade
de organização política. Trata-se, portanto, do investimento no trabalho
O
profissional competente, com destreza da técnica, intelectualmente denso
D
Referências
SI
U
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S
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PE
xista. Tradução de Telma Costa. 2. ed. Rio de Janeiro: Elfos, 1989.
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S
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A
/C
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O
V
SI
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EX
SO
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114
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S
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LE
Parte II CO
O
D
O
5.
Políticas Públicas e ação profissional: sinergias necessárias
S
PE
Vera Maria Ribeiro Nogueira
A
/C
Compartilhando as concepções teóricas adotadas pelos autores nos
TA
capítulos anteriores, este capítulo resgata, no âmbito das políticas públicas,
possíveis contribuições para pensar a relativa autonomia dos profissionais no
LE
momento da ação e as possibilidades de construção de pautas interventivas
democraticamente e relacionadas com as demandas dos usuários.
CO
Essas contribuições somente podem ser entendidas a partir da
apreensão do significado das relações intrínsecas entre as políticas públicas
O
(sociais e econômicas), como a intervenção do Estado em sua função estra-
tégica de garantir e manter a coesão societária em torno da lógica do capital.
D
FILHO, 2013). Para além das suas formas e de seus conteúdos, aspectos que
SI
longo dos séculos, a sua análise sistemática, com base na ciência política
(policy31 science), remonta há poucas décadas. No entanto, na sua quase tota-
PA
30
O debate sobre as ações profissionais acentuou-se nas últimas décadas, o que pode ser
verificado nas publicações de autores que vêm oferecendo uma grande contribuição para
o tema. Pode-se citar, entre outros, Marilda Iamamoto, Maria Carmelita Yazbek, Yolanda
Guerra, Regina Celia Mioto, Mabel Torres e Ana Maria Vasconcelos.
31
A distinção entre politics, polity e policy vem sendo tratada em diversos textos, sendo Frey
(2000) um dos primeiros autores brasileiros a apresentar a questão semântica. Polity re-
mete às formas de organização política das sociedades, incluindo as grandes instituições
responsáveis pela manutenção da ordem (poder judiciário, parlamento, poder executivo);
118
S
Thomas Dye, que conceitua política pública como o que um governo decide
PE
fazer ou não fazer (HOWLETT; RAMESH; PERL, 2013). Seria, em outros
termos, uma escolha feita no sentido de orientar determinado curso de ação
A
ou manter a situação, assim como uma decisão, inalteradas. Atualmente,
/C
as políticas públicas, sociais ou econômicas são os instrumentos privile-
TA
giados do Estado na condução da ordem societária pretendida pelas elites
hegemônicas. Segundo Di Giovanni e Nogueira (2015), a política pública
LE
[...] converteu-se em importante indicador das profundas transformações
CO
ocorridas no relacionamento entre Estado e sociedade, nas instituições
e na política. Com maior ou menor intensidade, o mesmo ocorreu em
outros países do mundo ocidental, com variações que derivaram, em
O
parte, das diferentes histórias e culturas políticas nacionais, mas que, sem
D
dúvida, testemunham a generalização e a intensificação dessa modalidade
contemporânea de intervenção governamental (DI GIOVANNI; NO-
O
nais das sociedades, seja por meio de bens materiais, de oferta de serviços
CL
S
unidades formadoras na busca do perfil desejado para os egressos em cada
PE
tempo histórico.
As ações profissionais contêm em si uma dimensão socioeducati-
A
va e, para além dos processos decisórios sobre gestão de bens e serviços,
/C
concretizam, via serviços (sejam ligados à prestação de bens materiais ou à
TA
linha de assessoria e consultorias), as políticas públicas. Essa competência
das ações, relacionadas aos serviços, coloca essa questão como o segundo
LE
eixo32 do capítulo a ser pensado pela sua influência na ação profissional. Os
serviços, no mundo moderno, organizam-se em uma ordem institucional
CO
historicamente conformada para manter a estabilidade societária e garantir
a expansão do modo de produção dominante. Contudo, pela sua natureza,
contêm peculiaridades que os tornam refratários a controles externos, não
O
sendo possível sua consideração como mercadoria, e assim condensam
D
uma unidade entre essas dimensões, o que não significa uma identidade,
visto que há uma distinção entre o âmbito da produção intelectual e o da
ação prático-operativa”.
32
Os dois eixos – ação profissional e as políticas públicas – não são os únicos com re-
batimentos sobre a ação profissional, mas a opção por esses dois eixos, no atual cenário
brasileiro, decorre da importância de evidenciar as possibilidades da ação profissional
junto às políticas públicas em tempos de redução de direitos sociais e econômicos.
120
S
social no tempo da ditadura militar, demandando um empenho teórico em
PE
estudos e pesquisas para realizar um diagnóstico da situação e um empenho
político dos atores envolvidos com a ampliação da proteção estatal e da
A
garantia do direito social nas mais distintas áreas de intervenção. O serviço
/C
social integra esse movimento, destacando-se, inicialmente, sua produção
TA
sobre a assistência social, com estudos que remontam à década de 1970.
LE
torno da política social, que tem se constituído em um pilar central na
consolidação do serviço social como área de conhecimento no campo
CO
das ciências sociais. Este fato favoreceu tanto a inserção da profissão e
de seus profissionais no embate político da sociedade brasileira como,
também, a discussão sobre a intervenção profissional dos assistentes
O
sociais no terreno da política social (MIOTO; NOGUEIRA, 2013, p. 62).
D
S
civil e as contradições nacionais, utilizando teorias explicativas pautadas
PE
no materialismo dialético, sobre os ciclos da política em uma perspectiva
processual e as derivações decorrentes da sua existência, como o tecnicismo,
A
as modalidades gerenciais, o autoritarismo e as dinâmicas de articulação
/C
entre o local e o global, torna-se um imperativo inadiável. E, especial-
TA
mente, é imprescindível uma reflexão sobre o impacto dessas questões na
ação profissional.
LE
Implementação de políticas públicas
CO
A concepção atual do ciclo das políticas como um processo e a
O
inter-relação não estanque entre as etapas, mas sua interpenetração, em face
D
da exigência constante de decisões em todos os seus momentos, oferece
possibilidades de ajustes e redimensionamentos de planos e programas para
O
mas contém, em si, inúmeras decisões. Por essa razão, um dos eixos deste
U
considerar que essa é a etapa na qual o assistente social mais pode interferir
em sua ação cotidiana, tanto em espaços sócio-ocupacionais voltados à
EX
S
políticos, não eleitos, mas profissionais ocupando uma carreira funcional
PE
competente para executar as políticas públicas decididas nas instâncias da
“grande política”.
A
Há certa concordância entre autores quando afirmam que a imple-
/C
mentação corresponde à execução de atividades que permitem a realização
TA
de ações com vistas à obtenção de metas definidas no processo de for-
mulação das políticas. Contrapondo-se a uma visão etapista do policy cicle,
LE
incorporam a ele uma perspectiva processual. A execução das atividades é
também reconhecida como um momento de novas decisões e negociações,
CO
ou seja, institui políticas, recriando ou ajustando as definições programáticas
regionais ou centrais. Nessa ótica explicativa, as vicissitudes, os obstáculos e
O
os problemas da implementação associam-se a questões de natureza variada,
D
como a capacidade institucional e técnica dos agentes implementadores;
problemas de natureza política na implementação dos programas ou ques-
O
cercavam esse estágio do ciclo político, pressupondo que, tão logo alguma
decisão fosse tomada, o braço administrativo do governo simplesmente a
U
S
administrativa e uma ordem burocrática hierárquica bastante rígida, com
PE
possibilidades de controle do início ao fim do processo de implementação
das políticas públicas. Supunha-se, ainda, uma articulação interna linear
A
entre objetivos e ações a serem executados, com escassa liberdade para
/C
modificações e novos aportes ao longo da trajetória das políticas. A imple-
TA
mentação seria a sequência lógica dos objetivos estabelecidos, tendo como
premissa “[...] a hierarquia da autoridade, a racionalização dos recursos,
LE
a otimização dos resultados e a separação entre o mundo político e o
mundo administrativo” (CAVALCANTI, 2007, p. 237). Essa perspectiva
CO
aproxima-se do modelo gerencial de gestão e afasta-se de procedimentos
democráticos, considerando-os adequados unicamente aos processos de-
cisórios da cúpula estatal.
O
Já no modelo bottom-up, a ideia-força é a impossibilidade de um
D
S
dimensão entre os distintos níveis e recupera a transversalidade da ação
PE
pública. Ressalta ainda a relevância de um mapeamento preciso dos níveis
de ação e do papel e interesses dos atores em presença para compreender
A
as interações sociais que estruturam o espaço público (MEGIE, 2010).
/C
Nessa estruturação, devem ser considerados os níveis distintos de
TA
ação pública, conforme indicam Borraz e Guiraudon (2008), ao abordarem
a ação pública e sua metamorfose. Os autores alertam sobre os níveis de
LE
competência hierárquica e que todos têm impacto na formulação da ação
governamental e consequentemente no patamar de cidadania e direito ga-
CO
rantido. O caráter ambíguo da descentralização se faz presente, pois tanto
fragmenta a ação pública como igualmente implica em novas decisões no
O
momento da implementação, o que pode reverter ou mesmo comprometer
D
o estatuto de cidadania diante da discricionariedade dos sujeitos políticos
locais (NOGUEIRA; FAGUNDES, 2015). Ou seja, ao mesmo tempo em
O
de dos agentes locais. Nesse sentido, Souza Filho (2013, p. 231) lembra que
CL
S
ABRUCIO, 2011; LOTTA; PIRES; OLIVEIRA, 2015). Poucos estudos
PE
têm se dedicado a apreender o papel e as funções de um conjunto central
de profissionais, que não apenas supervisiona os agentes implementadores
A
de ponta do sistema, mas especialmente traduz as diretivas nacionais para
/C
o plano local.
TA
No Brasil, as dúvidas e construções teóricas sobre esse grupo de
profissionais têm se destacado devido à expansão desses cargos em passa-
LE
do recente, decorrente dos processos de descentralização, das inovações
no campo da gestão das políticas públicas e do reconhecimento do papel
CO
desempenhado na implementação, sendo o responsável pelas negociações,
formação de redes de atendimento e reorganização da ação pública no
nível local33. Quando se aborda a relevância dos agentes implementadores,
O
conforme indicado anteriormente, é necessário compreendê-los como
D
S
multilaterais com a tônica da governança e governabilidade, como a expan-
PE
são da participação da sociedade civil por meio dos conselhos de gestão e
controle social exigiram compreender as novas competências relacionadas
A
às ações dos assistentes sociais. Essas competências têm uma via de mão
/C
dupla, ou seja, a capacidade de interação com os agentes decisionais e com
TA
os operadores de ponta do sistema; da administração pública com os atores
políticos e grupos populares. Tanto em um caso como no outro a afinida-
LE
de do profissional pauta-se em valorações éticas e políticas profissionais
e pessoais.
CO
Importa observar que o processo de implementação não se reduz
a atividades administrativas e seus dispositivos técnicos, mas possui um
O
caráter social e, enquanto tal, envolve articulações entre o setor público e
D
os destinatários das ações (LASCOUMES; LE GALÈS, 2004).
A sistematização da revisão de literatura sobre a implementação
O
S
ampliação da participação política da classe trabalhadora, além de repre-
PE
sentantes de outros segmentos populacionais anteriormente excluídos de
processos decisórios.
A
Os impactos complexos da construção da proteção social não se res-
/C
tringem unicamente à qualidade de vida das pessoas, mas atingem também
TA
as instituições responsáveis pela proteção e pelas relações socioeconômicas
(ADELANTADO; NOGUERA; RAMBLA, 2000).
LE
As políticas sociais, garantindo condições básicas de vida, são con-
cretizadas, na relação direta com a população, por meio da oferta de bens
CO
e serviços35. O nível de proteção dos países, enquanto construção social,
apresenta uma imensa variedade, desde estado de bem-estar altamente in-
clusivo ou com patamares mínimos de proteção, ao nível de sobrevivência.
O
Há um consenso de que as
D
O
serviços sociais na área das políticas públicas, neste caso, a política social,
cuja prestação é realizada por profissionais de diversas áreas, entre os quais
situam-se os assistentes sociais. Constata-se, no Brasil, a forte presença dos
35
Os subsídios são transferências monetárias realizadas pelo Estado às organizações de
beneficência ou de interesse público que representem papel importante para a economia
do país.
128
S
de políticas sociais, assume uma peculiaridade que os distingue de outros
PE
serviços quanto ao seu público-alvo e tipologia na esfera da oferta e deman-
da. A atuação profissional geralmente é orientada pela oferta dos serviços,
A
acrescida da dimensão socioeducativa presente na ação profissional, o que
/C
conduz a uma ampliação do debate sobre os serviços.
TA
Para a profissão, portanto, na medida em que desenvolve sua ação
no âmbito da gestão ou da prestação de serviços diretos, a apreensão do
LE
seu significado e de sua natureza é fundamental.
CO
O trabalho em serviço e ação profissional O
É pensando na funcionalidade que os agentes implementadores das
políticas estatais têm, na institucionalização das políticas que este texto traz
D
incerta, continuando no debate atual. Uma das explicações para essa inde-
CL
S
PE
Um serviço existe para atender a uma necessidade humana, que
A
posteriormente torna-se social. Um serviço é, portanto, a transformação
/C
de uma resposta a uma necessidade que, organizada de forma sempre igual
e repetidas vezes, é padronizada e torna-se uma institucionalidade.
TA
O atendimento das necessidades vitais foi, durante um longo período da
LE
história da humanidade, restrito à esfera privada – o comer, o reproduzir
e o morrer eram manifestações pertencentes à vida familiar, ao âmbito
CO
doméstico. Com o desenvolvimento do capitalismo e a imposição de novos
signos reguladores do sistema social, estas necessidades vitais adquirem
uma sobre função e a reprodução vai se expandindo para a esfera pública,
O
ampliando os serviços para seu atendimento (NOGUEIRA, 1990, p. 161).
D
S
dade do capitalismo, tanto em decorrência do modo de produção como de
PE
reprodução. No campo da reprodução, os serviços garantem dois aspectos
significativos para a expansão do capital: a subsistência da mão de obra
A
ociosa e o controle da força de trabalho ocupada, ampliando ou reduzindo
/C
benefícios socioassistenciais de acordo com a demanda do mercado. No
TA
campo da produção,
LE
A sociedade de classe no capitalismo cria uma civilização de serviços.
As necessidades exacerbadas pela publicidade justificam novos serviços
CO
para novas necessidades que, no mundo moderno desenvolvem uma
proliferação de formas de atendimento administradas por profissionais
(KARSCH, 1987, p. 33).
O
D
A expansão e as análises sobre o setor de serviços permitiram am-
pliar o conhecimento sobre essa modalidade de atividade e construir uma
O
dos serviços podem ser apontadas para estabelecer a relação com a ação
U
profissional.
CL
RELLES, 2006). A autora assinala que, dessa forma de ação, derivam duas
propriedades dos serviços: a inestocabilidade e a incomensurabilidade. Um
serviço não pode ser estocado, pois seu produto ou resultado é imediato.
SO
S
mentais instáveis, preocupações de ordem material etc.).
PE
A ação profissional enquanto trabalho em serviço somente apre-
senta condições de avaliação quando combinado a outras funções, ou com
A
o resultado da ação. Esse condicionante impacta a construção de sistemas
/C
de avaliação tanto de desempenho e competências profissionais como o
TA
alcance de objetivos previstos.
Outra peculiaridade relacionada à ação profissional de profissões
LE
interventivas é o uso intensivo do trabalho humano. Esses usos intensi-
vos, por sua vez, referem-se ao aspecto produtivo essencial no processo
CO
de prestação de serviços, uma atividade interativa e dependente da atitude
relacional. Assim, exige recursos humanos para ações face a face, sendo,
O
portanto, definido como intensivo em informação (MEIRELLES, 2006).
D
Reconhecidamente, uma das principais ações realizadas pelos
profissionais consiste na transmissão de informações. São informações
O
cotidianidade.
Do lado das políticas públicas, deve-se reconhecer que a imple-
mentação implica em novas decisões para além das grandes definições
contidas nos planos nacionais, estaduais e municipais. A concretização
do formalizado supõe um rol de novos desafios decisionais para a sua
materialização. Exige uma competência não apenas técnica, mas política
132
S
nos processos decisórios iniciais, ou seja, a policy faz a politics.
PE
De outro lado, o fato de as políticas públicas se materializarem,
em grande parte, via setor de serviços, contendo uma peculiaridade que é
A
inerente ao serviço enquanto tal, igualmente favorece a autonomia profis-
/C
sional, especialmente na dimensão socioeducativa do serviço social. Essa
TA
peculiaridade sinaliza para dois aspectos. O primeiro seria o de entender a
ação profissional como trabalho em processo e não o resultado da ação do
LE
trabalho. Concorda-se com Meirelles (2006, p. 134), ao afirmar que, “[...] por
esta razão elementar, não se produz um serviço, e sim se presta um serviço”.
CO
Um segundo aspecto diz respeito ao que se exigiria em termos de
ampliar o conhecimento sobre os espaços ocupacionais dos assistentes
sociais, permitindo qualificar o processo de transmissão de informações,
O
aliado à dimensão socioeducativa inerente à profissão. A apreensão das ca-
D
informações seguras.
Reconhecer a racionalidade intrínseca aos serviços contribui para a
U
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O
V
6.
Ação Profissional: processos e
S
PE
características técnico-operativas
A
Regina Célia Tamaso Mioto
/C
Telma Cristiane Sasso de Lima
TA
Este capítulo trata de um balanço de algumas produções anteriores
LE
que problematizaram a dimensão técnico-operativa das ações profissionais36
de assistentes sociais. Envolve reflexões acumuladas em anos de estudos,
CO
publicações, interlocução técnico-profissional com colegas inseridos em
diferentes espaços ocupacionais e inquietações vividas no processo de
O
ensino-aprendizagem em disciplinas ministradas em cursos de Graduação
D
e Pós-Graduação em Serviço Social.
Passados dez anos da publicação sobre o tema na Revista Textos
O
36
“Ação profissional” é a menor unidade de análise do nosso exercício profissional, por-
que condensa e demonstra todas suas dimensões constitutivas. São construídas e en-
RA
S
Acredita-se que é possível fazê-lo sem cair no tecnicismo, fortalecendo
PE
nossa identidade difusa, uma vez que estamos inseridos em especialidades
técnicas e em espaços ocupacionais diversos, e melhorando nossa capacidade
A
de nomear e caracterizar as ações profissionais de modo a evidenciar nossa
/C
expertise. Reiteramos que nossa identidade se torna visível (para o Serviço
TA
Social e para as outras profissões) por meio da capacidade que desenvol-
vemos e dos esforços que empreendemos para compreender, materializar
LE
e transmitir nossas competências. Ou seja, a nossa identidade assenta-se
também na capacidade de dialogar com clareza entre pares sobre nossos
CO
dilemas e interdisciplinarmente, enfrentando simultaneamente o acriticismo
na incorporação de certos aportes teórico-técnicos das áreas afins com as
quais trabalhamos e a simples caracterização de nosso exercício profissional
O
por intermédio de “indicadores externos”38.
D
cas públicas diferentes. Por exemplo, a assistente social que trabalha com
Conselhos de Direitos na área da Criança e do Adolescente teria possibili-
U
38
“Indicadores externos” referem-se às formas como a categoria define o “fazer pro-
fissional” dos assistentes sociais. Mesmo reconhecendo os avanços na produção e no
PA
S
ações em função das pautas institucionais e dos calendários nacionais. Por
PE
exemplo, na Política de Saúde com as ações de saúde da mulher, do homem,
campanhas de vacinas etc., desenvolver essas pautas é importante, mas aqui
A
estamos simplesmente chamando a atenção para o fato de os profissionais
/C
não organizarem seus próprios planos/projetos de intervenção, de modo
TA
a dar vazão às demandas reprimidas que abundam nos serviços.
Apesar do avanço espetacular que o Serviço Social obteve por meio
LE
do rompimento com a “tradicional metodologia” (caso, grupo e comunida-
de), ampliando a compreensão da profissão no contexto da divisão social
CO
e técnica do trabalho39, ainda não articulamos uma linguagem comum em
relação à dimensão técnico-operativa, no sentido de sermos capazes de
materializar amplamente nosso projeto profissional em sua direção ético-
O
-política sob bases teórico-metodológicas da teoria social crítica. Essa tarefa
D
nos parece urgente por, pelo menos, dois motivos: o primeiro vincula-se
O
seja, outorga aos profissionais uma “autonomia relativa”, apesar das atuais
condições de trabalho impostas nesse momento do desenvolvimento capi-
PA
39
Para maior estudo, consultar o livro de Iamamoto e Carvalho (1982).
140
S
caracterização; ações profissionais e processos interventivos: particularida-
PE
des no Serviço Social; e considerações finais. Reconhecemos que esse debate
ainda é árduo, sendo explorado pela categoria, historicamente, com muito
A
esforço. Por isso, a reflexão apresentada é uma entre tantas possibilidades
/C
que se dedicam a caracterizar nosso exercício profissional. No entanto, ao
TA
elaborá-las, temos como meta reunir elementos que ajudem a transversalizar
o diálogo sobre as ações profissionais no cotidiano dos assistentes sociais.
LE
Ação profissional: breve caracterização
CO
Como pode ser verificado amplamente na produção bibliográfica
do Serviço Social, as ações profissionais possuem uma série de fatores que
O
as particularizam e que ajudam a compor a expertise própria do assistente
D
S
os processos interventivos construídos em ato pelos assistentes sociais.
PE
O conjunto das particularidades desses processos compõe a “dimensão
técnico-operativa” porque nela evidenciamos como se organiza o espaço de
A
trânsito entre o projeto profissional e a formulação de respostas inovadoras
/C
às demandas que se impõem no cotidiano dos serviços. Nesse escopo, é
TA
necessário explicitar mais qualificadamente como se processa esse trân-
sito, quais as mediações que fazemos e como as fazemos, desvelando ou
LE
revelando quais os elementos e conteúdos presentes nesse processo e que
envolvem desde os conhecimentos alinhados à matriz teórico-metodológica
CO
e ético-política até os instrumentos técnico-operativos (MIOTO, 2012).
Significa afirmar que, operacionalmente, a ação profissional conden-
O
sa todas as dimensões constitutivas do nosso exercício profissional? Sim,
D
compreendemos que ela possui diferentes elementos que, em interação,
dão-lhes direção e materialidade e, para fins didáticos, denominamos esses
O
S
metas/objetivos que pretendemos alcançar em cada ação empregada. Desse
PE
modo, não são aleatórios os instrumentos viabilizadores dessas abordagens,
sejam eles: a entrevista, as reuniões, as assembleias, os encaminhamentos
A
ou, ainda, combinações desses instrumentos, como: a visita domiciliar, a
/C
entrevista familiar, o trabalho com redes, entre outros;
TA
• a outros recursos técnico-operacionais, que são fundamentais na
execução da abordagem escolhida, por exemplo: ao implementarmos uma
LE
abordagem grupal, utilizamos a reunião como um instrumento que pode
exigir diversos outros recursos adicionais no momento da sua efetivação,
CO
tais como técnicas de dinâmica de grupo, escolhas e/ou elaboração de
materiais didáticos específicos etc.;
• ao desenho metodológico/itinerário das ações: momento de siste-
O
matização das escolhas dos repertórios técnicos. Trata-se do delineamento
D
ações profissionais;
• à documentação e à construção de banco de dados (físicos e
EX
S
qualitativas dos nossos atendimentos ao compilarem dados de todo o
PE
processo que contextualiza a evolução ou a regressão da intervenção pro-
fissional prestada, dando visibilidade aos feixes de variáveis implicados em
A
um atendimento.
/C
Conforme já afirmamos, o fato de as ações dos assistentes sociais
TA
“[...] estarem calcadas basicamente no uso da linguagem, a visibilidade da
intervenção depende do seu registro eficiente” (LIMA; MIOTO, 2009, p.
LE
37). Registrar dados não é sinônimo de burocratização, mas sim de moni-
toramento das nossas metas profissionais na instituição e na comunidade,
CO
assumindo uma postura crítica, ativa e propositiva na definição de priorida-
des, de reconhecimento das demandas e dos entraves socioinstitucionais etc.
Ou seja, falamos aqui da proposição e da execução de planos, programas e
O
projetos atentos a uma Gestão Social43 que se ocupe eticamente de todos
D
horizonte para suas ações, define o objetivo e o caráter da ação a ser empreendida,
ao mesmo tempo em que identifica os limites e as possibilidades colocados
EX
compartilha decisões entre sujeitos, construindo novos arranjos institucionais, menos competiti-
vos, que são definidos entre as escolhas feitas por sujeitos racionais a partir da sua realidade
U
e de suas necessidades, sem definir modelos rígidos e estáticos. Trata-se de uma categoria
assentada no princípio e nas práticas da cidadania deliberativa: presença ativa do cidadão
nas decisões da res-pública. Referimo-nos à gestão social que ultrapassa a visão atual restrita
RA
S
profissional. A clareza e a coerência na caracterização do itinerário das
PE
ações profissionais somente é possível quando ele conhece as necessida-
des da população a que atende, reunindo informações qualificadas sobre
A
as demandas e o contexto particular da realidade social que expressam as
/C
condições de vida dos usuários (LIMA; MIOTO, 2009). Trata-se de articu-
TA
lar operacionalmente os conhecimentos entre o universal, o particular e o
singular, ou, conforme as palavras de Iamamoto (2005, p. 95), estabelecer
LE
“[...] a relação indivíduo/sociedade; as relações entre as macro-análises e
as micro-situações enfrentadas no cotidiano profissional”.
CO
No escopo dessa discussão, destaca-se que a análise socioinstitucional 44
é inerente ao exercício profissional e que não é possível o desenvolvimento
O
de um trabalho consistente e consequente sem planejamento e documentação.
D
serviço social
SI
44
Abarca o conhecimento do contexto externo e interno pertinente a uma política/serviço
RA
S
fissional, tanto na sua base de dados bibliográfica e documental quanto
PE
nos depoimentos profissionais captados em diálogos extensionistas ou
em pesquisas que realizamos. Destacamos que a perspectiva dos Direitos
A
e da Cidadania46 pauta os três eixos processuais que propomos, porque
/C
reconhecemos os usuários como seres políticos que desenvolvem sua par-
TA
ticipação em diferentes espaços, sendo capazes de ascender em autonomia
no âmbito das relações sociais e institucionais (LIMA; MIOTO, 2009). A
LE
compreensão desses eixos depende da clareza/coerência e da competência
que demonstramos ao apresentarmos nossas bases técnicas47, isto é, o rol
CO
de nossas melhores escolhas procedimentais capazes de materializar os
preceitos teórico-metodológicos e ético-políticos, ao mesmo tempo em
que subsidiam o trabalho propriamente dito porque ajudam a descrever
O
com assertividade as opções tomadas do leque de possibilidades existente
D
fissionais em processo).
V
e político-organizativo48.
EX
46
Referimo-nos aos princípios ético-políticos do atual projeto profissional, cuja finalida-
de para as ações profissionais reside em construir um processo que oportunize aos indi-
víduos perceberem-se como sujeitos em sociedade, capazes de questionamentos sobre a
SO
Tal finalidade representa, para o Serviço Social, um horizonte paradigmático a ser per-
seguido na concretização das ações profissionais no âmbito do exercício e da formação
RA
S
sociais se apropriam e constroem ações na particularidade do campo das
PE
práticas administrativas (sejam privadas, públicas e/ou sociais). De acordo
A
com a definição de Ribeiro (2012, p. 80-81), compreendemos gestão como
/C
“[...] um espaço próprio de relações complexas de poder, isto é, espaço de
concepção, de gestação de um dado modo de relações sociais de produção
TA
e distribuição, um dado projeto social, projeto público ou projeto privado”.
Trata-se de ações que as/os assistentes sociais desenvolvem quando
LE
ocupam cargos gerenciais e administrativos no âmbito das políticas sociais,
CO
das instituições e seus setores, sejam em empresas públicas ou privadas.
Envolvem, ainda, aquelas ações de gestão que retratam as práticas de pla-
nejamento próprias ao setor de Serviço Social no âmbito das instituições,
O
dos programas e das empresas, ou seja, reúnem as ações implicadas às
D
ria, organizacional, controle social etc.), seja nas formas de realizar a ação
profissional a partir das melhores maneiras e recursos de execução frente
SO
S
racionaliza o conjunto de recursos e contatos que dão suporte à intervenção
PE
específica, ao mesmo tempo que a localiza no processo coletivo de trabalho/
equipes multiprofissionais (MIOTO; NOGUEIRA, 2006).
A
Reconhecemos aqui as especializações técnicas que os assistentes
/C
sociais podem exercer nos diferentes espaços ocupacionais: a) na condi-
TA
ção de formuladores e gestores nas empresas e/ou de políticas públicas,
programas, projetos e serviços etc.; b) na condição de membro de equipe
LE
multiprofissional corresponsável no planejamento do processo coletivo
de trabalho, estabelecendo o melhor fluxo de trabalho para a execução
CO
de políticas, programas e projetos para que ocorra interdisciplinaridade,
intersetorialidade e cooperação técnica interinstitucional; c) na condição
O
de coordenadores de setor ou corresponsável na organização das ações
D
profissionais específicas: definição de prioridades e particularidades inter-
ventivas do Serviço Social nas políticas públicas e nas empresas.
O
49
Assessoria/consultoria é a ação desenvolvida por um profissional com conhecimentos
na área, que toma a realidade como objeto de estudo e detém uma intenção de alteração
da realidade. O assessor não é aquele que irá intervir, mas “[...] propor caminhos e estra-
tégias ao profissional ou à equipe que assessora e estes têm autonomia em acatar ou não
as suas proposições. Portanto, o assessor deve ser alguém estudioso, permanentemente
atualizado e com capacidade de apresentar claramente as suas proposições” (MATOS,
2006, p. 5).
148
Processos Socioassistenciais
Correspondem ao conjunto de ações profissionais desenvolvidas
S
no âmbito da intervenção direta com os usuários nos diferentes campos
PE
de intervenção a partir de demandas singulares, buscando condições con-
cretas no seio das relações socioinstitucionais para respondê-las em uma
A
perspectiva de construção e no fortalecimento da autonomia de indivíduos,
/C
grupos e famílias, prevendo e incentivando sua participação política ativa
TA
em diferentes espaços, entre os quais se incluem: as próprias instituições,
programas, serviços (conselhos gestores); os conselhos de direitos; os movi-
LE
mentos de base comunitária; os movimentos sociais na sua diversidade etc.
Os processos socioassistenciais envolvem interações e escolhas
CO
cujas fronteiras disciplinares ou características procedimentais são de
difícil distinção. No entanto, acreditamos que é possível caracterizar as
O
ações primordiais que compõem esse processo a partir de suas demandas
D
(trazidas pelos usuários), dos objetivos/metas (estabelecidos a partir das
demandas, dos recursos institucionais existentes) e dos marcos referenciais
O
50
S
direitos / às políticas sociais, sem perder de vista a formação e o
PE
estímulo dos usuários à participação nas instâncias políticas. Essa
perspectiva de mudança é pressuposta desde a organização do co-
A
tidiano dos serviços para o acesso de indivíduos, grupos e famílias
/C
até o desenvolvimento da participação política no território e nos
espaços de controle social;
TA
b) socializar informações e contribuir para o desenvolvimento de
um processo reflexivo por meio da relação de vínculo e correspon-
LE
sabilização entre profissionais, equipes e usuários que concretize os
atos de acolhimento e de apoio aos indivíduos e suas famílias para
CO
que, em curto ou médio prazos, fortaleçam-se física e mentalmente
para enfrentar suas vulnerabilidades, sejam individuais, familiares
O
ou sociocomunitárias;
D
c) construir e articular, com os usuários e suas famílias, itinerários
para o acesso a bens e serviços que respondam às suas necessidades,
O
com foco na sua proteção social. Essa proteção social demanda que
V
S
ou fora dela) para enfrentar riscos iminentes. O atendimento prestado por
PE
intermédio dessas ações, geralmente, ocorre pela abordagem individual,
cujos instrumentos básicos são entrevistas e encaminhamentos. A natureza
A
da demanda que define esse tipo de ação profissional refere-se às violações:
/C
a) no direito ao acesso à alimentação (fornecimento de cestas básicas
TA
e acompanhamento nutricional);
b) no direito à mobilidade urbana e acesso ao lazer (fornecimento
LE
de passes e gratuidades; implementação do acesso e do uso de
equipamentos públicos de lazer);
CO
c) no direito à permanência em local protegido (acolhimento insti-
tucional ou familiar, em caso de violência doméstica); fornecimento
de kits nos casos de inundações, incêndios, entre outros sinistros;
O
d) no direito de amparo e assistência social àqueles que se encontram
D
tricos etc.).
U
S
e argumentos em relatórios técnicos que demonstram os recursos a serem
PE
viabilizados para o atendimento das necessidades cotidianas postas aos
serviços e às instituições.
A
Dessa forma, o estudo social é fundamental ao exercício profissional
/C
de assistentes sociais, especialmente na constituição de banco de dados du-
TA
radouros que permitam uma atenção integral e interdisciplinar qualificada e
constante para os usuários e suas famílias – seja no caso do atendimento a
LE
demandas/necessidades temporárias, seja no caso do atendimento a deman-
das/necessidades de longo prazo, porque se referem a níveis complexos de
CO
vulnerabilidades individual, familiar e social. Aqui, fica evidente a dialética
existente entre os três processos interventivos elencados nessa proposta,
pois o conhecimento gerado pelo conjunto dos estudos sociais sobre as
O
situações singulares atendidas ou em retenção nos serviços constituem o
D
político-organizativos.
SI
Processos Político-organizativos
U
CL
portante para estruturar essas ações, pois seu ponto de partida reside nas
necessidades imediatas, ao passo que prospecta (em médio e longo prazos)
U
S
mum quando organizam politicamente as demandas e necessidades coletivas
PE
de sujeitos concretos que, por sua vez, participam ativa e organizadamente
da vida pública por meio de diversas entidades da sociedade civil, pelas quais
A
reivindicam e decidem sobre as formas de concretização dos seus direitos,
/C
considerando os problemas sociais que assolam sua comunidade/cidade etc.
TA
A assessoria técnica prestada pelos assistentes sociais, junto a con-
selhos gestores de diferentes políticas públicas, implica: o acompanhamento
LE
e a preparação de reuniões; a organização e mobilização política da comu-
nidade em questão; a elaboração de registros que consolidem os debates e
CO
as pautas reivindicativas, expressando a cultura política local e identificando
tensões e conflitos presentes nos debates sobre a efetivação das políticas e
O
serviços sociais. Tal assessoria pressupõe o estímulo constante das relações
D
horizontais, reconhecendo que todos os sujeitos envolvidos são portadores
de conhecimentos e capazes de expressar-se politicamente, construindo
O
e/ou setoriais porque têm por objetivos avaliar, fiscalizar, acompanhar e deliberar so-
bre as políticas estatais implementadas. A participação cidadã, nos conselhos, interfere
concretamente no destino das políticas públicas, inclusive na definição da alocação dos
recursos etc., pois o Controle Social, como prática cotidiana de vigilância sobre as ações
do Estado/governos, foi institucionalizado na Constituição de 1988 como mecanismo
de participação social nas políticas públicas, e diferentes leis definiram os espaços perma-
nentes do seu exercício: os conselhos e as conferências (CORREIA, 2006).
153
Em resumo
Este capítulo consiste em uma sistematização possível, entre tantas
S
outras que poderiam e podem ser efetuadas, das ideias exploradas ou inexplo-
PE
radas nos textos lidos e relidos sobre o exercício profissional dos assistentes
sociais e na observação, direta e indireta, de seu cotidiano de trabalho.
A
A preocupação central segue aqui reiterada, e persiste na necessi-
/C
dade de ampliar o debate e o entendimento sobre as particularidades da
TA
dimensão técnico-operativa, atentando para formas de conduzir qualificada
e coerentemente as escolhas profissionais no âmbito do paradigma crítico-
LE
-dialético. Consideramos relevantes a coerência e a dialética no pensamento
e na ação. Portanto, o como fazer é fundamental no debate que busca garantir
CO
esse movimento, consolidando a legitimidade do atual projeto profissional.
Reiteramos que nosso modus operandi está diretamente relacionado à
O
escolha da matriz teórica. Isso implica o reconhecimento, em determinado
D
período histórico, da sua validade argumentativa e da sua capacidade de
responder concretamente às questões da realidade. Ao ampliarmos nossa
O
S
sobre sua intervenção de forma integrada, ao identificar concretamente o
PE
alcance das ações que pretende realizar no escopo desses diferentes proces-
sos. Pode-se dizer, também, que as ações ganham particularidade a partir
A
dos processos aos quais se vinculam, porque estão atentas às demandas/
/C
necessidades às quais se quer atender. Por exemplo, uma ação de assessoria
TA
tem estatuto diferente quando realizada no âmbito dos processos político-
-organizativos, da gestão e do planejamento.
LE
Enfim, as possíveis contribuições dessa proposta visam a agregar
mais elementos ao debate, pois, ao realizar este trabalho de sistematiza-
CO
ção, foi possível observar o esforço que profissionais e intelectuais têm
empreendido para o enraizamento do projeto profissional dentro de um
O
cenário sociopolítico extremamente desfavorável. O estímulo de discussões
D
qualificadas sobre as ações profissionais pode contribuir para o fortaleci-
mento da nossa identidade profissional, distanciando-nos, cada vez mais, do
O
Referências
CL
S
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PE
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Paulo, n. 107, p. 420-437, jul./set. 2011.
A
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e aproximações de dimensões teórico-epistemológicas e práticas
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mobilizações e conexões. São Paulo: LCTE, 2012.
LE
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SCHÜTZ, F. O debate sobre os serviços na política social: implicações
D
para o serviço social. 2013. 136 f. Dissertação (Mestrado em Serviço
Social) – Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2013.
O
V
7.
Demandas profissionais para o Serviço Social:
S
PE
conceitos e processualidade52
A
Francielle Lopes Alves
/C
TA
O desenvolvimento de uma discussão acerca das demandas profis-
sionais para o Serviço Social implica apontar que ela deriva de um debate
LE
dos fundamentos sócio-históricos da profissão no movimento de ampliação
do Estado. A inteligibilidade e o sentido dessa prática profissional53 en-
CO
contram-se na história da sociedade da qual é parte e expressão, de forma
que a constituição e a institucionalização do Serviço Social como profis-
O
são na sociedade foi dependente “de uma progressiva ação do Estado na
D
regulação da vida social, quando passa a administrar e gerir o conflito de
O
52
Capítulo elaborado a partir de texto integrante da Tese de Doutorado de Franciele Al-
ves Lopes, sob orientação da Professora Doutora Regina Celia Tamaso Mioto, defendida
no Programa de Pós-Graduação em Serviço Social da Universidade Federal de Santa
Catarina (UFSC), em novembro de 2015. Disponível em: https://repositorio.ufsc.br/
bitstream/handle/123456789/189926/PGSS0202-T.pdf ?sequence=-1&isAllowed=y.
53
Sob essa lógica, a prática profissional se coloca entre “atividade criadora por excelência,
através da qual o homem se objetiva exteriorizando as suas forças genéricas na relação
com outros homens” (IAMAMOTO, 1994, p. 177).
158
S
CARVALHO, 1991; ABREU, 2002; YAZBEK, 2013; SIMIONATTO,
PE
1999; RAICHELIS, 2011). Sua utilidade e diferencial diante de outras
especializações do trabalho passa pela centralidade da defesa dos direitos
A
sociais. Trata-se da legitimação social da atividade do assistente social numa
/C
perspectiva consolidada no Brasil em seu projeto profissional firmado
TA
na década de 1990, mas gestado nos anos 1960, com o Movimento de
Reconceituação. Como profissão inscrita na divisão social e técnica do
LE
trabalho como uma especialização do trabalho coletivo, seu exercício
profissional é mediado pelo mercado de trabalho e, assim, submetido aos
CO
dilemas e constrangimentos comuns a todos os trabalhadores assalariados.
É a política social assumida pelo Estado como resposta ao conflito
de classes que cria as bases sociais que sustentam um mercado de trabalho
O
para o assistente social. Seu objeto de intervenção compreende determinado
D
permanente que existe entre o sujeito da ação que transforma (e, ao mesmo
tempo se transforma) e o segmento da realidade a ser transformado”, em
SI
S
ços de atuação. Ademais, discute-se a partir da experiência da atuação do
PE
assistente social em equipes de serviços de saúde e como as referências
legais da área participam da processualidade da demanda definindo para
A
a atuação profissional um cenário controverso em que controle e auto-
/C
nomia se interpõem.
TA
Questão Social e o social na construção da demanda profissional em
LE
Serviço Social
CO
O processo de trabalho dos assistentes sociais, assim como de
O
demais trabalhadores nos serviços, não ocorre isoladamente, e sim está
D
contemplado em uma rede de processos de trabalho que se alimentam reci-
O
S
vel na concentração de forças e interesses atrelados ao processo hegemônico
PE
em resposta à “questão social”. Forjaram-se novos quadros de intelectuais
que parcelaram as expressões da “questão social” como matéria/objeto,
A
junto com a definição de um conjunto de atribuições e competências que, na
/C
sua gênese, articulam-se a interesses das classes dominantes (ALVES, 2018).
TA
A natureza “educativa” da atuação do assistente social colocou-o
na busca de garantia da persuasão e do consenso a partir de um novo tipo
LE
de socialização do trabalhador e sua família. Como cientistas do saber prá-
tico no mundo moderno (SEMERARO, 2006), o assistente social amplia a
CO
interferência moral e política por parte do capital sobre o conjunto da vida
particular dos trabalhadores (IAMAMOTO; CARVALHO, 1991).
Na literatura contemporânea do Serviço Social brasileiro, a discus-
O
são sobre o “social” parece estar fundida à discussão da “questão social”
D
num produto.
SI
54
Quanto ao “social” como setor, as análises de Donzelot (1980; 2007) e Castel (1998) in-
dicam a natureza das suas premissas morais e como organizaram as instituições e práticas
concretas de assistência às populações, especialmente as pobres, após o século XVIII, na
forma de assistência médica e social. O “social” como “setor” de intervenção do Estado
é retratado como abstração, que historicamente serviu para arrefecer as paixões políticas
e alimentar a lógica da garantia de coesão social face à questão social das sociedades oci-
dentais modernas (DONZELOT, 1980; 2007).
161
S
sim, “[...] é parte de um conjunto de especialidades que são acionadas con-
PE
juntamente para a realização dos fins das instituições empregadoras, sejam
empresas ou instituições governamentais” (IAMAMOTO, 2001, p. 59-64).
A
Em correlação, as Diretrizes Curriculares para os cursos de Servi-
/C
ço Social já definiam que o assistente social é o “profissional que atua nas
TA
expressões da questão social, formulando e implementando propostas de
intervenção para seu enfrentamento” (BRASIL, 2002, p. 1). É competência
LE
e habilidade do profissional a “identificação das demandas presentes na
sociedade, visando formular respostas profissionais para o enfrentamento
CO
da questão social” (BRASIL, 2002, p. 1).
Entende-se que o assistente social deve intervir sobre o que lhe
O
é demandado, sob um projeto ético-político profissional, a partir de uma
D
“compreensão histórico-crítica”, que implica também identificar a signi-
ficação, os limites e as alternativas da ação focalizada. Ademais, uma das
O
S
ocorre em direção à atuação profissional, a qual se preocupa em ampliar
PE
a identidade com o projeto profissional, enquanto no trabalho em equipe,
na demanda de outros profissionais pelo seu trabalho, pesa uma pauta de
A
ordem tradicional.
/C
Além dos instrumentos legais, o projeto ético e político profissio-
TA
nal se realiza em dimensões do universo profissional, como as expressões
coletivas da categoria; as articulações com outras entidades de Serviço
LE
Social no âmbito internacional, além de outras categorias profissionais
e movimentos sociais organizados; o ensino universitário, responsável
CO
pela qualificação teórica de pesquisadores e de profissionais; e o tra-
balho profissional desenvolvido nos diferentes espaços ocupacionais
(IAMAMOTO, 2012b). É justamente no campo do trabalho profissional
O
que os desafios se acirram: embora represente certa hegemonia para o
D
concretas de realização.
Nessa direção, é preciso assentar a compreensão acerca do trabalho
U
GUEIRA, 2013).
Alves (2018) verifica que a demanda tem designado tanto a forma
RA
S
questão relevante que tem gerado mais debates/embates que, por vezes,
PE
dificultam o respaldo para a efetiva produção de conhecimento sobre o
tema (ALVES, 2018).
A
Em ambos os casos (a forma fenomênica da matéria-objeto ou as
/C
práticas de requerimento), pela pauta da discussão das demandas, estão
TA
presentes possibilidades forjadas sob distintas formas de apreensão da
realidade social e as possibilidades de incidência dos campos de saber en-
LE
volvidos, particularizando-se no campo das políticas sociais, dos serviços e
práticas profissionais, e nos arranjos multiprofissionais ou interdisciplinares.
CO
No próximo item, busca-se desenvolver questões relativas e dinamicidade
desse conceito no Serviço Social.
O
D
A “demanda” como conceito e suas variações
O
S
colocadas à profissão e às reservas próprias de forças (teóricas e prático-
PE
sociais) aptas ou não para responder às requisições extrínsecas. As demandas
são possibilidades objetivas que podem ser revertidas em realidade de acor-
A
do com a capacidade de respostas da profissão posta ao quadro societário.
/C
As demandas estão majoritariamente atreladas à dinâmica das políti-
TA
cas sociais, campo que resulta de um complicado jogo em que protagonistas
e demandas são atravessados por contradições e conflitos, isso considerando
LE
particularmente as características da sociedade brasileira e sua modalidade
de inserção (periférica e heteronômica) no sistema capitalista, que tende a
CO
não contrair a demanda objetiva de uma profissão como o Serviço Social
(NETTO, 1996; 2011).
O
As demandas para a profissão no campo de políticas sociais se cons-
D
tituem a partir da fragmentação e da parcialização da “questão social”, que
se deve à incorporação do substrato individualista da tradição liberal. As
O
refrações da questão social tornam-se alvo das políticas pelas quais se cabe
V
decorrente priorização das ações (com sua aparência quase sempre fundada
U
S
que se dirigem a contribuir para o exercício profissional em Serviço Social.
PE
Ainda no campo da importância da devida aplicação de conceitos,
é importante marcar o quanto muitas vezes o emprego dinâmico da ideia
A
de demanda vai se aproximar da discussão das atribuições e competências
/C
profissionais. Atribuição e competência têm sentidos tênues: a atribuição
TA
profissional é a “faculdade inerente à profissão”, tem sentido de prerrogativa;
já a competência “se insere na capacidade de apreciar e dar resolutividade a
LE
determinado assunto” (TERRA, 1998, p. 3). O conceito de demanda pode
ser utilizado na expectativa de compreender a ideia de atribuição profissional
CO
e de competência.
Os fundamentos sócio-históricos da profissão a partir de Netto
O
(1996; 2011) e Iamamoto (2012a; 2012b) dão ao conceito de demanda
D
uma projeção da matéria ou objeto socialmente conferido a essa categoria
profissional. No sentido etimológico, “matéria” se refere à substância, ou
O
S
que orientam os diferentes atores envolvidos (indivíduo, profissional e
PE
instituição), que formulam e implementam políticas de saúde, seja de uma
localidade, de um estado ou país” (PINHEIRO et al., 2005, p. 12).
A
Na mesma direção da Saúde Coletiva, a da processualidade das so-
/C
licitações dirigidas aos serviços de saúde, Caetano, Barcelos e Mioto (2010)
TA
compreendem as demandas aos assistentes sociais por se apresentarem por
usuários, instituições e equipes, que incluem as de usuários recolocadas por
LE
profissionais e que se caracterizam por gestão dos serviços. Alinham-se a
Mioto (2009) para afirmar que as demandas estão na estruturação das ações
CO
dos assistentes sociais. Essa estruturação se alicerça também no conheci-
mento da realidade e dos sujeitos para as quais essas ações são destinadas.
O
A análise da demanda compõe, como momento fundamental, a ação pro-
D
fissional dos assistentes sociais. Daí são definidos objetivos, considerando
também o espaço em que se realiza, a escolha de abordagens dos sujeitos
O
destinatários da ação.
V
sempre é reveladora de processos sociais mais amplos que devem ser con-
siderados pelo assistente social no momento de sua intervenção. Caetano,
U
S
viços, no caso do estudo, o sistema de serviços de saúde pública no Brasil.
PE
A falta de recursos ou a pouca efetividade desse sistema, por exemplo, que
repercutem em filas de espera, faz os profissionais recorrerem aos assistentes
A
sociais para atividades vinculadas à seletividade no acesso. Muitas vezes, a
/C
equipe de saúde vê o assistente social como profissional de solução, que
TA
poderá resolver as lacunas da gestão dos serviços.
Como já afirmado, o Serviço Social brasileiro acompanha a dinâ-
LE
mica das políticas sociais e, a partir dela, as complexas formas com que
se apresentam as demandas. Essa é uma pauta da discussão de Mioto e
CO
Nogueira (2013) sobre o Serviço Social na saúde. Para as pesquisadoras,
as demandas reservam questões inerentes ao processo de constituição do
O
direito à saúde. Embora se concorde com a complexidade dessa relação no
D
contexto das políticas e serviços sociais, essa é uma face da questão, pois é
preciso avançar no debate para o conjunto de condições do processamento
O
da demanda, tal como sugere Iamamoto (2012b). Isso indica que para os
V
-objeto da profissão, sobre o que incide seu saber, o debate sobre demanda
pode abarcar as práticas de requerimento ou acionamento profissional.
EX
S
de valores, expectativas, desejos, história, como apontam Caetano, Barcelos
PE
e Mioto (2010). Nessa direção, fica evidente a “flexibilidade” e a importância
de demarcar os sentidos do uso desse conceito. Demonstra-se que o uso
A
dinâmico desse pode estar atrelado ao pleito de produção de conhecimento
/C
que aprofunde questões da processualidade das práticas do Serviço Social
TA
e da profissão no contexto do trabalho coletivo.
Como práticas de requerimento ou acionamento profissional, o
LE
conceito de demanda deve avançar na compreensão da processualidade da
atuação profissional, considerando que objetos, atribuições e competências
CO
são referências centrais. Dentre o que Franco e Merhy (2004) chamam de
“micropolítica da organização dos serviços”, perpassam nesse aspecto
O
os processos microdecisórios do cotidiano, articulados com as formas
D
estruturadas dos serviços, aquelas que informam e condicionam o proces-
samento da ação. Mas também as formas não estruturadas que funcionam
O
(ALVES, 2018).
Demanda como práticas de requerimento ou acionamento pro-
fissional compreende comumente uma concepção sobre a matéria-objeto
SO
S
articulam no cotidiano, nas “rotinas institucionais”, em um processo que
PE
recobra elementos tradicionais e emergentes/contra-hegemônicos para a
atuação do assistente social (ALVES, 2018).
A
/C
A processualidade da demanda de assistentes sociais na relação com as
TA
políticas de serviços e do trabalho em equipes multiprofissionais a partir
da experiência na saúde
LE
A atuação do assistente social nos serviços que compreendem as
CO
políticas públicas está em correspondência com aspectos da organização
político-legal desses serviços. A relação com as referências político-legais
O
(como portarias ministeriais, resoluções, entre outras) para o debate da pro-
D
cessualidade das demandas coloca em pauta um importante contraponto,
aquilo que, para Nogueira (s. d., p. 59), é fundamental em um serviço de
O
S
chegam ou até como se comportam (PEDUZZI, 1998; ALVES, 2018).
PE
Isso tudo se localiza num campo de possibilidades que está em cor-
respondência com certas condições e formas de organização do trabalho que
A
afetam o desempenho para demandar a atuação de outros profissionais, como,
/C
a presença ou a disponibilidade do profissional na equipe; a possibilidade de ter
TA
ou não o tempo de trabalho dedicado em uma única equipe; a disponibilidade
de momentos de trocas e reflexões, pois é pelo diálogo que se pode gerar e
LE
redistribuir demandas de atuação no processo de acompanhamento do usuário.
Nesse contexto, colocam-se as relações possíveis dos sujeitos em
CO
processo com as formas institucionais, que têm espaço e importância funda-
mentais para a organização do trabalho em um serviço de saúde. A relação
da atuação profissional com as normas que orientam o funcionamento
O
dos respectivos serviços é muitas vezes uma relação variável. Conforme
D
mar que são poucas as referências para as práticas profissionais. Nos textos
legais, pouco se identificam referências ao Serviço Social (ALVES, 2018).
U
composição das equipes previstas nos textos legais é, em si, uma forma de
manter sob controle a constituição de saberes e práticas que se envolverão na
PA
S
status dos profissionais, num movimento de tensão entre formas tradicionais
PE
e formas alternativas ou emergentes, e de seus modos de interlocução. De
modo geral, os documentos reiteram o caráter da demanda no sentido de
A
recomposições possíveis dos trabalhos parcelares segundo interesses da
/C
agenda público-estatal. Uma segunda questão: a política incorpora deter-
minadas inovações que, à medida que possam ser aplicadas nos serviços,
TA
repercutirão no processo das demandas como parte de uma negociação
autônoma dos sujeitos nos seus trabalhos cotidianos.
LE
Nos textos legais, observa-se uma tensão para que as equipes res-
pondam tanto à racionalização como à recomposição de saberes, muito
CO
embora seja no trabalho cotidiano que essas dimensões se expressem. São
dimensões que convivem nos cenários das práticas e respondem às inter-re-
O
lações entre os profissionais das diferentes áreas que compõem um serviço.
D
Assim, as políticas geram outra tensão para incorporação de mudanças que
nem sempre encontram correspondência com os sujeitos envolvidos ou
O
S
que, como é comum na cena legal brasileira, há um descompasso entre o
PE
que a legislação preconiza hoje (a exemplo do trabalho multiprofissional
de forma horizontal) e o que de fato ocorre nos serviços.
A
É preciso observar que a aplicação de microferramentas, seu de-
/C
senvolvimento e implementação, é atravessada por traços da cultura orga-
TA
nizacional brasileira, que tende ao autoritarismo e ao incipiente controle
social. Por isso, é preciso preocupação para que os protocolos e diretrizes
LE
não sejam definidos de forma alheia aos seus protagonistas e interessados
(trabalhadores e usuários). Ademais, deve-se considerar o conjunto de
CO
pré-condições para que essas microferramentas sejam aplicadas, como um
quadro de recursos humanos suficiente.
O
A demanda de atuação dos assistentes sociais é capturada pelas
D
pressões de um contexto de combinações difíceis e contradições explíci-
tas nos textos legais, que colocam para a atuação profissional um cenário
O
S
Nos serviços de saúde, por conseguinte, organiza-se um “arcabouço
PE
institucional” que manifesta propriedades do tradicional e do emergente,
do formal e do informal. As normas e legislações concernentes à área são
A
submetidas a espécies de “releituras” ou “realocações”, criando-se divergên-
/C
cias entre aquilo que “projetam” e o que de fato é executado nas práticas
TA
pelos profissionais nas equipes. Nessa direção, a “baixa adesão” a aspectos
das conformações legais, frente ao que se organiza como um “arcabouço
LE
institucional”, ocorre também por outras razões como, por exemplo: a
gestão inadequada da rede de serviços e a baixa interlocução institucional,
CO
quantitativo profissional defasado, a inadequação da estrutura física e a
falta de relação com a expressão das necessidades de saúde da população.
O
A vigência desse “arcabouço institucional” permite, então, apontar
D
que é comum que as diferentes áreas profissionais, não apenas o Serviço
Social, elaboram para si “critérios e regras” próprios para prestar assistência
O
conhecer esse conjunto de normas que circulam nos serviços, de fazer sua
apropriação e efetivar seu uso.
EX
S
O Serviço Social se inscreve como profissão na formação social
PE
capitalista, na natureza contraditória do seu esquema de sobrevivência.
As contradições persistem em contextos particulares, principalmente, em
A
instituições, e expressam como o processo hegemônico que perfunde as
/C
práticas profissionais, de modo que compreendem uma relação complexa
TA
entre visões de mundo, relações de poder, estratégias, interesses, articulações,
enfrentamentos, tomadas de decisões.
LE
Como identificado por Alves (2018), a demanda de atuação para
os assistentes sociais, a partir de uma matéria-objeto, constitui-se contra-
CO
ditoriamente entre aquilo que se estabelece como matéria-objeto para os
assistentes sociais na divisão do trabalho e o que a categoria profissional
define para si em um projeto profissional emergente. Como indicam Netto
O
(1996; 2011) e Iamamoto (2012a; 2012b), a demanda conterá uma projeção
D
Referências
PA
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O
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D
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O
V
8.
Intersetorialidade como estratégia para a
S
PE
proteção social integral: congruências e paradoxos
ao trabalho profissional do assistente social57
A
/C
Mônica de Castro Maia Senna
TA
As mudanças que vêm se operando na dinâmica das sociedades capi-
LE
talistas nas últimas décadas impactam profundamente o trabalho profissional
do assistente social. A crise estrutural do capital que se manifesta desde os
CO
anos 1970 tem metamorfoseado o mundo do trabalho (ANTUNES, 2010),
reconfigurado a questão social (PASTORINI, 2004) e redefinido as relações
O
entre Estado e sociedade (FLEURY, 2003). No esteio do processo de rees-
D
truturação produtiva e da hegemonização do capital financeiro, assiste-se
ao agravamento do desemprego estrutural, à precarização dos vínculos e
O
S
esse cenário. Cabe aqui demarcar a compreensão da política social como
PE
resultado das históricas e contraditórias relações sociais, em diferentes
contextos, que participam de um processo global de regulação política e
A
legitimação na sociedade (BOSCHETTI, 2006).
/C
Nesses termos, a política social é, ao mesmo tempo e contradito-
TA
riamente, reprodutora das relações de dominação e espaço de disputa de
distintos projetos societários. Trata-se, nesse sentido, da compreensão da
LE
política social em seu caráter processual e não linear, permeado por confli-
tos e contradições. Como destaca Lobato (2009, p. 722), “o caráter desses
CO
conflitos e como são solucionados importa para a identificação dos rumos
que a política vai tomar”.
O
Sob essa perspectiva, reconhece-se aqui que, nas três últimas déca-
D
das, o Brasil fez importantes esforços para alterar o padrão tradicional de
intervenção do Estado na questão social e dotar o sistema de proteção social
O
S
brasileiro de proteção social e aos direitos sociais conquistados ao longo
PE
de sua trajetória.
Em meio a esse cenário, a intersetorialidade ganha destaque como
A
um dos mecanismos considerados estratégicos para o alcance da proteção
/C
social abrangente prescrita no texto constitucional, sendo o assistente social
TA
um dos profissionais convocados a construir e implementar ações interse-
toriais. No entanto, esse processo também é complexo e atravessado por
LE
inúmeras contradições, o que coloca o risco de transformar a intersetoria-
lidade em uma espécie de panaceia capaz de remediar todas as debilidades
CO
da política social. De fato, são muitos os limites e desafios enfrentados na
construção de políticas públicas intersetoriais, o que exige o estabelecimento
O
de análises críticas e consistentes sobre o tema.
Com base nessas considerações, este capítulo se propõe a proble-
D
S
a conformação da política. Nessa direção, Fleury (2003) argumenta que,
PE
embora delimitado pelas ações públicas destinadas a responder a determi-
nadas demandas sociais, o conceito de política social é bastante complexo,
A
na medida em que envolve um conjunto de aspectos, dos quais a própria
/C
autora destaca:
TA
• uma dimensão valorativa fundada em um consenso social que responde
LE
às normas que orientam a tomada de decisões;
• uma dimensão estrutural que recorta a realidade de acordo com setores
baseados na lógica disciplinar e nas práticas e estruturas administrativas;
CO
• o cumprimento de funções vinculadas aos processos de legitimação e
acumulação que reproduzem a estrutura social;
O
• sendo uma política pública, envolve processos político-institucionais
e organizacionais relativos à tomada de decisões, ao escalonamento de
D
2003, p. 3).
EX
S
políticas sociais ao processo econômico de reprodução do capital. Sobre esse
PE
aspecto, a autora enuncia que, na história de desenvolvimento das políticas
sociais, a reprodução da força de trabalho deixa progressivamente de ser
A
uma atribuição exclusiva dos capitalistas para ter seu custo socializado. Ao
/C
mesmo tempo, a mobilização dos trabalhadores por melhores condições
TA
de vida e trabalho contribuiu enormemente para o reconhecimento dos
direitos sociais e políticas de proteção social, favorecendo, ao mesmo tempo,
LE
a amortização dos conflitos sociais.
Para Werneck Vianna (2002), se essa é uma tendência geral das
CO
políticas sociais nas sociedades capitalistas, é preciso considerar que as
respostas dadas pelos diferentes países a essas demandas socialmente cons-
O
truídas foram historicamente distintas, mantendo-se diversas ainda hoje,
em função de suas estruturas político-institucionais, configurando modelos
D
S
Isso porque, concordando com a autora, as políticas sociais configuram
PE
importante espaço de disputa de poder, abrindo a possibilidade de trans-
formar as relações de poder a partir do campo de práticas, conhecimentos
A
e instituições.
/C
TA
Em outras palavras, as políticas sociais, muito mais que simplesmente ser
um instrumento para possibilitar o acesso a um bem ou serviço (cesta
básica, escola etc.) são um poderoso mecanismo para forjar a sociedade
LE
que queremos criar, definindo as condições de inclusão na comunidade
de cidadãos (FLEURY, 2003, p. 5).
CO
A partir dessa perspectiva é que se insere a abordagem pretendida
O
neste texto. A grave situação econômica, política e social que o Brasil en-
D
frenta nesse novo milênio tem favorecido o debate em torno dos limites
das estratégias de inclusão social promovidas no país. Diante de um mundo
O
cada vez mais globalizado, com redefinição dos lugares ocupados pelos dife-
V
S
tir da Constituição Federal de 1988, marcados pela tensa e contraditória
PE
conciliação entre a instauração de uma ordem democrática e a adoção de
medidas de austeridade econômica. Sustentada pela noção de cidadania, a
A
carta constitucional introduziu inflexões importantes no sistema de proteção
/C
social brasileiro, merecendo destaque a instituição de um capítulo específico
TA
dedicado aos direitos sociais e a instauração de um modelo ampliado de
proteção social com base na seguridade social.
LE
Cabe destacar que o projeto da seguridade social pressupunha forte
articulação entre políticas econômicas e sociais, ancorada em um modelo de
CO
desenvolvimento capaz de promover crescimento econômico sustentado,
geração de renda e emprego, com redução das desigualdades e ampliação
O
dos direitos sociais. Ao mesmo tempo, impunha um novo ordenamento
D
do Estado em uma sociedade profundamente desigual, com baixo compar-
tilhamento de valores igualitários e solidários que lhe dessem sustentação.
O
S
retrocessos nas conquistas que haviam sido alcançadas na área social nesses
PE
últimos anos.
A
O contexto do debate sobre intersetorialidade no Brasil:
/C
TA
É possível afirmar que o tema da intersetorialidade entra na agenda
governamental brasileira no contexto de transição democrática dos anos
LE
198059. Impulsionada pelas críticas ao padrão de intervenção estatal erigido
no país nas décadas anteriores, a intersetorialidade aparece cercada de cono-
CO
tações fortemente positivas, na medida em que se vincula aos movimentos
em defesa da garantia e ampliação dos direitos sociais. Desde então, o tema
O
é recorrente nos debates em torno das intervenções públicas no campo
D
social, quase sempre articulado à perspectiva de alcance de maior eficiência
O
59
É importante situar que esforços de articulação intersetorial antecedem esse período,
em especial, nos campos da Saúde Coletiva e da Gestão Urbana. No entanto, tratava-se, em
geral, de iniciativas pontuais e geograficamente delimitadas, muitas identificadas como
experiências piloto inovadoras. No bojo do processo de transição democrática brasilei-
ra após duas décadas do regime autoritário militar, as denúncias quanto ao padrão de
intervenção estatal na área social contribuíram para que temas como descentralização,
universalização, intersetorialidade ocupassem lugar de destaque na agenda pública do
país, associados a noções de cidadania e justiça social.
187
S
políticas sociais articuladas intersetorialmente (SCHUTZ; MIOTO, 2010).
PE
Exemplo disso é a incorporação da noção de seguridade social como “um
conjunto integrado de ações de iniciativa dos poderes públicos e da socie-
A
dade, destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à
/C
assistência social” (BRASIL, 1988).
TA
Na década seguinte, mais precisamente a partir da segunda metade
dos anos 1990, a agenda governamental brasileira passa a ser fortemente
LE
influenciada pelas prescrições neoliberais de ajuste macroestrutural da eco-
nomia, com repercussões nefastas para as políticas sociais, configurando
CO
o que Behring (2003) denomina de contrarreforma da seguridade social.
Em contexto de restrição dos gastos públicos, a busca pela eficiência das
O
políticas sociais dá o tom do debate, restringindo o escopo e o alcance
D
das intervenções públicas, especialmente, na área social. No bojo desse
processo, a intersetorialidade é valorizada como parte das estratégias para
O
tornar sua alocação mais eficaz (BURLANDY, 2003). Nesse sentido, asso-
SI
em vigência no período.
CL
S
no texto constitucional.
PE
O exemplo do Programa Comunidade Solidária (PCS) é emble-
mático. Instituído pelo governo federal em 1995, o PCS configura uma
A
estratégia de articulação e coordenação de ações de governo no combate
/C
à fome e à pobreza. Ao advogar o estabelecimento de parcerias entre os
três níveis de governo, a sociedade civil organizada e o chamado Terceiro
TA
Setor, o programa reforça a intersetorialidade como um de seus princípios
balizadores. No entanto, como bem sinaliza Silva (2001), o PCS pautou-se
LE
pela agenda neoliberal, culminando na estratégia de focalização, na des-
caracterização da assistência social enquanto direito social, na diminuição
CO
do papel do Estado no combate à pobreza e no estímulo ao crescimento
do Terceiro Setor, indo na direção contrária dos princípios da Seguridade
O
Social contidos no texto constitucional.
D
Já nos anos 2000, sobretudo a partir da segunda metade da década,
a agenda governamental brasileira foi fortemente orientada pela estratégia
O
S
a incorporar segmentos e temáticas específicas. Trata-se, por exemplo, das
PE
demandas de grupos historicamente em situação de desigualdade ou des-
vantagem social, como mulheres, negros, pessoas com deficiência, dentre
A
outros. Embora essas questões não sejam exatamente novas, posto que
/C
há muito tempo são debatidas pelos movimentos sociais e pela própria
TA
academia, apenas recentemente elas foram incorporadas na agenda gover-
namental. Nesse contexto, a transversalidade das políticas públicas aparece
LE
como uma exigência de integração de diversas estruturas setoriais, pautadas
por estratégias de intervenção capazes de abranger os distintos setores das
CO
políticas e a atuação conjunta de vários programas e iniciativas (VEIGA;
BRONZO, 2014).
Deve-se alertar para o fato de que essas tendências são predomi-
O
nantes em cada período, mas não exclusivas. De fato, um olhar atento para
D
esse debate ao longo dessas décadas permite observar uma mistura entre
O
MIOTO, 2010).
A literatura que trata do tema é unânime ao afirmar que o termo
U
S
Articulação de saberes e experiências no planejamento, na realização e na
PE
avaliação de políticas, programas e projetos para alcançar efeitos sinérgicos
em situações complexas, visando o desenvolvimento social – distribuição
A
equânime de riquezas – e a superação da exclusão social (JUNQUEIRA,
1998, p. 14).
/C
TA
O reconhecimento das necessidades da população em toda sua
complexidade seria o ponto de partida para a definição das prioridades
LE
comuns a serem respondidas de forma articulada por cada política. Como
afirmam Veiga e Bronzo (2014), não se trata de justapor o que se faz sepa-
CO
radamente, mas construir algo novo, em conjunto, de forma a responder a
um problema complexo e, portanto, irredutível a soluções setoriais.
O
A intersetorialidade como prática social é outra perspectiva identifica-
D
da na categorização feita por Schutz e Mioto (2010). Esse enfoque se pauta
no entendimento de que as práticas intersetoriais permitem a abordagem
O
torialidade como princípio do trabalho com redes. Essa noção destaca as ações
conjuntas que visam atender aos segmentos socialmente “vulnerabilizados”,
por meio de conexões horizontais entre “atores governamentais, não go-
SO
acesso igual dos desiguais. Ainda de acordo com o autor, “Isso significa
alterar toda a forma de articulação dos diversos segmentos da organização
governamental e dos seus interesses” (JUNQUEIRA, 2004, p. 27).
De forma semelhante, Carmo e Guizardi (2017) realizaram uma revi-
são da literatura sobre intersetorialidade, no âmbito da seguridade brasileira
no período de 2004 a 2017, e identificaram uma escassa produção científica
191
S
de intersetorialidade, as resistências de profissionais e da burocracia estatal
PE
à atuação intersetorial e a localização quase exclusiva da intersetorialidade
nos processos de implementação das políticas e programas sociais.
A
Esse conjunto de abordagens permite identificar alguns elementos
/C
centrais a serem contemplados na definição de intersetorialidade. De iní-
TA
cio, destaca-se que a intersetorialidade implica em saberes e práticas com-
partilhadas. Trata-se de um esforço de estruturar novos conceitos, novas
LE
linguagens e um novo saber em torno de um objeto comum, perspectiva
afinada com a concepção de interdisciplinaridade, conforme destacam
CO
Comerlatto et al. (2007).
Contudo, a intersetorialidade exige também a construção de ações
integradas a partir da definição de objetivos comuns, em que as respostas aos
O
problemas de ordem social estejam no centro da estruturação das interven-
D
cisórias em torno das políticas sociais, uma das condições necessárias para
conferir maior sustentabilidade às ações, todavia, ela também é atravessada
U
mente convergentes.
Como argumenta Campos (2000), a intersetorialidade não se cons-
PA
titui de forma espontânea, mas de uma ação deliberada que requer respeito
à diversidade e às particularidades de cada setor ou participante. A construção
de ações intersetoriais abrange, assim, de acordo com o autor, espaços
62
Stakeholders são sujeitos e grupos sociais envolvidos e/ou afetados por determinada
política pública. O campo de análise de políticas destaca a importância dos stakeholders
na construção das políticas públicas, seja influenciando, implementando ou contribuindo
para modificar ações e decisões.
192
S
se refere também à relação entre Estado e sociedade.
PE
Essas concepções apontam na direção de um conjunto de inova-
ções no âmbito na gestão pública, em que o padrão gerencial “clássico” ou
A
“tradicional” – pautado por sistemas técnicos especializados e estruturas
/C
fortemente hierarquizadas – é confrontado com novos objetivos e demandas
TA
políticas e sociais. A partir esse ponto de vista, a intersetorialidade implicaria
em mudanças organizacionais e de gestão, em modificações nas concepções
LE
dos profissionais, na cultura organizativa de diferentes setores e na alocação
de recursos financeiros, técnicos, dentre outros aspectos.
CO
Veiga e Bronzo (2014) sustentam a hipótese de que a noção de in-
tersetorialidade envolve um continuum que abrangeria desde a articulação e
O
coordenação de estruturas setoriais já existentes até uma gestão com forte
articulação entre setores. As autoras argumentam que, dependendo do grau
D
S
De fato, a intersetorialidade esbarra nas distintas lógicas organizacio-
PE
nais que regem as arenas setoriais, decorrentes da “pirâmide hierarquizada
e fatiada da estrutura governamental” (INOJOSA, 2001, p. 107) construída
A
no país. Essa autora identifica três grandes empecilhos organizacionais à
/C
construção da intersetorialidade: o fatiamento do aparato estatal por saberes,
TA
conhecimentos e corporações, refletindo “as clausuras das disciplinas”; “a
hierarquia verticalizada, piramidal, em que os processos percorrem vários
LE
escalões, mas as decisões são tomadas apenas no topo” (INOJOSA, 2001,
p. 103); e o loteamento político-partidário e de grupos de interesses.
CO
É importante ressaltar que a construção dessas arenas setoriais
foi historicamente importante no sentido de conferir institucionalidade e
robustez a determinadas áreas específicas, definindo suas competências e
O
funções, conformando seus marcos regulatórios e comandando a alocação
D
S
clientelístico que molda as relações sociais no Brasil.
PE
Segundo Andrade (2006), agregam-se a isso as dificuldades das
áreas setoriais em lidarem com a complexidade que reveste as diferentes
A
expressões da questão social. Ainda como salienta esse autor, um dos gran-
/C
des desafios da intersetorialidade é justamente romper com a tradição da
TA
Ciência Moderna, que opera com uma lógica parcializada de organização e
produção do saber, gerando, como consequência, uma intensa especializa-
LE
ção disciplinar e práticas sociais fragmentadas. Nesse sentido, a adoção da
intersetorialidade implica na construção de um novo paradigma capaz de
CO
integrar saberes e práticas, conhecimento e ação, em direção à valorização
da participação coletiva e da consolidação dos direitos sociais.
O
Do ponto de vista da gestão intersetorial, um aspecto crucial diz
D
respeito à coordenação das ações, o que implica na adoção de estratégias que
vão desde a coleta e disseminação de informações, de forma a possibilitar
O
e a adesão dos atores aos projetos integradores, para além de seus objetivos
específicos, setoriais.
Cabe ainda destacar o fato de que o debate sobre a intersetorialidade
SO
S
A defesa da intersetorialidade tem sido reiteradamente associada
PE
às suas possibilidades de superar a fragmentação das políticas sociais e
sua baixa capacidade de responder às necessidades e demandas de amplos
A
contingentes populacionais. Parte-se do reconhecimento de que tais neces-
/C
sidades e demandas são multifacetadas e multidimensionais, o que exige a
TA
articulação entre diferentes saberes e setores como mecanismo fundamental
para garantia da proteção integral enquanto direito de cidadania. No campo
LE
da assistência social, essa defesa se adensa devido tanto ao legado histórico
dessa área de intervenção pública quanto às características das próprias
CO
necessidades e demandas que configuram seu campo específico de atuação.
Se a defesa da importância da intersetorialidade é um aspecto
O
consensual, as estratégias para construí-la têm sido tema de discussões e
D
divergências. Além disso, sua construção esbarra em desafios nada triviais,
sobretudo porque implica em mudanças de diferentes ordens: paradigmá-
O
de cidadania.
RA
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D
S
PE
A
/C
TA
LE
Parte IIICO
O
D
O
desafios e respostas
SI
U
CL
EX
SO
U
RA
PA
PA
200
RA
U
SO
EX
CL
U
SI
V
O
D
O
CO
LE
TA
/C
A
PE
S
201
9.
Intersetorialidade e a formação de redes como caminho
S
PE
para a garantia de direitos de crianças e adolescentes
A
Zelimar Soares Bidarra
/C
Eugênia Aparecida Cesconeto
TA
Este capítulo incumbe-se de problematizar o caminho pelo qual
LE
deve acontecer a concretização “Da Política de Atendimento” para crianças
e adolescentes, prevista na “Parte Especial” do Estatuto da Criança e do
CO
Adolescente (ECA), Lei nº 8069/1990 – atualizações. Esse caminho consta
no Art. 86, cuja partícula central de redação pressupõe a intersetorialidade
O
pela existência de um “[...]conjunto articulado de ações governamentais e
D
não-governamentais [...]” (BRASIL, 1990). A lógica para tornar efetiva essa
política prevê a construção da intersetorialidade e sua consequente expressão
O
S
De acordo com a tradição intelectual que analisa a intervenção
PE
do Estado na esfera da conflitividade social, explicitada pela ampliação e
agravamento das desigualdades, a ação intersetorial articulada em redes
A
de prestação de serviços não é uma condição dada e nem natural do flu-
/C
xo de operacionalização dos programas e serviços das políticas setoriais.
TA
Pelo contrário, o viés prevalecente é o da fragmentação, da setorializa-
ção e do isolacionismo (PEREIRA, 2004; 2014; SPOSATI, 2004; 2006;
LE
TUMELERO, 2015).
Dessa forma, atuar na perspectiva da intersetorialidade significa ter
CO
a capacidade de compartilhar responsabilidades e organizar as atribuições
necessárias à realização de uma tarefa, para a qual é preciso contar com
O
igual compromisso dos sujeitos sociais envolvidos. Esses sujeitos partici-
D
2012, p. 196).
Encontrar mecanismos e caminhos que favoreçam a articulação
U
S
todas as políticas públicas [...]”. Com isso, todos os envolvidos com os
PE
processos de implementação de políticas públicas setoriais que concretizam
a Política de Atendimento têm responsabilidades com a interpenetração das
A
atuações e complementaridade das ações, para que a proteção integral de
/C
crianças e adolescentes possa se tornar realidade.
TA
Nesse sentido, não se pode deixar de abordar a participação e a
atuação do assistente social como integrante do SGD e do compromisso
LE
ético-político dessa profissão com a realização da justiça social. Isso desafia
esse profissional a buscar formas e mecanismos para que, no cotidiano da
CO
atuação, elaborem-se alternativas para a concretização de prerrogativas que
fortaleçam as interlocuções entre aqueles que ocupam posições estratégicas
nas instâncias governamental e não-governamental, com vistas a alcançar o
O
satisfatório funcionamento desse SGD. Todavia, como esse sistema não se
D
com as demais instâncias da vida social e das dinâmicas estatais, que são
V
S
ou prejudicial, são processos intrínsecos aos aparelhos de Estado que são
PE
“regulados” e se determinam por contradições e antagonismos.
As políticas implementadas por um governo expressam fatores de
A
diferentes natureza e determinação. Assim, torna-se importante conhecer
/C
sua complexidade quando se pretende aferir, redirecionar ou alterar o rumo
TA
das políticas, o que exige um grande esforço, uma vez que esses diferentes
fatores se referem, sempre, a uma concepção de Estado, no interior da qual
LE
se movimentam.
Para a compreensão e análise dessa movimentação, Hirsch (2010)
CO
e Mascaro (2013) consideram o Estado uma “forma política” derivada
da “forma social”65 capitalista, portadora de contradições que marcam
as disputas e o atendimento aos distintos interesses de classes (e de seus
O
segmentos). “Ele [o estado] não é nem expressão de uma vontade geral,
D
65
Segundo Hirsch (2010, p. 49): “Formas sociais designam a relação de articulação entre estru-
tura social – o modo de socialização, as instituições e as ações”. Complementando esse
RA
entendimento, Mascaro (2013, p. 21-22) define as formas sociais como: “[...] modos relacio-
nais constituintes das interações sociais, objetificando-as (relações objetivas exteriores e
PA
S
As “políticas públicas”, neste capítulo, são entendidas como o
PE
“Estado em ação”, uma vez que as demandas das classes se encontram
em constante disputa. O processo de formulação da política pública é per-
A
meável à influência de grupos privilegiados, cuja solução de disputas não
/C
deve pautar-se por atos violentos, mas pela construção de consensos com
TA
vista à proteção dos direitos, a qual é um domínio reservado ao Estado
(MASCARO, 2013; SOUZA, 2006).
LE
A produção dos direitos, como instância do domínio estatal, está em
um campo de lutas, que só consegue se materializar mediante a existência
CO
das políticas públicas. Por esse motivo, estas são consideradas como o locus
em que os embates em torno de interesses, preferências e ideias se desen-
volvem dentro dos projetos de governos. A sua implementação é, portanto,
O
resultado das interações entre os diversos atores nos espaços institucionais
D
das políticas públicas, pois são eles que diretamente atuam na tradução dos
programas, na distribuição e/ou interdição de bens e serviços públicos,
EX
uma margem para a interpretação destas, seja quando seu desenho é claro,
RA
mas a realidade local não o comporta como tal, seja quando seu desenho
não está “claro ou é dúbio” (OLIVEIRA, 2012, p. 1554). Dessa forma,
PA
S
bre quem serão os beneficiados e os não-atendidos, dessa forma, eles não
PE
apenas executam as políticas públicas (policies), eles fazem também política
(politics). Essas discussões ganham destaque juntamente com o desenho e a
A
execução das políticas públicas no contexto da adoção de políticas restritivas
/C
de gastos, inclusa na agenda da maioria dos países (OLIVEIRA, 2012).
TA
Essa argumentação parece bastante atual quando se trata da imple-
mentação das políticas públicas, uma vez que as decisões dos burocratas
LE
de rua têm grande peso no rumo das políticas, ao estabelecer o ritmo e
o número de cidadãos a serem atendidos, bem como proteger o local de
CO
trabalho. Mas há de se reconhecer as inovações e os artifícios criados por
esses burocratas que muitas vezes passam desapercebidos pelos adminis-
tradores, gerentes e pela própria população. Dentre as inovações possíveis,
O
pretende-se, neste capítulo, dar visibilidade às contribuições dadas para
D
S
burocratas de rua para que consigam realizar a prestação de serviços de que
PE
estão incumbidos. Desse modo, compreende-se que nenhuma trama pode
existir ex ante, isto é: ser concebida de modo exterior à realidade da confi-
A
guração dos serviços e à ação constituinte dos quadros técnicos presentes
/C
em cada território de implementação das políticas públicas.
TA
Isto significa que a intersetorialidade e a atuação em redes jamais
têm condições de serem entregues prontas por estruturas hierárquicas
LE
distantes/apartadas das requisições cotidianas apresentadas por usuários
e demais profissionais que interagem nas problemáticas afetas. Elas origi-
CO
nam-se dos próprios agentes das interações, dos contatos, das trocas de
quem têm o domínio sobre contextos específicos de cada realidade. São
O
esses que têm as condições para discutirem e refletirem sobre as alterna-
D
tivas que são adequadas e convergentes em determinada realidade; bem
O
resolutividades pactuadas.
É fato inconteste que a atuação intersetorial e em redes, cuja forma
SI
lhados coletivamente, não pode ser endereçada por encomenda, por pacote
CL
de entrega, isto é: por malote! Ainda que, até os dias atuais, inúmeros bu-
rocratas de rua persistam acreditando nessa possibilidade e por isso suas
EX
S
belecem para concretizarem suas rotinas de atendimentos para diferentes
PE
expressões da “questão social” reconhecidas como problemas públicos e
transformadas em desenho de política pública setorial pelos policy makers.
A
Intersetorialidade e rede não existem no papel. No limite, o papel serve
/C
para guardar seu registro, ser sua forma de documentação e tornar acessí-
TA
vel a disseminação de conhecimentos sobre as diversificadas experiências,
e seus formatos correspondentes, que demonstram a potencialidade e a
LE
pluralidade do que podemos nominar como casos concretos de atuações
intersetorial e em redes.
CO
Com base nessas argumentações, questiona-se por que preferir
e reivindicar essa forma de atuação se intersetorialidade e redes não são
O
encadeamentos naturais e apriorísticos das rotinas institucionais de imple-
D
mentação das políticas públicas. Para responder a esse questionamento,
considera-se oportuna a recomendação de Bidarra (2009), segundo a qual
O
67
Gramsci (1987) entende que uma “concepção do mundo” está impregnada das con-
dições históricas, das experiências e das estratégias para as lutas políticas empreendidas
pelos sujeitos. Nesse sentido, a “concepção do mundo” não se refere às vivências indivi-
duais e expectativas subjetivas, mas trata do modo como se constrói, nas e por meio das
experiências, coletivamente compartilhadas, as possibilidades de redefinição das inúme-
ras visões de mundo particulares que os sujeitos assimilam e carregam como parte da sua
herança histórico-cultural. Lembrando Marx: os homens são aquilo que vivem, sentem e
experimentam nas condições objetivas e concretas das suas vidas, no seu tempo histórico.
209
S
as que se reportam aos resultados das interveniências produzidas pelos
PE
conselhos gestores de políticas, conferências e fóruns. Nem sempre se dá
atenção para o viés de uma efetiva gestão participativa para a produção
A
de respostas a demandas e queixas apresentadas pelos usuários. Por meio
/C
da ação intersetorial e do trabalho em rede, é possível dar visibilidade aos
TA
arranjos institucionais que expressam de modo prático acordos e fluxos,
protocolos, intra e interpolíticas setoriais, os quais orientam as atuações
LE
cotidianas e são referência para os atendimentos profissionais.
A intersetorialidade e rede não vêm por encomenda. Da mesma forma
CO
que não acreditamos que seja um caminho definido por imposição vertical
e hierárquica, de cima para baixo, daqueles que ocupam posições de mando.
O
As redes são formadas por pessoas, que se encontram em um espaço de
D
mediação e convívio. Elas estão representando instituições, contudo, ao
“caírem na rede”, lutarão pela constituição de um outro organismo, não
O
dos fluxos das instituições e dos grupos, mas não deixa de ser um espaço
constituído, com objetivos e metas a atingir [...] (RIZZINI et al., 2006,
U
p. 122).
CL
ser copiado.
Parte-se da convicção de que não há modelo a ser transposto para
RA
ser copiado. O que se tem são experiências que podem e devem servir de
referência e/ou parâmetro de orientação para os agentes que se encarregam
PA
S
• organizar-se a partir de um projeto de intervenção que orienta o desen-
PE
volvimento da ação;
• constituir um “coletivo de referência” (grupo, equipe, comissão) que
A
assegure a representação das diversas políticas setoriais e das profissões
/C
(interdisciplinaridade);
• cuidar do registro/da documentação da experiência;
TA
• usar o tempo reconhecido por parte da jornada de trabalho;
• ter disponibilidade para flexibilizar pontos de vistas, para que se possam
LE
construir acordos e pactuações;
• fomentar a comunicação mediante a constante publicização dos estágios/
CO
etapas em que se encontra a construção da intersetorialidade;
• fazer monitoramento dos acordos e pactos para as interações profissionais.
O
A experiência descrita ocorreu no município de Toledo-PR, situado
D
na região oeste do estado do Paraná. Segundo as referências da Política
O
de porte”, uma vez que sua população é de mais de 100 mil habitantes, exatas
U
S
do compartilhamento de responsabilidades, fomentador de respostas mais
PE
abrangentes para as demandas e os desafios postos.
O empreendimento intersetorial iniciou-se no primeiro semestre
A
de 2015, quando foi realizada atividade alusiva ao Dia 18 de Maio (Data
/C
Nacional de Mobilização para o Enfrentamento e o Combate à Violência
TA
Sexual contra Crianças e Adolescentes). Realizou-se atividade de capaci-
tação para atores do SGD e para profissionais da rede de atendimento
LE
local (governamental e não-governamental), promovida, em parceria, pelo
Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente (CMDCA)
CO
e pela Secretaria Municipal de Assistência Social (SMAS). Nesse contexto,
admitiu-se que não era mais possível adiar a construção do trabalho inter-
O
setorial em Toledo.
D
Motivadas pelos debates e reflexões experimentados na atividade de
capacitação, e premidas pelas necessidades e dificuldades que vivenciavam
O
S
A existência desse projeto tornava clara aos que a ele se integraram
PE
que se tratava de um trabalho profissional, referenciado em instrumentos
técnicos que lhe dão legitimidade. Assim, o percurso de definição do tra-
A
balho intersetorial em Toledo foi tomando forma com o próprio processo
/C
de redação-revisão do projeto de intervenção, concomitantemente à mo-
TA
bilização de outros agentes.
No segundo semestre de 2015, houve a aproximação entre alguns
LE
profissionais das áreas do Serviço Social, da Psicologia, da Enfermagem e
do Direito, que, na condição de burocratas de rua, porque eram provenientes
CO
de órgãos governamentais implementadores de políticas públicas, formaram
um arranjo multi e interdisciplinar. A partir disso, esforços e iniciativas
O
foram deflagrados para construir um ambiente favorável à elaboração de
D
procedimentos pactuados (protocolos) e executáveis em fluxos de redes
para a concretização da proteção social aos usuários das políticas públicas.
O
processo, seja nos encontros ampliados da rede, seja por envio de sugestões
U
68
Para maiores esclarecimentos sobre a formulação dessa modalidade de projeto, ver
Couto (2009).
69
Desde a segunda metade de 2015, o desenvolvimento do projeto de intervenção para
a implantação da RIPS no município de Toledo compreende a atuação em parceria de
profissionais de várias áreas disciplinares das seguintes instituições: Ministério Público
do Estado do Paraná, Secretaria Municipal de Assistência Social, Secretaria Municipal de
Educação, Secretaria Municipal de Saúde, Poder Judiciário da Comarca de Toledo, Curso
de Serviço Social da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste).
213
S
Toledo (PR), bem como estratégias para sua efetiva operacionalização,
PE
o que se encontra em curso. O desenvolvimento dessa proposta tem
oportunizado momentos de interação entre profissionais de formação/
A
áreas de atuação diversas, mobilizando-os e desafiando-os a formular e
/C
experimentar alternativas que vão na direção a uma prática intersetorial.
Essa iniciativa de trabalho tem dado ocasião a um maior conhecimento
TA
dos órgãos e de suas respectivas atribuições para com a proteção social,
bem como resultado na construção de fluxos e protocolos de atendimentos
LE
(SASSON et al., 2016, p. 1).
CO
A finalidade da RIPS é elaborar formas para assegurar dimensões
da proteção social para sujeitos sociais, de diferentes segmentos etários e
O
que vivem em circunstâncias de vulnerabilidade social, de risco, de viola-
ção de direitos e de violências, no município de Toledo. Desde o início,
D
S
pode ser entendido como um “coletivo de referência”), torna-se muito difícil
PE
operacionalizar as exigências e rotinas para concretizar a intersetorialidade
(BIDARRA, 2009; GONÇALVES; GUARÁ, 2010; PEREIRA, 2014; RI-
A
ZZINI et al., 2006). Esse “coletivo de referência” assume a incumbência
/C
de incentivar e realizar as intervenções no sentido de articular os encontros
TA
de trabalho, bem como de sistematizar as propostas que são apresentadas
e discutidas em plenárias ampliadas com os profissionais dos órgãos e dos
LE
serviços que integram a rede de proteção. Além disso, o coletivo se incumbe
de desenvolver atividades de monitoramento e exercer as cobranças para
CO
que as atuações convirjam no sentido da intersetorialidade. Logo, são muitas
atividades que não têm como ficarem concentradas em uma única pessoa,
O
na medida em que ela também tem as demais exigências de sua rotina
D
profissional para serem cumpridas. O trabalho intersetorial e em rede não
deve produzir sobrecargas; caso isso aconteça, corre-se o risco de não ser
O
S
É preciso ter clareza de que o equacionamento dos conflitos é
PE
sempre pontual e provisório porque, a cada vez que o redimensionamento
da ação intersetorial precisar tocar no âmbito institucional de um órgão ou
A
entidade e nas competências instituídas, novos conflitos de interesses se
/C
delineiam. Dessa forma, a habilidade para gerir conflitos, conter as possi-
TA
bilidades destrutivas nas disputas e fomentar as respostas aproximadas é o
que define a legitimidade da atuação do “coletivo de referência”, incumbido
LE
de tornar viável a operacionalização da intersetorialidade.
Na medida em que a intersetorialidade é resultado da construção da
CO
articulação e da pactuação entre as intervenções dos agentes implementa-
dores das políticas públicas setoriais, para que essa construção se materia-
lize, é preciso lhe dar a configuração de trabalho rotineiro. Nesse sentido,
O
não é possível haver intersetorialidade e trabalho em rede se não houver a
D
cada realidade local precisa estabelecer uma pauta de trabalho e uma agenda
SI
S
trabalho, e sem contar com a validação de sua chefia para o uso das horas
PE
que precisam ser destinadas à realização das atividades que tornam possível
a atuação intersetorial e em rede.
A
Com essa observação, procura-se deixar claro a indispensável co-
/C
laboração de todos, na medida em que cada profissional de uma política
TA
setorial que integra o “coletivo de referência” passa a ser elo e interlocutor
de seus pares setoriais. Esse, ao assumir a tarefa de participar das discus-
LE
sões e das pactuações, torna-se um mediador dos pontos de vistas e das
propostas dos órgãos/serviço a que se vincula, ao mesmo tempo em que
CO
tem a responsabilidade de fazer fluir a comunicação reversa, isto é: manter
seus pares informados e atualizados sobre o andamento dos trabalhos que
estão sendo feitos dentro dos espaços de encontro e das sistematizações
O
operadas pelo “coletivo de referência” (BIDARRA, 2009; GONÇALVES;
D
S
No início de 2016, a EM-RIPS formulou uma proposta para pro-
PE
piciar que os atores do SGD pudessem desenvolver e estabelecer suas
negociações e pactuações, as quais tomaram o formato documental de
A
protocolos e fluxos, para aquela que foi definida como a primeira temática:
/C
acolhimento institucional de crianças e adolescentes. Como nenhuma pac-
TA
tuação se origina do desconhecimento, a EM-RIPS definiu uma estratégia
para produção de diagnóstico-rápido sobre como se dava a ação de atores
LE
do SGD em circunstâncias relacionadas com o acolhimento institucional
de crianças e adolescentes. O diagnóstico é o componente de identificação
CO
de problemas, entraves, equívocos, limites e propostas de soluções.
O citado diagnóstico-rápido nasceu de encontros de trabalho entre
os membros da EM-RIPS com profissionais das políticas setoriais da as-
O
sistência social, da educação, da saúde, profissionais do sistema de justiça
D
mento institucional.
Desse processo, originaram-se os acordos, deu-se melhor visibi-
U
intersetorial e em rede não vir por encomenda, ainda requer extensiva de-
dicação de períodos de tempo para evidenciar seus produtos.
Porém, se a definição e a sistematização de um protocolo podem
S
demorar um longo tempo para nascer, os acordos processuais que vão se
PE
construindo nas tramas das interações entre os profissionais têm efeitos
imediatos sobre suas rotinas. O que é acordado pela aproximação e diálogo
A
pode ser colocado em prática prontamente. Nesse sentido, as práticas que
/C
têm correspondência com a temática em tela podem começar a usufruir
TA
dos resultados das pactuações/acordos, mesmo antes que os protocolos
estejam finalizados e assimilados por todo o percurso de intervenção das
LE
políticas públicas.
Em vista de a operacionalização do trabalho intersetorial envolver
CO
muitos profissionais e ter repercussões sobre muitas práticas, é fundamen-
tal que os produtos das pactuações/acordos possam ser disseminados e
apreendidos pelo conjunto que intervém sobre a problemática, o qual nem
O
sempre participou de forma direta, mas que no cotidiano coloca em prática
D
serviços da rede implicados com o tema. Essa mesma atitude é adotada para
o lançamento de versão de protocolo que tenha sido finalizada. A iniciativa
CL
S
necessárias para elaborar os acordos e estabelecer as pactuações, isto é,
PE
participar da construção das conexões que fazem as sínteses e dão impulso
para que as ações aconteçam de modo encadeado, em rede.
A
O Serviço Social é permeado por diversos desafios, muitos dos
/C
quais perpassam o cotidiano profissional, principalmente aqueles direta-
TA
mente relacionados aos retrocessos de direitos sociais e ao avanço de uma
modalidade vertical de controle social que visa a reduzir a atuação cidadã. A
LE
consequência desses processos está no enfraquecimento da capacidade de
luta dos sujeitos sociais na defesa de seus direitos civis, sociais e políticos.
CO
Esse tipo de contexto exige constante debate profissional para fortalecer
a resistência e a capacidade de enfrentamento coletivo às ações de precari-
O
zação do trabalho e de desmonte das políticas públicas.
D
Como argumenta Yazbek (2009, p. 161), o diálogo com matrizes de
pensamento social é necessário para subsidiar os processos de elaboração
O
S
plementadores e das rotinas estabelecidas de forma setorial (e, por vezes,
PE
individualizadas e pessoalizadas) que possam ser obstáculos às negociações
que materializam essa modalidade de trabalho.
A
Ao pensar em uma das contribuições possíveis, leva-se em conta
/C
que “[...] o Serviço Social é uma profissão capaz de intervir na realidade
social, de forma crítica e criativa; de produzir conhecimentos sobre essa
TA
realidade, e sobre sua própria intervenção” (YAZBEK, 2005, p. 149). Com
isso, é capaz de projetar alternativas profissionais que reforcem os compro-
LE
missos expressos em seu projeto ético-político-profissional com a defesa
intransigente de direitos.
CO
São necessárias formas de superar o prevalecente funcionamento
setorial das políticas públicas recorrente na geração de insatisfações com
O
a quantidade e a qualidade dos serviços ofertados por essas políticas, no
D
que se refere ao acesso e à garantia de direitos. Quando predomina a im-
possibilidade e/ou a precariedade em usufruir de direitos, o exercício da
O
aprendizados profissionais.
Existe um espaço para o ato/decisão do fazer, que se concretiza por
EX
atua. Isto é, como afirma Yazbek (2014), poder ser protagonista nas me-
diações políticas e ideológicas expressas sobretudo por ações de resistência
U
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TA
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TA
LE
CO
O
D
O
V
SI
U
CL
EX
SO
U
RA
PA
225
10.
A reincidência da violência contra mulheres e meninas:
S
PE
elementos estruturantes e exigências para
uma intervenção emancipatória
A
/C
Fernanda da Fonseca Pereira
TA
Vini Rabassa da Silva
LE
Transcorrido já quase um quarto do século XXI, pode parecer
CO
surpreendente nos ocuparmos de tema como a violência reiterada contra
meninas e mulheres. Parece inacreditável que ainda seja atual pesquisar,
O
investir na produção de conhecimento científico e na denúncia de tal rea-
D
lidade. No entanto, a necessidade revelada pelo campo do Serviço Social
de discutir sobre a atuação dos(das) profissionais com meninas e mulheres
O
sua reprodução. Por um lado, não consegue romper com o regime eco-
CL
S
em vista a emancipação dos sujeitos. Para isso, entende-se, também, que é
PE
indispensável saber a direção a imprimir nos processos socioassistenciais,
a fim de que a prática consiga ser crítica, criativa, propositiva e contagiante
A
de um fazer profissional capaz de produzir alterações objetivas e subjetivas
/C
na vida das pessoas com quem é desenvolvido o trabalho, ainda que dentro
TA
dos limites do sistema capitalista.
Essa concepção possibilitou descobrir e compreender, no desen-
LE
volvimento da ação profissional, que as políticas públicas implementadas
no atendimento de situações de reincidência da violência enfrentadas por
CO
meninas e mulheres são focadas exclusivamente nas marcas físicas ou psi-
cológicas, as quais são a forma de aparecimento da violência sofrida. Assim,
O
a intervenção não se destina à integralidade da pessoa em sofrimento, e
D
o não atendimento das reais necessidades dos sujeitos, na perspectiva que
Lagarde (2012) menciona como “cidadania plena”, provoca a reincidência
O
se resultar de uma análise crítica, que a faça surgir como “concreto pensado”
(MARX, 1982, p. 14), pois, como em outra passagem afirma Marx (1983,
EX
S
bres atendidas pela assistente social do Setor, tornou-se objeto de estudo.
PE
O desenvolvimento da pesquisa visou descobrir e explicar os fatores que
determinam esse fenômeno de forma concreta e objetiva, a partir de sua
A
totalidade, e considerando a particularidade da Zona Oeste do Município do
/C
Rio Grande, a fim de descobrir pistas para qualificar a atuação profissional.
TA
Caracterização e “exploração” do contexto de reincidência da violência
LE
contra mulheres e meninas pobres e seus elementos estruturantes
CO
A realidade pesquisada tem como contexto o Município do Rio
Grande, localizado na faixa de fronteira brasileira, no Rio Grande do Sul,
O
no extremo sul do País. Um estudo realizado em 2013 pela Fundação de
D
Economia e Estatística Siegfried Emanuel Heuser (FEE) sobre a extrema
pobreza no Estado do Rio Grande do Sul anunciou o Município do Rio
O
rizada principalmente pela renda, mas também leva em conta outros tipos
CL
71
A atuação foi realizada pela autora deste capítulo, Fernanda Pereira, assistente social da
FURG com o registro de todos os atendimentos prestados, constituindo assim um banco
de dados sobre a realidade das mulheres e meninas pobres daquele território e, ao mesmo
tempo, sobre a intervenção desenvolvida pela assistente social, descrita nos relatórios.
O banco de dados, após autorização de uso pela autoridade institucional competente,
mediante compromisso firmado de sigilo sobre a identidade dos sujeitos, foi usado como
uma das fontes de dados empíricos para a sua tese de doutorado em Política Social no
PPG da UCPEL, orientada por Vini Rabassa da Silva. Este capítulo é resultado de um
recorte da tese com algumas adaptações e revisões.
228
S
2010 correspondeu a R$ 39.434,00, não houve uma significativa redução
PE
proporcional do emprego desprotegido. Ainda, em 2010, as mulheres foram
presença majoritária entre os empregados sem carteira, representando 53%
A
desses trabalhadores (VARGAS, 2014). Outro dado importante que revela o
/C
estudo é a diferença entre homens e mulheres nos rendimentos: em 2000, o
TA
rendimento médio das mulheres era de 65% do rendimento médio mascu-
lino e, em 2010, essa diferença teve uma leve queda, representando 64,8%.
LE
Soma-se a isso o fato de 24.635 pessoas estarem registradas à mar-
gem do sistema de proteção social, no ano de 2010, no município do Rio
CO
Grande. Destas, 65,2% eram mulheres, revelando ao longo dos anos de
2000 a 2010 uma persistente desigualdade de gênero, marcada pela despro-
O
teção social, inserção das mulheres em trabalhos de baixo rendimento e
D
sem garantia de direitos, responsabilização da mulher, muitas vezes, como
O
crimes com vítima mulher (4,87 por 100 mil habitantes), totalizando 4.976
ocorrências (LOPES; SILVA, 2013).
EX
S
101 famílias entrevistadas pela assistente social do Setor de Serviço Social
PE
do CAIC/FURG, com o objetivo de desvendar o mundo real das mulheres
e meninas, integrantes dessas famílias, ultrapassando a aparência. A análise
A
buscou descobrir o que está por trás do movimento visível da reincidên-
/C
cia da violência, investigando o movimento real interno, isto é, a essência
TA
(KOSÍK, 1986), a fim de extrair da trama oculta que constitui o fenômeno
as suas reais determinações, pois somente dessa forma é possível descobrir
LE
como romper com aquilo que é responsável por sua reprodução.
A pesquisa valeu-se tanto do estudo quantitativo como do estu-
CO
do qualitativo, conformando um enfoque misto (CRESWELL; PLANO
CLARK, 2013) ou quanti-qualitativo. No primeiro momento, foram ana-
O
lisadas as entrevistas realizadas com 101 famílias atendidas no período de
D
2008 até 2015 pelo Setor de Serviço Social do Centro de Atenção Integral
à Criança e Adolescente da Universidade Federal do Rio Grande (CAIC/
O
S
rias, na luta pelos diferentes interesses, mantém, para além da violência do
PE
corpo, também uma estrutura de poder baseada tanto na ideologia como
na violência, caracterizando uma organização social de gênero que, por
A
meio da dominação-exploração patriarcal, edifica diversas desigualdades
/C
(SAFFIOTI, 2009).
O termo “reincidência” remete à repetição das situações de violên-
TA
cia numa mesma família, seja pela negligência dos serviços públicos ainda
ineficazes, seja por outros aspectos que atravessam a questão. Os dados de
LE
reincidência de violência detectados na atuação profissional não são atípicos
e são revelados, também, no Mapa da Violência do ano de 2012 (WAISEL-
CO
FISZ, 2012), o qual mostra que, das 70 mil mulheres vítimas de violência
atendidas no Sistema Único de Saúde (SUS), no ano de 2011, 51,6% dos
O
atendimentos representavam reincidência (WAISELFISZ, 2012). O Mapa
D
da Violência de 2015 também revela o alto índice de reincidência da violên-
cia contra mulheres e aponta que a reincidência acontece em praticamente
O
tários a idade adulta e idosas, o que pode ser resultado da frágil política de
prevenção a situações de violência.
Em 2013, o relatório da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito
SO
em 60% dos casos, a partir dos 30 anos (MORAES; OTA; RITA, 2013). O
mesmo documento, ao apontar especificidades do Estado do Rio Grande do
Sul, destacava que as instituições que integravam a rede de enfrentamento
à violência relatavam
S
(MORAES; OTA; RITA, 2013, p. 667).
PE
Outros elementos podem também interferir na reincidência da
A
violência. O relatório da CPMI destaca o desconhecimento por parte da
/C
população quanto aos recursos das redes especializadas de atendimento às
TA
vítimas de violência. Igualmente, são agravantes situações como ausência de
articulação entre os órgãos integrantes da rede e indefinição das competên-
LE
cias (MORAES; OTA; RITA, 2013), bem como a fragilidade na resolução
dos atendimentos proporcionados pela rede, uma vez que
CO
[...] o relatório apontou que apenas 15% consideram que os casos são bem
solucionados, pouco mais de um quarto (26%) não sabe o que ocorreu
O
depois do encaminhamento e 43% admitem que “há dificuldades”. O
D
problema, segundo as respostas, não é de má vontade para atender (MO-
RAES; OTA; RITA, 2013, p. 668).
O
V
de risco para mulheres das diversas faixas etárias. Conforme análise realizada,
as residências já não são espaços seguros para quase 80% das mulheres da
RA
S
cial que foram objeto de intervenção do Serviço Social, esta foi a escolhida
PE
para a pesquisa, ao se constatar que meninas e mulheres pobres enfrentam
no seu cotidiano as determinações da violência estrutural, além de muitas
A
delas sofrerem diversos tipos de violências reincidentes, que marcam seus
/C
corpos. Na maioria das vezes, são as mulheres que chefiam famílias nas
TA
quais se agregam várias situações deflagradoras dos processos de opressão
(dominação-exploração) que sofrem, tais como pobreza extrema, trabalho
LE
informal, prostituição, desemprego, baixa escolaridade, responsabilidade
exclusiva pelo cuidado dos filhos e/ou dependentes. Nesses contextos,
CO
o trabalho reprodutivo, ou seja, voltado ao cuidado e à sobrevivência da
família, assume o caráter de jornada contínua de trabalho no cotidiano e as
profundas marcas da desigualdade sofrida, muitas vezes, não são visíveis nos
O
seus corpos, mas reduzem-nas, abaixo da condição de sujeito, à condição
D
72
É importante considerar que este capítulo se origina de uma ação profissional realizada
antes de o Brasil adentrar um momento reconhecidamente de retrocessos de direitos
sociais e humanos, com o afastamento do Estado do investimento no social, como pode
atestar a “Emenda Constitucional 95”, cujo projeto ficou conhecido como “PEC da
morte”, por congelar o gasto público federal por 20 anos, ocasionando sérios desmontes
nas políticas públicas sociais, acompanhada da Reforma Trabalhista (2017) e da Reforma
da Previdência (2019).
233
S
qual as mulheres enfrentam inúmeros desafios para alcançarem o trabalho
PE
formal com garantia de direitos. Grande parte das mulheres ainda sobre-
vive do trabalho informal, sendo subjugadas à economia do cuidado (AL-
A
VES; CAVENAGHI, 2013). O trabalho reprodutivo, realizado no âmbito
/C
doméstico, ainda constitui uma sobrecarga de trabalho, não reconhecida
TA
economicamente, que traz como uma de suas consequências a dificuldade
de inserção no mercado formal de trabalho.
LE
Outra face da violência contra mulheres e meninas captada na
pesquisa foi a prostituição e a exploração sexual, as quais, mais do que um
CO
retrato da realidade local das famílias da Zona Oeste do Município do Rio
Grande, representam uma triste realidade nacional. No cotidiano das mu-
O
lheres e meninas da Zona Oeste do Rio Grande, prostituição e exploração
D
sexual infantil estão aliadas às formas de trabalho informal. Assim, a cata
do lixo, o trabalho como tarefeira, o trabalho doméstico etc. são atividades
O
das relações entre os seres sociais. Nessa lógica, a riqueza é social e coleti-
CL
S
sustentam a violação contra mulheres e meninas pelo poder econômico e
PE
ideológico. No Brasil, contabiliza-se 1,5 milhões de mulheres prostitutas,
na imensa maioria das vezes, pobres e chefes de família. Entre as mulheres
A
que se prostituem, 28% estão desempregadas e 55% afirmam que precisam
/C
se prostituir para ajudar no sustento da família. Ainda do conjunto das mu-
TA
lheres que se prostituem, 59% são chefes de família e sustentam sozinhas
os seus filhos, 45,6% possuem baixo nível escolar, não tendo terminado
LE
sequer o ensino fundamental e 70% delas não estão inseridas no mercado
de trabalho formal (BERTOLIN et al., 2018). As mulheres e meninas da
CO
Zona Oeste do Rio Grande, submetidas à prostituição e exploração sexual,
somam-se a esses dados, que representam o histórico e contínuo controle
da sexualidade feminina, ora adequando-as a um modelo da família centrada
O
no poder masculino, ora moldando-as a tipos de trabalho determinados a
D
S
dadãos”, inclusive pelas instituições públicas. Esse despotismo que alicerça
PE
a sociedade brasileira, operando historicamente para o encolhimento do
espaço público e o alargamento do espaço privado (da vontade arbitrária),
A
naturaliza as desigualdades econômicas e sociais, bem como as diferenças
/C
étnicas e as diferenças de gênero, levando à aceitação de todas as formas
TA
visíveis e invisíveis de violência, dificultando a luta contra a opressão
(CHAUÍ, 2017).
LE
Mesmo quando na família há meninos e meninas, a pesquisa revelou
que a violência é majoritariamente exercida sobre as meninas, que sofrem a
CO
violência psicológica e a violência física, que marcam os seus corpos perver-
samente, no espaço em que deveria predominar o afeto e a proteção social.
O
Mas é justamente no espaço doméstico que elas são ameaçadas, humilhadas
D
e têm seus corpos marcados pela agressão física, caracterizando a família
como instituição reprodutora da violência. Portanto, destaca-se, aqui, que
O
cultura, no qual tem lugar a violência de gênero que edifica diversas formas
RA
S
na trajetória percorrida na rede de proteção social.
PE
Os resultados da pesquisa realizada em Rio Grande detectaram um
conjunto de práticas, valores e comportamentos expressos por servidores
A
públicos, incluindo médicos, enfermeiros, direções de escola, assistentes
/C
sociais, conselheiros tutelares, psicólogos, educadores sociais, promotores e
TA
juízes, que evidenciam o favorecimento da reincidência da violência contra
mulheres e meninas. São atos em que se manifesta a omissão dos deveres e,
LE
até mesmo, práticas discriminatórias, envolvendo a questão de gênero, tal
como se apresenta na síntese, a seguir, que foi extraída da análise documental
CO
sobre os atendimentos prestados na rede de proteção social:
• peregrinação da vítima pela rede de proteção social e constrangi-
O
mento à repetição do relato de denúncia da violência;
D
• acusação precipitada, durante o acolhimento de situação de vio-
lência, motivada por juízos de valor, bem como julgamentos de crimes
O
do inquérito;
RA
S
terapêutico (como previsto nas Leis 8.069/1990 e 13.257/2016) em situação
PE
reincidente de denúncia de violência;
• negligência institucional, caracterizada pela omissão no ato rein-
A
cidente de denúncia de violência na Delegacia de Polícia, sem a devida
/C
requisição pela autoridade policial do exame de corpo e delito e de outros
TA
exames periciais necessários, tal como prevê a Lei 11.340/2006, art. 12
(BRASIL, 2006);
LE
• superficialidade da prática interventiva do Conselho Tutelar, com
permissividade das situações de negligência educacional, sem a necessária
CO
investigação, pelos órgãos competentes, das determinações do fenômeno
(envolvendo, muitas vezes, outras situações de violência e/ou outras ex-
O
pressões da questão social);
D
• omissão do Conselho Tutelar em situações de encaminhamento
para programa oficial ou comunitário de auxílio, orientação e tratamento
O
S
é considerada culpada pela violência sofrida.
PE
• pouca ou nenhuma abordagem, pelos profissionais, do tema re-
lativo à prevenção da violência contra meninas e mulheres nas Unidades
A
Básicas de Saúde, assim como em outras instituições da “ponta” da rede
/C
de proteção social;
TA
• frágil capacitação dos profissionais da Delegacia da Mulher e da
Patrulha Maria da Penha para o acolhimento e atendimento humanizado
LE
de situações de suspeita de violência;
• burocratização do acesso aos direitos e demora no encaminha-
CO
mento das Medidas de Proteção de urgência em situações de violência;
• fragilidade no acolhimento de situações de suspeita de violência,
revelando falta de ética dos profissionais que identificam as denúncias
O
apresentadas;
D
S
humanos vem dificultando o seu real papel.
PE
A análise realizada sobre a intervenção evidencia que, para além
da fragilidade na garantia da acolhida de situações de violência contra mu-
A
lheres e meninas, existe uma parcela violenta da sociedade que se opõe à
/C
ética, porque trata seres racionais e sensíveis como coisas, ou seja, como
TA
seres irracionais, insensíveis, mudos, passivos, simples instrumentos para
uso de outrem.
LE
Conforme afirma a filósofa Marilena Chauí, no Brasil, há uma mi-
tificação da violência, adensando uma falsa ideia de que os brasileiros são
CO
acolhedores e convivem em harmonia com as diferenças raciais, étnicas,
de gênero ou quaisquer outras (CHAUÍ, 2017). De fato, ao desvendar a
aparência, constata-se que há inclusive uma violência institucional praticada,
O
muitas vezes, pelos órgãos que deveriam proteger os direitos humanos e
D
sociais, uma vez que o mito da sociedade não violenta coloca “um nós-bra-
O
to, ser questionado(a) quanto à veracidade dos fatos relatados pela vítima
e que geraram o encaminhamento. Muitas vezes, o(a) assistente social é
U
S
crime o ataque à propriedade privada. Esse mecanismo permite determinar
PE
que os “agentes violentos” são aqueles que, de forma geral, são ladrões e
assassinos pertencentes às classes populares.
A
Aliado a isso, órgãos de proteção a vítimas de violência perdem
/C
importância e legitimidade em uma sociedade incapaz de se perceber vio-
TA
lenta e regida por uma ordem neoliberal, em que o encolhimento do espaço
público, o alargamento do espaço privado e a recusa dos marcos regulatórios
estatais ou da lei e dos direitos, é perpassada pela concepção de que seres
LE
humanos são instrumentos descartáveis, diante da busca incessante pela
CO
maximização dos lucros a qualquer preço. Nessa perspectiva, o desemprego
torna-se estrutural, já que nessa lógica o capitalismo opera pela exclusão,
que se realiza não só pela introdução de novas tecnologias, mas também
O
pela velocidade e rotatividade da mão de obra, que se torna desqualificada
D
e obsoleta em função da velocidade das mudanças tecnológicas (CHAUÍ,
O
sua atuação, tanto com dados sobre as pessoas atendidas como com a des-
crição sobre o tipo de atendimento prestado, acumula fonte rica de dados
PA
S
leitura e análise dos dados registrados e, mais ainda, a sua socialização e
PE
discussão com a equipe de trabalho, enriquecendo-os com outras análises,
oriundas ou não de uma equipe multidisciplinar, constitui-se, também, como
A
estratégia de resistência à banalização de uma prática profissional focalizada
/C
no atendimento imediato das demandas apresentadas.
TA
Os achados da pesquisa confirmam que a reincidência da violência
contra meninas e mulheres pobres, no Brasil, é resultado de um Estado
LE
que mantém a organização social de gênero, tendo no patriarcado um dos
determinantes da violência na sociedade brasileira, assentada na desigualdade
CO
social. A predominância da violência contra meninas e mulheres pobres
mostra-se, também, como um mecanismo enraizado na sociedade brasileira
patriarcal e capitalista. Portanto, a sua superação requer o efetivo enfrenta-
O
mento das desigualdades de gênero, raça/etnia e classe numa perspectiva
D
uma vez que a sua superação definitiva só será possível com um projeto
societário que permita a emancipação humana.
SO
S
com outras ações, tais como:
PE
• validação efetiva, por meio de investimento governamental e
formação adequada dos profissionais, para a implementação da “escuta
A
especializada” nas situações de violência contra crianças e adolescentes,
/C
limitando o relato sobre situações de violência ao estritamente necessário
TA
ao cumprimento da garantia da proteção social e das medidas adequadas,
para a preservação da intimidade e da privacidade da vítima ou testemunha,
LE
tal, como descrito na Lei 13.431/2017 (BRASIL, 2017);
• fiscalização permanente dos Conselhos da Mulher e da Criança
CO
e do Adolescente, especificamente sobre o cumprimento das medidas de
“Assistência à Mulher em situação de violência doméstica e familiar” (Cap.
II da Lei 11.340/2006), proporcionando a real garantia da integração de
O
mulheres vítimas de violência em programas assistenciais dos governos
D
em situação de violência.
Enfim, a busca pela superação da reincidência da violência contra
RA
S
da exploração, necessita de uma escuta qualificada, capaz de superar a
PE
apreensão de dados objetivos de sua realidade, fornecendo informações e
esclarecimentos que permitam, muitas vezes, a primeira descoberta de seu
A
valor enquanto ser humano, como ponto de partida para a sua insurgência
/C
contra a violência.
TA
Por outro lado, o acionamento da Rede de Proteção, com o devido
encaminhamento aos serviços especializados necessita ser acompanhado
LE
pelo(a) assistente social, superando entraves burocráticos, alguns eviden-
ciados anteriormente, a fim de evitar que a mulher ou menina não chegue
CO
a usufruir do serviço, ou por falta de conhecimento sobre como acessá-lo,
ou pela precariedade do atendimento recebido. No caso de violência contra
crianças, é fundamental que o(a) profissional consiga conquistar a confiança
O
na relação estabelecida com a vítima, bem como consiga descobrir, entre
D
profissional
EX
S
violência, tanto para qualificar os serviços existentes como para ampliá-los
PE
e transformá-los.
Outro aspecto que nos parece fundamental para a atuação nesse
A
campo é que o(a) assistente social reconheça seus limites profissionais
/C
e a importância de uma equipe interdisciplinar no desenvolvimento da
TA
intervenção. É importante, também, que ele(a) seja capaz de estabelecer
articulação com a Rede de Proteção à Violência contra a Mulher, conquis-
LE
tando parceiros para uma atuação ética e comprometida com a superação
da reincidência da violência.
CO
Reiteramos, aqui, a necessidade apontada por Lessa (2015) de uma
intervenção guiada por princípios norteadores que deverão primar: 1) por
uma ética que desempenhe uma função social, que poderá ser expressa
O
num conjunto de valores que materializem uma relação não antinômica do
D
S
PE
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/C
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TA
LE
CO
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D
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V
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PA
248
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/C
A
PE
S
249
11.
Una mirada desde Trabajo Social acerca de las nuevas
S
PE
corrientes migratorias en Uruguay
A
Silvia Rivero
/C
TA
Este análisis se enmarca en la línea de investigación sobre poblacio-
nes migrantes y derechos humanos que se desarrolla en el Departamento de
LE
Trabajo Social de la Facultad de Ciencias Sociales (FCS) de la Universidad
de la República, Uruguay (UDELAR). La información trabajada se recaba
CO
a partir de documentación de organismos públicos, entrevistas con las or-
ganizaciones que nuclean las poblaciones inmigrantes, así como grupos de
O
discusión con inmigrantes provenientes de Cuba, Venezuela y República
Dominicana.
D
cional del país en función de los nuevos desafíos que se le presentan para la
CL
diferentes contextos.
Partimos presentando el enfoque conceptual a partir del cual
RA
de la situación actual.
En el segundo capítulo trabajamos las tres contradicciones que nos
permiten acercarnos a la complejidad de los procesos migratorios actuales:
local – global; ciudadano/a – habitante; nativo/a – extranjero/a. Además,
en este capítulo se realiza una primera aproximación al análisis de los obs-
táculos que limitan el proceso.
250
S
flujos migratorios en prácticamente todos los países del mundo. Mora (2013)
PE
plantea que los procesos migratorios constituyen actualmente una temática
de atención política y científica dada la complejidad que ha adquirido esa
A
problemática, lo que hace necesario profundizar en un análisis detallado
/C
y profundo que permita comprender la realidad migratoria nacional e in-
TA
ternacional. En términos generales, se entiende que las razones expuestas
para migrar son muy variadas. Podemos señalar que se debe básicamente a
LE
motivos de carácter económico y familiar, a esto es necesario agregar razo-
nes motivadas por guerras locales, regionales o internacionales, represiones
CO
y persecución política, movimientos y desplazamientos étnicos derivados
del avasallamiento de las tierras y territorios, creencias y persecuciones
O
religiosas, catástrofes naturales y problemáticas ecológicas, fuga de profe-
D
sionales, entre otros.
Las razones para la migración tienen su raíz en aspectos que hacen
O
tanto a las consecuencias del modo de producción, como a las propias ca-
V
Bauman (2008) llama las válvulas de escape, que anteriormente permitían que
los relativamente escasos países modernizados y en vías de modernización
pudieran regular la población excedente, superflua, supernumeraria y prescin-
dible que el modo de vida moderno ha producido en una escala creciente; por
otro lado, ya no existen nuevos territorios vacíos a conquistar. Por lo tanto,
Bauman (2008) entiende que como consecuencia de este doble proceso – el
251
S
(RIVERO; INCERTI; MARQUES, 2009). Cuando las herramientas y estra-
PE
tagemas de intervención habituales, que funcionaban cuando eran aplicadas
a una anormalidad que se reconocía como temporal, ya no bastan para tratar
A
con el “problema de los desechos”. Según Bauman (2008),
/C
[…] las nuevas políticas que pronto se inventarán como respuesta a este
TA
nuevo avatar del viejo problema comenzarán, muy probablemente, subsu-
miendo las políticas diseñadas en su momento para abordar el problema
LE
en su antigua forma. Por si acaso, se preferirán las medidas de emergencia
dirigidas al “desecho interno” y, tarde o temprano, se les dará prioridad
CO
frente a todos los demás modos de intervención en los problemas de la
superfluidad como tal, tanto la temporal como la que no lo es (BAUMAN,
2008, p. 25).
O
D
Por otra parte, los países circundantes no están dispuestos a recibir
los excedentes de otras poblaciones nacionales ni quieren que se los obligue
O
conquistar, pensado como vacío, al que hay que poblar y en el que hay que
instalar el modo de producción capitalista.
U
dos hasta mediados del mismo siglo dando cuenta del cambio que poste-
riormente será más evidente: ahora las corrientes migratorias provienen
del territorio latinoamericano, fundamentalmente peruanos, y también,
S
en menores números, bolivianos y paraguayos (RIVERO; INCERTI;
PE
MARQUEZ, 2019).
A fines de esta década del 1990, y en los primeros años del siglo
A
XXI, se produce el proceso emigratorio más alto del país debido a la
/C
importante crisis económica que impactó en la región desde 1999 hasta
TA
2002 (PELLEGRINO, 2009). “Esta emigración siguió los trayectos de las
décadas anteriores, fundamentalmente, por la existencia de comunidades
LE
de uruguayos que resulta un apoyo importante sobre todo en las primeras
etapas de instalación” (RIVERO; INCERTI; MARQUEZ, 2019, p. 104).
CO
Esa importante emigración producida hace que, por primera vez,
el Estado uruguayo ponga su atención en los procesos emigratorios de su
población. En el año 2001, se crea la Comisión Nacional para la vinculación
O
de uruguayos residentes en el extranjero. Sin embargo, la escasa institucio-
D
nalidad se une a leyes muy antiguas que poco dan cuenta de las necesidades
O
del país. Fue a partir del 2005 que se inició un proceso de mejora en el
V
tratamiento del tema migratorio. Es en ese mismo año fue creado, desde el
Ministerio de Relaciones Exteriores, la Dirección de servicios consulares y
SI
S
Cuba y México. Uno de los fenómenos más significativos en este sentido es
PE
el incremento de personas originarias de Perú, en el país, el número creció
un 171%, ya que pasó de 428 en 1996 a 1433 en 2011. En consecuencia, se
A
trata de la nacionalidad que más creció en el país desde 1996 hasta la fecha
/C
del censo. En segundo lugar, aparece Estados Unidos, una vez que las ci-
TA
fras incluyen los hijos de uruguayos que emigraron a ese país a partir de la
crisis de 2002. En cuanto a los retornados, 33% provienen de España, con
que este origen se destaca como el principal país de donde los uruguayos
LE
regresan; en segundo lugar, aparece Argentina con 19%.
CO
Luego del Censo 2011, se vio incrementada la presencia de inmi-
grantes extranjeros en Uruguay. Con base en un análisis integrado de regis-
tros administrativos (entradas y salidas de pasajeros, residencias iniciadas
O
y otorgadas, cédulas de identidad emitidas para ciudadanos extranjeros) y
D
datos estadísticos producidos por el INE (Censo de Población de 2011
O
S
ción de economías a través de diversos factores conectores de las mismas,
PE
fundamentalmente en materia de intercambio de bienes, servicios, capitales,
personas y tecnología” (COPPELLI, 2018, p. 63).
A
El fenómeno de la globalización lleva, según Canclini (2014),
/C
a procesos de desconfiguración de los Estados nacionales. Por una parte, las
TA
migraciones masivas llevan fuera de los territorios a importantes números
de la población; y, por otro lado,
LE
la fractura de las naciones, al replicarse en su interior divisiones interna-
CO
cionales y agudizarse las propias, desarticula la cohesión imaginada entre
sus partes. Las naciones […] no están contenidas enteramente dentro
O
de sus territorios. Y las fronteras no sólo separan un territorio nacional
de otros: pueden segregar dentro del propio país y también pueden ser
D
relación de las personas, las sociedades y los Estados. Coppelli (2018) afirma:
CL
capital genera una desconexión de éstos con las obligaciones, con los deberes
con los empleados, con la responsabilidad social hacia las generaciones por
PA
S
locales a esos movimientos globales.
PE
Los instrumentos internacionales reconocen el derecho a salir de un Es-
A
tado del cual se es nacional pero no así el derecho a entrar a otro Estado
del cual la persona no es nacional. Si no hay un derecho a desplazarse
/C
libremente a través de las ficciones jurídicas que constituyen las fronteras
TA
difícilmente pueda hablarse de un derecho a migrar (ESPAÑA, 2018b,
p. 207).
LE
Se constituye el derecho a migrar como un valor. Según Bauman
CO
(2010), la movilidad asciende al primer lugar entre los valores codiciados,
pero “la libertad de movimientos, una mercancía siempre escasa y distri-
buida de manera desigual, se convierte rápidamente en el factor de estra-
O
tificación en nuestra época moderna tardía o posmoderna” (BAUMAN,
D
2010, p. 8). Entonces, se define como derecho la movilidad humana, pero
quienes pueden migrar con “derechos” no son todos y todas: “Los procesos
O
mente dos obstáculos en el proceso actual: por un lado, los aspectos legales
para radicarse en el país (Visa, Documento de Identidad, Residencia, etc.);
EX
residentes en el país (MIDES, 2017). En total, Uruguay exige visa para entrar
al país a 80 orígenes nacionales, de los cuales, como ya señalamos, tres son
PA
S
ma de acceso regular al territorio nacional. Las solicitudes de refugio de
PE
forma “masiva” pusieron en evidencia las limitaciones de las políticas en
materia de movilidad humana en Uruguay, la falta de recursos y la certeza
A
de que ser refugiado en Uruguay es una categoría jurídica que, si no se da
/C
en el marco de un plan o programa, no implica ningún tipo de garantía
específica o trato diferencial (ESPAÑA, 2018a, p. 205).
TA
La situación es diferente con relación a los países integrantes del
LE
Mercado Común del Sur (MERCOSUR) y asociados. Las exigencias son
menores, tanto en la no solicitud de visa como en la tramitación de la docu-
CO
mentación identificadora y los requisitos para la tramitación de la residencia.
El Ministerio de Relaciones Exteriores (MRREE), en informaciones
O
públicas, nos permite aproximarnos al conocimiento del flujo migratorio de
D
aquellos extranjeros provenientes de los Estados parte del Mercosur y de
los Estados asociados, así como de familiares extranjeros de uruguayos que
O
publicados dan cuenta de que son tres los orígenes que en mayor medida
SI
se han acogido a esta ley: Argentina y Brasil que forman parte de un flujo
U
S
además, comienzan a ingresar en importante proporción por las fronteras
PE
secas del país (RIVERO; INCERTI; MÁRQUEZ, 2019, p. 107).
A
Arcarazo e Freier (2015) plantean que en Uruguay, así como otros
/C
países, el Estado se encuentra en la obligación de otorgar a la persona un
TA
periodo en el cual pueda regularizar su estatus
LE
La ley se limita sin embargo a disponer que dicha regularización depende
del parentesco con un nacional y de las condiciones personales y sociales
CO
del migrante y que en caso de no llevarse a cabo se procederá a la expulsión.
Por tanto nos encontramos con el hecho de que el mecanismo ordinario
de regularización […] tiene importantes trabas y no se corresponden
O
completamente con un derecho universal a migrar de la persona como
establecen sus leyes (ARCARAZO; FREIER, 2015, p. 184-185).
D
O
S
Según Prieto, Robaina y Koolhaas (2016), en Uruguay el mercado de
PE
trabajo es el eje vertebrador de los procesos de integración de los migrantes
laborales y de sus familiares, pues la inserción laboral es la puerta de entrada
A
al ejercicio de derechos de salud, educación y para los derechos derivados
/C
de gran parte de la política social. Una de las características relevantes de
TA
las corrientes migratorias actuales es la alta calificación,
tanto los resultados del censo de población de 2011, como de las en-
LE
cuestas de hogares combinadas para el período 2012-2015 indican que
los inmigrantes recientes de cualquier origen alcanzan en mayor medida
CO
niveles superiores de instrucción (PRIETO; ROBAINA; KOOLHAAS,
2016, p. 126).
O
A su vez, la Encuesta Continua de Hogares también
D
tres veces superior entre los varones y cuatro veces entre las mujeres. Sin
embargo, entre quienes llevan más de cinco años en el país se observa un
EX
más rápido de las solicitudes, así como considerar la inscripción de los ex-
tranjeros (con menos de tres años de residencia) en los Consejos de cada
Facultad. El problema mayor parece estar localizado en la dificultad para
S
cumplir con los requisitos formales de certificación, tanto por no tener la
PE
documentación como (en caso de tenerla) por el costo de los tramites de
apostillado, eso hace que el número de reválidas realizadas por la Universidad
A
de la República aún sea escaso para aportar al tratamiento de la problemática
/C
de inadecuación entre calificación y empleo.
Ciudadano/a – Habitante: En general, cuando se discuten las
TA
diferentes problemáticas del fenómeno migratorio, los análisis se focalizan
en la problemática del empleo y en los aspectos socioculturales de los pro-
LE
cesos de integración. La incorporación del debate sobre los Derechos y su
CO
colocación en la agenda política ha caracterizado este período en Uruguay,
por tanto, analizar esta temática incorporando esta perspectiva nos parece
un aspecto necesario para comprender el desarrollo del fenómeno migra-
O
torio. Si bien la lucha por los Derechos ha caracterizado gran parte de los
D
procesos sociales del Siglo XX. España (2018a) entiende que
O
no son nacionales– es uno de los grandes desafíos del siglo XXI carac-
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migración infantil, además de constituirse en opciones de cuidado para las
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familias migrantes recientes. Según datos del SIPI (INAU, 2018), en 2017,
los programas de INAU trabajaron con 736 niños y niñas extranjeros, de los
A
cuales casi la mitad vivía en Montevideo, siendo más de 30% (232) menores
/C
de tres años vinculados a CAIF o a una protección puntual (URWICZ, 2018).
TA
En la misma línea, datos del Sistema de Información Integrada del Área Social
(SIIAS) muestran que CAIF es uno de los programas sociales a los que más
LE
acceden los hijos de madres con documento extranjero (127 prestaciones),
antecedido sólo por el Plan Aduana, con 252 prestaciones (MIDES, 2017).
CO
También, desde la perspectiva de la niñez y la garantía de derechos,
el Consejo de Educación Inicial y Primaria (CEIP) creó la Comisión de
Migraciones y el documento “Movilidad Humana y Migrantes y Educación
O
Primaria”, presentados en mayo de 2018, con el objetivo de “preparar a
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todos los centros educativos públicos del país para recibir a los niños y a
O
sus familias” (A LAS ESCUELA, 2018). Según datos del año 2018, Ri-
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cédula uruguaya.
En mayo de 2018, se inauguró el Punto de Atención a las Personas
PA
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y extranjeros, acordado a través de un convenio firmado en 2010 con el
PE
Ministerio de Relaciones Exteriores (MRREE). Para acceder a este beneficio,
la población inmigrante debe tener un ingreso o forma comprobable de
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solventarse. A su vez, existe una línea de acceso solo por convenios firmados
/C
que es la de subsidios de alquiler (firmado con el MRREE). Este convenio
TA
es para los programas de refugio o reasentamiento en el marco de acuerdos
con ACNUR y no se aplica a refugiados que vienen por cuenta propia.
LE
Los Refugios del Ministerio de Desarrollo Social (MIDES) también
se han presentado como solución habitacional de emergencia para algunos
CO
migrantes. En entrevista publicada por el sitio Espectador.com en 2018,
la Ministra titular informó que el Departamento de Identidad de MIDES
– antes responsable de que las personas regularicen su documentación
O
identitária – estaba transformándose en el Departamento de Migraciones,
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de dos veces como era antes. También, en la línea de agilizar los trámites de
regularización de la situación migratoria, en octubre de 2018, el Presidente
RA
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as migrantes, trata de personas, y explotación laboral: las obligaciones del
PE
Estado uruguayo” que incluye una serie de recomendaciones referentes a
migración y derechos en Uruguay.
A
El Instituto Nacional de Empleo y Formación Profesional (INE-
/C
FOP) tiene por cometido desarrollar acciones de formación para el empleo
TA
con el objetivo de ensayar modalidades de intervención que se orienten a
fortalecer los procesos de desarrollo local y sectorial. El INEFOP tiene un
LE
programa dirigido a la población de interés de ACNUR, atendiendo a pobla-
ción refugiada o solicitante de asilo derivada por el SEDHU. El programa
CO
propone la realización de talleres socioeducativos laborales, con énfasis en
la comprensión de las características de la sociedad uruguaya y su mercado
de trabajo. La población objetivo es la refugiada o solicitante de asilo de
O
menos de dos años de residencia. Actualmente ha cambiado los países de
D
que de acuerdo con el Decreto N.º 428/016 de la Ley del Sistema Nacional
de Cuidados (N.º 19.353) la población usuaria del sistema debe reunir las
U
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vida cotidiana.
PE
Nativo/a – Extranjero/a: Entender el proceso de integración
desde la contradicción nativo/a – extranjero/a nos permite complejizar
A
estos conceptos y analizar desde una perspectiva que abarque tanto a las
/C
poblaciones inmigrantes como a las poblaciones residentes en el país de
TA
destino. En este sentido, resulta interesante la perspectiva planteada por
Canclini (2014), que pone como ejemplo
LE
una de las experiencias de extranjería perturbadoras respecto de lo propio
CO
es la del migrante o exiliado que retorna a su país de origen diez años des-
pués y, al expresarse frente a sus connacionales con gestos o palabras que
ya no se usan, escucha que le preguntan “¿usted no es de aquí, verdad?”
O
(CANCLINI, 2014, p. 47).
D
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y como grupo se relaciona con el Estado, asemejándose su relación a la de
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cualquier grupo social corporativizado (como los sindicatos y las asocia-
ciones gremiales). Si bien se desarrollan políticas instrumentalizadas para
A
la incorporación de inmigrantes individualmente, en su discurso político
/C
se refieren a ellos abiertamente como minorías étnicas. De esta forma, “las
TA
mismas políticas que promueven la integración de los inmigrantes, refuer-
cen la ‘diferencia’ en la categorización de etnicidad en el imaginario social”
LE
(DELGADO, 2007, p. 48).
Modelo individualista: El segundo modelo de incorporación de
CO
inmigrantes al que la autora hace referencia es el individualista o liberal. Este
modelo se observa en países como Suiza y Inglaterra. Al contrario que en el
modelo anterior, los inmigrantes no son definidos por su identidad colecti-
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va o corporativización de grupo, sino que se los considera exclusivamente
D
individuos al igual que el modelo liberal, pero lo hace desde una perspectiva
U
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tante para la integración en la política alemana es la capacitación vocacional
PE
y la educación, sobre todo dirigida para los inmigrantes de segunda gene-
ración. Esta política se orienta a que las poblaciones inmigrantes se ajusten
A
a las categorías ocupacionales y fortalezcan su posición en el mercado de
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trabajo como principal herramienta de movilidad económica y social para
TA
estas poblaciones (DELGADO, 2007).
Los modelos expuestos se plantean como forma de cuestionamiento
LE
a las políticas asimilacionistas donde los inmigrantes deberían adaptarse a
las sociedades de los países de acogida. Las lógicas de integración se basan
CO
en conceptos multiculturalistas que plantean la aceptación de las diferencias
culturales. Sin embargo, se observa en todos los modelos una perspectiva
O
en que
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percibir y creer que realmente existe una “cultura nacional” tan propia
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A su vez,
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[…] las afirmaciones que adquieren mayor adhesión (mayor al 60%) son
las que indican que a la hora de permitir a una persona extranjera venir a
A
vivir a Uruguay es importante que el migrante: i) esté dispuesto a adoptar
/C
las costumbres y el modo de vida de Uruguay; ii) tenga una calificación
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laboral de las que Uruguay necesita; iii) tenga buen nivel educativo; y iv)
hable español (KOOLHAAS; PRIETO; ROBAINA, 2018, p. 32).
LE
Eso pone en evidencia la posición de asimilación de la población
nativa en contraposición a la postura de integración de las poblaciones
CO
inmigrantes. Desde la perspectiva de los inmigrantes la demanda por inte-
gración se plantea en distintos niveles.
O
Según la información relevada de las Organizaciones de Inmigrantes
D
se identifica un choque cultural ya que perciben que las colectividades son
identificadas por algunas características como, en el caso de Venezuela,
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las Arepas o las Novelas. Sin embargo, otros aspectos culturales como la
V
del aporte de cada cultura de origen, desde sus fortalezas y no desde los
CL
narse los mitos que han construido su identidad como país. Ese proceso
implica la coexistencia en el imaginario uruguayo donde “subsiste aún la
PA
épica del migrante europeo, del país de puertas abiertas, pero que se resiste
culturalmente a una apertura a la diversidad” (ESPAÑA, 2018b, p. 16).
Para finalizar, entendemos que parte de la construcción del Uru-
guay como nación se basa en el concepto de país de inmigrantes, pensado
como un territorio vacío que fue construido con el aporte de poblaciones
migrantes. Pero no cualquier migrante, la institucionalidad creada a fines
267
del Siglo XIX, y vigente hasta principios del siglo XXI, “promueve un tipo
de población: blanca, judeo-cristiana, proveniente de Europa. Se establece
una política discriminatoria, que muestra un ideal de modernidad asociado
S
a un pensamiento evolucionista donde se mira a Europa como modelo a
PE
seguir” (RIVERO; INCERTI; MÁRQUEZ, 2019, p. 114). Fue en el año
2008 que el país se replanteó el tema migratorio generándose una nueva
A
institucionalidad basada en los Derechos Humanos, construyendo políticas
/C
y ámbitos de participación para la Sociedad Civil. Políticas que creemos son
aún insuficiente, pero marcan un inicio en el abordaje del tema.
TA
La actual configuración del tema migratorio y las urgencias que se
ponen de manifiesto han exigido al país construir institucionalidad a un
LE
ritmo que no es históricamente habitual, lo que constituye un desafío que
CO
involucra también al Trabajo Social.
En ese sentido, pensar desde Trabajo Social este tema en función de
las tres contradicciones propuestas nos permite tanto entender la comple-
O
jidad del Trabajo Social como, también, pensar instrumentos conceptuales
D
y operativos para su abordaje desde una perspectiva ético-política.
O
V
Referências
SI
U
S
ESPAÑA, V. Derechos de papel – El derecho a migrar en Uruguay a
PE
diez años de la ley 18.250. Derechos Humanos en Uruguay. Informe 2018.
Servicio de Paz y Justicia (SERPAJ), Montevideo. 2018b. p. 202 -209.
A
/C
CANCLINI, N. G. El mundo entero como un lugar extraño. In: VALEN-
ZUELA, J. M. (coor.) Transfronteras. Fronteras del mundo y procesos
TA
culturales. Tijuana: El colegio de la Frontera Norte, 2014, p. 45-57.
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KOOLHAAS, N.; NATHAN, M. Inmigrantes internacionales y retorna-
dos en Uruguay: magnitud y características. Montevideo: INE; OIM, 2013.
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Disponível em: http://www.unfpa.org.uy/userfiles/publications/82_file1.
pdf. Acesso em: 14 jun. 2018. O
KOOLHAAS, M.; PRIETO, V.; ROBAINA, S. Los uruguayos ante la
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inmigración. Encuesta Nacional de Actitudes de la Población Nativa
hacia Inmigrantes Extranjeros y Retornados. Documentos de Trabajo del
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jun. 2018.
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URUGUAY. Instituto del niño y adolescente del Uruguay. Niñez mi-
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grante: incorporando la mirada de infancia en las políticas de migración.
2018a. Disponível em: http://www.inau.gub.uy/novedades/noticias/item/
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1672-incorporando-la-mirada-de-infancia-en-las-politicas-de-migracion.
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Acesso em: 12 mar. 2019.
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Fuentes documentales:
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IMPO. Decreto n° 356/018. Reglamentación del Art. 30 de la ley 18.250,
Ley de Migraciones. Normativa y avisos legales del Uruguay. Centro de In-
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formación Oficial, Uruguay. 2018. Disponível em: https: www.impo.com.
uy/bases/decretos/356-2018. Acesso em: 12 mar. 2019.
O
ANTE desafío de nueva ola inmigratoria MTSS creó una unidad de mi-
D
gración. La Diaria, Montevideo. 26 maio 2017. Disponível em: https://
ladiaria.com.uy/articulo/2017/5/ante-desafio-de-nueva-ola-inmigratoria-
O
lr21.com.uy/comunidad/1369381-escuelas-ninos-migrantes-primaria-anep.
Acesso em: 10 jan. 2019.
CL
Sobre os autores
Ademar Bogo – Mestre e Doutor em Filosofia pela Universidade Federal
S
da Bahia – Licenciado em Letras Vernáculas pela Universidade do Estado
PE
da Bahia – Departamento de Educação, Campus X. Bacharel em Filosofia
pela Universidade Sul de Santa Catarina – UNISUL. Licenciado em Filosofia
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pela Universidade Metropolitana de Santos. Integrante dos grupos de pes-
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quisa: Estudos sobre Dinheiro Mundial e Financeirização – UFES e Marx
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no Século XXI. Professor assistente da Faculdade do Sul da Bahia – FASB.
Membro do corpo editorial do blog marxismo21. Membro da Academia
LE
Teixeirense de Letras – ATL. É poeta, escritor e agricultor.
CO
Eugênia Aparecida Cesconeto – Professora Adjunta do Curso de Ser-
viço Social, do Programa de Mestrado em Serviço Social UNIOESTE.
O
Graduação em Serviço Social (FACITOL); Mestrado em História Social
D
(UFF); Doutorado em Serviço Social (PUC-SP); Pós-Doutoranda em
Serviço Social (UFSC). Pesquisadora do Grupo de Pesquisa e Defesa dos
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e ao Adolescente (PAPPCA).
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Serviço Social, com ênfase em Política Social, atuando nos seguintes temas:
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política pública, política social, saúde e alcoolismo.
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Maria Luiza Amaral Rizzotti – Doutora e pós-doutora pela PUC/SP
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em Serviço Social e Política Social. Pesquisadora da FAPESQ-PB/CNPq,
TA
junto ao Programa de Pós Graduação em Serviço Social da UFPB. Área
de concentração de estudos e pesquisa – gestão de política social. Foi pro-
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fessora na Universidade Estadual de Londrina de 1987 a 2017.
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Mônica de Castro Maia Senna – Assistente Social, Mestre e Doutora em
Ciências – Saúde Pública, Professora Associada do Programa de Estudos
Pós-graduados em Política Social (Mestrado e Doutorado) e da Escola de
O
Serviço Social da Universidade Federal Fluminense (UFF). Vice-coorde-
D
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de Graduação de Serviço Social, no Setor Litoral. É pesquisadora na área da
PE
Política Urbana, com ênfase na participação do Estado na produção social
do espaço e em temas relacionados à Habitação de Interesse Social. Integra
A
o Grupo de Pesquisa Desenvolvimento Territorial Sustentável da UFPR.
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TA
Silvia Rivero – Trabajadora Social, Master em Servicio Social (UFRJ),
Doctora em Ciencias Sociales opción Trabajo Social (FCS – UDELAR).
LE
Profesora Titular del Departamento de Trabajo Social, Facultad de Ciencias
Sociales (UDELAR). Las líneas de investigación se concentran en dos temá-
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ticas: Politicas Sociales actualmente en relación al abordaje de lãs poblaciones
inmigrantes; y la formación en Trabajo Social en cuanto a los contenidos y
metodologias de intervención. Fue Directora del Departamento de Trabajo
O
Social (FCS-UDELAR) - 2007 y 2010. Fue Presidenta Del Servicio Central
D
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de Assistência Social, o controle social de políticas públicas, a participação
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social e a ação profissional do/a assistente social.
A
Zelimar Soares Bidarra – Assistente Social. Professora Associada da
/C
Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste). Docente do Pro-
TA
grama de Pós-graduação (Mestrado) em Serviço Social e do Programa de
Pós-graduação (Mestrado e Doutorado) em Desenvolvimento Regional e
LE
Agronegócio. Professora visitante da École de Travail Social et Criminologie
da Université Laval – Québec/Canada, desde 2013. Bacharel e mestre em
CO
Serviço Social; doutora em Educação; pós-doutora em Educação; Estágio
Sênior de Pesquisa na École de Travail Social et Criminologie/Université
Laval – Québec/Canada. Líder do Grupo de Pesquisa e Defesa dos Di-
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reitos Humanos Fundamentais da Criança e do Adolescente. Pesquisa em
D
(CNPq/Bolsa Produtividade).
SI
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EX
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