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Ora, se durante o período em que a apelante esta- APELAÇÃO CÍVEL N° 1.0702.04.

139722-6 6/001 -
va se graduando em Tecnologia em Resgate e Socorro Comarca de Uberlândia - Apelantes: Sílvio Ribeiro e
ocorreu alteração substancial na regulamentação da outra - Apelado: Manoel Neto de Souza, representado
profissão de socorrista, certo é que cabe à instituição de pelo curador - Relator: DES. LUCAS PEREIRA
ensino comunicar a seus alunos, a fim de esclarecer-lhes
acerca das condições do mercado profissional que os Acórdão
aguardava, até para fins de transferência ou desistência
do curso. Vistos etc., acorda, em Turma, a 17ª Câmara Cível
Afinal, não se pode responsabilizar a apelada pela do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, sob a
modificação superveniente da regulamentação da profis- Presidência do Desembargador Eduardo Mariné da
são, que não decorre de ato que lhe possa ser imputá- Cunha, incorporando neste o relatório de fls., na con-
vel, o que rompe o nexo causal. formidade da ata dos julgamentos e das notas taquigrá-
No caso vertente, a própria apelante e as teste- ficas, à unanimidade de votos, EM DAR PROVIMENTO
munhas relataram (f. 168/171) que foram realizadas PARCIAL AO RECURSO.
reuniões para explicar a situação aos alunos e oferecer- Belo Horizonte, 24 de junho de 2010. - Lucas
lhes a oportunidade de cursar graduação em enfer- Pereira - Relator.
magem, com dispensa das disciplinas já cursadas.

TJMG - Jurisprudência Cível


Dessarte, uma vez que não houve violação de um Notas taquigráficas
dever jurídico, não se fazem presentes os elementos bási-
cos da responsabilidade contratual, razão pela qual se DES. LUCAS PEREIRA - Relatório.
deve negar provimento à apelação. Trata-se de ação de usucapião de imóvel foreiro
ajuizada por Sílvio Ribeiro e Iolanda Amâncio Ribeiro em
DES. FÁBIO MAIA VIANI - De acordo com o Des. face de Manoel Neto de Souza.
Relator. Alegaram os autores que residem no imóvel
descrito na exordial há mais de 15 (quinze) anos, de
Súmula - NEGARAM PROVIMENTO AO AGRAVO
forma mansa e pacífica, sem interrupção nem oposição,
RETIDO E À APELAÇÃO.
requerendo o domínio sobre o mesmo. Juntaram com a
inicial a certidão do registro do imóvel que pretendem
...
usucapir, imóvel este foreiro, constando como enfiteuta o
réu desta ação.
Todos os confrontantes e interessados foram devi-
Usucapião - Enfiteuse - Posse mansa e pacífica - damente citados, tendo o Município de Uberlândia
Requisitos legais - Art. 1.238 do Código Civil - (f. 48/50), o Estado de Minas Gerais (f. 78/79) e a União
Atendimento - Domínio útil - Aquisição - (f. 54/55) manifestado não ter interesse no feito. Os con-
Possibilidade - Laudêmio - Não pagamento - frontantes não se manifestaram.
O réu foi citado por edital (f. 32/33), sendo-lhe
Óbice - Inexistência - Reserva da nua
nomeado curador especial, que apresentou contestação
propriedade (f. 71/74), alegando, preliminarmente, inépcia da inicial
sob o argumento de que o imóvel que se pretende usu-
Ementa: Apelação. Ação de usucapião de imóvel foreiro. capir é foreiro, sendo necessária a citação do senhorio
Caracterização da posse mansa e pacífica. Requisitos direto. No mérito, informa que os autores não compro-
legais preenchidos. Concessão do domínio útil. varam a posse mansa e pacífica e que, caso o Juízo
Possibilidade. Procedência parcial do recurso. entenda pelo acolhimento do pedido de usucapião,
deverá ser conferido aos autores apenas o domínio útil
- Atendidos os requisitos legais do art. 1.238 do Código do bem, já que este é foreiro, reservando a nua pro-
Civil, o usucapião deve ser concedido. priedade.
Depoimento pessoal dos autores e oitiva das teste-
- Possível o usucapião do domínio útil de imóvel reco- munhas às f. 156/161.
nhecidamente foreiro. O Ministério Público foi devidamente intimado
(f. 163), manifestando a desnecessidade de sua inter-
- Na nova concepção do direito hodierno, necessária a venção no feito.
análise da causa de forma criteriosa, com aproveita- À f. 165, o Juízo primevo solicitou diligência ao
mento dos atos processuais quando possível, home- Cartório de Registro de Imóveis, tendo sido acostados
nageando o princípio da economia processual. aos autos os documentos de f. 169/174 e 179/184.

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Em sentença proferida às f. 188/191, o ilustre Juiz provido. - A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal e do
singular julgou improcedente o pedido inicial sob o Superior Tribunal de Justiça entendem, de maneira pacífica,
que, em se tratando de bem público, o usucapião não é
argumento de que, embora a prova produzida nos autos
admissível para a constituição de enfiteuse que vai transfor-
tenha comprovado a posse mansa, pacífica e ininterrup- mar o imóvel em foreiro. O mesmo não sucede, porém,
ta do imóvel que se pretende usucapir, os autores não quando - e este é o caso dos autos - o imóvel já era foreiro
teriam comprovado que exercem a posse do imóvel por e a constituição da enfiteuse em favor do usucapiente se faz
força de enfiteuse, pois não estariam pagando o contra o particular até então enfiteuta, e não contra a pes-
laudêmio. Entendeu ainda o MM. Juiz que os autores soa jurídica de direito público que continua na mesma situa-
ção em que se achava, ou seja, na de nua proprietária.
teriam pleiteado na ação o domínio direto do bem, o (Precedente do STF: RE nº 82.106, Relator Ministro
que não seria possível, razão pela qual o direito foi Thompson Flores.) (TJMG, 5ª Câmara Cível, Apelação nº
negado. 1.0000.00.259153-5/000, Relatora Des.ª Maria Elza,
Inconformados, os autores interpuseram recurso de acórdão de 05.09.2002, p. em 22.11.2002.)
apelação (f. 193/197), afirmando, em apertada síntese,
que requereram por meio desta ação apenas o domínio No caso dos autos, verifica-se dos depoimentos
útil do bem a ser usucapido. Juntaram ainda aos autos o pessoais das partes (f. 156/157) que o imóvel foi dado
comprovante de pagamento do laudêmio no mês de pela filha do réu aos autores, residindo estes no local
abril de 2009. desde então, há mais de 15 anos. O depoimento das
Às f. 208/211, o réu apresentou contrarrazões, testemunhas de f. 158/161 segue a mesma linha,
aduzindo que está de acordo com o pedido dos autores restando comprovada indubitavelmente a posse dos
em relação à declaração do domínio útil do bem foreiro. autores, exercida mansa e pacificamente, sem inter-
Em manifestação de f. 223, a douta Procuradoria- rupção nem oposição, possuindo o imóvel como seus
nos termos do art. 1.238 do CC.
Geral de Justiça entendeu ser incabível a sua intervenção
Assim, verificam-se atendidos os requisitos previstos
no presente feito.
em lei, autorizando a sua pretensão aquisitiva, com base
Juízo de admissibilidade.
no novo Código Civil.
Conheço do recurso, porque próprio, tempestivo,
Restou demonstrado, ainda, que a posse se deu de
sendo isento de preparo por estarem os autores sob o
modo contínuo, ininterrupto e sem impugnação, e, não
amparo da justiça gratuita. obstante se tratar de terreno foreiro, têm os apelantes
Mérito. direito a usucapir o seu domínio útil, com reserva da nua
Depreende-se dos autos que o bem objeto da ação propriedade ao réu.
se trata de imóvel foreiro, pertencendo a sua nua pro- Embora não tenham os autores formulado pedido
priedade ao réu, conforme certidão de f. 06 dos autos. específico de aquisição do domínio útil, o seu acolhi-
Importante registrar que o documento de f. 184 dos mento não importa em violação ao art. 128 do CPC.
autos deixa clara a caracterização da enfiteuse sobre o Isso porque o deferimento do domínio útil não ultrapas-
bem descrito na exordial. sará os limites do pedido formulado na inicial, pois se
Os autores ajuizaram a ação de usucapião, pre- encontra abarcado por ele.
tendendo obter o domínio do imóvel com a inscrição no Data maxima venia, a decisão primeva de impro-
registro imobiliário. Inicialmente, não informaram cedência do pedido, tal como lançada, ao afirmar que
especificamente na inicial se o domínio pretendido seria os autores teriam pleiteado na ação o domínio direto do
o domínio direto ou apenas o domínio útil. Contudo, bem, não tendo formulado pedido de domínio útil,
após a contestação do réu, os autores deixam claro que acaba por causar enorme prejuízo às partes, que não
pretendem por meio da ação o domínio útil do bem fo- mais divergem quanto à questão exposta na lide, tendo
reiro. inclusive o réu, em sede de contrarrazões, concordado
E, com relação ao domínio útil, entendo que este é com o pedido dos autores para a concessão do domínio
possível com reserva da nua propriedade ao nu proprie- útil do bem foreiro; e, caso mantida a sentença, haveria
tário. Conforme vem decidindo a remansosa jurisprudên- violação ao princípio da economia processual.
cia, in verbis: Consoante entendimento consolidado na 2ª Seção
do STJ, em aresto da lavra do Ministro Carlos Alberto
O imóvel foreiro do patrimônio público pode ser objeto de Menezes Direito:
usucapião, relativamente ao seu domínio útil, desde que este
já se ache em poder de terceiro, particular, por direito de [...] o aproveitamento dos atos processuais, por sua vez, que
aforamento, permanecendo inalterada a situação da nua não os decisórios, obviamente, estará submetido à avaliação
propriedade do Poder Público (Jurisprudência Mineira, do juiz que presidir o feito, fazendo as adaptações
131/361). necessárias para que não haja prejuízo, concreto, às partes
e, simultaneamente, não sejam repetidos os atos
Usucapião de direito real - Enfiteuse - Possibilidade de desnecessários, atentando contra a economia processual [...]
aquisição do domínio útil do imóvel foreiro - Precedentes do (cf. Ag. Reg. no Ag. Reg. nº CC 21.168/RJ, DJU de
STF e STJ - Respaldo doutrinário - Recurso conhecido e 08.03.2000). Inteligência do art.113, § 2º, do CPC.

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Por fim, entendo que a ausência do pagamento do - A ausência de adimplemento do prêmio não acarreta a
laudêmio não implica óbice à concessão do domínio útil imediata suspensão da apólice de seguro, uma vez que
em imóvel foreiro, já que o nu proprietário tem res- compete à seguradora proceder à notificação do segu-
guardada a nua propriedade, podendo valer-se do seu rado para a quitação das parcelas em atraso.
direito, em ação própria, para cobrança do laudêmio
efetivamente devido, observado o disposto no art. 2.038 - Deve-se proceder à amortização do débito junto à insti-
do CCB. tuição financeira antes do pagamento da indenização
Com tais considerações, dou parcial provimento sob pena de enriquecimento indevido.
ao recurso, reformando a r. sentença para julgar parcial-
mente procedentes os pedidos dos autores, declarando a Primeira apelação não provida e segunda apelação par-
prescrição aquisitiva tão somente do domínio útil do cialmente provida.
imóvel, objeto da inicial, em favor destes, com a conse-
quente transcrição no competente Cartório de Registro
APELAÇÃO CÍVEL N° 1.0183.08.143929-5 5/001 -
de Imóveis, devendo ser ressalvada, no entanto, a per-
manência da nua propriedade sobre o domínio do réu. Comarca de Conselheiro Lafaiete - Apelantes: 1 os) Júlio
Em face da sucumbência recíproca, deverão os Cézar de Siqueira e outra, 2º) Banco Itaucred Financeira
autores arcar com 50% (cinquenta por cento) das despe- S.A. - Apelados: Banco Itaucred Financeira S.A., Júlio
sas processuais, inclusive recursais, ficando a cargo do Cézar da Siqueira e outra - RELATOR: DES. PEREIRA DA

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réu os 50% (cinquenta por cento) remanescentes. SILVA
Honorários advocatícios fixados na sentença em
R$ 1.000,00 (mil reais), na mesma proporção. Fica Acórdão
autorizada, desde já, a compensação dos honorários
advocatícios nos termos do art. 21 do CPC e da Súmula Vistos etc., acorda, em Turma, a 10ª Câmara Cível
nº 306 do STJ. Suspendo a exigibilidade de tais verbas do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, sob a
por parte dos postulantes nos termos do art. 12 da Lei Presidência do Desembargador Pereira da Silva, na con-
1.060/50. formidade da ata dos julgamentos e das notas taquigrá-
ficas, à unanimidade de votos, EM NEGAR PROVIMEN-
Votaram de acordo com o Relator os DESEMBAR- TO À PRIMEIRA APELAÇÃO E DAR PROVIMENTO PAR-
GADORES EDUARDO MARINÉ DA CUNHA e IRMAR CIAL À SEGUNDA.
FERREIRA CAMPOS. Belo Horizonte, 25 de maio de 2010. - Pereira da
Silva - Relator.
Súmula - DERAM PROVIMENTO PARCIAL AO
RECURSO. Notas taquigráficas

... DES. PEREIRA DA SILVA - Recursos de apelação,


que foram aviados por Júlio Cézar de Siqueira, Thaís
Caroline Corrêa Siqueira e pelo Banco Itaucred
Cobrança - Seguro de vida - Prêmio - Pagamento Financeira S.A., contra sentença proferida pelo MM. Juiz
atrasado - Cancelamento automático da apólice - de Direito da 2ª Vara Cível da Comarca de Conselheiro
Impossibilidade - Notificação prévia - Lafaiete.
A sentença julgou procedente a ação ordinária e
Necessidade - Juros de mora - Taxa Selic -
condenou o réu ao pagamento da quantia de
Substituição - Juros legais - Amortização de R$ 3.000,00, deduzida do valor a parcela do prêmio
débito - Legalidade que se encontrava em atraso (R$ 4,00, em 10.03.2007),
com correção monetária pela tabela da Corregedoria de
Ementa: Cobrança. Seguro de vida. Prêmio. Atraso no Justiça de Minas Gerais desde o ajuizamento da ação.
pagamento. Cancelamento automático. Impossibili- Juros de mora pela taxa Selic desde a citação inicial.
E, por derradeiro, fixou os honorários advocatícios
dade. Necessidade de notificação prévia. Legitimidade
em 20% sobre o valor da condenação.
ativa. Juros. Taxa Selic. Substituição. Amortização de
Inconformados, os autores apelam, às f. 143/145,
débito. Legalidade. afirmando a impossibilidade de amortização pela inco-
erência do valor cobrado, pois, se estava atrasada ape-
- A cláusula que permite a suspensão ou o cancelamen- nas em 8 dias a parcela no valor de R$ 66,37, impos-
to unilateral do seguro coloca a parte consumidora em sível a amortização de R$ 3.200,00.
manifesta situação de desvantagem, sendo, pois, con- Afirmam que houve ausência de informação, pela
siderada abusiva, nos termos dos incisos IV e XI, art. 51, apelada, no que tange à amortização de eventuais
do CDC. débitos.

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