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Teologia Do Culto
Teologia Do Culto
I – Introdução
Este brevíssimo ensaio versa sobre o tema em relevo através de três perguntas:
(1) o que é o culto, (2) a quem é prestado culto, e (3) como oferecer culto?
II – O que é cultuar?
A palavra “culto” deriva do Latim, cultu, e significa adoração ou homenagem a
Deus. Etimologicamente, o termo latino cultu envolve a raiz colo, colere, que
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Há ainda dois importantes termos que expressam ideias de culto. O primeiro é ָדבַע
(abad), “servir”, “trabalhar”. Por exemplo, Yaweh diz a Moisés: “Certamente eu
serei contigo; e isto te será por sinal de que eu te enviei: Quando houveres tirado
do Egito o meu povo, servireis a Deus neste monte” (Êx 3:12). A segunda palavra
é λατρεία (latreia), “servir”, como visto no diálogo de Cristo com o Diabo: “Então
ordenou-lhe Jesus: Vai-te, Satanás; porque está escrito: Ao Senhor teu Deus
adorarás [προσκυνήσεις], e só a ele servirás [λατρεύσεις]” (Mt 4:10). É interessante
notar que um dos locus classicus de adoração e culto utiliza este termo para
descrever a entrega do corpo a Deus como “culto racional” [λογικὴν λατρείαν] (Rm.
12:1).
O que se pode concluir deste rápido estudo etimológico? “Cultuar” envolve tanto a
‘homenagem ou reverência’ a Deus, quanto o ‘serviço’ a sua Pessoa!
Por outro lado, como já dito, há pluralidade no seio do Altíssimo. Logo no começo
da Bíblia já se vê que a estrutura da Deidade não é monolítica. Ao decidir criar, Ele
assevera: “Façamos o homem a nossa imagem e conforme a nossa semelhança”
(Gn. 1:26). Nota-se nesse texto que tanto o verbo quanto os pronomes são
utilizados na primeira pessoa do plural. A mesma coisa é observada mais tarde na
Queda edênica: “Eis que o homem se tornou como um de nós, conhecedor do bem
e do mal” (Gn. 3:22). Há muitas outras ocasiões no Antigo Testamento que
mostram que Deus é plural em seu interior.
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A ortodoxia cristã acabou por definir o ser divino como existente em três pessoas,
porém com a mesma essência (οὐσία). Pai, Filho e Espírito Santo,
respectivamente, Primeira, Segunda e Terceira Pessoas da Trindade possuem o
mesmo poder, glória e eternidade.
Para concluir da forma mais sumária e direta possível, como poderíamos
responder a pergunta: quem é Deus? O maior teólogo do século XX, o Suíço Karl
Barth (1886-1968) dizia o seguinte: “Você quer saber quem é Deus? Você deseja
saber quem criou este universo com bilhões de estrelas, e com distâncias
inimagináveis? Olhe para o rosto barbado de Jesus de Nazaré”. 7
ambiente do culto desta maneira porque Deus deu ao homem o papel de líder,
enquanto que à mulher foi dado o papel de coadjuvante (1Co. 11:7, “Porque, na
verdade, o homem não deve cobrir a cabeça por ser ele imagem e glória de Deus,
mas a mulher é glória do homem.” Cf. Pv. 12:4.). Ao homem foi dada a honra de
reger a criação: Adão recebeu domínio e autoridade sobre a ordem criada,
portanto o homem—funcionalmente—é a “imagem e glória de Deus”. Por outro
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sua origem nele: “Porque o homem não foi feito da mulher; e, sim, a mulher do
homem” (1Co 11:8). Noutras palavras, o homem, por assim dizer, é “primogênito” e
“fonte” de onde veio a mulher. No segundo argumento, Paulo mostra que a
finalidade da mulher é ajudar o homem e não vice-versa: “Porque também o
homem não foi criado por causa da mulher; e, sim, a mulher, por causa do homem”
(1Co 11:9). 19
Por fim, Paulo afirma que a diferença de função não deve nos separar: ”No senhor,
todavia, nem a mulher é independente do homem, nem o homem é independente
da mulher. Porque, como provém a mulher do homem, assim o homem é nascido
da mulher; e tudo vem de Deus” (1Co 11: 11-12). Ou seja, espiritualmente somos
todos iguais, a despeito da manutenção dos papeis estabelecidos por Deus.
Diante de todos esses argumentos, não há como negar o fato de que, no geral,
compete ao homem liderar e a mulher ser liderada. Esta diferença de papeis não
implica, de modo algum, em inferioridade espiritual; essa diferença visa apenas a
ordem funcional do culto. Por sinal, cabe ressaltar que a mesma ordem é
normativa para o funcionamento do lar: em reverência a Cristo, esposas devem ser
lideradas pelos maridos, bem como filhos pelos pais (Ef 5:22-6:1). Assim, o
homem que não lidera bem a sua própria casa não deve liderar na igreja (1Tm 3:4-
5). Em uma sentença: o Novo Testamento atribui ao homem o papel de líder!
Assim diz o apóstolo: “Que fazer, pois, irmãos? Quando vos reunis, um tem salmo,
outro doutrina, este traz revelação, aquele outro língua e ainda outro
interpretação…” (1Co. 14:26). A pergunta que inicia o versículo em destaque
—“Que fazer, pois, irmãos?”—pode ser interpretada como apontando para
uma sugestão, um comando, ou uma narrativa: os comentaristas divergem quanto
ao exato significado dessa pergunta. Todavia, independente da mesma sugerir,
comandar ou meramente narrar o que estava acontecendo na igreja, não há
dúvidas que participação no culto não era privilégio apenas do oficiante. Ao
contrário, a dinâmica do culto envolvia a participação do auditório com salmo,
doutrina, revelação, língua e interpretação. Consequentemente, infere-se que a
participação coletiva no culto era normal na vida da igreja. A maneira como essa
participação deve acontecer hoje em nossas igrejas é facultado às mesmas
decidirem. O que não pode acontecer é a não participação dos crentes no culto!
qualquer coisa que obstrua, ao invés de ajudar, o entendimento deve ser evitado.
“… , prefiro falar na igreja cinco palavras do meu entendimento, para instruir
outros, a falar dez mil palavras em outra língua. Irmãos, não sejais meninos no
juízo; na malícia, sim, sede crianças; quanto ao juízo sede homens amadurecidos”
(1Co 14:19-20). Diz mais o apóstolo, “… irmãos, se eu for ter convosco falando em
outras línguas, em que vos aproveitarei…? É assim que instrumentos inanimados,
como a flauta, ou a cítara, quando emitem sons, se não os derem bem distintos,
como se reconhecerá o que se toca na flauta, ou na cítara? Pois também se a
trombeta der som incerto quem se preparará para a batalha? Assim vós, se com a
língua, não disserdes palavra compreensível, como se entenderá o que dizeis?
Porque estareis como se falásseis ao ar” (1Co. 14:6-9).
Shedd é que a voz de Deus precisa ser ouvida pelos cultuantes de forma clara!
Como conclusão a esta seção, vale frisar que esse princípio foi exposto por último,
porque tudo deve cooperar para a edificação do corpo de Cristo: seja o uso dos
dons, seja a ‘reverência’ como possibilitadora de ordem e decência; seja a
‘participação’ como exercício dos dons visando crescimento; seja a ‘autoridade’
com vista ao correto princípio de funcionamento dos papeis estabelecidos por
Deus; e, finalmente, seja até mesmo o amor, em cuja ausência a almejada
edificação não aconteceria.
V – Conclusão geral
O próprio Cristo nos ensinou que Deus deseja culto “em espírito e em verdade”
(Jo. 4:23-24). Esta dupla pauta envolve nosso interior (coração puro e sem
fingimento, Sl. 103:1,2; e Sl. 24:3,4), e o exterior também. Consequentemente, há
necessidade de buscarmos a verdade dos fatos concernente a Deus revelados em
Sua Palavra. Devemos rejeitar modismos, garantindo, assim, a presença do
Senhor em nossos cultos.
1
TORINHA, Francisco. Dicionário Latino Português. Porto: Gráficos reunidos, 1937,
S.V. FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Dicionário Aurélio de Língua
Portuguesa. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 1996, s.v. “cultu”.
MULLER, Richard. Dictionary of Latin and Greek Theological Terms: Drawn
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RYLE, J. C. Adoração: Prioridade, Princípios e Prática. São José dos Campos:
Editora Fiel, 2010, p. 25.
Doutrina que reza que todos os dons extáticos cessaram após o período
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apostólico.
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Calvino ilustra isto como segue: um embaixador nomeado por um rei para
representá-lo, mas que não sabe como se comportar, e acaba “barateando sua
posição”. Ao proceder dessa forma, ele traz desonra ao rei que ele representa. De
igual maneira, a mulher ao atuar na igreja visível e independentemente—ou seja,
com a cabeça descoberta ou tosqueada—desonra o homem (1Co 11:5-6).
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A Queda “fortaleceu” ainda mais esta posição, introduzindo um grau de conflito:
“Teu desejo será para teu marido e ele te governará”. Ou seja, a mulher tentaria
dominar, conquistar, vencer o homem, mas o homem [“forçosamente”] a
governaria!
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MACARTHUR, John. The MacArthur New Testament Commentary: First
Corinthians. Chicago: Moody Publishers, 1984, p. 258.
Gn. 2:21-22 “Então o Senhor Deus fez cair o pesado sono sobre o homem, e este
adormeceu: tomou uma de suas costelas e fechou o lugar com carne. E a costela
que o Senhor tomara ao homem, transformou-a numa mulher, e lha trouxe”.
Cf. “Disse mais o Senhor: não é bom que o homem esteja só: far-lhe-ei uma
auxiliadora que lhe seja idônea” (Gn. 2:18). Enquanto que o homem é
independente da mulher, devendo liderar, proteger e cuidar da mesma; a mulher,
por outro lado, é dependente e deve estar sujeita ao homem.
Ainda poderíamos ressaltar que isso foi estabelecido, obviamente, antes da
Queda!
RYLE, Adoração, p. 19.
SHEDD, Russell. Adoração Bíblica: Os Fundamentos da Verdadeira Adoração.
Edições Vida Nova, 2007, p. 49.
O Princípio Regulador do Culto
Matthew McMahon
A adoração para o crente deve ser uma expressão do amor de Deus retornando
para Ele mesmo. Temos de expressar-Lhe quão maravilhoso e bendito Ele é.
Portanto, é impossível adorá-Lo através de invenções e ingenuidades dos homens.
É impossível adorá-Lo em uma atmosfera que não foi estabelecida e ordenada por
Ele e sua Palavra.
Com efeito, Deus é justo em suas prerrogativas, e a Bíblia demonstra que Ele
exerce suas prerrogativas (Gn 4.1-5; Êx 20.4-6). Se Deus tivesse decretado que
seria adorado somente por aqueles que usam camisas brancas, teria o direito de
fazê-lo. Se Ele tivesse ordenado que todo crente deve usar camisas brancas para
adorá-Lo, posso imaginar que todos os crentes, porque amam seu Senhor, sairiam
e comprariam muitas, a fim de jamais ficar em falta. Eles viriam aos cultos da igreja
usando as camisas brancas que Deus lhes ordenou usarem para sua adoração.
Deus é o único que regula nossa adoração. Quão arrogantes são os homens ao se
imaginarem no direito de determinar, numa pequena parte que seja, como Deus
será adorado!
(Extraído de “Fé para Hoje”, nº 7, ano 2000, São José dos Campos (SP): Editora
FIEL)
www.editorafiel.com.br
Um dos desvios mais perigosos acontecendo nas igrejas locais hoje está dentro do
nosso culto público. Em muitas igrejas, há uma ausência de ênfase nos meios da
graça (Escritura, oração e os sacramentos ou ordenanças) e uma dependência do
entretenimento. Alguns tentam equilibrar os dois em nome de alcançar mais
pessoas com o evangelho, mas há um perigo inescapável em superestimar o
entretenimento e implementá-lo no culto público.
Isso não é um fenômeno recente. O pastor do século XIX, Charles Spurgeon, dizia:
“o diabo raramente teve uma ideia mais sagaz que sugerir à igreja que parte da
sua missão é fornecer entretenimento para as pessoas, tendo em vista conquistá-
las”. Pode não ser recente, mas é crescentemente popular, especialmente à luz da
nossa cultura motivada pelo entretenimento. Vemos isso em cânticos seculares
tocados por bandas de louvor para animar a platéia. É difícil perder o valor dado à
diversão na pregação cheia de piadas, mas vazia de teologia em muitos púlpitos.
Muitos de nós preferimos performances elaboradas para a congregação observar,
mas não participar. Para alguns, a manhã de domingo se parece mais com um
show de variedades do que uma oferta feita a Deus. O perigo de trazer o
entretenimento ao culto conjunto está no objetivo do entretenimento e no seu
contraponto ao objetivo do culto.
Eu não estou sugerindo que a igreja deva ser entediante ou que toda igreja deva
ter cultos com liturgias idênticas, como se houvesse apenas uma única forma
apropriada de adorar ao Senhor. O culto coletivo varia de igreja para igreja de
muitas formas. Os estilos, a música e as liturgias desenvolvidas em contextos e
tradições particulares levam a tonalidades diferentes de culto. A igreja de Jesus
Cristo é composta de pessoas, e portanto de congregações, de toda tribo, língua e
nação, e isso quer dizer uma diversidade de igreja para igreja. Isso
frequentemente é uma coisa boa, algo a se celebrar, desde que o culto da igreja
seja feito de acordo com os parâmetros da Escrituras e oferecido pela fé.
Embora o culto seja direcionado a Deus, ele simultaneamente oferece muito mais
do que entretenimento pode dar. À medida que a igreja se aproxima de Deus, o
Senhor se aproxima de nós e recebemos graça. Graça, graça que regenera, graça
que renova, graça que revive, é oferecida à congregação por meio dos meios de
graça. O resultado de adorar a Deus em espírito e verdade é a transformação. O
entretenimento não pode levar à edificação. Entretenimento pode estimular as
emoções, mas Deus usa os meios de graça para mudar as nossas afeições. O
entretenimento pode atrair uma multidão ou cativar uma congregação, mas
somente os meios da graça vão atrair as pessoas a Cristo e conformá-las à sua
imagem.
O entretenimento tem o seu lugar e serve a um propósito bom, ainda que terreno.
As nossas igrejas locais farão bem em ter o cuidado de não descambarem nele
num esforço de atrair ou tratar das necessidades de homens e mulheres
pecadores. A Escritura é o que Deus usa para penetrar a alma e mudar o coração.
Que possamos nos entregar para adorarmos ao Senhor em espírito e verdade, ao
invés de em emoção e diversão.