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Introdução:

No âmbito do programa de psicologia do 12ºano, este trabalho tem como objetivo abordar dois
temas muito importantes: a identidade e a resiliência. Pode ser entendido por … (falar sobre
resiliência e identidade)
Assim, temos de entender como o trauma pode originar ou potenciar uma doença mental, e de
que modo um indivíduo pode ser resiliente a essa experiência. Para isso decidimos utilizar um
exemplo prático e levantar o véu da vida de uma das mais importantes escritoras do século XX,
tentando entender como os acontecimentos da sua infância e idade adulta podem ter moldado a
sua personalidade e podem ter estado, quer na origem da sua doença mental, quer, mais tarde,
do seu suicídio – falamos de Virginia Woolf.
Tentaremos definir também até que ponto a doença mental pode ser hereditária, ou se esta é
dramaticamente despoletada em consequência de traumas sofridos na infância. Também
pretendemos estudar a influência destes traumas: se apenas afetam a personalidade ou se
funcionam como gatilho para outros comportamentos.
É com isto em mente que escolhemos esta personalidade, uma das mais marcantes do século
XIX e do início do século XX.
Assim, o nosso objetivo com este trabalho é que no fim possamos perceber melhor os conceitos
de identidade e de resiliência, bem como a sua relação com a vida quotidiana de um indivíduo. A
instabilidade emocional de Virginia e as suas causas, tal como muitos dos sintomas de saúde
mental vivenciados pela mesma, são uma forma de melhor entendermos o comportamento
humano, distinguindo esta personalidade de outras que, não tendo conseguido contornar de
forma positiva os seus obstáculos, não deixaram uma obra tão relevante nem podem ser
exemplo de resiliência.
BIOGRAFIA
Adeline Virginia Woolf nasceu em Kensington no Middlesex, a dia 25 de janeiro de 1882 e
faleceu em Lewes, Sussex, no dia 28 de março de 1941. Foi uma escritora, ensaísta e editora
britânica. Por ser filha do editor Leslie Stephen, cedo se estreou no mundo da leitura; em 1915,
com o The Voyage Out, abriu o caminho para a sua carreira como escritora de uma série de
obras notáveis. Foi membro do Grupo de Bloomsbury e desempenhou um papel significante
dentro da sociedade literária londrina durante o período que se compreendeu entre as guerras.
No final dos anos 1920, tornou-se uma escritora de sucesso e foi reconhecida
internacionalmente. Contudo, a sua escrita foi ostracizada após a Segunda Guerra Mundial.
No caso de Virginia Woolf, muitos foram os traumas que sofreu: começou a ser vítima de abusos
sexuais aos sete anos de idade, pelos seus dois irmãos, ambos quase vinte anos mais velhos do
que ela. Isso já acontecia quando os seus pais ainda estavam vivos, e embora ela inicialmente
não tenha denunciado abertamente o crime de que era vítima, é possível que toda a família
soubesse do seu sofrimento. Começa, contudo, a escrever abertamente sobre isso aos dez anos
de idade: foi um tipo de abuso traumático que perdurou até completar 24 anos.
Aliado a isto, a perda de uma figura materna ainda em idade jovem tem consequências de
grande amplitude, que iremos desenvolver mais tarde; Virginia sofreu o luto de diversos
elementos próximos ainda em idade jovem: primeiro a morte da mãe e depois da irmã mais
velha. A perda de entes queridos é sempre traumática, mas, neste caso, o seu pai proibiu os
membros da família de falarem sob qualquer circunstância daqueles que haviam morrido.
O ambiente de terror e intimidação em que vivia fazia da sua casa de infância uma prisão para
os seus sentimentos e emoções. Começa, assim, a forjar-se uma mordaça que só mais tarde
conseguiria contornar através dos seus diários e da literatura.
Após a morte do pai, ela foi morar com os seus irmãos e irmãs. Neste momento, começou a
sofrer surtos psicóticos complexos que conseguia superar momentaneamente, mas que se
voltavam a repetir.
Aos trinta anos de idade casou com Leonard Woolf; nesta época, já tinha passado por várias
crises nervosas que eram seguidas de estados depressivos profundos. O seu marido mantinha
um diário dos seus estados emocionais, mas foi na literatura que Virginia encontrou um refúgio
para dar vida às suas experiências horríveis e às emoções reprimidas.
Esta desenvolveu uma doença mental conhecida hoje como transtorno bipolar. Depois de
terminar o manuscrito do seu último romance, a autora caiu numa depressão semelhante à que
já havia sofrido no passado. Além disso, o início da Segunda Guerra Mundial e a destruição da
sua casa em Londres pioraram a sua condição; ela sentia-se incapaz de trabalhar. Ao ficar
privada da única coisa que lhe permitia fugir à realidade, tomou uma decisão irrevogável: a 28 de
março de 1941, Virginia Woolf vestiu um casaco, encheu os bolsos de pedras e atirou-se ao rio
Ouse. Desta forma, acabava com o seu sofrimento, silenciando-se para sempre.
AS CARACTERÍSTICAS PSICOLÓGICAS DO INDIVIDUO (INTRODUZIR COM A MENTE)
A OBRA COMO REFLEXO DA SUA IDENTIDADE ESPECÍFICA
Para quem conhece a sua obra, pode-se dizer que Virginia Woolf não foi apenas uma fascinante
escritora de romances. A sua escrita foi inovadora, porque a autora tinha a capacidade de
mergulhar profundamente nos pensamentos mais íntimos dos seus personagens, através do uso
do monólogo interior, recurso literário que conseguiu aperfeiçoar ao longo da vida. Este
enquadra-se no “fluxo de consciência”, que se destina a expor a complexidade do pensamento
humano e as associações de ideias e de impressões inerentes a este.
Esta particularidade é um reflexo da sua identidade específica, bem como os vários livros de sua
autoria que nos deixou. Após alguma pesquisa, decidimos focar-nos na obra Mrs. Dalloway.
A história deste livro desenrola-se ao longo de um único dia, mas não deixa por isso de ser
considerada uma das mais importantes da autora; nela, Virginia Woolf trata de vários assuntos
polémicos e crítica a sociedade da altura: denegrindo em primeiro lugar a cidade e o seu bulício;
em segundo lugar, expõe os outros problemas inerentes ao meio sociocultural no qual tanto ela
como a sua personagem viviam.
Através dos tais “monólogos interiores”, a autora consegue, por Mrs. Dellaway, aprofundar
algumas temáticas perturbadoras. Esta mulher, em teoria feliz, casada, com alguma relevância
social, questionava-se sobre a sua importância, a importância da sua morte e se nela encontraria
consolo (“Importava então (…) que tivesse de desaparecer um dia? Tudo aquilo continuava sem
ela. (…) Ou seria um consolo pensar que a morte acabava com tudo?”). Estes pensamentos
demonstram que a personagem se sentia oprimida e que procurava uma saída.
Além disso, a protagonista, ao mergulhar nas memórias do seu passado, revela ao leitor a sua
bissexualidade e a sua bipolaridade, evidenciadas nas citações “Sally Seton, por quem foi
apaixonada quando jovem, tendo de renunciar a esse sentimento em nome das convenções
morais da época e da segurança que o casamento (..) lhe traria” e “sentia-se muito jovem; ao
mesmo tempo, indescritivelmente envelhecida”, respetivamente.
Outra personagem que marca esta obra é Septimus, que vivenciou os horrores da guerra e que
carrega os traumas dessa experiência. Ele declara, antes de o efetivar, que se vai matar, algo
que é desprezado pelos que o ouvem e até criticado por ser uma “coisa horrível para se dizer”.
Perante o seu suicídio, Mrs. Dellaway conclui que “a morte era um ato de rebeldia (…), uma
tentativa de se comunicar”, que “havia um abraço na morte”.
Não é sem significado que a autora escreve que “tinha sempre o sentimento de que viver,
mesmo um único dia, era muito, muito perigoso”. Supomos que quereria com isto dizer (dentro
do contexto onde esta reflexão surge) que, devido à perseguição do passado individual de cada
um, cada dia acarreta perigos por se mergulhar profundamente nas memórias e por ter de se
realizar a tarefa que a mesma por vezes considera árdua: viver.
Na nossa opinião, Mrs. Dellaway é um reflexo de Virginia Woolf, tanto por apresentar algumas
características semelhantes às suas como por ser perseguida pelos seus próprios traumas
(embora estes sejam mais discretos do que os da autora). Este livro trata também do feminismo
e de outros ideais defendidos pela escritora inglesa, mais uma vez reforçando a ligação que há
entre a sua obra e a mente que a criou.
Podemos então dizer que a obra de Virginia Woolf faz parte da sua identidade específica; surge
como fruto do modo como a autora integrou as experiências que marcaram o seu
desenvolvimento, subconscientemente, no seu conceito de “eu”.
No entanto, há quem possa criticar este génio literário, afirmando que não foi resiliente por ter
acabado por se suicidar. É importante entender o contexto cultural que se vivia no início do
século XX: havia uma grande discriminação da mulher, dos homossexuais (eram poucos os
assumidos) e, acima de tudo, era regra a desvalorização dos problemas psicológicos (até a sua
existência).
Com Freud, seu contemporâneo, estabelecem-se as bases para mudar este pensamento.
Contudo, se mesmo atualmente muitas das patologias mentais são incompreendidas, como
seriam há 100 anos? Virginia Woolf foi uma visionária também neste campo: tentou alertar para
a existência deste problemas através da sua obra e nunca negou a ligação existente entre a sua
personalidade e os seus próprios traumas e os dos seus personagens.
Através da biografia prévia que dela fizemos pudemos identificar alguns dos traumas que sofreu.
A perda de uma figura materna na sua infância deveria ter provocado, de acordo com Bowlby,
um défice nas relações interpessoais e graves efeitos no desenvolvimento de Virginia. Estes
efeitos ou não ocorreram ou foram superados com sucesso. Contudo, as perturbações causadas
pela sua opressão emocional são coerentes com as estipuladas por René Spitz: considerando
que essa repressão se trata de uma privação afetiva, é possível verificar a ocorrência do sintoma
principal da mesma, a depressão. Esta não surge nem como duradoura nem como anaclítica: as
consequências “da mordaça” que lhe foi imposta surgem em momentos de maior
vulnerabilidade, embora tenha um quadro sintomático mais ou menos constante desde a
primeira crise psicótica até ao fim da sua vida, a bipolaridade já várias vezes referida.
Retomando o conceito de resiliência, este entende-se como tenacidade, representação positiva
da realidade e da situação individual e paciência para enfrentar as adversidades e procurar o
que resta de “bom” na vida. Se a autora foi algo, foi tenaz: lutou para divulgar o que sentia, para
alertar para a sua situação e outras semelhantes e para tentar obter melhorias na sociedade
retrógrada em que vivia. É considerada um dos pilares do movimento feminista, tema que trata
frequentemente, quer na sua vida como na obra que nos deixa. Inspirou inúmeras mulheres a
lutarem pelos seus direitos e ao anunciar publicamente a sua bissexualidade (isso era quase
tabu na época!) dá também um importante passo no processo que é a aceitação de outras
sexualidades como válidas e não inferiores à heterossexual.
Arranjou formas de escapar às suas patologias durante muitos anos e foi assim adiando o fim
que teria, mesmo sem ter recebido qualquer tipo de tratamento; este exemplo de paciência e a
representação positiva que a autora conseguiu manter ao longo da vida, continuando a deixar o
seu testemunho através da escrita, são inestimáveis, por todas as razões já apresentadas.
A sua morte não pode então ser vista como desistência: é mais a aceitação de algo inevitável
nas circunstâncias em que se encontrava, provavelmente por considerar que o seu trabalho já
estava feito e que já não precisava de sofrer.
Esta visão é triste, embora já tenha sido explorada por Virginia nalgumas das suas obras – a
morte surge como tentativa de comunicação, como a última coisa que diz ao mundo: alerta-nos a
todos para a importância da não-desvalorização dos problemas psicológicos e contradiz todos
aqueles que inferiorizam as pessoas afetadas por tais patologias e que as creem menos
capazes.
CONCLUSÃO
Os fluxos da consciência de Virginia Woolf (comunidadeculturaearte.com)
"A viúva e o papagaio", de Virginia Woolf | #EstudoemCasa@ (mec.pt)
*Virginia Woolf – da ficção à teoria uma análise de Mrs. Dalloway e da crítica cultural
woolfiana _Renata Cristina Pereira.pdf (unifesp.br)
20 frases do livro Mrs. Dalloway (Virginia Woolf) - Livro&Café (livroecafe.com)

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