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DOI: 10.1590/1413-81232018236.

04872018 1997

Gênero, direitos sexuais e suas implicações na saúde

ARTIGO ARTICLE
Gender and sexual rights:
their implications on health and healthcare

Romeu Gomes 1
Daniela Murta 2
Regina Facchini 3
Stela Nazareth Meneghel 4

Abstract This article is an objective examination Resumo O artigo objetiva problematizar aspec-
of aspects of gender and sexual rights, and their tos relacionados a gênero e direitos sexuais, bem
implications in the field of health field, using the como suas implicações no campo da saúde. Para
methodology of an essay. The first part discuss- isso, utiliza-se o ensaio como desenho metodológi-
es femicide, highlighting that there are deaths of co. Na primeira parte, procura-se discutir o femi-
women due to the fact of being women, which nicídio, destacando-se que há mortes de mulheres
constitute what could be described as the crimes of devido ao fato de serem mulheres que se consti-
lèse-humanité or ‘femi-genocide’. The second part tuem de situações de lesa humanidade ou femi-
discusses sexual and gender diversity, with an em- genocídio. Em seguida, trata-se da diversidade
phasis on the fragility of the ‘right to have rights’ sexual e de gênero, com ênfase na fragilidade do
expressed in the deterioration in health conditions direito a ter direitos, que se expressa na piora das
of the population that is LGBTI (Lesbians, Gays, condições de saúde da população LGBTI (Lésbi-
Bisexuals, Transvestites, Transsexuals and Inter- cas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e In-
sex). Finally, the essay discusses recognition of tersexo). Por último, discute-se o reconhecimento
gender plurality, and the limitations imposed on da pluralidade de gênero e o limite aos direitos dos
1
Instituto Nacional de
Saúde da Criança, da the rights of non-usual normativebodies bodies; corpos fora da norma, criticando-se a reiteração
Mulher e do Adolescente criticism is directed at reiteration of the binary da normatividade cisgênera e binária que pode
Fernandes Figueira, and cisgender normative ethos, which can exacer- reforçar a vulnerabilidade em saúde de pessoas
Fiocruz. Av. Rui Barbosa
716, Flamengo. 22250-020 bate the health vulnerability of people with trans trans e demais corpos e identidades não normati-
Rio de Janeiro RJ Brasil. and other non-normative bodies and identities. vos. Conclui-se que, nos 30 anos de existência do
romeugo@gmail.com It is concluded that, in the 30 years’ existence of Sistema Único de Saúde, não se pode desconside-
2
Superintendência de
Promoção da Saúde, Brazil’s Unified Health System (SUS), there have rar avanços no campo político, muitos deles cria-
Secretaria Municipal de been advances in the political sphere, many of dos por conta de movimentos sociais e iniciativas
Saúde. Rio de Janeiro RJ them created by or as a result of social movements, que procuram enfrentar o feminicídio e a não as-
Brasil.
3
Núcleo de Estudos de and initiatives that seek to confront femicide and sistência adequada às pessoas LGBTI. Frente aos
Gênero Pagu, Programa de the inadequate assistance available to LGBTI peo- desafios, reitera-se a relação necessária entre pro-
Pós-Graduação em Ciências ple. In the context of these challenges, it is reiter- moção da saúde e proteção de direitos humanos
Sociais. Campinas SP
Brasil. ated that there is a necessary relationship between relacionados a gênero e a sexualidade.
4
Escola de Enfermagem, promotion of health and protection of human Palavras-chave Gênero, Direitos sexuais, Saúde
Universidade Federal do Rio rights related to gender and sexuality.
Grande do Sul. Porto Alegre
RS Brasil. Key words Gender, Sexual rights, Health
1998
Gomes R et al.

Considerações Iniciais Direito da Mulher à Vida

Gênero é definido como elemento constitutivo A escravização, violação e morte de mulhe-


das relações sociais baseadas nas diferenças per- res estiveram presentes ao longo da história da
cebidas entre os sexos e é o primeiro campo no humanidade, fragilizando o direito das mulhe-
qual o poder se articula1. Desse modo, relacio- res à vida. Nas sociedades patriarcais, a violência
na-se à maneira como as sociedades lidam com a contra mulheres é um instrumento de controle
percepção dos corpos humanos e com as conse- que mantem o poder masculino11 e, embora es-
quências disso; constituindo-se em arranjos que teja presente em todas as épocas históricas, os
são mutáveis frente às novas situações criadas campos de estupros coletivos da ex-Iuguslávia12
pelas práticas humanas2. tornaram a violência sexual uma arma de guerra.
Para Connell3, o gênero é “ao mesmo tem- A conquista das Américas também pode ser
po criativo e violento, no qual corpos e culturas vista como uma historiografia branca, masculina
estão igualmente em jogo e são constantemente e patriarcal, constituindo-se numa história inin-
transformados, às vezes até sua destruição”. As- terrupta de apropriação e violação de corpos fe-
sim, os arranjos de gênero tanto podem ser fon- mininos racializados13.
tes de prazer, reconhecimento e identidade, como Russel e Caputti14 definem o femicídio como
fontes de injustiça e dano4. uma forma de terrorismo sexual ou genocídio,
É comum ainda considerar gênero a partir de ampliando o conceito para além das mortes co-
uma abordagem estática e categórica (feminino metidas por parceiros íntimos e mostrando que
X masculino)3. Neste artigo, considera-se que, há mortes de mulheres relacionadas ao fato de
além de tomar gênero como categoria dinâmica, serem mulheres, mas que não eram percebidas
são importantes suas articulações com sexualida- como tal.
de e sua relação com as transgeneridades. Os feminicídios possuem determinantes ge-
Nesse sentido, incluem-se na discussão ques- nerificados, racializados e sociais. As frequências
tões relativas à experiência de pessoas que não se são maiores em locais onde as normas societárias
identificam com o sexo designado ao nascer (tra- são rompidas por conflitos bélicos e em territó-
vestis, transexuais, pessoas com identidade não rios dominados pelo tráfico15,16, embora também
binária ou queer) e à diversidade de orientações ocorram em locais onde normas de honra são tão
sexuais (hetero, homo ou bissexual). Isso implica rígidas, que uma mulher que as tenha infringido
considerar que identidades como travesti e tran- pode pagar com a vida.
sexual não remetem a orientações sexuais, uma Para o sistema patriarcal, as mulheres são, em
vez que pessoas trans podem ter seu desejo sexual último caso, propriedade dos homens17. Isso não
voltado para pessoas do mesmo sexo, do outro significa que todos os homens se comportem da
sexo ou mesmo para outras pessoas trans5. Cis- mesma maneira, nem que o risco seja igual para
gênero é outra palavra subentendida a ser levada todas. As mulheres mais vulneráveis são as mi-
em conta: diferentemente de transgênero, remete grantes de países periféricos, as que por razões
a pessoas cuja identidade e expressão de gênero étnicas, culturais ou raciais são consideradas in-
corresponde ao sexo atribuído ao nascimento6,7. feriores, as que desempenham ocupações estig-
O feminismo e o movimento LGBTI – de lés- matizadas como as prostitutas e as que estão vi-
bicas, gays, bissexuais, travestis, mulheres tran- vendo em territórios ocupados pelo tráfico e por
sexuais, homens trans e pessoas intersexo – são grupos paramilitares. Ver os feminicídios como
atores fundamentais na defesa de direitos sexuais decorrentes da organização hierárquica da socie-
e da pluralidade das identidades de gênero. No dade é importante para não revitimizar a mulher
Brasil, políticas no campo da saúde8,9 refletem as- que morreu, atribuindo-lhe a culpa de sua pró-
pectos desses movimentos. pria morte.
A partir do formato de ensaio, objetiva-se Em torno de um terço dos assassinatos de
problematizar aspectos relacionados a gênero e mulheres é cometido por parceiro íntimo, en-
direitos sexuais, bem como suas implicações no quanto 5% de mortes de homens são causadas
campo da saúde, de modo a oferecer contribui- por mulheres, a maioria em autodefesa18, 60% a
ções inovadoras ao tema10. 70% dos homicídios de mulheres correspondem
a feminicídios19,20.
No início dos anos 2000, havia 25 países com
taxas de mortalidade feminina por homicídios
muito altas (> 6/100.000), a metade deles no Ca-
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Ciência & Saúde Coletiva, 23(6):1997-2005, 2018


ribe, América Central e do Sul, situação que se autoritarismo, corrupção, negócios ilícitos e im-
manteve similar nos anos posteriores21. punidade, houve aumento de feminicídios. Na
No Brasil, as mortes femininas por agres- América Central e fronteira norte do México, o
são no período de 1980-2013 passaram de neoliberalismo criou condições estruturais para
2,3/100.000 para 4,8/100.000, representando um descartar as mulheres, que não mais necessárias
aumento de mais de 100% no período22. As fre- nem como exército de reserva, nem com fins re-
quências são maiores em regiões onde há elevada produtivos. O neoliberalismo estimula a emer-
mortalidade masculina por agressão, mostrando gência de uma “masculinidade tóxica”, em que
que locais violentos para os homens também o as mulheres constituem propriedade, objetos de
são para as mulheres16,23. prazer ou mercadorias27.
Nos anos 2000, vários países latino-america- Os femi-genocídios, constituem uma men-
nos elaboraram leis específicas em relação aos ho- sagem à sociedade para manter o sistema de
micídios de mulheres e no Brasil, em 2015, o femi- sujeição/exploração das mulheres, expressando
nicídio é tema de lei sancionada, que passa a con- o mandato de masculinidade. O retrocesso con-
siderar a questão de gênero como circunstância servador e fundamentalista proporcionado pelo
qualificadora24. A vigência da lei é muito recente capitalismo racista atua sobre os corpos das mu-
para ser avaliada, porém a banalização dos crimes lheres e elimina-as, de maneira que todo o femi-
de gênero aponta para a necessidade de monitorar nicídio é político.
a sua aplicação, para que haja ações mais eficientes Sociedades mais igualitárias em termos so-
para a prevenção e a punição destes crimes25. cioeconômicos, raciais e de gênero apresentam
Sistemas judiciários classistas e refratários à menores níveis de violência, indicando que um
questão de gênero fazem com que o fato de haver dos caminhos a seguir é a luta para diminuir as
leis não implica necessariamente no seu cumpri- desigualdades. Mulheres organizadas têm obtido
mento13. No Brasil, o sistema judiciário mostra- vitórias, pequenas algumas, mas indubitáveis,
se recalcitrante atribuindo dificuldade para clas- não se devendo abdicar da militância feminista e
sificação dos feminicídios, embora se saiba que a da construção de redes de solidariedade29.
“igualdade de todos perante a lei”23 é um mito e Para fazer frente a estes crimes é preciso no-
as mulheres, principalmente pobres e negras, não mear, categorizar e denunciar estas mortes30, in-
são tratadas com equidade, de modo que mui- cluindo o direito de formular o discurso jurídico.
tos feminicídios não são sequer investigados20 e Enfim, Segato13 propõe que os feminicídios que
ainda há julgamento moral e revitimização das acontecem no âmbito público constituem situa-
vítimas nos discursos jurídicos, ao se justificar o ções de lesa humanidade ou femi-genocídios. O
crime passional, disfarçado em “estado de violen- uso desta categoria permitirá torná-los impres-
ta emoção”. critíveis e levados a Tribunais Internacionais de
Em termos teórico-conceituais para entender Direitos Humanos, onde [talvez] se possa, ao me-
este fenômeno, destacam-se os conceitos de ne- nos, fazer justiça.
cropolítica26, fascismo social27 e femi-genocídio13.
A necropolítica determina uma política de apar- Diversidade sexual e de gênero:
theid, segmentando os grupos e os confinando a fragilidade do direito a ter direitos
em territórios onde a vida não tem valor e, por
isso, é matável26. Um dos modos pelos quais hierarquias e
No Brasil, desde os anos 1990, tem se denun- normatividades relativas a gênero se articulam a
ciado o estado de exceção vigente em territórios questões de saúde deriva da tomada das diferen-
onde a população negra tem sido dizimada por ças anatômicas entre homens e mulheres, sobre-
homicídios. Essas mortes ocorrem pelos conflitos tudo os genitais, como base para um dimorfis-
provocados por grupos mafiosos, mas também mo sexual marcado por incomensurabilidade31,
pela ação policial28 e a necropolítica que incide na que se articula à sexualidade, de modo a exigir
população masculina vem atingindo também as coerência e continuidade entre sexo, gênero e
mulheres que habitam estes territórios de exce- desejo32. Tais constructos culturais, imbricados
ção. Porém, em relação às vidas sem valor dessas ao próprio processo de constituição da Moder-
mulheres racializadas, pobres, migrantes, exer- nidade ocidental, podem determinar condições
cendo ocupações estigmatizadas e vivendo em de saúde, relegam sujeitos e populações marca-
regiões de apartheid, ainda pouco se fala. dos por variações de gênero e sexualidade a um
Nos países onde se implantaram políticas lugar de ininteligibilidade, não reconhecendo seu
neoliberais, que tiveram como consequência status de humanos33.
2000
Gomes R et al.

A literatura tem registrado violência inter- revisão da classificação da homossexualidade


pessoal, discriminação e seus efeitos em dispari- como condição patológica. O Conselho Federal
dades na saúde, com maior incidência de agravos de Medicina emite parecer em 1985 consideran-
- sobretudo aqueles mais sensíveis à vulnerabili- do que a homossexualidade per se não constitui
dade social e individual, como questões de saú- condição patológica47. Demandas por legislação
de mental e ligadas ao HIV e Aids; dificuldades antidiscriminatória, reconhecimento de uniões
no acesso a serviços e cuidados; vulnerabilidade homoafetivas, políticas de segurança pública e
programática e inadequação de serviços; e, no educação integram a agenda do movimento bra-
limite, o frágil reconhecimento desses sujeitos e sileiro desde seu surgimento48.
populações como sujeitos de direitos33-38. A inserção de LGBT na agenda política se
A produção científica brasileira sobre saúde e dá a partir dos anos 1990, por meio de ações
LGBTI focaliza em sua maior parte o HIV e Aids, focalizadas de prevenção ao HIV e Aids e da in-
único tema sobre o qual há produção sistemática clusão da categoria “homossexual” no I Plano
e regular de dados epidemiológicos, seguido pelo Nacional de Direitos Humanos (1996). Os anos
tema da violência, que aparece articulado à vul- 2000 representam o ápice desse processo de re-
nerabilidade individual e social para a infecção conhecimento, tendo como marcos: a criação do
pelo HIV, mas também para outros agravos, in- programa Brasil sem Homofobia (2004), a reali-
cluindo depressão, ideação e tentativas de suicí- zação da I Conferência LGBT (2008), a adoção
dio, abuso de substâncias e dificuldades de acesso de regulações voltadas a combater a discrimina-
a cuidados e serviços de saúde39-48. Apesar de im- ção e a assegurar o uso civil do “nome social” por
portantes esforços de pesquisa que acompanha- pessoas trans e o reconhecimento pelo Supremo
ram e possibilitaram a construção de políticas Tribunal Federal, em 2011, da união homoafetiva
públicas de combate à violência contra LGBT, estável como entidade familiar48,49. No campo das
não há produção e divulgação sistemática e re- políticas públicas, destacam-se a instituição, em
gular de dados sobre discriminação e agressões 2008, do Processo Transexualizador no Sistema
contra LGBTI. Único de Saúde; e, em 2010, da Política Nacional
A própria criação da categoria “homosse- de Saúde Integral a LGBT9-50,51.
xual” e sua identificação como uma “condição” A primeira metade da década de 2010 foi
constituiu-se historicamente como reação em marcada pela paralisia dessa agenda no âmbito
contextos de criminalização de relações sexuais federal e pela intensificação dos investimentos na
entre pessoas “do mesmo sexo”44. Ao longo da reversão de direitos. Multiplicam-se projetos de
segunda metade do século XX, dois processos se lei como o Estatuto da Família (PL 6583/13), que
desenvolveram paralelamente: a separação entre exclui uniões homoafetivas do rol das entidades
o que se chamou de “identidade de gênero” e ho- familiares reconhecidas pelo Estado brasileiro,
mossexualidade e, posteriormente, a despatolo- ou que buscam restringir a possibilidade de uso
gização da homossexualidade45. de nome social por pessoas trans.
A homossexualidade deixou de ser consi- Há, ainda, inciativas que apontam para a re-
derada transtorno mental em 1973, quando foi patologização da homossexualidade, atacando as
retirada do Manual Diagnóstico e Estatístico de condições de possibilidade de tomar essas popu-
Transtornos Mentais (Diagnostic and Statistical lações como sujeitos de direitos. Decisão liminar
Manual of Mental Disorders – DSM) pela As- emitida em setembro de 2017, pela Justiça Fede-
sociação Americana de Psiquiatria. No entanto, ral da Seção Judiciária do Distrito Federal, aca-
continuou na lista de doenças mentais até 17 de tou parcialmente o pedido de uma ação popular
maio de 1990, quando a 43ª Assembleia Mundial contra a Resolução 01/99 do Conselho Federal de
da Saúde decidiu por sua retirada da 10ª versão Psicologia52, que orienta os profissionais da área
da Classificação Internacional de Doenças (CID- a atuar nas questões relativas à orientação sexual.
10). Essa versão, porém, ainda conserva catego- A demanda se ampara em um dos resíduos pa-
rias que articulam homossexualidade e distúr- tologizantes mantidos na CID-1045,47 – a noção
bios mentais45,46. Frente a isso, há uma recomen- de “orientação sexual egodistônica” – e a decisão
dação de eliminação de qualquer vínculo entre judicial possibilita que terapias de reversão sexu-
orientação sexual e doença para a edição 11a da al voltem a ser utilizadas de modo legítimo no
CID a ser publicada46. Brasil.
No Brasil dos anos 1970, as primeiras ações Tal cenário remete a reflexões críticas tecidas
do nascente movimento homossexual incluíram na passagem para os anos 2010, acerca das difi-
a mobilização de ampla campanha em favor da culdades de converter políticas públicas em legis-
2001

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lação53 e do escopo efetivamente alcançado pelas definição das vivências trans, em especial a tran-
políticas direcionadas a LGBT, vistas como frag- sexualidade, como categoria psiquiátrica59.
mentárias, pontuais e periféricas49. Esses avanços, A noção de gênero como um componente
ancorados num contexto de reconhecimento de diferenciado do sexo biológico, modelado pela
direitos sexuais e reprodutivos e de combate à educação, fixado nos primeiros anos, irreversível
intolerância no âmbito das Nações Unidas54, fra- e prevalente em relação às características físicas
gilizam-se sensivelmente ao sabor dos processos na maturidade sexual60, foi introduzida na déca-
transnacionais de politização reativa das mora- da de 50 quando pesquisadores investigaram as
lidades e do campo religioso55,56. No Brasil, bem relações entre a identidade nuclear de um indi-
como em vários países, tais processos, caracteri- víduo, sua anatomia, seus cromossomos e seus
zados como uma “onda conservadora”, consti- hormônios. Nesse sentido, recomendaram que
tuem-se a partir de linhas de força que articulam em bebês intersex o sexo deveria ser definido a
manifestações de intolerância social, celebração partir de marcadores biológicos, e em crianças
da meritocracia e do empreendedorismo, impo- maiores e adultos a referência seria o gênero ma-
sição de restrição à atuação estatal e demandam nifestado42,61.
por políticas de segurança mais punitivas e re- Em 1964, Stoller62 apresentou o termo “iden-
pressivas57. tidade de gênero” para se referir ao sentimento de
Os efeitos de tal conjuntura política já se fa- pertencimento a um determinado sexo. Baseado
zem sentir na epidemia de HIV e Aids, com o na vivência de pessoas trans, considerou que, ao
crescimento das taxas de incidência, fortemente dissociar a percepção de si de atividades e fanta-
concentradas em segmentos sociais específicos e sias sexuais, este termo significaria melhor a sen-
das, já elevadas, taxas de mortalidade. Atualmen- sação de pertencimento a um determinado sexo
te, a prevalência de HIV entre HSH – homens do que a ideia de “papel de gênero” introduzida
que fazem sexo com homens – é de 19,8% com por Money e seus colaboradores63.
25 anos ou mais de idade e registra-se incremen- Diante disso, o discurso médico reconfigu-
to de 32,9% na proporção de casos de Aids entre rou-se balizando intervenções sobre os corpos
homossexuais e bissexuais na última década58. não normativos e a organização de serviços. A
Pesquisa com travestis e mulheres transexuais no conceituação da identidade de gênero e seu cará-
Rio de Janeiro indica 31,2% de prevalência para ter imutável tornou-se referência para protocolos
o HIV38. médicos para a gestão da intersexualidade e ou-
Como único aspecto da saúde de LGBTI mo- tras condições de discordância entre identidade
nitorado sistematicamente ao longo do tempo no de gênero e anatomia, como a transexualidade62,
Brasil, os dados sobre o HIV e Aids alertam sobre sendo este o sinal clínico para a modificação cor-
a piora e a gravidade das condições de saúde de poral do sexo e critério de acesso à assistência60 a
LGBTI. Indicam, ainda, a urgência de reafirmar a ser verificado a partir de um processo de avalia-
relação necessária entre a promoção da saúde e a ção psicológica64.
proteção/promoção dos direitos humanos e dos Embora a diretriz clínica internacional atual
direitos fundamentais dessas populações. seja mais flexível, despatologizada65, tente escapar
ao binarismo de gênero e considere a multipli-
Reconhecimento da pluralidade de gênero cidade de trajetórias e necessidades de pessoas
e o limite aos direitos dos corpos trans, o acesso à modificação corporal do sexo se-
fora da norma gue ainda um modelo avaliativo e psiquiatrizado
que compreende pessoas trans como portadoras
Forjado no contexto de formalização dos pro- de Disforia de Gênero. No Brasil, igualmente e a
cedimentos de modificação corporal do sexo em despeito do posicionamento do Conselho Fede-
pessoas trans e intersex, a separação conceitual ral de Psicologia através da Resolução 01/201866,
entre sexo e gênero materializada pela noção de a assistência é patologizada e centrada no diag-
identidade de gênero foi essencial para a incor- nóstico de Transtorno de Identidade Sexual com
poração das necessidades em saúde de travestis e destaque ao exame da identidade de gênero auto
transexuais. Amplamente utilizado, este conceito, atribuída o que denota um propósito de regula-
que está atrelado à reconceitualização do sexo al- ção das identidades e de normalização dos cor-
cançada no século XX e à viabilidade técnica para pos trans.
realizar modificações corporais do sexo em pes- Se por um lado a constituição do conceito de
soas trans, se tornou a principal referência para o identidade de gênero foi fundamental para o re-
acesso a este tipo de cuidado e contribuiu para a conhecimento das vivências trans e acolhimento
2002
Gomes R et al.

de suas demandas, por outro nota-se que, atraves- Trans-sexualizador no SUS. Seja pela invisibiliza-
sado pela matriz cisheteronormativa, o mesmo ção de outras necessidades que não a modifica-
reitera a normatividade que pressupõe uma coe- ção corporal, seja pela impossibilidade concreta
rência entre sexo e gênero que patologiza as iden- ou burocrática de acessar serviços, potenciali-
tidades e corpos fora da norma como naturaliza zadas pela transfobia, o fato é que o CIStema de
as vivências cis e binárias. Ao mesmo tempo em saúde frequentemente viola direitos e negligencia
que visibiliza as especificidades de pessoas trans, os não-cisgêneros.
paradoxalmente, naturaliza o modelo cisgênero e Nesse panorama, destaca-se o acolhimento
binário dos sexos no sistema de saúde, o que além de pessoas trans em contextos não relacionados
de limitar e/ou excluir sujeitos trans, agencia a in- às modificações corporais do sexo. Em conse­
terpretação destas vivências como uma identida- quência da lógica binária e cisgênera que orienta
de de gênero em si mesma e que, por estarem fora o sistema de saúde, além de frequentemente te-
da norma, precisam ser nomeadas. rem violados seus direitos ao sigilo, privacidade
Um exemplo disso é a sobreposição entre e direito ao uso do nome social, assegurados na
a noção de identidade de gênero e as vivências Carta dos Usuários do SUS (2007), muitas vezes
trans denotada pela preocupação em averiguar a são efetivamente impedidos de acessar serviços e
“verdadeira” identidade de gênero destes sujeitos procedimentos por questões burocráticas e ope-
e pela ideia de que este é um atributo exclusivo de racionais de um CIStema que não prevê atendi-
pessoas trans. A ideia de que vivências cisgêneras mento para identidades e corpos não normativos
são normais e inquestionáveis e não resultado da e suas necessidades em saúde.
sujeição às regulações do gênero e da repetição No contexto hospitalar, por exemplo, há
reiterativa das normas67, conduz a compreensão casos de alocação de pessoas trans em salas de
de que a atribuição de gênero e construção iden- emergência e enfermarias em desacordo com sua
titária são uma particularidade daqueles que es- identidade de gênero fora do Processo Transse-
tão fora da norma. xualizador. Frequentemente é negado a quem
Tal fato pode ser observado claramente no não fez requalificação civil a alocação em setores
Sistema de Informação de Agravos de Notifica- compatíveis com sua identidade de gênero, o que
ção (SINAN) por Violência Interpessoal ou Au- além de ser uma violência por não reconhecer a
toprovocada cuja ficha de notificação/investiga- autodeterminação do gênero viola o direito à pri-
ção e instrutivo revelam uma naturalização da vacidade e ao sigilo.
cisgeneridade e a intepretação das vivências trans Fora do contexto hospitalar, destaca-se a limi-
como sinônimo da identidade de gênero. Além tação ou impossibilidade de oferta de linhas de
de no campo “sexo” não haver qualquer esclare- cuidado vinculadas ao gênero para pessoas trans,
cimento se este item se refere ao sexo biológico como é o caso da assistência ginecológica e obs-
ou do registo civil, há uma recomendação do ins- tétrica e ao acesso ao aborto legal. O fato desse
trutivoViva68 que, no caso de pessoas trans, deve tipo de assistência ser generificado e exclusivo
ser preenchido o campo “identidade de gênero” para usuárias do gênero feminino, inviabiliza a
que, com as opções “travesti”, “mulher transexu- atenção a homens trans em decorrência da não
al”, “homem transexual”, “não se aplica” e “igno- conformidade entre sexo e gênero vivenciada por
rado”, revela a interpretação das vivências trans eles. Assim, se para aqueles que não realizaram re-
propriamente como identidades de gênero que qualificação civil o reconhecimento de sua iden-
por estarem fora da norma precisam ser formal- tidade de gênero paradoxalmente pode invisibili-
mente identificadas. zar a necessidade dessas modalidades de atenção,
Há também a questão da compreensão da para os que passaram por esse processo isto é um
identidade de gênero como determinante social problema burocrático dado que no Brasil a oferta
da saúde. Ainda que o entendimento de que este desses cuidados não está prevista para pessoas de-
componente interfere nas condições de saúde signadas com o gênero masculino.
daqueles que apresentam identidades não nor- Assim, apesar da relevância do conceito de
mativas seja extremamente positivo, isto revela identidade de gênero, a utilização acrítica do
a insuficiência do sistema de saúde que, cisnor- caráter reiterativo da normatividade cisgênera e
mativo e binário, exclui e impõe limites às pes- binária desta noção pode reforçar a vulnerabili-
soas trans no exercício desse direito, a despeito dade em saúde de pessoas trans e o negligencia-
de alguns esforços do poder público em enfrentar mento destes e de outros sujeitos cujos corpos e
sua vulnerabilidade, como o reconhecimento do identidades estão fora da norma. Apesar de sua
uso do nome social e formalização do processo importância é fundamental problematizá-lo para
2003

Ciência & Saúde Coletiva, 23(6):1997-2005, 2018


que seja possível efetivamente colocar em práti- político, muitos deles criados por conta de mo-
ca o exercício do direito a pluralidade de gênero vimentos sociais de defesa de direitos humanos,
fora das amarras do CIStema. e, de outro, iniciativas que procuram enfrentar o
feminicídio e a não assistência adequada às pes-
soas que não são cisgêneras. Mas ainda há muito
Considerações Finais a fazer para a garantia dos direitos à saúde e à
vida de mulheres e de pessoas LGBTI, entenden-
Para além de se abordar questões de saúde de po- do-as como sujeitos dotados plenamente de hu-
pulações específicas – mulheres e LGBTI – neste manidade e de exercício de direitos.
artigo evidenciaram-se construtos culturais que Por fim, reafirma-se, com base na literatura
estão na base das sociedades ocidentais moder- especializada, que gênero e sexualidade se cons-
nas e que conformam gênero como relação social tituem como determinantes sociais da saúde, ar-
de poder. Assim, a leitura dos corpos de homens ticulando-se a outros determinantes, como ques-
e de mulheres a partir de um dimorfismo sexual tões raciais ou socioeconômicas. Como decor-
incomensurável aparece articulada à desvaloriza- rência disso, é reforçado o pleno reconhecimento
ção social das mulheres; separação entre sexo e e promoção/garantia dos direitos humanos e
gênero que mantém o sexo como referência es- fundamentais de mulheres e de LGBTI como
perada para a expressão e a identidade de gênero; condição necessária para o alcance de melhores
expectativa de continuidade entre sexo, gênero e condições de vida e de saúde para essas popula-
desejo. ções, sobretudo nos contextos políticos nacionais
Nos 30 anos de existência do SUS, não se pode e internacional nos quais tais direitos estão parti-
desconsiderar, de um lado, avanços no campo cularmente afetados.

Colaboradores

R Gomes, D Murta, R Facchini e SN Meneghel


trabalharam por igual de forma colaborativa.
2004
Gomes R et al.

Referências

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