You are on page 1of 20
~ 857) Fene Processos cognitivos, emocionais e motivacionais 1. Processos cognitivos er teed 1.1. As capacidades cognitivas do sujeito: atencao, concentracao, = i percecao, aprendizagem, memoria, inteligéncia e pensamento Sich Fig. 1] © conhecimento, «Todos os homens tém, por natureza, desejo de conhecer.» Aitételes Parece, de facto, que 0 desejo de conhecer € natural no ser humano. Como jé vimos em Piaget, o conhecimento constidi-se na interagao entre o sujeito e 0 mundo, mas tal projeto $6 é possivel porque a crianga & dotada de uma intencionalidade em relagdo a rea- lidade, isto &, nao fica & espera de que a realidade venha ter com ela, ela que a procura, que a quer conhecer. Quais sao entao os fatores envolvidos no ato de conhecer? Imagina que estés numa visita de estudo a uma fabrica de auto- moéveis e que 0 objetivo da visita é ficares a saber como funciona um carro. Que capacicades cognitivas tens de ter para alcangares esse objetivo? ‘A primeira resposta em que pensarias é provavelmente esta: 0s sentidos. Se bem que os sentidos nao sejam uma capacidade cogni- tiva, a tua resposta é aceitavel. Se, por exemplo, ndo visses os cartos, estarias em condigdes de perceber como funcionam? A resposta 6, por agora, sim, No entanto, todos conhecemos 0 caso dos invisuais. Sera que nao percebem como funciona um carro? Claro que percebem. Podem tocar no carro para ficar com uma ideia dos materiais com que é feito ou da sua forma, podem ouvir as explicagées do dono da fabrica ou do mecanico sobre as varias pegas que o constituem e ficam certamente com uma boa ideia do que ¢ um carro. Imagina agora um caso mais extremo, alguém que nao tenha um tinico sentido. Poder formar alguma ideia acerca da realidade? Nao, porque é precisamente a faculdade de sentir que nos permite contactar com o mundo que existe fora de nés, Sem essa abertura para a realidade exterior que sao os sentidos, nao a poderfamos canhecer. Sendo assim, se os sentidos sao fundamentais para conhecermos a realidade, de que modo se relacionam com as capacidades cognitivas? Qual a relacao entre sentir e conhecer? Para perceberes bem esta dificil questao, considera o objeto que tens a tua frente, 0 ‘manual de psicologia. Os teus olhos esto a ver um livro que, neste caso, é 0 manual de psi- cologia? Toma mais atencao ao que estis realmente a ver. Vés um objeto a que chamas livto, ves umas cores conjuntas num espaco confinado a que chamas fotografia, vés uns sinais, pretos a que chamas letras, e que sabes que podes juntar em palavras para formar frases, Na verdade, nao vés um livro, fotografias, letras, palavras ou frases. E, no entanto, chamas livro, fotografia ou letras ao que vés. Sabes por que razdo és capaz de o fazer? Bem, porque a tua mente configura as sensagGes obtidas pelos sentidos, neste caso a visdo, segundo deter- minadas formas ou ideias. Mesmo que nao estivesses agora a olhar para um livro, saberias co que é um livro, porque tens na mente o conceito de livro. cy Quando recebemos sensagdes provenientes da realidade, interpre- tamo-las quase imediatamente, de modo que, quando nos damos conta delas, j nao sdo puras sensagdes mas interpretagdes. Como isto acontece muito rapidamente, tendemos a identificar estes dois momentos, mas eles sio de facto distintos. Assim, quando dizes que vés um carro, nao estas a ver de facto um carro, mas um conjunto de formas e cores. S6 quando identificas esse conjunto de formas e cores com a ideia de carro que existe na tua mente é que podes de facto dizer que 0 objeto a tua frente é um carro, Dito de outra maneira, ndo temos a sensagao do carro mas sim a sua percecao, © A percegio ¢ o resultado da interpretagdo que fazemos dos dados da experiéncia. Ea partir dela que podemos conhecer o mundo que nos rodeia ‘Voltemos ao exemplo do carro. E razoavel pensar que sem percegdes nao ha conhecimento acerca do mundo, mas seré que basta ter perceges para que haja conhecimento? Claro que nao. Tens também de estar atento s percegdes. Se estiveres desatento, elas simplesmente desaparecem e nao tens possibilidade de as recuperar. Imagina que estés a observar um motor em funcionamento e um colega teu te pergunta se amanha ha teste de psicologia. Neste momento, tens que tomar uma decisio: ou prestas atengo a observacio do funcionamento do motor ou prestas atengdo 8 pergunta do teu colega. * Aatengao é um processo de selecao de estimulos pelo qual relevamos uns, os que consideramos importantes, ¢ descartamos outros. Se 6 necessario que selecionemos os estimulos, é também fundamental que sejamos capa- es de fixar a nossa atengio nos estimulos selecionados. E para isso que fazemos a selegio. E isso 6 a concentragio. * A concentragio é a capacidade de fixar a atengdo nos estimulos relevantes. Se esses estimulos s4o importantes, por isso os selecionamos e fixamos sobre eles a nossa atengao, temos de os poder reter, pois de outro modo desapareceriam da nossa mente endo teriamos possibilidade de os recuperar. E esse o papel da meméria. * Ameméria 60 processo cognitivo pelo qual adquirimos, retemos e recordamos con teiidos. Temos agora dispontvel um vasto conjunto de contetidos, mas isso, por sis6, permite que conhegamos o mundo em vivemos e ajamos nele intencionalmente? Nao. Ter contetidos é importante, mas necessitamos de poder organiz4-los em redes de significagdo, isto 6, precisamos de thes dar um sentido. $6 assim tém utilidade para nés. Se formos capazes de estabelecer essas relagbes entre contetidos, se formos capazes de agit tendo em vista atingir determinada finalidade, entao isso prova que somos seres inteligentes. © A inteligéncia é a faculdade que permite ao sujeito fazer escolhas acertadas, que the permite coordenar os meios adequados para atingir os fins propostos. 6 Fig. 2 | Percegio visual. Processos cognitivos, emocionais motivacionais A inteligéncia permite-nos, em coordenagdo com a percecdo e a meméria, realizar outra importantissima fungao: aprender. Porque somos caylazes de aprender, ndo necessitamos de passar continuamente pelas mesmas experiéncias. Prevemos consequéncias e modificamos ‘comportamentos para atingir os objetivos propostos, antecipamo-nos as circunstancias. © Aaprendizagem é um processo que leva a uma alteragio relativamente duradoura no comportamento, como resultado da experiéncia Porfim, o pet que nos permite refletir sobre nés e sobre o mundo que nos rodeia, que nos permite conceber as leis da natureza e as regras do proprio raciocinio que usamos. amento é a faculdade que permite que nos afastemos da realidade imediata, * O pensamento é uma atividade da mente pela qual estruturamos concetualmente, de acordo com determinadas leis, a realidade. Fig. 3] Ea fotografia uma interpretagio da realidade? - RNB A tividades 1. Identifica as afirmagdes verdadeiras e as afirmagies falsas e corrige as falsas, 1.1. Sem sentidos nao podemos conhecer 0 mundo. 1.2. Quando vemos uma floresta, estamos a ter uma percecao. 13. A concentragao fixa os esti ulos selecionados pela atengao. 1.4. Pode haver aprendizagem sem memiéria, pois é a inteligéncia que nos permite a importantissima funcio de apre 1.2. O conceito de inteligéncia 1.2.1. A perspetiva das inteligéncias miltiplas de Gardner ‘Como jé vimos, a inteligéncia é um proceso cognitivo. Embora existam varias concegSes acerca do que é a inteligén- cia, vamos referir-nos a duas delas em particular, a concecéo unitéria da inteligéncia, defendida por Spearman, e a concegio das inteligéncias miltiplas, defendida por Gardner. Charles Spearman, um investigador norte-americano do inicio do século XX, defendeu que a inteligéncia tem um caréter unitério. Existe em cada individuo uma mesma inteligéncia, que se manifesta aproximadamente da mesma maneira nas, vérias éreas a que se aplica. Para fundamentar a sua teoria, Spearman conduziu um conjunto de testes de inteli- géncia nas mais variadas dreas ¢ chegou a conclusao de que os resultados nessas diferentes reas eram aproximados, pelo que concebeu a inteligéncia como uma capacidade global, relativamente independente da sua aplicagao a circunsténcias particulares. Assim, a apti- dio para resolver problemas de ambito cognitivo tanto se aplicaria & capacidade para des- cobrir o que funciona mal num reldgio, para resolver uma equago do segundo grau ou para interpretar corretamente um determinado enunciado linguistico. Chamou a esta capacidade fator G’ No entanto, e como dissemos, as correlagies entre as varias éteas de aplicagio da inte- ligéncia nao eram perfeitas, pelo que admitiu a existéncia de um segundo fator condicio- nante da inteligéncia, o fator $?. Este fator é menos importante do que o fator G e € predominantemente adquirido, enquanto o fator G é predaminantemente inato. Esta teo- ria ficou conhecida como a teoria bifatorial da inteligéncia ene et a ‘Comum a todas as manifestagses Dependente de cada area de aplicagso da inteligéncia dda inteligéncia Predominantemente inato Predominantemente adquirido Howard Gardner, também um investigador norte-americano, da segunda metade do século XX, discorda desta concegao da inteligéncia. Para este investigador, nao existe uma inteligéncia principal e uma secundaria; existem miiltiplas inteligéncias, ‘Uma das dreas estudadas por Gardner foi a dos individuos que mostram excecionais, qualidades num campo especifico da inteligéncia, por exemplo na matemética, mas pou- cas competéncias em outros dominios, como por exemplo na capacidade de estabelecer De inwighrca gra De intaigéres orp ” ‘Fig 4 | Haveré uma intligéncia especifica para jogar xadrez? Processos cognitivos, emocionais e motivacionais relacdes com os outros. Os dados que obteve nas suas investigagées nao coincidiam com 08 de Spearman. Concluiu que era perfeitamente possivel que um individuo revelasse grandes competéncias numa drea e poucas ou nenhumas noutra, Encontrou nove tipos diferentes de inteligéncia fide Atividades 1. Identifica as afirmagSes verdadeiras e as afirmagies falsas ¢ corrige a falsas. 1.1, Segundo Spearman, quando um individuo é mais inteligente do que outro, isto quer dizer que tem, & partida, uma maior aptidao para resolver qualquer tipo de problema cognitivo. 1.2. Segundo Spearman, existe uma inteligéncia geral (fator G) que nao tem qualquer rela- <0 com a inteligéncia especifica (fator S). 1.3. Spearman defendeu que a inteligéncia geral é, sobretudo, adquirida com a experién- 1.4. Gardner nega a existéncia de uma inteligéncia geral (ator G). 2. Responde & seguinte questio: 2.1. Podemos afirmar que a tearia de Sperman ¢ a teoria de Gardner sio teorias opostas? Justifica ee ‘Competéncia em lidar com conceitos,abstagBes e relagdes de causali- dade. CCompeténcia em lidar com palavrase com a linguagem em geal. CCompeténcia em identifcar diferentes frequéncias ritmos e timbres. CCompeténcia na compreenséo das relagbes que os objetos apresentam no espago. Competéncia no controlo dos movimentos corporas, ‘Competéncia no autoconhecimento. ‘Competéncia na compreensio dos outros. ‘Competéncia na identifcagao e lassificagio da natureza, ‘Competéncia na compreensio do sentido da vida 78 1.3. O conceito de pensamento 1.3.1. A distingdo entre pensamento convergente e pensamento divergente Outra importante distingao a fazer é entre pensamento convergente e divergente. Para que entendas bem a distingao, propomos-te a resolugao de um problema: Es capaz de ligar todos os pontos da figura, usando quatro linhas retas e nao levantando a caneta do papel? Se conseguiste encontrar a solugao, nao terd sido a primeira tentativa. Comecaste por tentar, certamente, desenhar as linhas tetas no quadrado limitado pelos pontos exteriores. Comegaste por tentar as solugdes mais naturais, aquelas que, na maior parte das situagies, sao as mais indicadas. Mas como percebeste, nem sempre resultam. E, quando nao resul- tam, ha que tentar uma abordagem diferente dos problemas, hé que procurar outras vias de investigagao que nem sequer, numa primeira andlise, tinham sido consideradas. O que é, entao, o pensamento convergente? F 0 tipo de pensamento no qual, pela aplicagéo mais ou menos mecénica de um conjunto de regras objetivas, acreditamos encontrar a melhor solucdo possivel para um determinado problema. Ora, verdade é que ficamos muitas vezes dececionados com as solugdes encontradas. 5 | Convergnte. Acreditamos muitas vezes que hé outras solugdes mais ade- quadas para o problema, embora no seja evidente que solugdes possam ser essas. £ neste momento que recorre- mos ao pensamento divergente, que equacionamos novos pontos de partida para os nossos pensamentos, novas metodologias de andlise e, consequentemente, novas solu Ges, de que resultam perspetivas inovadoras, Se voltares a olhar para a imagem dos nove pontos, agora que ja sabes a solugao do problema, nao terés provavelmente a mesma percegdo que tiveste quando olhaste para ele pela primeira vez. Agora, é como se a imagem estivesse aumentada, vés, ndo s6 o espago limitado pelos pontos, mas também o espaco a sua volta, porque sabes que esse espaco faz parte da solu- cio do problema, enquanto antes era 56 espaco vazio que néo merecia a tua aten¢ao. Fig. 6 | Divergente, Assim, 0 pensamento divergente é aquele que, partindo da exploragao em miltiplas e diferenciadas diregdes, procura encontrar as solugoes inovadoras que melhor respondam, ao problema dado. 79 Fig. 7 | Metacognicgo. Processos cognitivos, emocionais e motivacionais 1.3.2. A distingao entre cognicao e metacognicao Ja sabes o que é o pensamento. E a faculdade que te permite compreender e estruturar a realidade. Pensamos porque somos seres racionais e, uma vez que somos racionais, podemos, realizar cognigdes. Podemos conhecer os objetos da natureza, conhecermo-nos a nés € aos outros porque temos cognigées. * A cognigio é 0 processo ou 0 ato de aquisi¢ao do conhecimento. Imagina que estés a compreender muito bem a matéria que estas a estudar neste momento, Estas a realizar varias cognig6es. Considera agora que nao compreendeste nada do que leste neste manual ou que estavas perante um texto com um nivel de complexidade muito maior do que este, © que farias? Desistias de querer compreender a matétia? Vamos admitir que nao. Neste caso, se quisesses verdadeiramente compreender o que estas a ler, terias de tentar perceber qual a razo ou raz6es que estavam a impedir a tua compreensio. Para isso, terias de tentar perceber quais so as estratégias que estas a utilizar para estudar e por que nao esto a ser bem-sucedidas. Ora, quando comegas a refletir sobre 0 modo como conheces, sobre as estratégias que utilizas para conhecer, entras no plano da metacognigdo. Nao se trata simplesmente conhecer, mas de pensar 0 proprio ato de conhecer. * A metacognigao é 0 ato de reflexio sobre 0 conhecimento ¢ sobre 0s processos de aquisicao de conhecimento. E quais so as vantagens da metacognigio? Nao seria suficiente ficarmo-nos pelas cognigées, que nos do 0 conhecimento, pelo menos aproximado, da realidade? Provavelmente, j4 percebeste as vantagens da metacognico a partirdo exemplo acima dado. Tens um problema que nao consegues resolver e, para o solucionar, precisas de uma cognigao que nao é capaz de realizar. O que fazer? Na verdade, jé te demos a solugio. Tens de usar uma metacognigao. Tens de perceber por que ndo ests, ser bem-sucedido na cognigo que queres realizar. Se nao percebes, ‘um texto que tens de estudar, deves fazer-te perguntas como: + Seré que estou suficientemente motivado para esta aprendizagem? Seré que estou suficientemente concentrado? Sera que tenho as condigSes ideais para compreender o texto (sem distragdes como teleméveis, televisdes, etc:)? Sera que devo identificar primeiro o significado exato de cada palavra do texto? Seré que devo ir fazendo uma sintese do que vou lendo, para uma melhor com- preensio? Como estas, muitas outras perguntas poderiam ser feitas, mas o que é importante perce- beres é que, se tentares refletir sobre as raz6es que levaram a que nao tivesses conseguido realizar as cognigdes que pretendias, podes provavelmente identificar aquelas que te levaram a falhar. E, se fores capaz de perceber quais foram, podes encontrar estratégias altemnativas que te permitam ultrapassar as dificuldades anteriores ¢ realizar as cognigées pretendidas. 80 2. Processos emocionais ? 2.1, O conceito de inteligéncia emocional e suas implicagées nas. relacdes interpessoais Até ao século pasado, a inteligéncia esteve sempre ligada aos aspetos cognitivos da mente. Ser inteligente significava ter competéncias lingufsticas e Iégico-dedutivas, ter capacidades de compreensao e de céleulo. A partir de meados do século XX, um conjunto cada vez maior de investigadores veio a reconhecer que a inteligéncia ndo pode ser simplesmente identificada com a cognicao. Thorndike foi um dos primeiros a reconhecer este facto, propondo o conceito de inteli- géncia social, que abarcaria as capacidades relacionais dos individuos. J4 no final da segunda metade do século passado, Payne utilizou pela primeira vez 0 conceito de inte- ligncia emocional, e a partir dessa data redobrou-se o interesse dos investigadores por essa drea da psicologia, uma das mais estudadas e debatidas nos dias de hoje. © que € a inteligéncia emocional? * A inteligéncia emocional é a capacidade de identificar sentimentos, no proprio e nos outros, e de os saber gerir. As descobertas feitas sobre a inteligéncia emocional tém tido aplicagdes em areas muito distintas, mas hé uma em que sdo especialmente relevantes: a da psicologia organizacional, Os gestores de recursos humanos das empresas estavam habitualmente interessados ras pessoas mais competentes do ponto de vista técnico, perfil que correspondia aqueles que tinham uma maior inteligéncia cognitiva. Eram esses que procuravam, em primeiro lugar, contratar para as suas organizagoes. Hoje em dia, as empresas sao cada vez mais dependentes do trabalho em equipa e por isso valorizam cada vez mais os funciondrios que sdo capazes de criar ambientes positivos de trabalho. De facto, hé individuos que tém dificuldade em encontrar 0 seu equilibrio ‘emocional, o que faz com que nao sejam capazes de estabelecer relacdes de cumplicidade € confianga com os outros. Tém poucas qualidades de lideranca, pois nao so capazes de motivar os outros, ¢ tornam-se-frequentemente fonte de conflitos no local de trabalho. Desta forma, pem em causa os objetivos da organizacéo e poem por isso a sua carreira profissional em risco. Aqueles que forem capazes de desenvolver a sua inteligéncia emocional terdo maiores niveis de moti- vvacdo'e mais facilidade em estabelecer relagdes since- ras e empaticas com os outros, provocardo menos conflitos, terdo uma maior capacidade de lideranga e uma maior probabilidade de construir uma carreira bem-sucedida. Num inquérito realizado nos Estados Unidos, onde se perguntou aos donos das empresas quais 08 mais importantes critérios para a contratagao de funcionatios, os dois primeiros foram a atitude e as competéncias comunicativas do candidato, precisa- mente carateristicas daqueles que tém uma boa inte- ligéncia emocional. ; 5 | Intetigéncia emocional a Processos cognitivos, emocionais e motivacionais Médulo 3 { ( Tansénina vida pessoal a inteligéncia emocional é muito importante. Proporciona um | melhor equilfbrio interior, maiores niveis de motivagao, relagdes pessoais mais fortes e uma melhor satide psicossomatica’. As relagdes com a familia, com os amigos, com a vizi- nhanga e com a sociedade em geral seréo muito mais auténticas, o que proporcionard niveis de bem-estar e autorrealizacao muito elevados. ev = fds Atividades “1% 1 Identifica as afirmagdes verdadeiras e as afirmacies falsas ¢ corrige as falsas. Coguecad tecbaca ugh 1.1. A metacognigdo nao tem qualquer valor, pois para conhecermos néo necessitamos de pensar sobre os processos de aquisigdo do conhecimento. 11.2. A metacognigao é 0 processo ou ato de aquisigao do conhecimento. 1.3. A inteligéncia emocional nao se centra nas cognigées. 1.4, Existe uma relacio entre a inteligencia emocional e a sate psicossomatica, 2. Responde a seguinte questao: 2.1. Por que raz3o, em teu entender, a inteligéncia emocional tem uma aplicagao privile- giada na psicologia organizacional? Gest 2.2. Relagies entre os pensamentos e as emogdes «0 coragio tem razies que a propria razio desconhece.» alae Pascal A teflexdo sobre a relagdo entre o pensamento e as emogies é das mais recorrentes na historia da humanidade. Como indiciam as palavras de Pascal, parece que ha algo de i dutivel nas emogées, que as faz escapar completamente ao dominio racional. Este cardter imprevisivel das emogdes faz com que tanto nos possam levar a compor~ = tamentos apropriados como a afastar-nos deles. Por isso, a tradigao ocidental decidiu dar a razao o papel de comandar as emogdes, uma vez que assim se garantiria que nao se mos em nenhuma circunstancia comandados por emogGes negativas, que nos poderiam. levar a pensamentos ou comportamentos desadequados. Jé na Grécia Antiga, o bergo da civilizagio ocidental, Platao usou uma analogia para representar a relacdo que, na sua opinio, deveria haver entre pensamento emogio. Ima- ginou um carro puxado por dois cavalos, um branco e outro preto, conduzido por um. homem. Os cavalos representam os desejos e a emogdes, as piores (0 cavalo preto) e as melhores (0 cavalo branco}, enquanto 0 condutor representa o pensamento racional. E responsabilidade do condutor comandar, indicar a direcao, e é dever dos cavalos obede- cerem, ditigirem-se para onde o condutor determina. Ora, segundo Platao, o mesmo deve ‘autla que pega smltaneamente o said fica epsicoiéica, fa a tp? acontecer no homem. Nao devem ser as emogdes e os desejos a comandar, mas o pensamento a determinar os comportamentos adequados, qual cocheiro a ditigir 0 seu Esta concegao é hoje em dia sujeita a criticas. Nem a dis tingao tao claramente assumida entre pensamentos e emo- Ses nem o papel dado ao pensamento enquanto guia das emogdes so concegdes que muitos das autores aceitem, principalmente aqueles oriundos das ciéncias da natureza. Um dos mais importantes desses autores 6 0 neurocientista portugués Ant6nio Damasio. Fig, 8 | Uma das facetas da emogio. [EEE A ervocao.¢ um dos moto s da razao «Dado que também temos @ capacidade de refletire planear, temos um meio de controlar a influente tirania da erogao: chama-se azo. ronicamente, claro, os motores da raz2o também requerem emocso, © que significa que o pader da razdo é por vezes bem modesto. [ igna de crédito nos laboratios. Era dema 230, indubitavelmente ‘Ao longo da maior parte do século XX, a emacao nao foi di siado subjetiva, dizia-se. Era demasiado fugidia e vaga. Estava no polo oposto da a mais excelente capacidade humana, ¢ @razao era encarade como totalmente independente da emo- glo... A emogao ndo era racional, e estudé-la também nao era.» ‘A.Damisio, O Sentimento de S Mem Martine, Europa: América, 2000 Damésio defende, ao contrério de Plato, que uma razdo completamente separada das emogées, que as possa comandar a partir de fora, nao existe. O pensamento est em cons tante relacao de interdependéncia com a nossa biologia, com as emogées e com os senti- mentos. O pensamento nao existe fora deles; pelo contririo, pelo menos em parte, depende deles. Uma concecdo oradnica da mente humana #A compreensio cabal da mente humana requer a adogao de uma perspetiva do organismo... NBo s6 2 mente tem de passar de um cogitum* nao fisico para o dominio do tecido biolég) bem ser relacionad com todo 0 organismo que possui cérebro e plenamente interativo com um meio ambiente fisico e social.» América, 198 Morin [A Damisio, O Ere de Descan (© que sdo emogées, sentimentos e pensamentos, para Damasio? Emocio Conjunto de reagb Sentimento Experiéncia mental da emogao, onginicas de adaptagio ao meio, com vista & sobrevivéncia, Experiéncia consciente do sentimento, que leva produsdo de respostas mais complexas e especificas do que as dadas na emosdo. 83 Processos cognitivos, emocionais e motivacionais Segundo Damésio, tudo comeca com a emogao, uma resposta a um estimulo exterior. Essa emocao, diz Damésio, poderia talvez ser suficiente para a sobrevivéncia do individuo. ‘A maior parte dos organismos vivos adapta-se a0 meio desta maneira, responde aos esti- mulos com emogées que vao desencadear os comportamentos adequados, No ser humano, no entanto, a complexidade das respostas é muito maior. A partir da emogao, desencadeia-se um processo que leva ao sentimento, que por sua vez levaré ao pensa- mento. O objetivo tiltimo de todo este processo é uma adaptacao tao eficaz quanto possivel ao meio ambiente. No ser humano, a emogiio nao se limita a ser uma resposta que, uma vez dada, leva a uma melhor adaptagio. E uma reagdo a um do qual se desencadeia, primeiro, o sentimento e, depois, o pensamento. Pelo pensamento, tomamos consciéncia do estimulo que provocou a emogio, e esta tomada de consciéncia vai desencadear processos como seja o planeamento de respostas especificas ao estimulo, Estas respostas so muito mais adequadas ao estimulo do que aquelas que a emogao pode dar e so elas que dio ao homem uma capacidade adaptativa sem igual. Reagao organica [ Sentimento timulo, mas também o ponto inicial a partir Resposta mais ‘complexa e mais adequada A situacdo Fig. 10 | Resolugio de problemas, Emocdes ideias Sem qualquer excegao, homens e mulheres de todas as idades, de todes as culturas, de todos os _graus de instrucgo e de todos os niveis econdmicos tém emogdes, estdo atentos as emogdes dos outros, cultivam passetempos que manipulam as suas préprias emogGes, e governam as suas vides, em grande parte, pela procura de uma emagéo, a felicidade, e pelo evitar das emogaes desagradaveis. A primeira vista, ndo existe nada de caracteristicamente humano nas emocdes, uma vez que bem claro que os animais também tém emogdes. No entanto, h’ qualquer coisa de muito caracteristico no modo como: as emoges estdo ligadas as ideias, 20s valores, a0s principios e aos juizos complexos que s6 os seres humanos podem ter, sendo nessa ligagdo que reside a nossa ideia bem legitima de que @ emog3o. humana espacial. A emogo humana ndo se reduz ao prazer sexual ou 20 pavor de répteis. Tem a ver, igualmente, com o hortor de testemunhar 0 sofrimento e com a satisfagao de ver cumprida a justiga.» nto de S, Mem {A Damasio, O Senin 2000 2.2.1, Estratégias pa Sesto de crencas e emocées inadequadas A medida que crescemos, e por influéncia do processo de socializacao, vamos adqui- rindo um conjunto de crengas sobre aquilo que somos, acerca daquilo que os outros si0 e acerca do que 0 mundo 6. Uma vez que esse proceso é muitas vezes inconsciente, e quando é consciente por vezes nao é suficientemente escrutinado pela razao, acontece muitas vezes darmo-nos conta de que as nossas crencas sdo falsas. O feito placebo e a importancia das crencas «0 efeito placebo corresponde a um efeito nao especifico, isto é, a um efeito que nao deriva direta- mente da acéo farmacolgica de um dado medicamento. Este efeito é 0 que resuita, por exemplo, da administragao de uma substéncia farmacologicamente inert. Exemplifiquemos: podemos medicar, durante algum tempo, um grupo de individuos deprimidos, com ‘um comprimido contendo o principio tivo de um antidepressivo e obter, aquendo da avaliagdo, um out- come positvo isto &, uma significative melhoria, No entanto, podemos administrar a um outro grupo, com carateristicasclinicas semelhantes, um com- primido que mais nao seja que um rebugado ou uma vitamina, sem potencial efeito no humor. Este tltimo grupo, informado de estar a eceber tratamento com um farmaco antidepressvo, poderé apresentar, também, melhoria clinica.» Adelsido Costa tview-articleBid—40 i 220.p plindex, Pela leitura do texto, ficou clara a importancia das crengas que temos. Neste estudo, verificou-se que é porque se tem a convicgo de que se vai melhorar que efetivamente se melhora, e ndo pela agdo do medicamento que supostamente produziria a melhoria. Ora, podemos ter as mais variadas erengas. Podemos, por exemplo, acreditar que a nossa natureza é dada e imutavel, que nascemos de uma determinada maneira e ndo podemos mudar o que somos. Podemos acreditar que as nossas emogées sao demasiado fortes e que nao hé nada que possamos fazer para as controlar. Mas, pode muito bem acontecer que todas as crengas que tenhamos sejam falsas. Como é evidente, se nao reconhecermos a falsidade das nossas crengas, nao temos ‘uma boa razdo para as alterarmos. Devemos sempre analisar as novas crencas que adqui- rimos ¢ estar dispostos a rever aquelas que temos, por mais enraizadas em nds que possam. estar. Se nao o fizermos, cortemos 0 risco de viver com crengas desadequadas que impe- dirdo que formemos uma imagem imparcial e objetiva da realidade, de nés mesmos e dos outros com quem convivemos. Algumas das crengas mais nefastas que temos sao aquelas que contri- buem para formarmos uma imagem negativa de nés proprios. Se tivermos um baixo autoconceito, dificilmente encontraremos boas razSes para supe- rar as nossas dificuldades, uma vez que acreditamos que essas dificuldades resultam precisamente da nossa incapacidade. Aceitar uma situagdo nega- tiva como inevitavel é o primeiro passo para nunca conseguir superé-la Acreditar que ha um destino universal que comanda o universo e que no ha nada que possamos fazer para o contrariar, ou acreditar, pelo con- trdrio, que tudo se resolver no tempo certo, sem que necessitemos de NSeRteal 85 Processos cognitivos, emocionais e motivacionais intervir, sao afinal dois modos de desresponsabilizacao, pelos quais renunciamos a con- frontar-nos com a realidade. Acreditar que somos demasiados insignificantes para mudar alguma coisa num mundo governado por forcas tio poderosas é uma estratégia que usa- ‘mos para nos defendermos da nossa prépria dificuldade em conseguir mudar 0 nosso suposto destino. Hé, portanto, que acteditar que a nossa voz, ainda que baixa, pode ser ouvida, e que as nossas agdes, ainda que modestas, produzem efeitos. ‘Tal como as crengas, também as emogoes negativas podem afastar-nos de uma visio auténtica de nds mesmos e do que nos rodeia. Para continuarmos com exemplos da Grécia Antiga, agora da tragédia, pensemos em Medeia. Trafda por Jasdo, seu marido, mata os seus dois filhos, envolta em paixao, édio, ira e citimes. Quem estaria disposto a pagar um preco tao alto por uma vinganca? Ninguém, certamente, que fosse comandado pela razao. Fig. 12 |Medeia a matarum dos Temos, portanto, de saber controlar as nossas crengas e emogies. Para melhor o fazer seus Ble mos, devemos seguir uma estratégia adequada, de que aqui se dao alguns exemplos: © Conhecer as nossas crengas e emogdes: sabendo qual é a sua natureza, mais faci mente as podemos dominar; « Fazer uma autoavaliacao: avaliar quais s4o as crengas e emogSes a manter, a modi- ficar e a abandonar; ‘* Autodominio: poder controlar, em cada situagao, crengas e emocbes; = Conhecer as crengas e emogdes dos outros: encontrar pontos de contacto com as rnossas, se semelhantes, ou reconhecer diferencas, e a partir dessas diferengas refletir sobre a razao de ser das nossas crengas e emogies. | | di Atividades 1. Identifica as afirmagdes verdadeiras ¢ as afirmagies falsas e corrige as falsas. 1A. Damsio defende que uma razdo completamente separada das emogSes ¢ dos senti mentos nio existe Damésio defende que a capacidade de adaptagéo do ser humano comega no pensa- mento. [As nossas crengas tém uma importincia muito signifcativa nos nossos comportamen- tos. 14. Acreditar que ha um destino universal é uma forma muito racional de percebermos sms tum ctitério realista de intervengao na reali- ‘como as coisas so, pois s6 assim te dade. 2. Responde as seguintes questdes: 2.1. Segundo 0 texto 3, em que medida a emogdo humana se diferencia das emogies dos restantes animais? Tustra a tua resposta com expresses ou frases do texto, 2.2. Com base na tua experiéncia, concordas que devemos controlar as nossas crengas & emogies? Justifica a tua resposta. ge 86 3. Processos motivacionais Gye conceito de motivacao Como acabémos de ver, as competéncias cognitivas tém-se tornado cada vez menos importantes na avaliagao das capacidades globais dos individuos. Outras competéncias, como as motivacionais, tém sido cada vez mais valorizadas pelos investigadores destes temas. Muitos dos nossos fracassos, scjam eles pessoais ou profissionais, no dependem de falhas cognitivas, mas de falhas motivacionais. Como disse Henry Ford, «Se alguém acha que consegue fazer uma coisa ou acha que nao consegue fazé-la, tem razdo». E claro que temos de ter capacidades cog- nitivas, mas to importante como té-las é acreditar que as podemos mobilizar de forma a atingir os fins pretendicos. Se acreditarmos nas nossas possibilidades, mais facilmente alcangaremos os nossos objetivos. O que é a motivagao? * A motivagao é 0 conjunto de forgas que orientam o organismo para uma determinada finalidade. Existem trés tipos de motivagdes + As motivagoes fisiolégicas; + As motivagies sociais; * As motivagées combinadas. As motivagées fisiolégicas nascem connosco, nao resultando por isso de qualquer aprendizagem. Sao determinadas biologicamente e visam satisfazer as necessidades basi- cas de sobrevivéncia e de equilibrio do organismo. A fome, 0 sono e a sede sio exemplos destas motivagies. As motivagées sociais tém na sua base necessidades sociais como o convivio, o ser aceite pelos outros e 0 obter a sua aprovacao ou o ter sucesso e prestigio. Estas motivagées nao tém uma base bioldgica e resultam das nossas aprendizagens sociais. As motivages combinadas resultam da combinacao de impulsos determinados bio- logicamente e de impulsos aprendidos. Os comportamentos sexuais ilustram bem este tipo de motivagdes, pois a sexualidade tem uma determinagio biolégica, nomeadamente do sistema nervoso central e do sistema endécrino, e uma componente cognitiva, cultural e social. Como sabemos, a sexualidade é um impulso biol6gico condicionado pelos valores crencas sociais, (Os comportamentos motivados apresentam uma estrutura circular constituida por qua- tro etapas, o ciclo motivacional. Considera 0 caso da sede. Por que temos sede? Porque o nosso organismo precisa de gua. Temos assim uma necessidade. Para a suprir, € gerado um impulso, que nos faz. procurar dgua. Segue-se uma resposta, a ago desencadeada pelo impulso. Por exemplo, dirigimo-nos & cozinha, enchemos um copo com agua e bebemos. Se 0 objetivo é alcan- cado, no nosso exemplo, se bebemos a quantidade de dgua suficiente, atingimos um estado de saciedade que leva a supressdo da necessidade. a7 Fig. 13 | Motivagio. Processos cognitivos, emocionais e motivacionais 3.2. Os conceitos de motivacao intrinseca e de motivacao extrinseca Hé, na verdade, dois tipos de motivagoes. As intrinsecas e as extrinsecas. * As motivagdes intrinsecas sao aquelas que dependem dos gostos ¢ interesses dos sujeitos. As tarefas a cumprir pelo sujeito nao so encaradas como obrigagées, uma vez que contribuem para a sua felicidade e realizagao. * As motivagdes extrinsecas so aquelas que depencem de um objetivo extemo, como a obtencao de uma recompensa ou o evitamento de um castigo. 3.3. Os conceitos de expetativa e de atribuico O que é uma expetativa? © Uma expetativa é uma esperanga baseada na probabilidade de algo vir a acon- tecer. Na verdade, as expetativas so mais do que simples esperancas; num certo sentido, condicionam os acontecimentos futuros. Num estudo que ficou célebre, Robert Rosenthal ¢ Lenore Jacobson, mostraram a realidade da chamada profecia autorrealizada ou Efeito de Pigmalido. Foi dito a um conjunto de professores, no inicio do ano letivo, que alguns dos seus alunos, que foram identificados, tinham capacidades acima da média, quando na verdade esses alunos eram semelhantes aos outros. No fim do ano letivo, veri- ficou-se que 0 grupo de alunos identificados com capacidades acima da média tinha obtido, de facto, uma melhoria mais significativa nas suas competéncias do que aquela que fora obtida pelos restantes alunos. Aqueles de quem se esperava que tivessem perfor- ‘mances melhores foram aqueles que efetivamente as tiveram. A expetativa de que os melhores alunos progredissem mais que 0s outros cumpriu-se, mesmo que aqueles que os professores pensavam que eram os melhores alunos fossem afinal iguais aos outros. Aid Atividade Trabalho de grupo: Procura, em conjunto com os teus colegas,razdes que possam explcar os resultados deste estudo Deste estudo podemos retirar duas conclusdes principais para a nossa vida quotidiana: por um lado, devemos ser cautelosos nas expetativas que construimos, pois estas tém impacto sobre o nosso comportamento e sobre 0 comportamento dos outros; por outro lado, se quisermos ter sucesso numa qualquer atividade, devemos criar expetativas eleva- das, uma vez que, como ja vimos, se acreditarmos nas nossas capacidades, estaremos em muito melhor posigao para alcangar os nossos objetivos. Assim, devemos propor-nos obje- tivos elevados, mas tendo o cuidado de que nao sejam demasiado elevados, 0 que impe- diria que os pudéssemos alcangar e sé contribuiria para frustrar as nossas expetativas. 88 A teoria da atribuicio insere-se na drea da psicologia social que surgiu na segunda metade do século passado e defende que uma das mais importantes motivagdes do homem ¢ a descoberta das causas dos acontecimentos. Estamos naturalmente dispostos a aprender, e aprender é, nesta concegio, descobrir as cauisas que esto na origem das nossas atitudes, pensamentos ou comportamen- tos, ou ainda dos fenémenos do mundo natural, nos seus aspetos fisicos, quimi- £05, biolégicos ou outros. Aatribuigio é um processo cognitivo através do qual se procura encon- trar causas para determinados acontecimentos ou comportamentos. ig. 14 | Cade causal, “Bemard Weiner)o principal promotor desta teoria, defende que existem trés dimen- sbes principals que definem a atribuicao: * O tipo de causalidade ~ intemo ou externo. Sou eu ou é o meio 0 responsével Por esta situago ou comportamento? © O tipo de estabilidade ~ estavel ou instavel. Este comportamento ou esta situa- cdo mantém-se ao longo do tempo de uma forma regular ou é algo fortuito, que pode ou nao voltar a acontecer no futuro? * Otipo de controlabilidade ~ controlivel ou incontrolével. Esta situagao ou este comportamento sdo governdveis ou escapam a qualquer controlo? Apresentamos em seguida um estudo realizado em duas universidades portuguesas, com estudantes do primeiro e do quarto ano de oito licenciaturas diferentes. O estudo procurou identificar as causas a que os alunos atribuiam responsabilidades no sucesso escolar. Verificaram-se os seguintes resultados: Estavel [ Instével | Bstsver Instavel *Capacidade || + Cansaco (10) + Provasde avalia- || * Sorte (12.9) : intelectual 8) | | * Nerwosismo (11,2) $068) paseo *Capacidade de | + Estadode espirito’ | + Subjetividade do memria (104) | | motivagéo (133) professor (11,2) Controlavel + Esforgo (11.8) «No que se refere ao locus’ de causalidade, a andlise dos _explicam o seu sucesso academico referindo essencialmente resultados permite-nos verificar que os estudantes para expli- causes incontrolaveis(88,2%) sendo o esforco a unica causa con: catem 0 seu sucesso académico referem mais causas internas trolével referencia (11,8%).» (55,3%) do que externas (447%). Em relagio 20 locus de esta- bile, 40,2%doscousasrelerides so percebidescomocsti- 4. Cli? Retin, M LB rd, Arise Cod Secon veis © 598% como instaveis. Relativamente a0 locus de ‘Almeige controlabilidade os dados mostram-nos que os estudantes ME Chalet P Resto, ML & Gricio, Atibuigio Causal do Sucesso 89 Fig. 15 O mito de Sisto. Processos cognitivos, emocionais ¢ motivacionais BANS Atividades 1. Identifica as afirmagbes verdadeiras e as afirmagdes falsas e corrige as falsas. 1.1. Os nossos sucessos dependem apenas das nossas compet 11.2, Estudar para alcangar uma boa classificagdo no final do ano letivo tem por base uma ‘motivagao intrinseca. 1.3. A profecia autorrealizada mostra que as expetativas sio importantes, mas nao o sufi- Gente para interferirem nos nossos comportamentos ou nos acontecimentos que, de alguma forma, s20 condicionados por eles 1.4, A teoria da atribuigdo defende que estamos naturalmente dispostos a compreender as causas dos acontecimentos, 2. Responde s seguintes questdes: 2.1. Da um exemplo de um comportamento que tenha por base uma motivagdo combinada, Justifica a tua escotha, 2.2. Ocestudo apresentado no texto 5 mostra que os alunos que foram alvo da investigagio consideram que o sucesso escolar depende mais deles do que das circunstancias, mas que muito do que se passa com eles nao é controlavel. Consideram que 0 tinico fator que conseguem controlar € 0 seu préprio esforco. Ora, se estivesses a trabalhar com estes alunos ¢ se te tivesse sido dada a missio de melhorar o seu sucesso, que estratégia utilizarias? Do estudo, podemos concluir que os estudantes atribuer maior relevancia as: + causas internas do que as externas, o que mostra que reconhecem que © sucesso escolar depende mais deles do que das circunstancias; © causas instaveis do que as estaveis, o que mostra que condicionalismos como 0 cansaco ou a sorte determinam mais 0 seu sucesso escolar do que as circunstancias estéveis, como as suas capacidades de base ou os padrdes de exigéncia das provas que tém de prestar; * causas incontrolaveis do que as controlaveis, as tinicas com uma maioria muito significativa, de quase 90%. A tinica causa indicada que podem controlar, o seu esforgo, parece claramente insuficiente para melhorar os resultados escolares, uma vez que a sua contribuigao para essa melhoria é de pouco mais de 10%. Podemos assim concluir que os alunos tm a conviccdo de que h4 muito pouco que podem fazer para melhorar os seus resultados. A ser assim, desmotivados para 0 esforgo que implica estudar, correm mesmo o risco de piorar, pelo que, como afirmam 0s autores, «estes dados levam-nos a considerar que é funda- mental incentivar os estudantes a realizar uma atribuigo mais centrada no esforco, pois este tipo de atribuigao pode contribuir para ultrapassar dificuldades com que os estudantes inevitavelmente se confrontam a0 longo do seu percurso académico.» slapd as cognitivas. 90 3.3.1. Diferencas e complementaridades no processo motivacional Ao longo de todo 0 século pasado, ¢ também jé neste século, muitas foram as teorias da motivacao propostas por varios autores que se interessaram por esta area. No quadro abaixo, apresentamos sete dessas teo Teor ‘Teoria ERG (Existence, Relatedness, Growth) ‘Teoria das Necessidades de McClelland. ‘Teoria da Avaliagio Cognitiva ‘Teoria da Determinacao de Metas ou Teoria da Fhacio dos Objetivos ‘Teoria do Reforgo, ‘Teoria da Equidade ‘Teoria da expetativa Chayton Alderfer David McClelland etal. Deci Locke e Latham BF Skinner ‘Vietor Vroom ia. es Propdem trés grupos principais de necessidades: existéncia,relacionamento e crescimento. As necessidades de diferentes grupos poder operar em simulti- neo, sem uma hierarquia rigida. Focalizada em trés necessidades principais: necessidade de realizacio, necessi- dade de poder, necessidade de afiliagdo. Diferencia os individuos de acordo ‘com as suas necessidades. ‘Defende que, quando as recompensas extrinsecas sio dadas a alguém por ‘desempenhar uma tarefa interessante, estas fazem com que o interesseintrin ‘seco pela tarefa diminua. A motivagao diminui pela perda do autocontrolo, Defende que o comportamento ¢ regulado por valores e metas. Os individuos ‘empenham-se na prassecucio dos seus objetivos; o desempenho no trabalho é ‘uma fungio dos objetivos definidos. Meta ¢ o que o individuo tenta realizar ‘conscientemente.Valor & um padtdo pessoal fortemente enraizado, ‘Considera que o comportamento humano é produto de estimalos provenientes 4 exterior. Neste contexto, 0 comportamento das pessoas pode ser prevsto e ‘ontrolado, ji que, de acordo com esta teoria, «comportamento recompensado tende a ser repetido, enquanto 0 comportamento que é punido tende a ser el ‘minado. Baseia-se fundamentalmente em dois conceitos: no primeiro, as pes- ‘sous agem do modo que consideram mais recompensador; no segundo, 0 ‘comportamento pode ser modelado e determinado pelo controlo das recom- ‘pensas a ele associadas. Remete-se & comparacao social no trabalho. Foco na percegio pessoal de cada ‘um sobre ajusticareferente ao contexto laboral, comparando o desempenho! beneficio do individuo com o desempenho/beneficio do outro nas mesmas situagoes. "Abordagem cognitiva que considera o comportamento e o desempenho do {ndividuo como escolha consciente. O proceso de motivacao deve ser expli- ‘cado em fungio dos abjetivos e das opgdes de cada individuo e das expetativas de atingir esses mesmos objetivos. Trés elementos infiuenciam a motivagao das. [pessoas no trabalho, Se todos estdo presentes (expetatva, nstrumentalidade, valéncia), a motivagao do individuo sers alta, hp iewnwraunimep om brojsindex phplregenlecitorsubmission/314(adaptado) Como pudeste verificar, hd aproximagoes e diferengas entre estas teorias. No que respeita s aproximacées, e a titulo de exemplo, a Teoria da Determinacao de Metas ou Teoria da Fixacao dos Objetivos e a Teoria da Expetativa centram-se na fixagao € na prossecugao de objetivos. A Teoria ERG e a Teoria das Necessidades de McClelland dao importancia as necessidades sociais, de relacionamento na primeira e de afiliagdo na segunda a1 Processos cognitivos, emocionais e motivacionais Jano que respeita as diferengas, e ainda a titulo de exemplo, a Teoria da Avaliago Cog- nitiva defende que as recompensas externas diminuem a motivagdo, enquanto Teoria do Reforco defende que sao elas as principais fontes de motivacao. A Teoria da Determinagao de Metas ow Teoria da Fixacao dos Objetivos defende que a motivagao depende das metas definidas pelo sujeito, enquanto a Teoria da Equidade defende que a motivagao depende principalmente da comparacao entre o desempenho do individuo e 0 dos outros. 3.4. Disting tisfacao entre motivac: Como jé viste, motivacio e satisfacao so conceitos diferentes. Enquanto a motivagao ros orienta para um determinado objetivo, a satisfacao é um estado psicolégico carateri- zado pela auséncia de impulsos que nos levem a obtengao de um quaiquer objetivo, pre- cisamente porque, se estamos satisfeitos, ndo temos quaisquer necessidades. 3.5. A Piramide das Necessidades de Maslow e seus principais pressupostos De todas as teorias sobre a motivagao até agora propostas, a de Abraham Maslow é tuma das mais influentes. Parte do principio de que ha varios tipos de motivagao e de que hé uma hierarquia mais ou menos rigida entre elas. A primeira e mais importante distingao a fazer é entre necessidades deficitérias e neces- sidades de crescimento. Enquanto procuramos satisfazer as primeiras para afastar algo indesejavel, como a fome ou a solidao, procuramos satisfazer as segundas para alcancar algo desejével, como o sentimento de satisfagao por termos cumprido 0 nosso dever. * As necessidades deficitarias sao aquelas que procuram suprir a falta de algo, como a falta de confianga ou de seguranga. © Asnecessidades de crescimento sao aquelas que se baseiam na procura de algo, como a necessidade de exprimir a nossa criatividade. As necessidades deficitérias subdividem-se em dois tipos, e cada um deles em outros dois. As necessidades de crescimento, também chamadas de autorrealizacio, sdo aquelas que Maslow considera verdadeiramente humanas, sio aquelas que permitem ao homem a plena realizacio de todas as suas capacidades, criativas, morais ou outras. A busca do autoconhecimento é uma das vertentes desta necessidade e a sua realizagao promove em quem atinge uma sensagdo de éxtase, de completude, dificilmente compardvel a qualquer outro tipo de experiéncia que possamos ter. Como ja dissemos, estas necessidades organizam-se segundo uma hierarquia, habi- tualmente representada pela piramide das necessidades. Os degraus mais baixos da pird- mide séo aqueles a serem satisfeitos em primeiro lugar ¢ os degraus mais acima s6 podem ser aleangados se os anteriores estiverem realizados'. Por exemplo, nao terias como prio- ridade estabelecer relacdes sociais se estivesses com fome. ribora Maslow adie algunas excogas 92 > Autorrealizagao Crescimento > Estima Psicoldgicas > Sociais Deficitarias » Seguranga Basicas » Fisiolégicas 16 | Pi err Autorrealizacéo ‘Autoconhecimento, ciatividade, moralidade Estima Confianga,respeito d Sociais Amizade, amor Seguranga ‘Seguranca no trabalho, protecio contra a violéncia, Fisiolbgicas Fome, sede AWE Atividades 1 Identifica as afirmagdes verdadeiras e as afirmacbes falsas ¢ cortige as falsas, 1.1, As necessidades de estima sio necessidades basicas. 12, Segundo Maslow, as necessidades estdo hierarquizadas e $6 é possivel, geralmente, alcancar as necessidades mais elevacas depois de satiseitas as necessidades anterio- 13. $6 a necessidade de autorrealizagio ndo procura suprir a falta de algo. 14, Segundo Maslow, regra geral, um individuo pode passar por situagSes protongadas de fome e ser, apesar dessa circunstincia, criativo, 2. Responde a seguinte questao: 241. Qual é a diferenga entre motivasao e satisfaga0? 2.2. Em que consiste, para Maslow, a autorrealizagio? 93

You might also like