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Boaventura de Sousa Santos Reconhecer para libertar Os caminhos do cosmopolitismo multicultural i de no ‘orm © 2005 by Barnes de Sut Soe sumério BR ronan, ber Aor SEAS RES oRe vos ay Rent pa beat: caninhr do commons — an ae oleh Tienda pr amp cane do corked esa om — To anon eee 1, Ghibli Apacs cis 2, Molen, 3 Mvomnoy saa Maange sve Sao, 1. arossmusoe oc munnrousios uoneo0s 26 nema de Sus 140: Se 14. mancarvauinc- om conearacomrsuce 26 cop - amas 12. mune vrai coMnNconiO 34 ee a estmoosoccso 44 2. nC TEE SOE MTOATIMALSMOE EMANCRACOROK CAA ETA COATIAA pomnago 58 DIRETOS COLETIVOS E SOCIEDADES MUITICULTURAS 69 “odo ss Pie» epost ama es {Sood rsd tns ge mio ea pee Ls rememieriheetiibtrmmnt Dior ae abgin pl Ebon CLizxglO RAE snowshoe 73 nico 1 rng 08 EAGGE NA ABCA EMA 74 Disfestioora ecoRD DE SeRVIGOS DE MAPRENSA $A, Ron Aoi 171 = de ni RsSubaD Tes S00 2. Andes reuneawiEencoUsTA 77 FEoIOS FELO REIAMOLSO POSTAL 2 osrovos mies. 80 (i Poel 23052, Roe nee 2072979 21. o7ormxmk cotewoar se memocoe 50 apr Be 232. o1onco a umn SCA OA TERA SE MALES 82 22 onAcensoE MNO ME BF ‘4 ostoviocosoarouncn econo NA AN #7 41 comusgior your cos hows wes 5 42, Aosis 00 CONDE UMA NVA AMEN OS BAEROS MOKA 90 S esnovosonaros nanincaiaran 92 Asruciio 20 amorous oncDaces 96 2 AveronauoAnt coumarin 101 1 somos contnncos, ORS COVA CAMO 105 cura (thos mégicos do Sul (do Sul); lutascontrahegembnicas dos povos indigenas no Brasil 111 wamooucto 113 movanwromoiiens 115 1 anos 7s asses melcous 115 12. meen oa-dorA-womAghor 117 13. aos se consovoagio oe motos rmcos 121 2 mumscesmncoussuacits 126 2. sour F-cowntnca moi 127 22 wrooeasciglor 130 2 ms smcss canes COS 143 corto ‘Auta conta a explorasio do pewéleo no tettéro wwa: exude de caso de uma lta local que se globaizow 153 mmoousto 155 {as was sus ous NEMS MACON 156 2 wuaasoroncinsorovo vs 160 21. oPmocs#0 MCoEMNO DE OnaNGHo Soc ENTHE OSHA 161 22. Awmoos Uwe MUAsEM 162 3, norogho por ABIRoMGO Bo FENCES OCIMRONACONA 163 21 oconmaro oF ona OF AMENDS CONTAOS DA CEENALEIOUM COM coum 163 22, oconrut no 80 ROCESS DE COMATA EIA NAS WSTANCS AONE savas 165 2 ocowro nATNo AO MECEO OE CONIA AAS MSTNCAS UGA A pasa 00404 AcOSTO€ 85 AMO OL 7, 167 4, Ase vce Dos UWAAOS SABES UNDOS 17 ‘2.0 cowmna cooneano wee A MDAGHO BKC ODEO AD HOC OEMLANARSE ‘rot of mean 173 ‘5 ANoUAONAMNCADOS UNOS NCONASE WTEMACONAS 175 1, atsmario0 cove cOUNEND 176 Sn Amunungto co mscunoD vw 176 ‘512. ANOWUCEAAMBENEL MAA OCDE TCU 178 4:2. octtsceme a0 405 UWAEM HELIO EDR 180 5:21, souDanOADE OA cRGANEAGHS SOOMS 0 DTETO OE AMAA 180 $22, Amosu2xho vo Momo MGA COLOMEAND EM SOLDARIDADE AOS wa 181 ‘523 ass oe rhowocLo DA CUSA UWANOS ESHDOS NOS 182 1524 ASE DEPMOGLO DA MEA UWANAEIROMLE A ANENCA AMA 184 153 ASS DAlAHASDAUTAUWA 186 $1, onov UAT cleo HTD BO MBO AUBIN SOUL ACONSTAPE 186 492. onov0 como sono ROGEO DE COSUIAPEEMADUNSHNCAS LHS 188 1533 of Games aconTEMEROSNA AEA DE DPONAHODE ERGO. 169 ‘6 conawetes 192 MOVIMENTOS SOOANS EJUSTICAS) 199 cunnaoe ‘ima localidade da cia em protest: meméria, populismo e demeeracia 201 inmncougso 203 {mM onsoOagits Hon 205, 2. comoruenso aR OF MALTA 208 2, onatzoromuaeUbies 213, 22. ommintno aces 222 23. amanewngiooas nines 229 24 vouaxCcwogies 221 25, mocsOS oOo SOA coUTIGS 237 2. ovormen muncenono oF Auta 239 conewsto 244 Poctos paradoxais 249 octosea manta meni 261 2 w4oLocs BSCS A COMER AMO 259 2 as mas uns We RN 266 4 Atsrnzvan oo cower 2 soweh 272 Ss coucusces 202 DIFERENGAS E CONSTRUGOES IDENTTARIAS. 259 cote ‘Que tabathadores, que mulheres, qu imeresses? Rag, clase egénero na Aitica do Sal do pésapartheid 291 wwrnooucto 293 1. ACH DA PoMREDA EA BEGALDADE 297 2 eoumtnacro AAO —MCTOS CER ORANGES MOMNENTO 299 3. occa oe iconstuglo oe DeeNvMMETO FRE) 309, ‘vootmoo ocak 303 {ss okazgtesaonuno DURANT OANAED 205 Aonaanaio oss mains sn 0 anamato 307 cE MovnieiostO«SnD0KATASDENANOVADENOCC 311 f Acoucaglo cons oe mavens 313 1 eunneatconovs otsanos 517 te Amctinon concourse 518 renin a tuaicragio soca, 326 2 couewsto 323 ‘ovtruo COrientago sexual em Portugal: part uma emancipaclo 536 wwrn00uGAo 337 1. coAsUNDD AUNBIEE EADEREWA 339 1 esnuAADts no QuaRO CeMAUSTA 341 2 CONE EEMLOOADS NHS COASE RUGS OOS 347 21. ecxeucsne pomauts 350 4. Aetna a0 Movi or eromuca. 353 2 cons Eb co curios cues BscmntcEs 58 J taawomgées areas ov ccmaanis) 363 scovcwsto 373 cana Fantaamas que asiombram os sindicatos: mulheres sindcalistase as lua pela afirmagio dos seus direitos; Mogambique, 1993-2000 381 wmooucho 383 1. comocor ecco 00 OMS DA MULE TABHLUDORA NOS SMOIATS. 37 2 cursor Arcana As Cows DA MR TALON 391 2. As esa 8 SNDCALAS SOMO COMES DA MUNER ANALG 402 4 tts wus, ts recos 409 ss concsoes 417 SOBERANA, CIDADANIAEINTERNAGONALSMO SOUDARO 425 Por uma concepsio multicultural de direitos humanos 427 sno 0uA0: AS TENSES OA MODERNDADE QCDENTAL 429 oars comarctes 433 2 os pmaTesHaMaNes CoO ROTERDEMANCHATOND 438 2. Aventure ouTonCA 442 22. Sout 00 muNCUTURLANE MOGREEET 451 221, cones AAU MuNcaURAE CGH 454 aeoncuslo 458 Plualismo jurdico, soberaniafarurada edicitos de cidadania diferencias: nsiugbesinternacionas, movimento sciise Estado éscolonal na fndia 463 mawoouho 465 1. munausno xno st003 RAMOS 467 2 oMesTA=A0 DA USCRUNA NCUA BANE 08 BOABORES COM ADDS eros 473 2 Macs vA, RIT DE RETO PEEL) EDIT ESA OF RETO DAE “4 Ain marca FON. MANCO MONOAL MAS IE RATA MXA NA how 46 1 ovemio no S001 A RL OPANEL DE HSMAO DO MNO MUNDI OPO mea oalhon 488 Ateneo NOUN MM aENTORMMUNOLE 495 (,cOEALZAG10 GCA ES ONLEAGAO COMTAMEGEONCA 497 (2. soos ono vz ESTAS AC TED OF UMS AavONoNNE posse 499 (63 uu runasone oe ONC oF mo NCE 502 5, mcuenacho boom aN Sota TURD SOE f, munsuivo loco ¢ Atmel 90couBte 042509 506 7, conrmuacesnecouonat 507 ourwo ss {Quem salvou Timor Leste? Novae referéncas para 0 interacionalismo tolidirio $15 snusoougto 518 westhuns rostastiun S16 2. rosso eésrosmasue 519 von tne una ture rsrosmasta $20 21 FORDE evs MORE 521 22, ceorounca vis WEAUDIOE 526 do. omen vesismaruraUe 528 -crwon steam wa rosmesTaunNn S32 1. ori. ok ComDaUAMACGRNR 533 5 eioco: ue rosso an? 546 CcomentéRio GERAL 553 casio 12 Globalizagio, muliculuralismo e Direito 555 rw0oucAo 557 f.onenor nanos S6t 14 ORGAO ONE DE OSEROS MANOS S65 1, aootimengho S68 Introdugéo: para ampliar 0 cinone do reconhecimento, da diferenca e da igualdade Boaventura de Sousa Santos Joie Arriscado Nunes “Multiulruraismo, juris multicultural, ditetoseoletivos, dadanias plu rais sd hoje alguns dos termos que procuram joga com as tenses entre a iferenga ea igualdade ene aexigencia de reconhecimento da dferenga de redistibuisio que permita a realzagio da igualdade. Esastensbesestio ‘no centro das las de movimentos e iniiativas emancipatérios que, contra as reduces eurocéntricas dos termos fundaments(culsra, justia, direi- ts, cidadanis), procuram propor nogées mas inclusive, simultaneamen- te, respeitadoras da diferenga de concepcées alternativas da dignidade humana, Como € postive, a0 mesmo tempo, exgir que sea reconhecida a diereng, tl como clase constitu através da histri,eexigir que 08 “ou 10s" nos olhem como iguas reconhesam em nés os mesmes dieitos de ‘que so tiulares? Como compatibiliza a revindicagio de uma diferenga ‘enguantocoletivo¢, a0 mesmo tempo, combater as relagdes de desigulda- de ede opressio que se constitiram acompanhando esa diferensa? Como compaiiliar or dircios coletivos os direitos indviduis? Como reinventar as cidadanas que consigam, a0 mesmo tempo ser cosmopolitas eer locas? ‘Que experitncias exstem neste campo © 0 que nos ensinam ela sobre as possibilidades as difculdades de construsio de novas cidadanias do ‘mukiculkualsmo emaneipa6rio? ‘Ascontribuigesineluidas neste volume procuram, em contextosdstin- tore paticde Iitas coletivas em diferentes escalas, envolvendo uma diver: sidade de atores em torn de uma plralidade de temas, ajar aidenifiar as condigdesem que o multiculruraismo,as diferentes concepgBes de jstica ‘ede dieitorenovas formas decidadania tem sido posts prova. Importante tublnhar, contado, que os prépriostermos que wsamos para descrver estat uta iniitivascoletvassio problemiticos, podendo encerra pressupos- tos eurocntricose revears inadequades para lidar com esas stuagbes. Poe ‘urro lado, ena medida em que estes trmostém sido utlzados, no Norte € ‘0 56, para promogio de casas emanciparias eda solidariedade com 38 ‘imas de opresso e com os povos do Sul, 0 seu uso esratgico sem di vida, um importante recurso para construsio de novas formas de slidari= dade, Far sentido, por iso, comegar por uma desconsrugio critica dees conceitos, antes de pasar a examinar as formas como os estudos de caso incluidor neste volume sugerem formas de econstrugio de um vocabuliio| de instrumentos emancipatérios para ainvengio de novascidadias,b seados no recurso a uma sciologia das ansénciae, expaz de identifica Os lencios eat ignorincias que definem as incomplerudes das culuras, das ‘experiéncase dos saberes, ede uma tora da tradugdo, que permita erat inccligiiidades miruase articular difeengascequvalecis entre experién- as, cultura, formas de opressioe de rsistncia! 1. APOSSIBLIDADE Dé MULTIQUTURALISMOS EMANGPRTOROS 11. Multculuraliomo: sm concitocontstado Asgresto multi’ i, rnalnene acest efomss ‘edn onde pos castro por curt crenes no so de oid ‘des “modems” Rapidanene, oni, oem te tomon im mod de de reversing ctr em un conexotrnsnacionale global Exim rentes formas sacisi que as ltat emancipaéras assumem e 6 diferentes ‘ocabulivios que elas liam, A dees da difereng cull, da denida- de justiga, Fla pod i, Hage fone format delat promogio de quadros orm sou tadicionas, de formas lorie comunais de resolusio de conflitos ou de exigéncia de integragio plena, como cida- ios, no espao do Exado-nagio ede aceno, sem dcriminage, justia ‘oficial, exaal, Ganba sentido mais precio, assim, a ida da “cidadania tmulticuleual” como espago privilegiado de luta pela aticulacio e po- tencializagio mituas do reconhecimento eda redisrbuigio. Fase € 0 cx ‘minho para prolferagio de esferas pblicas locas simulaneamente eapazes de articulaso transloca, umas veres com, outras contra os Estados naci- ‘ais, como pontos nodais de formas de glbalizagio contra-hegeménica, TW gala em roe ingore se sani mat oe exe de subpoliticasglobais de sentido emancipatrioe de cidadaniasgenuin mente cotmopoltt 2. OSESTUDOS BE CASO (Or exon de cat inlado neste volume identifica e anal diferentes experitnis de contrugo de alternatives de poicaclrl. Nees so exporado os potenciais eo ites dest experiencia como incativas eanciptiieecamnhos para idadanae cvs Estas procuram ariclat ‘oreconhecmento da dferenga alt pela guldade e pla redstbuiio, segundo prinios de unig e conselagbes de dro stentosA diversi. de dos ators eds contexts entre de diferentes eal, 5+ cionle global. Entora agrupados em quatro grandes dea temeas — direitos coletivos e sociedades multiculturais, movimentos sociais e justiga(s), diferengaseconsrgtesidentrias, bern, cidadania imeracionaismo soldrio—, os exudos de aso revel ipa interspace sobreposigtes de temas. ‘Aprineira ea tendca examina a lao entre oconcito de dritos coletvos ea definigio de ociedades como mulclris. A tres contribu {cs aul includ incidem eds sobre a América Latina (Basile Colm- ‘ia sabre a ques espetica dos dts colevos dos poosindigenss. Cada um dos aaoresabordao tema a pari de uma perpectiva distin, ‘masa at abordagens so complementres. ‘Ocestudo de Cerlor Mars no qual sitar ulus experigcia pro- fiona de encaregado do santos dos povosndgenas por parte do Ex tado baila fazed una reflect sobre ea expert, nos claca no centro da dscussio sobre a compatilidade entre o maliculsalsm. cmendido como 0 reconhecinento das difrengas qu hivorisamente fie am dos pvosindignss (nee cava da América Latina) coletivorineparsves eum eri ed in odode vida a concedes de dicts de iv tig qe conto dos Estados naconassnconoy.O autor daca, - 1m como direitos colesivos «como condigio de wm efetvo reconhe- “Gnentodadiveredade cultural edo career pluritzice das sociedades nacio- se de vrioscaos de Ita pelo reconhecimento dos dzcitos colesivos dos povorindigena de sa vsilidadeisituconal, Maés mos- tra como causa emancipatéria do reconhecimento do dieite A exstén Coletiva dos povorindigenaspasiou por diferentes experiéncias de on fronto com o Exado, com grausde sucesso dint, em grande parte fr to de histris anteriores dos procestos de colonizagio e ocupasto do territério, Asuna nda inne nasa dt irmasio deses dicts coletvos, que se choca com as concepes lib Fair de propredade,E nela que reside a garantia do reconhecimeno de Gina Wentidade coletiva e dos direitos coletvos dos povos indgenas. A importinia de wm movimento indigena em ecalabrasileta ea partie de 1988, a consagrasio consttcional dos dccitoecoetvs, seam sgn ficavamente a importincia da wilzagho extratégica de conceit que procuram, por un lado, mobiizare, por our, subvert princi con- fagrados na dem constiticioal de matt bra. Nex proceso a fangas com outros movimentos sho fundamentais. Marés dstaca ainda importicia de uma forte soberania nacional tones eramatiie ‘que €0 recone o Sublnha importincia do Exado ea necesidade «da sua reinvenglo tegundo uma “I6gica dos povos” oposta a "légica do ca- pic Em um capitlo que complements esubstanca ode Carlos Mats, Line [Neves explora as dinkmias da tas pea emancipagio dos povosindige- tas da Amarénia, a sas exratégis, formas de orgaizago ¢ de mobi- linagi, Como éno estado do Amazonas que re concentra mse populg§o {ndigena do pals com a aioe diversidade emia, o maior némero de oF ‘iniagbes ede tera ndigenas, € ete oexpag em que o ator explora © Procerto de consolidaio do movimento indigena ea auago das suas ot taninagbcs, tanto ma rlabes entre eas como nas lags com 0 Esta do bralio outro tore da socedade.Tanbem agi a abordagem € em grande parte frato do envalvimento peo do autr nas utas dos po- (crass vos indigenas na regito,E dada maior atengSo Ae iiciatvas de afirmagion ativa dos indios¢ dos seus movimentos e organizagbes como protagonistas do processo politico, especialmente nas suas relagbes, freqaentemente confitusas, com 0 Estado Parcindo de um mapa das lutasindigenas desde o final dos anos 70, Lino Neves coloca-as no contexto das dindmicas politics da sociedade brasileira e examina comparativamente as diferentes estratéias, os sucee- S05, derrorase problemas encontrados a longo de das décadas deltas, E conferida especial atenglo a duas iniciatvas: a Soblincipd dense damn cescapeate feo tsktrtarisl. Lino Neves anal as iferenga ene as pris eman- cipatérisde“avtodemarayd eubordinada uma gies, conduc pelo Extadoe pelos seus agentes, de imepragio dos indigenas em proce tos de “demacaio partipad’. Sho sblahaos ox confonos ene tiversessimbélicn sistemas eistemolGgicoe conbeciments rvs a ue es iniitivas dio expresso, e por inermédo dos qui si ari Culadas as pecs indigens e de ators einntimigbe da vociedade tvolrent Ea parr demas experitncas qu @ autor procir earactere dar as “nbjtvidadscmergenes einiiaivas deseo emancpatrio desis poor, gue rspresntam x ores mals marginalizads do mundo tontenporinee, Sul do Sl, como fram camados por de Sout Santos 1995; 325 is Cals Arenas também presenta uma snagioem que a afi de dite cletivos€indsocive! do enrainamento em um eri e da dea da ineriade de um modo de vida asiado a ese veto, Ae nastrgn ala que desde 1993 vem raando op ua, una pequencomuni- ddeindges do Nord da Colémbi const planes una compara pevolfers americana, Occidental Peeum Corporation (OPC). Nase fncia da ats de dion pra explora o rearosptaifero em pare do ertio dos wa em principio dos anos 9, a OFC encontou fore resitcia dos indigenas quando tentou iia x was operate, 1993, Mas fl sobrrnd apart de 1995, quando oreenemente cada Gabinete do Provedor na Coldmbia apresentou no Supremo Tebunal do pas ‘uma queixa contra aempres, que a luta dos u'wa ganhou vsildade nacio- tal. Progressvamente, essa visbilidade ukrapassou a fonteirasnacionais, sgerando movimento eiiciativas de solidariedade internacional. Ao longo ese lta, a8 tansformacesurdicas relacionadas com os dieitos dos po- ‘os indigenasinfluencaram decsivamente 0 process. O estado procurates- ‘ponder a um conjunto de pergunas que tém um acance maior do que ocaso ‘expeifco que estuda: como pode uma comunidade esqueida islads, pou ‘co visvel, tornarse avo deatengSo mundial? Porque a aagto de atvistas ‘e midia pelo caso? Que lies tra de um proceso local que se tornou glo- ‘al? Como se tornou esa lta um inbolodaluta contra globalizagio hege- ‘Arenas chama a atengio para a necessidade de dstnguir a agSo das ‘ONG internacionais daquela dos movimentos de base, ede examinar as suas interagbes,em processos de uta que, tendo iniialmente uma expres- ‘#0 local, se tansformam em tansnacionais.Se as ONG si os artes mais visiveis , certamente, muito importantes, nem sempre sio os mais impor- tantes nescs processor. Este papel cabe, muits vees, alae conduridas por atorescoletivos locas, sendo certo que a translocalizagio ds tas — € condigio do seu sucesso — passa por alangas com ONGs internacio- ais capszes de articular o local, o nacional ¢ global. Mas estas nfo po- dem ascgurar a condisio local etustentada desss lta, nem extar presents fem todas elas. Exist sempre orsco, nos processos de transnacionalizacio das lutas, de usurpar o papel dos grupos locais ou ignorar a importincia das luras locas. £ nestas que deve permanecer o foco da agio, e & com os stores locas que deve permanecer a diregio do proceso. Por outro lado, € fandamental que as relagSes de solidariedadescjam horizontas, quer en- t2e Sul Sul, quer entre Norte e Sul (ou entre Sul ¢ Norte, evitando a cemergéncia de herarquis ou subordinagbes entre os que participam des- saslutas Entre as condig6es que permitram a esta uta manter-se com sucesso, ‘Arenas cit: afore heranga cultural dos wwa; 0 seu orglho,eapacidade de {falar por se adaptarargumentagio a diferentes swage 0 us de com ‘cados ecartasabertas; a exstncia de uma rede de contatose apoios inter nacionsisy a loclizagio da sede da OCP n0s Estados Unidos eo papel destes ‘na Coldmbia. E na interagio e artculagSo de dindmicaseaxores em difeen- tes cxcalas (local, regional nacional global) que reside a grande frgae visi= bilidade desta uta eo seu carter exemplar. ‘Um segundo grupo de estudos de caso ocupe-te da relagio entre movie smentossocaise concepsSesdiferenciadas e alternativas de justia. Se os ‘movimentoe examinados nos dois caos esudados (em Portugal ¢ na Co- {ombia) se organizam em torno da relagio entre o Estado nacional eas ‘comunidades idenidadesloais, eas o fazem em torno de exgéncias de reconhecimento ede justig, que so distntas das que constituem a ordem ‘onstucional liberal, mesmo quando ainvocam como fundamento da sas pretens6es. Também aqui a nocio de justia €insepardvel de conceitos {deniiros, da exigdncia do reconhecimento de uma diferenga que tem como ‘base comunidade eo local mas que a0 mesmo tempo se move numa tia de iritos diferenciados e confitosos. José Manuel Mendes anaisa a uta de uma populago local, ade Canas ‘de Senhorim, no Centro de Portugal, pelo dicito & retauragio de um go- ‘Yerno municipal (eatintoem 1868) e pelo reconhecimento dese dicitopelas insttuigbes poiieas naconais (Presidente da Replica, Govern, Parlamen- 1), por intermédio da mobilzaio ¢ reconstrio atvas de uma meméria ‘do seu autogoverno, da deninca do que consieram ser uma injustiga ede recursos emacionais— como a indignagio —, cogitvos — como a evoca- ‘Glo de uma tradigio muniipalista e das caacteristicas espetficas da comu- nidade —, e morai, tansformados em recutsos para a ag coletiva. Esta inclu formas pacfca¢ leais de uso do dreto de petisio, de manifestagio fede protesto, mas também formas nio reconhecida pla lel, que poder a a. ago violenta ou 20 boicote a elegbes, eum atvo proceso de medi. ‘ago da lua, ‘Areferincia a um passado de uta contra a opresso ea injusiga con ‘ribui para legitimar aradiealidade das ages. A identfcagio de objetivos «de alvos permite que a artculagio dessas formas sea feita de maneira cstratégica. Um recurso fundamental da luta da populagio de Canas a forte nogio de wma identidade local, baseada na sua elagio com lagosfor- jados pelo trabalho em comum ¢ a familia, A identidade local também & ceria, em grande parte, contra as égicas de divistoe de antagonism as- sociadas 208 partidos polices, ainda que as elages com estes sejam ati amente mobilizadss, quer para a definigio ideniiria pessoal, quer em ‘scala nacional eno Parlamento. Essa identidade local €invocada para jus- tificar a exigéncia de econhecimento como cidadios de pleno dieito da Replica, especialmente no que se refere a0 dieio a0 exerecio do poder local. Como diz o autor, tanto os “narratemas” que condensam ow metafo- rizam 0 testemunho e a vivéncia pessoal de uma experiéncia historia” (quanto as agSes de protesto promovidas localmente sio a expressio de tentativas de “eespecificar ede desconstrir, com base no populismo e em ‘um igulitarsmo radical, os conceitos de liberdade, democraiae poder", “abusca de um “reconhecimento pessoal ecoletivo,consolidados em numa “ideologa slit, fraterna e fail ‘Acaracterzagi dos obetivos politicos, das aliangas, da ideranga € dos amodos de agio do movimento pode introduzir alguma perturbacio, que se ‘espera fecunda nas tentativas de definigio do que &a emancipasio socal, perante movimentos que questionam as divsbesconvencionais entre dccta fe exquerda e se organizam em torno da airmagio e reconstrugto de uma Sdentidade local, em um processo que parece apontar para aexisténca, no plano local, de um espago para oexercicio da democraciapatcipativa, mas ‘com um rsco permanente de recuperago por lideres locas assocados aos partidos politicos tradiconais. Francico Gutiérez ¢ Ana Maria Jaramillo, por sua ver, conduzem-nos ‘em uma viagem pela sociedade colombianae por aqulo que ehamam de ta- ich “pacts”, Esta tem estado no centro das tentativas de resolver a ten- lo entre duas caractristicas dessa socedade: a “estabilidade das formas ‘macroinstitucionais” e “uma longa tadicio de confitos armados difuso, ‘rtnicos¢ dolorosos". A solugio desatensio passa por pactos que perm tem manter wa dindmicainstivel de guerra que geram acordos € de acor- ‘dos que resulam em novasgueras, tudo isto em um contextoinstinucional fem que o poder, ineluindo 0 poder das armas, €“sujcto a miplas restr- ses". Desa forms, o“plndulo pacofguerra pasaasero “atrator da dind- ‘mica dos conflitos na sociedad colombiana”. No jogo entre a necessidade € aliberdade este mundo social "governado” por um “atrator" osila entre a ariculago da resiséncae do protesto social em uma inguagem pendula € possbildade de uma graméticaprépria, definindo wm espago diferente para 4 cidadania, Contudo, considerando a experiénca dos skims 20 anos, se nacionalmente os patos si indispensives, localmente eles parecem inde- sejves, De fao, os patos resulta em uma de ts swage: a deseo fisica dos seus protagonists, a ruptura do pacto ou a concentrasio anti \democrtica de poder nas mos de um ou véros protagonist, sendo ainda possvelacombinagdo de algumas desta situagGes. Esta dindnica tz cons- go. aconseqinciaperversa de este conjunto de opges defini um “horizon- te mental € moral das alternatvas” baseado na articulagio de “linguagens femancipatérias ede materais ndo-emancipatérios". Deis casos, o das milicias de Medellin eo de Boyacé Ocidental,domina- do pelos empresiros igados a0 comércio de esmeraldas,hastram et ita ‘0. Os pactos conduzem a relizagio de acordos eetvos, mas com cutee evidentes: 0s grupos armados podem contnuar a fazer 0 que sempre fine- ram, mas agora sob a aura de uma lepalidade confrida pelo Estado, e 08 direitos democréticos dos idadios podem ser scrificados em nome da pre- ‘servagio da comunidade eda paz It dificult as sade emancipatéras, dado ‘que estas “tadurasteritoras” no sio compaiveis com as afrmagbes do Estado de direito em escala nacional. Assim, politics dos grupos armados no conseguem ultrapasar 0 local. A relagio com a globliagio & cccuns- ‘ancl e oportuniss, visa apenas. sproprisio de recurs para fechamento territorial baseado na tradigio. A tensio entre formas etiveis macroine- titucionasedinimicas de violencia pode se rornar wma caractersticacomumn de pases, especialmente do Sul, para os quis a importa da democracia formal € um dos modos de incorpocagio a globaliasio. Os autores suge- ‘em que talveza Colombia aponte mais para o futuro do capitalism global do que para a heranga de um passado pré-moderna, Em contraste com a questo indigenaabordada nos eaptulos de autora, de Carlos Maré € Lino Neves, este capt mostra o lado negro do reco- hecimento das diferencas,incluindo as diferengasteritorais, a perversida- de destrutva a que ele pode conduie sempre que entre as suas condigbes lo figure 0 espeito minuo aos diritos coletivos das comunidades e 40s ieitos humanos dos cidadios que as constiuem, ‘Or éscaptuls seguitescentram-se a reagho ene dferengaseiden- tidades emergentes ou em construc. Em causa esti o reconhecimento da muktidimensionalidade das coasruges idemtiirias no selo de movimentos secs a construglo de movimentseincitivasorientados para a consti- ‘igo. o reconhecimento de nova identidades. A relago das "elhas"iden- ‘idades coletivas igada a0s movimentos sndicais ou de libertago ou 20s partidos politicos da “velha” esquerda com o surgimento no seu sto na base de difereniagbesbascadas em reivindicages epecifias associadas raga 3 africana eas trasformapbes no Estado sl-africano no periodo pés-apartheid. ‘Asorte dos que patsiparam aivamente desses movimentos foi muito dife- eate. No caso das mulheres, ¢ap6s décadas de partcipagio nas las pelo fim do apartheid, a sua stwago parece ter melhorado, mas sobrerudo para as mulheres brancas, que foram a8 princpais beneficrias de medidas de ‘apacitagio dirigidas 20 aumento da parcipasio de mulheres na instiui- Ber piblicas eno setor prvado, De fora fcaram as mulheres negas € 25, ‘mulheres pobres de zonasrurais. Pra a autora, aconjugagio destes dois a ‘ectos ponta para a manuteng, no perfodo pésaparthed, das principas, livagense desiguldades que durante muita décadas caraterizaram asocie~ dade sul arcana. Aemerginca deuma elit neraligada ao Exado eds novas insitugbes polities nio sigificou a modificago dastuagbo da maoria da ‘Populasio, especialmente apopulago pobre das zonas rua urbanas. Que papel tém nesta fate oF movimentos soins que Iutaram contra o apartheid e (06 participants desses movimentos? ‘© prvilegio dado oporisio ao raciemo na luta democrtica contra @ ‘apartheid parece nko ter tido expressio adequada na promosio dos inte- rece da maoria negra da populasfo. A transformasio do CNA de mos ‘mento delibertagio em partido majoritirio na era pés-parthed sigificou ‘que muitas das revindicagGes dos movimentospassaram a ser considera ‘das aspectos que necestavam de legislago, incluindo os referentes 205 euas em Portugal e 0 modo como tem sido travada no paisa uta pla liber- dade de orientagio sexual e pelos direitos das minorias sexuais, como ‘expresio da tensio entre a reivindicagio da diferenga ea defesa da igualda- de, Esa lta tormou-se possvel pelo proprio desenvolvimento do capitals: ‘mo (ao reduzir © papel central da fama convencional na sciedade e 20 torna posivela emergincia de preocupages além da sobrevivncia material) «¢ pelo proceso de plbalizasio, pela ciculagio e toca de informario e de ‘experiéncas, um dos efeitos contaditrios do préprio desenvolvimento de rocessosastociados 20 capitalismo eplbalizasio hegemenica. Este tema ‘tem, de fato, um alcance mais vasto seo considerarmos um sntoma dares- ‘posta a uma resisténcia mais ampla por parte de setores conservadores da sociedadee de uma moral repressivaeexcludente sustentada pela influénia ‘deotigic, socal e politica da grea Catlics, que associa a homossexuli- dade a0 pecado €& culpa e fomenta a homofobia, estudo levanta uma “questio fundamental: um grupo minoritiro oprimido srs, necessriamente ‘gem conseqitnca dessa opresso, uma forga contrashegeménica? A pergunta faz sentido quando se considera dversidade de formas de orgaizagioe de imervengio de diferentes movimentos em prol da liberdade de orientasio seul e dos direitos das minorassexais, mas especialmente quando se ve- fifiea a tendéncia de alguns dsses movimentos a reforgar uma espéie de versdo“ortodoxa ou hegemnica da homossexualidade. No caso de Portugal, so detectiveisalgumasespecificidades,ligadas Acondigh semiperifrica dopa ao peso cultural idoldgico do eatoicismo ‘nas suas versBes mais conservadora: as transformasées no plano leg lasivo que dseriminalizaram muitas priticas ates consideradas “moras, cspecialmente no campo da sexualidade, mas que nem sempre tém respondéncia nas prtien sciais e na aceitagSo socal das diferengas b seadasnaorientaio sexual; osurgimento de movimentos de associagbes de afirmagio da identidade homossexual e ds direitos dos homossexuaiss 1 exsténcia de aliangas entre atvistas gaye, lsbicas,bssenuaise tans: sexusis nos mesmos movimentos e fisalmente,ealém de inicatvas pi Dlcasdestnadas espcificamente a da vsibilidade as cusas “lesbigay” € ‘a afiemar a sua presensa no espago pablico, uma vinculago explicica das Tuts desses movimentos a lutas mais amplase fortemente“politizadas” ‘conta as dscriminagbes de todos os tipos e pelo dieitoa uma diferenga fem exclusio e wma paticipasso politica e social inclusiva. Esta carate- tistica aproxima o caso portugués do que ocorre em algumas sociedades do Sul, especialmente da América Latina, onde estas redes de movimen- tos sto frequenes. “Maria Jose Arthur retoma o tema da relagio entre as identidades aso iadas dliferenga sexual eas dentidades de clase em um estado das mulhe- ‘es no movimento sindieal mogambieano e, em particular, da relagéo ene ‘8 diregSes dos sndicatose 08 Comités da Mulher. Estes foram eriados em 1993 no cia desindicator ede centrassndieais, como resultado da conver- Bincia entre o processo de democraizagio interna eas presses de confede- rages e organizasGessindicaisregonaise internacional, eem resposta 3 liberaizagio econémica pots, Durante 05 anos 9, os sindicatospass- am por um proceso de debate interno e de reorientagio da sua interven- ‘80, ¢ também de reorganizasio, com o afastamento de vétiossindicatos da (Organizagio dos Trabalhadores Mocambicanor, central ics, em 1992, ea fundasdo em 1997 de uma segunda cenwal sndical. A partie de 1994 foi insituldo 0 processo de acord socal wipartie, envolvendo empresas, sn- icatos eo governo, que permitaformularreivindicages sabre temas como ‘© salirio minimo, os impostos sobre os sliiog ax caeacis de transportes pblicos ou na side, Os “problemas das mulheres esurgem neste contex- fo, dado a0 aumento de sua visibilidade como resultado dos processos de Privatzago. A idetidade das mulheres rablhadoras, no mbito dos sindi- ‘ato, est esteitamente ligada 3s Fungdes de mie, exposae educadora, em ‘uma tradisioligada propria uta de ibertaio, permitindo as diejSes sn- dics restringir a intervencio das mulheres nos sindicats ao que & definido como “as quessesexpecifcas da mulher tabalhadora” Partindo da suacondicio de militate feminists e da sualigngio com as. teivindicages das mulheres rabalhadorat (esta designagio & ctcunscrita As assalariadas,excluindo as domésticas ou camponess, € por isso abrange ‘uma pequena parcela das mulheres), a autora centa asa adlise no dis- ‘urso das diregbes sindicas sobre 05 Comités da Mulher, nos espagos de inervengio para as mulheres que ese discurso abree nos constangimen- tos que cra, Esse dscursoscontinuam a crare jusifiarpritcas dict ‘minatGrasbaseadas na dferenga sexual. Auilizagio de diversas estatégiak ce prétca plas mulheres para contestar estes discus eos constrangimen- tos que os acompanham aponta para formas espectficas de aticulagso dat identidades de mulher ede trabalhadorae de reconhecimento de ambas Por intermedio das expeiéncas e istrias de vida de tes mulheres sind

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