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Abaporu Tropicalista: the search for artistic brasility in the 20th century
RESUMO
Esse trabalho tem como objetivo buscar entender as influências da Semana de Arte
Moderna, principalmente com o Movimento Antropofágico de 1928 no Movimento
Tropicália de 1967. Em um espaço de quase 40 anos, esses grupos movidos pelas
insatisfações de suas épocas conversaram um com o outro, com a sociedade que estavam
inseridos no tocante aos discursos, e pela procura de uma brasilidade artística pautada na
mistura de influências internas e externas. Além disso, esse artigo pretende apresentar
modos de ver a cultura como passageira e mutável, guiada por leituras de livros e artigos
que tratam dos temas. Também, procura compreender que sociedade é essa dos anos 60 que
repete o conservadorismo, ao mesmo tempo que tenta se convencer de ser vanguardista e
revolucionária. Mostrando a importância dos movimentos para as mudanças dos modelos
de vida e da compreensão do próprio país e suas nuances de brasilidades, muitas vezes
ignoradas.
PALAVRAS-CHAVE: movimento antropofágico; movimento tropicália; brasilidade;
mutável; artística.
ABSTRACT
This work aims to try to understand the influences of the Modern Art Week, mainly with
the Anthropophagic Movement of 1928 in the 1967 Tropicália Movement. In a space of
almost 40 years, these groups moved by the dissatisfaction of their times talked to each
other, with society that were inserted in what concerns the speeches, and the search for an
artistic Brazilianness based on the mixture of internal and external influences. In addition,
this article intends to present ways of seeing culture as fleeting and changeable, guided by
readings of books and articles that deal with the themes. It also seeks to understand which
society is that of the 60s that repeats conservatism, while trying to convince itself to be
avant-garde and revolutionary.
KEY WORDS:anthropophagic movement; tropicália movement; Brazilianness;
changeable; artistic.
INTRODUÇÃO
Esse artigo tem como objetivo propor uma reflexão sobre a influência artística da
Semana de 22 no movimento tropicalista, e suas contribuições para se pensar o que poderia
ser brasileiro. No caso, não entrando na discursão entre o que poderia considerado uma
“arte brasileira”, se seria apenas a arte criada no país ou por alguém nascido nele, ou ainda
utilizando de elementos culturais da região. O Tropicalismo possui inspiração no Manifesto
Antropofágico de 1928, no que se refere às características de suas respectivas intenções.
Para começar, ambos foram malvistos em suas primeiras amostras. Até tomates foram
jogados nos palcos ao fundo, não muito doce, som de vaias. Foram movimentos artísticos
que tentaram trazer novas reflexões as suas épocas através de elementos de cunho artístico
como a literatura e a música.
É válido ressaltar que o tropicalismo surgiu, com maior impacto, entre 1967 e 1969.
Época de duras repressões e de fortes movimentos estudantis pelo mundo. Começam a
surgir ideias e ações que se contrapõem com os valores existentes em determinadas
sociedades, assim aparecem as manifestações de contracultura que é um “[...]conceito
surgido na imprensa norte-americana nos anos 1960 para designar os movimentos
alternativos de caráter eclético, místico-político” (SILVA; GONÇALVES, 2018, p. 2) 1 .
Tem-se como principal movimento da contracultura mundial o Movimento Hippie, com seu
lema “paz e amor", que por meio do visual e das atitudes, visava confrontar o governo dos
EUA juntamente os militares. Assim os hippies iam sempre de encontro aos padrões. Os
cabelos cortados e barbas feitas pelos soldados foram confrontados e substituídos pelos
cabelos longos, barbas compridas e desgrenhadas; as calças justas pelas “boca de sino” e
tons de cauflagem pelas outras cores.
Nota-se uma forte influência no tropicalismo com suas roupas extravagantes e fora
do usual; com suas aparências, com cabelos despenteados e longos que fugiram do padrão
militar como uma afronta a aquela situação, como um modo padronizado que estava sendo
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SILVA, B.S.M.; GONÇALVES, J. Y. . Contracultura e Transgressão: uma análise do álbum “tropicalia
ou panis et circencis” (1968). CLIO. Recife, v.36, n. 1, 2018.
ditado pela sociedade na época. E o Brasil vai seguindo nessa linha, uma via hipócrita que
enquanto criticava “[...] à inocência de um país que se modernizava [...], ao mesmo tempo,
andava de braços dados com arcaicos padrões de comportamento” (BRANDÃO; DUARTE,
2004, p.79)2. Aqui cabe ressaltar a relação com um local de inferioridade que as minorias
ainda eram colocadas, mesmo que para os quatro cantos do mundo se gritavam “liberdade,
liberdade”.
Abaporu vem da língua tupi-guarani e significa o “homem que come gente” (canibal,
antropófago). Essa palavra Abaporu, é mais conhecida por intitular a obra da autora Tarsila
do Amaral, feita em 1928 como um presente para seu marido na época, o então escritor
Oswald de Andrade, que no mesmo ano realizou o Manifesto Antropofágico inspirado no
nome da pintura. O movimento modernista tinha como característica o experimentalismo
que entrelaçava a arte literária, as artes plásticas, entre outras como música e dança -
apresentadas na Semana de Arte Moderna ou Semana de 22, seguindo influências das
vanguardas europeias - como exemplo, tem-se o cubismo, o futurismo, o expressionismo, o
surrealismo e o dadaísmo que surgiram em diversos lugares da Europa no século XX,
2
BRANDÃO, Antonio Carlos; DUARTE, Milton Fernandes. Movimentos culturais de juventude. 2a ed.
Reform., 23a impressão, São Paulo, Moderna; Coleção polêmica, 2004.
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Referência a música “Fome Come” (1998) da banda brasileira “Palavra Cantada”, composta pelos músicos
Sandra Peres e Paulo Tatit. Banda criada em meados dos anos 1980 em São Paulo. Disponível em:
http://enciclopedia.itaucultural.org.br/grupo636001/palavra-cantada. Acesso em: 19 de nov. 2019.
contudo, trazendo para o Brasil um esboço de arte nacional. Buscando através das cores e
temas, que remetessem a brasilidade, entregar para as pessoas uma arte quase que
genuinamente brasileira. Era o devorar para não ser devorado; consumindo a cultura de fora,
porém, misturando, mesclando e triturando com a de dentro, para que se formasse algo
brasileiro.
Esse movimento tinha como objetivos “[...] a busca do atual, o culto ao progresso, a
incorporação de novas formas artísticas, como o cinema e a afirmação de que a arte não é
uma cópia da realidade.” (MAGNOLO, 2016, p. 4) 4 . A arte podia representar, não
necessariamente ser algo condizente com o que acontecia no real, como um retrato fiel do
tempo. Tentando seguir por outros caminhos que iam de encontro aos clássicos, a Semana
de Arte Moderna tinha como proposta uma ruptura com os modelos artísticos
convencionais, queria explorar outras formas, principalmente, de escritas e de pinturas. Os
participantes que mais se destacaram no início do movimento foram: na literatura o Oswald
de Andrade, o Mário de Andrade, Manuel Bandeira e o Menotti Del Picchia; nas artes tem
como destaque a Tarsila do Amaral e a Anita Malfatti. O evento aconteceu em fevereiro de
1922, no Theatro Municipal em São Paulo, reunindo apresentações de diversas áreas
artísticas. Entretanto, não foi bem aceito, recebendo diversas vaias e críticas no dia seguinte,
inclusive, do autor Monteiro Lobato em relação a artista Anita Malfatti.
Os modernistas da primeira fase (ou fase heroica) também queriam as artes plásticas
e a literatura como ferramentas de reflexão, e não apenas para contemplar e distrair. Era
uma revolução estética a fim de quebrar esses padrões europeus, trazendo uma
independência cultural para o Brasil. Talvez uma tentativa de reafirmar a brasilidade
cultural. Em 1928, Oswald de Andrade apresenta o Manifesto Antropófago que tem a
célebre frase “tupi or not tupi that is the question", refletindo sobre a representação do
indígena. Nessa, Oswald talvez tenha usado numa intenção mais geral para poder obter uma
reflexão mais clara. Portanto, há de se notar também que este movimento possui muitas
referências que remetem ao D. Pedro I como imperador, “A nossa independência ainda não
foi proclamada. Frase típica de D. João VI: - Meu filho, põe essa coroa na tua cabeça, antes
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MAGNOLO, Talita Souza. O Resgate do movimento antropofágico pelos tropicalistas no festival de 67.
Intercom- Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares de Comunicação. Curitiba, 2016.
que algum aventureiro o faça” (ANDRADE, 1928, p. 6) 5 . Então, satirizando a
"independência dependente" que o Brasil teve, e que no ano de 1922 faria seu centenário.
De maneira sutil, talvez tanto pela lírica quanto por uma possível repressão, por
meio dessas referências o manifesto vai se armando para a hora de devorar o outro. Uma
antropofagia cultural, se assim for possível sua existência, como o ser humano e a cultura
não existem sem o outro, devorando o ser humano seria devorar a sua cultura também. Para
além da sua carne, numa linha mais metafórica, também o seu jeito de ser, falar, se
comportar, vestir, pintar, escrever, cantar e se representar. A antropofagia dos modernistas
desejava que sua sociedade se deleite com um banquete cultural com o que de mais fresco
pode ser oferecido pelo seu país.
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ANDRADE, Oswald de. O manifesto antropófago. In: TELES, Gilberto Mendonça. Vanguarda europeia e
modernismo brasileiro: apresentação e crítica dos principais manifestos vanguardistas. 3ª ed. Brasília,
Petrópolis: Vozes.
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ANDRADE, Oswald de. O manifesto antropófago. In: TELES, Gilberto Mendonça. Vanguarda europeia e
modernismo brasileiro: apresentação e crítica dos principais manifestos vanguardistas. 3ª ed. Brasília,
Petrópolis: Vozes.
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DEL PRIORE, Mary; VENANCIO, Renato. Uma breve história do Brasil. São Paulo, Planeta do Brasil,
2010.
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ANDRADE, Oswald de. O manifesto antropófago. In: TELES, Gilberto Mendonça. Vanguarda europeia e
modernismo brasileiro: apresentação e crítica dos principais manifestos vanguardistas. 3ª ed. Brasília,
Petrópolis: Vozes.
A Semana de 22 também funcionou como uma crítica a Exposição do Centenário,
que tinha o intuito de comemorar os cem anos da independência do país, apresentando uma
versão europeizada do brasileiro, foi organizado pelo, então presidente da época o Epitácio
Pessoa. Esse teve em seu governo marcado por intensas agitações políticas. Para além dessa
exposição que durou onze meses, existia a insatisfação com o governo. Com o
descontentamento “no meio civil [...] não faltavam denúncias contra o sistema político da
República Velha.” (DEL PRIORE; VENANCIO, 2010, p. 178) 9. A insatisfação era tanta
que “[...] o mesmo ocorrendo entre intelectuais veiculados à Semana de Arte Moderna de
1922” (DEL PRIORE; VENANCIO, 2010, p.198)10.
E é nesse cenário que uma outra parte da elite, conhecida como "Elite intelectual", a
qual os modernistas faziam parte, eram em grande escala um grupo padronizado, sem
representatividade, se olharmos no tocante as minorias. Eram de maioria homens e brancos.
As pessoas que foram ao teatro assistir também eram desse nicho. Talvez, o que os
diferenciassem era a consciência de si mesmo, de seu lugar, ou mesmo uma força interna
clamando por mudanças específicas.
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DEL PRIORE, Mary; VENANCIO, Renato. Uma breve história do Brasil. São Paulo, Planeta do Brasil,
2010.
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DEL PRIORE, Mary; VENANCIO, Renato. Uma breve história do Brasil. São Paulo, Planeta do Brasil,
2010.
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MAGNOLO, Talita Souza. O Resgate do movimento antropofágico pelos tropicalistas no festival de 67.
Intercom- Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares de Comunicação. Curitiba, 2016.
MINHA LIBERDADE TERMINA ONDE COMEÇA A DO MILITAR
Em 1964 ocorre o Golpe Militar, com uma promessa de colocar o Brasil nos eixos,
os militares tomaram o poder do país com viés ditatorial e armados contra o “fantasma do
comunismo” que tanto assombrava o mundo da logística capitalista da Guerra Fria,
principalmente o “lado” dos EUA. A influência desse país era muito forte dentro de
algumas sociedades latino-americanas e o “[...] Brasil tinha-se caracterizado [...] dentre os
países grandes do continente, como o mais fiel aliado das iniciativas da política norte-
americana para com a América Latina” (HOLANDA, 2007, p. 75) 12. Essa atuação do “Tio
Sam” no país veio para os civis discretamente através das artes e mídias como, por exemplo,
o cinema. Os EUA já possuíam uma forte posição na produção de filmes e exportação deles,
ultrapassando a Europa que se recuperava dos prejuízos das guerras. Em relação ao tête-à-
tête entre governos acontecia por muitas cobertas até hoje desconhecidas totalmente.
Havia muita pressão externa e interna para que o Brasil, que já tinha uma relação
assimétrica de submissão com os EUA, cedesse aos ideais estadunidense e aos “[...]
argumentos maniqueístas da Guerra Fria” (HOLANDA, 2007, p. 125)13 entre os atropelos
dos governos anteriores e mais ainda os dos próximos pós-golpe. Assim a “situação política
interna do Brasil após o final de 1962 deteriorar-se-ia rapidamente...” (HOLANDA, 2007, p.
125)14. Tudo isso contribuindo para a crise de 1964.
Não que tenha sido uma ação surpresa surgida de algum lugar do nada, há indícios
de que desde os anos quarenta tinham a ideia de um possível golpe militar. Às vezes, tem-
se a sensação de que as coisas acontecem por acaso sem nenhum plano por trás, pensando
de maneira não conspiratória, contudo, de forma estratégica para conduzir o país para o
caminho que achavam que o colocaria no rumo ao desenvolvimento e mais próximo dos
EUA. A ditadura pode ter sido planejada meticulosamente, mas talvez tenha sido guiada
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HOLANDA, Sérgio Buarque. O Brasil republicano. Economia e cultura (1930 – 1964). In: História geral
da civilização brasileira; t. 3, v. 11. 4ªed. Rio de Janeiro, Bertrand Brasil, 2007.
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HOLANDA, Sérgio Buarque. O Brasil republicano. Economia e cultura (1930 – 1964). In: História geral
da civilização brasileira; t. 3, v. 11. 4ªed. Rio de Janeiro, Bertrand Brasil, 2007.
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HOLANDA, Sérgio Buarque. O Brasil republicano. Economia e cultura (1930 – 1964). In: História geral
da civilização brasileira; t. 3, v. 11. 4ªed. Rio de Janeiro, Bertrand Brasil, 2007.
por complôs ilusórios, quase que fantasmagóricos, de forças comunistas entre outras
ameaçadoras dos, tão defendidos, bons costumes e afins.
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DEL PRIORE, Mary; VENANCIO, Renato. Uma breve história do Brasil. São Paulo, Planeta do Brasil,
2010.
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CHIAVENATO, Júlio José. O Golpe de 64 e a Ditadura Militar. 6ª ed. São Paulo, Moderna; Coleção
Polêmica, 1994.
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BRASIL, Constituição (1967), Ato Institucional nº 5, 1968. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/ait/ait-05-68.htm. Acesso em: 22 de nov. 2019.
As ações contra a liberdade de expressão, de livre transito dos civis brasileiros
piorou com a implementação do Ato Institucional 5, vulgo AI-5, no dia 13 de dezembro de
1968. Com esse ato as pessoas foram impedidas de frequentar certos locais, de realizar
qualquer atividade com teor político, além da proibição do voto e do direito ao habeas
corpus. Assim entre esse período “[...] a ditadura destruiu a economia, institucionalizou a
corrupção e fez da tortura uma prática pólitica. Envileceu a nação e abalou o caráter brasileiro.”
(CHIAVENATO, 1994, p.5)18
Os jovens na França deixavam clara a mensagem em seus muros “Il est interdit
d'interdire!” Tal frase vingou no Brasil com a canção É proibido, proibir! cantada pelo
Caetano Veloso, que é a tradução literal da citação. O fim dos anos 60 foram marcados por
manifestações em diversos lugares do mundo, movida principalmente pela juventude e por
trabalhadores. Esses estavam cansados da velha política, das velhas promessas que
percebiam serem falsas.
O ano de 1968 foi marcado por fortes ebulições, transformando aspectos políticos
e culturais, tanto no Brasil quanto mundo a fora. Na Europa, mais
especificamente na França, é de grande relevância uma série de manifestações
promovidas por jovens estudantes e intelectuais que ficou conhecido como ‘Maio
de 1968’. (SILVA; GONÇALVES, 2018, p. 2) 19.
Tal movimento teve uma enorme força na França, apesar de existir divergencias de
motivações entre esses dois grupos, tanto alunos quanto trabalhodores franceses se uniram -
para em uma das maiores greves da França, para exigir melhorias econômicas, culturais e
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CHIAVENATO, Júlio José. O Golpe de 64 e a Ditadura Militar. 6ª ed. São Paulo, Moderna; Coleção
Polêmica, 1994.
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SILVA, B.S.M.; GONÇALVES, J. Y. . Contracultura e Transgressão: uma análise do álbum “tropicalia
ou panis et circencis” (1968). CLIO. Recife, v.36, n. 1, 2018.
sociais. A movimentação começou em março na Universidade de Nanterre com
manifestações por parte dos estudantes contra a guerra no Vietnã. Após diversas
manifestações as aulas foram suspensas e a faculdade de letras foi fechada, assim os
estudantes deixaram Nanterre e começaram a ocupar a Sorbonne – edificio histórico que
abriga a universidade mais antiga de Paris, sendo um ponto estratégico para iniciar as
revindicações. A conclusão se deu com diversos feridos por conta do confronto com os
policiais e o fechamento da Soubonne. Assim se seguiu com barricadas e protestos por
partes dos participantes.
O nome do movimento/albúm apareceu primeiro como título de uma música composta por
Caetanop Velono em 1967, tal designação foi uma “[...] sugestação do fotógrafo Luís Carlos
Barreto, em referência à obra de Hélio Oiticica22.” (SILVA; GONÇALVES, 2018, p. 7)23.
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SILVA, B.S.M.; GONÇALVES, J. Y. . Contracultura e Transgressão: uma análise do álbum “tropicalia
ou panis et circencis” (1968). CLIO. Recife, v.36, n. 1, 2018.
22
Hélio Oiticica (1937 – 1980) “ havia elaborado uma instalação constituída por um labirinto de madeira
forrado com areia e pedras, que, ao ser pecorrido pelo escpectador, colocava-o em contato sensorial com
diversos elementos naturais e culturai do Brasil...” (SILVA; GONÇALVES, 2018, p. 7). Assim, vendo
semelhanças entre as propostas o nome do grupo foi inspirado na instalação, ficando então conhecido como
Tropicália.
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SILVA, B.S.M.; GONÇALVES, J. Y. . Contracultura e Transgressão: uma análise do álbum “tropicalia
ou panis et circencis” (1968). CLIO. Recife, v.36, n. 1, 2018.
modernização...” (BRANDÃO; DUARTE, 2004, p. 82) 24 . Incorporando misturas de
elementos, não apenas nacionais como internacionais. Não era do movimento militante de
esquerda que apenas trazia músicas de protesto, entretanto não nadava na onda
comercialista, considerada na época por alguns como canções alienadas, representadas pela
Jovem Guarda com o Tremendão, o Rei e a Ternurinha. É como se o tropicalismo
trabalhasse “[...] a política e a estética num mesmo plano, mostrando as contradições da
nossa modernização subdesenvolvida a partir de outra forma de arte” (BRANDÃO;
DUARTE, 2004, p. 83)25.
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BRANDÃO, Antonio Carlos; DUARTE, Milton Fernandes. Movimentos culturais de juventude. 2a ed.
Reform., 23a impressão, São Paulo, Moderna; Coleção polêmica, 2004.
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BRANDÃO, Antonio Carlos; DUARTE, Milton Fernandes. Movimentos culturais de juventude. 2a ed.
Reform., 23a impressão, São Paulo, Moderna; Coleção polêmica, 2004.
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Nota nossa: Música Domingo do Parque do cantor Gilberto Gil, apresentada no III Festival de Música
popular, na TV Record, no ano de 1967. Foi acompanhada pela guitarra elétrica da banda Mutantes.
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BRANDÃO, Antonio Carlos; DUARTE, Milton Fernandes. Movimentos culturais de juventude. 2a ed.
Reform., 23a impressão, São Paulo, Moderna; Coleção polêmica, 2004.
Trazendo à tona o visual como forma de chamar atenção para o que eles queriam
dizer, com a intenção de “[...] desconstruir tudo, desorganizar para então organizar o seu
próprio movimento.” (SILVA; GONÇALVES, 2018, p. 9)28. Se apresentavam nos festivais de
músicas na televisão e por chamarem atenção até tiveram um programa - Divino
Maravilhoso na TV Tupi, apresentado por Caetano Veloso e Gilberto Gil. Incluindo uma
apresentação de Veloso cantando uma música de Natal chamada Boas Festas do cantor
Assis Valente com uma arma apontada para a cabeça. Simbolizando que apesar da canção
ser conhecida e ter sucesso, ninguém conhecia, nem creditava o autor dela; ele se suicidou
com um tiro na cabeça aos 46 anos. Essa apresentação mesclava a beleza da música com a
dureza de uma vida desconhecida e vítima de uma sociedade racista e tóxica. Dois dias
após o programa, Veloso e Gil foram presos e exilados. O AI-5 estava instalado com
brechas e mais brechas que nada dizia sobre o que poderia acontecer com aqueles que
nadassem contra a maré. Uns fugiam, outros eram exilados, outros torturados, outros
assassinados, mas a maioria era calada de tal forma que mesmo no século XXI ainda há
familiares que procuram membros desaparecidos.
Foram ouvidos, porém, muito mal compreendidos em sua época, tanto pela direita
quanto pela esquerda, o tropicalismo “[...] tentou traduzir a realidade brasileira com
irreverência e humor ‘digerindo’ a realidade nacional por meio de uma arte renovada e
antropófaga [...]”. (MAGNOLO, 2016, p. 9) 29 . O movimento tinha como proposta
evidenciar algumas ações da sociedade brasileira que perpetuavam o conservadorismo, para
além de cantar sobre o Golpe de 64. Principalmente, criticavam alguns elementos, como a
igreja, a família e o Estado que insistiam em sustentar uma moral e uns costumes unilaterais
que não abarcavam a diversidade que existiam no país.
A crítica proposta nas músicas vai além daquela endereçada às forças repressoras
do Estado-militar, e abrangem as posturas conservadoras no âmbito musical,
estático, comportamental e sexual. Lançado no ano de 1968 o disco-manifesto
coletivo Tropicália ou panis et circencis, representa um novo momento na canção
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SILVA, B.S.M.; GONÇALVES, J. Y. . Contracultura e Transgressão: uma análise do álbum “tropicalia
ou panis et circencis” (1968). CLIO. Recife, v.36, n. 1, 2018.
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MAGNOLO, Talita Souza. O Resgate do movimento antropofágico pelos tropicalistas no festival de 67.
Intercom- Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares de Comunicação. Curitiba, 2016.
brasileira: a abertura explícita aos diálogos culturais. (SILVA; GONÇALVES,
2018, p.1)30.
O alvo não era apenas a situação do governo, mas também o papel de cada
individuo e como os considerados elementos pilares de sustentação do Brasil funcionavam,
como controlavam e manipulavam. As músicas também eram uma chamada de atenção
para a sociedade quem sabe acordar e entender o que estava acontecendo no país.Além
disso, criticavam a forma de fazer música, já que a maioria das canções do albúm possuem
distorção e uma grande mistura de elementos, talvez sendo “como uma maneira de romper
com a estética hamônica...” (SILVA; GONÇALVES, 2018, p.11)31.
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SILVA, B.S.M.; GONÇALVES, J. Y. . Contracultura e Transgressão: uma análise do álbum “tropicalia
ou panis et circencis” (1968). CLIO. Recife, v.36, n. 1, 2018.
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SILVA, B.S.M.; GONÇALVES, J. Y. . Contracultura e Transgressão: uma análise do álbum “tropicalia
ou panis et circencis” (1968). CLIO. Recife, v.36, n. 1, 2018.
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SILVA, B.S.M.; GONÇALVES, J. Y. . Contracultura e Transgressão: uma análise do álbum “tropicalia
ou panis et circencis” (1968). CLIO. Recife, v.36, n. 1, 2018.
estavam. Talvez aproveitando tudo que estava ao alcance deles, mesmo se perdendo pelo
caminho, já que aquilo também era novidade para o grupo.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
“Um dos fatores fundamentais da mudança cultural é a criatividade através de
invenções e descobertas.” (RIBEIRO, 1978, p. 128) 33. Essa frase do antropólogo Darcy
Ribeiro abre o presente capítulo pela descrição cabível que, de certa forma, apresenta o que
se encontra no modelo trazido pela mudança cultural. Com invenções e descobertas se
transforma a forma, desnuda a cultura de um lugar sem esquecer que essa é metamórfica,
ela se transforma com o tempo; é de algum modo muito semelhante ao seu produtor
humano efêmero, porém, essa tem um bônus de ser passageira em sua ilusão de perenidade.
Enquanto existir o ser humano existirá a cultura porquê “[...] o homem é produto e
produtor da cultura” (BRANDÃO; DUARTE, 2004, p.10) 35 . Sendo assim de caráter
mutável e transformador para demonstrar o modo de uma sociedade criar para refletir. Essa
forma de apresentar a cultura brasileira com uma noção de pertencimento de algo criado em
sua terra para os da sua terra no Brasil, demorou de acontecer por conta de uma “[...]
dependência e de atraso no plano econômico e social” (RIBEIRO, 1978, p. 147) 36 , e
também do plano ideológico sempre esperando a aprovação dos de fora para validar o que
existe dentro do país. Sendo que os próprio brasileiros, não apenas a política como também
os civis, não valorizam a sua cultura, pois há uma falta de pertêncimento. Pode-se eexistir,
na verdade, um estranhamento com o que é local, já que se tem uma maior valorização do
de fora num “complexo de vira-lata” enraízado no país.
33
RIBEIRO, Darcy. Os Brasileiros: Teoria do Brasil. 11a ed. ; Rio de Janeiro, Petrópolis: Vozes, 1978.
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RIBEIRO, Darcy. Os Brasileiros: Teoria do Brasil. 11a ed. ; Rio de Janeiro, Petrópolis: Vozes, 1978.
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BRANDÃO, Antonio Carlos; DUARTE, Milton Fernandes. Movimentos culturais de juventude. 2a ed.
Reform., 23a impressão, São Paulo, Moderna; Coleção polêmica, 2004.
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RIBEIRO, Darcy. Os Brasileiros: Teoria do Brasil. 11a ed. ; Rio de Janeiro, Petrópolis: Vozes, 1978.
É provável que a busca por uma brasilidade seja eterna enquanto não se entender
como pertencenter ao seu país, não necessariamente indo para um patriotismo caótico, mas
compreendendo que o Brasil é heterogêneo e isso faz parte da sua cultura. É necessário o
consumo do plural, a antropofagia das culturas influenciadoras é importante, como já diz,
fazem parte da construção da cultura brasileira. Dessa forma, devorar, triturar e misturar
formando essa geléia geral que é o Brasil.