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5221 24043 2 PB
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Some remarks on the third sessions of the Business and Human Rights Treaty Pro-
cess and the ‘Zero Draft’...............................................................................................25
Humberto Cantú Rivera
The United Nations guiding principles on business and human rights, the State
Duty to protect human rights and the State-business nexus. .....................................42
Mihaela Maria Barnes
Hardening soft law: are the emerging corporate social disclosure laws capable of
generating substantive compliance with human rights?...............................................65
Justine Nolan
Business and human rights in Brazil: exploring human rights due diligence and ope-
rational-level grievance mechanisms in the case of Kinross Paracatu gold mine. ..222
Mariana Aparecida Vilmondes Türke
Efficiency and efficacy of public food procurement from family farmers for school
feeding in Brazil. .......................................................................................................... 271
Rozane Márcia Triches
A relação entre o grau de integração econômica e o sistema de solução de contro-
vérsias: um estudo comparativo entre a União Europeia e o Mercosul. ....................286
Luciane Klein Vieira e Elisa Arruda
The rights to memory and truth in the inter-american paradigms of transitional jus-
tice: the cases of Brazil and Chile..............................................................................308
Bruno Galindo
Resenha do livro Space, Global Life: The Everyday Operation of International Law
and Development, de Luis Eslava.................................................................................473
Matheus Gobbato Leichtweis
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KESIKOWSKI, Sabrina Cunha; WINTER, Luis Alexandre Carta; GOMES, Eduardo Biacchi. A atuação do Grupo Mercado Comum frente à criminalidade organizada transnacional. Revista de Direito
Para o presente artigo, interessa analisar, de manei- 2. Crime organizado transnacional:
ra mais profunda, o Grupo Mercado Comum e as Re- relevante ameaça às sociedades modernas
soluções por ele emitidas, dentre as quais, algumas se
globalizadas
relacionam à segurança pública e ao combate ao crime
organizado transnacional.
Entende-se por globalização as mudanças verifica-
Considerando-se que referidas Resoluções são obri- das na última década do século XX, que deram origem
gatórias aos países membros do Mercosul (muito em- a um mundo calcado em novas tecnologias e estruturas
bora devam ser internalizadas pelos Estados – a depen- sociais, como também em uma nova economia e uma
der dos requisitos internos de seus Direitos internos) e nova cultura1. Ou seja, trata-se de um conjunto com-
seus conteúdos refletem os ordenamentos jurídicos e as plexo de processos2 que promoveu, e ainda fomenta, a
medidas adotadas por estes, o artigo que ora se introduz intensificação das relações sociais em escala mundial3,
possui como tema a atuação do Grupo Mercado Co- sendo especialmente influenciada por desenvolvimen-
mum frente à criminalidade organizada transnacional, tos nos sistemas de comunicação que datam do final da
buscando resposta para a seguinte indagação: de que década de 19604.
maneira a atuação do Mercosul, por meio do Grupo
Assim, ainda que se possa considerar, por exemplo,
Mercado Comum, contribui para o enfrentamento do
o comércio desenvolvido pela Companhia das Índias
crime organizado transnacional?
Ocidental e Oriental como um princípio de globaliza-
O trabalho foi organizado em três seções, iniciando- ção5, após o fim da Segunda Guerra Mundial, esse fe-
-se com o estudo da criminalidade organizada transna- nômeno tornou-se responsável pela universalização da
cional e a sua estreita relação com a globalização. No economia, política e cultura e, dessa forma, pela integra-
tópico seguinte, aborda-se o Grupo Mercado Comum, ção dos países do globo, mediante eficientes tecnologias
órgão executivo do Mercosul, e suas Resoluções, esta- de comunicação, transmissão de dados e transportes,
belecendo relação de conexão entre elas e algumas me- o que contribui para o desenvolvimento de atividades
didas adotadas no Brasil para combater às organizações econômicas lícitas e ilícitas, uma vez que os mecanismos
criminosas. Por fim, analisa-se a cooperação jurídica concebidos para a economia formal e para o mercado
internacional em matéria penal como importante ins- capitalista legítimo são utilizados pelos grupos crimino-
trumento de enfrentamento do crime organizado trans- sos ao redor do mundo.
nacional.
Logo, verifica-se a existência de uma criminalidade
A análise realizada no presente artigo ganha des- econômica transnacional, pois delitos antes praticados
taque e importância, notadamente ante a ausência de somente no plano nacional passaram a ser cometidos
pesquisas específicas referentes aos acordos de coope- internacionalmente. Outrossim, a atividade criminal se
ração jurídica e o combate ao crime organizado den- tornou cada vez mais organizada, isto é, desenvolvida
tro do Mercosul. Com o advento do Novo Código de de forma estruturada, com o intuito de melhorar sua
Processo Civil e os reflexos da globalização, os orde- execução por meio da união de esforços dos integrantes
namentos jurídicos nacionais não podem mais dar as da organização, buscando alcançar objetivos comuns a
respostas para questões conectadas entre duas ou mais eles.
jurisdições. Internacional, Brasília, v. 15, n. 2, 2018 p. 353-369
Afirma-se, então, que: “Criminalidad organizada,
Para tanto, foi utilizado o método de abordagem criminalidad internacional y criminalidad de los pode-
científica dedutivo, o método procedimental histórico
e as técnicas de pesquisa bibliográfica, com a análise de
1 CAPRA, Fritjof. As conexões ocultas: ciência para uma vida susten-
livros, artigos científicos e dissertações sobre o assunto, tável. São Paulo: Cultrix, 2015.
bem como documental, a fim de examinar as Resolu- 2 GIDDENS, Anthony. Mundo em descontrole. Rio de Janeiro: Re-
ções do Grupo Mercado Comum, os Protocolos, Con- cord, 2000. p. 23.
3 GIDDENS, Anthony. As consequências da modernidade. São Paulo:
venções e Acordos vigentes no âmbito do Mercosul, e a UNESP, 1991. p. 69.
legislação brasileira. 4 GIDDENS, Anthony. Mundo em descontrole. Rio de Janeiro: Re-
cord, 2000. p. 21.
Feitas tais considerações, passa-se a discorrer sobre 5 POZZOLI, Lafayette. Direito comunitário europeu: uma perspec-
o tema proposto. tiva para a América Latina. São Paulo: Método, 2003. p. 55.
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KESIKOWSKI, Sabrina Cunha; WINTER, Luis Alexandre Carta; GOMES, Eduardo Biacchi. A atuação do Grupo Mercado Comum frente à criminalidade organizada transnacional. Revista de Direito
rosos son, probablemente, las expresiones que mejor tucionalizada dentro do crime organizado. Revestem-se
definen los rasgos generales de la delincuencia de la de uma dimensão institucional, vez que possuem regras
globalización”6. próprias de funcionamento dentro da instituição crimi-
nosa antissocial, a qual as torna não a mais do que a
Organização criminosa consiste na:
soma de suas partes, mas, sim, algo independente a ela.
Associação de agentes, com caráter estável e
duradouro, para o fim de praticar infrações É nessa dimensão institucional que reside a diferen-
penais, devidamente estruturada em organismo ça dos grupos criminosos organizados em relação aos
preestabelecido, com divisão de tarefas, embora
visando ao objetivo comum de alcançar qualquer meros agrupamentos para cometer crimes.10
vantagem ilícita, a ser partilhada entre os seus
Segundo Guaracy Mingardi11, é possível identificar,
integrantes.7
pelo menos, três tipos distintos de organização crimi-
Nessa perspectiva, em síntese, são características das nosa, quais sejam: a) organização criminosa tradicional,
organizações criminosas: a realização de suas atividades aquela de estilo mafioso em que a relação entre os mem-
de maneira a impossibilitar ou, pelo menos, obstar a bros se assemelha ao sistema feudal, ou seja, existe a
persecução penal, de forma que as estruturas das orga- figura do padrinho ou mestre, que consiste em patrono
nizações criminosas variarão de acordo com as peculia- e chefe do novo integrante, o qual passa por um pe-
ridades dos crimes praticados e do modelo repressivo ríodo de teste e, se aceito, submete-se a um ritual em
dos países em que atuam, motivo pelo qual serão di- que jura fidelidade perpétua; b) organização criminosa
ferentes entre si; a existência de objetivos econômicos, empresarial, que tem como principal característica a
e a estruturação em moldes empresariais, na qual cada transposição de métodos empresariais para o crime e,
integrante possui funções determinadas e deve ter rele- simultaneamente, o esquecimento de conceitos como
vância para a execução dos delitos. Esse caráter empre- honra, lealdade, obrigação, dentre outros; c) organiza-
sarial será moldado de acordo com as peculiaridades de ção criminosa endógena, isto é, grupo criminoso que
cada organização, tamanho, atividade desenvolvida, etc.8 surge dentro de uma organização legal, em grande parte
Outrossim, as organizações criminosas se identifi- das vezes, no aparelho do Estado.
cam pela infiltração nas estruturas dos Estados, prin- No tocante aos dois primeiros modelos, acrescenta-
cipalmente pela corrupção de agentes públicos; pela -se que a criminalidade organizada de tipo mafiosa tem
transnacionalidade; como também pela estruturação sua atividade delituosa fundada no uso da violência e
hierarquizada ou em rede, na qual diversos grupos cri- intimidação, com estrutura hierarquizada, distribuição
minosos menores atuam de forma integrada, em vez de tarefas, planejamento de lucros e observância da Lei
de existir um grande grupo criminoso, identificando-se do Silêncio, sendo suas vítimas difusas e o controle so-
pela descentralização e fungibilidade de seus membros.9 cial obstado pela corrupção governamental. Em contra-
Ressalta-se que as condutas criminosas e de caráter partida, a criminalidade organizada empresarial corres-
transnacional, possuem uma dimensão quase que insti- ponde a uma empresa voltada para a atividade delitiva,
que somente visa ao lucro econômico de seus sócios, os
quais são empresários, comerciantes, políticos, hackers
6 SILVA SÁNCHEZ, Jesús-María. La expansión del derecho penal:
etc., não se valendo de intimidação ou violência.12
Internacional, Brasília, v. 15, n. 2, 2018 p. 353-369
aspectos de la política criminal de las sociedades postindustriales.
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derecho_penal.pdf>. Acesso em: 25 jun. 2018.
7 NUCCI, Guilherme de Souza. Organização criminosa. 2. ed. Rio 10 CORDIN, Nicolás Santiago; HOET, Mariano Javier. Criminal-
de Janeiro: Forense, 2015. idad transnacional organizada em el ámbito del MERCOSUR: ¿Ha-
8 ANTONIETTO, Caio Marcelo Cordeiro. A disciplina penal das cia un Derecho Penal Regional? Revista de Direito Internacional, Bra-
organizações criminais transnacionais: uma análise econômica do tráfico sília, v. 12, n. 2, p. 527-539, 2015. p. 532. Disponível em: <https://
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ritiba, 2015. p. 16-20. 11 MINGARDI, Guaracy. Crime organizado. In: LIMA, Renato
9 ANTONIETTO, Caio Marcelo Cordeiro. A disciplina penal das Sérgio de; RATTON, José Luiz; AZEVEDO, Rodrigo Ghirghelli
organizações criminais transnacionais: uma análise econômica do tráfico (Org.). Crime, polícia e justiça no Brasil. São Paulo: Contexto, 2014. p.
internacional de drogas e lavagem de capitais. 2015. 124 f. Disser- 320-321.
tação (Mestrado) – Pontifícia Universidade Católica do Paraná, Cu- 12 PENTEADO FILHO, Nestor Sampaio. Manual esquemático de
ritiba, 2015. p. 16-20. criminologia. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2016. p. 94-95.
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KESIKOWSKI, Sabrina Cunha; WINTER, Luis Alexandre Carta; GOMES, Eduardo Biacchi. A atuação do Grupo Mercado Comum frente à criminalidade organizada transnacional. Revista de Direito
Mingardi13 ainda destaca que existem outras situações Acerca dos ganhos obtidos pelos grupos crimino-
que deram origem a famosas organizações criminosas, sos, cumpre destacar que, muito embora as estimativas
como o surgimento de grupos criminosos organizados dos lucros e movimentações financeiras provenientes
no interior dos presídios a partir de uma liga de presos, o da economia do crime possuam certa variação e não se-
que corresponde ao atual modelo brasileiro e tem como jam inteiramente confiáveis, elas demonstram a dimen-
exemplo o Comando Vermelho (CV), no Rio de Janeiro, são do fenômeno da criminalidade organizada transna-
e o Primeiro Comando da Capital (PCC), em São Paulo. cional. Nesse sentido, o Escritório das Nações Unidas
sobre Drogas e Crimes (United Nation Office on Drugs and
À vista disso, em que pese existam algumas distin-
Crime - UNODC) estima que o comércio ilegal do crime
ções quanto à formação e estrutura dos grupos cri-
organizado obtém ganhos superiores a US$ 2 trilhões
minosos organizados, nota-se que, de maneira geral, a
por ano. Já o Fórum Econômico Mundial, pautando-
estratégia utilizada para a internacionalização das ati-
-se em uma pesquisa de 2011 feita pelo Global Financial
vidades criminosas consiste em instalar as funções de
Integrity (GFI), calculou que tais ganhos superam US$
gestão e produção em zonas de baixo risco, nas quais se
1 trilhão, sendo o narcotráfico, a falsificação, o tráfico
detém relativo controle do meio institucional, e voltar a
humano, o tráfico ilegal de petróleo e o tráfico de vida
atenção, como mercados preferenciais, para as regiões
selvagem, as cinco atividades ilegais mais rentáveis às
com uma procura de elevado nível socioeconômico, que
organizações criminosas.18
pode pagar mais caro.14
Ainda, destaca-se que a formação de redes em escala
É o que ocorre, por exemplo, com os cartéis do nar-
global entre organizações criminosas não faz desapare-
cotráfico na Colômbia, que, incialmente, concentravam
cer aquelas enraizadas nacional, regional e etnicamen-
suas exportações para os EUA, mais tarde, para a Euro-
te, isto é, diretamente relacionadas à cultura de países
pa e, finalmente, para todo o mundo, ou mesmo o que
e regiões específicas, à sua ideologia, código de honra
se verificou na Rússia e ex-repúblicas soviéticas no pe-
e mecanismos de filiação e comprometimento, como
ríodo posterior à Guerra Fria, quando os grupos crimi-
os traficantes de drogas colombianos. Ao contrário, tal
nosos russos, ex-soviéticos, bem como os provenientes
formação de redes globais permite que as organizações
de todas as partes do globo se apoderaram de signifi-
criminosas tradicionais sobrevivam e prosperem, na
cativa quantidade de armamentos militares e nucleares
medida em que escapam do controle de um determina-
para vendê-los a quem pagasse mais caro.15
do Estado.19
Essa internacionalização das atividades criminosas
A necessidade de fugir da repressão das forças poli-
faz com que as organizações criminosas de diferentes
ciais estatais faz com que alianças estratégicas entre gru-
países estabeleçam alianças estratégicas de cooperação
pos criminosos constituam fator essencial à empreitada
com as transações umas das outras, em vez de dispu-
delitiva em escala global. Por si só, nenhuma organiza-
tar entre si, mediante acordos de subcontratação e joint
ção criminosa consegue se constituir por completo em
ventures, cuja prática acompanha a lógica organizacional
todo o planeta, tampouco é capaz de expandir sua área
das empresas, que se reestruturaram e assumiram a for-
de atuação internacional sem invadir o território tradi-
ma de redes16. Ademais, os próprios rendimentos dessas
cionalmente controlado por outra organização. Logo,
atividades são globalizados, por meio da lavagem de di-
Internacional, Brasília, v. 15, n. 2, 2018 p. 353-369
sob a lógica exclusivamente empresarial, os grupos cri-
nheiro nos mercados financeiros internacionais.17
minosos firmam alianças de respeito mútuo e encon-
tram pontos de concordância que ultrapassam frontei-
13 MINGARDI, Guaracy. Crime organizado. In: LIMA, Renato Sé- ras nacionais.20
rgio de; RATTON, José Luiz; AZEVEDO, Rodrigo Ghirghelli (Org.).
Crime, polícia e justiça no Brasil. São Paulo: Contexto, 2014. p. 322-323.
14 CASTELLS, Manuel. O fim do milénio. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2003. p. 211.
Calouste Gulbenkian, 2003. p. 210. 18 JUSTO, Marcelo. As cinco atividades do crime organizado que ren-
15 CASTELLS, Manuel. O fim do milénio. Lisboa: Fundação dem mais dinheiro no mundo. Disponível em: <http://www.bbc.com/
Calouste Gulbenkian, 2003. p. 210-211. portuguese/noticias/2016/04/160331_atividades_crime_organi-
16 CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede. São Paulo: Paz e zado_fn#orb-banner>. Acesso em: 1 out. 2016.
Terra, 1999. p. 217-219. Disponível em: <https://globalizacaoein- 19 CASTELLS, Manuel. O fim do milénio. Lisboa: Fundação
tegracaoregionalufabc.files.wordpress.com/2014/10/castells-m-a- Calouste Gulbenkian, 2003. p. 212.
sociedade-em-rede.pdf>. Acesso em: 20 ago. 2017. 20 CASTELLS, Manuel. O fim do milénio. Lisboa: Fundação
17 CASTELLS, Manuel. O fim do milénio. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2003. p. 226.
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KESIKOWSKI, Sabrina Cunha; WINTER, Luis Alexandre Carta; GOMES, Eduardo Biacchi. A atuação do Grupo Mercado Comum frente à criminalidade organizada transnacional. Revista de Direito
De outro lado, as rígidas instituições dos Estados pobreza mundial e o desejo de rápida ascensão social,
permanecem circunscritas às suas fronteiras, perdendo, atrai muitos adeptos com o fluxo de grandes quantias
assim, sua legitimidade, isto é, a capacidade de impor a de dinheiro e bens.
lei e a ordem.21 Logo, o enfrentamento da criminalidade
Isto posto, resta claro que as organizações crimino-
organizada transnacional compreende a reafirmação do
sas desestabilizam as finanças e mercados de capital in-
Estado Democrático de Direito, bem como de medidas
ternacionais, como também as economias nacionais, e
e métodos que devem ser ordenados para tanto.22
interferem nas instituições e políticas democráticas dos
Manuel Castells23 salienta que “a chave para o su- Estados e em suas culturas.
cesso e o alargamento do crime global na década de 90
Diante disso, entende-se que:
encontra-se na flexibilidade e versatilidade da sua orga-
[...] la respuesta no puede ser local, la política criminal
nização”. Ou seja, a força organizativa do crime trans- que se desarrolle al efecto debe abarcar la misma
nacional reside na combinação entre a estruturação fle- dimensión del fenómeno que se trata de prevenir; si
xível em rede de grupos locais, calcados na tradição e el fenómeno criminológico es regional, la respuesta
debe tener dicho alcance. De lo contrario, quedaría
na identidade e operando em um ambiente institucional
reducida a un conjunto de declaraciones de buenas
favorável, e o poder de ação global oriundo de alianças intenciones.26
estratégicas24.
Portanto, faz-se necessária, nos âmbitos nacional e
Conforme anteriormente afirmado, o tráfico de dro- internacional, a maior cooperação entre os órgãos de
gas é a principal atividade das organizações criminosas. segurança pública, investimentos em recursos tecnoló-
Aliado a ele, bem como aos demais crimes, verifica-se gicos e no campo de inteligência, adequada capacitação
a prática da lavagem de dinheiro, que garante a lucrati- do contingente policial e a implementação de políticas
vidade econômica dos delitos, por meio da reinserção públicas de prevenção ao crime organizado.
de tais lucros na economia formal, os quais sustentam
e movimentam as empreitadas delitivas, financiam suas Nesse contexto, analisar-se-á, no tópico a seguir, a
relações transnacionais e de corrupção, e, portanto, são previsão de medidas de enfrentamento ao crime orga-
elementares à atuação e manutenção dos grupos crimi- nizado transnacional no âmbito do Mercosul e sua cor-
nosos. respondente adoção no Brasil.
MACHADO, Bruno Amaral; VIEIRA, Priscilla Bri- POZZOLI, Lafayette. Direito comunitário europeu: uma
to Silva. O controle penal do tráfico de pessoas: con- perspectiva para a América Latina. São Paulo: Método,
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