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UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MOÇAMBIQUE

Faculdade de Gestão de Recursos Naturais

Tema: A Arbitragem e Resolução de conflitos

Nomes de Estudantes:
Ema da luz Aníbal
Luísa Beníncio Paruque
Wilma Adriana Lopes

Trabalho em grupo de Direito de Energia Gás e Petróleo, 3º ano de Direito, período


diurno, orientando pelo Mestre Ernesto Camacho.

Tete, Outubro de 2022


Introdução

A arbitragem é actualmente o meio de solução de controvérsias mais utilizado no âmbito


do comércio internacional. Na indústria do petróleo, a via arbitral também vem adquirindo
posição de destaque, não só nos contratos de concessão (ou similares) para exploração e
produção de petróleo e gás. Hodiernamente é imprescindível que se depreenda que o
petróleo e o gás natural, enquanto matérias-primas produto de um número significativo de
indústrias ao redor do mundo, e matrizes energéticas principais que movem toda a
população mundial, são alvos de constante exploração dentro dos respectivos territórios
dos Estados nacionais soberanos onde se localizam. Essa produção crescente é produto de
um avanço tecnológico crescente dia após dia que se tornou indispensável para responder e
atender às necessidades quase que insaciáveis da população contemporânea. A Arbitragem,
desde os primórdios, mostrou-se pautada na autonomia da vontade. A possibilidade de
poder escolher, por exemplo, a lei aplicável à controvérsia mostra-se deveras interessante
quando as partes do contrato são de países diferentes e, portanto, sistemas jurídicos
diferentes. Isso torna a arbitragem mais pautável à indústria petrolífera, visto a sua
característica internacional, além do seu alto grau de especialização e valores monetários.
É mister salientar que a arbitragem é utilizada como forma de solução de conflitos
inclusive nos contratos de concessão firmados entre o Estado e os entes privados, o que
torna importante a discussão sobre esse instituto. Moçambique é um País com muitas
potencialidades económicas e riquezas naturais. O crescimento da economia moçambicana
e o aumento do investimento estrangeiro têm-se feito sentir com muita incidência nos
sectores extractivos. A aprovação das novas leis relativas aos sectores mineiros e
petrolíferos (Lei n.º 20/2014, designada “Lei de Minas” e Lei n.º 21/2014, designada “Lei
dos Petróleos”) criam para estes sectores um novo regime jurídico com relevantes
consequências para todos aqueles que desenvolvem actividades nestas áreas. O relatório
ocupar-se na exposição da arbitragem e dos demais meios extrajudiciais de resolução de
litígios à luz do Direito moçambicano. Tema este, sem dúvida, da maior actualidade e
relevância para Moçambique. Demonstra-o, nomeadamente, a circunstância de o legislador
deste País se ter ocupado dele várias vezes nos últimos anos. Para tanto, o primeiro
capítulo concentra-se na exposição dos métodos de resolução de conflito efectivados por
meio da autotutela, assim como se desenvolve sucintamente a necessidade da Arbitragem
não ser vista de modo antagónico ao poder judiciário, mas como uma útil forma de
resolução de conflitos. Por isso é premente que se considere a relevância acerca do estudo
da Arbitragem e Resolução de conflitos no âmbito do petróleo e gás natural.

Objectivos Geral:

 Análise da adopção da arbitragem como meio alternativo de solução de


controvérsias do Contrato de Concessão para Exploração de Petróleo e o Gás.

Objectivos Específicos:

 Conceito da Arbitragem;

 Vantagens da utilização da arbitragem para solução das controvérsias;

Metodologia:

No que tange a realização do trabalho, este passou por um processo de pesquisa qualitativa
e análise documental de informação referentes ao tema em estudo e na consulta de artigos
científicos, teses, e legislações nacionais para a realização do trabalho.

PALAVRA-CHAVE: Direito do Petróleo; Arbitragem; Contratos.


Brevemente historial da Arbitragem

A arbitragem, desde os primórdios, mostrou-se pautada na autonomia da vontade. A


possibilidade de poder escolher, por exemplo, a lei aplicável à controvérsia mostra-se
deveras interessante quando as partes do contrato são de países diferentes e, portanto,
sistemas jurídicos diferentes. Isso torna a arbitragem mais pautável à indústria petrolífera,
visto a sua característica internacional, além do seu alto grau de especialização e valores
monetários. É mister salientar que a arbitragem é utilizada – como forma de solução de
conflitos – inclusive nos contratos de concessão firmados entre o Estado e os entes
privados, o que torna importante a discussão sobre esse instituto.

Uma das características da arbitragem é a praticidade, que se mostra importante para a


indústria do petróleo, dentre outros motivos, por tornar o sistema mais célere, mostrando
ser acessível à indústria que preza resolver seus litígios de forma rápida e segura, visto que:

Rui Miguel Pereira Matos (2015, pp. 37-38.)

“na prática, ele (esse instituto) permite que exista uma vida
transnacional e que as relações e situações jurídicas entre os
privados não parem de crescer num ambiente minimamente
saudável. O instituto faz com que eventuais litígios, nessa esfera, se
resolvam em apelo à racionalidade, e não ao uso da força (de fato ou
económica). (...) a utilização da racionalidade não afasta, ainda
assim, a evidência de que a arbitragem é, hoje, um instituto
permanente e dotado de uma eminente ‘racionalidade prática’.”
As práticas internacionais da indústria do petróleo também são pautadas na autonomia da
vontade. Há muitos instrumentos contratuais típicos dessa indústria que acabaram por
padronizar suas actividades. Isso se mostra vantajoso visto que o sector do petróleo não é
apenas um sector complexo, mas também um sector que demanda altos investimentos.

A arbitragem é uma das formas de resolução de controvérsias mais antigas do mundo.


Como forma de resolver os conflitos por outro meio que não o da força, os povos de
algumas comunidades passaram a levar seus conflitos a um terceiro e a ele conceder o
poder de determinar o direito e a obrigação de cada parte perante aquele conflito. Essa
pessoa escolhida conflitos, não se aplicava uma lei específica, e sim os usos e costumes
daquele povo. Sendo assim, pode-se dizer que o instituto existe desde antes do surgimento
do direito positivo. Na Idade Média, devido ao desenvolvimento do comércio e de suas
práticas, os mercadores criaram usos e costumes que não foram acompanhados pelo
ordenamento jurídico da época. Dessa forma, preferiam dirimir seus conflitos utilizando-se
de julgadores privados, com vasto conhecimento sobre as práticas comerciais que de fato
regiam essas relações. Essas práticas ficaram conhecidas como lex mercatoria. No mesmo
sentido, a uniformização das práticas internacionais costumeiras da indústria do petróleo
acabou por criar uma derivação da lex mercatoria, que ficou conhecida como lex petrolea.

A autonomia privada na escolha da forma de resolução de conflitos mostrava-se


fundamental aos negócios jurídicos. Isso porque o conhecimento prático do comércio não
era dominado por todos e o sistema comercial poderia ser desestabilizado caso os conflitos
não fossem resolvidos de acordo com os usos e costumes, pois geraria grande insegurança
nas tratativas e relações dos mercadores. Actualmente, o mesmo ocorre em relação às
práticas da indústria petrolífera, devido a sua grande especialização.

Conceito

A arbitragem é um meio de solução de controvérsias alternativo ao processo estatal,


fundada na vontade das partes de submeter um conflito à decisão de um árbitro ou de um
tribunal arbitral. A decisão desse árbitro ou do tribunal deve ser cumprida pelas partes.
Caso as partes optem pela solução de conflitos por via arbitral, devem inserir no contrato a
cláusula compromissória, que consiste na convenção da qual as partes se comprometem a
utilizar a arbitragem para solucionar os possíveis conflitos advindos daquela obrigação.
Arbitragem e sua relação com a indústria do petróleo

Para que se possa entender a relação entre a arbitragem e a indústria do petróleo serão
discutidos, neste tópico, o histórico e o conceito de arbitragem, de forma a demonstrar suas
conexões com a indústria petrolífera.

A Arbitragem na indústria do petróleo

Qualquer investimento pode gerar litígios. O quadro de solução de disputas pela via
arbitral em Moçambique, disponível para investidores, é legislativamente estável desde a
aprovação da Lei n.º 11/99, de 12 de Julho (“Lei de Arbitragem, Conciliação e Mediação”
- LAV), que oferece, em complemento à Convenção sobre o Reconhecimento e a
Execução de Sentenças Arbitrais Estrangeiras (“Convenção de Nova Iorque”) e à
Convenção para a Resolução de Diferendos Relativos a Investimentos entre Estados e
Nacionais de Outros Estados (“Convenção de Washington”), ambas ratificadas por
Moçambique, garantias legislativas relevantes para investidores estrangeiros. A aprovação
das novas Lei de Minas e Lei dos Petróleos justifica uma informação sobre os traços
essenciais da arbitragem de protecção de investimentos, em concreto no sector mineiro e
petrolífero.

O Quadro legislativo Arbitral em Moçambique:

A lei da Arbitragem, Conciliação e Mediação (lav) e a lei sobre o processo


administrativo contencioso

A LAV dá o enquadramento para a compreensão do quadro legislativo aplicável à


arbitragem em Moçambique. A LAV segue as melhores práticas internacionais. O seu
texto é amplamente inspirado na “Lei-Modelo” da Comissão das Nações Unidas de Direito
Comercial Internacional (UNCITRAL). A LAV estabelece um critério amplo de
arbitrabilidade objectiva, determinando o campo da arbitrabilidade por exclusão: só não
são arbitráveis os litígios que por lei especial estejam atribuídos exclusivamente à
jurisdição judicial ou que respeitem a direitos indisponíveis ou não transaccionáveis. Por
sua vez, por referência à arbitrabilidade subjectiva, a lei de arbitragem moçambicana
estabelece não serem arbitráveis litígios emergentes de relações em que o Estado ou ente
público seja parte, mantendo a sua posição de jus imperium, a não ser quando para tal o
Estado ou ente público sejam autorizados por lei especial. Como lei especial e para efeitos
de arbitrabilidade subjectiva dos litígios entre investidores privados e entidades públicas
moçambicanas nos sectores petrolífero e mineiro, destaque-se a Lei n.º 7/2014, (“Lei sobre
o processo administrativo contencioso”) onde se estabelece que o tribunal arbitral pode ser
constituído para o julgamento de questões que tenham por objecto:

i) contratos administrativos; e ii) responsabilidade civil contratual ou extracontratual da


Administração Pública ou dos titulares dos seus órgãos, funcionários ou agentes por
prejuízos decorrentes de actos de gestão publica.

As Normas Aplicáveis À Solução De Litígios No Sector Petrolífero:

A Nova Lei Dos Petróleos

Dos diplomas supra referidos resulta claramente que a legislação moçambicana permite,
em grande grau, o recurso à arbitragem, designadamente através da introdução de uma
convenção de arbitragem num contrato administrativo, relativamente a litígios com
entidades públicas moçambicanas. Mas outros diplomas aplicáveis às relações entre
investidores privados e entidades públicas moçambicanas apresentam-se igualmente
relevantes. No caso específico dos investimentos no sector petrolífero, a nova Lei dos
Petróleos mantêm no essencial as mesmas regras já estabelecidas na anterior Lei n.º 3/2001
(antiga Lei dos Petróleos), declarando preferência para que as disputas emergentes dos
contratos de concessão devam ser solucionadas por negociação. A nova Lei dos Petróleos
tem porém a virtualidade de clarificar o conteúdo do n.º 2 do art. 27.º da anterior Lei,
esclarecendo-se agora que se a disputa não puder ser resolvida por acordo, a questão pode
ser submetida à arbitragem ou às autoridades judiciais competentes, nos termos e
condições estabelecidos pelo contrato de concessão ou, não havendo no contrato de
concessão uma cláusula de arbitragem, às autoridades judiciais competentes. A Lei dos
Petróleos estabelece igualmente as regras que deverão ser seguidas no âmbito do processo
arbitral, definindo que qualquer arbitragem entre investidores estrangeiros e o Estado de
Moçambique deverá seguir: i) a “lei que rege a arbitragem, a conciliação e a mediação” ;
ii) as regras do Centro Internacional de Resolução de Diferendos Relativos a investimentos
entre Estados e Nacionais de outros Estados (ICSID); iii) as regras fixadas no Regulamento
do Mecanismo Suplementar do ICSID; iv) regras de outras instâncias internacionais de
reconhecida reputação em conformidade com o que as partes tiverem acordado
contratualmente, desde que as partes tenham expressamente especificado as condições para
a sua implementação, incluindo a forma de designação dos árbitros e o prazo para a tomada
de decisão. O regime da Lei dos Petróleos é um regime especial em relação ao constante da
Lei das Parcerias Público-Privadas (Lei n.º 15/2011, de 10 de Agosto), que estabelece,
comparativamente ao regime geral da arbitragem, um regime para as parcerias público
privadas. Por isso o regime especial deve prevalecer. Já no caso da Lei de Minas, em que
não existe uma norma especial, continuam a aplicar-se as regras constantes da Lei de
Investimento e da Lei das Parcerias Público-Privadas, para além das mencionadas no
capítulo seguinte, se for caso disso.
Conclusão

Findo do trabalho, podemos constatar que a arbitragem representa para Moçambique uma
peça-chave para o desenvolvimento económico do país. Ela dá às empresas e aos
particulares estrangeiros garantias de resolução de litígios de maneira célere e justa, além
de conferir às partes ampla liberdade para determinar os parâmetros desse procedimento.

A protecção de investimentos no sector do petróleo e minas em Moçambique é assim hoje


concretizada por um conjunto de diplomas legislativos internos e convenções
internacionais que permitem o recurso a meios de solução de litígios eficazes com vista a
garantir a protecção de investimentos. A opção pelo modelo de arbitragem mais
conveniente para uma concreta disputa ou para ser associado a um contrato de concessão
dependerá, porém, das circunstâncias concretas do investimento, designadamente da
existência entre um tratado bilateral de investimento entre Moçambique e o país de origem
do investidor, do carácter e volume de investimento previsto e da aplicabilidade das
convenções internacionais, e particularmente da Convenção de Washington, ao caso
concreto. É da maior conveniência que na negociação dos contratos participe um advogado
com experiência em arbitragem.
Referências Bibliográficas

DA COSTA, Rui Miguel Pereira Matos. Arbitragem, acesso à justiça e democracia no


espaço transnacional. Dissertação (Mestrado em Direito). Rio de Janeiro: Universidade do
Estado do Rio de Janeiro, 2015, pp. 37-38.

MELLO, Marcelo de Oliveira. apud BUCHEB, José Alberto. A Arbitragem Internacional


nos Contratos da Indústria do Petróleo. Rio de Janeiro: Editora Lumen Juris, 2002, p. 11.

SCAVONE JUNIOR, Luiz Antonio. Manual de Arbitragem. 5ª edição. Rio de Janeiro.


Forense. 2014.

Fonte:
https://www.plmj.com/xms/files/v1/newsletters/2014/Outubro/A_arbitragem_em_Mocamb
ique_nos_sectores_do_petroleo_e_minas.pdf

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