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Construgao do conhecimento e metodologia da extensao “Jé passou a kpoca em que o significado do termo ‘mésodo de extensa’ era confundido com o de ‘iéenica de alongamento’ em exercicis de gindstica” (Andnimo). RESUMO Com intuito de discutir os fundamentos tedrico- merodol6gicos das praticas de extensdo universitiria, estas répidas anotagées apresentam aspectos de uma proposta participativa, segundo a qual o conhecimento nilo é produzido para ser em seguida difundido, como na convencional seqiiéncia pesquisa/extensio. Tanto 6 projetos de pesquisa, como os de extensio sio vis- tos como construcio social de conhecimento, com a participagio de atores diferenciados. Nesta linha, a -merodologia e as ferramentas de trabalho em uso pos- suem dimensées participativas, critica ¢ reflexiva contribufindo para fortalecer o propésito emancipatério dos projetos universitarios. Palavras-chave: Extensio universitéria, Metodologia, Pesquisa. Conhecimento critico. ABSTRACT In order to discuss the theoretical and methodological background of the extension activities in Brazilian universities, we present in this paper aspects of a participatory perspective in which knowledge (in research and extension) is not produced but socially conseructed, with participation Michel Thiollent - Coppe/UFRJ of differentiated actors. In this way, the methodology and the work tools in use have participatory, critical and reflexive dimensions, for an emancipators purpose in university projects. Keywords: Extension university. Methodology. Research, Critical knowledge INTRODUGAO, Estamos entrando em um novo periodo histérico, com mudangas previsiveis ¢ imprevisives, aberto a uma nova esperanga de vida cultural nas universida- des. Em vez de ser menosprezada, como foi o caso nos liltimos anos, a universidade publica poderé sait fortalecida e dar novas contribuig6es em ensino, pes- quisa e extensio, com objetivos sociais mobilizadores. Nesse novo contexto, acreditamos que projetos de ex- tensiio terio uma imporcancia sempre renovada. ‘Tendo em mente esse desafio, sob forma de répi- das anotages, abordaremos os seguintes aspectos: * A produgio de conhecimento e a extensio como conserugao social * 0 papel da metodologia participativa, + As dimensdes critica e reflexiva + O delineamento de um propésito emancipatorio para a extensio. CONSTRUGAO SOCIAL ‘A concepcio corrente em matéria de producio ¢ a difusio de conhecimento, que estabelece uma se- ‘Gronos, Natal RN, «3, n2, 65-71, ul /dex 2002 Michel Thallene 66 qiiéncia unilateral entre pesquisa e extensio, pode ser substituida com geande vantagem por um mo- delo de construcio social do conhecimento. Sob forma de pesquisa, a “produgao de conheci- mento” é uma construcio que responde a diferentes demandas e se realiza dentro de uma interagio de diferentes agences, especialistas, laborat6rios, acade- mias, firmas, estados, etc. Dependendo das reas (ci- éncias duras ou ciéncias sociais e humanas, funda- mentais ou aplicadas) ¢ dos interesses que esto em jogo, os arranjos sociais para a construgio do conhe- cimento variam de modo considerdvel, em cermos de poder, recursos € compromissos. Isto € visivel quando se comparam projetos em areas tio diferen- tes como fisica nuclear, engenharia de petrdleo, ad- ministrago, letras, servigo social, enfermagem, etc. Por sua vez, a extensio também é uma constru- fo ou (re)construgdo de conhecimento, envolven- do, além dos universicérios, atores ¢ piblicos com culcuras, inceresses, niveis de educacio diferencia- dos. A construcio extensionista nao esté limicada aos pares; abrange uma grande diversidade de piblicos externos com os quais é preciso estabelecer uma interlocugio para identificar problemas, informar, capacitar e propor solugdes. Com énfase na construcio social, a metodologia pode incluir tanto a pesquisa quanto a extensio, tanto ‘0 momento da produgio como o da difusio, e isso ‘em qualquer érea de conhecimento, porém, com mais pertinéncia em dreas humanas aplicadas (educacio, ‘gestio, comunicacio, servigo social, desenvolvimen- to local, tecnologia apropriada, etc.), isto é, em to- das as fteas onde o conhecimento possa ser efetiva- mente mobilizado, orientado para analisar proble- mas reais e para buscar solugSes, tendo em vista trans- formagées titeis para a populacio (a curto ou médio prazo). Esse pressuposto nio visa a descaracterizar ou- tras concepcées ou outros tipos de conhecimento, de retorno social menos evidente ou menos imediato, mas simplesmente trata-se de firmar uma opgio. Nas freas em que o objetivo principal se volta para a pri tica, essa opcio estabelece que a extensio ndo deva set vista como simples divulgacéo de informagio destinada a um piiblico composto de “receptores” individualizados ¢ passivos. Em suma, é questionavel a seqiiéncia produgio/ difusio, pois, para difundir algo - isto 6, fazer exten- io - seria necessério primeiro té-lo produzido, para depois difundir 0 que foi produzido em laboratério; ‘em muitos casos, isso leva a um equivoco, por varios motivos: a) O que se produz sem se ter em vista as condigdes de uso, em geral, é de pouca valia na pritica, e ficard sepultado em revistas de pouca circulagio, b) O conhecimento fundamental ¢ boa parte dos “produtos” da pesquisa em ciéncia apli- ‘cada raramente sio aplicados. A ldgica de seu desenvolvimento (com publicagbes ¢ capta- ‘lo de fundos) € diferente de uma atividade de extensio baseada em diagnéstico das ne- cessidades de atores em situacdes reais, com permanente busca de sustentacio. ©) O conhecimento necessirio para muitos projetos de extensio é compartilhado entre atores com visdes e habilidades diferenciadas que tornariam inoperante a transferéncia de cima para baixo. ) O conhecimento requerido pela exten- sio é co-construido e passa pelo crivo da “teflexio-na-acio” (SCHON, 2000). Levando em conta essa visio de construcio social do conhecimento, os projetos de extensio adquitirdo maior adequagiio aos objetivos de transformacio social. ‘A construgio do conhecimento ocorte em cada tipo de atividade dos projetos de extensio: a) nos diagnésticos e pesquisas efecuadas em comunidades ou instituigdes; ) nas agdes formativas para membros des- sas comunidades ou insticuigdes; ©) nas agbes formativas para alunos, professo- res ¢ técnico-administrativos da universidade; 4) nas agies informativas ou mobilizadoras em piiblicos mais amplos. ‘Cronos, Nata RN, v3, 2, ps 65-71, jub/dex. 202 Conscrusio do conbecimento e metadologin da extensio PARTICIPAGAO Objetivamente, a construgiio social de conhecimento pressupde uma interagio e algum tipo de cooperacio en- tre diversos atores. Uma vez reconhecido iss, podemos considerar que a metodologia de pesquisa e extensio ad- quire um caréter participativo, inclusive no plano subje- tivo. No dia-a-dia, a participagio pode ser implicita e explicita. Com a metodologia apropriada ao contexto social, a participacio explicita toma-se necesséia, Muita gente ainda tem medo da metodologia participativa, achando que, com este adjetivo, ela se tor natia menos cientifica, ou mais exposta a manipulagées. Apés os avancos da pesquisa participante da dé- cada de 1980, no Brasil, observou-se um recuo na ‘rea académica, mas, em compensagio, as chama- das “metodologias participativas” ocuparam maior espaco, a partir dos anos 90, nas reas de atuagio de ONGs e da cooperagio técnica internacional, onde so objeto de sistematizacio (BROSE, 2001). “No quadro das atividades de extensao universit quatro Semindrios de Metodologia para Projetos de Extensao (SEMPE), organizados entre 1996 e 2001, tevelaram o interesse de muitos universitétios em matéria de metodologia participativa e de pesquisa- acao” (THIOLLENT, 2000). “As metodologias participativas tém adquirido maior aplicacio em Areas de educagio e organiza- cao, principalmente em paises anglo-saxénicos” (McTAGGART, 1997). Ademais, conseguiram re- conhecimento em certos organismos internacionais. Neste tiltimo contexto, equipes de especialistas li- dam de modo participativo com os stakebolders im- plicados em programas sociais, planos de desenvol- vvimento rural, local ou sustentével, e em educacio e esto voltados para o meio ambiente. A pesquisa-acio € realizada em um espaco de interlocugio onde os atores implicados participam na resolucio dos problemas, com conhecimentos diferen- ciados, propondo solugdes € aprendendo na ago, Nesse espaco, os pesquisadores, extensionistas e consultores exercem um papel articulador e facilicador em conta- to.com os interessados. Possiveis manipulagées devem ficar sob controle da metodologia ¢ da ética. ia, 0s 0 Em um processo de pesquisa-acio segundo Ernest Stringer (1999, p.35), a participagio € mais efetiva quando: + Possibilica significativo nivel e envolvimento. + Capacita as pessoas na realizacio de tarefas * Dé apoio as pessoas para aprenderem a agit com autonomia. ‘+ Fortalece planos ¢ atividade que as pessoas sio capazes de realizar sozinhas. + Lida mais diretamente com as pessoas do que por intermédio de representantes ou agentes” ‘Além de ser uma questio de interacao entre pes- soas € grupos envolvidos no projeto, a participacio de grupos externos & universidade pode também adquirir uma significacio politica. Isso acontece, por ‘exemplo, quando os trabalhadores rurais de um as- sentamento de reforma agréria tém o apoio de uma universidade para estudarem, em projetos conjun- tos, seus problemas de producio e comercializacio. Nao basta reconhecer a dimensao participativa dos processos de pesquisa ¢ extensio e a utilidade de uma metodolégia participativa construida na base da sistematizacio das praticas interativas. A metodologia de que precisamos, cada vez mais, deve cer outras dimensdes associadas, em particu- lar, & critica, @ reflexividade e A emancipagao. As vvezes, esses tetmos geram ceticismo por terem sido exagetadamente usados em retéricas pouco con- seqiientes, mas vale a pena reafirmar uma nova intengao. DIMENSAO CRITICA Entendemos a critica em trés niveis: o das idéias ‘em geral,o da vida cotidiana eo da pratica profissional a) Critica das idéias. Em perspectiva de transformacio social, nos pro- cessos de extensio, ocupa um lugar de destaque a divulgacio de idéias criticas sobre os dogmas vigen- tes. Nos tiltimos séculos, a critica aos conhecimen- Cronos, Nata RN, v3, 2, p. 65-7, jul: /dex. 202 Michel Thollene CI tos socialmente inadequados passou pelo marxismo, a fenomenologia ¢ outras teorias criticas. No século XIX, Karl Marx foi mestre em maté- tia de critica do direito, da filosofia hegeliana ou da economia politica classica. No século XX, Antonio Gramsci dew uma contribuigéo fundamental para criticar os conhecimentos estabelecidos pelos gean- des intelectuais de sua época. A partir da década de 1960, Michel Foucault desempenhou um papel im- portante no mundo académico para criticar no so- mente as idéias gerais, mas as que se impdem como rnormas nas insticuigdes e seus “micros poderes”. Pa- ralelamente, Pierre Bourdieu contribuin para desmistificar as fungdes de instituicdes de ensino € cultura, remetendo-as aos processos de reprodugio e diferenci Hoje, levando em conta o legado dos séculos passados, precisamos renovar a capacidade critica para desmistificar os “edificios” intelectuais e visdes unilaterais que existem em torno da globalizacio, do mercado, das novas tecnologias e formas de po- der. Deveria haver uma critica aos conhecimentos “nobres” da economia ou da politica e, também, uma critica de conhecimentos “intermediérios”, em uso nas reas de gestio, tecnologia, educacio ou comu- nicacZo, por exemplo, ‘Mas a critica no plano das idéias nao basta; deve la ser prolongada em nivel das priticas do dia-a-dia. E a ctitica das situagdes vividas no trabalho, nas esco- las, na cidade, em familia, na vida cotidiana em geral. (0 social. ) Critica do senso comum e da vida cotidiana. Neste plano, a critica evidencia as implicacbes das representagdes ou percepcdes vigentes ¢ leva a uma dentincia dos interesses, dos conflitos, dos efei- tos de discriminagao, de dominagio, etc. “O senso comum pode ser criticado a partir da visio dialética da hist6ria” (GRAMSCI, 1978), ou reconstruido a partir das mudancas intelectuais co- nhecidas como “pés-modernidade”, analisadas por Santos (1996). Além de esclarecer ou denunciar as situagdes de injustica, esse tipo de critica é também construtivo, ou propositivo, gerando idéias para possiveis crans- formagées, com democracia, ou patticipacio direta dos préprios interessados. ) Critica das praticas profissionais. No seu lado “impensado”, muitas préticas pro- fissionais possuem aspectos de exclusio, no que se refere canto aos critérios de acesso a0 exercicio da profissio, quanto as conseqiiéncias priticas sobre os usuarios ou os atendidos dos servigos profissionais, © papel dos professores nem sempre é tao de- moctitico quanto se imagina. A pedagogia que adota pode ser em certos casos, prejudicial aos alu- nos socialmente desfavorecidos. Os médicos con- tribuem para a reprodugio social dos modos ina- dequados de se lidar com certas doencas. Os en- genheitos intervém nos processos de producio de uma maneira que, freqiientemente, desqualifica 0 trabalho do operitio. A formacio “cientificista” dos agrénomos pode levé-los a ignorar os ricos conhecimentos ¢ a sabedoria de produtores € na- tivos que seriam titeis para assegurar a sustentabilidade da agriculeura. ‘As criticas formuladas por grupos de profissio- nis autoconscientes, em suas prdprias priticas, sio de fundamencal imporeincia. J4 existem exemplos em reas de servigo social, medicina, agronomia/ agroecologia, estatistica, administracdo de recursos humanos, e outras. Nos projetos em que propiciado um concato dos universitérios com populacées ou grupos de cul- tura diferenciada € imporcante salientar as condi bes de diglogo intercultural, limitando preconcei- tos € viés de percepcio para estabelecer uma intercompreensio critica, com base na linguagem dos atores. De um lado, com a interdisciplinaridade entre grupos universicérios e, por outro, o didlogo intercultural com os membros externos, cria-se, du- rante a realizagio do projeto, um espaco de interlocugéo onde se produzem efeitos de compre- ensio, de “traducio”, de facilitagao no plano da co- municagio, De acordo com a visio critica, todos o participantes aprendem em contato com os outros, aceitando relativizar seus pontos de Cronos, Nata RN, #3, 2, p. 65-71, jul: /dez, 2002 Conscrugio do conbecimento ¢ metodologia da excensio DIMENSAO REFLEXIVA No contexto da extensio, os conhecimentos titeis estio inseridos em praticas educacionais, culeurais, politicas, técnicas, profissionais ¢ fazem sentido na vida cotidiana dos interessados. Nunca sao simples- mente “transferidos” ou “aplicados”; no sio meras adaptacoes de instrugdes escritas em livros ou mo- nopolizadas por intelectuais convencionais, Na linha de Schén (2000), € possivel problematizar a reflexividade do conhecimento na pratica extensionista Oesforco reflexivo sobre a pritica, por parte dos Professores, estudantes € técnico-administrativos implicados na mesma, apresenta vatios aspectos: * teflexio na pritica como fonte de apren- dizagem; * reflexio na ago no decorrer do projeto para um direcionamento adequado, corri- gindo erros; * didlogo reciprocamente reflexivo entre professores, alunos ¢ usuérios ou grupos destinatérios. O projeto reflexivo ajuda seus destinatérios a re- fletirem na agio; assim, eles sio incicados a construir um conhecimento prdprio. Bons projetos de exten- sio sio aqueles que geram ganhos de conhecimento ede experiéncia para todos os participantes, com base no ciclo, relacionando a¢ao e reflexao. PROPOSITO EMANCIPATORIO Emancipacio é 0 contrério de dependéncia, sub- missio, alienacio, opressio, dominacio, falta de pers- pectiva. O retmo caracteriza situagdes em que se encontra um sujeito que consegue atuar com auto- ‘nomia, liberdade, auto-realizacao, etc. No século XIX, a emancipacio politica e social dos escravos era, sem diivida, a transformagio de maior importiincia, No século XX, a emancipagio das classes ‘rabalhadoras foi marcada pot avangos e retrocessos. o Jno século XI, que apenas comegou, a eman- ipagio apresenta-se como objetivo mais difuso para todos 0s individuos ou grupos sociais que softem al- gum tipo de discriminacao, baseada em condigio social, raca, género, Especialmente em contexto educacional, a bus- ca de emancipacio diz respeito a pessoas que softem as conseqiiéncias de algum tipo de desigualdade so- ial. Essa busca se concretiza quando as pessoas con- seguem superar os obstéculos ligados a sua condicao € alcancam niveis de conhecimento mais elevados a partit dos quais poderio exercer atividades desafia- doras (em qualquer fea de atuagio especifica). Uma acio educacional, com propésito emancipatério, é um desafio as leis de reproducéo social, gerando transformacées sociais a partir do fato de as camadas desfavorecidas terem acesso a educa- io, no apenas ao vigente conhecimento elitizado, mas sobretudo condicio de construir conhecimen- 0s novos, em termos de contetidos, formas e usos. ‘Um mesmo conhecimento tem usos diferenciados que dependem dos referenciais de classe, dos cam- pos de atuacio e dos meios sociais envolviclos, No passado, relucamos a usar 0 termo, por causa do medo de set criada uma expectativa exagerada, Em varios de nossos projetos de extensio, de fato, no se deve esperar muito em matéria de emancipa- io, devido a limitagdes insticucionais ¢ ideoldgicas. ‘Um projeto educacional é considerado emancipatério especialmente quando permiee aos grupos, de con- digio modesta, tetem acesso a conhecimentos que ‘do teriam alcancado de outro modo. Como tema psicossociolégico, a emancipagao pode ser aprofundada geagas-ao estudo de trajetéri- as sociais com base em biografias ou autobiografias de pessoas que conseguiram evitar os obstéculos 50- ciais e entrar em universos culcurais mais amplos, a caminho de uma profissionalizacao de nivel superi- of, ou de alto prestigio. Entrecanto, no se trata de qualquer tipo de ascensio social, pois, em certos ca- 505, a ascensio € de tipo conservador ¢ nio requer uma culeura emancipatéria, mas apenas adesio aos valores vigentes e esperteza em situacio de compe- ‘igéo com 0s outros Cronos, Nata-RN, v3, n.2, p 65-71, al /dex. 2002 Michel Thiollent 0 ‘Ao nascer em um rocado ou em uma favela, uma ctianca tem pouca probabilidade de tornar-se médico, professor, advogado, escritor, cineasta. AgGes educacio- nais que pudessem ajudar nesse sentido, seriam de ca- iter emancipacstio. ‘Arelacio entre biografia e pesquisa participativa um tema que j foi explicitamente abordado por Desroche (1990). A conducio de um projeto participativo ndo é uma tarefa facile exige qualida- des individuais e sociais observaveis na biografia do sujeito. B requerida uma nitida capacidade de lide- ranga.e um relacionamento democtitico, oferecendo a todos o contexto ideal de motivacio e desempenho. Por outro lado, os processos da pesquisa participativa e de capacitacio bem conduzidos exercem um efeito significativo nas trajetérias de vida sobre as pessoas ou grupos destinatétios. ‘Nem todos os projetos de extensio sio de tipo ‘emancipat6rio, mas é um ideal a set perseguido, espe- cialmente quando se trata de extensio voltada para in- teresses populares ou superagio de obsticulos sociais, ‘como no caso, por exemplo, de cursos de preparacia.a0 vestibular ou de programas de apoio & criacio de coo- perativas para populacio de baixa renda, A emancipa- cao representa uma promosio de caréter coletivo € compartilhavel entre membros de classes populares. Um projeto de extensio pode ser considerado cemancipat6rio quando as atividades que thes so ass0- ciadas incitam as pessoas a superar os obsticulos ¢ limi- ragdes que encontram em sua vida social, cultural ou profissional. Por exemplo, isso acontece em um projeto de extensio que ajude a populacio de jovens e adultos: carentes a progreditem em sua formacio, possibilitan- do 0 acesso a cursos de niveis médio ou superior. ‘Acemancipagio pode ser pensada em termos de tra- jet6ria de pessoas que superaram obsticulos do destino social, como filhos de familia humilde que conseguem estudar ¢, pelo resultado de seus esforcos, levados niveis de compreensio ou de criagio em de- terminadas dreas profissionais ou culturais. A emanci- pacio de grupos dcorre quando a iniciativa é capaz de mobilizar coletividades ¢ alcancar resultados mais abrangentes que a descoberta de talentos individuais, cem casos isolados. A emancipacio é diferente de uma “simples” ascensio social, ou promogio, por estar ligada a uma trajet6ria de superacdo de obstéculos com di- mensbes participativas, critica e reflexiva CONCLUSAO ‘Apés uma década de liberalismo, a universidade piiblica est4 ameacada ¢ muita gente perdeu 0 ani- mo, deixando de acuar em projetos audaciosos ¢ con- formando-se com o cumprimento de exigéncias de avaliagio ou de sobrevivéncia. No atual contexto de mudanga, precisamos re- cuperat idéias mais ousadas para enfrentar os desafi- os intelectuais ¢ da vida cotidiana, E animadora a possibilidade de ser produzido conhecimento critico 1 ser compartilhado com atores sociais pot meio de programas e projetos de extensio. ‘A metodologia de extensio teré tudo a ganhar se reforcarmos suas dimensGes participativas, critica ¢ emancipatéria. Entretanto, para isto, ninguém possui uma solugio magica. Isto se constréi coleti- vamente a partir das experiéncias existentes, com acesso a0 conhecimento teérico-metodolégico (em particular em Area de educagio e comunicagio). In- clusive as cecnologias da informagio tém um papel positivo a desempenhar nesse contexto. ‘Ainda € longa a distancia entre a realidade (as ve- zes, a mediocridade) de nossos projetos de excensio ¢ a definigdo desse ideal participativo, critico ¢ emancipatério. Se tal ideal for adequado ao atual (ow futuro) contexto de transformacio social, poderemos sugerir um esforco de capacitagio metodolégica dos docentes ¢ alunos para levarem adiante projetos otien- tados em condizente perspectiva. Também os outros aspectos de sustentacio da politica de extensio (dedi- cacio, recursos, valorizacio) precisam set repensados. Seja como for, em contexto de real enfrentamento dos grandes problemas da sociedade (educacio, sav- de, fome, emprego, agricultura familiar, preserva-

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