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CURSO DE

TEOLOGIA DE
BHAKTI-YOGA
Módulo Primeiro
-1-
Sumário
Artigos Introdutórios

Nós Não Somos o Corpo 4

As Cordas que Amarram Todos Nós 8

Citações da Bhagavad-gita 14

Exercícios 24

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Artigos Introdutórios

-3-
Nós Não Somos o Corpo
A.C. Bhaktivedanta Swami Prabhupada

O que é a transmigração da alma? Estamos mudando de corpos. Há


muitíssimas variedades de corpos, e podemos entrar em qualquer um deles
após a morte. Esse é o verdadeiro problema da vida. A natureza está
trabalhando e nos fornecendo corpos materiais. Este corpo é uma máquina.
Esta máquina, tal qual um carro, nos foi oferecida pela natureza material,
pela ordem de Deus, Krishna. O verdadeiro propósito da vida, portanto, é
interromper essa perpétua transmigração de um corpo a outro, de um corpo
a outro, e reviver nossa posição espiritual original a fim de que possamos
viver uma vida eterna e bem-aventurada de conhecimento. Essa é a meta da
vida.

A Bhagavad-gita, o clássico diálogo entre Krishna e Arjuna, apresenta a


sinopse de como agir nesta vida. Por conseguinte, através dos ensinamentos
dessa obra, podemos começar a compreender a posição constitucional da
alma.

Antes de tudo, devemos compreender o que somos. Sou este corpo ou


alguma outra coisa? Esse é o primeiro questionamento. A Bhagavad-gita
(2.13) declara:

dehino ’smin yatha dehe


kaumaram yauvanam jara
tatha dehantara-praptir
dhiras tatra na muhyati

“Assim como a alma corporificada continuamente passa, neste corpo, da


infância à juventude e, então, à velhice; a alma, similarmente, passa para
outro corpo à hora da morte. Uma pessoa sóbria não se desorienta com tal
mudança.”

Normalmente, as pessoas não são capazes de compreender este simples


verso. Portanto, Krishna diz, dhiras tatra na muhyati: “Apenas uma pessoa
sóbria pode entender.” Contudo, qual é a dificuldade? Krishna explica tudo
muito claramente!

Existem três estágios de vida. O primeiro, kaumaram, dura até os quinze


anos de idade. Então, a partir dos dezesseis anos, o indivíduo começa a
vida de jovem, yauvanam. Então, após os quarenta ou cinquenta anos, o

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sujeito se torna idoso, jara. Quem é um indivíduo sóbrio ou de bom
raciocínio pode entender: “Mudei meu corpo. Lembro-me de como eu
estava brincando e pulando quando eu era um garoto. Então, me tornei um
jovem e desfrutei de minha vida com amigos e familiares. Agora, sou um
homem velho. Uma vez que este corpo tenha morrido, entrarei em um novo
corpo.”

No verso anterior, Krishna disse a Arjuna: “Todos nós – tu, Eu e todos os


soldados e reis aqui presentes – existimos no passado, existimos agora e
continuaremos a existir no futuro.” Essa é a declaração de Krishna. Pessoas
ignorantes, no entanto, dirão: “Como eu existia no passado? Nasci apenas
em tal e tal ano. Antes disso, eu inexistia. No momento presente, eu existo.
Tudo bem quanto a isso, mas, tão logo eu morra, não existirei mais.”
Porém, Krishna diz: “Tu, Eu e todos nós existíamos, existimos agora e
continuaremos a existir.” Isso está errado? Não, isso é fato. Antes do nosso
nascimento, existíamos em um corpo diferente e, após a morte,
continuaremos existindo em outro corpo. Isso deve ser entendido.

Por exemplo, eu era um garoto setenta anos atrás, após o que me tornei um
jovem, e agora me tornei um homem idoso. Meu corpo mudou, mas eu, o
proprietário do corpo, existo sem mudança alguma. É difícil entender?
Dehinah significa “o proprietário do corpo”, e dehe significa “no corpo”. O
corpo está mudando, mas a alma, o proprietário do corpo, permanece
imutável.

Qualquer um pode compreender que este corpo muda. Na próxima vida,


estaremos em outro corpo. Em minha última vida, qual foi o meu corpo?
Não me recordo. O esquecimento é de nossa natureza, mas termos nos
esquecido de algo não significa que isso não aconteceu. Em minha infância,
fiz muitíssimas coisas das quais não me lembro, mas meu pai e minha mãe
se lembram delas. Esquecermo-nos de algo, portanto, não significa que não
tenha ocorrido.

De forma similar, a morte significa simplesmente que me esqueço do que


fui em minha vida passada. De outro modo, eu, como alma espiritual, não
morro. Suponha que eu troque minhas vestes. Quando criança, eu trajava
certas vestes e, em minha juventude, eu trajava vestes diferentes. Agora, na
velhice, como um sannyasi [renunciante], trajo outras vestes também. As
roupas talvez mudem, mas isso não significa que o proprietário das roupas
esteja morto e acabado. Não. Esta é uma explicação simples da
transmigração da alma.

Ademais, todos nós somos indivíduos. Não há questão de nos fundirmos

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por completo. Cada um de nós é um indivíduo, e Deus é um indivíduo.
Nityo nityanam cetanas cetananam: “Entre todas as pessoas eternas,
conscientes e individuais, uma é suprema.” (Katha Upanishad 2.2.13) A
diferença é que Deus jamais troca de corpo, ao passo que nós mudamos de
corpo no mundo material. Quando vamos para o mundo espiritual, não há
mais troca de corpo.

Existem muitas energias, mas são divididas em três principais: a energia


externa, a energia interna e a energia marginal. Nós entidades vivas somos
a energia marginal. “Marginal” significa que podemos permanecer sob a
influência da energia externa ou podemos permanecer sob a influência da
energia interna – como queiramos. Temos essa independência. Após falar a
Bhagavad-gita (18.63), Krishna diz a Arjuna, yathecchasi tatha kuru: “O
que quer que desejes, podes fazer.” Krishna confere a Arjuna sua
independência. Ele não força ninguém a se render. Isso não seria bom,
porque algo forçado não dura. Por exemplo, aconselhamos nossos
estudantes: “Acordem cedo pela manhã.” Esse é o nosso conselho. Não
forçamos ninguém. É claro que podemos forçar alguém uma ou duas vezes,
mas, se ele não praticar, forçar será inútil.

Similarmente, Krishna não força ninguém a deixar este mundo material.


Todas as almas condicionadas estão sob a influência da energia externa, ou
material. Krishna vem aqui de maneira a nos livrar das garras da energia
material. Porque somos partes integrantes de Krishna, somos todos
diretamente filhos de Krishna. E se um filho está em dificuldade, o pai
também sofre, apesar de indiretamente. Suponha que o filho se torne
insano. O pai não fica feliz, senão que se lamenta. Similarmente, as almas
condicionadas neste mundo material estão sofrendo muitíssimo, vivendo
como indivíduos miseráveis e baixos. Krishna não está contente com isso.
Ele, portanto, vem nos ensinar como voltarmos para Ele.

O Movimento para a Consciência de Krishna se destina a nos tirar da


condição de termos de nascer repetidas vezes. “Visto que sou eterno, como
posso me estabelecer em uma posição permanente?” Esta deveria ser a
nossa questão. Todos querem viver eternamente; ninguém quer morrer. Se
eu me aproximar de você com um revólver e disser: “Matarei você”, você
gritará imediatamente, porque você não quer morrer. Morrer e renascer não
é bom, senão que se trata de algo muito incômodo. Tudo isso nós sabemos
em nosso subconsciente. Sabemos que, ao morrermos, teremos que entrar
novamente no ventre de uma mãe – e, hoje em dia, as mães estão matando
os filhos no ventre. Então, se entra no ventre de outra mãe... O processo de
aceitar outro corpo, vezes e mais vezes, é longo e muito problemático. Em
nosso subconsciente, nos lembramos de toda essa perturbação, razão pela

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qual não queremos morrer.

Nossa pergunta, então, deveria ser: “Se sou eterno, por que fui colocado
nesta vida temporária?” Esta é uma pergunta inteligente, que toca em nosso
verdadeiro problema. Sujeitos baixos, no entanto, deixam de lado tal
problema, pensando apenas em como comer, dormir, fazer sexo e se
defender. Mesmo se você dormir e comer bem, você, por fim, terá de
morrer. O problema da morte continua, mas eles não se importam com esse
verdadeiro problema. Eles estão muito alertas para solucionar seus
problemas temporários, os quais, na verdade, nem mesmo são problemas.
Os pássaros e as bestas também comem, dormem, têm intercurso sexual e
se defendem. Sabem como fazer todas essas coisas, mesmo sem a formação
dos seres humanos e sua dita civilização. Tais coisas, portanto, não são
nosso verdadeiro problema. O problema verdadeiro é que, apesar de não
querermos morrer, a morte acontece. Esse é o nosso verdadeiro problema.

Homens baixos estão sempre ocupados com os problemas transitórios.


Suponha, por exemplo, que está muito frio, o que é um problema. Temos
que buscar por um bom casaco ou por uma lareira e, se nenhum dos dois
estiver disponível, ficaremos aflitos. O frio severo é um problema, mas é
um problema temporário. O frio severo do inverno chegou, e ele irá
embora, daí não ser um problema permanente. Meu problema permanente é
que, por causa da ignorância, estou nascendo, estou adoecendo, estou
envelhecendo e estou morrendo. Dado que estes são meus problemas reais,
Krishna diz, janma-mrityu-jara-vyadhi-duhkha-doshanudarshanam:
“Aqueles que estão de fato em conhecimento percebem estes quatro
problemas – nascimento, morte, velhice e doença.” (Bhagavad-gita 13.9)

Agora, Krishna diz, dhiras tatra na muhyati: “Uma pessoa sóbria não dá
consigo perplexa à hora da morte.” (Bhagavad-gita 2.13) Se você se
prepara para a morte, por que você deveria ficar perplexo? Se em sua
meninice e juventude, por exemplo, você se prepara bem e recebe
instrução, você terá um bom emprego, uma boa situação e será feliz.
Similarmente, se você se preparar nesta vida para voltar ao lar, voltar ao
Supremo, onde está sua perplexidade à hora da morte? Não há perplexidade
alguma, pois você saberá: “Irei para Krishna. Voltarei ao lar, voltarei ao
Supremo. Agora, não mais terei que trocar este corpo por um novo corpo
material; terei meu corpo espiritual. Agora, brincarei com Krishna e
dançarei com Krishna e comerei com Krishna.” Isso é a consciência de
Krishna.

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As Cordas que Amarram Todos Nós
Navina Syama Dasa

A edificação mais embasbacante da Filadélfia é o Museu de Arte. Um dos


maiores museus dos Estados Unidos, se assenta no topo de uma colina, de
frente para o rio Schuylkill, como um monumento grego de colunas
imponentes. Dentro de suas mais de duzentas galerias, encontramos cerca
de 225.000 objetos exibindo os talentos criativos de artistas americanos,
europeus e asiáticos surgidos ao longo de milhares de anos. Um ponto alto
é a coleção renomada no mundo inteiro de pinturas do impressionismo
francês. Entre as centenas de peças que constituem a exposição, com
destaque para “Álamos”, de Monet, e “A Montanha de Saint Victoire”, de
Cezanne, podemos apreciar variadas sombras e matizes.

Apesar de toda a variedade visual no museu, seja na galeria impressionista,


seja no restante de suas instalações, tudo isso surge de apenas três cores
primárias: amarelo, vermelho e azul!

Assim como é incrível pensar em tamanha complexidade e beleza vindo


dessa simplicidade tripartite, o Senhor Krishna chama nossa atenção para
algo ainda mais fantástico na Bhagavad-gita. Ali, Ele explica que todo o
universo é, em última instância, mero produto dos três gunas: sattva, rajas
e tamas. De fato, Srila Prabhupada frequentemente fazia uma analogia
ligando as cores primárias e os enigmáticos gunas: “Originalmente,
existem três cores: vermelho, azul e amarelo, e se você as combinar,
tornam-se verde, laranja, rosa e tantas outras cores. Similarmente, a
combinação das três qualidades da natureza material – sattva, rajas e tamas
– criam muitíssimas formas de entidades vivas.” (Do artigo “Manifestação
do Dharma no Ser Humano”) Apresentando o mesmo ponto em uma
palestra (Bombaim, 1973), concluiu: “Deste modo, a natureza material é o
maior artista.”

Assim como um artista plástico se vale das diferentes cores primárias para
produzir uma obra-prima, o Senhor usa os gunas como uma paleta para a
criação universal. Srila Prabhupada até mesmo correlacionou amarelo com
sattva, vermelho com rajas, e azul com tamas, explicando que essas cores
são “representações” dos gunas. E ele frequentemente descrevia como,
quando os três modos “se misturam”, dão origem a nove diferentes
combinações, e quando esses nove se misturam mais uma vez, produzem
81 combinações, e assim por diante.

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Os gunas são um aspecto da realidade descrito somente dentro das
tradições religiosas da Índia (os Três Destinos, da Grécia antiga, sendo uma
possível exceção). Os gunas, porém, não são um detalhe técnico ou uma
sutileza arcana, senão que exercem um papel central em moldar o mundo
como o conhecemos. Krishna fala sobre eles ao longo da Bhagavad-gita, e
toda oração mais extensa do Srimad-Bhagavatam faz menção a eles.

Como se trata de algo tão fundamental e importante, compreendamos


melhor o assunto. Por meio da analogia da pintura, talvez pensemos que os
gunas são os bloquinhos de construção da matéria, mas esse não é
exatamente o caso. Em vez disso, Krishna explica na Bhagavad-gita que o
mundo material é feito de terra, água, fogo, ar e éter, bem como mente,
inteligência e falso ego. Os gunas, na verdade, governam a matéria feita
dos oito elementos; são as forças primordiais que colorem e controlam o
cosmos.

Algumas das diferentes traduções para gunas nos ajudam a esclarecer o


escopo e natureza dos mesmos. A palavra mais comum utilizada por Srila
Prabhupada é “modo”. Nesse sentido, os gunas representam a maneira
como a matéria é experienciada e expressa. Outra tradução que ele dava era
“qualidade.” Nesse sentido, os gunas são as três qualidades primárias que,
em várias combinações, dão aos seres vivos sua personalidade e que dão
aos objetos inanimados suas características distintas. Contudo, outra
tradução é “corda”. Nesse sentido, os gunas nos amarram e restringem
como percebemos, pensamos e agimos.

Sintomas dos Gunas

Em última instância, entretanto, o melhor caminho para entendermos os


gunas é considerarmos seus sintomas. Nos capítulos 14, 17 e 18 da
Bhagavad-gita, e no capítulo 25 do canto 11 do Srimad-Bhagavatam,
Krishna provê grande quantidade de ilustrações.

Criação e atividade caracterizam rajas. O deva Brahma superintende esse


guna, e ele é, como se esperaria, o designer do mundo material, dando
forma aos corpos de todas as 8.400.000 espécies de vida. Srila Prabhupada
traduz rajas como “paixão”, denotando a avidez por prazer que esse guna
invariavelmente incita. Um sujeito influenciado por rajas está sempre
trabalhando duro para obter prestígio e dinheiro, em consequência do que
ele inevitavelmente experimenta ansiedade. Em última instância, portanto,
este guna não produz nada além de lamentação. A razão para tão intenso
empenho é o desejo insaciável: Independente de quanto uma pessoa em
rajas obtenha, permanece insatisfeita e ansiosa por mais. Rajas torna a

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pessoa orgulhosa, invejosa e sujeita aos caprichos emocionais da mente.
Uma agitada metrópole é um exemplo de um lugar no modo da paixão, e a
comida nesse modo é excessivamente picante, excessivamente salgada ou
excessivamente amarga. Como o prazer derivado de rajas se baseia no
prazer dos sentidos, é efêmero e rapidamente se torna dor.

Sattva se caracteriza por manutenção e satisfação. O Senhor Vishnu preside


esse guna – deitado em Seu leito/cobra, Ananta Shesha, Ele mantém todo o
universo sem qualquer esforço. Srila Prabhupada traduz sattva como
“bondade”, o que não indica tanto o senso moral da palavra (apesar de
retidão moral certamente ser um subproduto deste modo), mas um senso
mais amplo de integridade. Um sujeito influenciado por sattva-guna vê
todos os seres vivos como partes da mesma natureza espiritual. Aquele que
age no modo da bondade o faz não com a expectativa de uma recompensa
ou felicidade futura, mas simplesmente movido pelo dever. Destituído de
desejos egoístas, tal pessoa jamais se frustra; independente do resultado,
continua a atuar com determinação e entusiasmo. Por fim, essa estabilidade
gera sabedoria, satisfação e simplicidade. Espaços naturais, como florestas,
estão no modo da bondade, e o alimento nesse modo é suculento, rico em
gorduras saudáveis e integral. Visto que a felicidade de sattva é obtida a
partir do eu, é preciso um pouco de esforço inicial para acessá-la, mas, uma
vez obtida, confere duradouro destemor.

Tamas se caracteriza por destruição e esquecimento. Shiva superintende


esse guna, e quando é chegada a hora de o universo ser findado, sua dança
catastrófica coloca em movimento o processo de destruição. Srila
Prabhupada traduz tamas como “ignorância”, e a pessoa sob essa influência
é certamente carente de conhecimento, incapaz de distinguir o certo do
errado. Ele se lamenta em relação ao passado, procrastina os assuntos do
presente, e inutilmente fantasia um futuro. Egoístas, irrefletidos e violentos,
tais indivíduos estão fadados à depressão e, por fim, à insanidade. Lugares
escuros e sujos, como botecos com caça-níqueis, são no modo da
ignorância, e a comida nesse modo é velha, insossa e contaminada. O
prazer ilusório que se extrai de tamas tem suas raízes no sono e na
degradação.

Deus, o Mundo, os Gunas e Nós

Agora que temos uma noção do que são os gunas, podemos utilizá-los
como uma lente filosófica através da qual vemos o universo. Com base na
relação delas com os modos, podemos diferenciar entre as principais
categorias de existência. Comecemos com este mundo.

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O reino de matéria é um produto dos três gunas, no sentido de que a tríade
determina a forma que ele assume e como ele opera. Como resultado de seu
contato com eles, este mundo passa continuamente por vários ciclos de
existência: desativação, desenvolvimento, continuidade e, novamente,
desativação. E as entidades vivas que habitam este mundo são similarmente
empurradas de um lado a outro pela influência dos gunas.

Contudo, existe outro reino, composto de espírito, e não sujeito aos gunas.
Ou, mais precisamente, um reino que não se sujeita a nenhum vestígio de
rajas e tamas. Em vez disso, existe em um estado conhecido como suddha-
sattva, ou bondade pura e sem adulterações. Assim, o mundo espiritual
sempre permanece à sua própria maneira, e os habitantes do mesmo
desfrutam de um estado fixo de conhecimento pleno e bem-aventurança
absoluta.

Por fim, há o Senhor. Ele Se situa eternamente além do alcance dos gunas;
ao contrário, os gunas são uma exibição de Seu poder, e operam sob Sua
supervisão final. O Senhor assume várias formas dentro do mundo
espiritual e, quando é preciso, Ele também faz Seu advento no mundo
material. Aqueles que estão confusos pela influência de rajas e tamas
acreditam que Sua forma na Terra e aparentemente humana consiste em
matéria e é controlada pelos gunas. Contudo, aqueles em conhecimento
entendem que Deus permanece, sob todas as condições e a todo momento,
o mestre irrivalizável de toda a existência.

Por fim, temos os seres vivos. Como o Senhor, eles originalmente residem
no mundo espiritual, além dos gunas. E eles também podem escolher vir
para o mundo material. Contudo, diferente do Senhor, quando nascem aqui
ficam sob o controle dos gunas. A maioria das almas jamais faz essa
escolha fatídica, satisfeitas em permanecer com o Senhor em Seu reino
espiritual. Lá, vivem praticamente no mesmo nível que Deus, possuidoras
de um corpo como o dEle, compartilhando da mesma morada, das mesmas
riquezas e assim por diante. Contudo, aqueles que cedem ao interesse de
estarem neste mundo, desconectados de Deus, assumem várias formas de
acordo com os gunas pelos quais se atraem. Assim como um artista mistura
as cores primárias para criar um tom específico, o Senhor combina os
modos para criar um tipo específico de mente e corpo para cada entidade
viva. Essa combinação distinta age como um filtro colorido sobre a
consciência pura da alma, afetando como ela percebe e age sobre o mundo
externo. Dependendo de seus desejos e de suas atividades anteriores, os
seres humanos desenvolvem e expressam diferentes qualidades, com
variadas proporções da paz sublime de sattva, da intensa turbulência de
rajas, e da ilusão sombria de tamas. Até mesmo as várias espécies animais

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são divididas dessa maneira, a vaca sendo associada a sattva, o leão sendo
associado a rajas, e o macaco sendo associado a tamas, por exemplo.

Conhecimento Aplicado dos Gunas

Embora esse conhecimento único da teologia indiana certamente esclareça


as várias categorias de existência, nos ajudando a compreender a relação
entre os seres vivos, o mundo e Deus, o conhecimento dos gunas também
cumpre um fim bem prático. Primeiramente, podemos nos valer desse
conhecimento para decifrar quais gunas nos influenciam como indivíduos.

Sou alguém excessivamente preocupado com conquistas? Cheio de energia


e motivação quando o assunto é alcançar metas pessoais? Em geral, sou
tomado de euforia no sucesso e me sinto arrasado no fracasso? Sou sempre
arrastado por um rio incessante de desejos? As cordas de rajas muito
provavelmente são as cordas que me amarram. Ou sou vítima da preguiça e
da raiva? Um sujeito viciado na diversão proporcionada por entorpecentes?
Nesse caso, certamente sou um prisioneiro de tamas.

Quando identificamos a influência desses dois gunas mais baixos em nossa


vida, o próximo passo é alterarmos nossos hábitos nos esforçando para
pensarmos, falarmos e agirmos no modo da bondade, deixando para trás a
ansiedade de rajas e o torpor de tamas. Krishna nos garante que a
associação com a qualidade da bondade nos eleva, e que a prática de
agirmos em bondade pode nos ajudar a recobrarmos nossa posição de
estarmos juntos dEle no reino espiritual, onde tudo e todos são saturados de
sattva pura.

Se, contudo, as tendências inatas de nossa natureza condicionada


parecerem insuperáveis, não precisamos ficar ansiosos. O renomado orador
do Srimad-Bhagavatam, Shukadeva Goswami, nos informa que servir
Krishna com um coração cheio de amor é o caminho mais rápido e mais
fácil para cultivarmos a bondade. Na verdade, oferecermo-nos
completamente a Deus é o único meio pelo qual podemos superar os gunas
por completo e nos reinserirmos em nossa condição natural de suddha-
sattva, a bondade sem qualquer mácula de paixão e ignorância.

Então, independente de se a pintura de nossa vida tem as cores de “Flores


em um Vaso”, de Monet, ou as cores de “Paisagem de Pontoise”, de
Pissarro, a meta comum de todo ser vivo neste mundo é tentar trazer um
pouco mais de “amarelo” para o quadro. Se nos esforçarmos, pela causa de
agradar Krishna, em plena consciência de Krishna, Ele concluirá a obra,
rapidamente inundando a tela de nossa vida com Sua misericórdia dourada.

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Citações da
Bhagavad-gita

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Quem somos, o que é o mundo material e quem é Deus

bhūmir āpo ’nalo vāyuḥ


khaṁ mano buddhir eva ca
ahaṅkāra itīyaṁ me
bhinnā prakṛtir aṣṭadhā

bhūmiḥ — terra; āpaḥ — água; analaḥ — fogo; vāyuḥ — ar; kham — éter;
manaḥ — mente; buddhiḥ — inteligência; eva — decerto; ca — e;
ahaṅkāraḥ — falso ego; iti — assim; iyam — todos estes; me — Minhas;
bhinnā — separadas; prakṛtiḥ — energias; aṣṭadhā — óctuplas.

Terra, água, fogo, ar, éter, mente, inteligência e falso ego — juntos, todos
estes oito elementos formam Minhas energias materiais separadas.
(Bhagavad-gītā 7.4)

apareyam itas tv anyāṁ


prakṛtiṁ viddhi me parām
jīva-bhūtāṁ mahā-bāho
yayedaṁ dhāryate jagat

aparā — inferior; iyam — esta; itaḥ — além desta; tu — mas; anyām —


outra; prakṛtim — energia; viddhi — apenas tente compreender; me —
Minha; parām — superior; jīva-bhūtām — consistindo nas entidades vivas;
mahā-bāho — ó pessoa de braços poderosos; yayā — por quem; idam —
este; dhāryate — é utilizado ou explorado; jagat — o mundo material.

Além dessas, ó Arjuna de braços poderosos, existe uma outra energia, a


Minha energia superior, que consiste das entidades vivas que exploram os
recursos desta natureza material inferior. (Bhagavad-gītā 7.5)

etad-yonīni bhūtāni
sarvāṇīty upadhāraya
ahaṁ kṛtsnasya jagataḥ
prabhavaḥ pralayas tathā

etat — estas duas naturezas; yonīni — cuja fonte de nascimento; bhūtāni


— tudo criado; sarvāṇi — todos; iti — assim; upadhāraya — saiba; aham
— Eu; kṛtsnasya — de tudo; jagataḥ — do mundo; prabhavaḥ — a fonte
da manifestação; pralayaḥ — aniquilação; tathā — bem como.

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Todos os seres criados têm sua fonte nestas duas naturezas. Fique sabendo
com toda a certeza, que Eu sou a origem e a dissolução de tudo o que é
material e de tudo o que é espiritual neste mundo. (Bhagavad-gītā 7.6)

mattaḥ parataraṁ nānyat


kiñcid asti dhanañjaya
mayi sarvam idaṁ protaṁ
sūtre maṇi-gaṇā iva

mattaḥ — além de Mim; para-taram — superior; na — não; anyat kiñcit


— nenhuma outra coisa; asti — há; dhanañjaya — ó conquistador de
riquezas; mayi — em Mim; sarvam — tudo o que existe; idam — que
vemos; protam — está ensartado; sūtre — num cordão; maṇi-gaṇāḥ —
pérolas; iva — como.

Ó conquistador de riquezas, não há verdade superior a Mim. Tudo repousa


em Mim, como pérolas num cordão. (Bhagavad-gītā 7.7)

A alma não se envolve com a morte

ya enaṁ vetti hantāraṁ


yaś cainaṁ manyate hatam
ubhau tau na vijānīto
nāyaṁ hanti na hanyate

yaḥ — qualquer um que; enam — este; vetti — sabe; hantāram — o


matador; yaḥ — qualquer um que; ca — também; enam — este; manyate
— pensa; hatam — morto; ubhau — ambos; tau — eles; na — nunca;
vijānītaḥ — estão em conhecimento; na — nunca; ayam — este; hanti —
mata; na — nem; hanyate — é morto.

Aquele que pensa que a entidade viva é o matador e aquele que pensa que
ela é morta não estão em conhecimento, pois o eu não mata nem é morto.
(Bhagavad-gītā 2.19)

na jāyate mriyate vā kadācin


nāyaṁ bhūtvā bhavitā vā na bhūyaḥ
ajo nityaḥ śāśvato ’yaṁ purāṇo
na hanyate hanyamāne śarīre

na — nunca; jāyate — nasce; mriyate — morre; vā — ou; kadācit — em


tempo algum (passado, presente ou futuro); na — nunca; ayam — este;
bhūtvā — tendo vindo a existir; bhavitā — virá a ser; vā — ou; na — não;

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bhūyaḥ — ou está de novo vindo a ser; ajaḥ — não nascido; nityaḥ —
eterno; śāśvataḥ — permanente; ayam — este; purāṇaḥ — o mais velho;
na — nunca; hanyate — é morto; hanyamāne — sendo morto; śarīre — o
corpo.

Para a alma, em tempo algum existe nascimento ou morte. Ela não passou a
existir, não passa a existir e nem passará a existir. Ela é não nascida, eterna,
sempre existente e primordial. Ela não morre quando o corpo morre.
(Bhagavad-gītā 2.20)

A alma é permanente, imutável

acchedyo ’yam adāhyo ’yam


akledyo ’śoṣya eva ca
nityaḥ sarva-gataḥ sthāṇur
acalo ’yaṁ sanātanaḥ

acchedyaḥ — inquebrável; ayam — esta alma; adāhyaḥ — incombustível;


ayam — esta alma; akledyaḥ — insolúvel; aśoṣyah — que não se pode
secar; eva — decerto; ca — e; nityaḥ — perpétua; sarva-gataḥ —
onipenetrante; sthāṇuḥ — imutável; acalaḥ — imóvel; ayam — esta alma;
sanātanaḥ — eternamente a mesma.

Esta alma individual é inquebrável e indissolúvel, e não pode ser queimada


nem seca. Ela é permanente, está presente em toda a parte, é imutável,
imóvel e eternamente a mesma. (Bhagavad-gītā 2.24)

avyakto ’yam acintyo ’yam


avikāryo ’yam ucyate
tasmād evaṁ viditvainaṁ
nānuśocitum arhasi

avyaktaḥ — invisível; ayam — esta alma; acintyaḥ — inconcebível; ayam


— esta alma; avikāryaḥ — imutável; ayam — esta alma; ucyate — está
dito; tasmāt — portanto; evam — assim; viditvā — sabendo-o bem; enam
— esta alma; na — não; anuśocitum — lamentar; arhasi — você merece.

Diz-se que a alma é invisível, inconcebível e imutável. Sabendo disto, você


não deve se afligir por causa do corpo. (Bhagavad-gītā 2.25)

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Somos sempre puros, mas há coberturas de impureza

dhūmenāvriyate vahnir
yathādarśo malena ca
yatholbenāvṛto garbhas
tathā tenedam āvṛtam

dhūmena — pela fumaça; āvriyate — está coberto; vahniḥ — fogo; yathā


— assim como; ādarśaḥ — espelho; malena — pelo pó; ca — também;
yathā — assim como; ulbena — pelo ventre; āvṛtaḥ — é coberto; garbhaḥ
— o embrião; tathā — assim; tena — por esta luxúria; idam — este;
āvṛtam — é coberto.

Assim como a fumaça cobre o fogo, o pó cobre um espelho ou o ventre


cobre um embrião, diferentes graus de luxúria cobrem o ser vivo.
(Bhagavad-gītā 3.38)

āvṛtaṁ jñānam etena


jñānino nitya-vairiṇā
kāma-rūpeṇa kaunteya
duṣpūreṇānalena ca

āvṛtam — coberta; jñānam — consciência pura; etena — por este;


jñāninaḥ — do conhecedor; nitya-vairiṇā — pelo eterno inimigo; kāma-
rūpeṇa — sob a forma de luxúria; kaunteya — ó filho de Kuntī; duṣpūreṇa
— que nunca se satisfaz; analena — pelo fogo; ca — também.

Assim, a consciência pura da entidade viva sábia é coberta por seu eterno
inimigo sob a forma de luxúria, que nunca é satisfeita e queima como o
fogo. (Bhagavad-gītā 3.39)

indriyāṇi mano buddhir


asyādhiṣṭhānam ucyate
etair vimohayaty eṣa
jñānam āvṛtya dehinam

indriyāṇi — os sentidos; manaḥ — a mente; buddhiḥ — a inteligência;


asya — desta luxúria; adhiṣṭhānam — lugar de assento; ucyate — chama-
se; etaiḥ — por todos estes; vimohayati — confunde; eṣaḥ — esta luxúria;
jñānam — conhecimento; āvṛtya — cobrindo; dehinam — do
corporificado.

- 17 -
Os sentidos, a mente e a inteligência são os lugares de assento para esta
luxúria. Através deles, a luxúria confunde o ser vivo e obscurece o
verdadeiro conhecimento que ele possui. (Bhagavad-gītā 3.40)

Temos livre-arbítrio

śarīraṁ yad avāpnoti


yac cāpy utkrāmatīśvaraḥ
gṛhītvaitāni saṁyāti
vāyur gandhān ivāśayāt

śarīram — o corpo; yat — como; avāpnoti — consegue; yat — como; ca


api — também; utkrāmati — abandona; īśvaraḥ — o senhor do corpo;
gṛhītvā — tomando; etāni — todos esses; saṁyāti — vai embora; vāyuḥ —
o ar; gandhān — aromas; iva — como; āśayāt — de sua fonte.

Assim como o ar transporta os aromas, a entidade viva no mundo material


leva de um corpo para outro suas diferentes concepções de vida. Com isso,
ela aceita uma espécie de corpo e ao abandoná-lo volta a aceitar outro.
(Bhagavad-gītā 15.8)

iti te jñānam ākhyātaṁ


guhyād guhyataraṁ mayā
vimṛśyaitad aśeṣeṇa
yathecchasi tathā kuru

iti — assim; te — a você; jñānam — conhecimento; ākhyātam — descrito;


guhyāt — do que confidencial; guhya-taram — ainda mais confidencial;
mayā — por Mim; vimṛśya — deliberando; etat — sobre isto; aśeṣeṇa —
completamente; yathā — como; icchasi — você gosta; tathā — isso; kuru
— execute.

Assim, Eu lhe expliquei o conhecimento ainda mais confidencial. Delibere


a fundo sobre isto, e depois faça o que você quiser fazer. (Bhagavad-gītā
18.63)

- 18 -
Enquanto neste mundo, como funciona a reencarnação

dehino ’smin yathā dehe


kaumāraṁ yauvanaṁ jarā
tathā dehāntara-prāptir
dhīras tatra na muhyati

dehinaḥ — do corporificado; asmin — neste; yathā — como; dehe — no


corpo; kaumāram — infância; yauvanam — juventude; jarā — velhice;
tathā — do mesmo modo; deha-antara — de transferência do corpo;
prāptiḥ — obtenção; dhīraḥ — o sóbrio; tatra — nisto; na — nunca;
muhyati — fica iludido.

Assim como a alma encarnada passa seguidamente, neste corpo, da


infância à juventude e à velhice, da mesma maneira, a alma passa para
outro corpo após a morte. Uma pessoa sóbria não se confunde com tal
mudança. (Bhagavad-gītā 2.13)

yadā sattve pravṛddhe tu


pralayaṁ yāti deha-bhṛt
tadottama-vidāṁ lokān
amalān pratipadyate

yadā — quando; sattve — o modo da bondade; pravṛddhe —


desenvolvido; tu — mas; pralayam — dissolução; yāti — vai; deha-bhṛt —
o corporificado; tadā — nesse momento; uttama-vidām — dos grandes
sábios; lokān — os planetas; amalān — puros; pratipadyate — atinge.

Quando alguém morre no modo da bondade, ele atinge os planetas


superiores puros, onde residem os grandes sábios. (Bhagavad-gītā 14.14)

rajasi pralayaṁ gatvā


karma-saṅgiṣu jāyate
tathā pralīnas tamasi
mūḍha-yoniṣu jāyate

rajasi — em paixão; pralayam — dissolução; gatvā — alcançando; karma-


saṅgiṣu — na associação daqueles ocupados em atividades fruitivas; jāyate
— nasce; tathā — igualmente; pralīnaḥ — sendo dissolvido; tamasi — em
ignorância; mūḍha-yoniṣu — em espécies animais; jāyate — nasce.

- 19 -
Quando alguém morre no modo da paixão, ele nasce entre os que se
ocupam em atividades fruitivas; e quando morre no modo da ignorância,
nasce no reino animal. (Bhagavad-gītā 14.15)

yaṁ yaṁ vāpi smaran bhāvaṁ


tyajaty ante kalevaram
taṁ tam evaiti kaunteya
sadā tad-bhāva-bhāvitaḥ

yam yam — qualquer que seja; vā api — absolutamente; smaran —


lembrando; bhāvam — natureza; tyajati — abandona; ante — no fim;
kalevaram — este corpo; tam tam — semelhante; eva — decerto; eti —
alcança; kaunteya — ó filho de Kuntī; sadā — sempre; tat — este; bhāva
— estado de existência; bhāvitaḥ — lembrando.

Qualquer que seja o estado de existência de que alguém se lembre ao deixar


o corpo, ó filho de Kuntī, esse mesmo estado ele alcançará
impreterivelmente. (Bhagavad-gītā 8.6)

Para onde devemos aspirar ir?

ā-brahma-bhuvanāl lokāḥ
punar āvartino ’rjuna
mām upetya tu kaunteya
punar janma na vidyate

ā-brahma-bhuvanāt — até o planeta Brahmaloka; lokāḥ — os sistemas


planetários; punaḥ — outra vez; āvartinaḥ — retornando; arjuna — ó
Arjuna; mām — a Mim; upetya — chegando; tu — mas; kaunteya — ó
filho de Kuntī; punaḥ janma — renascimento; na — jamais; vidyate —
acontece.

Partindo do planeta mais elevado no mundo material e descendo ao mais


baixo, todos são lugares de miséria, onde ocorrem repetidos nascimentos e
mortes. Mas quem alcança a Minha morada, ó filho de Kuntī, jamais volta
a nascer. (Bhagavad-gītā 8.16)

- 20 -
As almas liberadas não se tornam Deus

dvāv imau puruṣau loke


kṣaraś cākṣara eva ca
kṣaraḥ sarvāṇi bhūtāni
kūṭa-stho ’kṣara ucyate

dvau — duas; imau — estas; puruṣau — entidades vivas; loke — no


mundo; kṣaraḥ — falível; ca — e; akṣaraḥ — infalível; eva — decerto; ca
— e; kṣaraḥ — falível; sarvāṇi — todas; bhūtāni — entidades vivas; kūṭa-
sthaḥ — em unidade; akṣaraḥ — infalível; ucyate — diz-se.

Há duas classes de seres, os falíveis e os infalíveis. No mundo material,


toda entidade viva é falível, e no mundo espiritual, toda entidade viva é
chamada infalível. (Bhagavad-gītā 15.16)

uttamaḥ puruṣas tv anyaḥ


paramātmety udāhṛtaḥ
yo loka-trayam āviśya
bibharty avyaya īśvaraḥ

uttamaḥ — a melhor; puruṣaḥ — personalidade; tu — mas; anyaḥ —


outro; parama-ātmā — o Supremo Eu; iti — assim; udāhṛtaḥ — diz-se;
yaḥ — quem; loka — do Universo; trayam — as três divisões; āviśya —
entrando em; bibharti — está mantendo; avyayaḥ — inesgotável; īśvaraḥ
— o Senhor.

Além desses dois, há também a maior personalidade viva, a Alma


Suprema, o próprio Senhor imperecível, que entrou nos três mundos e os
mantém. (Bhagavad-gītā 8.17)

yasmāt kṣaram atīto ’ham


akṣarād api cottamaḥ
ato ’smi loke vede ca
prathitaḥ puruṣottamaḥ

yasmāt — porque; kṣaram — ao falível; atītaḥ — transcendental; aham —


Eu sou; akṣarāt — além do infalível; api — também; ca — e; uttamaḥ — o
melhor; ataḥ — portanto; asmi — Eu sou; loke — no mundo; vede — na
literatura védica; ca — e; prathitaḥ — celebrado; puruṣa-uttamaḥ — como
a Personalidade Suprema.

- 21 -
Porque sou transcendental, situado além do falível e do infalível, e porque
sou o maior, sou celebrado tanto no mundo quanto nos Vedas como a
Pessoa Suprema. (Bhagavad-gītā 8.18)

- 22 -
Exercícios

- 23 -
Exercício de Pesquisa e Revisão

1. Valendo-se do índice remissivo do Bhagavad-gita Como Ele É, encontre


e tome nota de outros 5 versos ligados à temática.

2. Escolha 2 entre os 5 versos escolhidos no exercício 1 e aponte que


informações extras eles trazem em relação aos versos já fornecidos na
apostila.

3. Releia a apostila e tome nota de perguntas e comentários que gostaria de


fazer.

Questionário

Leia os comentários de Srila Prabhupada aos versos da apostila e responda


o questionário abaixo.

1. Em que duas categorias é possível dividir os 8 elementos materiais? (7.4)

2. Por que a alma é considerada uma “energia superior”? (7.5)

3. Quantos versos Srila Prabhupada cita em seu comentário ao verso da


Bhagavad-gita? Qual o objetivo dessas citações? (7.7)

4. O fato de a alma ser imortal pode ser usado como justificativa para matar
irresponsavelmente? (2.19)

5. Quais são os 2 tipos de almas? (2.20)

6. Como a alma recobra sua verdadeira natureza? (2.20)

7. Que formas de vida correspondem às três analogias no verso? (3.38)

8. O que há de significativo no termo isvara utilizado no verso? (18.63)

9. Como é possível que o próximo corpo de alguém seja transcendental


(espiritual), e não material? (seu próximo corpo será transcendental
(espiritual), e não material. (8.6)

10. Qual o real sentido de “unidade com Deus”? (15.16)

11. Qual a causa das muitas variedades de felicidade e sofrimento? (14.5)

12. Qual o problema do modo da bondade? (14.6)


- 24 -
13. Quais são os portões do corpo? (14.11)

14. Qual a ligação entre o modo da ignorância e a vida animal? (14.15-16)

15. Como podemos superar a influência dos modos da natureza, sob a qual
estamos há muitíssimo tempo? (17.2)

16. Como se dá o desenvolvimento da fé de um indivíduo? (17.3)

17. Que exemplo Srila Prabhupada apresenta de austeridade no modo da


ignorância? Como todos os atributos da austeridade nesse modo aparece no
exemplo de Srila Prabhupada? (17.5-6)

18. Que conhecimento impessoal é validado por Srila Prabhupada como


parte da autorrealização? (18.20)

19. Como podemos ver nas relações típicas da contemporaneidade a


influência do modo da paixão? (18.38)

20. Reúna todos os termos sânscritos mencionados por Srila Prabhupada e


os explique no contexto do verso. (7.14)

Propostas de Redação

Escolha uma das 3 propostas de redação abaixo e redija um texto.

1. Superando as Coberturas da Alma


2. A Alma e a Alma Suprema
3. Entendendo a Reencarnação
4. A Fé e os 3 Modos da Natureza
5. Transcendendo os 3 Modos da Natureza
6. Pregação e os 3 Modos da Natureza

Enriqueça sua redação com:

- Analogia
- Experiência pessoal
- Citação de verso
- Citação de Prabhupada
- Passatempo
- Exploração de um termo

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- Contextualização
- Conhecimento secular
- O que esse conhecimento muda?
- Estudo comparado
- Topicalização
- Call to action

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