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O mito do gaúcho: um esboço interpretativo acerca da influência da literatura

regionalista e de seu “monarca das coxilhas” no imaginário do Movimento


Tradicionalista Gaúcho (MTG)

Constituída, atualmente, por mal interpretadores da História, entra em cena o


Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG). Fundado em 1947, o 35 CTG trouxe um novo
ciclo para o imaginário acerca do gaúcho. Através desse movimento, a produção literária
tradicionalista é vista como um exemplo modelar de nossa tradição “[...] sendo adotada
inclusive em escolas, difundindo uma realidade idealizada, transvestindo em gaúcho crianças
de diferentes etnias que formam o Rio Grande do Sul.”1 Nos territórios em que a colonização
alemã, italiana e polonesa foi presente – e o gaúcho histórico não – constroem-se galpões
desse Movimento Tradicionalista, fazendo com que descendentes de colonos fantasiem-se de
gaúchos e de prendas, apagando aos poucos as tradições e folclores de seus antepassados
(FLORES, 2012), “prefeituras de município, sem a tradição do gaúcho, realizam rodeios,
festivais de canções e de danças, destruindo muitas vezes o folclore e tradições locais”2. O
ambiente que cria-se é análogo a um concurso competitivo de moda, havendo punições por
tamanho da armada do laço, coreografia das danças, modos de pilchar-se, penteados, cor dos
lenços, etc.
Enfim, Moacyr Flores denota que este mito tornou-se coletivo, pois nele encontram-se
arquétipos arcaicos elaborados cuidadosa e conscientemente na mitologia de todas as
civilizações ao longo dos séculos: coragem, ousadia, alegria, indiferença perante à morte,
honestidade, honra, amor ao pago, machismo, lealdade (FLORES, 2012). Imagens que fazem
parte da natureza humana, ou seja, o gaúcho trata-se de um fator antagônico em decorrência
do crescimento dos centros urbanos, “[...] e da transformação da sociedade que trouxe
rupturas morais, mudanças nas relações familiares, competição econômica, dificuldade de
relacionamento e reinvidicações de grupos de etnia e de sexo”3
No entanto, o Movimento Tradicionalista Gaúcho possui um viés ideológico,
organizado como uma estância, havendo: patrão, capataz, sotocapataz, peão e prenda. O mito
do gaúcho ideal, do homem honroso que fundou o Rio Grande do Sul confunde-se com o
latifundiário de criação de gado, que produz pouco emprego e pouco desenvolvimento
regional. Local este atualmente inquestionável por indivíduos externos, pois ele é o modelo

1
Ibid, 2012, p. (?).
2
Ibid, 2012, p. (?).
3
Ibid, 2012, p. (?)
seguido e defendido pelos tradicionalistas. Como afirmado, logo no início deste artigo, a
história sempre foi distorcida com intenções políticas. A instituição, a manutenção e a
perpetuação do mito do gaúcho tornou-se uma ferramenta de auto-afirmação para esse grupo.
E assim a fazenda de criação mantém-se presente. A quimera gaúcha recebe apoio de
todos os lados, como expõe Moacyr Flores
O mito do gaúcho é alimentado pela mídia, em espetáculos de dança, música, canto,
e declamação. As churrascarias também abrem espaços para artistas tradicionalistas.
A indústria de CDs colocam constantemente no mercado fonográfico músicas
gauchescas. Os municípios realizam provas campeiras, concursos de danças e de
músicas. Lojas especializadas vendem caríssimas roupas normativas para os bailes e
espetáculos, movimentando este segmento comercial. Onde estes artistas, cantores,
músicos, declamadores encontrariam espaço comercial para seus espetáculos, se o
mito do gaúcho não fosse alimentado pelos poetas e pela mídia? (FLORES, 2012, p.
[?]).

A necessidade da perpetuação do mito faz-se evidente, nas palavras do professor. Enquanto


estas encenações são uniformizadas, devido às normas do Movimento, o folclore dos negros,
dos teuto-brasileiros, do ítalo-brasileiros e do descendentes de árabes ou poloneses estão
desaparecendo no Rio Grande do Sul devido à essa distorção histórica, à essa interpretação
má intencionada (FLORES, 2012).

Os integrantes do MTG seriam apenas indivíduos mal intencionados, ofuscando a luz da


história com papéis literários defronte aos olhos de si e de outros? Ou seriam estes “vítimas”
da falta de escolarização da sociedade brasileira?

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