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Ranke, Leopold von, 1795. RISE Ranke = ‘Buargue de, 1902- cDp—909 7e1L a indices para catdlogo sistemitico: EDICAO Copidesque: Mara R. Azenha Arbix © M. Carolina de A. Boschi 1 Elaine Regina de Oliveira ‘Ademir Carlos Schneider Todos os direitos reservados pela Editora Atica S.A. R, Bardo de Iguape, 110 — Tel.: PBX 278-9322 (50 Ramais) C. Postal 8656 —'End. Telegrifico “Bomlivro” — S. Paulo SUMARIO INTRODUGAO: 0 atual e o inatual em L. von Ranke. (por Sérgio Buarque de Holanda) % SELECAO DE TEXTOS 1. Da unidade essencial dos povos romanos e germénicos e de sua comum evolucao 65 2. Ago politica e personalidade de Henrique 1V 80 3. Idéias e instituigées republicanas na Inglaterra — os le 92 4. As coldnias americanas 108 5. _Aquisigao de Portugal 123 6. _A restauragdo em Portugal 136 As grandes poténcias 148 8. _Didlogo politico 181 INDICE ONOMASTICO 209 Scanned with CamScanner LW © Textos para esta edigio extraidos Ranke, L. von, Deutsche Geschichte im Zeitalter der Reformation. Ham- ches Gespriiche. Géittingen, 16. und 17. Jalirhundert, Viena/Hamburgo/Zurique, Gutenberg-Verlag. Christensen & Co. Rake, L, von. Englische Geschichte. Viena/Hamburgo/ Zurique, Gutenbets- -Verlag Christensen & Co. Ranke, L. von, Franzésische Geschichte. Hamburgo, Hoffmann und Campe Foto de capa: “Procissio da Liga". Paris, Museu Carnavalet INTRODUCAO Sergio Buarque de Holanda Catedritico aposentado de Histéria do Brasil (USP) Scanned with CamScanner O ATUAL E O INATUAL EM LEOPOLD VON RANKE * Nascido em 1795 num am- biente Iuterano e crescido na atmosfera ainda meio acanhada da Prissia oitocentista dos Ho- henzollern ede Bismarck, tio admiravelmente retratada nas no- yelas de Fontane, Leopold von ente luxos. O nome de Deus aparece muitas yezes em suas paginas, mas apa- ece antes como concessio a0 protestantismo em que foi cria- do que como sinal de um intenso sentimento religioso: se desaparecesse ou fosse substi do por alguma férmula profan to 20 seu prussianismo, hi nele ido de Wiehe na Turingia, antes de ser incorporada sua terra & monarquia da Casa de Branden- burgo, o fato é que, nobilitado embora ¢ convertido em historiador oficial dessa monarquia, nunca hé de ser contaminado pelos fer- Yores que desperta em volta dele a crescente pujanca do reino da Prissia ¢, afinal, do 2.° Reich. Foi um motivo para os atritos que teve com seu rival Droysen € seu discipulo Sybel, que dele se separaré para alinhar-se na escola histériea prussiana, * Originalmente publicado na Revista de Histéria, Sio Paulo, 1974. n° 100. Scanned with CamScanner pd 6 inglés ¢ catdico Lord Acton quase Tamentava niio poder char em Ranke um prussiano mais patriota € um protestante mais devote. © que 0 mestre de C como, aliés, na maioria dos da sua época, excecio fei fra, além disso, 0 pouco caso alarmante que, a seu ver, pareciam 1s morais perenes. Quando em 1882 escrevia sobre isso a Dillinger, no tinha ainda entrado em circulagio, a0 ‘menos com o cont que tomari mais tarde, o nome “ihstorismo” que, se nio serviria para designar quase tudo quanto fava Acton, foi constantemente associado & i jismo ético. Indicando antes uma mentalidade do que tum método, ¢ tendo aparecido na jurisprudéncia, na teologia, na filosofia, na filologia, antes de se manifestar na historiografia, sem- ra ele na Alemanha a sua grande fortaleza, e mesmo quando fertlizou 0 pensamento da Europa Ocidental, guardou muito da marca de origem.? Se é certo que em sua oposicio ao jusnatura- 10 do século XVIII pareceu filia-se por um lado ao pensa- evoluciondtio, nio € menos verdade que também icado e fundado em grande parte a auto-afirmacio sedi- ciosa do principio das nacionalidades entre povos oprimidos, que ‘parece jé despontar em Herder. Além disso, esté presente no ape- nas na obra do jovem Hegel qui genuit Marx, mas também nas especulages daquela Santa Familia, a que Marx se ligou antes ‘Ao reagir contra 0 naturalismo a-histérico, onde geralmente se presumiam, em suas diferentes manifestacdes, uma estabilidade ria da natureza humana ¢ a necessidade de certos postu- rmas “historia” e “historcismo” foram por longo tempo iter ‘a0 menos fora dot pales de lingua alemi, onde a primeira manas, pode-se bem imaginar que, 65 elementos normativos © 0 terreno sustento das teorias do instalou foram forgas inéditas ¢ mutiveis, capazes, naturalmente, de conduzir Aquele rel: es”, “anarquia dos valore: ponsivel por deformagées patoldgicas ver recente. A increpaso é quando menos, discut de Estado” antecede de muitos séculos o ni © a fliria delingliente de Hitler nio esta longe da Procurando aprofundar mais-O-problema,-¢ o-caso-de_per- guntar que teorias, nascidas dey ismo, dele indepen- dentes © muitas vezes opostas a cle, nio podem ser acusadas de indiferenca e neutralidade diante dos principios éticos tradicionais. Do moderno empirismo légico, por exemplo, e de todas as teorias englobadas sob o rétulo as vezes incorreto de neopositivismo, que puderam contribuir 40 eficazmente para despojar a Particular a linguagem da ciéncia, de todas as exere nio se sustentam em face de uma anili rosa, niio se diré que oferecem ou, seq (ou reprovivel moralment escapando as possibilidades de e Por esse lado as categorias do verdadeiro © do de vista, os problemas morais, como as questées mi chegam mesmo a ser problemas, pertence dos pseudoproblemas. Nio é forgoso, teorias com o fundamento de da esfera moral pode prod quem se servisse dessas razbes para cond las, dizendo que 0, Scanned with CamScanner jo dixado com 0 sbandono dos : eran iente preenchido pela aquiescéncia ia ou das doutrinagdes fascistas, e ci ‘a popularidade alcangac do Estado, do Partido, da Raga, 1m tirar nem por, & increpago dos que querem rismo uma indiferenga pelos valores humanos ‘A busca de valores menos ou nada uni- 1m no racismo ou no nacionalismo esmo, a esse propésito, pela divinizagio também ssa, $2 cexacerbado. Defendendo Ranke ¢ a tendénci contra um escritor que pretendeu achar no fo caminho para a ascensio do nacional-s ga de semelhant ji que nio existe em toda a obra rankiana © que possa autorizar tal assergio.? ‘Admite, contudo, o mesmo autor, que a passividade de Ranke —e em dado lugar deixa escapar a palavra “amoralism« desse levar alguns historiad de padrées ou cédigos morais e do estudo histérico. Mas acha admirdvel, por outro lado, sua capa- lade de serena observagio, © empenho de tudo compreender, a perfeita receptividade a fenémenos diversos daqueles que deveriam ter a sua aprovacio pessoal: do protestante em face do papado, do alemio em face da monarquia absoluta na Franga ou da mo- narquia parlamentar na Inglaterra, as vezes do conservador em face da Revolugio Francesa. Sio qualidades, ¢ssas, que lograram exercer sgenerosa influgncia sobre a civilizagio do século XIX ¢ que se acham no pélo oposto A doutrinagio de homens que, cinqiienta anos depois da morte de Ranke, mergulhariam a Alemanha ¢ 0 sm defesa do mado erie aquela sua famosa frase sobre 0 itica externa”, para admitir que pode ter conseqiién 2C1. Jos, C. EN. A Critique of Logical Positivism. Chicago, The Uni verity of Chicago Press, 1950. p. 140 et zeae Gert, Peter. Debates with Historians, Cleveland/Nova York, 1964. p. 2, " g0sas, devido sobretudo ao cunho idealista com que foi apresen- fads. Apenas Ranke jamais escreveu a “famosa frase”, que Ihe tem sido atribuida. Quem a esereveu foi Dilthey, querendo carac- terizar certo trago da historiografia rankiana. Um escritor que se notabilizou por seus estudos sobre a génese do historismo observa, ‘entretanto, que tal caracterizagao deixa de lado a questio da politica interna dos Estados, que considers ‘onde 0 que importa é a agio reciproca entre ela © a pi terna.* Isso esté dito, ali nna Histéria Inglesa como, ¢ pi Quanto a capacidade de ricos, de niio julgar, no mora i ima das grandes virtudes de Ranke, hi quem a julgue imperdodvel defeito. £ essa uma das razdes das Acton, por exemplo, que vé nessa neutralidade um insensibilidade moral, no apenas no escritor como no homem. Certa vez chega ele a citar, aprovando- i ‘a Montalembert sobre 0 mestre de Be contemporizador, aves: diante dos que Ihe granjeassem desa acontecia, ndo raro, que acabasse incompatibilizado com © conservadores, que Ihe imputavam’tibieza de caréter, i de seu governo um posto de confianga, ninguém esperaria, aliés, que entre as duas lealdades, a que o prendi Casa de Brandenburgo © a que devia ao seu mister de hi imparcal, tivesse a ousadia de sacrificar a primeira. Par. bora em escritos que se situam & margem de sua obra cent ensaio sobre as Grandes Poténcias, por exemplo, se mostra: bretudo um patriota alemio e prussiano, em ge plesmente no existia. Numa situagio que 0 se diante dos sucessos hist6- Prussiana, escreveu sobre as di dade da ascensio de Maria Teresa a0 trono imperial, que deram pretexto a Frederico IK para invadir terras da Coroa da Austria, arrebatando-hes a und Shiszen ur Geschichte, 24 ed. |] p. 61 et seas. von, Briejwechsel mit Lord Acton. Munique, C. H. Beck'sche Verlagsbuchhandlung, 1963. v. 1, p. 78. Scanned with CamScanner ‘a quem escreve obra histérica, pronun- Sei em condigées ja impare sence ose ae eo we Sere palavras mais cautclosss podem oe ‘iam convincentes; a wes dessa oxdem nem sempre seriam : fo yuele juizo de ‘Montalembert, endossado por Acton, ee fo pequenino” de Ranke, Também seu ltimo assis- Petara's Monee a inpresio de que a “homem pequenino”. Que o adj dicava uma cram “omen Pe eprends de cata do meso Meinssk, testemunho alheio se quisesse aludir oe, que ee cobect sa do msm adjlvo sobre 0 “es tente em Ber ém ni referir-se s6 & sua estatura eae ee cca on numa recep¢io que ofereceu Thiers, por um alemao que 0 narrow fa ele, Burckhardt. Segundo essa ‘estemunha, pos baie fis, do defunto rei (Frederico Guilherme III da Prassia) ¢ da ‘rainha Luisa, num grupo onde estava Ranke, que tudo ouviu sem E possivel, acrescentou o informante, que 0 francés que sesse apenas provocar alguma noticia utilizivel num livro que tinha ‘em preparo. Se isso & certo, foram baldados os seus trabalhos, Se ee oe een vado, julgou mais cmodo fazer-se desentendido. “Agee tt nee ln ee eae ai eee ‘© Thiers, dessa vez em Viena ¢ durante a guerra franco-prussiana, explicou 0 primeiro que a luta ndo se travava contra Luis Na- Friedrich, Auspewiahlier Brifwechsel, Stuttgart, K. F. Kochler . 545. FBuncxiunor, Jceb. Briefe, Baslfa, Benno Schwabe & Co., Ver vp. 2025, 1952. 13 poledo, € muito menos contra a Franga, e sim contra Luis XIV, que se aproveitou de uma hora dificil para o Império para pro- ceder & anexasio de Estrasburgo. Sem se deixar coavencer pelo argumento de que tamanho recuo no tempo levaria a uma trans- ropa, declarow que as reivin- tarse 4 Alsicia, onde preva- a alemiis; quanto & Lorena, 0 mesmo jé no ocorria; por conseguinte, achava justo que continuasse com os fran- ceses, Semanas a hhavia sustentado que a anexagio de Metz atendia a jt E bem possivel que, fiel dda monarquia dos Hohenzollerm,fizesse Ranke suas reservas fntimas 20 rumo por onde iam levando seu pais, mas evitava manifestar-se a respeito, Ao menos num caso, segundo parece, desviou-se dessa regra, e 0 resultado, por pouco, no comprometew sua situagio pessoal. Em 1847, fiado aparentemente na intangibilidade que Ihe dava a fama de seu alto saber, tentou intervie junto a um principe nno sentido de ndo entrar em vigor certo edito, que Ihe parecia sumamente imprudente naquela fase pré-revolucionsria que parecia atravessar a Prissia.* Procurowo, para isso, numa ocasiio em que se achavam em companhia do principe varios ministros e altos esr faerie cOOCESES © peéprio Lutero nio hes era tender de Ranke, uma posicio © dda Reforma, além de contraria idos povos latinos © germanicos, Sai de perfeitaneutalidade nos estudos bi i esse ideal que, ainda no pértico de sun cat , que o verdadeiro mister do jor iio con outros presumiam, no querer ergi-se em juiz supremo do pas- jie 0s contemporincos em beneficio das yuem quer que se ocupe da hist6r , deve contentar-s¢ cot se prope & apenas mostrar (0 as palavras parecem a muitos resumir 0 principal da co aréfica de Ranke. £ uma f6rmula, sem diivida, porque sua redagdo pode dar margem a interpretagbes que ndo correspondem a0 pensamento do autor e que, em muitos casos, sio radicalmente ‘opostas a esse peasamento, tal como foi desenvolvido e realizado ‘ap longo de toda a sua obra. famente em 1824, 0 princfpio seré retomado ‘na introdugio a0 livro 5.° fessa ele que desejaria como. que se apagar nos seus escritos, para s6 poderem falar ‘aquclas poderesas forgas que, a0 longo dos séculos, ora se unem «se misturam, ora se chocam em sangrentos combates, mas trazem ‘no bojo, apesar disso, alguma solugdo, ao menos momentinea, para os grandes problemas do mundo europeu !° E evidente que semelhante propésito no se acha ao alcance de qualquer um. © espetéculo que ele vé desenvolver-se a0 longo dos séculos nem sempre é um espeticulo péblico, e para evidencié- ¥ Ranke, L. von, Englische Geschichte vo im XVI Jalirkundert. Stutgart, KF. Koehler Verlag, 1955... . a 15 recursos de que Ranke dis sem afetagio sha notavelmente isse que, entre € a arte consumada do escritor de raga que faz com que, depois de aprender 0s fatos particulares, sabe revivé-los em suas pulsacées, Para que se integrem, afinal, em quadros amplos, onde ganham nova dimensio e significado mais alto. Ao menos por esse lado, nio se pode dizer que consiga omitir-se ou apagar-se no que Um historiador de nossos dias observa, a esse propésito, a parte de claboragio © de criagéo que assim se introduz na obra nio $6 com isso, ele & 0 oposto de um te com oferecer uma exposi¢io circunstan- meticulosamente fiel dos fatos, tais como podem aparecer a primeira vista. E lembra o seu tratamento da Reforma, que visa a apresenti-la como um passa a ter vida propria € tomnar-se mais plenamente l, quando 0 historiador con- segue mostrar as etapas do movimento em sua intrinseca unidade, Porque os contemporineos da Reforma s6 podiam vé-la ¢ vi A maneira dos cronis la 10 & como se fosse uma sucesso inume- entos isolados e mal articulados entre si. O que tece, diz 0 mesmo autor, que as grandes se apresentam diretament © que se pode dar nas s, como 0 Fausto, de ou a Paixdo Segundo Sio Mateus, de Bach, ou 0s Apéstolos, de Diirer, mas patenteiam-se verdadeiramente e adequadam nizadas por um historiador, Dilthey, que foi historiador, mas foi sobretudo filésofo, péde ver em Ranke, por esse motivo, 0 incompardvel mestre da Histér encarada com objetividade ¢ universalidade. Outras figuras capi tem havido, acrescenta, entre os grandes historiadores da Alemanha: Scanned with CamScanner 16 sio dotados de visio metafisica mais pro- hi os que, como Hege funda ou, como Niebul alidade. Ranke, & primeir n Tecimentos ou nfo parece alinar com a nogio das causas e, apesar Je tudo isso, € 0 grande mestre: em vez de ir as ralzes que pu- ‘essem esclarceer, vai diretamente aos momentos culminantes, para apreendé-los em suas conexdes universais. Herédoto entre 0s historiadores. f¢ dos acontecimentos, Tem cons ‘ssindo do particular para o getal, que tudo envolve, A sua memér josa, que logra captar 0 que hi de mais complexo na Histéria, faz com que, em cada apreensio, a parte viva no todo ¢ seja eonsiderada, no de modo mas com plena consciéncia das relagies de significado © é a propria esséncia da sua exposigi imterpretada muitas vezes tem ainda outro to quanto possivel, de pontos de © verdadeiro contetido. Prende-se tudo isso ao seu empenho maior, que é 0 de fundar os estudos de sua especialidade sobre métodos rigorosamente cientificos. A tal ponto que suas salas de aula se viram convertidas em auténticos cedo renome universal. Foi cle ist6ricos 0 sistema dos seminérios, aises. Ao mesmo das fontes, adap- fil6logos e exegetas da Biblia. Pode-se perguntar até onde caber nas possibilidades humanas, o alcangar-se por esses ¢ outros meios aquela visio perfeitamente neutra que, com base no estudo aturado da documentagio, tornasse possivel aflorar finalmente a verdade histérica sem macula. Ranke tinha consciéncia das dificuldades préprias da empresa a que se propés. Ao prefaciar os analectos de sua Histéria Inglesa, tocou no assunto para dizer: “O que proponho aqui é um ideal, e ditdo que & impo vertélo em realidad. Nio importa. 0 importante ¢ “e chegar a. algum re te mesmo em face dat investigago ¢ vir depois." 8 ia aleangasse 0 estatuto ci ios, © que seu campo se d n como a0 historiador nio compete ergir-se iz ou moralizar, também nao Ihe cabe filosofar. A separacio ria ¢ Filosofia nio é uma exclusividade sua, e, em nossos ida com énfase por um renovador dos estudos histéricos na Franca." A posigio de Ranke acerca das relagdes entre a ia tem dado lugar a interpre- tagdes quase como as que tém sugerido a formula do wie es ich gewesen. Em estudo recente sobre ‘a imagem de Ranke no,pensamento hist6rico da Alemanha e dos Estados Unidos, foi dito, por exemplo, que, ao tempo de sua morte, a idéia que se passou a formar a seu respeito entre autores norte- -americanos, diversa daquela que se vem ultimamente desenvolvendo depois do influxo de professores europeus imigrados, prendia-se a seus métodos de ensino e de pesquisa, que correspondiam bem 20 desejo de dar respeitabilidade 4 Histéria, Transplantaram- se para a América do Norte, os semi erdadeiramente, 0 “pai da ciénc gou-se a associt-lo, curiosamente, a0 Pe Tiadores alemies, ao contririo, Ranke passou a tomar-se a do empirismo nao-filoséfico, e com ratzes no idealismo. S6 agora, nas duas dil écadas, ou pouco mais, a idéia . Librairie Armand Colt 1p. 433, (Também focalizado Scanned with CamScanner 1 a. dhs por oposi Ranke se tenh ado que 0 spre de grandes sistemas fi fo, como 0 foi , Droysen, nem, € muito ‘modo o seu grande contemporineo € rival, menos, o que se chamaria uma cabega filosstica. Defent tanto, dos que o acusaram de indiferente ou mesmo hi sofia. Em 1830, escrevendo de Veneza ao amigo H obser igiosas, Foram justamente {que me encaminhou 4 Hi es expressamente ‘Acton que nada deveria transparecer nos capitulos da obra, que mostrasse a pitria, a religido, o partido dos mesmos colaboradores. Assim, @ poucos anos de distincia, parece abragar aquilo mesmo ue censurou no historiador alemio, quando declara que este, em tudo quanto escreveu, tratou de reprimir nele préprio 0 poeta, 0 religioso, 0 homem de partido, nada publicando que afagasse os Sentimentos ou revelasse os pensamentos que porventura tivesse. Agora, 0 que recomenda € que “nossa Waterloo seja tal que ‘possa contentar igualmente fran ceses e ingleses, alemies e holandeses!" 18 ‘A recomendacio s6 em parte se relaciona & conveniéncia, numa pu- blicagio coletiva, de manter-se a todo custo a harmonia do con- to the Cambridge Modern of History. Chicago/Lon- P. 397 © 399. 19 Nio hi contradigdo, de fato, entre ela e sua oposigio & idéia da neutralidade em questdes de moral, porque a moral, de seu ponto de vista, ndo participa do subjetivo mas representa’ um bem comum de toda a humanidade. Entre os 36 mandamentos do historiador, que anexou a uma de suas caras a Creighton, lé-se: “No julgamento dos homens e das coiss, a Etica hi de sobrepor- -se a0 Dogma, a Politica ou & Nacionalidade” * Outro era, aparentemente, o catecismo de Ranke, onde as opinives lugae proprio e cert hist6rico. No caso dos juizos morais, a principal objegio de Ranke pro- cede, com efeito, da crenga em que eles tendem a introduair uma (0s. Defendiase, entre- lores moras, tanto como se defendeu da acusagao de infenso as questdes fi ou reli siosas, ¢ essa atitude foi bem assinalada por um dos seus mais auto- rizados intérpretes. !¥ Em estudo de mocidade — diz, com feito, Meinecke — escreveu ele a propésito de Maquiavel, que era tempo de fazer justisa a intengdes deste quando redigiu O Principe. De- pois pareceu inquietar-se com a suspeita de que o julgariam um apologista dos principios advogados nesse livro. E que, como escusa para tais ios, mostrara a situacdo desesperadora em que se achava a Itilia no século XVI, de sorte que o secretério florentino nio hesitou em receitar veneno, Ao retomar 0 mesmo trabalho, cingiienta anos mais tarde, para inclui-lo em sua obra completa, julgou Ranke de bom aviso juntar-the, como num aparte, a confissio de que ele pessoalmente dava tributo as “leis eternas”, insepardveis da ordem moral deste mundo, ¢ longe estava de querer aprovar ou sequer desculpar o italiano, Nao seria melhor se 0 incri- minasse em nome das mesmas leis eternas? — perguata Me Neste caso, porém, responde, entraria em conflito com su sobre 0 mister do historiador. Por isso, acrescenta, trata de dissi- ‘mular 0 conflito, apelando para a arte elistica de seus recursos 1 Acro, J. E. E, D. “Acton-Creighton Correspondence.” In Freedom and Power, Nova York, A Meridian Book, 1 ™ Memecke, Friedrich. “Ranke.” In: Die Mee der Staatsrison in der neueren Geschichte. Munique, R. Oldenkourg Verlag, 1957. p. 445. Scanned with CamScanner dizer que, nele, 0 discurso verbal e, em suma, oe ‘sem que 0 embarace 0 comentirio do rizante, a ambigiidade da f61 ; zendo que essa ambigtidade & car car sua grande rep dzia de que o sibio, neste caso o historiador, deve apagar-se ante 0s fotos, pode entender-se, por um lado, como um eonselho de probidade, “e nio se pode du sentido que Ihe deu Ranke", mas além ; i lade. EA pergunta sobre se & pos enquanto quaisquer que sejam suas interroga saber como os fatos efetivamente se deram, 10 cometeu um crime, mas as civilizagdes niio chegaram a um acordo sobre 0 tipo de castigo que merece 0 réu, de sorte que a sentenga corresponde a uma opiniio discutivel. Os dois caminhos assinalados por Bloch nao diferem subs- tancialmente dos caminhos descritos ¢ separados por Leopold von Ranke: 0 da fia que, no seu entender, € 0 reino das leis serais ou abstratas, ¢ o da Histéria, que, partindo da observacio do nico, em sua unicidade, deverd entretanto explicé-lo, 0 que ‘eH, Marc. Apologie pour M1 ‘Armand Colin, 1949. a s6 pode fazer recorrendo 20s meios que servem para se com ccarem 0s homens entre si, pois que sio geralmente int ‘Tempo houve, segundo Bloch, em que o historiador erigit-se numa espécie de juiz dos infernos, incumbido de dist pprémios © penas aos herdis defuntos, o que supunha a existéncia de uma tébua de valores morais deliberadamente accita. Contra tal posiglo, reportase ao caso das cigncias da natureza, que lar- garam 0 yelho antropocentrismo do bem e do mal: neahum qui- mico que se preze ira sepatar 0 cloro do oxigénio, s6 porque o primeiro é um gis mau, € 0 outro um gis bom. Mss ainda que as cigncias se tenham revelado mais fecundas, por mais presta- as, gragas 2 sua “neutralidade”, sabe o francés que no levar mais longe a analogia: a Hist6ria, como em regra as ci hhumanas, trata de seres naturalmente capazes de perseguir fins deli- berados, ao passo que as ciéncias do mundo fisico excluem o fina- lismo. A diferenga reflete-se em sua nomenclatura, de modo que palavras tais como sucesso, malogro, inépcia, habilidade, que per- tencem ao vocabulrio corrente do historiador, assumem, no outro caso, quando muito, o papel de ficgdes, que s6 cautelosamente hio de ser utilizadas. A essas precisdes de Bloch pode acrescentar-se que, nio raro, acontece empregarem as ci i voedbulos perfeitament mas que, a uma anilise semintica mais rigorosa resulta terem sig- nificados profundamente diferentes. Hé uma palavra que, segundo ‘lumina os procedimentos do histo riador, a quem hio de interessar sobretudo os seres humanos, € io as coisas fisicas. E a palavra “compreender”. Nio se diga do historiador que & um individuo isento de paixdes, pois a0 menos a da compreensio nio Ihe pode ser estranha, Note-se que a idéia da compreensio, apresentada como um instrumento cognoscitivo, am a ciéncia da natureza, aparecera também 's empenhados em descobrit um po- idequado as peculiaridades reais ou su- em que foi usada por alguns neokaa ide, foi, entre outros motivos, por ter sido @ssociada a um método, 0 do “tipo ideal", que pareceu lancar uma ponte entre as tradicionais categorias das ciéncias da naturcza Scanned with CamScanner ea 4 2 eos procedimentos adotados nas cigncias do homem. Ainda assim, ser Gassou, em gral, por wma solugdo plausivel enquano nfo SE ferecbeu mas clramente que escamotcava, sem supertlo, @ a ree incvtavel a generalizagoes. Nao se pode dizer, aids, que Gesapareceu hoje a auréola quase de magia que envolvera a entre 0s neokantianos, pois ela subsiste nas filosofias da fmbora em um caso 20 menos (o de Sartre) nio exclua Jéncia do tinico, separando-se por esse I fgndo ee, se ocupa de abstragdes e generalizag6es. Por outro lado, pretends que a observagio ¢ o conhecimento do tnico representam {5 0 ponto de partida do historiador. Para algar-se 20 conheci- mento dos grandes nexos de sentido, faz-se necessério que siga sem~ pre seus “préprios” caminhos, que, io so os caminhos do filésofo, Nesse passo, porém, seu raciocinio é pouco preciso. De fato, como ultrapassar o tnico, sem 0 que nio se pode atinar com 0s grandes nexos de sentido a que aludiu, e evitar o genérico ou fs abstragées, por isso que pertencem a0 caminho do filésofo, dado Gque cle nega enfaticamente a existéncia de um terceiro caminho? © certo € que, embora alguns autores, reagindo mais tarde contra as correntes positvistas na historiografia, tentassem emancipar 0 cconhecimento histérico das generalizagGes © abstragdes, que pas- ‘sariam a ser privativas das ciéncias nomotéticas, ¢ interpretassem 0 legado rankiano ao sabor de suas teorias, esse modo de ver jé no se pode justficar hoje. B fora de divida que Ranke sentiu desde muito cedo a culdade de estudar, pesquisar ¢ verificar 0s fendmenos singulares, sem 0 socorro de selegdes, avaliagSes, comparagies ou generali- zagdes, e que apelou conscientemente para tais recursos. Q que idlogo Politico”, era ias para 10 mesmo tempo, com cautela. Nas “Epocas da Hist6ria Moderna” ele reitera essa necessidade, ¢ ainda se refere a0 erro dos que querem ver na His A6ria simplesmente um “amontoado imenso de fatos ¢ acham 23 lar se segue a outro, i pela moral comum, ds, de pretender que o conhecimento do WW para quem procura mostrar i, jd exclui Ranke da. ese ico, atenta s6 as singul € diferencas, mas cega as si idades, repetigdes © conexdes. O rétulo — “escola do tnico” 6, segundo parece, de recente cunhagem, tendo surgido nas discus- sées ultimamente suscitadas pelo interesse cada vez maior que des- perta o problema da generalizago em Histéria. ” Ainda quanto objetasse de que possa ha Ranke serviurse abundantemente de generalizagSes para menos aquilo a que jé se chamou uma forma superior do vidual, #4 onde os fendmenos singulares se reorganizam em totali- dades significativas. A recusa sistemética as gencralizacées ¢ 0 aferro no menos sistemético 20 Ginico e a0 nio-recorreate impl- cariam logicamente a reniincia & nossa linguagem normal, tamanho 0 miimero das palavras que dependem delas ¢ que sio absoluta- mente necessérias na comunicagio de homem a homem. zendo que & de toda conveniéncia 0 exame do proc eneralzar, porque um ato consciente e refletido thes tum ato irreiltido, *IScutepeR, Theodor, Be ; tegegnunge! denboeck & Ruprecht, 1962. p. 124. nit der Geschichte, Gattingen, Van- Scanned with CamScanner 26a 24 Iustragio dos métodos de Ranke, nesse parti- ia da unidade Uma notive cular, aparece no deseavol fundamental dos povos roménicos © histéria modema, que ainda em seus dias Ihe ‘marca origindria. E possivel que no fosse uma i Tamente sua, ¢ com efeito cla ja aparece, em termos muito se Thantes aos que emprega, em uma carta de Guilherme de Humboldt ida de 1799, € que o historiador provavelmente ignorava. Foi ele, de qualquer modo, quem, absorvendo-a, Ihe insuflow vida nova e soube explori-la em todas as virtualidades numa obra extre- ", escrevers que Ihe abriu idade de Berlim, onde trata tre 1494 © 1530. de 1865, ano em que € nobi ragio dos arquivos, esse livro incipiente destoa, 3s vezes, dos ei térios que passario a presidir logo em seguida & claboragio de sua obra: no seria por acaso que deixou de eserever ou pul © segundo volume, correspondente aos anos de 1510 ¢ 1535, suge- rido, alids, no préprio titulo que seré devidamente mudado, giienta anos mais tarde, para inclur-se em sua obra completa. Isso nio impede, porém, que o livro continue a ter os seus tos ainda hoje.®* O que se explica em parte pelo fato de lusive nas que sio dedicadas, em apéndice, & critica dos época, os pontos de vista a que, com pouca ou nenhuma diferenca, ‘le se manterd sempre fiel. Sem eles, especialmente sem a “idéia " desapareceria a moldura natural do restante de sua co- piosa produgio, Essa presenga é sensivel, depois daquele livro de ria dos papas (1834-36), & da Ale- 1824, nos que dedicou a hist6r manha a0 tempo da Reforma (1839-47), & do reino da Prissia Jim von Humboldt. Gittingen, Van denhoeck & Ruprecht, 1963. 21Da Histéria dos Povos Latinos e Germénicos escreve, por exempl jenée Marrou, em "Comment comprendre le métiet dt Histoire et set méthodes — Encyclopédie de la Pleiade. Patisy 1961. p. 1 $06.): “un grand live, consideré ire comme Je premiet chef'oeuvre de notre literature, de notre science historique moderne. 4 Espana. Nem que elaborou as indo a duas secre mesmo ler € escrever diretamente, mat eyfcomslia aces do morreu, em 1868, que deixou incompleta quan- res pars expan a0 note, com o inpéio caring em dizer, se forma 0 se da Franga e da Alemanha, ona cae , ganhando logo a Gri panka ea Escandinivia, ‘Sua importine scapameatenen, sobre essa idéia, descansa para ele, até na gies ctapete toda a vida européia,além de seus prolongaments ultram snide regtonpromelia Po isos fatores,eate eles as Ges entre 0 papado e os soberanos sec depts como rctemperada peas ries Aun $462, Sees os Magno, aga unidade sob a égide da Igreja de Roma a dear ser fruto de uma cdadide aderte te hence , para eeder as ¢ pensada e conse ‘iscrepantes, mant de toda a moderna s de uma aquiescé » forgando opgdes i igdes, cOdigos de com- comum, sio patrim de sorte que esses povos formam como uma vasta re- Bei ; iador se dedique ao estudo das dife- rea ie rias nacionss, quando nio perca de vista 0 pano de Fea tHe de algum modo as congrega. A histéria mun eileen Proemio de sua thkima obra, “degenraria S, Se quisesse deixar o terreno firme das histérias na- Scanned with CamScanner hots jonais (...) mas também n3o ? SES canimuando, inka abso ainda obser: “A ¢ travadas entre vris povos pide nascer a histéia do mu 2 “Jo, porém, deixa de set informe ou multiforme ape poral i ide um nexo de sentido, fa medida em que se organize em toro dé um std, aoe ofcrete, em grau eminent, a histria comum date europe Sem is, 0 estos do vasa a de mero compilador de fatos, comport ao Si atandbal tetera det. Anda arco gue procram sitar a ba omian 0 ancestral marasm de qe no come er cons Mmpanhar o movimento profundo e geral dessa His Fakindo de mundos estagnados,eslerosados ou sonolentos. A vida das nagdes $6 se faz acessivel a0 joriador, segundo ele, num Contes “onde se veja como aluaram, umas sobre outras, como se sucederam umas a outras ¢ como, enfim, se juntaram umas com coutras numa comunidade nova". £, pois, escusado querer incluir uma comunidade viva, como a dos povos da Europa ocidental, Bgrupamentos que Ihe #80 heterogénees. O certo é que, com todas as divergéncias nacionais e também confessionais, esses povos parecem, em varios momentos bem defi- nidos, mover-se nas mesmas trilhas, como se tivessem um sé im- pulso a governé-los, mesmo quando paregam separados por dissidios € rivalidades. Um desses “momentos” é 0 das Cruzadas, em que marcharam unidos para pelejar contra o infiel, devendo notar-se ‘que aprofundou a divisio entre “latinos” ou “francos” como indis- Gfiminadamente se chamavam os que seguiam a Igreja de Roma, € 2 erstandade oriental ou ciaméica, Outro "momento" noti dde manifestar-se, depois, com a expansio ultramarina, em que rentes nagdes do ocidente europeu, guerreando-se, embora, muit ‘ezes, se acham ariuladas pelos mesmos propésios, cobiga de riqueza material, do desejo de estender sobre tantes, muitas vezes ignoradas das geragées antecedentes, sua fé © 0 empenho de dilatar além dos mares a cultura que tiram de uuma tradigéo comum. Para ir mais longe, no € muito lembrar ainda 0 momento da Ilustragio do século XVIII, que avassalou igualmente os representantes da cristandade ocidental e, a bem dizer, s6 esses. A origem de tal momento ainda se discerne a Presenga atuante do principio, nascido ao longo das guerras de 27 eixaria cada Estado de tolerar os direitos do vizinho, degene rando 0 convivio entre 0s povos na prepotéacia de um povo sobre outros, se no numa xenofobia generalizada, Em tudo pode ver-se como sobrevive 0 consenso até mesmo no contlito. No caso, 0 consenso superior da 0 do Ocidente. © mundo das histérias nacionais de Ranke é, assim, um mundo europeu, que mal se dilata, mas sem perder 0 contetido essencial, sobre provincias e continentes do ultramar colonizados por europeus. Mas nio é a Europa inteira 0 que o ocupa, é a Europ: idade do golfo de B6tnia aos promon- {6rios mai cilia, © do Oder e Ads é bridas As fronteiras geograficas dessa Europa latina © germ: a, Sio as fronteir ‘espaco histérico a que dev lectual. $6 em raras ocas {déia central, chegou a transpé-las: quando em 1827 escreveu sobre © Império Otomano, e quando tratou, em 1829, da revolugéo na Sérvia. © livro sobre a Sérvia & obra de circunstincia e fica 2 margem do resto da sua producdo. O outro resulta do propésito de estudar os povos do sul da Europa, de onde nio Ihe seri expulsar os turcos. Hi contudo uma explicagiéo melhor: 0 lugar importante que ocupam 0s otonianos nas Relazioni venezianas, que ‘sbundantemente explorou, € onde logo encontrou a possibilidade de boa safra. Depois, 0 conhecimento aprofundado da histéria turea, numa fase singularmente fecunda da vida das nagdes euro- péias, iré pen cluidas, poré experiéncias, poderé entio retomac com mais Seguranga os assuntos sugeridos pela sua idéia de que a comuni- dade romano-germinica deve erigit-se no principio verdadciramente axial de toda a histéria moderna. Visto de nossos dias, esse principio pode suscitar dificuldades que Ranke no considerou ou simplesmente desdenhou. Uma dessas atividades prende-se & operacio procustiana que o leva, ao descrever sua comunidade privilegiada de nagies, a exclusies arbi- trétias, como a da Poldnia, da Hungria e até da Boémia e Moravia que desde 0 comego de sua vida como nagées estiveis se prendem Scanned with CamScanner indo-se ainda 2 ele ar-se coerente, no ‘a apartar de seu Sistema tio laboriosamente construido, povos que no fossem de Grigem rominica ou germénica, e, num caso particular, o dos ma- flares, nem sequer indo-curopéia, As vezes, quando se refere i parte que puderam ter eslavos © hingaros nos movimentos de defesa do mundo oi 1s hordas tureas, parece, por um instante, conse ‘mundo fechado, Outras vezes, quando é impos- inantemente que cles assimilaram os valores ro- desempenharam nesse caso um papel ¢ verdadeiramente criador. O que tanto 30 poderia ter algum parece certa para a Boémia que, além de enlagar-se intimamente, pela sua hist6ria, a0 Santo Império Romano da Nagio Germinica, se estende para oeste tha que traga © Oder (com 0 Adriitico). Referindo-se aos que ficam a leste dessa raia, mas silenciando a respeito dos que ficam a oeste, hi uma passagem em seu livro sobre os Estados do sul da Europa, onde alude & funda diferenca existente ainda nos séculos XVI ¢ XVII, na arte da guerra, tal como a praticavam poloneses ¢ magiares, de um lado, € de outro os povos germinicos e latinos. E que, enquanto aqueles conferiam realce incompardvel A cavalaria, as nagies is davam preferéncia & infantaria 8 artiharia. Assim, 0 rei da Poldnia podia por em campo a qual- quer momento uma forga eqiiestre maior do que as da Alemanha, fa e Espanha juntas. No que se parecia nio s6 com os cabos es dos Siebenburgen € dos Szeckler da Hungria, mas tam- ‘bém com 0 grio-duque de Moscdvia ¢ 0s voivodas moldivios e valiquios, sujeitos & Porta. A leste estes confinavam com 9 tirtaros, que passavam a vida inteira a cavalo, Sua conclusio € de que no se tratava aqui de fenémeno fortuito, mas indicio de fengas mais fundas com as nagdes ocident Do ponto de vista da geografia, a e pado, que os povos deixaram seu cunho. Quanto aos moscovitas, no constituiam problema mais sério. Parceiros tardios do concerto ocidental, onde s6 principiam a firmar- do século XVI, ingressaram nele por obra de um czar ‘que, devendo impor-se a vizinhos, poderosos, procurou ocidentalizar seus stiditos, sem deixar de continuar um autocrata birbaro, mais do que da Europa. As reformas que empreendeu Pedro iveram sempre em mira o bem-estar de seu povo contra Organizou uma frota, tentou criar um exército disci- sm a bater os suecos € a sustentar no trono da contrério a Franga ea Perdew para fos turcos uma batalha, mas uma apenas, entre vétias outras de ‘onde saiu vitorioso, mas pode infundir aos siditos do mente aqueles que professavam 0 cristianismo orients seu grande poder até entio ignorado. Nao poder para equiparar seu povo, no que res zagio, aos paises do Ocident 105 € germinicos ajudaram a formar e onde lizar, também, suas idéias ¢, acrescenta Ranke, “nem os russos estavam aptos para tanto, de sorte que continuaram imperm 4 todo progresso moral”. © mesmo, alids, em outras palavras, jd dissera em 1824, quando, depois de se referir aos vinculos exis- tentes entre a Europa e a América, apesar da distincia que sepa- rava 0s dois continentes, observor inhos de Nova York ¢ de Lima do que de Kiev € Smolensk.” Nada methor do que a consideragio de generalizagdes desse tipo, que esto & base da sua Ranke se encerrou desde © comego num para mostrar como tema sem desemboque, fe que nio mais o deixar. Fora da Europa, de sua Europa e, quando fora das terras colonizadas por curopeus, s6 exis- para cle 0 caos © 0 cemitério. Em tais condigies hio de fora de seu horizonte aqueles mundos informes ou dlgidos que Ihe parecem, efetivamente, terras sem hist6ria. Nao querendo Ser apenas um erudito, que visse na HistGria mundial uma soma Scanned with CamScanner 30 importara-Ihe primeicamente dis- os poves ¢ verificar em que me- emma das nagdes. Em principio procedimento, nem parecem boas we deploram a exigiidade de seu campo de visio, Sera se ea 2 a cen Iidades, Semelhante critica pode, alids, com mais razio, rec sobre qualquer dos historiadores de seu tempo: sobre Macaulay, por exemplo, que s6 se interessa pela Gra-Bretanha, sobre Michelet que, praticamente, se ocupou apenas da Franga, ou mesmo sobre fekhardt, que via unicamente, por assim dizer, os paises que diterrineo ¢, melhor, a parte do Mediterrineo que do Renascimento e de Constantino o Grande, com tga e em parte o mundo helenistico. ses dessa critica s6 valeriam se quisessem dizer que io cessava, para Ranke, nos limites da Europa Oci- dental com seus apéndices ultramarinos. O resto nfo apenas deixa de interessiclo, mas, de fato, & para ele como se fosse inexistente, ificar-se como um rin ser um mandato de exclusio sem apelo. Os povos que nio tiveram o privilégio de originar-se das grandes invasdes dos séculos IV a VII, que nio se b a égide da Tgreja de Roma, que no tomaram parte (ou indiretamente nos descobrimentos e conquis- ue no se viram envolvidos, dentro do mesmo desconexa de histérias nacionais, cemir as grandes conexdes cnt dida elas agem sobre a vidi znada hi a dizer contra seme ‘mundo ou Aussenwelt da Europa, onde vivem desvairados povos. ‘A verdade é que em tudo quanto escreveu, € nio $6 no prit livro, em que traga as linhas gerais de seu pensamento, mente se procurard uma fresta por onde aquele diluwvium gentium extra-europeu possa um dia ganhar ingresso em seu Panteio. Veni Scutoes, Theodor. Besesnungen mit der Geschichte. G8itis Vandenhoeck & Ruprecht, 1962, n° 115, pr 115. eee l | 3 sgar eminente manifestagdes balizadas por nogdes tais como as de ia e arte, que rapidamente se universa- ‘maior deva ser semelhante euro- que a Europa, esse “cabo livro saido pouco depois da perfeitas ¢, sobretudo, por prépria conta ess tapas iniciais de sua técnicas, sem ter precisado atravessar as gio € de seu progresso. ismo de Ranke poderia alegar-se que ocidental parecia rigorosamente im- ue ele viveu, € no entanto 6 forgoso obscrvar fica da Hist6ria, a0 mesmo tempo em que tes fixos no espago, também excluia a dimensio do futuro, Nada hi, em sua imensa obra, que se assemelhs previsdes feitas por homens de seu tempo, um Hei queville, um Burckhardt, que seriam posteriormente realizadas. E nem ha como exprobri-lo por ter seguido a regra, que Hegel de- finiu mas ndo seguiu, de que nio é da compet © arvorarem-se em profetas ou taumaturgos. A neste particular, ndo esta em que para ele 0 tempo comportar um ontem, quando muito um hoje, cuj nos é acessivel através de pesquisas ou de experiéaci i, de contornos ainda esquivos. Estaria’ antes ide para o que possa haver de virtualidade, de promessa, de agouro, no hoje para a parte do futuro contida no Fares, Hi igeschichte Europas. Wiesbaden, Dieterch'sche ‘Verlagbuchhand : Scanned with CamScanner UM, as 32 que ssa passagem, "é um grande ocular. Mesmo os prendem-se pela natureza ¢ oFi- i sa, esta é, para A explicagio no é ; tesse, mostrando o que hi de verdadeiramente nas figuras de Ranke, em contraste com 0 tratamento dado por Burckhardt as suas personagens © que, esse sim, seria predomi- nnantemente tico-estitico. * Ao glosar os coneei de Yorck, deixa entrever Hans Freyer portantes da fi jana. ¢ seria responsavel pela énfase at espeticulos mais brilhant i £4 economia mesmo, é encarado Isto quer dizer que, além de expulsar da his que nio tiveram a ventura de pertencer & moderna as nagoes iio ocidental ¢ 0, além de dar quase vel este mundo, que deixou em 1886, Ranke vé quase sobretudo as minorias dominantes ¢ governantes de cada ‘Um autor moderno que, néo obstante, afirma tincia de sua obra, observa que “o horizonte desse esse historiador da Corte de Berlim, lembra tum horizonte de campanirio”, 0 que no deixaria de exercer aslo nefasta sobre o desenvolvimento ulterior dos estudos de His- Friburgo/Mu- 33 {6ria na Alemanha, Sio provavelmente corretas as observacies de Georg von Below, um mestre da Historia econémica, para quem Ranke se vira forcado a dar relevo menor em sua obra aos proble- ‘mas das insttuigées politicas, da economia, da literatura ou das artes, do porque se interessasse menos por esses 1s, no porque fosse mal dotado para abordé-los ¢, principalmente, no em obe- digncia a algum principio exclusivista, ¢ sim porque, perdido numa floresta imensa de fontes documentais ainda virgens, precisou apelar para um tigoroso critério de selesdo do material utilizével, sob pena de néo levar a bom termo sua obra.*¥ Ainda que justa, a argu- mentagdo nio justifica, ou justfica mal, o fato da divisio do trabalho que 0 historiador escolheu para favorecer justamente os grupos politicos sociais privilegiados. De qualquer modo, uma critica dessa natureza corre facil- mente 0 tisco de tornar-se anacronistica, se levada as tiltimas conse- 4ligncias, excomungando um autor simplesmente porque seguiu cri- térios e preferéncias préprios do tempo em que viveu, nio do tempo em que vivemos, ¢ que a0 tratar, vamos dizer, da Franca do grand siécle deixou lastimavelmente de reparar que o seu perso- rnagem principal nio foi bem Luis XIV e nem foi Colbert, mas foi evidentemente uma certa “fase B”, em que a assustadora imagem da curva descendente dos precos teria servido de aguilhio para 0 ‘engenho e a iniciativa dos homens, segundo se pode tirar das teorias id. A ascensio do nacionalismo burgués que se destinaria fa alterar fundamente as estruturas estatais vindas do passado, ¢ isso nao s6 na Alemanha, mas também, e mais ainda, na Inglaterra na Franca, serve claramente para explicar essa preeminéncia do politico, visfvel igualmente em Macaulay ou Michelet. E claro que ha muito de inatual na historiografia rankiana e, fem geral, no tipo de historismo que ele admiravelmente representou. Contudo, € to dificil renegé-lo em bloco, em nome da reagéo contra o historismo clissico, como é dificil negar completamente fa propria mentalidade historista. Para o historismo, como jé foi assinalado nestas piginas, é, de fato, mais propriamente um tipo 29 Beiow, Georg von. Die deutsche Geschichuschreibung von den Be ‘gskriegen bis zu unsern Tagen. Leipzig, Verlag-Quelle E. Meye p31 et seqe. Scanned with CamScanner rf: En de mentalidade, now ‘Curtius pode escrever que: *o historismo nfo & uma teori ver e de ser, surgido no universo Nizusthe ¢ Jacob Burchard ‘A Europa do ocste permanecet im Em outrapassagem de seu dro de liturs, reitera a mesma Coser, sapio e diz mais que, como forma de vivencia, que atuara jé sob Gost © Hegel, ¢ seria inintligvel sem Merde, 0 historsmne vinica. ® Curtius quer referir-se, smo como mentalidade, e & desse. que gio. Porque, na medida , dando-lhe rumos {que péde encontrar 10s paises do orste da Europa ¢ ainda na América mod de um esuo sobre 2 podrosaiafucaia da 1m método ou uma escola. Emst Robert ica e sim um modo de ia cient ares aqui, certamente, a0 bi a Europa oriental estaria livre de eve na Ingla- seu livro e confirmada no ‘enorme influéncia” descr preficio de G. P. Gooch A dela, que sustenta Curtus, dade dos franceses e ing alema representada pel de uma radical incompatibili- nha guilhermina. Seja como for, parece desnecessério admiti- a acreditar que nio seria fécil a0 pensamento germinico despojar-se de uma tradigo inveterada e extremamente rica. AS critcas de Hans Freyer, por exemplo, — contra certas doutrinas fatalistas — onde ocorre generosamente 8° Cuarius, Ernst Robert. Blchertagebuch. Berna/Muaique, ce Ver sans Be tagel Munique, Francke Verlag, "Decons Klts Der Deicke Hlirimas Ue England, Git ‘Vandenhoeck & Ruprecht, 1950, p. 13 et eqs. a ae a palavras tis como honra, heroismo, luta, org Embora por ocasiio da famosa “querela dos denstreit), de 1896-1897, tivesse estado mais p germinica. E possivel talvez vislumbrar alguma os petsamentos de Freyer e Rothaker, de um lado, ‘em 1919 defendera Theodor Lessing, 20 inst iografia que postula “com seguranca f +t orgulhosamente e de consciéncia limpa: 0 que ele pretendia em suma resume-se hor traduzida, reclama a criagio diz, no é cigncia (Wissenschaft), transformadora, ‘Theodor Lessing a Ranke © mesmo as diferentes modalidades do historismo. Outro tanto ocorre com as posigdes radicais de alguns autores de bbem mais ampla do que a sua e que, cada uma a seu modo, negam todo e qualquer a losophie, Hamburgo, Hanseatische-Verlag- ik und Systematik der’ Geisterwissenschaften. 21 MaRmIN, Alfred von, Der Heroitche Nililsmus und seine Oberwin ld, Scherbe Verlag, 1948. Tcoess, Georg G. “The Dissolution of German Historism.” In: Herr, Richard ¢ Pane, Harold T. (org.). Ideas in History: Essays Presented 40 Louis Gouschalk. Durham, Duke University Press, 1965. p. 108, Scanned with CamScanner yy | 36 fidéias pres, pe 4 Gticas.®* Os herdeiros, porém, do historis essa filiago suposta para 0 mo clissico se inclina- Indo dos descaminhos suns desses autores aparenta-se, no raro, smo. E se é certo que T. Lessing ss, ¢ suicidowse em 1933, ano (€ Jiinger, como mostrava tendéncias esquerdi dda ascensio de Hitler, nio s6 Heidegger, $ ; também Feeyer ¢ Rothaker, aprovaram, ao menos temporariamente, o advento do 3.° Reich, E é signifcativo que todos, salvo Rothaker, tinham superado a posigio historista. Com 0 nazismo triunfante, ‘essa posigdo pareceu na imingncia de desmoronar-se, mas jé antes ‘a ameaga comecara a ser pressentida. Em 1930, numa conferéncia pronunciada no Congresso Internacional de Filosofia reunido em Oxford, Benedetio Croce, representante na Itélia do historismo ra~ cionalizante derivado de Hegel, chamava atengio para uma cam- ppanha generalizada que, a seu ver, se desenvolvia contra a idéia historista. Essa campanha, que ele associava & crise do liberalismo, responsivel pela instalacio em virios paises de regimes autoritirios, pareciaslhe sinal de empobrecimento mental, de debilidade moral, eretisme, desespero ¢ neurose. Pouco depois, em 1932, publica Karl Heussi um livro de certa repercussio na época, onde expressamente da “crise do historismo”, torismo é das mais altas ¢ mais genuinamente es do espirito alemao. _ Apesar de sua formacéo monérquica e bismarckiana, Meinecke aceitara como irremediveis as transformag6es intemas de seu pais depois da derota de 1918, ‘Tornou-se republicano e, por filiagio Paridria, democrata, mas republicano e democrata de r2z%0. ‘Ba- tera-se mesmo por um regime que fosse como um sucediineo, um Ersatz, da monarguia, segundo cle mesmo escreve em suas remi- to della Filosofia Modena — 31. pe 33. 37 5 e onde ndo houvesse lugar para um parlamentarismo plebiscitirio. ‘Max Weber, teve algum eco na constitui com a ordem nova que instaura 0 3.° Rei istorismo, jamais se conformaré, ¢ © preceito rankiano do “como su” vai mudar-se numa perguata: “como pode tum pobre consolo na idgia de que o fend- mais europeu do que pri ak jamente alemio, Croce de que a Inglaterra e a Franca ficaram imunes crise do Iiberalismo. * Dez anos depois da ascensio de sou antigo diseipulo, Siegfried Kabler, escreveu que se cada vez mais com a obra de Burckhardt, cuja impor ‘a scus olhos, e perguntava-se mesmo se, ao termo da € mundial, nio acabaria por triunfar 0 mestre de B © proprio Ranke. Mas emendou: ndo seria com certeza uma vi e mais perto de Burckhardt. Em 1 dessa vez a Spranger, que Burckha cconseguira mergulhar fundo nos de: nando-se um profeta de desgracas, ao passo que Ranke, sempre con- jeou preso ao “ofsis humanitério” do sé- cculo XIX, que agora mostra sua face real: “Fata Morgana maravi- Those, mas mentirosa", Aquele bom europeu de Ranke revelava agora sua fraplidade: pareceu-Ihe isso bem claro quando viu aproxi- rmar-se o fim da guerra: “os ataques de americanos © russos & velha Europa apresentam- Scanned with CamScanner 38 ceuropeus ¢ a exemplos europeus, ue sioo que hoes eragas 2 r Sitagaas ager técnica da destruigio ¢ no uso ‘ultrapassam agora a Europa na frio da razio ealculada para destrui cke seu estudo, tantas fo sobre Ranke ¢ Burckhardt, * Passada a borrasca, jannio dé vitéria nem meia vitéria& voz de Cassandra. No confronto, quase se equiparam o mestre de Ber alvez perguntar mesmo se 0, profeta de cat lum professor de desalentos, que fecha e, ade que “o poder ico Nietesche, na Universidade de , mal ou bem, em nume tutelar do nazismo. # sconfianga com que encarou a obra de Bismarck, ‘embora admitisse que o chanceler prussiano tentou fazer uma revo~ lugdo que algum dia devia rebentar sem ele ¢ contra ele. Mas até onde seria bem sucedido 0 projeto reformador? Burckhardt era, contudo, mais resolutamente conservador do que Ranke, Tam- bém este tinha medo de reformas, até de reformas vindas de ci sides houve em que foi ao ponto de descrer de se er de seus venerandos mes- tres. Em carta de 1946 ao historiador austriaco Srbik, escrevia: “Como desta © expetéculo que hoje assis lo que hoje assstimos daqueles quadros que nos Iegaram Ranks, Treiuchke, Burckhardt sobre Ale © Meistcur, Fresh, a Verlag, 1962.'p. 297,279, 81 4 Manwcee, Fredich. Zur Geichiche R. Oldeoboure Verlag, 1968, $3.0 124 Hs sohe ab eases de Netache che and Burchard, Baia, Eek, Rena Von der Gechicitsschreibung. Munique, 39 manha ¢ a Europa! Nenhum dos tris com efeito nos satsfaz completamente. Nio, nem mesmo Burckhardt, o cl vas em nosso destino... ¢ no entanto tivemos também ¢ gratas ao longo da hist No mesmo ano de 1946 perguntou certa vez a um seu conhecido norte-americano ocupado em atrait, para a Universidade de Mu- que, na Alemanha, 0 niimero de individuos e merecedores de confianca era menor do que em out “Acho", retrucou-lhe brutalmente 0 outro. Muito vontade de poder a todo transe, exercida sem escripulos, se desenvolveu fora da Alemanha, E embora a parte livro seja dedicada aos representantes germinicos da doutr verdade € que eles constituem reduzida minori da opinido generalizada no estrangeiro de que 0 quadrava bem na tradigao germ! achava necessério um exame de consciéncia. ‘Agors, quando recebia da Inglaterra uma carta de Gooch, que falava em “Ranke, 0 mestre de todos nés”, ¢ exaltava uma obra © Grande, escrevia que manifestacdes como particularmente oportunas num momento em que se valores 140 universalmente comb: da hist6ria alemé, mas insiste na necessidade de uma revisio culosa desses valores. Ao amigo Spranger faz mesmo esta cor fissio: : “Frederico 0 Grande ¢ Bismarck ndo foram apenas construtores, mas também destruiram muita coisa; a construgdo do Estado prus- siano-alemio foi uma tremenda tragSdia, ¢ nio aquele espeticulo hharmonioso em que tanto nos compraziamos.” Entre as revises que jé Ihe pareciam inevitiveis, nfo hesita mesmo em situar a do historismo eléssico. Punha agora em divida, espe- cialmente, a tese da bondade do relativismo hist6rico ¢ da neutra- ich. Auspewihter Briefwechsel. p. 259, $96, $93. 9 Monexe, Fri Scanned with CamScanner | \ | insepariveis da “scola histrica alema”, de que tinha yco antes tum intransigente campedo. Em 1950, jovem historiador suigo, em livro de mais © lugar do absoluto e da transcendéncia. Assim pensou sempre no eterno. A segunda divida era sobre 0 Estado Nacional fundado na forca. Como insistir nele, quando se vé seu total desmorona- mento, e sobretudo o que pensar das relagies dess © Estado prussiano-alemio © sua historia? Meinecke fazia questo de frisar que, afirmando a necessi- se considerava um renegado, O que esperava era sposta onde os valores antigos fossem suspensos-abolidos (aifgehoben) na nova forma de existéncia dos povos ocidentais. *° hitlrismo, que escapou de morrer nos cérceres nazistas, © que escreveu a biografia de Carl Goerdeler, a figura central da resis- Geschichischeibung und Weltanscha _ eltaschawung: Betrachtungent h Meineche. Munique, Verlag von R. Oldenbourg, 1950. * Memweexe, Fredvich. Auspemil cwechiel. p. 256, a téncia civil alemd, executado a 2 de feverciro de 1945, lamentava agora que, depois do endeusar frenético de tudo quanto fosse ale- mio, se passasse a sistematicamente denegrir os mais puros valores Srbik, queixava-se Meinecke da tacado agora de todos os Iados. ulos de Croce, ¢ até o chefe sm tradugio alema, rismo anti-racional € versais ¢, em suma, a dissolugio da {é no proprio pensament Embora 0 escritor ressalvasse expressamente a posicio do vel Meinecke, sem diivida porque, mesmo sem filiar-se & corrente hi 0 tal como a representou Croce, nio Il I a Ea esse coro de apSstrofes nao vinha juntar-se a enciclica Humani generis, de 12 de agosto de 1950, onde sio criticados os efeitos do falsus quidam historicismus? Cinco meses mais tarde, escre- vendo ainda a Srbik, pergunta Meinecke: “Com o historismo sustenta-se ou decai a natureza humana?" E ele mesmo responde: “Parece-me que caminhamos agora para uma sintese nova do Contudo, a intensidade das eriticas feitas & “escola histérica”, come- cavam a corresponder, também no estrangeiro, reages que a favo~ reciam. As palavras de Gooch sobre “Ranke, 0 mestre de todos no representavam opinido isolada. O francés Raymond jus- “o relativismo, que a prépria hist6rin da cincia hist desde fica, no parece tender a destruir a Histéria cientifi erpretado”. 48 Awtoxt, Ci lo Storicismo alla Sociologia. Floreaga, G. C. Sansoni, 1951. p. 120 et pas. Scanned with CamScanner 42 Por sua vez 0 norte-americano Alan Bullock, em artigo publicado em 1951 em History Today, defende a idéia de que a Histéria no foi feita para suportar o peso dos sistemas de absolutismo moral. Finalmente, Geoffrey Barraclough, inglés ¢ professor em Cam- bridge, como Gooch, poderi dizer em 1956, a propésito do his- torismo: “Nenhum de nés, quaisquer que sejam nossos culares, pode fugie hoje a0 seu influxo envolvent tum nimero crescente de alemies, desarvo- fe nacional, continuava a volver-se contra denominar outrora “a maior revolugio nto alemio depois da Reforma”. Uma das tresses parti- Apesar de tud Acompanhando as varias correntes historiogréficas desde Orésio € Agostinho até a meta-histéria de Spengler Toynbee, ou melhor, partindo destes para aqueles, o que se vé predominar, com poucas excegies, € 0 fundo escatoldgico ou, de qualquer forma, teleolégico, Em Voltaire, por‘exemplo, é a religido ou a irrcligigo 4 Myemior®, Hans. The Philosophy of History in Our Times. Nova York, Doubleday Anchor Books, 1959. p. 29, 159, 298. 43 do Progresso 0 que ditige toda a histiria, segundo a erenga de que podemos aperfeicoar constantemente nossas condigdes terrenas sem ser necessirio esperar pelo aparecimento do Reino de Deus, que se ope & Cidade dos Homens. Em Hegel — outro exemplo entre muitos — a Filosofia mostra ao contemplar a Historia a razio imentos terren th, $e 0 processo for concebida A imagem de uma zo” hegeliana nfo é senio uma ser preservado da ameaga revolucion: € a formagio liberal ou 0 progresso m: a religiéo, porque sé mesmo um apelo a0 fem A teoria do movimento circular, visivel » Por mais que suas descrigdes parecam ter ‘um escopo definido com a realizagio do império universal de Roma. Em verdade, nio é possivel pensar sobre a histéria como proceso continuo, sob a forma de um progresso retilineo a que faltam o fete. Zurique/ Viena, Europa 1954. © mesmo tema € tratado esumidament por Scanned with CamScanner ry io judew-cristio da Provid de ser equivoca. Aredou-se dele 0 que pertencia 2 heranca jam a idéia da Criagio e a da Consumacio, para lementos pertencentes & tradigio greco-romana, mas rngo se adotou, no caso, a estrutura ciclica. O espirito moderno parece indeciso sobre se hi de pensar ‘ow A mancira pagi, de sorte que v8 o mundd com dois olhos diferentes, 0 da mente 0 nao, vinham ocupando esse pensamento. E 0 que parece cexplicar, em parte, 0 interesse por ela suscitado geralmente, e no s6 doutos, Interesse que nem sempre si ‘compreensivel, por exemplo, a repercussio desfavordvel que ela teve entre alguns marxistas da vertente hege- na, como & o caso de Emst Bloch ¢ de Jurgen Habermas. Mas ainda que se dé de barato a alegagio de que o feliz éxito dessa © de outras obras de Lowith € devida, ao menos em par campanha de publicidade que antecedeu e sucedeu ao sew langa mento, ® é inegivel que a singeleza das fOrmulas que utiliza para explicar todo um vasto conjunto de fendmenos naturalmente com- plexos, ajudou em grande parte essa acolhida, sem falar na felici- dade com que pés Virios daqueles problemas, Nem é de desprezar © apelo exercido, muitas vezes, no mundo moderno, pat na Alemanha moderna, pela nostalgia © até pel corigens, que € como © reverso obrigatério do desejo de desmas- carar © “passar a limpo” os fundamentos de nossa civilizagio. Por esse lado, alguns dos conceitos do antigo emigrado ¢ quase vitima do nazismo tém por onde comparar-se com os de Heidegger, ‘quando reabilita 0 pensamento pré-socritico, ou mesmo com os de Ludwig Klages, que quis recuperar 0 mundo pré-helénico dos pelasgos ou 0 pré-romano dos etruscos, e que, mais claramente ‘ainda do que Spengler, se situava no vestibulo do 3.° Reich. © Manznaias, Jurgen. Philosophisch ‘Meno, Suhrkamp Verlag, 1971. p. iche Profile. Francfortesobre-o- 4s Contudo, © que nos interessa aqui é 0 fato de sua obra ter podido agucar a sensibilidade dos ae toes que, desde hi tempo, pareciam querer ¥i 1a se eaeto parieularmente a das idas: ado sentido ¢e fim) da Historia a da descontinuidade. “Sto quest6es, essas, que v interessando cada vez mais os dores, no apenas na Ale- fresse suscitado independentemente, em aises, por essas questdes sugere que a Mendes aqua espe de “espéndido finado nos tempos dureos do historismo. Assi méfito de Liwith ao enfocar os mesmos problemas no tendossar sempre 0 desenvolvimento genético engenhoso © sedutor ‘Em alguns pontos, seus argumentos sio discutiveis s, como no caso da diferenca ‘pagio de tempo, com seu. curso a idéia do movis ico, e 0 judaico-ristio, que relilineo, a mesma que se encontra, secularizada embora, entre os moderns historiadores. A isso retrucou um teélogo, Hans Urs von Baltasar, que o tempo biblico e cristéo tem também, curso circular: do Criador procede 0 homem, Dele se aparta com a queda, mas a Deus ha de voltar pela expiagdo ou redei ‘que seria desenvolvida em estudo mais amplo, figura no resulta de um inquérito sobre o “sentido da Hi %, onde colaborou igualmente 0 proprio Lis ‘de Golo Mann, Rudolph Bult- ‘mann, Litt, Toynbee e Popper. lade ela diz respeito nfo a indores, que sua presenca entre do tempo reti- Independentemente Scanned with CamScanner péiginas, e abrange mas também 0 posi= jes estariam no jus- como crescem € como podem perecer as mesma fo deve perecer, porque, havendo uma r. colapso, do que s6 escapard milagrosamente pela reconversio geral as crengas de nossos antepassados. E um grande niimero das Fespostas 20s criticos de seu sistema, que cle compendia no 12° volume de sua obra, poderiam resumir-se nas palavras com que, em 1948, retrucou em programa da B. ‘98¢8 do historiador holandés Peter G ‘de nosso tempo. Creia no que the estou dizendo.” No caso de Ranke di-se exatamente 0 oposto, Uma das cons- seri por acaso que, entre 0 autores citados por Léwith pari sua tese da secularizagio da escatoloy do cariter teleolégico do pensamento * Volume 7 desta colegi ion between Peter Geyl, 1nd Arnold J. Toynbee, Pro foynbee's Book A Study of History. onder, 1948. p. 30, of London cone Bussum, Holanda, Ui 47 Voltaire, nem uma vez aparece 0 seu nome. Em realidade, a obra de Ranke nao poderia exemplificar amplamente essa tese ot, quan- lutismo do rel quem diz que jo aleance da Histéria universal”. teleol6gico for virtude, 0 defeito jografia rankiana, a que chama sua “ce gucira para o futuro”, seria o defeito dessa virtude. E forsoso, a propésito, citar ainda uma vez Meinecke, um dos intérpretes mais autorizados’ dessa historiografia, que mal se conforma, entretanto, com a idéia de que seu mestre nio admite a agdo da Providéncia na Histéria. Ele acreditava com certeza em um providencialismo, observa, mas julgava que sua presenga foge ao exame empitico, mesmo acurado, Seria, a sua, uma teleologia que se dissimula ou, para recorrer a palavras de Gerhard Mansur, outro in historiogeafia rankiana, uma teologia sem felos. Di porém, como uma teleologia inacessivel ao estudioso de Histéria pudesse afetar-lhe 0 0, na primeira palestra ou, como dizia, na pri mei ia” do curso dado no outono de 1854 em Bercht gaden, declarou Ranke expressamente que no hé como sustent de um ponto de vista filoséfico, a crenga em uma vontade geral que dirigiria 0 desenvolvimento do género humano de uma a outra cia, ou em ume captcle de expr espinal gue levis 8 iano Ml da Baviera se inido de que a Providéncia, sem prejuizo lal, fixou certo fim para a humanidade em junto, ao qual ela seria conduzida, embora nio & forga, a res- essa uma hipdtese cosmopolita, porém nio hii melos de provi Ja com argumentos tomados & Histéria. E certo que, segundo ‘SS Memwecke, Friedrich. Zur Theorie und Philosophie der Gese 130 er segs. Scanned with CamScanner dia vird em que teremos um $6 pastor sien wa até agora que 0 caminho paren 90 Smiane m3 Ao lado do problema do se iacia ese vem mpondo cada ez mai 3 "fa coninudade-Jsconnuidade, Jo na Alemanha, Uma das explicagdes pla Gpnalmente eon comnicaio eferesida em tenia Anal Ge Hstoadres Al Nor cimos dex sos, dive “0 sentiment de Th uamtomaram cs ‘em st povo som i Te reat nde eee nos consis uma ponte entre 1933 € tempo como se sofréssemos entio uma queda, como se 0 no devéssemos ce fim da Hist6ria, outra \dores de varios im encontra solo ‘tio pode- © 0 pide tipo de ausén- spensadas restau acabariam por tirar sua autonomia & ciéncia da aguele que se ent 50 das ages ¢ reagdes: germanomania, ‘como nas concepcdes de Comte ¢ de Lampr Ses tendem a universalizar-se, segundo Heinmy ‘a0 grupo francés dos Annales. , Leopold von. Ober die Munique/Viena, R. Oldenboure Verlag, Wo. no texio manuserito que pertenceu jamais completado (eimPeL, Hermann, Der Mensch in seiner Geee Vandenhoeck & Ruprecht, 1957, p. 200 et segs, i. 2. ed., Gottingen, 49 Nao € provavelmente exagerada a idéia de que o sentimento, inconsciente ou cultivado,,de que hi uma fratura na vida alemi do periodo que vai de 1933 a 1945, ajudasse a desvalorizar 0 principio da contiauidade histérica. Mesmo no tempo do 3.° Reich 44 esse sentimento parece ter sido singularmente agudo entre os que ‘emigraram — 0 que nio pode, alis, surpreender. Em obra bem conhecida de Horkheimer e Adorno, que se iu, primeira- mente, em 1944, nos Estados Unidos, encon com frequén- cia, expresses tais como “esquecimento racionalizado”, “adoecer da experigncia’ 20 passado”, “falta de sentido em nossos dias, da lembranga consciente e da meméria involuntéria”. Ou pas- sagens como: duos reduzem-se a meras seqléncias de coisas presentes , ou melhor, cujos rastros eles detestam jonais, supérflucs e literalmente ultrapassados no juizo ‘dos homens." E mais de vinte anos depois, a0 falar das o! sobre vagdes de Heimpel Gostaria até, como se mostrou, de ver erigida uma ponte sobre © abismo do 3.9 Reich, que fosse capaz de abolir a descontinuidade na histéria alema. Pouco mais tarde, o problema é retomado na velh siosa Historische Zei a presenga do senso da vel, que & preciso superar, mas como aquisigio necesséria d grafia, Nesse arti ige sobre a descontinuidade”. ** Em tra- balhos posteriores volta 0 autor a0 mesmo tema, que também fora abordado em 1958 por Wittram em livro sobre o interesse na His- IMER, Max € Aponxo, Theodor W. Di Francforte-sobreo-Meno, 8, Fischer Verlag, 1969. p- 5 et seas: Th. W. Eingrife, Franet +3 sobreo-Meno, Subrkamp Verls POR Scanned with CamScanner sb U se falava no abalo sofrido pela crenga em um , em sua continuidade ¢ em sua ¢ terpretar completamente enquanto wis ¢ sucessos ja ultra~ ficarmos presos as coe passados. * “A continuidade de que preender os aconteciment Pegettids num problema ontlgico muito discuido" ‘Mas Wagner acredita, por outro lado, que 0 colapso de 1945, inico e sem termo de comparagio possivel com qualquer outro desastre suportado pela Alemanha a0 longo de sua larse a uma vigorosa ide que, apesar de ppairaria acima desse mento da sociedade industrial continuou a efetuar-se, $6 na Repiiblica Federal Alemi, sem 6 promovida em toda parte como se no houvesse nenhuma introduzida pela catistrofe de 1945 36 signficou, a0 cabo, um abso- Tuto ponto final se encarada do prisma histérico da politica na~ cional. © estudioso da histri jidades que nada tm a ver com a hd de ter presente, ainda uma vez, esta dtvida: 0 préprio tri da continuidade ndo estaria posto, no fundo, em questio, desde éenico, que tudo envolve, nos colocou diante dos olhos a perspectiva do suicidio da humanidade? Quando se reporta ao pronunciamento de Schieder, é ainda com h F, Wagner admite a idgia de que a descontin “categoria geral do pensamento humano de dimensio do “tempo" continuidade? A seu ver, a tensio incessante entre os dois Oth, Theodor. Gace a Winch. Muiqu/Vies, R. Oldenbourg, 1968. p. 11 et pas. spears st um dado que no se pode ignorar do ponto de vista do conhecimento, Braudel, quando fala naquele “sacrossanto principio da ci dade”, que prevalece entre historiadores ortod ‘um ajuste de contas xorbitar este, ist6rica, toda feita cada uma dessas rupturas, tudo ¢ de nada servem mais nossos utensilios € nossos pens: fontem e anteontem, a realidade dessas solugs deve pertencer & ‘que, também fora da Europa contine centre estudiosos de Histéria ¢ Filosofia da Hist6ria, pode apontar- para o estudo em: que John Ran¢ field acerea das descontinui- Bes, onde se mostra como essas rupturas tomnam © registro dos tragos microscpicos da mudanga Essestragos “microscépicos” encerram uma referéncia a Namier, de cujas obras Sir Herbert constantemente discordou, mas, S0 Wrenn, Fritz, Der Hi Friburgo/ Mu. nique, Veriag Karl Alb 1969. p. 30 SURanoaLt Jry John Herman. Nature and Historical Experience, Nova York, Columbia University Press, 1958. . 326 f= Burrearco Sic Vasher. The Dsontiniesberween the Historica Ge ‘erations. Cambridge, At the University Press, 1972. Scanned with CamScanner ja agora encontra meios de enaltecé-las, Nao que o seduzam a historia midda, as interminiveis contagens de eleitores ou a at nacional-socialista, para encontrar precisGes ccuriosas sobre o problema, em comunicagio lida por Erich Bran- © que ele proprio © inovam, desmen- da transposigio enga- da Hist6ria, de uma nogdo que s6 tem lugar nna Biologia e, mais precisamente, na ontogénese. A tese de Brandenbourg, parece, aos apologistas do 3. aqueles que abertamente 0 hostilizaram, sugere que o campo de Preocupasies dos que vislumbram 0 valor do principio da des- dade para a boa iateligéncia do passado poderia descor- também independenteme iéncia da emigragio. A énfase que nela se dé aos individuos excepcionais, aos heréis, 403 grandes inovadores e criadores, aproxima-o menos dos pensa- dores da escola de Francforte, com Adomo e Horkheimer, do que, talvez, de um Treitschke, onde se refere aos homens que fazem a Histéria. De sorte que seria vio querer ir buscar uma nica origem ¢ uma s6 explicago para tendéncias que se vém firmando IF que, se nio pertence, segundo SHortn, Walter. Geschichschreibung und Weltanschauung. p. $15. eich, também no figura entre * 53 um pouco e Parte. E neste ponto no € possivel esquecer a contribuigdo sing Gerschenkron, no sent acontecimentos, mudanca endégena ¢ exégen: em alguns casos sejam mais particularmente aplicéveis & hist6ria econsmica, a especialidade do mestre de Harvard. & B importante notar que, para o historiador ¢ economista russo- lade como a descontinuidade deveriam considerar-se jados pelos estudiosos do passado, no alguma coisa de inerente & matéria histérica e invariavelmente contida nela, © recurso a qualquer desses instrumentos hi de pro- ceder, sem divida, de uma decisio arbitréria, da arbitrariedade peculiar a0 processo de cogni¢do, mas, apesar disso, 0 enfoque do desenvolvimento hist6rico como seqiiéncia de mudancas iateli- ‘aiveis nos padrdes de crescimento, que se fazem modo pai ajudaré a arrumar os dados empiricos de tal ma- tualmente possivel aleangar resultados signi Um exame pormenorizado das conclusées a que chega Gers- cchenkroa nesse particular poderia estender esta digressio para muito além do tema do presente trabalho. Entrctanto, 0 estudo que aqui se propde. O certo é que Ranke vislumbrou esse problema ¢ soube caracterizé- -lo de certo modo em’ uma férmula que tanto se celebrizou como a do wie es eigentlich gewesen, essa frase que, na opiniio ainda de Gerschenkron, saiu : © Genscnenxnow, Alexander. “On the Concept of Continuity in History.” ity in History and Other Escays, Cambridge, Mass, The Belknap Press of Harvard University Press, 1968. p. 11 ¢ 39. Scanned with CamScanner “a pena de win grande Norio depois acabou perdendo epelida ad nauseam por um sem-némero a0 tratar das épocas da histéria moderna nas suas palestras de Berchtesgaden que, tendo mencionado a opiniio corrente de que, ‘em Hist6ria, cada época s6 gamba mais alto sentido na medida “em que aparesa como etapa de transigio para a seguinte, ele exclama com a seguranga de quem manifesta uma convicgio bem : “Eu afirmo, porém, que cada época ¢ imediata a Deus”. € na argumentagSo que pretende explié-as, assim ria adquire notivel idéia da continuidade implicita nas concepsdes ‘ganolégicas” de que falou Brandenbourg, nio pretende apresen- contudo, de forma dogmdtica ¢ exclusivista. Ao dizer fexpressamente que a atengio do historiador deve concentrar-se anies de tudo sobre como pensaram ¢ viveram os homens nest ou naquela época, jg que cada época tem em si mesma sua justi cagdo e seu valor, nio pretende Ranke afirmar que se devam des- conhecer as diferencas entre as virias épocas ¢ a sucessio delas. tas consideragdes, porém, vio para um segundo ¢ um terceiro plano. De qualquer modo, nio hi muito lugar em seu pensamento para a idéia de progresso, ou antes para a religido do progresso, tal como era professada em seu século, embora tivesse por cert 4 idéia de um progresso limitado principalmente ao campo ma em seu curso de 1854, “mas [se faz] antes ao modo das torrentes Genscuennxow, Alexander. Op. cit. p. 126. que, por conta prépria, vio abrindo seu caminho". Como quem dissesse que nfo se pode bem prever ou prevenir esse caminho, © pensamento de que cada tempo vale por si mesmo e de smporiineos € seus habi io revides. rmentais adquiridos, que por exemplo, que tem a superstigio do progresso sredavel, nao se cansard de denunciar 0 pr de perfeita isengio do pesquisador que possa inf do progresso, O descompasso entre as duas posigdes faz-se, po- rém, flagrante, quando a0 - ‘opde Lamprecht um nde aparece mais de transigao que ndo se interrompe. A consideragio de cada época segundo o que ela por si valha, rno que tenha de viva presenga, no no que protrogue ou prometa, ‘cede o primeiro lugar, que the dava Ranke, ao de um desenvolver- ferrupto, e entio temos verdadeiramente a apoteose da con- tinuidade. Por outro lado, fica bem clara aqui a intima conexio ddas duas mais célebres férmulas rankianas, que se apresentam agora como duas faces de um s6 © pensamento, Quem queria mostrar 0 passado sem sucum renas, aspirava natti- ralmente a contempli-to sub suma, a velo como Deus 0 deveria ver: Scanned with CamScanner 10 ponto de vista de Deus, todas as gerages io te iseSar nus qr sin tambén We htoraor™ averia com certeza boa dose de exagero so proc que Rake ani com nex gums qUestes que hoje ocupam mais vivamente os historiadores, © que por essa forma cle assumisse o papel de precursor. Mas é inegivel que uma cons~ tante meditagio sobre problemas de seu oficio, levando-o a no se conformar trangiilamente com idéias entio dominantes, abriu- -lhe os olhos para a possibilidade de solugSes que estariam mais fora do alcance de outros estudiosos. Com isso, com seu exemplo, As vezes com sugesties suas, teré contribuido para que entre seus herdeiros e sucessores permanccesse a mesma capacidade de medi- tagio © de insatisfagio. Seria explicivel, assim, 0 fato de existit de atual em sua inatualidade. Nao chegou, um exemplo, a elaborar uma teoria precisa das geragies histéricas, mas, a parti de sementes por ele lancadas, um seu dis- Jo, Ottokar Lorenz, retomou a matéria que, pris sobre as geracées na Histéria da Arte. Seria possivel ir mais longe se pudéssemos sitar Ranke entre os antecipadores da chamada Hisiéria Estrutural, que vem ocupando alguns autores na Alemanha, € no s6 na Alemanha. J4 em 1954, procurou Otto Brunner mostrar a diferenca entre Historia Social ¢ Hist dizer da primeira que, em contraste com a segunda, vé ant tudo a arguitetura interna, a “estrutura” das sociedades, embora entenda que nio nos é dado conhecer as estruturas re duradouras independentemente do exame dos acontecimentos politicos. Brunner no menciona o nome de Ranke no estudo que ¢s- ccreveu sobre o problema da Hist6ria Social européia, mas, repor- riografia rankiana dar muito menor énfase A agio individualidades isoladas do que as vastas estruturas impessoais ue com estas se identificam, e de que o Estado é exemplo notivel, Problem ciner Europiische Sozialgeschichte.” Ta: lgeschichte, “Gittingen, Vandenhocck & Ruprecht, 1956. p. 9 87 mas ndo tnico. A dificuldade maior que neste caso se apresenta, ‘muito maior ainda do que a proporcionada pelos problemas rela’ cionados com a continuidade-descontinuidade, consiste no fato de ia conceituagio de estrutura variar quase tanto quanto as #5 OU até quanto aos proprios autores que costumam re~ correr aos seus préstimos. A essa nogio no eram alheios, na lemantia, os estudos de Hist toriadores.alemiies de hoje parece andar & procura de caminhos que os apartam muito daqueles que Ihes poderia abrir Dilthey, pois 0 que freqientem querem no & uma dissociagio, & uma conciiagio ou um contra~ onto do tipico e do ém disso, pouco ha de comum entre a categoria diltheyana, construida em fins do século passado, © 05 modernos estruturalismos dos linglistas, dos econo dos antropélogos. Ou mesmo entre as definigdes de em Nadel, Parsons, Radcliffe-Browa * ou Lé citar uns poucos exemplos. Quase sempre resulta elaboradas numa perspectiva estitica, quando m ‘io se integram no tempo senio com dificuld:

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