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‘PA racionalizagio da produgio juridica Jaeques Chevallier Professor na Universidade de Paris W a ge ACFACIONANGAAD fUlridied sobro n qual foi construldo ° ee do Direito nas democracias liborais entrou ee em crise; nfio somente o diroito pordou certos atri- A racionalizagéo da pro- | putas que 0 colocavam na ordem do racional, mas dusio juridica coloca-se | também a ; enquanto dispositivo de regulagiio social, deixou de sigan are ser evidente; a regra de direito 6 cada vez mais con- exigéncia primordial ¢ ele- | siderada como uma Uma . vezes, a cates vada, por vezes, 80" | ‘concepgio nova da racionalidade, na qual o direito ria de prioridade governa: | nao 6 mais do que dinlinstumerite a0lservi¢o d mental: a reorganizac4o {sete cee Ire NERA one) do dispositivo normativo existente e a melhoria das condigées de elaboragao dos textos sio considera- das, Por todo o lado, como imperativos, cuja justiga e necessidade sio io inques- ce eda de rs “Longe de caminhar no sentido da restauragio da racionalidade juridica tradi- nao sb porque demonstra que@iiGHi® actualmente como uma ‘ga instrumental do direito, de que ela a conecretizagao, Com clit, 4 pox Tradugio de Teresa Salis Gomes 1 do texto La » Prof, Jacques Chevalli 3, da responsabilidade do ae inh Pai, Publisud, 1991. O presente texto ¢ uma versio r a rationalisation de la production juridique, Digitalizado com CamScanner Ne 3.danoiro “Margo 92 tula: GED inais vastos que a 3p ED EATS 1°» 2 ons len no overt ser apreciada isoladamente, mas em {unio da sua insercio em esequéncias de eamunnas nas ouraseestZoinadas. entre sh v7. acetone da produ. “ho jumiea inserevose nx movimento mais geval de racionalizacao das pot a0 juridica inscreve: dlinag reas, ngo sendo mais do que a sua tradugao ¢ concretizagao. O esforgo Zo» de que & apenas um elemen cas pub de racionalizagio aplica-se nao tanto as regras pontuals de direito mas antes 3s politicas globais nas quais se subsuinem. Esta racionalizagio traduz-se pela promogo urna plc abordagern: uma abor- dagem @HERME. assente n piggs novos; uma NTI i i ; final- abordagem Rams vnente, ura @5RAgEReavaliaggo, caracterizada pela introdusio de I 4 ABORDAGEM METODICA A racionalizago dos processos de produgio legislativa passa, em primeiro lugar, pela vontade "celica pated dca a epee mode , apoiado por . A elaborasio dos textos v2iGE SCE PE AAONLEMEAD ja importancia vai crescendo, A adopgio dum texto é precedida por um trabalho de@@iipEAOMERaaD efectuado com 0 auxilio de dispositivos cada vez. mais aperfeigoados (inquéri- tos, estatisticas, ficheiros), bem como de i i y (@®BxVee conduzem através da elaboragio de modelos, EBD Todos estes mecanismos de @aRiMaRINRERistD , directamente ins- Pirados nos (eM, influem sobre o proprio con tetido da norma juridica, ao reduzir proporcionalmente a margem de escolha Ge quences, Foe ta racionalidade jridiza tende progeessvaments + apagar-se perante a racionalidade técnica cujos imperativos as regras juridi- cas retranscrevem docilmente. Digitalizado com CamScanner A racionalizagio da produgio juridica 1.° O decisor beneticia primei a primeiro dos progressos considerdvei 1 nsiderdveis registados nos WOM ce rrr) — trata s, ligados a0 desenvolvimento espec- tacular das tecnologias da informa¢i0, Qi rere 2) O aperfeigoamento impariv pa ) i : mparivel da informagio econdmica ¢ social desde a segunda grande guerra nfo deixa evidentemente de ter efeito sobre a produ- gio normativa (por exemplo, o Parlamento esté ligado, em Franga, a 46 bases cc dados): oferece a possibilidade ao decisor de melhor conhecer os elemen- ‘normas juridicas mais pertinentes ¢ melhor adaptadas. ()ra, esta informagio_ Geigy (construcao -cindicadores sociais» e de estatisticas sociais)s por ows lado, e acima de tudo sini Eisenia Oil ats nar Uanidaereo- b) O desenvolvimento mais recente dosQAaOSASMAACSIRLAIEDS vera 1.0. efeito ainda mais directo sobre a producio juridica a0 @SiSMianaOSO pana (gragas a uma gestéo integrada) mas 0 permirem apenas um melhor 2° As novas tecnologias da informagio ni acesso 4 informagio; proporcionam igualmente a possibilidade de preparar a decisio «cientificamente». O desenvolvimento dos sistemas de auxilio & deci- séo tende, desta forma, a modificar 0 proprio sentido da produgio norma- tiva, reduzindo a parte da subjectividade que Ihe éinerente ¢ levando a norma jurfdica a tornar-se no produto dum cileulo lagico, Digitalizado com CamScanner Legislacio N23 Janeiro “Marco 92 a) Os sistemas de auxilio 4 decisio foram construidos, nio para melhorar ve de decisiio, mas para aumentar a per. eles incidem nos mecanismos de pro- estas politicas serio transcritas sob a especificamente os processos juridice tinéncia das politicas piblicas: comude dugio do direito, na medida em que forma de normas juridicas. Surgindo Faborados durante a segunda guerra mundial, a andlise de atom situa-se num planto mais elevado de complexidade. Tendo como fina- lidade auxiliar 0 decisor a escolher entre varias alternativas que se lhe colo- cam, é preciso sucessivamente determinar os objectivos a prosseguir, identi- monetarios € outros, de cada ficar as estratégias possiveis, avaliar 08 Cust, uma delas, os, enfim pletada pela incluso das fases da execusio ¢ do CmEUSTE es com controlo, a analise de istema servird de base aos novos processos de raciona- lizagao das escolhas puiblicas jntroduzidos, nos anos sessenta, na maior parte dos paises ocidentais. Foi nos Estados Unidos que 0 movimento arrancou, so. i968, com a generalizagio, sob a designasio de PPBS (Planning. ‘Programming Budgeting Sytem), dos métodos aplicados pelo Sr. Mac Namara no Departamento da Defesa desde 1961. Alcanga rapidamente © Canadé, 2 Alemanha Federal, a Gré-Bretanha... bem como a Franga, em Janeiro de 1968, sob 2 designasio de «Racionalizagio das escolhas orgamentais» (REO). ‘Apesar de diferengas nio menospreziveis, ‘as, explictando os obiectivos, comparando sistematicamente todos os mics) dispon ann ia Esta tarefa passa poi dos processos € dos critérios das escolhas. O balango destes processos ser com certeza bastante decepe va sequéncia dos métodos de invest gagao operacional ¢ is necessariamente pela reavaliagio ionante: vitimas de os ter- a ean ; uma ambigZo excessiva, nio conseguirio modificar em profundida ionali- mos do debate sobre as escolhas colectivas.Contudo, 0 objectivo de ra zagio das polticas pablicas persiste através do tema da avaliasio ¢ 08 sistemas PN pons de auxilio 4 decisio tiveram durante a década de 70 um novo aes van ied a forma dos sistemas-periciais: ao mobilizar os recursos igencia artificial para melhorar a qualidade das decisdes, o sistema- Digitalizado com CamScanner A racionalizagio da produgio juridica -percial jd nfo permite apenas a quem decide dominar melhor um problema através do recurso a modelos; a partir da «base de conhecimentos» ¢ do «motor de inferéncia» de que se encontra dotado, é capaz de analisar uma situagio, de operar dedugdes ldgicas de propor solugdes a quem decide. Funcionando de modo euténoma, embora reproduzindo os mecanismos do raciocinio humano, encontra-se apto a dialogar com o decisor, impondo-lhe um maior rigor. }) Estes mecanismos de auxilio 4 decisio foram ainda mais recentemente objecto duma tradugao mais especificamente juridica sob a forma dos sistemas- -periciais juridicos, Sistema de auxilio & decisio que permite obter, quer um conjunto de informagées, quer uma resposta a um problema consi- derado na perspectiva do seu enquadramento juridico ou da sua solucio, o sistema-pericial juridico pode igualmente ser utilizado para a elabora- cdo dos préprios textos, servindo de auxilio 4 decisio jurfdica. Tanto mais que se tornou possivel conceber sistemas-periciais «discricionérios», que preservam a parte de subjectividade do decisor, deixando-lhe a responsabi- lidade de certas escolhas que requerem uma apreciago humana competente. ‘Assim, a elaboragio dos textos torna-se mais rigorosa, na medida em que la a Jogica interna e a coeréncia formal do sistema o sistera-pericial control: screver a margem de livre apreciagio de quem de normas, apesar de circun decide. Esta vontade de racionalizacéo técnica, gras do calculo econdmico ¢ da utilizagio d formagio, depara todavia com obstdculos. através de injecgio maciga das re- las novas tecnologias da in- (@ERMANBSLAD Dai que a racionalizagio dos processos de produgio legis- lativa seré também procurada através da adopgio de uma abordagem incré- mentale. Digitalizado com CamScanner Legislacio N noire “Margo 92 Hd ABORDAGEM INCREMENTAL 1.° O objectivo de racionalizagio nao se traduz unicamente Pelo aperfeig, o1 mento dos instrumentos técnicos 4 disposi¢o de quem decide, mas também pela colocagio duma nova ténica no critério da exequibilidade politica Com slo @ieffetcia do diteito depend igvalmente de ceras eondicsee de wags (era sicio-polithe nomeadamente do grav de aceitabilidade © de recepsiy, . Surge assim uma nova concepgio de efickcia juridics baseadsa, jf nfo no poder intrinseco da norma, mas sobre a procura de adess, ddos destinatérios: ao romper com o tipo de comando unilateral, 20 aband,. nar o discurso da «ordem legal» que nao tolerava nenhuma discussio com o, sujeitos da norma, trata-se, (GERNGSA AEP CACAO OSTSOHECLONEO IONE G@IERED A forca da regra de direito j& no provém de ela se enunciar como uma ordem obrigatéria perante a qual os administrados se devem conformar; depende do consenso que for capaz de recolher. QSIFSSiSt¢HaSnaSeezeaee ‘quebradas por imposisSes, mas reduzidas pela persuasto: a concertac3> a A racionalizagio da produgio juridica passard pois por uma abordagem de tipo ncrénentale, @{ORARIOSE POP AICANGS? (POR tentati vas SUCESINS : GD § sta abordagem é classica em paises como a Suica onde o «prine{pio de conc ‘Ordancia» significa «uma preferéncia sistemética pelo compromisso», “uma procura quase obsessiva do consenso»; encontra-se igualmente em pat- ses como a Franga, onde a existéncia de fortes clivagens sociais ¢ politicas tor- nava aparentemente iluséria Samii tentativa de consenso — @GSHCeeag TMNT. 1 3 recente flee do jogo politico eva a que se coloque 3 Ei Stes eeaa GED F assim que a circu lar Rocard insiste na neces: idade, no que respeita dei- Digitalizado com CamScanner as leis, de xando ao Parlamento A racionalizagao da produgho juridica se devendo descurar para o efeito «nenhum proceso de concertacao», «nenhuma via de compromisso aceitavel». 2° Esta abordagem inerémentale, que exprime uma vontade de racionaliza gio social da producao juridica, vai ser wranscrita sob varias formas ¢ a niveis diferentes do processo de produgio das normas, 2) Traduz-se primeiro pelo desenvolvimento de (EE see mig der com representantes do meio social, quer com uma amostra real da popula¢io, Qi a2 ‘ede reduzir as diticuldacies que podem ocorrer na tase da execugao. bs pr vicas demonstram, nio s6 que (CcSaee UeSeieis Sensi sec }) A intervengio do meio social na elaboracao do direito pode ser mais directa, Passa nesse caso por processos de consulta, que dio aos interessados a possibi lidade de influir sobre o contetido das normas. Esses processos recorrerdo: — Por um lado, ao conjunto dos cidadaos. O proceso de inguérito piiblico tem uma larga aplicago nos paises anglo-sax6es ¢ dé origem 4 abertura dum ver- dadeiro debate, rodeado de formas quase jurisdicionais; noutros paises, for- mula tende a desenvolver-se, nomeadamente em todos os casos onde a deci- sio tem um alcance limitado, por efeitos individuais e por os destinatarios identificados. Paralelamente, as técnicas de consulta directa 4 populagéo pela via do referendo fazem com que os cidadios participem directamente na pro- dugdo das normas juridicas. — Por outro lado, aos porta-vozes representativos dos grupos sociais, Nao se poderd doravante adoptar nenhuma regra de direito sem que os diversos inte- esses sociais sejam informal ou formalmente associados & sua elaboragio. Tal cta ¢ oficiosa em matéria legislativa; em contra- nalizado de contactos nos dois sentidos intervengo é apenas indire partida, um sistema institucio estabeleceu-se com as administragdes, grupos sociais. Em todos os paises, os proc generalizar-se, originando estruturas permanentes, int 40 e cujo parecer é solicitado antes de qualquer decisio. nistragdo consultiva» reduz a sua eficécia, tais processos sio secundados por que mantém relagdes regulares com os ssos consultivos tenderam a radas na administra- Se o peso desta «admi- Digitalizado com CamScanner Iegislagaio N¢3 Janeiro “Margo 92 mecanismos mais malelveis ¢ mas informais de econcertagion, que any be Nsfor. » produto duma et boragio conjunta ¢ fruto dum compromisso entre grupos sociais Fatah mam as decisdes administrativas em decisées «negociadass, — Por outro lado, finalmente, aos peritos sociats, cujos conhecimentos sio mobi. lizados para conceber ¢ formalizar a norma juridica. Com efeito, constases que o Estado tende cada vez mais, quando confrontado com «situagées pro. blemiticas», em relagio as quais o contetido da legislagao ou da regulamenta. sao a produzir nao é evidente, a recorrer a «peritos», a «especialistas», para esclarecer o sentido das decisées a tomar: a produg&o da norma juridica resguarda-se entao por tras do saber, que é suposto garantir a sua legitimidade € a sua justeza; e a Aracionalizag Notas da Tradutora xtt Incrémentale — optow-se po encontrarmos em portugués termo perfeitamente cor ada pelo autor, dado nao Como o autor explica a pags. 14 segs. do texto, a ab de racionalizacio social da produsio juridica, jentale exprime a vontade x2 Adbocratie — mantivemos a palavra utilizada no texto francés, a qual deveri ser enten- dida como uma jungio resultante da locugio latina ad hoc com a palavra grega ratia. gratia |AMSELEK, P., L’éoolution générale de la téchnique juridique dans les socités occidentales, «Revue du droit public» (2), 1982, pp 279 e segs. CARBONNIER, J., Flexible droit, Paris, L.G-DJ., 1971. CHEVALLIER, J., Les enjeux de la déréglementation, «Revue du droit public» 1987, pp 281 e segs. CHEVALLIER, J., Lat de droit, «Revue du droit public», 1988, pp 313 € segs. MORAND, C. A. (ed), L’état propulsif, Paris, Publisud, 1991. Digitalizado com CamScanner

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