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Ana Carolina Da Silva Andrade - Profhistoria Uerj
Ana Carolina Da Silva Andrade - Profhistoria Uerj
São Gonçalo
2021
Ana Carolina da Silva Andrade
São Gonçalo
2021
CATALOGAÇÃO NA FONTE
UERJ/REDE SIRIUS/CEHD
_________________________________ ___________________
Assinatura Data
Ana Carolina da Silva Andrade
Banca Examinadora:
_____________________________________________
Profª. Dra. Helena Maria Marques Araújo
Faculdade de Formação de Professores – UERJ
_____________________________________________
Prof. Dr. Daniel Pinha Silva
Faculdade de Formação de Professores – UERJ
_____________________________________________
Profª. Dra. Claudia Miranda
Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro
São Gonçalo
2021
DEDICATÓRIA
Dedico a Helena, minha menina que todos os dias me ensina algo diferente.
AGRADECIMENTOS
ANDRADE, Ana Carolina da Silva. A invisibilidade das mulheres negras nos livros
didáticos de História: desafios para uma pedagogia decolonial. 2021. 124 f.
Dissertação (Mestrado Profissional em Rede Nacional PROFHISTORIA) –
Faculdade de Formação de Professores, Universidade do Estado do Rio de Janeiro,
São Gonçalo, 2021.
This research aims to prove and map the invisibility of black women in
history textbooks through the quali-quanti (qualitative-quantitative) analysis of
textbooks from the Oficina de História collection by authors Flávio de Campos, Julio
Pimentel and Regina Claro. This is intended for the three grades of high school and
was and still is adopted in the state school system of Rio de Janeiro from 2018 to
2021. The research had Decolonial Thought as a theoretical framework to, from this
epistemology, discuss how and why black women are made invisible and silenced in
teaching materials. We prove that even 18 years after the enactment of Law
10.639/03 - which makes the study of the History of Africa and Afro-Brazilian culture
mandatory -, the history of black women is still silenced, mainly to the detriment of
the history of white women, but also, from the narratives of black men, contributing
not only to racial inequality, but also to gender inequality. As a proposal to contribute
to an anti-racist, plural, decolonial and critical intercultural education, we produced a
Pedagogical Notebook - which aims to help teachers show the protagonism of black
women, mostly silenced in didactic works, in the History narrated in the classroom
and in society in general.
INTRODUÇÃO .................................................................................... 9
CONCLUSÃO ..................................................................................... 90
REFERÊNCIAS ................................................................................... 95
INTRODUÇÃO
A pesquisa tem como objeto a invisibilidade das mulheres negras nos livros
didáticos da coleção Oficina de História 1 dos autores Flavio de Campos, Julio
Pimentel Pinto e Regina Claro. A coleção foi uma das opções do PNLD (Plano
Nacional do Livro e do Material Didático) para o Ensino Médio da rede estadual do
Rio de Janeiro para ser utilizada do ano de 2018 ao ano de 2021 2.
Toda essa temática me envolve profissionalmente, mas também
pessoalmente, pois sou filha de mãe branca e pai negro, fui criada sem ouvir
nenhuma referência positiva à minha cor. Pelo contrário, cresci ouvindo frases do
tipo “a pele é escura, mas os traços do rosto são finos como os da família da mãe”
ou “esse cabelo ruim herdou da família do pai” – o que sem dúvida me fez começar
a alisar os cabelos na primeira oportunidade. Na família da minha mãe via mulheres
chegando ao ensino superior, na família do meu pai via as mulheres se dedicando
aos trabalhos domésticos. Relembrei também que a professora que me inspirou a
escolher minha profissão foi uma professora negra e que ela era a única mulher
negra do meu convívio que não ocupava uma função considerada socialmente
desqualificada. Lembro-me de como ela era linda, como sua voz era forte e como
era afetuosa com todos os alunos. Por curiosidade não era professora de História e
sim, de Língua Portuguesa e Literatura.
Sempre fui aluna de escola pública, nutria um grande respeito e admiração
por todos os meus professores, mas nunca tive o objetivo, muito menos o sonho de
ser professora, costumo dizer que a vida me levou até o magistério. Foi no ano do
vestibular que comecei a cogitar a possibilidade de trabalhar com Educação, em
2006 iniciei a licenciatura em História na UERJ-FFP (Faculdade de Formação de
Professores) e foi lá que a vontade de ser professora se tornou algo concreto em
minha vida. Ainda durante a graduação dei aula em pré-vestibulares comunitários,
no fim da graduação comecei a trabalhar em uma escola privada de Niterói, cidade
da região metropolitana do estado do Rio de Janeiro, que atendia à classe média
1
CAMPOS, Flavio de; PINTO, Julio Pimentel; CLARO, Regina. Oficina de História. São Paulo: Leya,
2. ed., 2016.
2
Cada ciclo do PNLD tem a duração de três anos, a coleção didática analisada foi utilizada por quatro
anos devido a pandemia do vírus Covid-19.
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baixa do bairro, era uma escola com pouca estrutura e pouco apoio da equipe
diretiva, eu ia para receber meu salário e os alunos iam para receber o diploma. Em
2014, já com a graduação concluída, passei no concurso da SEEDUC/RJ, em 2015
fui convocada e passei a lecionar no CIEP 309 Zuzu Angel, que fica situado em São
Gonçalo, cidade da região metropolitana do Rio de Janeiro. O CIEP Zuzu Angel
conta com muitos dos problemas da rede estadual do Rio de Janeiro, mas é uma
escola com uma estrutura razoável, uma equipe diretiva e pedagógica aberta à
construção coletiva. Foi no CIEP que eu realmente me senti professora, foi lá que
que eu passei a ser uma educadora que construía o conhecimento junto dos seus
alunos e não apenas repassava conteúdo.
O CIEP Zuzu Angel fica em uma área carente de São Gonçalo, a escola é
rodeada por comunidades. Trabalho com meninas e meninos de todas as cores,
mas na grande maioria negros, muitos em situação de vulnerabilidade, esses alunos
tem sua autoestima abalada por todas as dificuldades que passam, a escola deveria
ser o local onde essa autoestima é trabalhada e elevada, mas na correria do dia a
dia, na necessidade de ter muitas turmas para complementar o salário
extremamente defasado e na cobrança de dar conta do currículo, nós professores
acabamos focando mais no conteúdo e menos a construção da identidade dos
nossos alunos.
A proposta da pesquisa surgiu a partir da observação de que a participação
da mulher negra nos processos históricos é silenciada nos livros didáticos ou
aparece apenas em boxes deslocados dos conteúdos dos capítulos. É de amplo
conhecimento que ao longo da história as mulheres foram impedidas de ter uma
participação ativa na sociedade, mas quando alguma mulher transgredia o seu
tempo e conquistava algum avanço, ela era e ainda é invisibilizada na maioria das
vezes. Além disso, pode ser constatada a falta de representatividade dos povos
negros enquanto produtores de histórias e culturas nos currículos escolares. Isto
ainda não está superado nos livros didáticos, apesar de existirem avanços
significativos, essa lacuna interfere negativamente, sobremaneira, na constituição de
memórias para o empoderamento identitário, especialmente por parte dos alunos
afrodescendentes, logo comprometendo a construção de suas identidades,
principalmente étnico-raciais.
Negros e negras, quando representados na bibliografia didática, estão quase
sempre expostos sob o olhar eurocêntrico, trazendo as memórias e narrativas
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ARRAES, Jarid. As Lendas de Dandara. 2015, uma obra independente de Jarid Arraes.
aslendasdedandara.com.br
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religiões que sofreram mais ataques estão: Candomblé (11), religiões de matrizes
africanas (14), Umbanda (8), Espírita (8) e não informada (21).
Essas tensões e atitudes de intolerância já mostram como é grande a
necessidade de uma educação antirracista, que sirva como instrumento para
desconstruir estereótipos e preconceitos. Apesar dos problemas enfrentados, o
trabalho com os estudantes seguiu o rumo desejado e tivemos nossa mulher negra
como protagonista da História.
A partir desse momento de inquietude trazido pela feira cultural realizada no
Ciep 309 Zuzu Angel passei a ver o livro didático com outros olhos, passei a
relembrar minha trajetória como estudante onde em nenhum momento me foi
apresentada uma mulher negra como mulher histórica. Repensei minha prática
pedagógica, onde só me dei conta de que também silenciava as mulheres negras
quando fui colocada à frente do desafio de escolher uma.
Sendo assim, o foco principal da pesquisa recai sobre a análise do livro
didático da última coleção do PNLD que foi escolhido pelos professores do Ciep 309
Zuzu Angel para ser usado pelas turmas dos três anos do Ensino Médio. A coleção
utilizada para a análise será a Oficina de História dos autores Flavio de Campos,
Julio Pimentel e Regina Claro, como já afirmamos anteriormente.
A pesquisa se dará a fim de fazer uma investigação a respeito da
invisibilidade da mulher negra nos materiais didáticos citados, as obras analisadas
serão as reservadas aos três anos do Ensino Médio do ano de 2018 ao ano de 2021
do Ciep Zuzu Angel. A escolha do livro didático utilizado nas escolas estaduais é
feita pelos docentes de cada disciplina a partir da lista de livros aprovados pelo
PNLD disponibilizada para a escola. Devo destacar que não participei dessa
escolha, pois ela foi feita no ano de 2017, ano em que eu estava de licença
maternidade. É fundamental ressaltar que o livro didático é carregado de
significados políticos e sociais e os professores imprimem suas opiniões no
momento da escolha do material que será utilizado em sua instituição de ensino.
Para ter um material que colabore para uma educação de qualidade, o professor
deve ser crítico no momento da escolha, deve se preocupar como o livro didático
trata os diferentes sujeitos da História.
O espaço escolar é um espaço rico em diversidade, onde diferentes sujeitos
se encontram e compartilham suas experiências de vida, porém a prática educativa,
assim como os materiais didáticos tendem a igualar esses sujeitos sem respeitar as
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suas diferenças. Um livro didático que silencia mulheres, que subalterniza a luta dos
negros e negras colabora com esse processo de homogeneização dos alunos,
fazendo com que a prática pedagógica seja discriminatória. Os profissionais da
educação precisam ver no livro didático um coadjuvante para a desconstrução de
estereótipos e preconceitos. Nilma Lino Gomes defende que a prática pedagógica:
uma coisa é certa: se não fosse a luta do Movimento Negro, nas suas mais
diversas formas de expressão e organização – com todas as tensões, os
desafios e os limites -, muito do que o Brasil sabe atualmente sobre a
questão racial e africana, não teria sido apreendido. E muito do que hoje se
produz sobre a temática racial e africana, em uma perspectiva crítica e
emancipatória, não teria sido construído. E nem políticas de promoção da
igualdade racial teriam sido construídas e implementadas (GOMES, 2017,
p.10.).
“Art. 215. O Estado garantirá a todos o pleno exercício dos direitos culturais
e acesso às fontes da cultura nacional, e apoiará e incentivará a valorização
e difusão das manifestações culturais.
§1º O Estado protegerá as manifestações das culturas populares, indígenas
e afro-brasileiras, e das de outros grupos participantes do processo
civilizatório nacional.
§2º “a lei disporá sobre a fixação de datas comemorativas de alta
significação para os diferentes segmentos étnicos nacionais.” (Brasil,1988).
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Ainda sobre a Constituição brasileira, no seu Artigo nº 242, Inciso 1º, prevê-se
o ensino da História do Brasil com as contribuições das diferentes etnias na
formação do povo brasileiro:
O presente capítulo tem como objetivo trazer uma breve explicação acerca de
alguns dos conceitos inerentes ao pensamento decolonial. Pretende também discutir
o lugar social da mulher negra, levando em consideração os graus hierárquicos que
a colonialidade impôs à sociedade brasileira. Também discutiremos o conceito de
interseccionalidade e sua relação com gênero.
A própria utilização dos termos indígenas e negros pode ser vista como uma
herança colonial. Ao colonizarem a América, os europeus se deparam com muitos
povos, cada qual com sistemas políticos, organizacionais e culturais desenvolvidos.
Astecas, incas, maias, tupis, foram simplificados pelos europeus em uma identidade
única, a de indígenas. O mesmo aconteceu com os povos da África que sofreram a
diáspora, congos, zulus, iorubás, dentre outros, também foram simplificados a uma
única identidade, a de negros. Vale ressaltar que essa identidade foi e ainda é uma
identidade negativada (QUIJANO, 2005, p. 127).
O autor (2007) defende ainda que raça é um construto ideológico e social sem
qualquer relação com a estrutura biológica do ser humano, e está totalmente ligada
às relações de poder do capitalismo mundial, colonial/moderno, eurocentrado. Logo,
sobre raça, Quijano afirma:
Europa é capaz de produzir conhecimento científico e crítico, o Sul não é visto como
produtor de conhecimento válido.
Na educação escolar esse padrão europeu se repete quando temos um
currículo focado na história eurocêntrica, subalternizando os personagens que não
se encaixam nesse olhar hegemônico, como por exemplo, as mulheres negras. O
pensamento decolonial trabalha não só contra a ordem dominante imposta pelo
colonialismo, capitalismo e patriarcado, trabalha também para a construção de um
pensamento outro. Esse pensamento outro também pode ser construído dentro do
que Catherine Walsh (2016) chama de brechas decoloniais - que no caso do
ambiente escolar, seriam momentos dentro e fora de sala de aula onde, nós
professores, podemos lançar mão de conteúdos que privilegiam outros atores e
outros momentos que não fazem parte do currículo formal europeizado existente na
educação brasileira.
Cláudia Miranda (2016) nos mostra que os processos decoloniais podem se
mostrar como oportunidades para conseguirmos estabelecer diálogos menos
hierarquizantes dentro e fora de sala aula. O pensamento decolonial pode trazer um
outro horizonte de forma de pensar não apenas para o espaço escolar, mas também
para as políticas públicas em geral.
Walsh (2016) afirma ainda que o decolonial não vem de cima e sim de baixo,
das comunidades, das lutas sociais, das pessoas comuns, dos enfrentamentos, logo
não se deve esperar uma mudança estrutural para que o pensamento decolonial
seja implementado no espaço escolar, por isso se torna tão importante identificar as
tais brechas ou fissuras decoloniais. O pensamento decolonial tem o poder de
visibilizar o protagonismo de atores históricos que podemos chamar de contra
hegemônicos como as mulheres negras, dando, assim uma resposta ao racismo que
desqualifica toda forma de conhecimento que está fora do padrão europeu
preestabelecido e constituindo-se como mais um horizonte de conhecimento.
Através do pensamento decolonial podemos sair do espaço apenas da denúncia de
exclusão e silenciamento dos conhecimentos contra hegemônicos, mas também
criar estratégias para incluir esses tipos de conhecimentos, para criar outras
pedagogias, pedagogias insurgentes, como por exemplo, as pedagogias decoloniais.
O conteúdo de história tem grande potencial para se constituir como horizonte
de empoderamento dos alunos das camadas populares, mas o que vemos é um
ensino de história marcado pela colonialidade, que como foi dito anteriormente,
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Essas práticas, da qual fala hooks, que questionam posturas que reforçam os
sistemas de dominação como o racismo e o sexismo precisam ser apropriadas pelos
educadores. Assim sendo, trazer a mulher negra para o protagonismo da História
significa transgredir barreiras porque iremos valorizar e ouvir histórias que são
marcadas pelo silenciamento e /ou exclusão. Torna-se urgente enfrentar o
eurocentrismo através de respostas decoloniais, partindo das culturas, memórias e
4
bell hooks é o pseudônimo de Gloria Jean Watkins, escritora norte americana. O apelido escolhido
para assinar suas obras é uma homenagem aos sobrenomes da mãe e da avó. Por preferência da
autora o nome é grafado em letras minúsculas, pois segundo a mesma o mais importante em seus
livros é a substância e não quem a autora é.
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Tal máscara foi uma peça muito concreta, um instrumento real que se
tornou parte do projeto colonial europeu por mais de trezentos anos. Ela era
composta por um pedaço de metal colocado no interior da boca do sujeito
Negro, instalado entre a língua e a mandíbula e fixado por detrás da cabeça
por duas cordas, uma em torno do queixo e a outra em torno do nariz e da
testa. Oficialmente, a máscara era usada pelos senhores brancos para
evitar que africanos/as escravizados/as comessem cana-de-açúcar ou
cacau enquanto trabalhavam nas plantações, mas sua principal função era
implementar um senso de mudez e de medo, visto que a boca era um lugar
tanto de mudez quanto de tortura. Nesse sentido, a máscara representa o
colonialismo como um todo. Ela simboliza políticas sádicas de conquista e
dominação e seus regimes brutais de silenciamento dos(as) chamados(as)
“Outros(as)”: Quem pode falar? O que acontece quando falamos? E sobre o
que podemos falar? (KILOMBA, 2010, p. 1-2, apud BERTH, 2019, p. 39).
Percebemos que o destino das mulheres era e ainda é determinado por uma
combinação de fatores como gênero, classe e raça. Dessa forma fica destinado às
personagens históricas negras o lugar da subalternidade e do apagamento, o que
faz com que o espaço que seria destinado a elas seja ocupado por homens e em
último caso pelas mulheres brancas.
O sociólogo porto-riquenho Ramón Grosfoguel (2009) pensa o lugar da
mulher negra na sociedade a partir do colonialismo. Para o autor, a hierarquia global
das relações entre os sexos também é afetada pelas raças. O ponto de partida de
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feminista moderno tem como preceito central a afirmação de que todas as mulheres
são oprimidas. Tal afirmação não leva em consideração questões como classe e
raça, levando a entender que todas as mulheres compartilham a mesma sina
(hooks, 2015). No caso das mulheres negras a discriminação sofrida ultrapassa a
esfera do gênero e adentra a esfera da cor onde são vistas como mulheres inferiores
às brancas, fazendo com que suas demandas sejam silenciadas ainda mais. Em
relação a esses dois problemas que as mulheres negras enfrentam, hooks afirma
que:
inobservadas tanto pelo feminismo branco quanto pelo movimento antirracista, que
tinha seu foco prioritariamente no homem negro.
Desde que o termo foi cunhado por Crenshaw, ele passou a demarcar uma
referência na tradição feminista negra, se mostrando capaz de reconhecer e
promover as mudanças necessárias a situações que são particulares das mulheres
negras. Elas têm um histórico de privações e negações diferentes das mulheres
brancas. Desde a escravidão a mulher negra tem seu corpo objetificado, tem sua
maternidade negada - no passado quando tinham seus filhos arrancados de seus
braços para serem vendidos como mercadoria, atualmente quando perdem seus
filhos para a necropolítica de Estados genocidas - estão mais expostas à pobreza e
violência doméstica, recebem salários mais baixos etc. Por esses e por muitos
outros motivos o debate feminista não pode renunciar ao uso da interseccionalidade,
pois não se pode agrupar todas as mulheres em uma única categoria de análise, seu
lugar social e suas vivências devem ser considerados e respeitados.
Vale ressaltar que a interseccionalidade não pretende fazer uma divisão
dentro do movimento feminista ou quantificar as opressões vividas por mulheres
negras, mas sim, como defende Akotirene (2019) colocar as diversas pautas em
uma encruzilhada, onde as avenidas raça, classe e gênero se encontram e se
interseccionam. Enquanto as avenidas não se cruzarem o projeto de apagamento
das lutas e causas das mulheres negras estará dando certo, a invisibilidade das
mulheres negras, de seus atos, reivindicações e pensamentos contribui de forma
decisiva para a manutenção das desigualdades sociais. A necessidade da
interseccionalidade nos mostra o quanto as mulheres negras são discriminadas e
inferiorizadas e o quanto precisam lutar para serem ouvidas e percebidas dentro dos
espaços que ocupam (COLLINS, 2019).
Em relação ao gênero, termo que passou a ser usado no Brasil no final dos
anos 80 (LOURO, 2014), percebemos que aspectos como relações étnico-raciais e
de gênero são questões sensíveis e pertinentes à sociedade. Estão presentes tanto
no meio acadêmico como no cotidiano das pessoas, entretanto no âmbito da
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que tenha espaço para as histórias subalternizadas faz parte de uma agenda
antirracista e decolonial. Ao educarmos meninas e meninos com esse olhar que
considera raça, gênero e classe contribuimos para uma sociedade que reconheça
suas diferenças e desigualdades e parta para ação, lutando por uma convivência
mais igualitária e justa.
Após chegarmos ao final da análise do quadro teórico em que ancoramos
nossa pesquisa, seguimos para o segundo capítulo onde estabelecemos uma breve
discussão a respeito da importância do PNLD ressaltando o livro didático como
capital cultural dos alunos, abordamos também a importância do mesmo tanto para
alunos quanto para professores, além de discutirmos os saberes que são
mobilizados dentro e fora da escola, como já afirmamos. Por último, tratamos o foco
principal desta pesquisa, que é a análise crítica da coleção didática Oficina de
História dos autores Flavio Campos, Julio Pimentel e Regina Claro, com o intuito de
comprovar a invisibilidade das mulheres negras no material didático analisado.
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O livro didático apresenta-se, ainda hoje, como o material mais utilizado pelos
professores da educação básica em sala de aula. Por ser um material que é
distribuído de forma gratuita para os alunos da rede pública, ele acaba se tornando
um grande aliado do professor durante o processo de ensino/aprendizagem. Os
livros didáticos se apresentam como os mais usados instrumentos de trabalho que
integram o que podemos chamar de tradição escolar de professores e alunos,
fazendo parte do cotidiano escolar há pelo menos dois séculos (BITTENCOURT,
2009, p. 299).
Para os professores em início de carreira muitas vezes o livro didático se
constitui como um guia para a elaboração do seu plano de aula, pois dá mais
segurança e define um caminho lógico na jornada que pretende trilhar com seus
alunos. Em algumas situações os professores chegam a criar uma relação de
dependência com o livro didático, o que pode ser extremamente preocupante já que
podemos encontrar muitas críticas aos livros didáticos de História. Nas redes
privadas de ensino há uma cobrança, por parte dos pais e consequentemente da
equipe diretiva, para que o professor trabalhe todo o livro até o fim do ano, fazendo
muitas vezes com que ele limite sua aula a apenas esse recurso didático, para
dessa forma dar conta de todo o conteúdo que é bastante extenso. Na rede pública
de ensino o grau de dependência do professor ao livro didático, geralmente está
associado às condições de trabalho, à falta de recursos e sobretudo à quantidade de
escolas e horas semanais que o professor leciona (ARAÚJO, 2001, p. 73. In:
BITTENCOURT, 2009, p. 318).
Ainda que o livro didático seja bastante explorado na relação ensino
aprendizagem, ele não pode ter seu uso banalizado, pois ele é um material que
carrega uma série de significados e interpretações, além de ser um produto que é
fruto da indústria editorial que imprime nele seus interesses. O uso adequado do
material deve ser criterioso, deve-se extrair o que o material tem de positivo e
questionar o que tem de negativo.
É fundamental ressaltar que o livro didático é carregado de significados
políticos e sociais e que os professores imprimem suas opiniões no momento da
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escolha do material que será utilizado em sua instituição de ensino. Para ter um
material que colabore para uma educação de qualidade, o professor deve ser crítico
no momento da escolha, deve se preocupar como o livro didático trata os diferentes
sujeitos da História.
O espaço escolar é um espaço rico em diversidade, onde diferentes sujeitos
se encontram e compartilham suas experiências de vida, porém a prática educativa,
assim como os materiais didáticos, tende a igualar esses sujeitos sem respeitar as
suas diferenças. Um livro didático que silencie mulheres, que subalternize a luta dos
negros, dentre outros sujeitos, colabora com esse processo de homogeneização dos
conhecimentos, das práticas e da identidade dos alunos, fazendo com que a prática
pedagógica seja discriminatória. Os profissionais da educação precisam ver no livro
didático um coadjuvante para a desconstrução de estereótipos e preconceitos. Nilma
Lino Gomes defende que a prática pedagógica:
5
O FNDE é uma “entidade autônoma e descentralizada da administração pública, com patrimônio
constituído de recursos próprios, e criada por lei para executar serviços de caráter estatal e de
interesse da coletividade.” (BARSA, 2005, p.103.)
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escolas públicas disseram que não houve livros em número suficiente para os
alunos naquele ano”. 6 Como foi ressaltado anteriormente, muitas vezes o livro
didático é o único livro que os alunos têm em casa, na ausência dele esse aluno fica
privado de um contato maior com a leitura.
O PNLD existe desde 1985, onde fazia parte de uma política educacional que
visava garantir livro didático gratuitos para os alunos de escolas públicas. Embora o
PNLD representasse um avanço na década de 80, os materiais distribuídos pelo
MEC não passavam por uma avaliação pedagógica. Somente a partir de 1996 as
obras inscritas no Programa passaram a ser avaliadas por profissionais da educação
(FANTIN, 2010). Essa avaliação passou a ser de suma importância para eliminar
materiais didáticos com erros teóricos metodológicos, com presença de ideias
discriminatórias e erros conceituais.
Atualmente o trabalho de seleção dos livros didáticos é feito em parceria com
universidades públicas que ficam responsáveis pela avaliação criteriosa dos livros
didáticos das áreas de alfabetização, língua portuguesa, matemática, ciências,
história e geografia (FURTADO; GAGNO, 2009). Logo, os livros devem estar de
acordo com as regras que são impostas pelo Governo para que possam ser
incluídos na lista do PNLD. Após esse trabalho de seleção, onde os critérios são
baseados nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), em princípios
educacionais e éticos, é elaborado um documento, o chamado Guia do Livro
Didático, material que sugere os principais pontos a serem considerados no
momento da adoção de um livro e no qual são listadas as obras que foram avaliadas
e aprovadas. Como processo final do PNLD, as obras aprovadas de acordo com os
critérios e requisitos desejados pela equipe de avaliação são submetidas ao
julgamento dos professores, coordenadores e diretores que escolherão os livros
didáticos que serão usados pela escola por um período de três anos letivos
seguidos, que é o tempo que dura cada ciclo do PNLD.
Através do PNLD, a escola e os professores podem escolher seus materiais
dentre as coleções aprovadas. O momento de análise e escolha desse material deve
ser um trabalho coletivo e democrático envolvendo toda a equipe escolar, deve-se
levar em consideração uma série de fatores como a realidade dos alunos que esse
material será destinado, seus interesses, suas aptidões, estágio de
6
https://undime.org.br/noticia/07-05-2019-14-12-mais-de-60-dos-diretores-afirmaram-que-faltaram-
livros-didaticos-para-os-alunos-em-2017 Acesso em 03/06/2021.
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A forma com que a história do povo negro aparece nos livros didáticos é
objeto de investigação de diversos pesquisadores, mostrando que a atuação do
Movimento Negro é extremamente responsável pela presença de uma história negra
nos livros didáticos de História, mas essa presença ainda continua sendo
estereotipada, colocando o negro quase que na maior parte das vezes no lugar do
escravizado. Circe Bittencourt, baseada na pesquisa de Marco Antonio de Oliveira 7,
afirma que podemos observar que:
7
Marco Antonio de Oliveira desenvolveu em sua dissertação de mestrado uma pesquisa sobre temas
e representações da população negra no Ensino Médio e Ensino Fundamental na disciplina de
História. A pesquisa teve como objetivos traçar um paralelo entre as mudanças no ensino de História
a partir da formação do Movimento Negro Unificado, no fim dos anos setenta e identificar as possíveis
alterações que as demandas da população negra têm provocado no conteúdo dos livros didáticos,
nas práticas escolares e nas propostas curriculares. A pesquisa data do ano 2000, portanto três anos
antes da promulgação da Lei 10.639/03.
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O que podemos ver por parte das editoras é a inclusão de temas como a
História da África, a luta feminista entre outros temas apenas como forma de atender
aos critérios do PNLD para não terem seus materiais descartados nos processos de
avaliação, mas os assuntos não são aprofundados e não trazem novas
interpretações, muitas vezes aparecem só em boxes, o que faz com que a história
hegemônica seja predominante nos materiais didáticos que chegam nas mãos dos
estudantes. É indispensável que a história e a cultura negra sejam retratadas com a
sua devida importância nos livros didáticos, para dessa forma não reforçar o
preconceito dentro e fora do ambiente escolar e para que alunos e alunas negros se
vejam representados, que reconheçam e respeitem os feitos e o legado do seu
povo. Identificar a ausência das mulheres negras nos livros didáticos de História é
um primeiro passo para que haja uma mudança na forma que essas mulheres são
ou deixam de ser representadas. A escola muitas vezes se mostra como o lugar que
reproduz o discurso do dominador, o discurso da exclusão, mas pode se tornar o
espaço da inclusão, da resistência, da luta social e da insurgência.
OLIVEIRA, Marco A. de. O negro no ensino de História: temas e representações. 2000. Dissertação
de mestrado - Faculdade de Educação, USP, São Paulo.
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O livro didático carrega uma responsabilidade muito grande, pois ele ainda é,
em muitos lares, o único livro que a camada empobrecida e, portanto,
subalternizada, tem contato ao longo da vida (SILVA, 2005, p. 22), como já
afirmamos. Por tamanha responsabilidade e levando-se em consideração que a
maior parte do alunado da rede pública é pobre e negra, o livro didático precisa ser
cada vez mais livre de estereótipos e silenciamentos em relação à população negra
masculina e feminina. Quando alunos e alunas negras não se veem representados
ou se veem apenas representados de forma negativada nos materiais didáticos, eles
não têm a sua identidade afirmada, logo não se interessam pela história que está
sendo narrada/problematizada em sala de aula. Ou na pior das hipóteses, ao não se
identificarem tendem a reproduzir os estereótipos e preconceitos ao qual foram
apresentados. De acordo com Ana Célia da Silva:
Temos uma escola pública onde a maioria dos alunos e alunas matriculados
são negros, entretanto temos um currículo, material didático e, consequentemente,
uma história branca contada nas salas de aula. 8 Apontar a invisibilidade das
mulheres negras no livro didático e apresentar uma teoria e metodologia para que
8
Essa História contada em sala de aula além de ser branca, é masculina, cristã, ocidental e
heterossexual, nessa pesquisa serão abordadas as temáticas raciais e de gênero devido à
importância e relevância dos temas.
47
Circe Bittencourt, dentre outros autores, nos oferece uma rica discussão a
respeito do livro didático. Para ela o livro didático é “um objeto de múltiplas facetas,
uma produção cultural, uma mercadoria, um suporte de conhecimentos escolares,
suporte de métodos pedagógicos e um veículo de um sistema de valores, de
ideologias, de uma cultura de determinada época e de determinada sociedade”. A
autora afirma ainda que os materiais didáticos são instrumentos de trabalho tanto do
professor quanto dos alunos, são suportes fundamentais na mediação no processo
entre o ensino e a aprendizagem. (2009, p. 301-302).
Os livros didáticos são responsáveis por trazerem construções históricas que
muitas vezes são reflexo da visão de quem os escreve e/ou da sociedade, o ramo
editorial é marcado por homens, logo as histórias destes são privilegiadas. Um dos
mais importantes pesquisadores de livros didáticos, o historiador francês Alain
Choppin afirma que:
Ainda de acordo com Choppin, sobre a pesquisa histórica a respeito dos livros
didáticos, o autor afirma que:
não pode ser estudada sem a análise precisa das relações conflituosas ou
pacíficas que ela mantém, a cada período da sua história, com o conjunto
das culturas que lhe são contemporâneas: cultura religiosa, cultura política
ou cultura popular... poder-se-ia descrever a cultura escolar como um
conjunto de normas que definem conhecimentos a ensinar e condutas a
inculcar, e um conjunto de práticas que permitem a transmissão desses
conhecimentos e a incorporação desses comportamentos; normas e
práticas coordenadas a finalidades que podem variar segundo as épocas
(finalidades religiosas, sociopolíticas ou simplesmente de socialização).
(JULIA, 2001, p.10)
9
CAMPOS, Flavio de; PINTO, Julio Pimentel; CLARO, Regina. Oficina de História. São Paulo: Leya,
2. ed., 2016.
52
Júlio Pimentel e Regina Claro com o objetivo de comprovar nossa hipótese de que
as mulheres negras são silenciadas na coleção escolhida para análise.
10
As informações sobre os autores foram retiradas da Coleção dos livros didáticos Oficina de
História.
53
O livro conta com oito menções ao continente africano, que vão desde a
origem da espécie humana à escravidão no Brasil colonial. Vemos o continente
africano no capítulo que trata dos povos africanos resumindo-os ao Egito, Kush e
Núbia. Vemos também a África sob o domínio grego e persa e mais adiante sob o
domínio romano. O livro aborda o impacto do islã no continente africano, afirmando
56
Em toda a obra analisada apenas o nome de uma mulher negra é citado, esse
nome é o de Nzinga Mband - rainha do Ndongo e Matamba. Apesar de ser a única
mulher negra retratada em todo o livro, a rainha Nzinga Mband tem um grande
destaque, ela é apresentada em três tópicos diferentes, onde são contadas as
histórias da Njinga, a rainha e da Njinga, a guerreira que durante mais de 30 anos
resistiu aos portugueses, mas por fim foi vencida e teve muitos de seus soldados
trazidos para a América portuguesa como escravizados. Njinga, rainha de Matamba
e Ndongo é cultuada como heroína angolana das primeiras resistências contra os
dominadores.
Ainda sobre as mulheres brancas, elas são citadas no capítulo que trata sobre
a Revolução Francesa, a importâncias delas na Revolução é contada ao longo do
capítulo e em um box que fala sobre as mulheres revolucionárias, sendo ilustrado
60
Páginas que abordam a participação das mulheres durante a Revolução de 1848 e na campanha
pelos direitos da mulher ao voto na França.
63
dos Palmares, neste espaço não encontramos nenhuma menção à Dandara dos
Palmares - esposa de Zumbi dos Palmares e guerreira também. O próximo homem
negro citado é Toussaint L’Ouverture, um dos líderes da Revolução do Haiti. É
interessante ressaltar a existência de um box contendo a importância do vodu e do
creóle como símbolos de resistência e elementos de coesão entre os que lutaram
pela independência do Haiti.
11
Luiz Gama (1830-1882) foi um importante líder abolicionista, jornalista e poeta brasileiro. Trabalhou
na defesa dos negros escravizados exercendo a profissão de “rábula”, nome dado aos advogados
sem título acadêmico, por meio de uma licença especial.
65
José do Nascimento, o Dragão do Mar. 14 Vemos também o nome de Dom Obá II.
No capítulo que fala sobre o imperialismo na África encontramos o nome do Ras
(rei) Menelik II da Etiópia. Este liderou as forças etíopes contra os italianos entre
1895 e 1896. Por último, já no século XX vemos João Cândido e a Revolta da
Chibata que ele liderou, ocupando um parágrafo no capítulo que fala das revoltas
urbanas do Rio de Janeiro no início do século XX, sem receber o destaque que sua
história merece.
Em relação ao continente africano, o destaque é menor neste livro,
aparecendo somente em dois momentos, uma vez quando o livro trata da
colonização portuguesa na África e outra vez no capítulo dedicado ao Imperialismo.
Em relação ao povo negro, ao longo do livro observamos um texto que fala da
contribuição negra para o carnaval e outro que fala sobre o carnaval e a intolerância
religiosa.
12
José do Patrocínio (1853-1905) foi um abolicionista, jornalista e escritor brasileiro. Participou
ativamente dos movimentos para libertação dos escravos.
13
André Rebouças (1838-1898) foi um engenheiro, professor, abolicionista e monarquista brasileiro.
O primeiro engenheiro negro a se formar pela Escola Militar.
14
Francisco José do Nascimento, o Dragão do Mar, foi líder jangadeiro e abolicionista. Participou
ativamente do Movimento Abolicionista Cearense, organização do estado que foi o primeiro a abolir a
escravidão. Entre suas principais ações, esteve o impedimento do comércio de escravizados nas
praias do Ceará e a recusa ao transporte de navios negreiros que conduziam escravizados do
Nordeste ao Sul do país.
66
Trecho do livro que fala sobre os Pantera Negras e silencia a participação de Angela Davis no
movimento.
X ganham grande destaque no capítulo referente à luta pelos direitos civis nos
Estados Unidos, destaque esse que foi negado à Angela Davis. Por fim,
encontramos o nome de Nelson Mandela no capítulo que aborda o fim do apartheid
na África do Sul. Em relação à História do continente africano, a mesma só é
abordada no capítulo sobre a descolonização da África.
Podemos concluir que a coleção didática Oficina de História atende ao que a
Lei 10.639/03 estipula trazendo temas sobre a História da África, cultura afro-
brasileira e a contribuição dos negros para a construção do Brasil. Faz uma análise
crítica da História, levanta debates, valoriza parcialmente a contribuição feminina
branca nos fatos históricos já que dá maior ênfase aos homens, mas a respeito das
mulheres negras a coleção didática mantém o silenciamento e apagamento delas.
bel hooks afirma que o poder que os homens usam para dominar as mulheres, não é
apenas um privilégio das classes altas e médias dos homens brancos, mas um
privilégio de todos os homens na sociedade sem olhar a classe ou a raça (2014,
p.64.), tal afirmação é comprovada pelo fato das mulheres negras aparecem em
menor número nas três coleções analisadas se forem comparadas com as mulheres
brancas e com os homens negros, não precisamos fazer uma comparação com os
homens brancos, pois estes já têm o seu lugar hegemônico.
Para finalizar nosso trabalho, no terceiro e último capítulo falaremos das
dificuldades que a pandemia do Covid-19 trouxe para a educação no estado do Rio
de Janeiro, discutiremos como a ausência das aulas presenciais afetou nossa
primeira proposta de produto. Faremos também uma breve análise sobre a reforma
do Ensino Médio e seu impacto nos livros didáticos, além de apresentar e debater
nosso produto que consta em anexo.
75
Neste último capítulo temos como objetivo fazer uma breve análise sobre a
reforma do Ensino Médio e seu impacto nos livros didáticos de História,
apresentaremos uma sequência didática que pode ser usada como material
introdutório para as aulas que trarão o protagonismo das nossas personagens
negras, além de apresentar e debater nosso produto final sobre a invisibilidade da
mulher negra nos livros didáticos, o Caderno Pedagógico que consta em anexo.
3.1 A reforma do Ensino Médio e a mudança nos livros didáticos para esse
segmento
Ensino Médio para que demande menos recursos do Poder Público (HERNANDES,
2019).
A lei federal 13.415/17 (BRASIL, 2017) prevê a ampliação da carga horária do
Ensino Médio até torná-la ensino de tempo integral, também estabelecendo cinco
áreas de conhecimento que compõem os itinerários formativos – Linguagens e suas
Tecnologias; Matemática e suas Tecnologias; Ciências da Natureza e suas
Tecnologias; Ciências Humanas e Sociais Aplicadas; e Formação Técnica e
Profissional. Na prática apenas as disciplinas de português, matemática e inglês
serão obrigatórias, as demais disciplinas serão ofertadas na forma de itinerários
formativos que deverão ser organizados pelas escolas. De acordo com o Ministério
da Educação (MEC) os itinerários formativos são o conjunto de disciplinas, projetos,
oficinas, núcleos de estudo, entre outras situações de trabalho, que os estudantes
poderão escolher no ensino médio. Os itinerários formativos podem se aprofundar
nos conhecimentos de uma área do conhecimento (Matemáticas e suas
Tecnologias, Linguagens e suas Tecnologias, Ciências da Natureza e suas
Tecnologias e Ciências Humanas e Sociais Aplicadas) e da formação técnica e
profissional (FTP) ou mesmo nos conhecimentos de duas ou mais áreas e da FTP.
As redes de ensino terão autonomia para definir quais os itinerários formativos irão
ofertar, considerando um processo que envolva a participação de toda a
comunidade escolar. 16
Sabemos que não há garantia de que todas as escolas ofertem todos os
itinerários formativos, pois muitas escolas não contam com professores de todas as
áreas em seus quadros de profissionais, infraestrutura de laboratórios, salas de
informática, além de dependerem de parcerias para a oferta da formação técnica
profissional. O que estamos observando é o temor dos professores das áreas de
Ciências Humanas e Ciências Biológicas de perderem seus espaços dentro das
escolas. Hernandes confirma nosso temor quando afirma que:
16
http://portal.mec.gov.br/publicacoes-para-professores/30000-uncategorised/40361-novo-ensino-
medio-
duvidas#:~:text=Os%20itiner%C3%A1rios%20formativos%20s%C3%A3o%20o,poder%C3%A3o%20
escolher%20no%20ensino%20m%C3%A9dio. Acesso em 25/09/2021.
77
17
A capa do livro consta nos anexos.
80
colocadas na subalternidade, seja pelo machismo e racismo, seja por outras faces
da colonialidade que persiste em nossa sociedade colocando negros em patamares
inferiores e negras em patamares mais inferiorizadas ainda. Seu trabalho é
extremamente bonito e lúdico, se mostrando muito relevante e útil para a realização
de uma educação plural e antirracista. Tenho um carinho especial pela autora, por
ter sido a partir de um livro dela – As Lendas de Dandara – que a semente dessa
pesquisa foi plantada.
Pretendemos com nosso produto possibilitar que um determinado segmento
marginalizado e subalternizado, seja representado nos livros didáticos e a partir
desses discursos, ser construída uma educação que valorize a História dos
silenciados, que potencialize o fortalecimento de identidades raciais e de gênero,
especialmente e particularmente das mulheres negras. Assim sendo, atuaremos na
perspectiva de uma educação antirracista. Também pretendemos que o Caderno
Pedagógico auxilie os professores a inserirem novos sujeitos em suas aulas,
enriquecendo o processo de ensino e aprendizagem, pois é imprescindível que a
escola possua ao menos materiais didáticos/pedagógicos que permitam trabalhar
com a diversidade. O material também tem a intenção de contribuir de forma
afirmativa no empoderamento identitário de seus alunos e especialmente e
prioritariamente, de suas alunas.
Quando a pesquisa estava sendo elaborada para o processo de qualificação,
pensamos nosso material pedagógico com ilustrações feitas pelos alunos do Ciep
Zuzu Angel ao longo das aulas que seriam ministradas no segundo semestre de
2020 e primeiro semestre de 2021. As ilustrações seriam colhidas à medida que as
intervenções que apresentassem as mulheres negras como agentes históricas
fossem acontecendo, em tal momento aconteceriam oficinas pedagógicas com o
intuito de esclarecer para os alunos a importância de darmos protagonismo a essas
mulheres, que muitas vezes são negligenciadas.
O momento de realização das oficinas pedagógicas seria o momento de unir
teoria e prática, onde construiríamos estratégias de integração entre pressupostos
teóricos e prática. Através das oficinas tiraríamos os alunos dos lugares de
expectadores e daríamos os lugares de atores, onde eles poderiam construir o seu
conhecimento através da ação. As oficinas teriam como finalidade a aproximação
dos alunos com as mulheres negras da história de forma mais íntima. Seus atos,
seus nomes, seus rostos passariam a ser de conhecimento dos alunos, que em
81
Jarid Arraes: “Escrevo para honrar minha ancestralidade” por Aline Valek —
publicado 29/03/2016 10h23, Carta Capital.
Em entrevista, a escritora caririense Jarid Arraes conta como busca suas origens
ao escrever cordéis e literatura De pantufas roxas, ela apareceu à porta para me
receber.
Você sabe que está entrando no mundo de Jarid Arraes pela cor: o roxo começa a
despontar aqui e ali, nas paredes, almofadas e até no seu cabelo, crespo e
volumoso, recém-cortado na altura do queixo.
85
– Fui uma criança diferente dos meus amigos, cresci cercada de cultura popular
nordestina – Jarid começou a contar.
Desde criança, Jarid lia muito cordel. Ouvia o pai declamar cordel. Mas começou a
escrever cordel só de uns quatro anos pra cá.
– Eu achava que não tinha talento. Mas fiquei incomodada pensando: meu avô é
bem idoso, ele está com 80 anos. Em breve vai morrer. Um dia meu pai também vai
morrer. Se eles morrem, acaba com eles a tradição do cordel na família, porque
ninguém mais escreve. Resolvi então começar a escrever.
Foi num sábado à noite que ela sentou na frente do computador para escrever.
Nunca havia feito isso. Tinha ao seu lado um cordel do pai para usar como
referência, mas percebeu que não ia precisar. Os versos saíram com tanta
naturalidade que, dez minutos depois, estava pronto seu primeiro cordel: Dora, a
negra e feminista.
– Parece que saiu magicamente, mas não! Estava na minha memória, era algo que
fazia parte de mim. Por isso eu tenho mais facilidade pra escrever cordel. Levanto
desesperada e penso “tenho que fazer cordel hoje!”, sento e faço.
86
Não é exatamente simples, mas a coisa se complica quando ela escreve cordéis
sobre figuras históricas como Tereza de Benguela, Dandara dos Palmares,
Aqualtune, Antonieta de Barros.
– Lembro que no cordel sobre a Carolina Maria de Jesus você escreveu algo
como “era o ano de quatorze / inda de mil e novecentos”. Assim quebrado –
comentei.
– É isso mesmo. Tenho que fazer uns “migué” para caber no ritmo. Outra
“trapaça” é comer sílabas das palavras. Mas acho que faz parte da técnica. Até
nas oficinas de cordel que dou, falo para as pessoas se sentirem à vontade para
escrever “errado”. Quanto mais errado, mais legal fica. Dá identidade.
No ano passado, Jarid lançou seu primeiro livro de ficção. A ideia foi resgatar uma
heroína brasileira negligenciada pela história, a ponto de não haver registros
sobre ela – muitos acreditam que ela nem chegou a existir. Assim Jarid deu forma
ao livro As Lendas de Dandara, imaginando histórias épicas que preenchessem
essa lacuna sobre a heroína de Palmares.
– Tem, mas também é bem diferente do que eu estava acostumada a ler: Senhor
dos Anéis, As Brumas de Avalon. Mitologia nórdica, europeia. E também não sei
se dá pra considerar As Lendas de Dandara como fantasia, porque muitas
pessoas acreditam em orixás. Também não acho relevante dar o rótulo de
fantasia. Até porque, sinceramente, não vejo o público que lê fantasia se
interessando tanto por mitologia africana.
87
Esses dias eu estava procurando mais livros de fantasia para ler. Fui procurar em
alguns sites para ver o que me interessava e era tudo a mesma coisa. Castelo,
dragão e mago. Minha gente, até na mitologia europeia tem mais coisa do que
castelo, castelo, dragão e mago.
– É quando a história consegue fluir de um jeito que eu nem percebo como ela foi
parar naquele ponto. O livro Kindred, da Octavia Butler, tem muito isso. Mesmo
com todas as idas e voltas no tempo, quando a personagem vai parar na casa do
senhor de escravos, as coisas são muito fluidas, vão se emendando de uma forma
natural.
Então Jarid lembrou-se de outro livro, de um autor negro independente, que ela
conheceu na Feira Preta: Outras vozes, de Plínio Camillo. – Olha o clichê – ela
comenta – o que considero boa literatura é aquilo que me emociona.
Apesar de ser um trabalho que se faz sozinha, lembrei pela minha própria
experiência, que escrever é uma profissão que envolve exposição. Porque
escrever é se expor, colocar sua verdade no trabalho, mas também porque exige
visibilidade
88
– Mesmo com essa exposição, o que você acha que as pessoas não veem ou não
imaginam sobre o trabalho de escritora?
– Elas nem imaginam que às vezes você não quer visibilidade – Jarid contou. –
Você quer que seu livro seja famoso, seja lido. É diferente de querer ser
celebridade.
– Vamos agora viajar muito no futuro: qual é o seu objetivo dentro da literatura?
– O que quero fazer hoje com minha literatura é honrar minha ancestralidade. Não
só a parte negra da minha família, mas a parte branca e como elas se misturam. E
aí entra o cordel, que faz parte da minha família nordestina. É algo que me
emociona muito e acho que essa é a minha verdade. A verdade que coloco na
minha literatura.
Abraçada à sua almofada roxa de franjinhas, Jarid pareceu olhar para um tempo
Futuro ou passado? Talvez os dois.
– Espero que quando eu tiver uns 60 anos, eu possa ver que publiquei muitas
coisas que honraram minha ancestralidade. Porque acho que nunca vou conseguir
conhecer exatamente a minha origem, saber quem foi a pessoa negra da família do
meu pai que fez com que só ele e eu nascêssemos negros. Não sei se vou saber,
então vou usar a escrita para imaginar várias versões dessa pessoa.
Uma pessoa que pode ser Dandara, ou a protagonista de seu novo livro, alguma
personagem de seus cordéis, a Luísa Mahin, a Tereza de Benguela, ou todas elas.
Ela diz que, já que não sabe quem foi, então foram todas.
– Quero contar a história dessas pessoas que não puderam contar a história delas.
Como os personagens que escrevo hoje são pessoas que tiveram a humanidade
roubada delas, contar essas histórias é uma forma de torná-las humanas de novo.
https://www.cartacapital.com.br/cultura/jarid-arraes-201cescrevo-para-honrar-
minha-ancestralidade201d/
(acesso em 24/09/2021)
Questões
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
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Rio de Janeiro: DP&A, 2005.
______. Não sou eu uma mulher. Mulheres negras e feminismo. 1°edição 1981.
Tradução livre para a Plataforma Gueto. Janeiro 2014.
97
______. A história ensinada: algumas configurações do saber escolar. In: História &
Ensino, Londrina, v. 9, p. 37-62, out. 2003, p.9-35.
OLIVEIRA, Camila Klen. Breve Introdução ao Giro Decolonial: Poder, Saber e Ser. II
Seminário Científico da FACIG– 17 e 18 de Novembro de 2016.
SILVA, Ana Célia da. A Discriminação do Negro no Livro Didático. 2 ed. Salvador:
EDUFBA, 2004.
______. A representação social do negro no livro didático: o que mudou? por que
mudou? / Ana Célia da Silva. Salvador: EDUFBA, 2011.
SCOTT, Joan. Gênero: uma categoria útil de análise histórica. Educação &
Realidade, Porto Alegre, v. 20, n2, p.71-99, jul /dez.1995.
SODRÉ, Muniz. Claros e escuros: identidade, povo e mídia no Brasil. Petrópolis:
Vozes,1999.
SOUZA, Josiane Nazaré Peçanha de. Nossos passos vêm de longe: o ensino de
história para a construção de uma Educação Antirracista e Decolonial na Educação
Infantil. 2018. 140 f. Dissertação (Mestrado Profissional em Rede Nacional
PROFHISTORIA). São Gonçalo: UERJ-FFP, 2018.
SÃO GONÇALO
2021
Caderno Pedagógico
Autora:
Ana Carolina da Silva Andrade
Orientadora:
Prfª Drª Helena Maria Marques Araújo
SÃO GONÇALO
2021
A PARTICIPAÇÃO DA MULHER
NEGRA NA HISTÓRIA CONTADA
NA SALA DE AULA
Queridos educadores, bem vindos!
http://www.palmares.gov.br/?p=53160
Seu nome é grafado de diferentes maneiras: Nzinga, Ginga, Jinga, Singa, Zhinga e outros no-
mes da família linguística Banto (ou Bantu). É também conhecida pelos nomes portugueses de
Ana de Souza, rainha Dona Ana e como rainha Ana Nzinga.
Nzinga Mbandi Ngola Kiluanji, nasceu em 1582, no Ndongo. Ainda criança, começou a ser trei-
nada para o combate e o uso de armas. Com oito anos de idade, acompanhou a comitiva do
pai, em uma batalha, como parte dos exercícios de guerra. Com a morte do pai, em 1617, seu
irmão Mbandi tornou-se ngola ascendendo ao trono de Ndongo.
Em 1621, chegou a Luanda o novo governador português que se apressou a buscar a paz
com o ngola Mbandi. Para negociá-la, o rei enviou a Luanda uma embaixadora – sua irmã
Nzinga, então com 39 anos de idade.
A princesa, inteligente e decidida, deixou claro que o rei não era e nem seria vassalo do rei de
Portugal. Estava ali como representante de um estado soberano e exigia tratamento de igual
para igual. Para surpresa de todos, Nzinga falou em português fluente. Possivelmente apren-
dera a língua com alguns dos mercadores e missionários portugueses que haviam frequentado
a corte de seu pai.
Nzinga exigiu que os portugueses abandonassem suas instalações no continente, que entre-
gassem os chefes africanos prisioneiros e ainda um lote de armas de fogo. Em sinal de sua
intenção de celebrar o acordo de paz, Nzinga aceitou o batismo católico sob o nome português
Ana de Souza. A conversão foi um jogo político do qual ela vai se valer em outros momentos
para ganhar confiança e confundir os portugueses.
Vários meses se passaram desde o encontro em Luanda sem que os portugueses cumpris-
sem sua parte no acordo. Nzinga vai cobrar, pelas armas, o que fora prometido mas, dessa
vez, como ngola, rainha de Ndongo.
Começava a nascer uma “mitologia Nzinga”. Rainha enigmática, cujo nome causava terror
entre os portugueses, ela deu origem a lendas e relatos contraditórios a seu respeito.
Desconhece-se sua imagem, não existem retratos da rainha elaborados no seu período de
vida. Uma imagem de 1769, para a obra Zingha, reine d’Angola, de Jean-Louis Castilhon,
mostra a rainha de perfil com um olhar recatado que nada corresponde ao perfil guerreiro
dessa líder política africana. Usa coroa, colar, bracelete, broche e manta típicos da cultura eu-
ropeia.
Fonte:https://www.geledes.org.br/nzinga-a-rainha-negra-que-combateu-os-traficantes-
portugueses/
Sugestão: utilizar a história em quadrinhos de Nzinga Mbandi produzida pela Unesco na sé-
rie Mulheres na História da África.
https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/7/77/
Nzinga_Mbandi_Queen_of_Ndongo_and_Matamba_Portuguese.pdf
Mariana Crioula
https://www.imprensapreta.com/2020/06/25/marianna-crioula/
Mariana Crioula foi uma das principais líderes da maior fuga de escravizados na região do
Vale do Paraíba, No Rio de Janeiro, Mariana Crioula trabalhava como mucama em uma
fazenda de café em Paty de Alferes, quando se juntou a Manoel Congo e outros 400 es-
cravizados rumo a Serra da Mantiqueira, onde formaram um quilombo. Companheiros de
luta, Mariana e Manoel se apaixonaram, entrando para a história como a Rainha e Rei do
quilombo. Foi presa quando o quilombo foi atacado por tropas da Guarda Nacional, tendo,
no entanto, resistido bravamente.
Fonte: http://www.mulher500.org.br/mariana-crioula-sec-xix/
Dandara de Palmares
https://todosnegrosdomundo.com.br/a-forca-de-dandara-dos-palmares/
Dandara foi uma guerreira do período colonial do Brasil, foi esposa de Zumbi, líder daquele
que foi o maior quilombo das Américas: o Quilombo dos Palmares. Com ele, Dandara teve três
filhos: Motumbo, Harmódio e Aristogíton. Valente, ela foi uma das lideranças femininas negras
que lutou contra o sistema escravocrata do século XVII e auxiliou Zumbi quanto às estratégias
e planos de ataque e defesa da quilombo.
Não há registros do local onde nasceu, tão pouco da sua ascendência africana. Relatos e len-
das levam a crer que nasceu no Brasil e se estabeleceu no Quilombo dos Palmares enquanto
criança.
Além dos serviços domésticos, plantava, trabalhava na produção da farinha de mandioca, ca-
çava e lutava capoeira, também pegava em armas e liderava as falanges femininas do exérci-
to negro palmarino.
Sempre perseguindo o ideal de liberdade, Dandara não tinha limites quando o que estava em
jogo era a segurança do quilombo e a eliminação do inimigo. Suicidou-se depois de presa, em
seis de fevereiro de 1694, para não voltar na condição de escravizada.
Fonte: http://www.palmares.gov.br/?p=33387
Sugestão: utilizar o clipe “Dandara” da cantora Vanessa Borges para apresentar a persona-
gem.
Link do Youtube: https://www.youtube.com/watch?v=WPLFVkxC6n4
Utilizar o livro As Lendas de Dandara da autora Jarid Arraes, onde a história da quilombola é
retratada através de contos.
1° Série do Ensino Médio
Tereza de Benguela
https://al.unit.br/blog/noticias/mulher-afro-brasileira-se-espelha-na-historia-de-tereza-de-benguela/attachment/
tereza-benguela/
Tereza de Benguela viveu no século XVIII e foi casada com José Piolho, que chefiava o
Quilombo do Piolho até ser assassinado por soldados do Estado. O Quilombo do Piolho
também era conhecido como Quilombo do Quariterê, o maior do Mato Grosso.
Com a morte de José Piolho, Tereza se tornou a líder do quilombo, e, sob sua liderança, a
comunidade negra e indígena resistiu à escravidão por duas décadas.
O Quilombo do Quariterê abrigava mais de 100 pessoas, com destacada presença de ne-
gros e indígenas. Tereza navegava com barcos imponentes pelos rios do pantanal. E to-
dos a chamavam de “Rainha Tereza”. Tereza comandou a estrutura política, econômica e
administrativa do quilombo, mantendo um sistema de defesa com armas trocadas com os
brancos ou roubadas das vilas próximas. Os objetos de ferro utilizados contra a comunida-
de negra que lá se refugiava eram transformados em instrumentos de trabalho, pois os qui-
lombolas dominavam o uso da forja.
Não se tem registros de como Tereza morreu. Uma versão é que ela se suicidou depois de
ser capturada por bandeirantes a mando da capitania do Mato Grosso, por volta de 1770, e
outra afirma que Tereza foi assassinada e teve a cabeça exposta no centro do Quilombo.
Fonte: https://www.ufrb.edu.br/bibliotecacecult/noticias/220-tereza-de-benguela-a-escrava-
que-virou-rainha-e-liderou-um-quilombo-de-negros-e-indios
ARRAES, Jarid. Heroínas negras brasileiras: em 15 cordéis. 1° ed. São Paulo: Seguinte,
2020. p. 137-138.
1° Série do Ensino Médio
Aqualtune
https://observatorio3setor.org.br/carrossel/a-princesa-escravizada-no-brasil-que-lutou-pela-liberdade-de-seu-
povo/
Aqualtune foi uma princesa africana de um reino do Congo. Foi uma grande guerreira e es-
trategista e liderou um exército de 10 mil homens para combater uma invasão portuguesa
em seu reino, em 1665, porém foi capturada após a derrota congolesa. Quando perdeu a
guerra foi escravizada e trazida para o Brasil, onde foi vendida como escrava reprodutora.
Grávida, Aqualtune organizou uma fuga para Palmares, onde deu à luz Ganga Zumba e
Gana, que mais tarde seriam chefes dos mais importantes mocambos de Palmares. Deu à
luz também a Sabina, mãe do grande líder de Palmares, Zumbi.
Fonte: ARRAES, Jarid. Heroínas negras brasileiras: em 15 cordéis. 1° ed. São Paulo: Se-
guinte, 2020. p 33.
Tia Simoa
https://www.renatoroseno.com.br/noticias/renato-roseno-preta-tia-simoa-memoria
Tia Simoa foi uma importante protagonista, junto do Dragão do Mar, na história da Abolição
da Escravidão no Ceará, usou de sua sociabilidade para mobilizar a população local em
apoio a greve dos Jangadeiros em agosto de 1881, acontecimento que determinou os fatos
que se sucederam até o decreto que estabeleceria o fim da escravidão no Ceará em 25 de
março de 1884.
Fonte:https://www.geledes.org.br/preta-simoa-e-abolicao-ceara-uma-historia-de-
esquecimento-por-jarid-arraes/
ARRAES, Jarid. Tia Simoa. São Paulo, 2014. p. 3. In: COSTA, Maria Suely da, NASCIMEN-
TO, Eduardo de Jesus Avelino do. Literatura Biográfica e a Representação da Mulher Ne-
gra. Universidade Estadual da Paraíba. IV Congresso Nacional de Educação, 2017.
2° Série do Ensino Médio
Luisa Mahin
http://acentraldasdivas.blogspot.com/2017/07/luiza-mahin-uma-guerreira-africana-na.html
Nascida em Costa da Mina, na África, no início do século XIX, Luísa Mahin foi trazida para o
Brasil como escrava. Pertencente aos Mahi, da nação africana Nagô, Luísa esteve envolvida
na articulação de todas as revoltas e levantes de escravos que ocorreram na então Província
da Bahia nas primeiras décadas do século XIX.
Como negra africana, sempre recusou o batismo e a doutrina cristã, e um de seus filhos natu-
rais, Luís Gama (1830-1882), tornou-se poeta e um dos maiores abolicionista do Brasil.
Fontes: http://www.palmares.gov.br/?page_id=26864
FAUSTINO, Sinara. Construção do Mito Luisa Mahin a partir dos fragmentos de memória do
Luiz Gama. Revista Em favor de Igualdade Racial, Rio Branco –Acre, v. 4, n. 1, p.169-178,
jan./abr. 2021
Harriet Tubman
https://www.geledes.org.br/harriet-tubman/
Harriet Tubman foi uma mulher afro-americana que nasceu como escravizada, mas con-
quistou sua liberdade fugindo do cativeiro. Ela dedicou sua vida ao combate da escravidão,
palestrando em associações abolicionistas e ajudando escravizados a fugirem do sul
dos Estados Unidos por meio de rotas de fuga. Ela também teve papel de destaque
na Guerra Civil Americana.
Fonte: SAMPAIO, Maria Clara Carneiro, ARIZA, Marília B. A. Narrativas de mulheres es-
cravizadas nos Estados Unidos do século XIX. Estudos avançados 33 (96), 2019, p. 179-
198.
Sugestão: utilizar o vídeo do Youtube “Quem foi Harriet Tubman—Mulheres na História”,
ressaltando o fato da personagem ser pouco conhecida.
Link do vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=7HfoVUXZFio
2° Série do Ensino Médio
Guerreiras de Daomé
https://faleafrofuturo.medium.com/ahosi-as-guerreiras-implac%C3%A1veis-do-daom%C3%A9-cb448a9bb05f
A existência de um corpo militar feminino altamente treinado foi descrita pela maioria dos via-
jantes europeus que estiveram no reino do Daomé durante os séculos XVIII e XIX. Por asso-
ciarem a guerra a uma função puramente masculina, as mulheres guerreiras do Daomé ga-
nharam destaque nos relatos dos viajantes.
Um dos fatores de sucesso das Guerreiras de Daomé sobre os inimigos europeus era a sur-
presa. Homens brancos treinados para lutar com outros homens, que viam mulheres como
seres fisicamente inferiores, sob o estereótipo de passividade e docilidade ficavam aterroriza-
dos quando se deparavam com as Ahosi , nome que as guerreiras de Daomé recebiam.
As Ahosis permanecem no imaginário contemporâneo e são vistas como exemplos do prota-
gonismo feminino negro e interpretadas como símbolos de luta e resistência negra, sobretu-
do, das mulheres. As “amazonas” foram representadas em algumas produções cinematográ-
ficas, sendo a mais recente o filme “Pantera Negra” (2018), produzida pela Marvel Studios.
Fonte: SUGUIAMA, Danielle Yumi. O Daomé e suas “amazonas” no século XIX : leituras a
partir de Frederick E. Forbes e Richard F. Burton. Guarulhos, 2018. 167 f. Dissertação
(Mestrado em História) – Universidade Federal de São Paulo, Escola de Filosofia, Letras e
Ciências Humanas,2018.
Sugestão: Utilizar o vídeo do Youtube “Guerreiras Ahosi - único Exército feminino da História
| Mwana Afrika Oficina Cultural”.
https://www.geledes.org.br/quase-um-seculo-depois-moradores-incluem-nome-de-maria-felipa-entre-os-herois/
Nascida na ilha de Itaparica (BA) no começo do século XIX, Maria Felipa de Oliveira possi-
velmente foi descendente de negros escravizados do Sudão, foi figura de destaque nas ba-
talhas pela independência ocorridas em Itaparica, Maria Felipa de Oliveira é descrita como
uma negra alta e audaz que, sendo uma forte liderança em sua comunidade, tornou-se fun-
damental na organização da resistência insular.
Liderou duzentas pessoas, entre elas indígenas e mulheres negras, Maria Felipa e seus
companheiros queimaram em torno de quarenta embarcações portugueses quando os por-
tugueses atacaram a ilha de Itaparica.
Até pouco tempo atrás, essa personagem não era conhecida e somente há alguns anos ini-
ciou-se uma campanha para o reconhecimento de sua importância.
Fonte: ARRAES, Jarid. Heroínas negras brasileiras: em 15 cordéis. 1° ed. São Paulo: Se-
guinte, 2020. p. 103.
Sugestão: Utilizar o vídeo do Youtube “Maria Felipa, cordel animado” para apresentar a per-
sonagem.
Link do vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=zqY0oFUT6DM
3° Série do Ensino Médio
https://novaescola.org.br/conteudo/19849/o-impacto-de-carolina-maria-de-jesus-na-literatura
Carolina Maria de Jesus (1914-1977) foi uma autora brasileira, considerada uma das primei-
ras e mais destacadas escritoras negras do País. Ela foi autora do livro autobiográfico
“Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada”.
Em 1937, após o falecimento de sua mãe, Carolina Maria de Jesus se mudou para a capital
de São Pulo. Para sustentar sua família, ela saía a noite para catar papelão, guardando re-
vista e cadernos antigos que encontrava. Nesses cadernos , Carolina escrevia sobre sua
vida e as dificuldades de ser uma mulher negra, mãe solo e favelada. Seus escritos forma-
ram mais de vinte cadernos e um desses cadernos deu origem ao seu livro mais famoso,
“Quarto de despejo: Diário de uma Favelada”, publicado em 1960. A autora Publicou mais
três livros, “Casa de Alvenaria: Diário de uma Ex-favelada” (1961), “Pedaços da Fo-
me” (1963) e “Provérbios” (1965).
Carolina morreu em 1977, vítima de uma insuficiência respiratória e esquecida pelas edito-
ras.
Fontes: ARRAES, Jarid. Heroínas negras brasileiras: em 15 cordéis. 1° ed. São Paulo: Se-
guinte, 2020. p. 43.
https://www.ebiografia.com/carolina_maria_de_jesus/
Sugestão: utilizar a letra da música “Levanta e anda” de Emicida fazendo um paralelo entre
a letra da música e as dificuldades de morar em uma comunidade.
Tia Ciata
https://www.geledes.org.br/tia-ciata/
Hilária Batista de Almeida, Tia Ciata, nasceu em 1854 em Santo Amaro (BA), mudou-se pa-
ra o Rio de Janeiro aos vinte e dois anos. No Rio de Janeiro trabalhou como quituteira, sem-
pre com suas vestes de baiana, para sustentar sua filha.
Através de seus quitutes, expressava sua religiosidade, o candomblé, religião que era proi-
bida . Casou-se com João Batista, com quem teve catorze filhos.
Sua casa na Praça Onze ficou conhecida como local de encontro de sambistas e composi-
tores. Tais encontros eram perseguidos pela polícia, mas Tia Ciata era muito querida por
seus conhecimentos como curandeira. Tia Ciata faleceu em 1924, mas sua casa é ate hoje
referência para o samba e para o candomblé no Rio de Janeiro.
Fonte: ARRAES, Jarid. Heroínas negras brasileiras: em 15 cordéis. 1° ed. São Paulo: Se-
guinte, 2020. p. 153.
https://www.geledes.org.br/laudelina-campos-de-melo-heroina-negra-que-lutou-para-garantir-direitos-as-
domesticas-no-brasil/
Fontes: ARRAES, Jarid. Heroínas negras brasileiras: em 15 cordéis. 1° ed. São Paulo: Se-
guinte, 2020. p. 83.
https://www.geledes.org.br/laudelina-campos-de-melo-heroina-negra-que-lutou-para-garantir-
direitos-as-domesticas-no-brasil/
Sugestão: utilizar o documentário “Laudelina: Lutas e Conquistas” (2015) para contar a história da
personagem. O professor pode fazer um debate sobre o fato do trabalho doméstico ser feito majori-
tariamente por mulheres negras, fazendo um paralelo com a desigualdade social e racial dessas mu-
lheres.
Link do Youtube: https://www.youtube.com/watch?v=JYL2Ki8ItGg&t=81s
3° Série do Ensino Médio
Rosa Parks
https://www.anf.org.br/rosa-parks-ativista-na-luta-contra-a-segregacao-racial-mae-do-movimento-dos-direitos-
civis-eua/
Rosa Parks (1913-2005) foi ativista do movimento dos direitos civis dos negros nos Estados
Unidos. No dia 1 de dezembro de 1955, Rosa entrou para a história após se negar a ceder a
um branco o seu assento em um ônibus em Montgomery, no Alabama.
Na cidade de Montgomery, capital do Estado de Alabama no Sul dos Estados Unidos, por
lei, existia uma lei que destinava os primeiros assentos dos ônibus aos passageiros bran-
cos.
No dia 1 de dezembro de 1955, quando Rosa voltava do trabalho, tomou um desses ônibus
e sentou-se em um dos assentos localizados no meio do coletivo. Quando alguns brancos
entraram no ônibus e ficaram em pé, o motorista exigiu que Rosa e outros três negros se
levantassem para dar o lugar aos brancos. Enquanto os outros três se levantaram, Rosa se
negou a cumprir a ordem e permaneceu sentada.
A polícia foi chamada e Rosa Parks foi detida e levada para a prisão por violar a lei de se-
gregação do código da cidade de Montgomery. No dia seguinte, Rosa foi solta depois que
teve a fiança paga por Edgar Nixon, presidente da NAACP e por seu amigo Clifford Durr.
A prisão de Rosa Parks gerou uma onda de protestos na cidade pressionando a Suprema
Corte a declarar que a leis de segregação eram inconstitucionais. Foi o primeiro movimento
contra a segregação que saiu vitorioso em solo norte-americano.
Fonte:https://www.geledes.org.br/em-1-de-dezembro-de-1955-a-americana-rosa-parks-
venceu-o-racismo-e-entrou-para-a-historia/?
namp=available&gclid=CjwKCAjw64eJBhAGEiwABr9o2G4va5aYP4HVOamgNQmf3EnOc_
Gnz1PHPv_fy1TQKGojQXMD3DoAhBoCrE8QAvD_BwE
Sugestão: utilizar o vídeo “Rosa Parks: a mulher que fez história ao se recusar a ceder lu-
gar a um branco nos EUA “ e discutir as leis segregacionistas.
Link do Youtube: https://www.youtube.com/watch?v=wr4p3u4Ynb8&t=37s
3° Série do Ensino Médio
Angela Davis
https://blogdaboitempo.com.br/2019/07/03/angela-davis-carta-aberta-ao-partido-comunista/
Fonte: DAVIS, Angela. Educação e libertação: A Perspectiva das Mulheres Negra. Boitem-
po, 1981.
https://www.conectas.org/noticias/amanhecer-por-marielle-e-anderson/
Marielle se formou pela PUC-Rio, e fez mestrado em Administração Pública pela Universi-
dade Federal Fluminense (UFF). Sua dissertação teve como tema: “UPP: a redução da fa-
vela a três letras”.
Aos 19 anos, se tornou mãe de uma menina. Isso a ajudou a se constituir como lutadora
pelos direitos das mulheres e debater esse tema nas favelas.
Foi eleita Vereadora da Câmara do Rio de Janeiro, com 46.502 votos e também foi Presi-
dente da Comissão da Mulher da Câmara dos Vereadores. Marielle era conhecida pelo
combate às milícias na cidade do Rio de Janeiro e pela luta a favor dos Direitos Humanos.
No dia 14/03/2018 foi assassinada em um atentado ao carro onde estava.13 Tiros atingi-
ram o veículo, matando também o motorista Anderson Pedro Gomes.
Fonte:https://www.institutomariellefranco.org/quem-e-marielle
gclid=CjwKCAiAwKyNBhBfEiwA_mrUMrYUw1o0gDMTMn4qAFlvASsH99GisQUWiPbPvd4
XUTa1vUGthqBEhoCNgEQAvD_BwE
Sugestão: discutir com os alunos o que são os Direitos Humanos e de que forma eles fo-
ram violados quando Marielle Franco foi assassinada.