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AS HISTÓRIAS DE SEU LUNGA,

O HOMEM MAIS ZANGADO DO MUNDO

Autor: Abraão Batista

Inspirai-me mão divina


na minha interpretação
para fazer desses versos
momentos de satisfação
no decorrer da história
durante a explicação.

Eu paro, medito antes


chamando do meu leitor
a atenção necessária
para entender o autor
ao escrever cada verso
seu significado e valor.

Desde menino escuto


cantadas de boca em bocas
as histórias de Seu Lunga
engraçadas e muito loucas
pois me deixam abismado
tantas vezes e não poucas.

Seu Lunga desta história


é um homem respeitado
tem uma loja que vende
ferro velho, enjeitado
sucatas e parafusos
e tudo que foi usado.

É um homem que conhece


a sua própria função
vive estabelecido
casado por convicção
tem filhos já bem formados
e seguem a religião.

Vive muito bem de vida


na classe média ajustado
tem sitio, casa na rua,
dinheiro seu, emprestado
com bom crédito no banco
e amigo no mercado.

Seu Lunga, tem mais ainda:


do povo a admiração
buscando suas histórias
junta-se até multidão
pra ouvir, dele, notícia
com boa interpretação
Nos bares, lá se escuta
de Seu Lunga o passado
nas igrejas, aos domingos
ele é muito comentado
nos clubes da redondeza
é Seu Lunga relembrado.

Todo mundo quer ouvir


de Seu Lunga a lição
outros até procuram
na rua, ou no salão
a última de Seu Lunga
com a sua malcriação.

Acontece que Seu Lunga


é inimigo da burrice
de perguntas idiotas
gente besta e tolice,
por isso ele se zanga
com qualquer idiotice.

Talvez o Seu Lunga tenha


um juízo elevado
uma cuca inteligente
de pensamento aprumado
nesse caso ele se zanga
com perguntas de alezado.

Outro dia ele disse


que não gosta de ouvir
as histórias sobre ele
que fazem o povo sorrir;
pra história eu escrevo
por você tanto insistir.

Seu Lunga, eu acredito


é homem de realidade,
muito manso e concreto
na sua própria cidade
sua história aprovo,
fica na eternidade.

A sua vida passou-se


pro próprio anedotário
toda cidade o conhece
como homem imaginário
embora de carne e osso
é conto e inventário.

Agora vou começar


contando a malcriação
as respostas de Seu Lunga
com a mais rara visão
de responder desaforos
ou qualquer intromissão.

Se você o observar
dele, aprende direito
obtendo de Seu Lunga
um diferente conceito:
sendo assim abra o juízo
e tenha dele o respeito.

Certo dia num restaurante


Seu Lunga pediu uma sopa
o garçom muito educado
curvou-se, tirou a touca:
" quer a sopa num prato fundo,
num raso é sopa poca "

Seu Lunga ouvindo a frase


falou alto tal um trovão
dizendo para o garçom:
"ponha a sopa no chão
traga ela com o rodo
no supapo e empurrão!"

O garçom ficou sem graça


pois erro não cometeu
Seu Lunga se levantou
e a tal sopa não bebeu
saiu do jeito que entrou
e dali desapareceu.

Numa noite, já sem sono;


uma muriçoca a zumbir
nos ouvidos de Seu Lunga
que não podia mais dormir
virava prum canto e outro
sem a bicha querer sumir.

Depois de perder o sono


um bote Seu Lunga armou
na rapidez de um gavião
a tal muriçoca pegou
acendeu a luz do quarto
e para o inseto gritou:

Muriçoca filha da égua


você agora vai ver
se é bom fazer zoada
pra ninguém adormecer;
e gritou pra muriçoca
até o dia amanhecer!
Outro dia em sua casa
com a mulher em gravidez
numa noite sonolenta
Seu Lunga foi incortez
respondendo pra amada,
veja bem o que ele fez:

A mulher toda em dores


disse para o marido:
está me dando uma coisa!
Lunga, meu bem querido!
Seu Lunga disse: receba;
e tapou o seu ouvido

A mulher sem agüentar


já que a dor continuou:
- Lunga a coisa é ruim, .
agora foi que aumentou!
Seu Lunga: então devolva!
E pro outro lado virou...

Seu Lunga como costume,


assistia televisão;
a mulher passava roupa
com ferro quente, à carvão
por acidente, uma brasa
caiu do ferro no chão.

Do chão a brasa ardente


na queda, ela rolou
pra o dedo de Seu Lunga
que nem se movimentou
enquanto que a mulher
para o Seu Lunga falou:

" Marido olhe a brasa


bem em cima do seu dedo!"
Seu Lunga olhou pra ela
com cara de meter medo:
- você derrubou a brasa
tire a brasa em segredo.

Seu Lunga em outro dia


foi ao açougue comprar
uma cabeça de porco
para a mulher cozinhar
querendo com essa compra
uma data comemorar.

A cabeça do dito porco


para a mulher entregou
ela, delicadamente
pra Seu Lunga perguntou:
é pra cozinhar meu filho?
Depressa ele emendou:

- Não! O bicho é pra criar!


Jogou a cabeça no chão
resmungando - cuche, cuche,
estalando o dedo da mão
como se chamasse o porco
para comer sua ração.

A mulher se retirou
mesmo já acostumada
com as zangas do marido
ela estava conformada
mas, ser grosso desse jeito
é ter vida enrascada.

Dois garotos inventaram


tentar Seu Lunga, outro dia
e na loja de Seu Lunga
como quem o conhecia
um deles disse: Seu Lunga
me empreste essa quantia:

Puxou do bolso um papel


que tinha escrito o valor
de cem cruzeiros em dinheiro
mas o outro no corredor
fazia sinal com o dedo
dizendo : não senhor! Não senhor!

Seu Lunga vendo o menino


com o dedo a balançar
gritou zangado: empresto!
Não venha me atrapalhar
o dinheiro a mim pertence
não me queira contrariar!

Os dois meninos saíram


com o dinheiro na mão...
Não sei se eles voltaram
para pagá-lo, ou então
passaram xexo no Lunga
como era a intenção.

A mulher de Seu Lunga


tinha um relógio de ouro
ajeitando o dito cujo
deu, no mesmo, um estouro
pra ela foi a desgraça
com prenúncio de agouro.
- Lunga! o meu relógio
com a queda ele parou!
Lunga então sem meditar
pra sua mulher invocou:
"queria que ele andasse?
" E zangado se retirou .

É notável como Seu Lunga


responde a quem perguntar;
nas ruas o anedotário
faz histórias de admirar
Seu Lunga é alegria
de quem puder o lembrar.

Certo dia ele estava


no seu jipe à dirigir;
seu filho acompanhava
e começou a insistir:
passe a marcha, papai
o carro está a pedir.

Seu Lunga olhou sizudo,


para o filho respondeu:
- espero que ele fale!
E como nada aconteceu
então o carro estancou
e a viagem interrompeu.

Certo dia no mesmo carro


o peneu, dele, furou
Seu Lunga, sem o macaco
bem na estrada parou,
ao dono duma bodega
sua situação informou.

Por isso, seu bodegueiro


eu lhe peço emprestado
um macaco para eu trocar
o peneu que está furado
se não vou terminar sendo
nessa estrada assaltado.

Não tenho (disse o matuto)


mas naquela casa acolá
seu João tem um macaco
e ele pode emprestar,
pode ir sem ter receio
que ele não vai lhe faltar.

Seu Lunga bateu na porta


com todo seu vozeirão
bateu duas, três vezes
e de dentro, um cidadão
gritou meio zangado
pensando ser um ladrão.

Quem bate na minha porta


já nessa hora de dormir?
Vá dizendo o seu nome
ou de minha casa sumir
se não disser você quem é
vai chumbo grosso engolir.

Seu Lunga alterou a voz


antes da explicação
gritou mais alto ainda
como o próprio furacão:
meta o seu macaco "naquilo"
matuto sem educação!

Pra Fortaleza, Seu Lunga


certo dia telefonou
mas a dita secretária
com frases curtas indagou:
o seu nome? O que deseja?
E Seu Lunga explicou:

Seu Lunga, de Juazeiro,


com Carlos Cruz quero falar
diga a ele que estou aqui
e não posso o esperar
a secretária disse: pois não
e o deputado foi chamar.

Noutra sala o Deputado


estava em reunião
resultado: Seu Lunga teve
de esperar todo tempão
quando o deputado veio
veja a má situação:

Seu Lunga se refazia


um pouco desesperado
por estar ao telefone
há muito dependurado
naquela espera toda
tornou-se mal humorado.

O deputado ao telefone
ao Seu Lunga perguntou:
- com quem falo? É Juazeiro?
mas Seu Lunga só escutou:
" quem fala? Respondeu: nós dois "
Bem depressa arrematou.
Enraivecido, Seu Lunga
o seu telefone bateu
que quase quebra o gancho
e nunca mais sucedeu
Seu Lunga telefonar
para aquele amigo seu...

Em um dia de domingo
ele jogava sinuca
com um terno todo branco
era uma cousa maluca
tão branco que a brancura
resplandecia na nuca.

Mas, Seu Lunga, no jogo


há muito tempo perdia
partida após partida
nenhuma só ele via
até que um conhecido
admirado dele sorria.

De Seu Lunga, o conhecido


vagaroso se aproximou
pra Seu Lunga, indiscreto
o tal conhecido falou:
" é branca a sua roupa? "
E Seu Lunga continuou:

- Não é Branca! É azul!


Pegou um giz azulado
saiu riscando a roupa
como um desesperado
até que o terno ficou
da cor azul bem tocado...

Por trem ele voltava


dos negócios da capital
um amigo, na estação
perguntou sem querer mal:
" Seu Lunga, vem chegando?
Como vai nosso litoral? "

Seu Lunga: não venho chegando


vou partindo! E se sentou
na poltrona que chegava
e para o Crato embarcou
o amigo que o saudava
de boca aberta ficou.

Numa das idas ao sítio


de sua chave esqueceu
a do portão principal
veja o que aconteceu:
deixou o carro na estrada
e voltar à pé resolveu.

Voltou à pé pra cidade


debaixo do sol ardente
o povo que encontrava
ficava muito contente
de ver Seu Lunga de perto
no meio de sua gente.

Em certo ponto um amigo


de carro o alcançou
pra Seu Lunga, o transporte
até à cidade falou
mas Seu Lunga, teimoso
a tal carona recusou

Seu Lunga disse: vou à pé;


obrigado por oferecer;
com a minha caminhada
eu quero estabelecer:
nunca mais daquela chave
eu possa me esquecer!

Numa noite ele dormia


quando a filha chorava
sua mulher cansativa
por ele, ela chamava
pra atender a filhinha
e ver se ela acalmava.

Enquanto mais chamava


é que Seu Lunga dormia
com horrível dor de lado
a pobre mulher sofria
e acalentar a menina
é o que ninguém queria.

- "A menina é nossa filha


você deve reconhecer
a metade dela é sua
desde antes de nascer
eu preciso dormir logo
bem antes do amanhecer ".

Seu Lunga abriu os olhos


e falou meio zangado:
" acalente a sua parte,
deixe a minha de lado
chorar até amanhecer
para tirar o enfado ",

Ele foi ao restaurante


pra comer uma feijoada
e no meio dos amigos
uma voz meio enjoada
disse: chute o feijão!
Veja cousa engraçada:

Seu Lunga sem ser rogado


depressa se levantou
subiu na mesa dum pulo
aquela travessa chutou
pois não ficou um feijão
que na sala não espalhou.

Resultado: os amigos
com ele ali presentes
uns ficaram aborrecidos
outros, muito contentes
já sabiam do Seu Lunga
as saídas irreverentes.

Em um dia de domingo
ele foi a lanchonete
levando toda a família
que queria tomar sorvete
lá, Seu Lunga foi pedindo
coca-cola, pra garçonete.

Garçonete: " pois não Seu Lunga "


com muita delicadeza
perguntou para o freguês
por ter muita gente à mesa:
- tamanho família, a coca?
Pra Seu Lunga foi surpresa.

Infelizmente, o herói
só uma palavra ouviu;
respondeu pra garçonete
que na redondeza zimbiu:
- "tudo aqui é rapariga!"
Em seguida escapuliu.

No bar a garçonete
ficou toda em emoção
se tinha o maltratado
não foi a sua intenção
só sei que Seu Lunga foi
bem pra longe do salão.

Seu Lunga ia no carro


quando um guarda o parou:
- mostre a carta, Seu Lunga
"ele", depressa: não vou!
Não prometi lhe escrever
nem com vontade estou!

Em São Paulo, soube então


dessa história, um paulista
veio de lá de avião
para conferir a lista
procurou logo Seu Lunga
ainda sobre a pista.

O paulistano queria ver


se Seu Lunga era verdade
foi à loja investigar
sobre a notoriedade
dos objetos expostos
e sua propriedade.

Insistia em perguntar
sobre os objetos que tinha:
- que é isso? Que é aquilo?
Mas a resposta só vinha
correta e educada
branda, macia e na linha.

O paulista foi ficando


meio desorientado
porque veio de tão longe...
Pra ficar assim frustrado
ou era mentira minha
ou ele tinha mudado.

Em um canto despresado
tinha uma ratoeira
muito bem feita e ornada
por baixo da pratileira
o paulistano perguntou:
isto é uma chaleira?

Seu Lunga lhe respondeu


sem muito fazer rogado
- isso aqui é objeto
muito bem elaborado
o seu funcionamento é
como está bem anotado.

Pegue um pouco de queijo


meta ele no "feofó "
arme esse tal objeto
sem parafuso e sem nó
prenda então uma esposa
bem no centro do mocotó.

Espere a meia-noite
quando o rato chegar
e ele morder o queijo
essa é a hora de enfiar
a espora com rato e tudo
até o sangue espirrar.

O paulistano aí ficou
sem puder se controlar
cem por cento aborrecido
por não a Lunga revidar
já que veio de bem longe
para se desmoralizar.

Voltou ele pra São Paulo


não sei onde se meteu
mas, a história foi certa
e se não a compreendeu
vá perguntar ao Seu Lunga
pra ver o que aconteceu.

Num feriado, Seu Lunga


na bebida se excedeu
chegou em casa manhoso
que a mulher desconheceu
falando para a mulher
como se fosse um Romeu.

A mulher disse: Seu Lunga


é melhor se aquietar
você nunca foi assim
por isso vá se ajeitar
tome café amargoso
e vá para cama deitar.

Enquanto novo você


nunca foi assim dengoso
Seu Lunga: você não sabe
que eu sempre fui famoso...
No negócio de sucata
eu tornei-me talentoso!

Daí pra frente, não conto


por causa da educação
no amor sou exclusivo
gosto da privatização
aliás não há quem goste
de muita divulgação...

Num Domingo ele ia


para o açude pescar
com isca, vara e anzol
sem a ninguém participar
na calçada de sua casa
um amigo quis perguntar:
Vai pescar meu caro Lunga?
Ele disse então: eu ía!
Quebrou a vara de pesca
enquanto o outro via
entrou em casa zangado
e não saiu naquele dia.

Certo Sábado, no mercado


Seu Lunga foi procurar
milho e feijão dos roçados
pois gostava de comprar
da safra e da fartura
de quem sabe trabalhar.

Diante do milharal
que trazia um caminhão
Seu Lunga admirou-se
da enorme produção
vista na agricultura
da cidade e região.

Com o chapéu na cabeça


a sua cabeça coçou
enquanto um curioso
depressa se aproximou
sem fazer cerimônia
a Seu Lunga perguntou:

Como se coça a cabeça


sem o chapéu retirar?
Seu Lunga disse: e você
pode então se lembrar
se já tirou sua calça
quando "aquilo" foi cocar?!

Em casa Seu Lunga ouvia


pelo rádio, uma canção
sua esposa ouvindo
ficou cheia de emoção
e falou para o marido:
alteia o rádio, coração!

Sem dar uma só palavra ,


Seu Lunga se levantou
no quintal, uma escada
com grande calma apanhou
o rádio que se ouvia
sobre o telhado botou.

Ao médico Seu Lunga foi


com uma perna doente
o médico disse: Seu Lunga
faço você consciente
que isto é um mal da idade
comum para toda gente.

Seu Lunga: não acredito


nessa sua afirmação:
com a mesma idade
a outra está em ação
por isso faça o favor
de me dar outra razão.

Uma filha de Seu Lunga


a casa estava encerando
quando Seu Lunga chegou
a filha foi lhe falando:
não passe aqui papai
que eu estou trabalhando!

Entre por nossa janela


para não manchar o chão
desejo o piso brilhando
para uma recepção
que vou fazer aos colegas
na próxima reunião.

Sem dizer uma palavra


para a filha ele olhou
tirou o chapei de massa
e a cabeça coçou
daquele seu ambiente
Seu Lunga se retirou.

Com uns quinze minutos


ele trouxe um pedreiro
ordenou pro dito cujo:
-me faça tudo ligeiro
faça da janela, porta
como eu disse primeiro.

Virou-se pra filha dele


dizendo: preste atenção
o dono da casa sou eu
não aceito reclamação
a porta agora é janela
a janela é o portão!

De Crato pro Juazeiro


um dia ele voltava
quando um certo transeunte
que pelo ônibus esperava
deu sinal para Seu Lunga
que por ele ali passava.
Seu Lunga parou o carro
e a porta ele abriu
o transeunte entrou
e o carro então seguiu
com o transeunte falando
mas Seu Lunga nem o ouviu.

Chegando a Juazeiro
Seu Lunga então parou
o transeunte disse obrigado
mas Seu Lunga cobrou
a passagem pro transeunte
mas o dito não aceitou.

A conversa foi engrossando


sem nenhuma decisão
Seu Lunga: entre no carro
o transeunte: pois não
no caso dessa carona
veja logo a solução:

Sem dar mais uma palavra


seu Lunga deu marcha-à-ré
foi deixar o transeunte
onde ele estava em pé
no local onde encontrou...
De resto, pense o que é.

No inverno a sua casa


Seu Lunga quis retelhar
por causa dumas goteiras
também para economizar
e o povo ía passando
começava a observar.

Com um tempo, teve um


que foi mais atrevido
gritando para Seu Lunga
pois era seu conhecido:
concertando as goteiras
ai em cima, esquecido?

Mais que depressa, Seu Lunga


ao intruso respondeu:
estou quebrando as telhas
você não reconheceu?!
Derrubou centenas delas
foi o que aconteceu.

A esposa apavorada
pediu pra ele acalmar
enquanto que um pedreiro
depressa mandou chamar
para as goteiras do Lunga
poder então consertar.

Noutro dia, um cara foi


atrás de certo parafuso
perguntou se ele tinha
com jeito meio confuso
pois a peça que procurava
estava fora de uso.

Seu Lunga trouxe uma caixa


depois um grande caixão
à procura do parafuso
botou tudo pelo chão
mas, finalmente encontrou
o que queria o cidadão.

O freguês pegou a peça


perguntou então o preço;
Seu Lunga disse o valor
o freguês: eu não mereço!
O parafuso é muito caro
isso lhe estabeleço.

Seu Lunga sem dar ouvidos


o parafuso tomou
no meio do ferro velho
aquela peça jogou
tudo que tinha à mostra
num só repente guardou.

Noutro dia ía saindo


da loja meio apressado
com sandália currulepo
substituindo o calçado
mas um ferro do batente
tornou Seu Lunga zangado.

Seu Lunga naquele ferro


distraidamente topou
da topada que foi grande
do dedo o sangue espirrou
quem estava ali por perto
do pobre Lunga zombou.

Seu Lunga olhou de lado


diante da situação
com o dedo machucado
sem mais manter a razão
começou a chutar o ferro
que o sangue cobriu o chão.

Enquanto chutava o ferro


o nosso Lunga dizia:
toma dedo miserável,
não é o que você queria?
Chutou tanto o ferro duro
que lhe deu uma agonia.

Dizem que Seu Lunga tem


aquele dedo aleijado
se é verdade eu não sei
mas, disso fui informado
por mais de duas pessoas
de crédito bom no mercado. .

Estudante e burro brabo


são coisas que não dão certo
por isso vou lhe contar
outro caso bem aberto
dos estudantes com Seu Lunga
em um caso bem esperto

No carro de Seu Lunga


uma carona pediram
mas no meio do caminho
todos eles insistiram
que Seu Lunga lhes contasse
o que eles então ouviram.

- É verdade ó Seu Lunga


que o seu carro virou?
Como foi que aconteceu
e da virada escapou?
Seu Lunga muito calado
nem para eles olhou.

Os estudantes insistiram
pendendo para anarquia
- como foi sua virada?!
Enquanto nada se ouvia
devido a algazarra
daquela grande alegria.

Seu Lunga parou o carro


e gritou: foi mesmo assim!
Desceu para o calçamento
e a coisa foi tão ruim
que ainda hoje, estudante
corre para não ter fim.

Seu Lunga desceu do carro


e o carro tentou virar
balançando o bicho todo
com os estudantes a gritar
dizendo corre negrada
que Seu Lunga vai nos matar!

Seu Lunga tem no seu íntimo


uma especial criatura
quando é visto de perto
é uma simples figura
dessas que só existem
enriquecendo a natura.

Um freguês foi ao Seu Lunga


por ser dia comercial
comprar uns tipos de canos,
por não encontrar um igual
chamou Seu Lunga e falou
pra comprar os canos e tal.

- Eu quero um cano assim,


o outro daquele jeito:
portanto, o nosso Lunga
trouxe tudo direito
depositou no balcão
sempre muito satisfeito.

Só sei que a compra toda


era mais de um milhão
com cano de toda forma
por cima do seu balcão
mas, Seu Lunga só esperava
pela última decisão...

O freguês disse: Seu Lunga


me dê aí um cigarro
aqui nesse meu bolso
não tem nem para o sarro
Seu Lunga lhe ofereceu
tossinho com o pigarro.

Novamente o freguês
pelos bolsos procurou
um fósforo ou um isqueiro
mas nada ele encontrou
- Seu Lunga, me dê um fósforo
prontamente ele entregou.

O freguês então fumava


o cigarro, satisfeito
com a calma de um monge
Seu Lunga muito direito
chamou seu empregado
mas veja o que foi feito.

Seu Lunga: leve esses canos


lá pra dentro do sótão
não me deixe aqui nenhum
depois limpe esse chão
o freguês vendo aquilo
quase fica sem ação.

O freguês: que é isso Lunga


que você está fazendo?
Retirando minhas compras
não vê que estou querendo?
Por favor traga de novo,
acaso não está vendo?

Seu Lunga: claro que vejo


mas não posso compreender
se não tem para o cigarro
não pode me convencer
que o senhor não pode comprar
o que veio tanto escolher...

O freguês saiu aos pulos


escumando e enrraivecido
Seu Lunga ficou na loja
muito bem estabelecido
o freguês foi na farmácia
tomar lá, um comprimido.

A grande velocidade
no seu carro ele seguia
quando um guarda do trânsito
que de longe o percebia
deu sinal para parar
usando de cortesia.

O senhor não vê as placas


com a nova orientação?
Correr a mais de 80
pode até dar em prisão...
O trânsito não pede muito: segurança e educação.

SL: - Se o que diz todas as placas


fosse então obedecer
eu já era um defunto
sem ninguém me socorrer
só de cana e coca-cola
eu não podia me conter!

O guarda olhou para ele


com vontade de sorrir
se passou multa, não sei
mas Seu Lunga deixou seguir
como exemplo competente
de quem não sabe se corrigir.
Um amigo de Seu Lunga
foi na sua loja pedir
para pesar uns parafusos
na vontade de conferir
mas, não esperou pelo sim
começando logo a seguir.

Seu Lunga como soldado


no braço dele pegou
dizendo: você não pediu
por que não se adiantou?
Por não falar, o cliente
seus parafusos não pesou.

Numa festa educada


ele estava presente
quando um velho amigo
perguntou-lhe de repente:
esse sapato bico fino
é para festa déscente?

Seu Lunga disse: é não !


É pra baratas matar
perdendo o seu conceito
começou a chutar
os buracos da parede
que podia encontrar.

Da teleceará um freguês
chegou na loja cansado
pedindo um parafuso
para a torre; excitado:
" traga a torre " disse Lunga,
que o cara ficou zangado.

Por respostas como essas


o leitor deve entender
a natureza de Seu Lunga
para se dar outro saber:
Seu Lunga é uma pessoa
que se deve reconhecer.

Nem eu, nem ele, sabemos


o porque da sua ação,
se zanga com quem não sabe;
faço uma indagação:
talvez seja porque sofreu
da vida uma decepção.

Seu Lunga diz pros amigos


que é cara positivo
não aceita conversa tola
gente besta de arquivo
" pergunta cara de vaca "
que não tem dispositivo.

Você ouvindo Seu Lunga


tem outra concepção
dos motivos das zangas
das respostas de supetão
vai ver que ele é maestro
e disso não faz questão.

Seu Lunga ainda é


um poeta de valor
só não sei se sua voz
é de soprano ou de tenor
portanto sabe das coisas
comparadas a um doutor.

Talvez o leitor agora


entenda a situação
do porque de seu Lunga
ter respostas de explosão
analizando a origem
tirando sua conclusão.

Fica agora Seu Lunga


no verso imortalizado
para mim, ele merece
com todo seu fraseado
portanto deixo aqui
o seu nome relembrado.

Assim, parte das histórias


encerro nessa sugestão:
quando encontrar Seu Lunga
puxe para meditação
para não fazer perguntas
com pouca iluminação.

Para você confirmar


se eu falei a verdade
vá na loja de Seu Lunga
comprar uma raridade
não se faça de idiota
na minha bela cidade.

Endereço do autor para pedidos dos seus folhetos:

ABRAÃO BATISTA
Av. Azarias Sobreira, 368
Telefone: (0xx88) 3572 0658 e 88 9271 1078
Caixa Postal 204 - CEP 63031-200
Juazeiro do Norte - Ceará - Brasil
e-mail: artesaospadrecicero@ig.com.br

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