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Publicacao Premio Educacao Infantil
Publicacao Premio Educacao Infantil
Educação
Infantil
Análise de
práticas
pedagógicas
alinhadas à
Base Nacional
Comum
Curricular
PRÊMIO EDUCAÇÃO INFANTIL: ANÁLISE DE PRÁTICAS PEDAGÓGICAS
ALINHADAS À BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO
A Fundação Maria Cecilia Souto Vi- ticas desses profissionais colaboram e
digal tem mais de 50 anos de histó- instigam para que a sociedade com-
ria. Desde 2007, elegemos a primeira preenda o significado e a relevância
infância como a nossa causa. Agimos da Educação Infantil.
para transformar a vida das crianças do E por que a escolha do professor?
nascimento até os seis anos, principal- Esses profissionais são corresponsá-
mente as mais vulneráveis, abrindo ca- veis pelo êxito de uma política públi-
minho para um futuro com mais pers- ca nacional, uma vez que têm alto grau
pectivas e um país com mais equidade. de adaptabilidade e discricionariedade
Com a chegada da pandemia cau- advinda, dentre outros fatores, do con-
sada pelo novo coronavírus (Co- tato próximo com a realidade e o co-
vid-19), alguns obstáculos foram im- tidiano das crianças e famílias. É por
postos no nosso campo de atuação. meio da prática do professor que con-
A Educação Infantil foi uma das áre- seguimos tornar tangíveis os princí-
as mais impactadas, desafiando pais pios e concepções da Educação Infan-
e cuidadores a coordenarem e parti- til presentes na Base Nacional Comum
ciparem mais ativamente da aprendi- Curricular (BNCC), bem como em ou-
zagem das crianças. Esse cenário re- tros referenciais da área.
forçou a importância da figura das Assim, acreditamos que a premia- to uma oportunidade de, ao mesmo para conseguir manter o vínculo e a
professoras e professores, imprescin- ção é um importante instrumento pa- tempo, apoiar, valorizar e reconhecer aprendizagem ativos.
díveis para o desenvolvimento das ra reconhecer e apoiar o aprimora- o trabalho de professores do país in- Nosso desejo é que esses vínculos
crianças de creches e pré-escolas. mento de conhecimentos e práticas teiro, bem como fortalecer a rede de se mantenham e se ampliem como
Foi nesse contexto que surgiu o dos professores que estão sendo es- educadores. exemplos de boas práticas na Educa-
“Prêmio Educação Infantil: boas práti- senciais para a continuidade das ativi- Agradecemos a cooperação dos ção Infantil. E que este material sirva
cas de professores durante a pande- dades com crianças e famílias durante parceiros e o apoio técnico da pon- de inspiração e ferramenta para ou-
mia”, como uma forma de identificar a pandemia da Covid-19. teAponte e do Instituto Singularida- tros professores e gestores públicos
e divulgar as práticas inovadoras das Em nome da Fundação, é um imen- des, sem os quais não conseguiríamos na promoção do desenvolvimento na
professoras e professores de creches so orgulho ser parte da idealização acessar as diferentes regiões do país, primeira infância.
e pré-escolas. Com o apoio da União do Prêmio Educação Infantil. Quan- capturar tantas inovações e, sobretu-
Nacional dos Dirigentes Municipais de do ainda pensávamos em como con- do, a profunda força de vontade das Mariana Luz
Educação (Undime) e do Itaú Social, tribuir num momento tão difícil para 600 práticas válidas inscritas no Prê- CEO
acreditamos que as histórias e as prá- o mundo, encontramos nesse proje- mio que cada professor pode aplicar Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal
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Prêmio
Educação
Infantil
INTRODUÇÃO
EDUCAÇÃO INFANTIL DE QUALIDADE:
DIREITO DE TODA CRIANÇA
Todas as crianças têm direito à proteção, ao
cuidado e ao acesso a oportunidades educativas
que potencializem sua formação e aprendizagem.
A atenção do Estado e da família deve ser ainda
maior nos seis primeiros anos de vida, que são cru-
ciais para o desenvolvimento humano. Por isso,
investir em políticas públicas voltadas para a infân-
cia é ampliar as possibilidades de construção de
uma sociedade melhor no futuro.
Evidências científicas nacionais e internacionais
comprovam que o acesso à Educação Infantil de
qualidade traz inúmeros benefícios sociais, contri-
buindo para a melhoria da saúde física e emocio-
nal, além de influenciar positivamente a trajetória
escolar e a inserção no mercado de trabalho e de
contribuir para que os ciclos da pobreza e da vul-
nerabilidade social possam ser superados.
No estudo Intergenerational and Intragene-
rational Externalities of the Perry Preschool Pro-
ject (HECKMAN; KARAPAKULA, 2019), pesquisa-
dores da Universidade de Chicago demonstraram
que crianças que frequentam a pré-escola têm, no
futuro, menores chances de reprovação nos ensinos
fundamental e médio, apresentam níveis mais altos
de escolarização, maiores taxas de empregabili-
dade e baixa probabilidade de cometerem crimes,
quando comparadas ao grupo de controle que não
teve acesso à essa etapa da educação.
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Prêmio
Educação
Infantil
entre a população de zero a três anos foi de apenas
37,0%, e de 94,1% de quatro a cinco anos (TODOS
PELA EDUCAÇÃO, 2021).
Aspectos como renda, raça e local onde se vive
são fatores que influenciam o acesso na Educação
Infantil. Em 2019, pouco mais da metade (54,3%) das
crianças das famílias mais ricas estavam na creche,
enquanto, entre as mais pobres, esse percentual era
de apenas 27,8%. Entre as zonas urbana e rural a
diferença foi de 19,6 p.p., e, entre brancos e pardos,
de 7,5 p.p. (TODOS PELA EDUCAÇÃO, 2021).
Outro desafio a ser superado são os contrastes
nas condições e nas oportunidades de aprendiza-
gem oferecidas. Em 2020, somente 28% dos esta-
belecimentos educativos tinham biblioteca e 24%,
sala de leitura (QEdu). Já os parques infantis esta-
vam presentes em apenas 58,1% das creches; na
pré-escola, o cenário era pior, 45,6% (TODOS PELA
No Brasil, a Educação Infantil é um direito social de EDUCAÇÃO, 2021).
todas as crianças, previsto na Constituição Federal. No que se refere à formação dos profissionais,
Assegurá-lo é dever do Estado e da família. O Plano caiu o percentual de docentes que atuam na Educa-
Nacional de Educação (PNE), importante marco ins- ção Infantil e que não têm ensino superior; ainda, a
tituído pela Lei 13.005 de 2014, determina que até etapa segue com indicadores de formação mais bai-
2024 o país tenha, no mínimo, 50% da população de xos quando comparados aos de outras etapas da
zero a três anos matriculada na creche e 100% das educação. Em 2013, 35% dos professores1 que atua-
crianças de quatro e cinco anos, na pré-escola. vam em creches e pré-escolas não tinham diploma
A análise da série histórica de crianças matricula- (INEP, 2013). Em 2020, esse percentual diminuiu para
das na Educação Infantil mostra uma relevante evo- 17,9%. Há ainda diferenças entre as redes de ensino:
lução: entre 2012 e 2019, o percentual de crianças de na pública, esse percentual era de 13,4%, enquanto
zero a três anos na creche cresceu de 25,7% para nas instituições privadas esse valor mais que dobra,
37,0%, um incremento de mais de 10 pontos percen- alcançando 27,4% (INEP, 2020).
tuais (p.p.). Nesse mesmo período, a população de Apesar de esses dados revelarem o quanto o
quatro e cinco anos que frequentava a pré-escola país ainda precisa caminhar, é preciso reconhecer
passou de 85,0% para 94,1%. que passos importantes foram trilhados nas últimas
Em que pese os importantes avanços históricos décadas para o fortalecimento da Educação Infantil.
na Educação Infantil, alguns desafios ainda preci-
sam ser superados para que as metas do PNE sejam 1 Ao longo do texto é usado o genérico masculino, condizente
com a maioria das publicações originais sobre o tema. Ainda assim,
alcançadas. Dados do Anuário da Educação Básica
vale ressaltar que a categoria docente na educação básica é
de 2021 indicam que a frequência à Educação Infantil majoritariamente feminina, sobretudo na Educação Infantil.
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Prêmio
Educação
Infantil
Nesse período ocorreram avanços na ampliação do que possam se materializar em políticas públicas
financiamento, nos marcos legais e na avaliação. efetivas. Nesse sentido, o sucesso desse processo
Em 2007, com o Fundo de Manutenção e Desen- exige, entre outras ações, o investimento em reco-
volvimento da Educação Básica (Fundeb), as matrí- nhecimento e formação de educadores, assisten-
culas nas creches e nas pré-escolas passaram a ser tes sociais e profissionais da saúde que opera-
financiadas de modo sistemático, o que permitiu a cionalizam e tornam palpáveis as políticas volta-
ampliação do acesso. Em 2020, outra vitória: o Con- das à primeira infância. Apoiá-los é condição sine
gresso Nacional aprovou a emenda constitucional qua non para assegurar o direito à proteção e ao
que tornou o Fundeb uma política permanente. desenvolvimento de todas as crianças, em especial
A promulgação do Marco Legal da Primeira no contexto atual, em que a pandemia de Covid-
Infância, instituído pela Lei 13.257 de 2016, foi outro 19 ampliou ainda mais as desigualdades existentes.
importante avanço recente. O texto estabelece prin-
cípios e diretrizes para a formulação e a implemen-
tação de políticas públicas para a primeira infân-
cia, reconhecendo a especificidade e a relevância
dos primeiros anos de vida para o desenvolvimento
humano. Essa legislação reitera a importância de
o governo, a família e a sociedade assegurarem,
entre outros aspectos, a inclusão das necessida-
des das crianças na formulação de políticas públi-
cas; a garantia do direito de brincar; a ampliação da
licença paternidade; e o estabelecimento de direi-
tos e deveres iguais a mães, pais e responsáveis.
Também merece destaque a homologação das
Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educa-
ção Infantil (DCNEI) em 2009 e da Base Nacional
Comum Curricular (BNCC) em 2017, ambos docu-
mentos orientadores para o trabalho dos profis-
sionais da Educação Básica e preconizadores de
elementos primordiais para o desenvolvimento
integral, participativo e centrado da criança e do
aluno. Trata-se, portanto, de importantes instru-
mentos para o trabalho de gestores públicos, for-
madores e educadores.
Sem dúvida, a aprovação do Marco Legal da Pri-
meira Infância e da BNCC, assim como a amplia-
ção do Fundeb, são esforços que merecem ser
enaltecidos. Porém, o Brasil tem pela frente o
desafio de ampliar e aperfeiçoar essas ações para
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Prêmio
Educação
Infantil
CONTEXTO
DA EDUCAÇÃO
I N FA N T I L N A
PA N DE M I A
EFEITOS DA PANDEMIA SOBRE AS FAMÍLIAS desemprego, da informalidade e do crescimento de
E O DESENVOLVIMENTO INFANTIL casos e de óbitos decorrentes da Covid-19.
O mundo não é mais o mesmo desde o final As relações entre responsáveis e crianças foram
de 2019, quando surgiram os primeiros casos de abaladas pelos níveis de estresse enfrentados com
contágio da Covid-19. Com a rápida evolução da a pandemia e as medidas de contenção do vírus,
pandemia, governos de diferentes países se viram como o fechamento das instituições educativas, as
obrigados a implementar amargas e necessárias demissões, o medo de ser infectado, as mortes de
políticas de distanciamento social, com o intuito de familiares e de pessoas próximas, a falta de recursos
evitar a contaminação e salvar vidas. sanitários para manter a higiene, entre outros.
A pandemia chegou ao Brasil em 2020, quando o Mesmo antes da pandemia, a Pesquisa de
país já enfrentava grave crise política, forte retração Orçamentos Familiares (POF) de 2017-2018 (IBGE,
econômica e descontinuidade de diversas políticas 2019) já indicava que quase 5% da população brasi-
públicas. Essa combinação explicitou e aprofundou leira voltou a conviver com a fome. O quadro de
as desigualdades, além de trazer novos desafios insegurança alimentar grave foi constatado em
para a efetivação dos direitos humanos, em especial 3,1 milhões de domicílios, nos quais residem 10,3
os de crianças de zero a seis anos. milhões de pessoas. Ainda segundo o estudo, nesse
Sem dúvida, a rotina das famílias foi alterada. contingente, 5,1% são crianças de zero a quatro anos
Sobretudo, das que vivem em situação de vulnerabili- de idade e 7,3% têm entre cinco e 17 anos.
dade social e para as quais assegurar a sobrevivência Para as mulheres, que chefiam quase a
é uma luta diária, principalmente com o aumento do metade dos lares brasileiros (ROGERO, 2020), a
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Prêmio
Educação
Infantil
sobrecarga de tarefas, que já era grande, cresceu são alguns dos efeitos que as medidas de distan-
com o fechamento das instituições educativas. ciamento social podem ter sobre a infância, como
O esgotamento de ter que conciliar os cuidados aponta estudo realizado na China, com 320 crianças
e educação dos filhos com a atuação profis- e adolescentes (JIAO et al. 2020).
sional e as tarefas domésticas pode ampliar a Além do impacto relacionado com a socialização
ocorrência de depressão materna. Soma-se a e aspectos emocionais, a suspensão do atendimento
esse cenário uma projeção preocupante feita presencial em creches e pré-escolas prejudicou
pelo Fundo de População das Nações Unidas no o acesso a recursos pedagógicos, à alimentação
Brasil (UNFPA Brasil): para cada três meses de saudável e a serviços sociais. Essa situação enfra-
quarenta é possível esperar o acréscimo de 15 quece todo um sistema de proteção de crianças
milhões de novos casos de violência doméstica e adolescentes e amplia diferentes riscos, como o
contra mulheres no mundo (COMITÊ CIENTÍFICO uso precoce ou excessivo de telas, a exposição à
DO NÚCLEO CIÊNCIA PELA INFÂNCIA, 2020). pornografia infantil e até mesmo de ser vítima de
As crianças também enfrentam efeitos indiretos violência física, emocional e sexual.
da pandemia, como o crescimento da insegurança
alimentar – resultado do aumento da pobreza e da DESAFIOS DA EDUCAÇÃO INFANTIL
suspensão da merenda escolar –, que compromete NO CONTEXTO DA PANDEMIA
a nutrição das camadas mais vulneráveis; ou ainda As creches e as pré-escolas, muitas vezes, são
com o aumento do risco de que elas sejam vítimas os primeiros espaços coletivos, fora do contexto
de violência e/ou de negligência, por estarem sem familiar, que promovem o desenvolvimento e
a supervisão de outros adultos, como educadores a formação integral na primeira infância. Para
nas creches e pré-escolas. muitas crianças, 2020 seria o ano de retornar ou
Estudos recentes têm demonstrado como todo de ingressar na Educação Infantil. Porém, devido à
esse contexto vem impactando o desenvolvimento pandemia, os equipamentos públicos que oferecem
na primeira infância. É o caso do levantamento essa etapa de educação foram fechados.
“Primeiríssima infância – interações na pandemia: Restritas às suas casas, muitas famílias e crian-
comportamentos de pais e cuidadores de crianças ças se depararam com a limitação de experiências
de 0 a 3 anos em tempos de Covid-19” (FUNDAÇÃO e de práticas pedagógicas, imprescindíveis para
MARIA CECILIA SOUTO VIDIGAL, 2021), realizado a construção de novas aprendizagens e conhe-
pela Kantar Ibope e que ouviu 1.036 cuidadores das cimentos. Para reduzir danos, gestores públicos
classes A, B, C e D. De acordo com os resultados, 27% e professores assumiram a responsabilidade de
dos entrevistados afirmam que as crianças tiveram apoiar e orientar as famílias.
algum grau de regressão no comportamento. Foi preciso então buscar alternativas que respei-
Há outros exemplos. Dependência excessiva dos tassem o desenvolvimento das crianças, sem
pais, desatenção, preocupação, problemas de sono, desconsiderar os riscos que o uso precoce de telas
falta de apetite, pesadelos, agitação e irritabilidade e de tecnologias pode acarretar. Cabe lembrar
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Prêmio
Educação
Infantil
que o marco legal brasileiro não prevê a oferta da
Educação Infantil a distância, mesmo em emergência
(BRASIL, 2020). Além disso, a Sociedade Brasileira
de Pediatria recomenda que o acesso a telas na
primeira infância seja evitado. Todavia, é inegável
que a pandemia impôs um cenário inédito e extre-
mamente desafiador, de modo que a proposição
de atividades educativas remotas, até então impen-
sáveis para a Educação Infantil, acabou se tornando
uma das únicas alternativas para que educadores
pudessem orientar as famílias sobre como promover
rotinas de cuidado, interações e brincadeiras, de
modo que as crianças pudessem vivenciar, com
qualidade, experiências significativas, concretas,
interativas e lúdicas.
É preciso reconhecer que não houve uma solução
única em um país tão diverso e desigual como o
Brasil. Estados e municípios adotaram uma série de nenhuma estratégia para oferecer aulas ou conte-
medidas de restrições de contato social, entre elas a údos pedagógicos aos estudantes durante a
suspensão das atividades nas instituições educativas. pandemia. No Sul e Sudeste, todos os partici-
Muitas delas pararam em março e só retomaram pantes da pesquisa indicaram desenvolver alguma
o trabalho, de forma remota, em outubro de 2020 ação (INSTITUTO RUI BARBOSA, 2020).
(MALTA CAMPOS; VIEIRA, 2021). Nesse contexto de excepcionalidade, os mais de
Dentre as 232 redes de ensino que partici- 593 mil docentes (INEP, 2021) que atuam na Educa-
param do estudo “A educação não pode esperar: ção Infantil precisaram rever suas práticas pedagó-
ações para minimizar os impactos negativos à gicas para orientar as famílias, ainda que remota-
educação em razão do enfrentamento ao novo mente, sobre como criar contextos de experiências
Coronavírus”, 25% em municípios do Nordeste e significativas para o desenvolvimento e aprendiza-
27% na região Norte informaram não ter adotado gem das crianças, envolvendo brincadeiras, orga-
nização da rotina, apoio em relação a questões de
comportamento e cuidados básicos, entre outros.
Levantamento feito pela Fundação Carlos Chagas,
com a participação de mais de 14 mil docentes de
toda a educação básica, apontou que 64% dos
professores que atuam na Educação Infantil estavam
orientando e apoiando as famílias nas atividades
com as crianças; além disso, 68% afirmaram que
estavam gastando mais tempo trabalhando com
”novos recursos e ferramentas” (FCC et al., 2020).
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Prêmio
Educação
Infantil
O PRÊMIO
RECONHECENDO BOAS PRÁTICAS
NA EDUCAÇÃO INFANTIL
A Educação Infantil foi uma das áreas mais
desafiadas e impactadas pela pandemia da Covid-
19. Diante de um contexto tão adverso, é imprescin-
dível que a sociedade possa compreender e valorizar
o importante trabalho dos professores dessa etapa,
cuja atuação é essencial para garantir que a apren-
dizagem das crianças continue acontecendo.
Frente a essa necessidade, a Fundação, em
parceria com a Undime, o Itaú Social e a ponteA-
ponte, lançaram, em novembro de 2020, o Prêmio
Educação Infantil: boas práticas de professores
durante a pandemia.
A construção de critérios, formato, método e
cronograma da premiação é resul-
tado de um amplo esforço coletivo,
a partir de metodologia de cocria- “Mesmo em um contexto tão adverso,
ção da consultoria ponteAponte, da as práticas premiadas demonstraram
que é possível oferecer uma boa
participação ativa da equipe técnica
Educação Infantil alinhada à BNCC.
da Fundação e de entrevistas com
os professores não mediram esforços,
stakeholders estratégicos do campo
investiram tempo e dedicação para
da educação e do desenvolvimento além de suas jornadas de trabalho para
na Primeira Infância. participar de formações ou para manter
A iniciativa teve como objetivo o vínculo com as crianças e as famílias.
principal valorizar a Educação Infantil mesmo a distância, eles promoveram
e reconhecer a importância dos pro- experiências lúdicas que valorizaram o
fissionais dessa área, fortalecendo brincar e favoreceram a aprendizagem.
sua identidade, além de evidenciar sem dúvida, sem esses profissionais, os
boas práticas realizadas com as crian- efeitos da pandemia seriam ainda mais
ças e suas famílias, apesar de todos perversos para as crianças pequenas”
os desafios impostos pela pandemia ANGELA DANNEMANN,
da Covid-19. superintendente do Itaú Social.
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Prêmio
Educação
Infantil
Em sua primeira edição, o Prêmio recebeu 600
inscrições válidas de educadores que atuam em
creches e pré-escolas públicas das cinco regiões do
país. No final, foram premiadas 100 práticas reali-
zadas por professores com as crianças e as famílias,
considerando propostas em consonância com
os direitos das crianças; que apoiam e estimulam
o vínculo com as famílias; que
promovem aprendizagens ativas
“Criar um prêmio é ser convidado para e significativas, coerentes com o
embarcar em uma jornada repleta de contexto no qual as crianças vivem;
desafios e descobertas que não termina
e que possibilitem o desenvolvi-
na entrega de uma medalha aos seus
mento integral das crianças por
vencedores, como comprova as histórias
das professoras e professores de Educação
meio de brincadeiras e interações.
Infantil narradas nesta publicação sobre as As 600 práticas foram analisa-
boas práticas no enfrentamento da Covid- das em três fases distintas e clas-
19. Além de reconhecer profissionais sificatórias. A primeira consistiu no prêmio de mil reais e um curso de 40 horas on-line,
comprometidos com o desenvolvimento correto preenchimento da ficha de promovido pelo Instituto Singularidades, com ativi-
integral das crianças, temos a inscrição e na aderência aos prin- dades síncronas e assíncronas sobre a BNCC para
possibilidade de mapear as experiências de cípios e valores do prêmio: cola- a Educação Infantil.
todo o Brasil, sistematizar o conhecimento boração e participação; compro- Ao elogiar a qualidade das práticas vencedoras,
adquirido por quem está realizando as misso com a qualidade e com o Luiz Miguel Martins Garcia, presidente da Undime,
ações na ponta e estimular conexões entre apoio às crianças e suas famí- destacou os procedimentos para a
pessoas e grupos para formar novas redes lias; diálogo; diversidade; empa- escolha dos premiados, que valori-
e, todas juntas, continuarmos a aprender e tia e cuidado; e intersetorialidade. zaram o trabalho docente em um
gerar mudanças positivas na sociedade” “Enfrentamos um grande desafio
Na segunda fase, 268 professo- processo de seleção justo e equita- e conseguimos fazer com que as
RACHEL AÑON, ponteAponte res pré-selecionados detalharam tivo, revelando a diversidade de famílias participassem. Avançamos
suas práticas por meio do preen- desafios que as políticas educacio- muito, derrubamos os muros da
chimento de um novo formulá- nais precisam contemplar num país escola e mostramos que a educação
rio, mais aprofundado, que trazia tão grande quanto o Brasil. não acontece só na escola. Por meio
questões relacionadas aos critérios da premiação. A avaliação da superintendente do empenho dos professores, novas
Além disso, enviaram documentos comprobatórios do Itaú Social, Angela Dannemann, competências e habilidades foram
da realização do trabalho, que poderiam, inclusive, reiterou a importância de dar visibili- desenvolvidas. As práticas revelam o
contar com depoimentos das crianças e famílias. O dade aos trabalhos premiados. “Tra- potencial norteador da BNCC como
veredito final ficou a cargo de uma equipe formada ta-se de um rico material que pode referencial para o planejamento e o
por nove renomadas especialistas de Educação inspirar, ser um canal de troca de trabalho pedagógico, ao valorizar o
Infantil, que realizou, em duplas, a avaliação das experiências e que pode, inclusive, cuidado, as interações e as brincadeiras”
150 práticas semifinalistas. Foram laureados 100 ser objeto de pesquisa, de sistemati- LUIZ MIGUEL MARTINS GARCIA,
professores. Cada um deles foi agraciado com um zação e, também, de formação”. presidente da Undime.
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Prêmio
Educação
Infantil
final
da prática através de um encaminharam um vídeo e uma equipe de nove
texto e até 3 imagens para documentos complementares especialistas da área
ilustração da prática. sobre as práticas e sua para a definição
vinculação com a escola. dos 100 professores
vencedores do prêmio.
DISTRIBUIÇÃO PÚBLICO
POR REGIÃO ATENDIDO GÊNERO FORMAÇÃO
25 26
DISTR IBUIÇÃO DE PR EMIA DOS COR
Branca 54%
DISTRIBUIÇÃO
Nota de corte POR REGIÃO Parda 33%
das iniciativas
Sudeste 51%
premiadas: Preta 9%
15 estados + Norte 6%
FAIXA ETÁRIA
o DF (16 UF’s) Centro-Oeste 3%
DE ATUAÇÃO
tiveram práticas
4 a 5 anos 51%
premiadas São Paulo............................................. 34
Santa Catarina..................................... 13
Rio Grande do Sul............................ 12 0 a 3 anos 49%
Minas Gerais........................................ 11
Rio de Janeiro....................................... 6
Paraná...................................................... 5
Amazonas...............................................4
Ceará........................................................ 3 CONTEXTO
Pernambuco........................................... 3 TERRITORIAL
Paraíba..................................................... 2
Goiás........................................................ 2 Urbano 92%
Piauí...........................................................1
Distrito Federal......................................1 Rural 5%
Tocantins..................................................1
Rio Grande do Norte.........................1 Comunidades
tradicionais 1%
Rondônia.................................................1
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Prêmio
Educação
Infantil Cabe lembrar que os professores, assim como
outros profissionais, também enfrentaram o
REVELAÇÕES DO PRÊMIO SOBRE desafio de conciliar o trabalho remoto com os
A EDUCAÇÃO INFANTIL BRASILEIRA afazeres domésticos e o cuidado com os filhos,
Um dos principais méritos do Prêmio Educação muitos também em idade escolar. Não foram
Infantil foi evidenciar a capacidade de superação raros os depoimentos abordando a necessidade
e reinvenção dos professores diante dos desafios de compartilhar o único computador ou tablet da
impostos pela pandemia de Covid-19. A análise das residência com outros integrantes da família, que
práticas inscritas permite construir uma percepção precisavam usar o aparelho para estudar ou traba-
geral sobre a natureza do trabalho pedagógico lhar. Reconhecendo os efeitos da pandemia, os
realizado durante a pandemia e apontar obstá- docentes demonstraram empatia ao acolherem as
culos que ainda precisam ser superados. famílias, promovendo uma escuta sensível e um
Os professores não estiveram sozinhos. Muitos diálogo constante, mesmo em horários alterna-
diretores, coordenadores pedagógicos e técnicos tivos, fora do expediente de trabalho.
das secretarias municipais de educação empreen- O documento “Pesquisa: educação escolar em
deram diferentes esforços para apoiar os profissio- tempos de pandemia na visão de professoras/es
nais e as famílias. Os docentes destacaram a atuação da Educação Básica” (VILLAS BÔAS; UNBEHAUM,
das redes de ensino para produzir documentos 2020) reitera a sobrecarga de trabalho vivenciada
orientadores, realizar formações virtuais e desen- pelos professores. Dos mais de 14 mil respondentes,
volver plataformas on-line para que o trabalho 65% afirmaram que o trabalho pedagógico mudou
remoto pudesse ocorrer. e aumentou, com destaque para as atividades que
Em muitos municípios, as creches e pré-escolas envolveram interface e/ou interação digital.
também passaram a ser pontos de distribuição de Em relação à qualidade das intervenções pedagó-
material escolar e de cestas de alimentos ou cartões gicas propostas para o Prêmio, de modo geral, os
pré-pagos, com o objetivo de contribuir com a trabalhos inscritos trazem diferentes concepções
alimentação das crianças e de seus familiares, já de Educação Infantil. Felizmente, a grande maioria
que o acesso à merenda foi interrompido com a dos professores desenvolveu práticas centradas na
suspensão das atividades presenciais. promoção de experiências diversas e conectadas
Os professores premiados não mediram esforços às necessidades e contextos de vida das crianças,
para manter o vínculo com as famílias. Nesse período, valorizando e promovendo a participação delas
muitos precisaram aprender a utilizar novas ferra- nos processos educativos, reconhecendo seu
mentas e tecnologias e realizaram ligações para protagonismo e papel ativo. Isso significa, como
cada uma das famílias das crianças de suas turmas preconizam as DCNEI, garantir que a criança esteja
para acolher e orientar sobre como seria desen- no centro do planejamento curricular, além de
volvido o trabalho remoto. Alguns chegaram a ir reconhecer que ela é “sujeito histórico e de direitos
pessoalmente aos lares, respeitando os protocolos que, nas interações, relações e práticas cotidianas
de segurança, para entregar materiais e orienta- que vivencia, constrói sua identidade pessoal e
ções impressas, especialmente para aqueles que coletiva, brinca, imagina, fantasia, deseja, aprende,
não tinham acesso à internet. observa, experimenta, narra, questiona e constrói
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Prêmio
Educação
Infantil
sentidos sobre a natureza e a sociedade, produ- Cabe destacar que assegurar a aprendizagem de
zindo cultura” (BRASIL, 2009). bebês em um contexto de educação remota se mos-
Infelizmente, também foram relatadas pro- trou bastante desafiador. Embora a participação de
postas pedagógicas altamente escolarizadas, cen- professores de creches tenha sido significativa, che-
tradas nos adultos e de natureza diretiva e trans- gando a 45,6% dos inscritos, foram poucos os que
missiva, que insistem em compreender as crianças conseguiram descrever, em detalhes, o trabalho peda-
como sujeitos passivos. Isso mostra que ainda per- gógico realizado com as crianças de zero a três anos.
siste, em algumas instituições educativas do país, Por fim, outro ponto que merece a atenção
uma concepção equivocada da Educação Infantil, de políticas e ações de formação continuada das
que a compreende como um período de pre- professoras e professores da Educação Infantil
paração para o Ensino Fundamental. Ou, ainda, é a implementação dos referenciais dessa etapa
numa perspectiva pedagógica ultrapassada, que presentes na BNCC, pois percebeu-se, em muitos
insiste na transmissão do conhecimento do adulto relatos, uma abordagem ainda superficial e, em
para a criança, compreendendo-a como uma mera alguns casos, até mesmo equivocada em relação
receptora. Muitos professores ainda priorizam aos princípios presentes na Base. Isso indica um
mecanismos de reprodução, repetição e imitação caminho importante de investimentos no sentido de
como estratégia de ensino, o que resulta na pro- tornar a BNCC um elemento de transformação da
posição de atividades desvinculadas de contexto e qualidade na Educação Infantil no país.
de seus usos sociais e que não dão margem para
as crianças explorarem e desenvolverem todo seu DIVERSIDADE DE PRÁTICAS E TEMAS
potencial ou sua criatividade. Apesar de serem O conjunto das mais de 600 práticas inscritas no
práticas equivocadas, ainda é comum a proposição Prêmio revela uma diversidade de temas relevantes
de atividades nas quais as crianças são solicitadas que foram desenvolvidos junto às crianças, o que
a dançar e imitar movimentos ao ouvir músicas em demonstra uma riqueza ímpar no que concerne à
outros idiomas que não dialogam com seu con- criatividade e engajamento do corpo docente (veja
texto. Ou, ainda, quando determinadas temáticas no quadro alguns exemplos).
são abordadas apenas em datas comemorativas, A relação entre instituição educativa e família, tão
como a discussão sobre a cultura popular apenas almejada e incentivada, mostrou-se ainda mais essen-
no mês de agosto, no Dia do Folclore. Em conso- cial durante o período da pandemia. Contudo, devido
nância com a literatura da área, a análise dessas às recomendações de distanciamento social, assegurar
práticas inscritas reitera a necessidade de ampliar uma comunicação efetiva entre educadores e famílias
o investimento na formação inicial de professores foi uma das principais dificuldades relatadas pelos
em relação à identidade e às especificidades da professores. Esse entrave é explicado, entre outros
etapa educacional, ainda pouco abordadas nos fatores, pelo acesso desigual à internet e a equipa-
cursos de pedagogia. mentos tecnológicos nos lares brasileiros. Em todo o
31 32
Prêmio
Educação
Infantil
país, 4,8 milhões de crianças e adolescentes vivem em Temáticas das práticas inscritas no Prêmio
domicílios que não têm acesso à rede, de acordo com
os resultados preliminares da pesquisa TIC Kids Online
Brasil (COMITÊ GESTOR DA INTERNET NO BRASIL,
2020), realizada entre 2019 e 2020.
Acessibilidade e Alimentação Artes plásticas Autonomia Brincar na Brinquedos e
Muitas foram as soluções e alternativas encontradas inclusão saudável e visuais infantil natureza brincadeiras
pelos docentes para estreitar a comunicação com as
famílias e orientá-las na realização de experiências
significativas e no apoio com os cuidados e organi-
zação da rotina das crianças. Dentre as experiências,
destacam-se a realização de drive-thru nos estabe-
lecimentos educativos; entrega de kits com caixas e Brinquedos Comidas Contação de Contextos Corpo e Culinária
típicas histórias da vida movimento
sacolas de materiais impressos; visitas presenciais, com sucatas
33 34
Prêmio
Educação
Infantil
ALINHAMENTO
À BASE
NACIONAL
COMUM
CURRICULAR
(BNCC)
IMPLEMENTAÇÃO DA BNCC,
IMPORTANTE PASSO RUMO À
QUALIDADE NA EDUCAÇÃO INFANTIL
Em 2017, com a homologação da BNCC pelo
Ministério da Educação (BRASIL, 2017), o Brasil deu
um importante passo para a efetivação dos direitos
de aprendizagens de todas as crianças nas diversas
etapas de ensino. O documento foi aprovado pelo
Conselho Nacional de Educação após amplo debate
público, que envolveu pesquisadores, profissionais da
educação e diferentes segmentos da sociedade civil.
A Base é um importante referencial curricular,
que determina parte significativa do que crianças,
adolescentes e jovens devem aprender, a cada ano,
ao longo de toda a Educação Básica, ou seja, da
creche ao último ano do Ensino Médio, em todas
as instituições educativas, públicas e privadas, do
país. Trata-se, portanto, de um instrumento funda-
mental que deve nortear o planejamento e a
atuação dos educadores.
35 36
Prêmio
Educação
Infantil
Assim como as DCNEI, aprovadas por meio da como uma realidade nos currículos de estados
Resolução CNE/CEB 5 de 2009, a BNCC para a e municípios, nos projetos político-pedagógico
Educação Infantil reconhece as interações e a brinca- de creches e pré-escolas e nas práticas pedagó-
deira como eixos estruturantes das práticas pedagó- gicas realizadas diariamente pelos educadores.
gicas. Essa compreensão de que bebês e crianças Além disso, é esperado que todo o movimento de
aprendem e se desenvolvem a partir de experiên- renovação curricular seja feito levando em conta
cias cotidianas está presente em todo o documento. os contextos locais e respeitando a riqueza e a
Além disso, há o compromisso da BNCC com o diversidade cultural das famílias e das diferentes
fortalecimento da concepção de que a Educação comunidades existentes no país.
Infantil, como primeira etapa da Educação Básica, Tornar a BNCC uma realidade requer um grande
se materializa a partir da articulação entre o educar esforço de cooperação entre a União, estados e
e o cuidar e complementa a educação proporcio- municípios, em especial na revisão e fortalecimento
nada pela família. das políticas curriculares e de formação inicial e
Visando uma educação integral na Educação continuada de professores.
Infantil, a BNCC estabelece seis direitos de aprendi-
zagem e desenvolvimento que devem ser assegu- O QUE SE ESPERA ENCONTRAR EM
rados a todas as crianças de até 5 anos e 11 meses, UMA PRÁTICA ALINHADA À BNCC
da creche à pré-escola. São eles: conviver, brincar, Em última instância, é no trabalho diário de profes-
participar, explorar, expressar e conhecer-se. sores que a BNCC se materializa, ou seja, nas
A efetivação de cada um desses direitos requer experiências propostas às crianças para que elas
práticas pedagógicas de qualidade, ou seja, condu- possam interagir com seus pares e com os adultos
zidas com intencionalidade pedagógica. Para isso, a para desenvolver todo o seu potencial. Isso requer
Educação Infantil na BNCC é estruturada em cinco um grande empenho de planejamento e de
campos de experiência: o eu, o outro e o nós; reflexão para que cada prática tenha intencionali-
corpo, gestos e movimentos; traços, sons, cores e dade pedagógica evidente e se articule aos direitos
formas; escuta, fala, pensamento e imaginação; e de aprendizagem e desenvolvimento, campos de
espaços, tempos, quantidades, relações e trans- experiência e objetivos estabelecidos.
formações. A cada um dos campos de experiência Todo esse esforço exige reconhecer a criança
estão atrelados direitos de aprendizagem e desen- como sujeito ativo e protagonista do seu desenvolvi-
volvimento que devem ser assegurados a todas as mento. Como indicam Coutinho e Rocha (2012, p. 11),
crianças, de acordo com a sua faixa etária: bebês a prática docente deve ser concretizada em “[...] um
(de zero a 1 ano e 6 meses), crianças bem pequenas encontro entre adultos e a alteridade da infância. E
(de 1 ano e 7 meses a 3 anos e 11 meses) e crianças exige ainda que eduquemos o nosso olhar, a fim de
pequenas (de 4 anos a 5 anos e 11 meses). rompermos com a relação verticalizada, passando
Tão importante quanto a aprovação da BNCC a constituir a relação na qual adultos e crianças
é a sua implementação. Esse é o desafio que está compartilham amplamente sua experiência de viver
posto. Há um longo caminho a ser percorrido para parte de suas vidas nas creches e pré-escolas. Nem
que os direitos de aprendizagem e desenvolvimento isto nem aquilo. Educação como emancipação. Nem
e os campos de experiência sejam estabelecidos subalternidade, nem espontaneísmo”.
37 38
Prêmio
Educação
Infantil
Tendo em vista esses princípios, de modo geral,
práticas pedagógicas alinhadas à BNCC:
39 40
Prêmio
Educação Nome Localização Nome Localização
M A PA D O S
Adriane Passos Almeida Cotia-SP Joselene Cabral Lacerda Suzano-SP
Alessandra de Melo Simões Roman Rós Luziânia-GO Josielma Cláudia Cavalcanti de Albuquerque Recife-PE
Alexandra Cristina Barros Allen de Araujo Paixão Rio de Janeiro-RJ Josilaine Aparecida Pianoschi Malmonge Bauru-SP
Aline Matos De Miranda Barroso Contagem-MG Juliani Reck Mengue Lippert Três Cachoeiras-RS
PREMIADOS
Allessya Felinto Tavares Brejo Santo-CE Keila Josimara Beilke Indaial-SC
Ana Aparecida Rodrigues São Paulo-SP Larissa Borges Rocha Belo Horizonte-MG
Ana Carolina Haipek Mosolino São Paulo-SP Marcel Noznica Penessor Florianópolis-SC
Ana Paula Cruz Cardial Coelho Angra dos Reis-RJ Márcia Mendonça de Souza Jundiaí-SP
Ana Paula Nogueira Moreira Borella Osasco-SP Marcia Paroski Joinville-SC
Andréa Rodrigues Osasco-SP Marcilaine Martins da Silva Oliveira Goiânia-GO
Antonia Maria Carlos de Abreu Beneditinos-PI Maria Raquel Souza dos Santos Manaus-AM
Beatran Hinterholz Venâncio Aires-RS Mariane Lucia Lunardi Novo Hamburgo-RS
Beatriz Félix Da Silva Fornagieri Vinhedo-SP Marisônia Pederiva Porto Alegre-RS
Carolina de Paula Mascarenhas Takeda Osasco-SP Marta Cristiane de Souza Olhier Sumaré-SP
Cátia Regina Marangoni Geremias Trombudo Central-SC Michelle Rocha Mathias Rio de Janeiro-RJ
Cecília Massako Nomiso Bauru-SP Nádia Araújo Silva São José do Egito-PE
Cecília Rodrigues Nascimento Borges Taguatinga-DF Natálya de Oliveira Castro-PR
Cherliana Aparecida Mita Chaves Atibaia-SP Paola Winter Silveira Novo Hamburgo-RS
Cicera Oliveira dos Santos Brejo Santo-CE Paula Ramos de Oliveira Belo Horizonte-MG
Cícera Rosely Felipe Da Silva Brejo Santo-CE Pricila Perossi Magalhães Caraguatatuba-SP
Cristiele Borges dos Santos Novo Hamburgo-RS Priscila De Freitas Machado Palmas-TO
Daiane Gonçalves Guedes Perira Terra Roxa-PR Queila Cristina de Oliveira Belo Horizonte-MG
Daniela Backes Cordeiro Guaíra-PR Raelen Brandino Gonçalves Mogi das Cruzes-SP
Daniela Schincariol Iwami Jundiaí-SP Raphaela Duarte Resende São Sebastião do Paraíso-MG
Daniele Bastos da Costa Moriglia Jundiaí-SP Raquel Silveira de Almeida Florianópolis-SC
Débora Araújo do Nascimento Lima São José dos Campos-SP Raquellen Milbratz Blumenau-SC
Denise Aparecida de Paulo Ribeiro Leppos São Carlos-SP Renata Fernandes dos Santos Santos-SP
Denise Riogi Lanzi Suzano-SP Rita de Cassia Silva Viçosa-MG
Dhebora Cyntia de Lima Farias Campina Grande-PB Romaica Laís Stoffel Picada Café-RS
Diana Carla da Silva Vital Macaparana-PE Rosane Bruggmann Rio do Sul-SC
Diane Flavia Artoni Santa Bárbara D'Oeste-SP Samantha Cunha de Mesquita Manaus-AM
Drielly Santos de Souza Ariquemes-RO Sandra Regina Gabriel Estigarribia de Moraes Itatiba-SP
Elisabete Barbosa Oliveira São Bernardo do Campo-SP Sani Gonçalves Jobim Biguaçu-SC
Ellen Cristina Golfi Pereira Marília-SP Sara Simone Ramos Rodrigues Belo Horizonte-MG
Eronice Ribeiro Leandro Laranjeiras do Sul-PR Sara Souza Bustamante Viçosa-MG
Everlania Oliveira de Lima Iranduba-AM Silmara Helena Alves Voltolini Joinville-SC
Fabiana Bizella Barbalho São Bernardo do Campo-SP Simene Gonçalves Coelho Uberlândia-MG
Fernanda Aparecida Ramos Pedro Leopoldo-MG Simone Claro dos Santos Sales São Paulo-SP
Gisele Borba Viegas São Leopoldo-RS Solange Machado do Carmo Jandira-SP
Glauce Perpetuo do Nascimento São José do Rio Preto-SP Tatiana Mariano Pereira Brito Angra dos Reis-RJ
Greice Kelly Marinho de Andrade Forquilhinha-SC Terezinha d e Jesus da Cruz Rodrigues Manaus-AM
Ingrid Conceição da Costa Rio Bonito-RJ Ulimaria Augusta de Sousa Izidro Açu-RN
Ivete Faco Boisa Malta Penápolis-SP Valeria Mariano de Lima Santos-SP
Izabelly de Souza da Silva Curitiba-PR Vanessa Cardeal Oliveira Moreno Atibaia-SP
Jacqueline Elise Koch Joinville-SC Vanessa dos Santos Marques Novo Hamburgo-RS
Janaisa Sanzon Cristofolini Timbó-SC Viviane Zimermann Heck Novo Hamburgo
Jaqueline Rodrigues Ferreira Marília-SP Zilda Alves Blumenau
41 42
Prêmio
Educação
Infantil
PRÁTICAS
INSPIRADORAS
43 44
Prêmio
Educação
Infantil
LEITORES DE FRALDAS
teatro de fantoches e uso de parlendas já faziam
parte da rotina da Creche Municipal Magdalena
Arce Daou, na periferia de Manaus. Contudo, com a
NO CONTEXTO DA suspensão das atividades presenciais, uma das
preocupações dos educadores foi buscar alterna-
PANDEMIA
tivas para que o contato com a literatura não fosse
interrompido. Ao mesmo tempo, foi preciso acolher
as famílias, já que muitas delas relataram nos grupos
de WhatsApp que as crianças estavam ansiosas e
FICHA TÉCNICA passavam muitas horas ociosas em casa.
“Em equipe, buscamos desenvolver uma estratégia
Educadora premiada: Maria Raquel Contexto: urbano que assegurasse a aprendizagem e que, ao mesmo
Souza Santos Município/ estado: Manaus, AM tempo, incluísse e amparasse essas famílias”, lembra a
professora Maria Raquel Souza Santos. Durante essa
Número de crianças participantes: 17 Região: Norte
reflexão, o grupo de educadores decidiu adaptar o
Faixa etária: 0 a 3 anos projeto “Ler, aprender e brincar”, que já era realizado
Instituição: Creche Municipal Saiba mais no vídeo anualmente na creche de forma presencial.
Magdalena Arce Daou enviado pela professora. A proposta ganhou um novo nome, “Quintas
literárias”, e foi conduzida como piloto pela turma
da professora Maria Raquel. Após ampla adesão
45 46
Prêmio
Educação
Infantil
47 48
Prêmio
Educação
Infantil
que, apesar de coletiva, possibilitou também que
cada turma realizasse suas interações e construções
de forma particular. Além disso, destaca-se pelo
DICA DE LEITURA/
envolvimento das famílias com a proposta, gerando
CONTEÚDO
um senso de continuidade da instituição educativa,
ainda que com a ruptura gerada pela pandemia. Site “Deixa que eu
ficou bastante evidente, por exemplo, quando elas Segundo a professora, muitos pais relataram que, Conto”, iniciativa do
recontavam e ressignificavam as histórias ou faziam antes do projeto, nunca haviam tido momentos de Unicef Brasil (2020)
perguntas sobre o enredo”, explica a professora. leitura com os próprios filhos, pois a grande maioria
não teve essa experiência quando crianças. “Trazer
POR QUE É UMA PRÁTICA INSPIRADORA? as famílias como parceiras, como coautoras desse
O contato com a literatura é um potente recurso processo, foi muito prazeroso e satisfatório. De
de desenvolvimento para as crianças, desde o iní- fato, foi possível torná-las também protagonistas.
cio da vida. Entre outros aspectos, a leitura e todas Após essa experiência, já vislumbro maior diálogo
as experiências que dsela derivam estão relacio- e interação na relação entre elas e a creche, em um
nadas aos direitos de se expressar e de participar, contexto pós-pandêmico”, comemora Maria Raquel.
tal como preconizado na BNCC, a qual aponta pa-
ra a importância da ampliação do repertório cultu- DICA DA PROFESSORA
ral das crianças e da continuidade desse processo, É preciso muito diálogo entre os educadores
que vai gradativamente oportunizando aprendiza- para que o momento do planejamento resulte em
gens mais complexas. Esta prática trouxe para os propostas flexíveis, com margem para ajustes e
bebês e crianças bem pequenas a oportunidade adequações. Isso é fundamental para desenvolver
de vivenciarem, junto com suas famílias, contextos um projeto institucional coletivo, sem perder de
ligados a todos os campos de experiência. “Cabe vista as especificidades e necessidades de cada
ressaltar, no entanto, que nosso ponto de partida turma. Assim, cada professor pode trazer um pouco
foram os campos de Escuta, fala, pensamento e da experiência e incorporar estratégias visando
imaginação”, explica Maria Raquel. atender as necessidades de cada criança e turma.
A professora lembra que as crianças se mostraram
motivadas ao perceberem as suas educadoras de
referência mergulhadas nos personagens por meio
das histórias. Esse foi o caso de uma das crianças,
que pediu para narrar o conto da semana à sua
família, invertendo os papéis propostos e criando
um novo enredo. “Esse exemplo demonstra o
quanto elas estavam envolvidas e engajadas com a
atividade, expressando autonomia e imaginação”.
A prática foi capaz de mobilizar toda a comunidade
da instituição educativa em torno de uma proposta
49 50
Prêmio
Educação
Infantil
2 - PIQUENIQUE EM
FAMÍLIA COM BEBÊS
51 52
Prêmio
Educação
Infantil
A professora criou um grupo no WhatsApp para
conversar com as famílias e valorizou a utilização
de objetos e alimentos presentes nos lares. Os
pais ficaram livres para adaptarem a atividade de
acordo com sua realidade, como indicar o melhor
dia e horário para realizar o piquenique, escolher
qual espaço seria utilizado (ambiente externo ou a
sala de casa, por exemplo), assim como os alimen-
tos que seriam consumidos.
Durante a atividade, os adultos foram orienta-
dos a conversar com os pequenos sobre a comida,
incentivando-os a manipulá-la e a saboreá-la. Os
bebês puderam explorar as propriedades dos ali-
mentos como cor, sabor, textura e formato, bem
como expressar seus sentimentos e preferências.
“Tivemos diferentes relatos que indicam o quanto
caderno visava o desenvolvimento da autonomia foi prazeroso para os adultos acompanharem o
e de múltiplas linguagens (plástica, gestual, verbal, desenvolvimento das crianças na manipulação dos
musical, dramática, lógica e experimental), por meio alimentos. Muitas disseram que nunca haviam rea-
de interações, brincadeiras e momentos de cuidado”, lizado um piquenique em família e afirmaram que
explica a professora premiada. iriam repetir a experiência. Para nós, educadores,
Segundo ela, para que isso ocorresse, os familiares isso é muito prazeroso, porque percebemos que
foram orientados sobre a construção de rotinas e estamos no caminho certo, fazendo a diferença com
a importância de se dedicar por inteiro aos bebês essas orientações e conseguindo não apenas man-
em momentos preestabelecidos. A realização do ter o vínculo, mas, principalmente, fazer com que a
piquenique em família, proposto por Antonia, é criança se desenvolva”, diz a professora com orgulho.
uma das práticas que se destacaram pela quali- Durante todo o ano, Antonia manteve um
dade de sua intencionalidade pedagógica e pela diálogo constante com as famílias por WhatsApp,
sua articulação com a BNCC. O pensar e o agir da inclusive para verificar a viabilidade de realização
criança estiveram no centro de todo processo. das atividades sugeridas. Esse cuidado repercutiu
na adesão, que ficou próxima de 100%. O grande
COMO FOI IMPLEMENTADA? engajamento é verificado nas fotos, vídeos e depoi-
Além de orientações para a realização do pique- mentos enviados, que mostram a desenvoltura das
nique, as famílias receberam instruções sobre como crianças durante a realização das propostas.
desenvolver outras vivências – por exemplo, fazer
massagem nos bebês – e como propor diferentes POR QUE É UMA PRÁTICA INSPIRADORA?
brincadeiras: encher e esvaziar potes com bolinhas A prática prioriza brincadeiras e interação da fa-
de algodão; cuidar de uma planta; e explorar o mília com seus filhos, eixos estruturantes da Edu-
som de diferentes objetos de sucata. cação Infantil. As crianças tiveram papel central
53 54
Prêmio
Educação
Infantil
durante as experiências. Os registros enviados pelos músicas indicadas; ou ainda quando demonstravam
pais mostram os bebês manejando com autonomia autonomia ao escolher qual alimento comer de
os alimentos. acordo com sua vontade e gosto”, relembra Antonia.
Ao trabalhar os campos de experiência como o
DICA DE LEITURA
eu, o outro e o nós e espaços, tempos, quantidades, DICA DA PROFESSORA
relações e transformações e os direitos de aprendi- Colocar o pensar e o agir da criança no centro
Guia alimentar para
zagem brincar, conviver e participar, os bebês desen- do processo educativo é valorizar as interações, as crianças brasileiras
volveram interesse pelos alimentos, criando assim brincadeiras e o vínculo com a família. Esses eixos menores de 2 anos
uma boa relação com a comida, além de constru- centrais da Educação Infantil no Brasil têm forte produzido pelo
írem sua autonomia, manipularem novos objetos e sintonia com a abordagem educacional de Reggio Ministério da Saúde
texturas e desenvolverem o senso de autocuidado. Emilia. Por isso, o trabalho pedagógico realizado na (2019)
A alimentação é um processo de muita impor- cidade italiana pode ser uma importante fonte de
tância para o desenvolvimento humano, não só estudos e de inspiração para os professores brasi-
pelo seu caráter nutritivo, mas também pelas possi- leiros, sobretudo nesse difícil contexto em que é
bilidades de relações que podem ser estabelecidas preciso apoiar ainda mais os pais para estabelecer
no momento de comer. O piquenique destaca o e manter uma rotina diária que privilegie a interação
direito de explorar e conhecer-se, uma vez que as de qualidade entre adultos e crianças, seja promo-
práticas de cuidados pessoais englobam o alimen- tora de aprendizagens e possibilite o crescente
tar-se e, na experiência do piquenique, os bebês desenvolvimento infantil.
experimentaram alimentos com diferentes formatos,
cores e sabores e formas de os manipularem. Com
a prática, Antonia promove aprendizagens relacio-
nadas à educação nutricional, um processo lento,
que exige persistência e é construído não apenas
nas creches, mas principalmente no cotidiano dos
lares, na interação com adultos e outras crianças. Ela
demonstra a importância de criar hábitos alimen-
tares saudáveis desde cedo. Para isso, é impor-
tante que os pequenos possam aguçar o olfato,
o paladar e o tato ao experimentar comidas com
diferentes texturas, temperaturas, cores e sabores
e, dessa forma, identificar o que é doce, salgado,
ácido e amargo.
“A participação da família foi fundamental. Com
os registros enviados, pudemos observar avanços
no desenvolvimento dos bebês, em especial nos
momentos de escuta e de atenção dada pelos
pequenos durante as leituras; nos movimentos corpo-
rais que realizavam enquanto brincavam e ouviam as
55 56
Prêmio
Educação
Infantil
QUAL FOI O PONTO DE PARTIDA?
A manutenção do vínculo com os bebês e as famílias
foi, sem dúvida, o maior desafio que a professora
Márcia Mendonça de Souza enfrentou com o início
das atividades remotas, em maio de 2020. A proposta
inicial de usar e-mail como principal forma de comuni-
57 58
Prêmio
Educação
Infantil
potencial de cada atividade proposta em desen-
volver habilidades, atitudes e conteúdos ricos e
indispensáveis para o crescimento dos pequenos”,
explica a professora.
59 60
Prêmio
Educação
Infantil
desenvolvimento, articulando o cotidiano a experi-
ências de autocuidado. Verifica-se também a valo-
rização da expressão dos bebês, por meio de bal-
bucios, choros e risadas durante as músicas, brin-
cadeiras e histórias propostas.
As crianças puderam brincar e explorar livremente
objetos que fazem parte do cotidiano das casas, insti-
gando os sentidos por meio de degustação, manuseio
e cheiros de alimentos, bem como testando limites ao A realização das propostas só foi possível com o
empilhar objetos, subir em móveis, descer degraus e engajamento das famílias. “Foi necessário ter empatia
descobrir novos espaços, tendo como foco possibi- e entender que os pais sempre tentam fazer o melhor,
litar experiências que dialogassem com os campos de mas a correria do cotidiano, o estresse, a preocupa-
o eu, o outro e o nós e corpos, gestos e movimentos. ção financeira, os impedem muitas vezes de enxer-
À medida que recebia as devolutivas das famí- gar como a participação deles na educação dos seus
lias, Márcia pôde observar o desenvolvimento da filhos é importante. Quantas mães choraram porque
turma. Durante a brincadeira com potes plásticos, se sentiam culpadas por não ter tempo para dedicar
por exemplo, a professora percebeu o quanto as às crianças. Quando mostrei que, com alguns minu-
crianças experimentaram as possibilidades e os limi- tos do seu tempo, elas poderiam fazer a diferença na
tes de seu corpo ao realizar movimentos de pre- vida dos seus filhos, percebi uma melhora na auto-
ensão e encaixe, ampliando suas possibilidades de estima delas, o que com certeza colaborou muito no
DICA DE LEITURA
manuseio de diferentes materiais e objetos. desenvolvimento dos pequenos”, lembra Márcia.
A professora conta ainda que os bebês exploraram A prática demonstra ainda como o afeto foi fun- Artigo “As possíveis
diferentes sons produzidos com os objetos e estabe- damental para manter o vínculo com as famílias e estratégias para a
leceram relações de causa e efeito ao mover e remo- mostra também a importância de processos de for- criação de vínculo
ver as tampas dos potes para investigar o que tinha mação continuada – nesse caso, promovidos pela escola/ família”,
produzido pelas
dentro. Em frente ao espelho, os bebês puderam Secretaria Municipal de Educação.
pesquisadoras Cristiane
se reconhecer como seres únicos, identificando seu Prado, Magda Fischer,
corpo e suas expressões. Nos momentos de massa- DICA DA PROFESSORA Sandra Sai, Roseli
gem, eles receberam o carinho de suas mães. Os pais entendem o papel educativo da creche Filizatti e Andressa
quando confiam no trabalho do educador. Para que Oliveira e publicado na
revista Acta Científica.
isso ocorra, o docente deve promover o diálogo e Ciências Humanas do
explicitar porque cada atividade proposta é impor- Unasp, v. 21 n. 1 (2012)
tante para o desenvolvimento da criança. O vínculo
se dá a partir do momento em que reconhecemos
a realidade das famílias, seus medos e conflitos. A
escuta e a observação atenta permitem fazer inter-
venções pedagógicas mais assertivas, sobretudo no
contexto atual de pandemia, que mudou drastica-
mente as relações e a rotina do trabalho e da família.
61 62
Prêmio
Educação
Infantil
CORRIDA DO JYANKEPO
elementos da cultura japonesa para sua turma de
20 crianças de 3 anos. A professora conta que
essa decisão foi influenciada pela sua descen-
dência japonesa: seu avô nasceu no Japão, país
FICHA TÉCNICA onde ela morou por 12 anos.
“A proposta ganhou ainda mais força durante a
Educadora premiada: Cecília Massako Contexto: urbano elaboração do meu projeto de mestrado profissional
em 2020. As práticas tiveram como base os estudos
Nomiso Município/ estado: Bauru, SP
e pesquisas desenvolvidos por mim e minha orien-
Número de crianças participantes: 20 Região: Sudeste tadora de graduação e do mestrado. O principal
Faixa etária: 3 anos objetivo foi despertar nas crianças o interesse e
Instituição: Escola Municipal de Educação Saiba mais no vídeo a curiosidade pelo diferente, demonstrando que
Infantil (EMEI) Leila de Fátima Alvarez Cassab enviado pela professora. todas as culturas têm suas particularidades e pontos
em comum e que devemos nos conhecer e nos
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Prêmio
Educação
Infantil
A professora explorou técnicas narrativas carac-
terísticas do kamishibai, que tem grande potencial
lúdico. Com isso, foi possível despertar o interesse
e a atenção, estimular sua curiosidade e imaginação,
permitindo que cada criança se envolvesse e parti-
cipasse ativamente da ação desenvolvida. Além de
ampliar o conhecimento sobre outras culturas e sobre
si mesmas, as crianças exploraram a linguagem oral
e a diversidade cultural enquanto brincavam e se
expressavam por meio de suas produções artísticas.
65 66
Prêmio
Educação
Infantil
produção das crianças foram enviados pelas famílias Ela disse que a técnica de apresentação despertou
por meio de áudios, vídeos e fotografias. o desejo de se expressar nas meninas, levando-as
a criar um canal no YouTube onde elas contam
POR QUE É UMA PRÁTICA INSPIRADORA? histórias bíblicas, dançam e fazem brincadeiras”,
DICA DE LEITURA
Ampliar a visão de mundo, reconhecer e valorizar comenta a professora.
outras culturas são princípios da Educação Infantil Livro: Jogos e
brasileira. Dessa forma, ainda que de maneira assín- DICA DA PROFESSORA brincadeiras:
crona, a professora proporcionou às crianças o É possível utilizar diferentes estratégias para tempos, espaços e
contato com elementos da cultura japonesa muito despertar o interesse e a curiosidade por outras diversidade (Pesquisa
pouco conhecidos em nosso país. culturas para além da contação de histórias. O em Educação),
organizado pelas
As propostas buscaram garantir diferentes direitos pontapé inicial pode ser a apresentação de um autoras Maria
de aprendizagem, com destaque para explorar, brinquedo típico para que as crianças possam Walburga dos Santos
expressar e brincar, mobilizando, em especial, os aprender a brincar ou mesmo realizar uma pesquisa e Tizuko Morchida
campos de experiência escuta, fala, pensamento sobre sua história e os materiais que são utilizados Kishimoto, publicado
pela Editora Cortez
e imaginação e traços, sons, cores e formas. “Por na sua construção. Outra dica é conhecer o reper-
(2016)
meio das histórias foi possível incentivar a imagi- tório das crianças sobre o tema. Como a comuni-
nação e a criatividade nas atividades de produção dade japonesa é muito grande no estado de São
artística e diversificar o vocabulário das crianças, Paulo, muitas delas já conhecem animes, mangás,
desenvolvendo a linguagem oral como instrumento assim como símbolos e vocabulários.
organizador de pensamento e de comunicação”,
explica Cecília.
Ao apresentar diferentes elementos culturais,
a prática propiciou às crianças a oportunidade de
explorar imagens, vídeos e atividades de arte como
o chigiri-e (técnica japonesa de produzir imagens
com pedaços de papel rasgado). “Durante essa
exploração, a criança pode expressar suas impres-
sões, dúvidas e opiniões sobre a cultura japonesa e
conhecer-se melhor, comparando e aproximando-a
da sua cultura e, até mesmo, reconhecendo-se nela”,
lembra a professora.
Também é inspirador a forma como a professora
viabilizou o acesso das crianças aos elementos das
culturas orientais, utilizando materiais simples para
a construção do teatro e das lâminas, valorizando
essa cultura tão presente na cidade onde a creche
está localizada.
“Uma das mães relatou que suas filhas adoraram
o kamishibai e o modo como a história é contada.
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Prêmio
Educação
Infantil
5 - ELEMENTOS
DA NATUREZA
FICHA TÉCNICA QUAL FOI O PONTO DE PARTIDA?
O ano letivo na EMEI João de Barro foi atípico: as
Educadora premiada: atividades presenciais foram interrompidas e a pri-
Paola Winter Silveira meira tentativa de reabertura só ocorreu em agosto
de 2020, com um novo fechamento em janeiro de
Número de crianças
2021 devido ao agravamento da pandemia no país.
participantes: 16 “A escola se viu desafiada a manter o vínculo com
Faixa etária: 2 anos as crianças e as famílias de forma remota, por uma
Instituição: EMEI João tela de celular ou de computador”, lembra a profes-
de Barro sora Paola Winter Silveira. Por isso, a equipe da insti-
tuição educativa optou por criar um grupo de What-
Contexto: urbano
sApp por turma para dar continuidade a práticas que
Município/estado: contribuíssem para a aprendizagem e o desenvolvi-
Novo Hamburgo, RS mento dos pequenos.
Região: Sul A equipe gestora pediu que cada professor pro-
duzisse e compartilhasse com as crianças e as famí-
Saiba mais no lias um vídeo com fotos de atividades que foram
realizadas presencialmente. Assim, elas poderiam
vídeo enviado pela
relembrar alguns dos momentos vividos na institui-
professora. ção. Em seguida, o planejamento pedagógico da
instituição foi revisto para definir quais atividades
seriam sugeridas para serem desenvolvidas com as
crianças em suas casas. Os docentes se dividiram
para assegurar semanalmente a continuidade do
trabalho pedagógico.
Em 2020, Paola atuou em parceria com a profes-
sora Catiana dos Santos, ambas responsáveis por
uma turma com 16 crianças de 2 anos. Elas recupe-
raram os registros de trabalhos e de investigações
anteriores para planejar as atividades que seriam
enviadas às famílias. “Observamos que as crianças
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Prêmio
Educação
Infantil
tinham grande interesse por materiais como pedras, OBECI, aprendi a ver a beleza da infância e pas-
galhos, areia, folhas, flores, sementes etc. Esse foi sei a compreender a importância do brincar livre
o nosso ponto de partida para propor práticas que com materiais não estruturados, do brincar heu-
valorizassem o contato com elementos da natureza, rístico”, explica Paola.
para promover a imaginação, a exploração e a inves-
tigação”, explica Paola. COMO FOI IMPLEMENTADA?
Toda terça-feira, Paola e Catiana enviavam pro-
EM QUE CONSISTIU A PRÁTICA? postas para serem desenvolvidas e registradas pelas
Algumas perguntas nortearam o planejamento famílias via WhatsApp. Os registros das vivências
das professoras: quais materiais naturais as crian- desenvolvidas pelas famílias foram enviados à cre-
ças mais se interessavam? Como propor materiais che por meio de fotos, vídeos e áudios. O desen-
de fácil acesso para as famílias? O que as crianças volvimento de cada criança nesse período está
fariam com esses materiais? Como elas se expres- documentado em portfólios individuais que foram
sariam e o que construiriam? produzidos pelas professoras.
Ao buscar respostas para essas questões, elas A análise desses momentos permitiu que as pro-
enviaram, por WhatsApp, convites em formatos de fessoras, mesmo a distância, capturassem o brin-
cards com sugestões de vivências para orientar e car e a imaginação dos pequenos, que expressavam
inspirar as famílias a organizarem espaços e contex- por meio de falas, gestos e produções suas teorias e
tos para que as crianças pudessem brincar e explo- explicações sobre o universo ao seu redor.
rar diferentes materiais não estruturados. A partir Na implementação, o uso de plataformas on-line
das orientações, os responsáveis disponibilizaram foi um grande desafio. Paola conta que o grupo
em casa sementes, pedras, folhas secas, galhos, precisou se familiarizar com diferentes ferramentas,
flores, água, terra, argila e madeira. Com isso, os como Google Drive, Apowersoft, além de editores
pequenos puderam explorar e produzir sons e de vídeo e gravadores de tela.
movimentos, compor cenários ao empilhar, organi- A adesão das famílias, no entanto, não ocorreu
zar e alinhar os objetos. de forma automática. Paola lembra que foi neces-
Paola comenta que sua prática pedagógica, assim sário persistir e reiterar os convites. “Muitas vezes,
como a de suas colegas de trabalho, é bastante chamamos os pais em conversas privadas, pergunta-
influenciada pelas formações realizadas no Obser- mos como eles estavam e demonstramos que está-
vatório da Cultura Infantil (OBECI)4, que é coorde- vamos disponíveis. Sabemos o quão difícil foi esse
nado pelo especialista Paulo Fochi. momento de quarentena. Aos poucos, com muito
“Antes eu não escutava as crianças. Não tinha diálogo, conquistamos a atenção e a confiança
um olhar atento. Não enxergava a infância. No deles”, lembra a educadora.
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Prêmio
Educação
Infantil
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Prêmio
Educação
Infantil
QUAL FOI O PONTO DE PARTIDA?
Em abril de 2020 foi iniciado o trabalho remoto
e a equipe escolar decidiu estabelecer a comuni-
cação com as famílias por meio de grupos fechados
no Facebook. Sem o contato presencial com os
pequenos, a professora Juliani Reck Mengue
Lippert sugeriu aos pais um conjunto de brinca-
deiras com a intenção de “transformar os lares em
laboratórios de aprendizagem”, como defende o
pensador italiano Francesco Tonucci. Para isso, ela
propôs diferentes atividades com materiais acessí-
veis, que permitissem que as crianças explorassem
os elementos da natureza.
A ideia surgiu após a educadora refletir sobre
como a pandemia impactou a rotina e as oportuni-
dades educativas de sua filha. “Decidi voltar a morar
no interior, na cidade de Três Cachoeiras, onde
cresci, em busca de oferecer maior qualidade de
vida à minha família. Ver minha menina de 2 anos
pisar na grama, brincar na terra e correr ao ar livre
me encantava! Logo pensava nas crianças da minha
turma, que tinham a mesma faixa etária”, conta Juliani.
A professora aproveitou que o projeto pedagó-
gico da EMEI, construído coletivamente, também
6 - UM BRINQUEDO caminhava rumo à valorização das brincadeiras e
das interações e decidiu articular as experiências
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Prêmio
Educação
Infantil
material, as famílias receberam orientações sobre
como organizar os espaços para que os pequenos
pudessem explorar os objetos e brincar livremente,
estimulando seu desenvolvimento.
Ao valorizar a brincadeira heurística, a profes-
sora possibilitou que as crianças agissem livre-
mente e manipulassem materiais não estrutu-
rados, potencializando momentos de descoberta
que fomentaram a imaginação e permitiram aos
pequenos se expressarem.
“O retorno das famílias foi muito positivo, tivemos
relatos indicando a preferência das crianças em
brincar com esses objetos, inclusive com a indicação
do tempo que elas se dedicaram ao material.
Muitos solicitaram o envio de novos kits, inclusive
entre aqueles com melhor situação econômica e
que podem comprar qualquer brinquedo para seus
filhos”, orgulha-se Juliani. para que pudéssemos compartilhar no grupo da
nossa turma”, explica Juliani.
COMO FOI IMPLEMENTADA? Durante as brincadeiras, os pequenos se diver-
Ao longo dos primeiros meses da pandemia, tiram criando torres, casas e castelos; empilhando
Juliani utilizou o grupo no Facebook para dialogar materiais; transformando objetos em lunetas,
com as famílias e orientá-las quanto à realização pontes e florestas; observando as sombras com o
das brincadeiras. Inicialmente, foram produzidos uso de uma lanterna ou ainda o comportamento
vídeos para explicar aos pais a importância do desses materiais na água.
contato com elementos naturais para o desenvol-
vimento das crianças. POR QUE É UMA PRÁTICA INSPIRADORA?
No final de setembro de 2020, a professora A prática tem como centro o brincar, um dos direitos
montou uma caixa com diferentes materiais não de desenvolvimento e aprendizagem previstos
estruturados. Os kits, com tocos de madeira, cilin- na BNCC. Ao priorizar as brincadeiras heurís-
dros de bambu, retalhos, cordas, pedras, sarrafos e ticas, Juliani demonstra grande intencionalidade
pinhas, foram retirados na EMEI pelas famílias. pedagógica ao articular as propostas a diferentes
“Orientamos os pais a preparar um espaço campos de experiência previstos na BNCC, como
para que as crianças pudessem explorar esses corpo, gestos e movimentos; traços, sons, cores e
objetos sem interferência dos adultos. Pedimos formas; e espaços, tempos, quantidades, relações
que eles nos relatassem como foram essas vivên- e transformações.
cias, indicando o que cada uma delas criou e quais O kit enviado com materiais naturais, sem uma
foram suas falas. Além disso, solicitamos que eles especificação de uso e com a orientação da profes-
registrassem esses momentos em fotos e vídeos sora de que é importante que o adulto prepare um
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Prêmio
Educação
Infantil
espaço para que a criança possa explorar os materiais, semelhanças e diferenças ao estabelecer relações
supervisionando seu manuseio mas sem interferir no espaciais e atributos como peso, tamanho e cor.
processo, ofereceram a possibilidade para os bebês “Brincar é viver de forma criativa no mundo,
transformarem aqueles objetos em brinquedos, ao porém, ao longo do tempo, isso foi se perdendo
DICA DE LEITURA
mesmo tempo em que os desafiou a inventar como em nossa cultura. Cada vez mais as crianças
utilizariam cada um deles, criando, assim, de maneira são lançadas a ‘terceirizar’ o brincar, seja pelo Livro: Brinquedo do
autônoma, sua própria brincadeira. brinquedo com objetivo pré-definido, pelas telas Chão: a natureza,
A oferta de materiais não industrializados e de ou mesmo quando trancadas em ambientes sem o imaginário e o
origem vegetal combate a ideia do consumismo, algo que as impulsione. Acredito que minha prática brincar, do autor
da brincadeira pré-fabricada e pré-determinada de oportunizar o brincar heurístico com elementos Gandhy Piorski,
publicado pela
pelos adultos, ao mesmo tempo que afasta as naturais é uma das formas de resgatar essa forma Editora Peirópolis
crianças da tela e potencializa sua criatividade. de viver criativamente no mundo e de dar visibi- (2016)
Nesse tipo de brincar não há certo e errado, há lidade dessa potência nos lares para as famílias”,
sim infinitas possibilidades. argumenta a professora.
A brincadeira livre permitiu que as crianças A proposta de Juliani reverberou com intensi-
construíssem suas próprias hipóteses ao desenvolver dade nas famílias, que se surpreenderam com o
noções de espaço e de posição; utilizassem gestos conhecimento de seus próprios filhos. Uma das
e movimentos já aprendidos dentro do seu contexto mães relatou, no feedback dado à professora, que
cultural; experimentassem diferentes texturas, seu filho adorou a caixa recebida e que inventou
formas, sonoridades e volumes; e identificassem muitas coisas com os materiais, como gangorra,
mesa, castelo. Ao receber a caixa, conforme tirava
de dentro seus objetos, “ele falava o nome de
tudo, sem a minha ajuda... Nunca imaginei que
ele soubesse do bambu!” (Mariana, mãe do Isaac).
DICA DA PROFESSORA
“Como educadores, é importante desenvolver
nossa capacidade de escuta e de observação para
conhecer as crianças. Para isso, precisamos nos
aperfeiçoar constantemente, pois o conhecimento
teórico nos ajuda a compreender nosso papel de
mediador dos processos de aprendizagem. Isso
possibilita propor experiências e escolher materiais
que privilegiem o brincar heurístico, o brincar livre,
onde a criança descobre as coisas por ela mesma.
Em nossa creche, nos inspiramos na obra do
maranhense Gandhy Piorski, que defende a liber-
dade de ser criança e a potência do criar e do
imaginar a partir do uso de elementos naturais”.
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Prêmio
Educação
Infantil
QUAL FOI O PONTO DE PARTIDA?
Com o agravamento da pandemia, todo o
trabalho dos estabelecimentos educativos passou
a ser realizado de forma remota, com transmissão
7 - CAIXA DE na TV aberta local, na plataforma Palmas Home
School e no YouTube. As atividades foram disponibi-
DIVERSÃO lizadas em dias e horários diferentes para as turmas
da Educação Infantil ao Ensino Fundamental, inclu-
sive com momentos específicos para as crianças e
adolescentes com deficiência, transtorno do espectro
FICHA TÉCNICA autista (TEA) e altas habilidades/ superdotação.
“Apesar desse esforço, percebemos que preci-
Educadora premiada: sávamos ir além do uso desses canais de comuni-
Priscila de Freitas cação para atender as necessidades das famílias e
das crianças com deficiência. Muitos pais nos procu-
Machado
raram relatando grande preocupação com a conti-
Número de crianças nuidade da aprendizagem e da socialização de seus
participantes: 30 filhos”, recorda Priscila de Freitas Machado.
Faixa etária: 4 e 5 anos Frente a esse contexto, a professora se deparou
Instituição: CMEI com a seguinte problemática: como garantir o direito
à educação das crianças com deficiência matricu-
Sementes do Amanhã
ladas na unidade, disponibilizar recursos necessá-
Contexto: urbano rios para sua aprendizagem e desenvolvimento e
Município/ estado: respeitar suas necessidades e especificidades? Para
Palmas, TO responder a essas questões, Priscila propôs realizar
Região: Norte o projeto Caixa de Diversão, com diferentes suges-
tões de brincadeiras planejadas especialmente para
serem realizadas em casa pelas duas crianças com
Saiba mais no vídeo
TEA de sua turma.
enviado pela professora.
EM QUE CONSISTIU A PRÁTICA?
O projeto piloto proposto pela professora não
apenas foi acolhido pela equipe pedagógica do
Centro Municipal de Educação Infantil Sementes do
Amanhã, em Palmas, como foi ampliado para todas
as demais turmas da instituição.
Após uma pesquisa, o grupo de professoras propôs
diferentes brincadeiras que foram disponibilizadas
em caixas personalizadas. Cada criança recebeu
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Prêmio
Educação
Infantil
um conjunto de materiais com jogos e brinquedos os jogos e os materiais usados nas caixas, foram
feitos de sucata. A partir do envolvimento de todas objeto de pesquisa dos educadores.
as professoras, cada uma das 30 crianças com defici- Os pais receberam um guia com orientações
ência atendidas pela instituição educativa recebeu sobre os objetivos da proposta e como realizá-la
um conjunto de propostas, planejado segundo as em casa. Eles foram instruídos sobre a importância
suas necessidades e especificidades. de: manter uma rotina diária de cuidado, alimenta-
Com as brincadeiras propostas, as crianças tive- ção e sono; evitar a sobrecarga de atividades; des-
ram acesso a experiências educativas que estimula- ligar aparelhos eletrônicos que desviam a atenção;
ram de forma lúdica o desenvolvimento de lingua- escolher o melhor horário para as brincadeiras, evi-
gem, memória, criatividade, coordenação motora e tando momentos em que as crianças estão sono-
construção de estratégias para resolver problemas, lentas devido aos efeitos de medicação; além de
entre outras habilidades. elogiá-las e incentivá-las.
Ao longo de sete semanas, as professoras acom-
COMO FOI IMPLEMENTADA? panharam a realização das brincadeiras por meio
O primeiro passo do projeto foi levantar o número de fotos e vídeos enviados pelas famílias via What-
de crianças com deficiência atendidas na instituição sApp. Esses registros permitiram a construção de
e suas respectivas especificidades. Em seguida, a um portfólio digital com as experiências vivenciadas
proposta foi apresentada às professoras das tur- pelas crianças e também com os relatos dos pais.
mas, que passaram a atuar conjuntamente. A cons- “Todo o nosso trabalho é sustentado pelo princípio
trução das propostas de atividades, assim como inclusivo. Acreditamos que uma criança com
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Prêmio
Educação
Infantil
deficiência é tão diferente quanto todas as demais atendimento individualizado de crianças com defici-
crianças são diferentes entre si. Assim, evitamos ência e suas especificidades. O projeto se constituiu
padronizações e expectativas hegemônicas. Por como dispositivo de instrumentalização das famílias
DICA DE LEITURA
isso, a diversidade de olhares, estilos, abordagens, para intervenções pedagógicas junto às crianças de
expressões e comportamentos tornou-se um valor forma lúdica e contextualizada, garantindo o direito
Artigo “Brincar com
que se destaca em cada proposta sugerida na Caixa a aprendizagens e desenvolvimento na infância. arte”, publicado no
de Diversão”, defende Juliani. portal do Instituto
DICA DA PROFESSORA Avisa Lá (2010)
POR QUE É UMA PRÁTICA INSPIRADORA? “A educação inclusiva é um direito. Para assegu-
A prática privilegia o brincar, que é eixo estru- rá-lo, nós, professores, precisamos aperfeiçoar
turante de uma Educação Infantil de qualidade. nossa prática e isso requer conhecer a legis-
Demonstra preocupação em atender de forma lação, estudar muito e, acima de tudo, valorizar as
individualizada e esforço em garantir os direitos de diferenças. É essencial reconhecer que cada criança,
desenvolvimento e aprendizagem para as crianças com ou sem deficiência, é um sujeito com interesses
com deficiência, em especial os direitos de brincar, e necessidades próprias e, portanto, tem modos
explorar e participar. de aprender diferentes e singulares que devem ser
“É preciso ressaltar que o objetivo do projeto considerados do planejamento até a avaliação do
não é compensar a necessidade das crianças como nosso trabalho”.
se elas carregassem uma falta, mas sim explorar e
valorizar as formas singulares de elas responderem
aos desafios que lhes são colocados”, pondera
Priscila ao enfatizar que a garantia do desenvolvi-
mento e da aprendizagem passa pela superação
das diferentes barreiras presentes na sociedade, e
não da deficiência.
A prática demonstra a importância do trabalho
coletivo na Educação Infantil . Mesmo num contexto
pandêmico, a professora demonstra ser possível
avançar na construção de uma instituição educa-
tiva inclusiva para a infância, que estimule o prota-
gonismo das crianças. “Ficamos muito felizes com
os resultados e a repercussão do projeto. Hoje, ao
menos 12 dos 24 CMEI em Palmas já adotaram a
Caixa de Diversão”, comenta Priscila com orgulho.
A prática destaca-se ainda pela capacidade de
articular saberes relacionados à educação inclusiva
a partir dos documentos oficiais que orientam a
política de Educação Inclusiva no país, priorizando o
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Prêmio
Educação
Infantil
8 - COMIDAS TÍPICAS
FICHA TÉCNICA QUAL FOI O PONTO DE PARTIDA?
Durante o trabalho remoto, a professora Marci-
Educadora premiada: laine Martins da Silva Oliveira desenvolveu um
Marcilaine Martins da conjunto de práticas para que as crianças da sua
turma conhecessem um pouco da riqueza e da
Silva Oliveira
diversidade cultural brasileira, a partir das manifes-
Número de crianças tações folclóricas locais e regionais. Seu objetivo
participantes: 28 foi despertar e estimular na criança o prazer pela
Faixa etária: 4 e 5 cultura popular e valorizar as manifestações folcló-
anos ricas, como danças, costumes, comidas típicas,
parlendas, ditos populares, ritos, valores e saberes.
Instituição: Escola
Nas atividades enviadas às famílias via WhatsApp,
Municipal Santa Rita a professora contou diversas histórias relacio-
de Cássia nadas aos personagens místicos do folclore brasi-
Contexto: rural leiro, como as lendas da sereia Iara, do boitatá e do
Município/ estado: saci-pererê. As crianças puderam conhecer, apreciar
Goiânia, GO e experimentar a dança catira, típica em Goiás. Esse EM QUE CONSISTIU A PRÁTICA?
momento foi registrado pelos pais, que gravaram Visando a valorização das culturas populares
Região: Centro-Oeste
seus filhos dançando. brasileiras, a professora propôs que as crianças,
A preocupação de adequar o planejamento junto com suas famílias, conhecessem e pesqui-
Saiba mais no vídeo
pedagógico à realidade das famílias também foi uma sassem diferentes comidas típicas do país e, ao
enviado pela professora.
constante no trabalho de Marcilaine ao longo do final, escolhessem uma delas para elaboração, utili-
ano. “Mesmo não sendo obrigatório, fazia questão zando os alimentos presentes no kit de alimentos
de estar presente na escola nos momentos em que distribuído pela escola.
as famílias iam retirar os kits de alimentação. Com A maioria dos pais optou pela produção do
isso, conseguia entregar as orientações impressas cuscuz, comida típica brasileira e bastante consu-
àquelas que não tinham celular ou acesso à internet”, mida em Goiânia. Os registros enviados pelos pais
lembra a professora. à professora revelaram o protagonismo da criança
É nesse contexto que surgiu a proposta de oferecer na interação com o adulto, estimulando a troca de
às crianças práticas que permitissem reconhecer a saberes, a curiosidade e a escuta atenta às orien-
culinária como um dos elementos da diversidade tações, além de fortalecer os vínculos afetivos em
cultural brasileira, tendo como ponto de partida os um contexto de uma pandemia que trouxe grande
próprios mantimentos entregues pela escola. estresse para as famílias.
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Prêmio
Educação
Infantil
COMO FOI IMPLEMENTADA? para pudessem construir, com protagonismo, seus
Marcilaine produziu um vídeo em que apresenta conhecimentos.
alguns pratos típicos de diferentes regiões do país. A pesquisa e a elaboração da receita se constitu-
DICA DE
O material foi compartilhado pelo WhatsApp para íram em contextos que mobilizaram distintos campos
CONTEÚDOS
ser assistido pelas famílias com as crianças. de experiência, com destaque para os campos o eu,
Em seguida, os pais foram orientados a pesquisar o outro e o nós e espaços, tempos, quantidades,
Vídeo da série
com os pequenos, em livros, revistas e na internet, relações e transformações. “Durante esses momentos, “Diálogos
pratos típicos que são consumidos nas diferentes as crianças vivenciaram momentos potentes de do brincar”,
regiões brasileiras, em especial aqueles que convivência e exploração”, explica Marcilaine. sobre o tema
utilizam o flocão de milho. Depois, foi proposto Para além dos pontos já elencados, a prática é Crianças, Festas
que escolhessem uma receita para ser preparada inspiradora porque possibilitou o envolvimento da e Manifestações
em conjunto com as crianças. Os pequenos partici- família, potencializando seu papel enquanto promo- Populares,
disponível no
param da seleção e organização dos ingredientes e tora do desenvolvimento das crianças. Marcilaine se
portal do Programa
também do cozimento – sempre com a supervisão mostrou sensível ao propor atividades que estivessem Território do
do adulto. Todo o processo foi registrado por meio ao alcance dos adultos, aproveitando ingredientes Brincar.
de fotos e vídeos, que foram enviados à professora. que foram entregues pela escola no kit de alimentos.
“Durante a atividade, as crianças ficaram livres Cabe destacar que, durante a pandemia, muitas
para explorar os alimentos e elaborar suas próprias instituições educativas distribuíram mantimentos,
hipóteses sobre números e medidas. Dimensionar mas raras desenvolveram práticas pedagógicas que
a quantidade foi um desafio. Em um dos relatos, focalizaram esse aspecto.
uma delas usou muito sal, colocando o cuscuz a “Nosso maior objetivo foi valorizar, vivenciar e
perder. Após refletir sobre a dosagem usada em resgatar as manifestações culturais, da cultura brasi-
outras receitas, ela acertou na tentativa seguinte”, leira, por meio da comida e dos momentos de
conta Marcilaine. interação, socialização e convivência que a alimen-
tação proporciona”, explica a educadora.
POR QUE É UMA PRÁTICA INSPIRADORA?
Embora tenha sido uma prática simples, a forma DICA DA PROFESSORA
como a professora a conduziu permitiu que as “Mesmo antes da pandemia, acolher e aproximar
crianças fossem protagonistas, tanto no sentido da as famílias é sempre um desafio. Por isso, nós, educa-
investigação, exploração e manipulação dos ingre- dores, precisamos desenvolver um olhar sensível para
dientes, quanto da elaboração da receita. Pelos não responsabilizar e cobrar excessivamente os pais
vídeos, é possível perceber que as famílias compre- – eles não têm o conhecimento pedagógico que
enderam seu papel de mediadoras, acompanhando nós temos. Para isso, o primeiro passo é conhecer
e intervindo o mínimo possível para que os peque- a realidade e os desafios cotidianos enfrentados
nos desenvolvessem suas hipóteses. Dessa forma, a por eles e, com isso, buscar alternativas que sejam
prática proposta pela professora permitiu às crian- possíveis para todos os envolvidos. Quando eles se
ças, principalmente, a garantia dos direitos de convi- sentem acolhidos, passam a reconhecer e valorizar o
ver, explorar e participar, condições indispensáveis trabalho docente e se aproximam da escola”.
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Prêmio
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Infantil
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Prêmio
Educação
Infantil
mensagens com orientações sobre a importância
de valorizar e incentivar as produções, inclusive os
rabiscos. Também foram feitos alertas para que os
adultos não interferissem ou realizassem a atividade
no lugar da criança, além de evitar comparações
com as produções feitas por irmãos ou colegas.
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Prêmio
Educação
Infantil
POR QUE É UMA PRÁTICA INSPIRADORA?
A diversidade de experiências vividas pelas
crianças a partir das provocações da professora
possibilitou que todos os direitos de aprendi-
zagem e desenvolvimento e diversos campos de
experiências fossem mobilizados, uma vez que
a professora não relatou uma única prática, mas
uma sequência de propostas articuladas entre si.
Dentre elas, destacam-se os direitos de brincar,
explorar e expressar. É evidente o protagonismo
das crianças e o diálogo constante com as famílias,
visando o acompanhamento das propostas e suas
repercussões na aprendizagem dos pequenos.
A professora lembra como as práticas promoveram
experiências significativas e despertaram a curiosi-
dade e o interesse por novas aprendizagens. “Uma
das crianças, o Lucas, ficou encantado com a história
do baobá. Tanto que, em 2021, quase um ano após A prática instiga as famílias a criarem oportu-
a atividade, ele comentou em um dos encontros, já nidades para as crianças de experiências ricas na
presenciais, que um dos seus sonhos é conhecer a natureza, demonstrando como tais momentos são
maior árvore do mundo”. muito potentes para o desenvolvimento e a aprendi-
Em uma das muitas trocas entre a professora e o zagem. Ademais, a prática supõe uma concepção de
grupo das famílias no WhatsApp, a mãe de Vinícius planejamento que é coconstruído junto às crianças e
comentou que seu filho realizou muitos desenhos, famílias e que vai costurando todas as experiências DICA DE LEITURA
recortes e colagens. No início das atividades remotas, e aprofundando-as.
os registros eram apenas “riscos” e as pessoas eram Livro A Pedagogia
representadas apenas por uma “bola”. No decorrer DICA DA PROFESSORA da Natureza,
das autoras
das atividades, ela viu as produções de Vinícius evolu- “Cada prática deve ser planejada minuciosa-
Mahal Massavi
írem: “ele passou a separar o corpo da cabeça e a mente, delimitando com clareza os objetivos que se Evangelista e Yana
ter a preocupação de incluir outros elementos, como quer alcançar. Para evitar fragmentação e descon- Marull, publicado
a grama, para que os personagens não parecessem tinuidade do trabalho pedagógico, o mais impor- pelo Instituto
estar voando”, comentou. tante é a qualidade da experiência proposta, e não Sustentar de
Outro ponto que merece destaque foi a forma a quantidade de tarefas. Por isso, é essencial apre- Responsabilidade
como a professora articulou os campos de experi- sentar um repertório de qualidade, que desperte Socioambiental
(2020)
ência, permitindo que um mesmo contexto (no caso, a curiosidade, a imaginação e a criatividade. Além
a natureza) potencializasse experiências corporais, disso, é preciso sensibilidade e flexibilidade para
sensoriais e artísticas. Dessa forma, os campos corpo, observar como as crianças reagem e o que elas
gestos e movimentos e traços, sons, cores e formas têm a dizer sobre a experiência vivenciada”, sugere
foram destacados nas práticas. a professora.
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Prêmio
Educação
Infantil
10 - QUEM SOU
EU NO MUNDO
FICHA TÉCNICA QUAL FOI O PONTO DE PARTIDA?
Todos os anos, a professora Aline Matos de
Educadora premiada: Miranda Barroso inclui em seu planejamento ao
Aline Matos de menos um projeto sobre relações étnico-raciais, em
consonância com a Lei 10.639 de 2003, que tornou
Miranda Barroso
obrigatório o ensino de história e cultura afro-brasi-
Número de crianças leira e africana. Em 2020, mesmo com a pandemia,
participantes: a educadora manteve a temática em seu plano de
80 crianças trabalho. Contudo, a proposta precisou ser adap-
Faixa etária: tada devido à suspensão das atividades presenciais.
Assim como os demais professores da EMEI San-
4 e 5 anos
ta Maria, Aline foi orientada a usar o WhatsApp pa-
Instituição: EMEI ra manter contato com as crianças e suas famílias.
Santa Maria E, para garantir que todas pudessem desenvolver
Contexto : urbano em suas casas as atividades sugeridas, a EMEI en-
Município/ estado: tregou uma cesta pedagógica contendo caderno,
Belo Horizonte, MG tinta, lápis de colorir, papéis diversificados, entre
outros materiais.
Região: Sudeste
Aline lembra que o reconhecimento da impor-
tância de abordar relações étnico-raciais desde a
Saiba mais no Educação Infantil teve início após ela participar de
vídeo enviado pela um curso oferecido pela Secretaria Municipal de
professora. Educação de Belo Horizonte, em 2016. Interessada
em aprender mais sobre o assunto, também passou
a frequentar os encontros mensais no Núcleo de
Relações Étnico-Raciais da Regional Oeste. Com
isso, a professora organizou um acervo de estudo
que sempre é fonte de consulta nos momentos
de planejamento. Segundo a professora, esses
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Prêmio
Educação
Infantil
momentos formativos foram fundamentais para que As propostas foram enviadas às famílias nos grupos
ela pudesse intervir de forma assertiva ao identi- de WhatsApp. Para cada atividade, os adultos foram
ficar o racismo nas falas e nas interações com as orientados sobre como dialogar com as crianças a
crianças. “Já vivi muitas situações dentro da sala de respeito do tema em pauta e, também, sobre as ativi-
aula que, se não estivesse atenta, passaria desper- dades que deveriam ser solicitadas a elas.
cebido. Há poucos anos, um dos meus alunos retra- Nos momentos assíncronos, foram produzidos
tava sua pele somente em tons de rosa e, na hora vídeos nos quais as educadoras contaram histórias
do banho, sempre pedia que esfregasse seu corpo e indicavam livros, filmes, obras de arte e brinca-
com força para deixá-lo mais branco. Levou tempo, deiras, sempre relacionadas à cultura africana.
mas, após realizarmos inúmeras atividades que Elas explicaram aos pais, por exemplo, como eles
valorizavam a cultura e as características físicas do deveriam orientar seus filhos na realização de entre-
negro, ele passou a usar o marrom para ilustrar o vistas com os avós e outros familiares para que os
tom da sua pele. Esse avanço, que não é pequeno, pequenos pudessem conhecer um pouco de sua
deixou sua mãe muito feliz”, relembra Aline. história e ancestralidade.
Nos momentos síncronos, por meio de videocha-
EM QUE CONSISTIU A PRÁTICA? madas, foram promovidas visitas virtuais em espaços
O trabalho foi dividido em duas etapas distintas. Na de aprendizagem. Exemplo disso foi o passeio
primeira, foi sugerido um conjunto de práticas para on-line pelo Jardim Zoológico de Belo Horizonte,
que cada criança conhecesse a si mesma, a história no qual a professora apresentou alguns animais de
de sua família e sua ancestralidade. Na segunda origem africana fora de seu habitat natural.
etapa, as professoras trabalharam alguns elementos Dessa forma, tanto as crianças quanto os adultos
da história e da cultura africana, como literatura, arte, puderam ampliar seu repertório ao conhecer livros
fauna e flora, culinária e filosofia Ubuntu. infantis que valorizam a diversidade étnico-racial;
apreciar pinturas em estilo Tingatinga; e descobrir
COMO ELA IMPLEMENTADA? alguns animais, alimentos e plantas que são típicos
Entre agosto e dezembro de 2020, o projeto Quem do continente africano.
Sou Eu no Mundo, planejado por Aline, foi desenvol- Em uma das atividades sugeridas, Aline orientou
vido em quatro turmas de pré-escola da EMEI com os pais a posicionarem seus filhos na frente do
crianças de 4 e 5 anos. O trabalho foi conduzido espelho e conversar com eles, sempre elogiando
por seis educadoras, das quais quatro atuam como sua beleza e ajudando os pequenos a identificarem
regentes e duas são professoras de apoio. e descreverem suas características físicas, como o
Para desenvolver o projeto, as seis professoras se formato da boca e do nariz, a cor dos olhos e o
reuniram semanalmente via Google Meet e Google cabelo. As professoras demonstraram a preocu-
Apresentações. “Nesses encontros, definimos o pação em orientar que os pais evitassem utilizar
cronograma, discutimos os objetivos e aprendiza- algumas expressões que, apesar de comuns em
gens que esperávamos que fossem construídas pelas nossa sociedade, são discriminatórias. “Explicamos
crianças, selecionamos os materiais e obras que utili- que nunca devemos usar expressões como ‘cabelo
zaríamos e nos dividimos quanto às produções dos duro, de bombril ou ruim’, e sim cabelo crespo,
vídeos”, lembra Aline. cacheado ou encaracolado”, comenta Aline.
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Prêmio
Educação
Infantil
Em seguida, os pais solicitaram aos seus filhos de diferentes texturas, e ao desenharem animais
que eles desenhassem um autorretrato e escre- seguindo o estilo Tingatinga”, explica a professora.
vessem seu nome. Todo esse processo foi fotogra-
DICA DE LEITURA
fado e compartilhado com as demais crianças e DICA DA PROFESSORA
suas famílias no grupo de WhatsApp da turma. “Vivemos em uma sociedade estruturalmente
Livro Obax, escrito
Ao analisar as produções, as professoras puderam racista e, como educadores, temos a responsa- por André Neves,
identificar o quanto os pequenos exploraram bilidade de promover uma educação antirracista. publicado pela
diversas cores e tonalidades, seja em seus autor- Primeiro, porque é lei. Segundo, porque o processo editora Brinque-
retratos, seja nos desenhos dos personagens que de construção de identidade pode ser longo e Book, 2010.
conheceram por meio das histórias e filmes. é diferente de pessoa para pessoa. Daí a impor- Livro: Com qual
tância de abordar as relações étnico-raciais desde a penteado eu
POR QUE É UMA PRÁTICA INSPIRADORA? Educação Infantil. Estudar essa temática é o primeiro vou, da autora
Kiusam de
Um dos diferenciais do projeto elaborado por passo para desenvolver um olhar sensível. Nós, Oliveira, publicado
Aline foi a proposição de atividades que resultaram professores, assim como as crianças e suas famílias, pela editora
no amplo envolvimento das crianças e das famílias. estamos sujeitos a ter atitudes racistas. Por isso, Melhoramentos,
Em relação aos campos de experiência, o trabalho precisamos nos policiar para evitar que nossa prática 2021
esteve em especial associado ao o eu, o outro e o pedagógica reitere o racismo”.
nós, ao passo que possibilitou à criança viver formas
de olhar para si e para sua família de maneira mais
amorosa, enxergando em si mesma e em seus ances-
trais referências de cultura e beleza que fogem de
padrões e estereótipos da atual sociedade.
A prática garantiu o direito de aprendizagem e
desenvolvimento da criança ao propiciar a possi-
bilidade de convivência com sua própria história e
origem e ao construir um referencial de pertenci-
mento étnico-racial. Ao mesmo tempo, possibilitou
que ela pudesse conhecer-se e construir uma identi-
dade individual e coletiva, que valoriza suas carac-
terísticas fenotípicas e culturais a partir da inclusão
da possibilidade de se ver representada no mundo,
fugindo assim de atitudes preconceituosas.
“Ampliamos o repertório das crianças a partir de
histórias, filmes e brincadeiras de tradição africana.
Elas desenvolveram o autoconhecimento por meio
da apreciação do próprio corpo e da história da sua
família. Exploraram a criatividade ao produzirem suas
próprias tintas com materiais minerais e vegetais,
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para manter o vínculo e possibilitar aprendiza-
gens significativas para as 18 crianças da sua turma
multisseriada de pré-escola 1 e 2.
Dentre as sugestões, destacam-se os momentos
de brincadeira e de leitura com as crianças que
envolviam, entre outras coisas: brincar de encontrar
objetos que começassem com as letras presentes em
seus nomes; produzir jogos com materiais recicláveis,
como os de adivinhação, memória e tabuleiro; fazer
medições em palmo, comparando o tamanho de
suas mãos com a de seus irmãos e outros familiares;
aprender a usar o termômetro e a importância de
medir a temperatura corporal; e produzir bonecos
com folhas disponíveis na natureza.
Ao privilegiar as brincadeiras, Tatiana obteve
grande participação da comunidade. Por meio
dos vídeos enviados pelos pais, ela pode capturar
momentos em que as crianças exploraram e manipu-
uma educação integral, valorizando os saberes do laram diferentes materiais e sucata para construir
campo, a interdisciplinaridade e o lúdico”, explica. jogos e expressaram seus sentimentos e desejos em
A primeira providência tomada foi produzir um cada resultado. Elas desenharam autorretratos, escre-
pequeno livreto abordando o contexto da pande- veram nomes, comentaram as histórias que foram
mia. No dia 15 de abril, o material foi entregue às contadas, entre outras atividades. Com o empenho
famílias via WhatsApp junto com um vídeo no qual e as orientações de Tatiana, os pais perceberam o
Tatiana desafiou os pais e as crianças a reproduzi- potencial das brincadeiras propostas para o desen-
rem uma dobradura. Ela pediu que eles registras- volvimento das crianças e as famílias promoveram
sem esse momento em vídeo e o enviassem no ricos momentos de aprendizagem para seus filhos.
prazo de três dias. “Num primeiro momento, os pais enviaram
O retorno das famílias surpreendeu. A professora relatos agradecendo o contato e o envio das ativi-
decidiu reunir e editar os registros em um novo vídeo, dades, porque as crianças estavam muito ansiosas,
que foi compartilhado com todas as famílias. “Vários com saudade da escola. Eles também comentaram
pais relataram o quanto as crianças ficaram empol- a participação de outros integrantes da família na
gadas ao rever os colegas da turma”, lembra Tatiana. realização das brincadeiras, como tios e primos,
demonstrando a importância de estarem juntos”,
EM QUE CONSISTIU A PRÁTICA? comenta a professora. Ela explica que as brinca-
A partir de uma escuta sensível, a professora deiras propostas eram realizadas com objetos
acolheu as famílias que, a princípio, desejavam simples, presentes no contexto das casas, por isso
que seus filhos recebessem atividades em papel. cada família precisou estabelecer uma rotina e
Tatiana enviou diversas sugestões de atividades organização para desenvolver as atividades.
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COMO FOI IMPLEMENTADA?
Toda semana, entre os meses de abril e agosto
de 2020, um novo desafio foi enviado às famílias
por WhatsApp, e a proposta tinha um prazo para
ser executada. As famílias ficaram responsáveis por
registrar esses momentos com as crianças e enviar
à professora. Com esse material em mãos, Tatiana
editava e produzia um novo vídeo para comparti-
lhar com todas as famílias e crianças.
“Esse vídeo de retorno foi a estratégia que ampli-
ficou o diálogo e o vínculo entre todos nós. Os
alunos começaram a ter outra postura sobre as
atividades sabendo que seus colegas veriam seu
trabalho. Capricharam mais, tiveram mais vontade
de realizar as atividades. Alguns até começaram a demonstrar que as brincadeiras ensinam. Têm mais
se arrumar para ficar ‘bem’ no vídeo. Segundo os significado”, explica a educadora.
pais, eles esperavam ansiosos para ver os colegas Ao valorizar o brincar e o lúdico, a professora
também, como se fosse um reencontro na sala de contribui para que as famílias ressignifiquem o papel
aula, ainda que de forma virtual”, comenta Tatiana. da Educação Infantil. “No trabalho presencial, somos
nós, professoras, quem brincamos com as crianças e DICA DE
POR QUE É UMA PRÁTICA INSPIRADORA? observamos seu aprendizado. Dessa vez foi diferente, CONTEÚDOS
A professora demonstra intencionalidade pedagó- os pais foram nossos olhos e ouvidos e partici-
gica evidente em cada desafio proposto às famílias param diretamente desse processo de construção Site Território
e crianças. A valorização das interações e do brincar do conhecimento”, lembra Tatiana. do Brincar que
consolida uma
norteiam o trabalho de Tatiana. Em cada prática, ela
série de iniciativas
dialoga com diferentes direitos de aprendizagem e DICA DA PROFESSORA relacionadas ao
campos de experiências, como orienta a BNCC. “Temos que acreditar nas brincadeiras e acreditar brincar e sua
O direito a conviver (mesmo de forma remota) nas crianças. E, para que as famílias reconheçam a diversidade, para
é potencializado quando a professora compartilha potência do brincar, temos que ganhar a confiança difusão registro e
os vídeos entre as crianças e aposta no direito de dos pais. Precisamos demonstrar a seriedade do difusão da cultura
brincar. Sempre atenta, ela manteve uma excelente nosso trabalho, deixando claro nosso intuito com infantil no Brasil
comunicação com as famílias, para que os pais cada proposta, ainda que o objetivo seja deixar
compreendessem a importância da brincadeira para a criança brincar, se expressar e ser livre. Com
o desenvolvimento dos pequenos. isso, eles percebem que sabemos o que estamos
“Acredito que, quando os pais me procuraram, fazendo, não se trata de improviso. Embora em
eles esperavam receber atividades em folhas de alguns casos o imprevisto seja desejado, mas, mesmo
papel para as crianças preencherem, com exercícios nesses casos, temos que ter algum domínio sobre a
mecânicos. Aos poucos, construí estratégias para imprevisibilidade”.
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OU AFUNDA
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dispõem de recursos para comprar. Outra dificul- EM QUE CONSISTIU A PRÁTICA?
dade é que a papelaria mais próxima do distrito fica Com o experimento Flutua ou Afunda, Josilaine
a 25 quilômetros de distância”, explica. provocou as crianças a estabelecerem relações de
Assim, semanalmente foi enviada às famílias uma comparação entre objetos, observando suas proprie-
proposta de atividade com um tema gerador, que dades e seu comportamento quando inseridos na
visava estimular o interesse e a curiosidade das água. Durante a atividade, elas puderam construir
crianças sobre um determinado tópico, que depois hipóteses, registrar seus achados por meio de
seria aprofundado por meio de leituras, vídeos e medições e construções de gráficos simples.
experimentos, sempre valorizando a brincadeira e “Minha principal intenção com o experimento não
a ludicidade. foi que elas dominassem o conceito de densidade, e
Em sua prática docente, Josilaine afirma que sim que as crianças pudessem desenvolver a postura
sempre busca privilegiar atividades sobre fenômenos investigativa e se aproximarem do conhecimento
naturais, valorizando a interdisciplinaridade. O científico”, enfatiza a professora.
experimento Flutua ou Afunda, proposto por ela,
se encaixa nessa proposta. “Desde a mais tenra COMO FOI IMPLEMENTADA?
idade, as crianças demonstram curiosidade sobre os O experimento Flutua ou Afunda foi desenvol-
fenômenos da natureza e suas transformações. Por vido por Josilaine quando ela estava no mestrado.
isso, sempre busco aproveitar esse interesse ofere- A proposta foi adaptada para o contexto remoto e
cendo oportunidades para que elas possam vivenciar dividida em três etapas. Na primeira, foi disponibili-
momentos de investigação, desenvolver o raciocínio zado um vídeo no qual as professoras apresentaram
lógico e elaborar suas primeiras explicações sobre o a brincadeira utilizando diferentes elementos que
mundo”, defende a professora que, após concluir o flutuam e afundam. Depois de assistir ao vídeo com
magistério, se formou em Biologia e, no mestrado, as crianças, os pais foram orientados a questioná-las
investigou a ludicidade da Ciência da Natureza nos sobre quais objetos flutuaram, quantos afundaram
anos iniciais do Ensino Fundamental. e o motivo de alguns flutuaram e outros não.
Em seguida, foi a vez dos pequenos realizarem o
experimento. Os adultos disponibilizaram uma bacia
com água e indicaram que as crianças deveriam
escolher 15 objetos presentes em suas casas para
fazer o teste. Elas foram orientadas a registrarem
quais itens flutuaram ou afundaram e a construírem
um gráfico. Por fim, a professora indicou que as
crianças e suas famílias assistissem ao vídeo Afunda
ou flutua – O show da Luna!, que apresenta de
forma lúdica o conceito de densidade.
Os pais foram orientados a enviar os registros das
atividades à professora pelo WhatsApp. Quando
surgiram dúvidas sobre como conduzir a proposta,
Josilaine se mostrou presente e disponível.
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Uma dúvida recorrente e que causou muitas inquie- agrupando-os e ordenando-os segundo o critério de
tações foi o fato de os mesmos elementos afundarem afundar ou não quando colocados na água, criando
com algumas crianças e com outros flutuarem. desse modo noções relativas à massa, peso e flutu-
“Nesse caso, minha intervenção se deu pelo envio e abilidade. Por fim, a criança teve a oportunidade de
DICA DE LEITURA
análise de fotografias dos experimentos e também fotografar seus achados, explorando outras possibi-
por mensagens de áudio. Fiz provocações para que lidades de comunicação e registro.
Livro: Os bebês
as crianças percebessem que alguns recipientes com A proposta é simples e viável de ser realizada no e as coisas, das
água eram menores e outros maiores e isso influen- ambiente familiar. Além disso, tem o grande poten- autoras Hermine
ciava no fato de o elemento afundar ou flutuar”. cial de aproximar a criança do processo investigativo Sinclair, Mira
No final do ano, os professores produziram uma e promover o desenvolvimento de diferentes habili- Stambak, Irène
mostra virtual com a síntese do trabalho realizado dades. Josilaine consegue despertar a curiosidade, Lézine, Sylvie Rayna
ao longo do ano, além da apresentação de relatos estimulando o protagonismo da criança no processo e Mina Verba,
dos educadores e das famílias. Muitos pais desta- de construção do conhecimento. publicado pela
editora Autores
caram que realizar as atividades foi um desafio. Também é muito inspiradora a forma como a Associados (2012)
“Apesar das dificuldades, foi maravilhoso ver como professora mediou todo o processo, assegurando Livro: Os bebês
minha filha aprende. Mesmo nas atividades mais o vínculo com a família. Foi grande o empenho entre eles:
simples, vi o esforço em fazer sempre o melhor”, de Josilaine para garantir a participação de todos. descobrir, brincar
comentou uma das mães. Dentre as 23 famílias, apenas uma não tinha acesso à e inventar juntos,
internet. Então, a atividade foi impressa e entregue na das autoras Mira
POR QUE É UMA PRÁTICA INSPIRADORA? casa pela própria professora, que deixou o material Stambak , Michèle
Barrière, Laura
A proposta permite desenvolver conhecimentos na caixa de correio.
Bonica, Renée
vinculados principalmente aos campos de experi- “Quando alguma família se distanciava, eu ligava Maisonnet, Tulia
ência espaços, tempos, quantidades, relações ou mandava mensagem, mesmo à noite ou aos finais Musatti, Sylvie
e transformações e escuta, fala, pensamento e de semana, procurando sempre ouvir, compreender Rayna e Mina
imaginação, que foram construídos a partir de e traçar o melhor caminho”, recorda. Verba, também
uma prática que colocou a criança como centro do publicado pela
processo: ela conduz o experimento, explora os DICA DA PROFESSORA editora Autores
objetos e é reconhecida enquanto sujeito pensante, “O professor tem que estar atento aos registros Associados (2011)
que questiona, reflete, elabora e expressa suas enviados, pois os detalhes de cada áudio, vídeo
opiniões e hipóteses. “A ciência desperta a curiosi- ou fotos são uma fonte preciosa de informações
dade e esse interesse gera a vontade de aprender”, que permitem nortear nossas intervenções. A fala,
comenta a professora. os gestos e as expressões dizem muito sobre o
Os direitos de aprendizagem e desenvolvimento processo de desenvolvimento das crianças. Isso
mobilizados com a proposta da professora permi- exige muita disponibilidade, em especial durante
tiram que a criança participasse da atividade desde a pandemia. Devemos estar sensíveis aos obstá-
a eleição de quais materiais em sua residência iriam culos enfrentados cotidianamente pelas famílias,
compor seu experimento até a execução do experi- o que exige, muitas vezes, estar disponível em
mento, suas observações e conclusões. A criança horários alternativos. Esse esforço é compensado
pôde explorar as características físicas desses objetos, pelo reconhecimento do nosso trabalho pelos pais”.
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Prêmio
Educação
Infantil
pelo Decreto Legislativo nº 6, de 20 Paulo,.. Disponível aqui. Acesso em:
de março de 2020. Diário Oficial da 7 ago. 2021.
União, Brasília, seção 1, p. 106, 10
dez. 2020. Disponível aqui. FUNDAÇÃO MARIA CECILIA
SOUTO VIDIGAL. Primeiríssima
COMITÊ CIENTÍFICO DO NÚCLEO infância – interações na pandemia:
CIÊNCIA PELA INF NCIA. comportamentos de pais e cuidadores
Repercussões da pandemia de de crianças de 0 a 3 anos em tempos
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Prêmio
Educação
Infantil
Massimo; SOMEKH, Eli. Behavioral and Disponível aqui. Acesso em:
emotional disorders in children during 7 ago. 2021.
the COVID-19 epidemic. The Journal
of pediatrics, v. 221, p. 264, 2020. CRIANÇAS, festas e manifestações
Disponível aqui. Acesso em: 7 ago. 2021. populares . (Temporada 1,Ep. 8)
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