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Funções e Problemas Do Adm Hospitalar
Funções e Problemas Do Adm Hospitalar
ADMINISTRAÇÃO
HOSPITALAR E
SAÚDE
Introdução
Gerir hospitais no século XXI é uma tarefa cada vez mais complexa, visto,
dentre outros fatores, o aumento da expectativa de vida da população
e o contínuo aumento de doenças crônicas, que contribuem para o
aumento na demanda nos hospitais, independentemente da região e
do tipo de gestão, seja pública ou privada.
Neste capítulo, você vai listar as principais funções do administrador
hospitalar, os desafios da área da gestão de pessoas em saúde e os con-
ceitos de eficiência e eficácia no contexto da gestão hospitalar.
E o hospital? Você já parou para pensar na função que ele exerce na vida das
pessoas? O Ministério da Saúde (MS) define o hospital como uma instituição
necessária, pois, tem como função a promoção do cuidado com a saúde da
sociedade, desde seu nascimento, doença e morte. Ou seja, o hospital é uma
organização médica e social cuja principal finalidade é oferecer à população
assistência médica integral, curativa e preventiva, independente do modelo
de atendimento, inclusive o domiciliar. Além disso, constitui-se ainda como
um centro de educação e pesquisa em saúde, com capacidade para formar
recursos humanos. Assim podemos afirmar que as organizações hospitalares
têm como funções (MALAGÓN-LONDOÑO; MOIRERA; LAVERDE, 2003;
SHAW et al., 2010):
Com certeza você também sabe que as pessoas são vistas hoje pelas or-
ganizações como elementos chave para seu sucesso e sobrevivência. Ou seja,
são as pessoas que assumem maior importância no contexto das organiza-
ções, uma vez que são capazes de aumentar ou diminuir a produtividade, de
melhorar ou piorar a qualidade dos serviços e de gerar maior ou menor lucro
para elas. Dessa forma, podemos dizer que não bastam as melhores estruturas,
recursos e tecnologia, se as empresas não puderem contar com profissionais
qualificados e comprometidos, ou seja, o funcionamento das organizações
e também dos hospitais depende muito de seus funcionários (LA FORGIA;
COUTTOLENC, 2009).
Um dos relatórios da Organização Mundial da Saúde (ORGANIZAÇÃO
MUNDIAL DA SAÚDE, 2007) destaca a importância dos recursos huma-
nos nos sistemas de saúde e sua qualificação. No Brasil, essa importância é
reconhecida, e há grande preocupação com a formação, o desempenho e a
gestão desses profissionais, uma vez que é comprovado que sua atuação afeta
significativamente a qualidade dos serviços prestados e o grau de satisfação
daqueles que o utilizam. Essa realidade exige do administrador, a adoção de
políticas e práticas de gestão de pessoas capazes de responder às necessidades
atuais e futuras (SEIXAS, 2002).
Para que isso aconteça, o administrador deve abandonar a mentalidade
tradicional de gestão e adotar um conjunto de políticas, práticas e padrões
atitudinais, empregar ações e instrumentos capazes de interferir no compor-
tamento humano e direcioná-lo no ambiente de trabalho, como por exemplo,
estruturas de trabalho mais flexíveis; descentralização dos processos decisórios;
implementação de mudanças; maior envolvimento entre todos os setores da
organização na busca por resultados comuns e incentivo a relações de trabalho
mais integradas e dinâmicas. É papel ainda do administrador, e isso cabe
também para as unidades de saúde e hospitais, adotar na gestão de pessoas
8 Funções e problemas enfrentados pelo administrador hospitalar
Estruturas flexíveis
de trabalho
Descentralização
das decisões
Função do Agente de
administrador mudanças
na gestão de
pessoas Integração entre
setores e pessoas
Bom clima
organizacional
Doenças crônicas: são doenças com progressão lenta em que, na maioria das vezes, as
pessoas que as adquirem carregam-nas para si pelo resto de suas vidas, como problemas
cardiovasculares, problemas respiratórios crônicos, cânceres e diabetes, responsáveis
atualmente por cerca de 70% de todas as mortes no mundo, com estimativa de 38
milhões de mortes anuais, das quais 16 milhões em pessoas com idade inferior a 70
anos (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2011).
Além dos altos custos, muitos hospitais possuem restrições quanto à forma
de obter receitas, como, por exemplo, os hospitais privados que possuem
convênio ou contrato com o Sistema Único de Saúde (SUS), em especial os
sem fins lucrativos, que não possuem o controle dos preços dos procedimentos
remunerados pelo SUS, cujo valor não cobre sequer os custos da prestação
dos serviços, pela alta defasagem dos valores repassados. Esses hospitais, ao
mesmo tempo em que possuem parceria com o SUS, estão inseridos na esfera
privada, não sendo custeados totalmente pelo SUS, dependendo de doações
(MARTINS; FERREIRA-DA-SILVA; MACHADO-SANTOS, 2014).
Os hospitais privados, por sua vez, com fins lucrativos, possuem maior
liberdade para ajustar os preços dos procedimentos. Não entanto, têm nos
concorrentes e na pressão sofrida pelos planos de saúde obstáculos quanto
à prática de preço de seus procedimentos. Apesar dessas diferenças, todos
os hospitais, públicos ou privados, tem como grande desafio a busca pela
excelência, nos âmbitos nacional e internacional. Assim, cada um deles adota
medidas diferentes no sentido de alcançar eficiência e eficácia financeira e
operacional (SAQUETTO, 2012).
Mas, você sabe o que significa eficiência e eficácia? Eficiência e eficácia
são termos bastante utilizados na administração para demonstrar o grau de
desempenho das organizações em relação ao objetivo alcançado. Eficácia diz
respeito ao alcance de resultados, enquanto eficiência refere-se à utilização
Funções e problemas enfrentados pelo administrador hospitalar 13
Minimizar a
utilização de
recursos
Eficácia Eficiência
Fazer as coisas certas Fazer bem as coisas
Preocupação com os fins Preocupação com os meios
Maximização dos objetivos Minimização dos recursos
alcançados utilizados
Ênfase nos resultados Ênfase nos processos
Maximizar a
Escolha dos objetivos mais realização de Ausência de desperdícios
adequados objetivos
Como você pôde observar, eficiência é um conceito limitado que diz respeito
ao volume de recursos utilizados para produzir uma unidade de produto ou
serviço, ao passo que eficácia é um conceito mais abrangente, que representa
o grau de realização das metas estabelecidas. Então, se um hospital consegue
atingir seus objetivos utilizando menos recursos, dizemos que ele é eficiente.
No entanto, apesar de às vezes a eficiência levar à eficácia, nem sempre elas
estão relacionadas, ou seja, um hospital pode ser altamente eficiente e não
conseguir alcançar suas metas, porque talvez ofereça um serviço para o qual
não exista demanda suficiente. Da mesma forma, um hospital pode alcançar
suas metas financeiras, por exemplo, e ser ineficiente porque para isso, utilizou
mais recursos do que normalmente disponibilizava. Está aí o conflito existente
entre eficiência e eficácia (SOUZA et al., 2010).
Dessa forma, a eficácia das organizações e também dos hospitais depende
das relações estabelecidas entre pessoas, tecnologias, recursos e administra-
ção, ou seja, da combinação e coordenação perfeita de todos esses elementos
para atingir os objetivos e prestar de serviços de qualidade. Cabe lembrar
que o modelo de gestão adotado possibilita ao hospital mudar seus níveis de
atenção e investir na qualidade dos serviços. Assim, o estilo de gestão deve
estar adequado à organização, às suas estratégias e aos perfis dos profissionais
que executam os serviços. Apesar de não ser possível identificar um estilo
de gestão eficaz para todas as situações, existem algumas características que
podem tornar os hospitais e as demais organizações mais eficazes (SOUZA
et al., 2010):
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