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ESTADO DA BAHIA

PROCURADORIA GERAL DO ESTADO

PROCESSO PGE N°: 2022.11.01.00009454


PROCESSO EXTERNO N°: 099.8161.2022.0005640-47
ORIGEM: DEPARTAMENTO DE POLÍCIA TÉCNICA
INTERESSADO(A): 'Edson Luiz dos Reis'

DESPACHO Nº PA-NSSP-149-2022

Foi encaminhado o presente expediente a este Núcleo setorial da PGE


com vistas à análise jurídica da consulta formulada pela i. Perita Odontolegal Coord.
CRPT VC, Sylvia Samara Schettini Dias, DOC SEI00051245590, acerca da
possibilidade de serem realizadas perícias em aparelhos celulares, sem autorização
judicial, nestes termos:

considerando o fato da Coordenadoria Regional de Vitória da


Conquista ser uma das duas referências no interior do Estado para
realização de Perícias em Celulares, solicito orientação formal da
Grande Regional Planalto e da Diretoria do Interior para o devido
procedimento diante das demandas periciais em aparelhos celulares
que cheguem a essa CRPT sem autorização judicial, (incluindo aqui os
já armazenados na sala de custódia), ressaltando que, do elevado
passivo existente de aproximadamente 640 celulares para perícia, uma
parcela expressiva não apresenta a referida autorização.

Conforme se verifica dos autos, o tema em exame tem trazido


divergência de entendimento entre as autoridades requisitantes das mencionadas perícias,
sendo essencial, em razão da sua importância, se buscar manifestação jurídica com vistas

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a uniformidade no tratamento da matéria, especialmente no âmbito da Diretoria do


Interior/DPT, onde são realizadas perícias nas Coordenadorias de Polícia Técnica de
Vitória da Conquista e Feira de Santana, destinadas a todo o interior do Estado, sendo
solicitado, inclusive, que a deliberação sobre o tema seja emanada da Diretoria Geral
do DPT, que assumiria caráter sistêmico, proporcionando uniformidade nas ações no
âmbito do DPT.
Ocorre que essa questão foi recentemente tratada nesta PGE, nos autos
do Processo SEI Nº 099.8182.2022.0003339-32, de origem do Departamento de Polícia
Técnica, Diretoria Geral, cujas conclusões transcrevo abaixo:

Da leitura das regras postas na Lei nº 13.964/2019, que alterou o


Código de Processo Penal (Decreto-Lei nº 3.689/1941), arts. 158-A a
158-F, inseridos no Capítulo relativo ao Exame de Corpo de Delito,
Cadeia de Custódia e Perícias, percebe-se que há detalhamento do iter
procedimental para a coleta, processamento, armazenamento e
descarte do material, considerando-se “vestígio”, “todo objeto ou
material bruto, visível ou latente, constatado ou recolhido, que se
relaciona à infração penal.”

No que tange ao manuseio dos vestígios digitais nesse iter


procedimental da Cadeia de Custódia, vale pontuar que, do ponto de
vista técnico, a prova ou potencial prova digital deve ser tratada
conforme os procedimentos forenses adequados, seguindo todos os
ditames técnicos e legais da citada cadeia de custódia, naquilo que
couber. Recomenda-se que o Departamento de Polícia Técnica atente
para as melhores práticas nacionais e internacionais envolvendo a
temática.

Em termos de fluxo, uma vez definido internamente, deverá ser


detalhado pelo Departamento de Polícia Técnica, explicitando-se em
sua Cartilha os detalhes de cada etapa, identificando seus responsáveis
e, em especial, atentando para como um evento específico será
identificado, rotulado, registrado, colhido, armazenado etc.

Observe-se que o art. 158-E da Lei nº 13.964/2019 prescreve que os


Institutos de Criminalística “deverão ter uma central de custódia
destinada à guarda e controle dos vestígios, e sua gestão deve ser
vinculada diretamente ao órgão central de perícia oficial de natureza
criminal”.

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Posto isto, diante da especificidade do vestígio digital colhido em


perícias realizadas em equipamentos eletrônicos mencionados nesta
consulta, acautele-se o Departamento de Polícia Técnica no tocante ao
aprimoramento de suas atividades, em especial observância ao
disposto nos arts. 158-A a 158-F, do Código de Processo Penal,
seguindo os dispositivos infraconstitucionais naquilo que for aplicável,
e crie um fluxo próprio para respeitar os procedimentos voltados à
manutenção da Cadeia de Custódia dos vestígios digitais, com
recomendação para que observe as melhores práticas, de modo a
garantir a sua integridade.

Sem prejuízo das normas de Direito Penal e Processual Penal, deve o


Departamento de Polícia Técnica, quando do manuseio de evidências
e provas digitais, ou nos achados de vestígios digitais, atentar-se para
os princípios e disposições gerais sobre proteção de dados e
privacidade no Brasil, que derivam da Constituição Federal, Leis
ordinárias e regulamentos que tratam de tipos específicos de relações
públicas e privadas em diferentes setores, em especial no que tange as
proteções ao direito à privacidade, incluindo o sigilo de
correspondência, comunicações telegráficas, telefônicas e de dados.

Deve o Departamento de Polícia Técnica sempre observar, no que


couber, a Lei de Acesso à Informação e a Lei nº 12.965, de 23 de abril
de 2014 (Marco Civil da Internet), e, por fim, a Lei nº 13.709, de 14 de
agosto de 2018 (Lei Geral de Proteção de Dados), no tratamento dos
dados que, porventura, forem desqualificados como evidência ou prova
digital, para que a profusão destes dados não afete, eventualmente, a
intimidade ou a privacidade dos investigados e periciados.

Ante o exposto, no tocante à orientação quando das solicitações de


perícias em equipamentos eletrônicos diversos, tais como celulares,
computadores e notebook’s com o objetivo de acesso e extração das
informações armazenadas, seguindo o entendimento desta Casa e das
Cortes Superiores, opino pela impossibilidade da perícia, sem a
devida autorização judicial, por infração aos incisos X e XII, da
Constituição Federal de 1988.

Neste sentido, reitera-se a recomendação do Parecer PA-NCAD-FLC-


1543-2016, para que seja providenciada a prévia autorização judicial,
evitando-se, assim, futuras alegações de nulidades, diminuindo o risco
de que o exame pericial seja infirmado e desentranhado dos autos,
tornando-se inservível como material probatório, em nítido
desprestígio à atividade pericial, que seria onerada com um dispêndio
de energia para a feitura do exame que posteriormente se revelaria
inócuo/inservível.
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Acosto aos autos o parecer mencionado, a fim de fornecer todos os


elementos de convencimento acerca da solução jurídica encontrada para o caso concreto.
Encaminhem-se os autos à SSP, para conhecimento e adoção das medidas
cabíveis.

PROCURADORIA GERAL DO ESTADO, 11 DE DEZEMBRO DE 2022

Maria do Carmo Freaza Garcia


Procurador Assistente

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Documento assinado eletronicamente por MARIA DO CARMO FREAZA GARCIA:27411869520, em 11/12/2022, às 10:17:22, com
fundamento no art. 13º, Incisos I e II, do Decreto nº 15.805, de 30 de dezembro de 2014.

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