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CURRICULOS, PROGRAMAS E PROJETOS PEDAGOGICOS CLC MCS Ld © 2017 by Pearson Education do Brasil ‘Todos os diteitos reservados. Nenhuma parte desta publicayio poder ser reproduvida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro ‘meio, eletronico ou mecinico, inchiindo fotocdpia, gravasao ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento ¢ transmissio de informagao, sem prévia autorizagio, por escrito, da Pearson Education do Brasil Diretora de produtos: Gabriela Dinana Supervisora de prodasia editorial: Silvana Afonso Coordenador de produtes: Vinicius Sowza Eaditor: Casa de Teas Redasae: Denise Trevisan de Goes Projeto grafico e diggramasio: Casa de Weias Dados Internacionais de Catalogacio aa Publicagio (CIP) (Cémara Brasileira do Liv1o, SP, Brasil) Curriculos, programas ¢ projetos pedagsgicos / organizadora Humberta Porto. Sio Paulo : Pearson Education do Brasil, 2017 ISBN 978-85-430-2068-6 1. Curticulos ~ Avaliagao 2. Curriculos ~ Planejamento 3. Disciplina escolar 4, Educagio ~ Curriculos 5. Projeto pedagSgico L Porto, Humbert, 1701454 CDD-375.001 Indices para catdlogo sistematieo: 1-Ganiculoe: Eaucnglo 375,001 2017 Direitos exclusives para a lingua portuguesa cedidos 2 Pearson Education do Brasil Ltda., uma empresa do grupo Pearson Education Avenida Santa Marina, 1193 CEP 05036-001 — Sao Paulo — SP Brasil Fone: 11 3821-3542 universes atendimento@pearson.com SUMARIO 1 Curriculo: histéria, definicdes e conceitos: Ocurriculo e seus conceitos. Curricula e escola. Hist6ria das disciplinas escolares... Disciplina escolar segundo Chervel. Estudos do CUITICUIO. sansa O curricula e os conteudo: Curriculoe Concepcées de Inf ennai Desenvolvimento humane Celanga, desenvolvimento infantil e curricula... Unidade 2 Curriculo escolar: teorias, didlogos e conflitos...41 Curriculo como campo de estudo.. Teorias curriculares Teorias curriculares no Brasil Didlogos e contflitos na organizagao do curriculo.. ContradigGes dos tipos de curriculo em sala de aula Curriculoe tivo didti Curriculo como seleséo cultural. ‘Almpomtinca do cucu nos projetos pedagéaicos Ainterpretagio no curticulo integrado.eunn Formas de integracio - Projetos de trabalhOsunnnsnsn Propostas de curriculos integrados. Unidade3 A func3o do curriculo formal na sociedade. Curricula e politicas publicas, Aorganizagao do cumiculo formal. Legislagao brasileira e o curriculo da educacao basica O curriculo formal.. Crticasa um curriculo nacional... Curriculo como produgéo social e curricula oculto Projeto politico pedagégico.. Curriculo e 0 controle social Teorias de controle social eo pensamento curricular. Inclusdo escolar e sociedade sos Curriculoe incluso SCA nnn Adaptagio curricular ou flesibilizacao dos curiculos. As Diretrizes Nacionals para a Educacao Especial na EdUcagAO BASICA nessun 12S Unidade 4 Ocurriculo na escola contempordnea... Curriculo: questées contempordnea: Curriculo, cultura e globalizaca Curricula, diversidade cultural e multiculturalism, Curriculo e contetdo.. Organizacio de contetidos no curfculo.. ‘Taediycpraridade, rac plnarade muttidisciplinaridade..... = Curriculo por competéncias.. ‘Aconstrugio de um curiculo por comperéncias 0 papel do profess0r ann Os quatro pilares da educasao.. Curriculo:agao em sala de aula e planejamento, Por que é preciso planejar?snmmmsmunninnnnnnnnnnnnat6) Planelamento como acio pedagéaica... Uma proposta de planejamento de ensino, Rago docente € 0 CUICUO nu Referéncias..... UNIDADE Curriculo: histéria, definigdes e conceitos Objetivos de aprendizagem @ Entender o conceito e as diversas definicdes de curriculo. ®@ Conhecer um pouco da histéria dos curriculos. @ Identificar os tipos de curticulos. @ Conhecera historia das discipinas escolar. @ Entender o que é a sociclogia das disciplinas escolares. @ Compreendera organizacaa curricular @ Eniender o conceito de inféncia e sua reaggo com 0 curricula ct Temas 1-Ocurriculo e seus conceitos ‘Appalevracurticulo” pode ser empregada em diversos sentidos, Nes: 13 Unidade, a idela é discutir 0 concetco de curriculo na vida escolar. (Quem trabalha em escolas esta bem familiar'zado com o terme, po- rém, justamente pela frequéncia com que ele é abordado, é comun falta de rellexdo sobre seu significado. 2--Histéria das disciplinas escolares E recente o interesse pela histéria des disciplinas escolares que, como campo de investigagao, passou a ser estudada a partir da década de 1970 A histéria das disciplinas recebeu atengao especial de estusiosos da Gré-Bretanha e da Franca. principal ideia desses estudos ¢ explicar e entender por que determinado conhecimento 6 ensinado nas escolas em momento € local especificas e guais as razbes pata ser conservads, excluido ou alteraco. 3 —Curriculo e infancia Para entender a importancia de pensar um curriculo para os diversos patfodos da edlucacio, deve-se compreender 0 desenvolvimento hus mano einiciar os esiudos pela infancia, Aconcepyso de infanciareflete as mudancas histéricas, por isso € diferente de alguns séculos ‘attds, pois estérelacionade ao tempo e ao espago em que cada individuo vive, Portanto, ¢ possivel dizer que a visSo que se tem do“ser crianga’é algo construida ao longo da historia, Introd ugae@AA______. unidade, vocé vera que, apesar da aparente logica na definkdo do ferentes autores e teorias e avaliar quais desses conceitos estao mais determinada que se refere = ums selec3o, organizaggo e sistematiza- como suas definicves e fun¢des, a0 longo da historia, foram objetos de mento e locel e os motivos pare ser conservado, excluido ou alterado. A preocugacgo € compreender como a delimitacao des disciplinas € tes socials envolvidas: professores e alunos. E é uma das fungdes da escola formar cidadgos criticos, consclentes e capazes de compreen- turadores do processo da formago do sujeito, No decorrer desta unidade, vacé val conhecer as questdes que cer- cam o tetmo‘cuntculo’ ¢ compreender sua Importancia na farmacao humana e na construcao da identidade do individu. Occurriculo e seus conceitos A palavra “curriculo” pode ser empregada em diversos sen- tidos, ¢ um deles, por exemplo, esta relacionado ao historico de um lugar ov de uma pessoa. Nesta unidade, a ideia é discutir © conceito de curticulo na vida escolar. Muitas vezes, mesmo quem trabalha em instituigSes educacionais, esti bem familiarizado com o termo, mas, justamente pela frequéncia com que ele & abordado, 6.comum @ falta de uma rellestio acerca de seu significado, Definiges No Grande Diciondrio Houaiss, uma das definigSes de curr culo é “programagio de um curso ou de uma matéria a ser exa- minada” (CURRICULO, 2017) Segundo Hamilton (1992 apud SANTOS, 2002, p. 156). « palavra “eurriculo” foi registrada pola primeira vez em 1633, no Oxford English Dictionary, como um. curso intcito seguido pelos cstudantes. Etimologicamente, “eur- riculo” vem do latim curriculum e significe carreita, curso, lugar onde se corre ow percurso a seguir: Pode parecer simples, mas © termo carrega em si o peso de transformar alguma coisa, pois indica movimento, algo gue se move ao longo de determinado tempo. Em outras palavras, no caso do curriculo escolar, 0 t mo indica urn perousso a ser seguido pelo estudente, Assim. * curriculo representa a caminhada que o sujeito ird fazer a0 longo de sua vida escolar, tanto cm relagao aos contetides apropriados quanto as atividades realizadas sob a sistematizagio da escola” (LIMA et al, 2012, p 25) Note que nio ¢ fécil conceituar o termo “curricula”, pois ele rio tem um sentido tinico. Hi uma diversidade de sentidos e de- finigdes, dependendo da linha de pesquisa do autor. As diversas definigSes ¢ conceituagées levam a0 que alguns autores chamam_ de polissemia, ou seja, aos virios sentidos e significados que o termo representa, sem que se chegue a um consenso entre essas interpretagSos Por isso, & preciso conhecer as concepges de maneira con- textualizada e niio correr o isco de accitar apenas uma como a melhor definigde Deve-se compreender como 0 curriculo tom sido abordado pelos diferentes autores ¢ teorias e avaliar quais desses conceitos estio mais proximos de atender as nevessidades do contexto educativo em que se encontram inserides. Assim, as 4) (cericutss progeamase projets peeaaécico diferentes manetras de definir « termo levam a compreender que © curriculo “€ uma construs3o histérica e socialmente deiermi- nada e refere-se a uma pritica condicionadora de si mesmo e de (MATTOS, 2013, p. 24), Para Moreira (1997 apud MATTOS, 2013, p. 24), dois aspeo- tos merecem destaque ¢ devem sor considerados nas definigSes: sua Leoriza| 1. Conhecimento escolar — 0 curricula refere-se a0 conhe- cimento transmitido pela escola de maneira pedagégica ¢ diditica, como um conjunto de disciplinas, sendo aplicado pelo aluno 2. Experiéneia de aprendizagem — o curriculo esti focado nas diferengas individuais na preocupagio com as alividades do aluno, ¢ © termo refere-se aos caminhos que esse aluno percorre em sua formagio, Varios autores trataram de definir 0 temo, que recebeu dife- rentes eoacepySes tanto em relaglo ao seu significado como & sua fungio ao longo da historia Essas definigGes variam de acosdo, com diversos contextos histiricos e culturais Quadro 1.1 Indicadoresde nalisgio de desempenha Autor Concepsies de curticulo Fesay (1960) _| Conjunto de todas as experiencia cue oalunoadiquie, sob ollentagaa ca escola, Sayor(1956)__ | Exrutura englobadore das experiéncias de aprend’zegem proporcionades pela escoa, Pheni(i958) | Modelo organzaco do progrema ecucacional dz ascola,responsavel por dascrever a rmatérla.o métada & a orcem do ensino - o cue, coma e cuando se ensina, Jonnson (1977) ‘esinuturode de resutedos de aprendizage mn que se tem em vsta.O cur“eul prescreve (ou, pelo me os, entecica) os resultado: (oensino; née or oe oe Vartae GOI2 De acordo com Ribeiro (1993 apud MATTOS, 2013, p. 12), ha trés definigdes mais comuns: 1. A definigéo mais comum € aquela que identifica © cumriculo como sinénimo de organizagio curricular, ou seja, “como elen- coe sequéncia de matérias ou disciplinas propostas para todo 0 sistema escolar, um ciclo de estudo, um nivel de escolaridade ou curso, visando 4 graduagao dos alunos nesse sistema, ciclo, nivel ou curso” (RIBEIRO, 1993 epud MATTOS, 2013, p. 12) Nese caso, 0 curriculo funciona como um plano de estudos cucu 2. Curriculo como disciplina, ou matérias, contetidos programie ticos e respectivas observagées didaticas, Aqui, ele representa um programa de ensino em determinada drea de estudo. uma listagem, um esquema ou um sumério por area diseiplinar. 3. Por fim, o cusriculo pode “representar wm conjunto de dife- rentes mods de pensar ¢ investigar a realidade ¢ experiéneia bumana, privilegiando-se, assim, o desenvolvimento de ca- pacidades e processos intelectuais -significativamente repre~ sentados nessas disciplinas do saber” (RIBEIRO, 1993 apud MATTOS, 2013, p. 12). Sacristan (2000 apud LIMA et al, 2012, p. 27-30), por sua ‘ez, aponta trés abordagens para a delinigio de curriculo, 1. Técnica — aqui, o curricula é concebido [J come um conjunto de conhecimentos ou matérias a se- rem superadas pelo aluno dentro de um ciclo ~ nivel edu= cativo ou modalidade de ensina ~ é a acepgao mais classica © desenvolvide; © curriculo como programa de atividades planejadas, devidamente sequencializadas @ ordenadas metodolegicamente, tal camio se mostram num manual ou um quia do professor: o curriculo também fol entendida, as vezes, como resultados pretendidos de aprendizagern [.] (GACRISTAN, 2000 apud LIMA et al, 2012, p. 27-28), Nessa abordagem, destacam-se duas ideias principais: a de © currieulo estar relacionado a uma sequéncia ordenada de contetido © A nogio de totalidade de estudos. Aqui, por= tanto, o sentido € atribuido referente a uma conotagio tec nica, 0 curriculo como um plano de estudos, um conjunto de mstérias onganizadas em um curso ¢ desenvolvides pela escola em determinado periodo. Essa definiglo nto considera ‘a compreensto critica da realidade nem a reflexo, apenas um conjunto de atividades 2. Reprodutora —nessa abordagem, o curriculo€é concebido como [Ll concretizagzo do plano reprodutor pate a escola de de- terminada seciedade, contendo conhecimentos, valeres e atitudes: 0 curiculo como expenéncia recriad nos alunos 10r meio da qual podem desemvoher-se; 0 curricula como tarefa © hablidade a serem dominadss, coma é o caso da forragso profissonal Ll SACRISTAN, 2000 apud LIMA etal 2012, p29) nigiesec ‘Nesse aso, ao apresentar conhecimentos ¢ atitudes impos- tas, 0 curriculo mantém os valores de determinada sociedade ‘Nao hi questionamentos politicos, culturais ou ideol6gicos na elaborago do curriculo, que apresenta uma visio unilateral da socicdade. De acordo com Lima et al, (2012, p. 29), essa definigéo esta ligada a “uma visto liberal da individualidade © mexitocracia”. [Em outras palavras, 0 curriculo € um instru- mento para estimular 0 métito: a escola oferece oportunidades iguais « todos, mas se sairi melhor aquele que aproveitar as oportunidades e souber reproduzir os conhecimentos e valo- res predeterminados. O sucesso ou 0 fracasso do aluno depe der unicamente dele, e nfo do que é oferecido pela escola 3. Redentora — abordagem relacionada a uma perspective da ‘escola como agente de mudangas soeiis. Assim, de acordo ‘com Saeristin (2000 apud LIMA et al., 2012, p. 30), 0 cur- riculo ¢ um “programa que proporeiona contetidos e valores para que os alunos melhorem a sociedade em relugo A re- cconsirugo soeial da mesma [. |” A escola, nesse caso, firnciona coma um agente transforma- dor da sociedade, pois possibilitar aos alunos a aquisigio de conhecimentos, 0 gue é capaz de melhorar significativamen- te a sociedade, Contdo, no hi como considerar a escola a iimica fonte de mudangas, e nio cabe a ela a exclusividade de consituir os valores da soviedade Diante dessas trés abordagens, ¢ importante cbservar gue eles slo apenas recortes que limitam o significado de curriculo, Talvez soja neeessario ampliar a reflextio sobre o tema e definir o curriculo L.1como esoaga depproctugéo cultural,para além de ume hieraraulza- (30, seja de politicas educacionais verticalizadas, sea da horizontal dade de consicerar a escole comoespago Unico esento de contradi «<6es, sem compreender as influéncias folticas, econdmicas soxias, culturals @ ideo'6aicas que permelam o ambito escolar, ou soja, a dicatomia enve o planejamento e2 epicacio, pels nio tabalhamos com um escola idealizada, mas concreta (LIMA etal, 2012, p33) Portanto, 0 curriculo é uma construg%o complesa, como in- dica Mattos (2013, p. 24), pois essa caminhada esté sendo cons- tantemente [Ly reavaliads e reestruturads pela atividade e pela cena curricular, ambiente, o contextn, as finalidades. O curricula erwolve, dessa oma, relacdes, einteragdes permeadas, constituidas e constituin tes das rela;6es de poder. Lago, mais uma vez. curriculo é cultura, palitica, poder, pratica e teoria, Fé por isso que a construgio do curriculo deve ser feita com aso em uma praxis pedagégiea, ou seja, uma pritica pedagigica que envolva toda a comunidade escolar. professores, alunos, pais ¢ funcionios, cm um processo continuo ¢ canjunto Concepcées ara fins diditieos, Santos (2002, p. 157) divide em duas ver- tentes as concepsées de curricula 1. Eficientista e teenicista ~ compartilhadas por edueadores ligados aos aspectos econdmicos da educngio, “Para cles, 0 maior problema da educaeao esti em como educar o maior riimero de pessoas com 0 minimo de recursos fnanceiros € camo tomar a educago mais sintonizada com as demandas do mercado de trabalho” (SANTOS, 2002, p. 157). Perceba que, aqui, espera-se que os curriculos rellitam essa necessi- ade, alcangar objetives préticos Mumanista, ou perspectiva critica — neste grupo estio os educadores que colocam a formacio humana e o desenvolvi- mento pessoal como meta central da educagio. Nesse caso, caberia a elaboragio de um curriculo voltado a priticas pe- dagégieas que imcentiver a construgdo de um mundo melhor emais justo, além de desenvolver 0 pensamenta critico dos alunos diente da soviedede Ne realidade, porém, para Santos (2002, p. 157), € presiso que no curriculo atual essas cuas concepgdes caminhem juntas, pois ambas se complementam, Como aponta Moreira e Candau (2008 apud EYNG, 2012, p 17), a9 termo “curriculo” associam-se diferentes concepgdies que se originaram nas diversas maneira de tratar a educacio ao longo da hisiéria. As varias concepedes de curriculo também sto influen- cciadas por abordagens tesricas que indicam praticas curriculares diferenciadas, de acordo com © momento em que sao concebidas. Centudo, & importante que teoris ¢ prética no se distanciem. Come afirma Stenhouse (1991 apud FYNG, 2012, p20), “o problema central do estudo do curriculo é o hinto existente en- tre as neues idviae © expiragSes, © ncsaas Lentotivas para fa28-las tos c_ 8) ( corrcutes proaramat e projetospecageai perativas”, ou seja, na dificuldade entre o que é pensado ea pri toca desenvolvida nas escolas Para Byng (2012. p. 21) 0 desenvolvimento do curricule requer reflexio sobre = aco, considerando © previsto e o realizado. Esta deve ser uma preacu: pao central de pesquisadores ¢ estudantes do tema, professores © pedagagas, em relagio ao curticulo: como estabelecer uma in teragio entre a intencao e 3 realidade, entre a teorizacdo es pat caw entre a prescricao ea ayant Curriculo: plano/proposta ou campo de estudo No livro Teoria y desarrolio det curriculum, ws organizacloces Angelo Rasco e Blaneo Garcia (1994 apud E YNG, 2012), no que diz respesto as concepeses do teeme “eurriculo”, weilizam dois semtidos para distingvir seu uso nas escolas ta para educago dos akinos eo curricula como campo de estudos o curriculo eamo plano’propas- No primeira sentido, © conceito de curricula adquite inevitavet mente um significeda prescrtivo. Curriculo & entéo, 0 que deve ser desenvolvido nas escolas, sendo o plana ou planejamento pelo qual se organizam os piocessos escolares de ensino-apren- dizagetn. No segundo sentido, 0 curreuio é tratado como fen meno digno de ser estudado, como uma area dlsciplinar que se G20 de qualquer des vertentes nas quais, como. ute da investig fenomeno, 0 curiculo se apresente (p. 21). Esses autores tambérn analisam ¢ destacam trés concepgtes de curriculos Come contetide - entender o curricula come contetide é uma das concepgiies mais comuns €, nesse caso, pode significar sequéneia © conjunto de estudos; 08 conhecimento necessi- rios de um curso ou mo/cicle de escolaridade: 0 contewdo de uma disciplina especifica, o conieido da cultura socialmente consiruida, © curriculo como contedido pode ser eomproendide come: © Uma sequéncia de unidades, organizades de modo que cada uma delas seja aprendica de modo simples ¢ re- lacionadas a unidades. anteriores. Assim, planejar 0. curriculo imphea estabelecer a sequéncia de atividades apoindas em pré-requisitos desenvolvidos nas ativida- des anteriores. ‘Curcuo: netora,defngoes Um conjunto de resultados de aprendizagem. Nesse caso, curriculo esta ligado a preocupagio da escola em atingir objetivos e concretizar os resultados previs- tos, deixando de lado um aspecto importante; a dinami- ca do processo pedagigico, auc nem sempre pode estar engessado apenas a atingi resultados, 2 Como planificagio — essa concepedo indica que o curriculo esti definido por metas a partir das guais sero desenvolvicas as atividades educativas em uma escola, Pode ser um con- Junto organizado de instrupies, mas também um documento que direciona 0 que sera aprendido e ensinado, bem como os métodos utilizados ¢ os materiais de ensino, £2 importante, aqui, considerar que apenas 6 planejamento de um curricule ilo ¢ suficiente, nele devem-se indicat finalidades, objetivos, contetidos, metodologias ¢ avaliagto, além de custos para coloca-lo em pritica. Segundo Rasco ¢ Garcia (1994 apud EYNG, 2012, p. 23), “6 possivel, ainda, ofirmar, que © cur- riculo como planificagto abrange a concepyao anterior, pois niio pode prescindir dos conteitdos” 3. Como realidade interativa —o curriculo como realidade in- lerativa pode ser entendido como resultado de uma consirus fio feita a partir da interagéo entre professores e alunos com bese na participagao da vida escolar Aqui, 0 curricula reine conteiido, planejamento e participagio, sendo 0 professor 0 principal agente curricular De acordo com Eyng (2012, p. 25), nenbuma dessas trés con- copedes deve ser encarada como tinica ¢ absolta, pois “a indaga- 30 a melhora do currfculo dependem tanto do aprofundamento de cada concepeio seseradamente como do aperfeipoamento das interagfies em que uma se entrelaga com 2 outra” Curriculo: concep¢6es e perspectivas Gimeno Sacristan (1995 apad LYNG, 2012, p. 25), autor es- panhol, além das diferentes abordagens ublizadas para definir © termo, ja citadas anteriomente, elaborou as seguintes concepyes para curriculo: Currieulo como fenémeno pritico complexo, inserido em um sistema escolar direcionado a professores ¢ alunos. Aqui, ele €adequado ao contexto no qual é elaborado, desenvolvido & avaliado Curriculo como praxis, no qual varios tipos de ages influen- ciam sua configuragio, Aqui, 0 eurriculo é concebido como um documento ou objeto dinfmico que integra teoria e pri- Lica e expressa a flngo socializadora e cultural da eseola A construgio do curriculo esté diretamente rclacionada aos contextos politicos, edministrativos e pedagégicos Curriculo como construgio social, com base na realidade da vida escolar e da sociedade em que esti inserido Crrieulo como construgio da cultura e influenciado por ela Curriculo como campo de investigagfio em constante mudan- g4.¢ sempre relacionado a outros campos da edueago. Curriculo como guia de experiéncia que “o aluno obtém da escola como o conjunio de respansabilidades da escola para ppromover uma série de experiéneias” (EYNG, 2012, p. 28) de aprendizagem, visando promover mudangas nos alunos ou. para serem utilizadas pelas escolas a fim de aleangar determni- rnadas metas Curriculo como definidor de conteides, ou seja, dele deve fazer parte planos, projetos e objetives. Q curriculo. nesse caso, deve ser compreendido como um documento que vai nnottear as ditetrizes da escola Curriculo como eanjunto de conheeimentos que devem ser apreendidos pelos alunos dentro de um ciclo, nivel educativo ow modalidade de ensino Por fim, 0 autor aponta quatro aspectos que devem ser consi- derados na conceituagao de curriculo (SACRISTAN, 1995 apud YNG, 2012, p, 29-30) |. O estudo do eurriculo deve oferecer a visio construida nas ecol: em todas as suas dimensdes, a oculta ¢ a manifesta, © curriculo é um projeto condicionado historicamente e esti relacionado sociedade a qual perlence, © assim deve ser compreendido. 3. No interior do eurriculo, interagem ideias e préticas de ensino e aprendizagem, 4 Qcumiculo é um projeto cultural que propicia a interagio ea Intervengio dos professores. A reflex sobre as concepgSes de currieulo & de grande im portfincia para o profissional que lida diretamente om o process educacional, visto que nele permeiam as erengas, 08 valores, a Cuviewechicroia ideta do que é educagao, de ser humano que se pretende formar, de que sociedade é ideal. Assim, analisar 0 currieulo como ele- mento integrador dessa formayiio tomna-se essencial para slender as demandas gue a sociedade alval impde 4 escola, aos docentes, aos pedagogos ¢ aos demais profissionais que lidam com as insti- tuiges escolares, Historia Se 0 termo “curriculo” for eonsiderado uma sequéncia ordena- a de matérias ou mesmo a totalidade de estudos, é possivel voltar as escolas do antigo Egito. da Suméria ¢ da Grécia, Ne Antiguida- de, a estratura central do curriculo era formada pela escrita, pela matemitica e pelas artes, Assim, ensinava-se a leitura para todos, mas apenas a elite ti- sha o direito de aprender « escrever Jana Roma Antiga, os exerae ‘vos aprendiam a ler para ajudar os fillios des seshores e, assim como na Grécia Antiga, eram chamados de pedagoges. Ha de se considera cue ensino de arte sempre foi um componente cur- sicalor na Antiguidade, especialmente no que se refere 4 musica, artes visuais e desenho, que, ao Jado da geometria e da literatura atravessaram séculos, mantendo-se no curticulo das eseolas até os tempos atuais (LIMA, 2007) Na verdade, desde que a educagio ganhou espago priprio, houve a necessidade de se definirem contetidos para organizar 08 espagos de ensino. Apés passar « fazer parte do dicionério britinico, no século XIX, a palavra “curriculo” ganhow o sen- sido de curso de aperfeigoamento ou de estudos universitérios, todavia, [bi somenie no século XX que passou a ser utili da, especialmente nos Estados Unidos. De acordo com Santos (2002), no inieio do século pasado, a erescente industetalizagao dos Estados Unidos estimulou a imigragdo de pessoas de varios paises e, consequentemente, houve 0 crescimento dos centros urbanos, Como refiexo dessa situac%o, as elites norte-america- nas passaram a se preocupar com o aumento da influéncia dos imigrantes nos costumes e padrdes culturais do pais. A escola foi, ent, eseothida para preservar a cultura daquele pais, além de ser também responsével pela formagio de pessoas para o mereado de trabalho Com essa finalidade em mente, passaram-se a utilizar mé- todos empresariais, ideias e critérios cientificos para definir (© que seria ideal a ser desenvolvido na esvola, Santos (2002, P. 163) cita a adogo do taylorismo, de Frederick Taylor (1856- =1915), engenhesro norte-imericano que introduziu 0 concei- to da adminisiragio cientilica, “ou seja, 0 uso de propostas de ‘Taylor para a organizagao do trabalho ns empresa baseava-se nay ideias da divisto de tarefas ¢ de padronizay3e, passando ‘estas a serem reslizadas de acordo com as recomendagbes © 4 supervisio da geréncia” coma principio de organizagio do pro ccesso educacional im meio a esse eendrio, ¢ edueador nrte-amerieano Franklin Bobbitt (1876-1956), seguindo a orientago do taylorismo, enten- den o curriculo com um conjunta de ages objetivas ¢ planejadas 4 serem seguidas nas escolas para atingir um nivel de eficigncia semelhante ao das empresas. Peveeba que, aqui, tem-se © mesmo teor mecinico e operacional apheado na administragio de uma empresa. As ideias do educador estio no livro O curriculo (The eurmculuy), langado em 1918, Nessa obra, Bobbi “propunha que a onganizagi ¢ © funcionamento da escola fossem iguais aos de uma empresa comercial ou industrial”, (PAULA; PAULA, 2016, p. 20) Os principios dosenvelvidos por Bobbitt tornaram- se uma das vertentes da educagiio norte-amerieana no século XX ‘euma das t20rias teadicionais do curriculo, Fm lado oposto ao de Bobbitt, 0 filosofo e pedagogo John Dewey (1859-1952) defendia uma visio mais progressis- ta, Para ole, as experigncias © 05 interesses das eriangas © dos jovens devinm ser levados em conta na elaboragio dos eurrieu los, que deveriam seguir principios democraticos, “Ele defendia a ideia de uma escola aiva, guiada pelo eonecito do fearning dy doing, que significa ‘aprender fazendo™ (SANTOS, 2002 P1063) Apesnr de suns ideias serem anteriores is de Bobbit, ess ten- dléncia io se destaco, Em 1949, Ralph Tyler, diseipulo de Bobbitt, consolidou o mo delo do mestre no livto Basie principles of curriculum and tea- ching, Para ‘Ivle, 0 curricula deveria ter uma vertente técnica com hase nn erganizagio e no desenvolvimento Somente a partir de 1960 € que teoriaseriicas de curriculo questionaram as radicionais, De acordo com Paula ePaula 2016, P21), “enquanto as Worins tadioionas defendem a accitagio, adaplago e a manutenglo da estrutura e das condigdes sociais vigentes, as teorias criticas defendem a transformagio social ‘As auloras destacam que essa \woria critica surgiu no conlexto de movimentos sociais e culuurais, ¢ entre os pensadcres es.%o Michael Young. na Inglaterra, Paulo Freite, no Brasil, ¢ Pictre Bourdieu, na Franga Para essa corrente, © curriculo nao é um documento neutro, ‘mas pode se empregado nas escolas para transmit valores ¢ eren- ‘928 ¢ manter as ideias dominantes. Por isso, deveriam ser vistos criticamente, [Nessa teoria critica, por sua vez, destacam-se trés linhas de pensamento 1. Teorias criticas mais gerais — mais ligadas @ sociologia © a filosofie. 2. Teorias centradas em questies curriculares— relacionadas, 4 nova sceiologia da educagio e a0 movimento de reconecp- tualizaygo da teoria curricular Teorias criticas gerais da educagio ~infhuenciam as diseus- ses sobre 0 cursiculo (PAULA, PAULA, 2016) Enquanto a primeira linha enfatiza que o curriculy seria um reproxiutor do conhecimento da classe domiante, as outras duas apoiam-se na idcia da educagao como o poder de libertagao dos. sujeitos da dominagao Paula ¢ Paula (2016, p. 24) indica, ainda, « exisiéncia de teo- rias pés-eriticas De acordo com Silva (2010), as teorias pas-criticas concordam: com 35 teorlas cticss em relac30 ao pressuposto de que o cur- rieulo s6 pode ser entendido nas relacdes de poder em que ests ervolvido. No entanto, enguanto as teorias crticas fundamentam, sua angle na economis politica do poder, as tetas pds-crticas, focam em formas textuais e discursivas. Link Para compreerder as teva tradclonas etcas solve curculos, paces ccnsitaro texto Oas tora radconais os tears eras, ce Thoms Tale de Sha. spenivel em: cwow ite eunicemp bilcusoven4 4/4. tm, Curriculo e escola sistema educacional deve ser entendide como um conjunto do ages, métexios e estruturas por meio dos quais se da o proces- so de formago — ou de educagio, O curiculo é um componente dese sistema No sistema educacional, o curriculo, portanto, pode ser com- preendido como “os conkecimentos ou saberes reproduzidos pelo homem ao longo de sua historia ¢ selecionados pela escola pare se constituirem em saberes ou conhecimento escolar” (SANTOS, 2002, p. 159) Ble funcionaria como um quadro de referéncia, 2 substéincia do sistema educative E possivel, com base em sua elaborncéo, distinguir alguns ti- pos de curriculos Formal — sio propostas de ensino que envolvem projeto pe- dagigico e planos de trabalho em sala de aula Real sao propostas desenvolvidas em sala de aula que in- cluem as experiéncias dos alunos na escola ‘Vario ou nulo — 0 que nfo é trabalhado pelo currivulo da ‘escola € que representa omissbes ou auséncias Oculto em Linhes gerais, so as experiéneias vivenciedas ng escola, mas que nio estio organizadas em uma propos- ta pedagégica ou em uma grade curricular Aqui, esto ine

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