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Representações Sociais Da Maternidade Na
Representações Sociais Da Maternidade Na
'10.37885/230111737
RESUMO
Ciências da Saúde: desafios e potencialidades em pesquisa - ISBN 978-65-5360-281-6 - Vol. 2 - Ano 2023 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.com.br
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As representações sociais são elaboradas a partir dos processos de ancoragem, que
tenta incorporar ideias estranhas, reduzi-las a categorias e a imagens comuns, colocando-as
em um contexto familiar; e a objetivação, que é transformar o abstrato em quase concreto,
transferir o que está na mente em algo que exista no mundo físico. Elas têm o objetivo de se
abstrair sentido do mundo e introduzir nele ordem e percepções, que reproduzem o mundo
de uma forma significativa (MOSCOVICI, 2012).
A mídia é um local inegável de produção e divulgação de informações, os produtos
midiáticos são mediadores de uma dada realidade construída historicamente a partir de re-
presentações e discursos visuais e verbais que ajudam a modelar a visão de mundo (TOMAZ,
2015; BRAGA, 2021). Tornou-se um espaço singular para a pesquisa das mais diferentes
áreas do conhecimento interessadas na construção e interação social. Por essa razão, a
escolha da mídia para o estudo da maternidade trata-se do reconhecimento de sua influência
frente à construção e propagação de opiniões, tornando-se fundamental compreender que
imagem de mãe e maternidade tem sido transmitida.
A escolha do tema se deu pela necessidade de produção e veiculação de estudos sobre
maternidade, uma vez que esta, por vezes, não é percebida dissociada da gestação, além
da possibilidade de incitar e nortear estudos posteriores. Nessa perspectiva, objetivou-se
apreender as representações sociais da maternidade na mídia digital.
MÉTODOS
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As reportagens foram utilizadas para preparar um banco de dados único para ser pro-
cessado com o uso do software ALCESTE-versão 2012 (Análise Lexical de um Conjunto
de Seguimentos de Texto), que possibilita a realização de análise lexical quantitativa do
material textual para extrair as estruturas com significados mais representativos e acessar
a informação essencial presente, permitindo descrever, classificar, assimilar, sintetizar e
identificar a organização tópica de um texto, acessando as relações existentes entre os
léxicos, contudo não deixa de considerar a qualidade do fenômeno em estudo, e ainda
fornece critérios provenientes do material utilizado para a consideração do mesmo como
indicador de um fenômeno de interesse científico (CAMARGO, 2005; SOUSA; RODRIGUES;
ROCHA; MARTINS, 2009).
O ALCESTE pode agilizar a análise de dados textuais e tem potencial para ser usado
no mapeamento geral do corpus, resultando em uma classificação objetiva, a partir de cri-
térios estatísticos, baseada na co-ocorrência das palavras; apresentando as relações entre
as classes encontradas e gráficos que representam essas relações (SOUSA; RODRIGUES;
ROCHA; MARTINS, 2009).
O corpus é o banco de dados de texto que foi analisado e fragmentado inicialmente
em Unidade de Contexto Inicial (UCI) das reportagens captadas na Revista utilizada para o
estudo (SOUSA; RODRIGUES; ROCHA; MARTINS, 2009). Após reconhecer as indicações
das UCIs, o programa dividiu o material em Unidades de Contexto Elementar (UCE). Elas
são segmentos de textos, na maior parte das vezes, do tamanho de três linhas, dimensio-
nados pelo programa informático em função do tamanho do corpus e, em geral, respeitando
a pontuação (CAMARGO, 2005).
O programa fornece o número de classes resultantes da análise, as formas reduzi-
das, o contexto semântico e as UCE características de cada classe consolidada. Com o
material, as autoras explicitaram o conteúdo presente no mesmo, organizando as classes
em blocos temáticos de acordo com os dados fornecidos pelo software. Por fim, foram
interpretados e analisados os blocos temáticos na perspectiva processual da Teoria das
Representações Sociais.
RESULTADOS
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Figura 1. Dendograma da Classificação Hierárquica Descendente das representações sociais da maternidade na mídia.
Fortaleza- CE, 2022.
Num primeiro momento, o corpus foi divido (1ª partição) em dois subcorpus, originando
de um lado a classe 1 e do outro aquele subcorpus que posteriormente originou as classes
2, 3, 4 e 5. A classe 1 é a mais específica e representa 20% do corpus. Num segundo mo-
mento, o segundo subgrupo foi dividido em dois (2ª partição), obtendo-se a classe 2 (7% do
corpus) e outro subgrupo. Em seguida, esse subgrupo foi dividido (3ª partição), originando a
classe 3 (10% do corpus) e um novo subgrupo. Finalmente, esse último subgrupo se divide
(4ª partição), originando as classes 4 (28% do corpus) e a classe 5 (35% do corpus), mais
comuns entre si, por serem as últimas a se dividirem, além de serem as de maiores número
de UCE analisadas. A CHD encerrou aqui, pois as cinco classes mostraram-se estáveis, ou
seja, compostas de UCE com vocabulário semelhante.
A classe 1 é a de maior de maior significância estatística em termos de agregação de
UCE, totalizando 20% do total. Essa é uma classe formada de 45 UCE e 74 palavras analisá-
veis. A classe 1 aborda a proposta de lei e aprovação da ampliação da licença maternidade
de 120 dias para 180 dias. A mídia objetiva as representações sociais da maternidade na
ampliação da licença maternidade como conquista do direito materno e ancora nas palavras
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aprovação, proposta, ampliação, empresa, licença-maternidade, mês, projeto, lei, benefício,
aderir, prorrogação.
A classe 2 é a de segunda maior significância estatística em termos de agregação de
UCE, totalizando 7% do total. Essa é uma classe formada de 16 UCE e 57 palavras anali-
sáveis. A classe 2 aborda listas de países com melhores condições de uma mulher exercer
a maternidade conforme determinantes sociais de saúde. As palavras mais representativas
foram: children, melhores, país, lugar, lista, piores, situação, economia.
A classe 3 foi formada com 23 UCE (10%) e teve 37 palavras analisáveis. Está re-
presentada pelo sonho realizado da adoção do papel materno após decisões judiciais em
diversas circunstâncias. As palavras mais representativas foram: biológico, nome, justiça,
adoção, registro, pai, juiz, certidão.
A classe 4 foi composta por 63 UCE (28%) e 82 palavras analisáveis, abordando o
contexto da maternidade tardia. As palavras mais representativas foram: mulher, trabalho,
parto, idade, gravidez, especial, carreira, faixa, etária.
A classe 5 foi a de maior número de UCE, formada com 80 UCE (35%) e 81 palavras
analisáveis. Explora a dedicação da mulher à maternidade tão desejada, além da satisfação
e da consciência da responsabilidade de criar um filho. As palavras mais representativas
foram: desejo, aluguel, barriga, ensinar, fácil, executiva, sinto.
Para fins desse artigo, essas classes foram organizadas em blocos temáticos de acor-
do com aproximação das classes demonstrada na CHD para análise. A classe 1 compôs o
primeiro bloco temático nomeado de Ampliação da licença maternidade: uma conquista
do direito materno e as classes 2, 3, 4 e 5 compuseram o segundo bloco temático, no-
meado de Maternidade: do desejo ao exercício do papel materno, conforme apresen-
tado no Quadro 1.
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QUADRO 1. Organização das classes em Blocos Temáticos. Fortaleza- CE, 2022.
DISCUSSÃO
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A Comissão da Seguridade Social e da Família aprovou o projeto de lei 2513/07,
transformada na Lei Ordinária 11.770 de 09 de setembro de 2008, que permite a ampliação
da licença maternidade por mais 60 dias. O projeto cria o Programa Empresa Cidadã que
é destinado à prorrogação de sessenta dias da licença maternidade mediante a concessão
de incentivo fiscal. O projeto inclui, inclusive, as mães adotivas e durante a prorrogação,
a empregada terá direito à remuneração integral (BRASIL, 2008). A licença maternidade
é uma conquista histórica para a mulher trabalhadora e é um dispositivo de direito que lhe
garante maior permanência e vínculo com seu filho sem prejuízo do emprego e do salário
(SORJ; FRAGA, 2022).
A inserção de um novo membro na família, seja o nascimento de um filho ou a chegada
de uma criança por adoção, é sempre um grande marco na vida das pessoas. É um fato sig-
nificativo que demanda reorganização do núcleo familiar em torno de novos papéis parentais,
adaptações da rotina e do espaço físico, além do orçamento (FERNANDES; SANTOS, 2019).
A mulher trabalhadora torna-se sobrecarregada ao conciliar vida doméstica e cuidado
dos filhos com o trabalho profissional fora do lar. Dessa forma, a licença maternidade, sem
prejuízo financeiro, previsto como benefício à mulher/mãe trabalhadora, sobretudo na fase
inicial da maternidade, torna-se fundamental. Independente da filiação biológica ou adotiva,
o período inicial da maternidade, demanda adaptação recíproca entre pais e filhos, relação
mediada pela figura materna (GARCIA; VIECILI, 2018; SORJ; FRAGA, 2022).
A relevância da existência e do seguimento de uma legislação trabalhista que garanta
um período mínimo de alguns meses de afastamento da mulher do seu trabalho justifica-se
pela importância da presença materna e dos cuidados recebidos por uma criança em seus
primeiros anos de vida para a manutenção de sua saúde física e mental. O elemento tem-
po proporcionado pela licença maternidade é fundamental para a disponibilidade afetiva,
contato físico, diálogo, convivência, que favorece e estimula o afeto, o carinho, o cuidado,
a proteção, o atendimento às necessidades de um ser humano em desenvolvimento (seu
filho) para o êxito de uma relação de filiação, seja biológica ou adotiva (GARCIA; VIECILI,
2018; PEREIRA, et.al, 2022).
A ampliação da licença maternidade para seis meses foi de valiosa para a redução dos
índices do desmame precoce, aumento do período do aleitamento materno e na manutenção
de sua prática, uma vez que possibilita maior tempo de dedicação da mãe ao seu bebê, sen-
do a amamentação um dos fatores mais importantes para a criação do vínculo do binômio
mãe-filho, além do desenvolvimento da criança (RIMES; OLIVEIRA; BOCCOLINI, 2019).
As representações sociais da maternidade na mídia ancoram-se nos benefícios da am-
pliação da licença maternidade, já que favorece um maior vínculo do binômio mãe-filho e, con-
sequentemente, maiores condições sociais e econômicas para o exercício do papel materno.
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2º Bloco temático: Maternidade: do desejo ao exercício materno
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com o seu futuro, que parecem estar associados a esta nova condição social e relacional a
que mulher tem que atender.
A busca da satisfação profissional, pela independência financeira, um relacionamento
estável e o fato de terem uma rotina exacerbada justificam a maternidade tardia como opção
(BRUZAMARELLO; PATIAS; CENCI, 2019). Contudo, embora a maternidade tardia esteja
ancorada em determinantes sociais da saúde e na idealização de melhores condições sociais
e econômicas para proporcionar bem-estar aos seus filhos, na construção da subjetividade
da mulher, a maternidade ainda é uma meta a ser alcançada.
As mudanças sociais que envolvem a multiplicidade de papéis desempenhados pelas
mulheres na sociedade são significativas, no entanto, ao mesmo tempo que aplaudem as
suas conquistas, relembram que é na maternidade que se espera da mulher a maior das
vitórias. A mulher cresce com a expectativa de um dia realizar-se com a gestação de um
filho. O planejamento para engravidar passa a fazer parte de sua vida e quando não con-
seguem engravidar, ou levar adiante uma gestação, algumas mulheres buscam exercer o
papel materno através da adoção de uma criança (FERNANDES; SANTOS, 2019).
As reportagens da referida revista ancoram suas representações sobre a maternidade
como um sonho de muitas mulheres. E para realizar esse sonho, quando não possível de
forma natural, recorrem à adoção de um filho ou utilizam recursos da reprodução humana
assistida, como a gestação de substituição, chamada “barriga de aluguel”, como foi apre-
sentado, respectivamente, nas classes 3 e 5.
As mudanças ocorridas nos conceitos de adoção articulam-se às transformações ocor-
ridas na família ao longo da história e às preocupações com a infância, quando esta passou
a gozar de mais interesse e cuidados por parte da sociedade moderna. Tais mudanças
passaram a exercer influências também na legislação, conforme observado em adoções
realizadas com pessoas solteiras, casais separados e por casais homoafetivos.
O desejo de se tornar pai ou mãe em uma relação homossexual procura vencer obstácu-
los, permitindo-os vivenciar um modo de relacionamento familiar distinto do modelo de familiar
heterossexual, um ideal social que é apenas mais um modelo dentro da diversidade das
configurações familiares contemporâneas. É louvável enxergar a sexualidade, a paternidade
e adoção de crianças sob as lentes do afeto, do cuidado e das novas possibilidades de laços
familiares com que a contemporaneidade nos brinda (SANTOS; ARAÚJO; NEGREIROS;
CERQUEIRA-SANTOS, 2018; XIMENES; SCORSOLINI-COMIN, 2018). O casal tem o de-
sejo de ter filhos, ao longo da trajetória da vida, como uma experiência de continuidade e
realização de um plano acalentado também pela sociedade heteronormativa.
A experiência de adoção aciona elementos novos nas vidas de pais homossexuais,
que em busca da conservação de suas novas famílias, mantém um forte vínculo afetivo com
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seus filhos adotivos que foram desejados, amados e, dia a dia, conquistados, não vendo na
discriminação sexista empecilhos suficientes para atenuar o amor que cultivam na relação
com eles (SANTOS; ARAÚJO; NEGREIROS; CERQUEIRA-SANTOS, 2018; XIMENES;
SCORSOLINI-COMIN, 2018).
Os processos de adoções são ancorados em uma complexa inter-relação entre questões
simbólicas, como os valores, crenças e discursos presentes na sociedade; estruturais como
as leis, regulamentos e procedimentos, além de questões como a família, comunidade e inte-
rações pessoais, além de aspectos individuais. Estes estão em permanente transformação,
influenciando e sendo influenciados pelas pessoas por meio de suas vivências cotidianas
(FERNANDES; SANTOS, 2019).
A mídia traz, inclusive, a entrega de maneira voluntária de crianças para adoção por
suas mães biológicas. A literatura identifica que fatores sociais, familiares e econômicos
estão implicados na decisão da entrega de um filho. Ainda se constata que essas mulheres,
muitas vezes, encontram-se desamparadas ao não receber apoio familiar e de instituições
de saúde e de assistência social (CARVALHO; HAJJ, 2018).
Esse fato representado na classe 3 corrobora com as representações da classe 2,
quando se observa a preparação para o exercício da maternidade sendo influenciada por
determinantes sociais de saúde. A maternidade, a infertilidade e seus significados sociais e
culturais são fenômenos incitadores de inúmeros sentimentos, por esta razão e acreditando
na tentativa da mídia televisiva de aproximar-se com a vida real, este fenômeno tem sido
alvo de interesse.
Gerar um filho tem um significado pessoal para a mulher, uma vez que a gravidez pode
representar a confirmação de sua feminilidade. Entretanto, cada vez mais recorrente em
nossa sociedade, a infertilidade é um problema que afeta o bem-estar psíquico e emocional
do indivíduo. E mesmo que deva ser considerada como um problema do casal, a mulher é
colocada numa posição estigmatizante socialmente (RANGEL, et.al, 2021). Em virtude dessa
representação culturalmente construída e aceita, a mulher busca uma forma de objetivar
seu desejo e atender ao que a sociedade implicitamente determina como papel feminino.
A reprodução humana assistida fornece, então, um campo privilegiado em possibili-
dades de articulação entre o feminino e o desejo de gerar um filho. Dentre as técnicas de
Reprodução Humana Assistida, a que ganha relevância no presente estudo, é a gestação
de substituição, conhecida “barriga de aluguel”. A mãe de aluguel apresentada pela classe
5 é representada como uma pessoa responsável pela possibilidade e realização do sonho
da maternidade, e por isso, lhe é dedicado um amor e carinho especial por algumas famílias.
As expectativas em relação ao tornar-se mãe e o exercício do papel materno é so-
cialmente atribuído à figura feminina e materna como algo natural. Entretanto, sabe-se que
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a constituição desse papel envolve aspectos sociais, familiares, culturais e experiências
singulares de cada mulher (FERNANDES; SANTOS, 2019).
Foi possível perceber a objetivação da maternidade e do papel materno no cuidado,
cuidado este de ordem física e afetiva, pois mesmo quando observados discursos de preocu-
pação estes estavam voltados para o desenvolvimento adequado deste papel e em propor-
cionar um futuro digno aos filhos. Esse bloco temático revela elementos que perpassam do
desejo ao exercício da maternidade na contemporaneidade, elucidados na gravidez tardia,
na adoção e na reprodução assistida, retratados e divulgados pela mídia aos seus leitores.
CONCLUSÃO
Neste presente estudo, a mídia digital Revista Veja, de circulação nacional, represen-
tou a maternidade como símbolo da feminilidade e papel destinado socialmente à mulher,
ratificando a variabilidade histórica e social do seu significado na constituição familiar e nos
papéis de gênero ao longo dos tempos.
As representações sociais da maternidade foram ancoradas na ampliação da licença
maternidade como uma conquista do direito materno e objetivadas nos benefícios trabalhistas
das mães com vínculo empregatício, seja biológica ou adotiva, garantindo maior vínculo do
binômio mãe-filho e amamentação exclusiva por maior período.
A mídia ancorou a maternidade nas condições que um país precisa para o exercício
adequado da maternidade, considerando os determinantes sociais de saúde como fatores de
significativa influência tanto na decisão da maternidade, como na qualidade de vida materno-
-infantil e objetivou-a na própria concretização da maternidade e no desempenho desse papel.
Diante desses fatores, a maternidade tardia se apresenta como opção da mulher con-
temporânea que tem a sua inserção no mercado de trabalho e sua independência financeira
como prioridades antes do exercício do papel materno. No entanto, apesar das mudanças
na própria identidade feminina diante de seus múltiplos papéis na sociedade, a gestação de
um filho permanece como indispensável para o sentimento de completude da maioria das
mulheres. E para a concretização do desejo da maternidade, as representações sociais da
mídia são ancoradas na adoção de uma criança, ou até mesmo, na utilização da reprodução
assistida, quando a gestação não for possível por meios naturais.
Compreende-se que a produção e divulgação de reportagens da Revista Veja e as
representações apreendidas acerca do tema podem ou não ser comum às representações
sociais elaboradas pelas pessoas. Entretanto, em virtude desta revista ser de circulação na-
cional, com fácil acesso e pela obtenção de um corpus documental em notícias, publicidade
e informações científicas, acredita-se em uma aproximação com as ideias do senso comum
e em seu potencial para influenciar as opiniões e comportamentos dos grupos sociais.
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Evidenciam-se como limitações a restrição da busca a uma revista, devendo-se ser am-
pliado para outras revistas com alcance nacional, bem como aos outros meios de divulgação
de informação pela mídia. Assim, almeja-se contribuir com a produção de conhecimento em
relação à maternidade, além de nortear estudos posteriores, discussões sociais e científicas.
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