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ASPECTOS DA REDENÇÃO

Tradução: Joel C. Ramirez


e-mail: jols.math@gmail.com

Perspectivas falsas sobre a expiação, a salvação pessoal e a natureza


do pecado não sobreviverão por muito tempo se entendermos bem a
mensagem desta leitura. Embora isto não seja exatamente uma história
infantil para ler antes de dormir, acreditamos que sua cuidadosa leitura
pode ser de consolo para uma alma aflita.

Este texto é uma tradução da revista em espanhol “Pregonero de


Justicia”, volume 7, números 2 e 3. Baseado no princípio de “solo
escritura”, dita revista é dedicada à restauração do cristianismo no Novo
Testamento desta geração, e destinada a afirmar a grande verdade da
justificação pela fé neste tempo, a qual esta sendo ameaçada pelo
humanismo, o emocionalismo e o ecumenismo.

Esta leitura contém duas partes. A primeira parte é destinada a


entender os aspectos legais e morais da redenção. Confiando no fato de que,
quando o legal prevalece sobre o moral, uma multidão de cuidados
inecessários na vida é eliminada. Compreender que o legal sempre deve
preceder o moral, simplificará milhares de decisões na vida. O acreditar que
o legal é a única base verdadeira para o moral, nos liberta para viver uma
vida verdadeiramente moral nesta terra. A segunda parte é destinada a
tratar sobre os aspectos adicionais da eleição relacionados com a primeira
parte. Inclui um resumem dos 5 puntos do Calvinismo (que no inglês é
resumido com as letras TULIP) e a ordem da salvação.
PARTE 1

Os Aspectos Legais e Morais da Salvação

1. Três distorções
Os Reformadores Protestantes foram os grandes destruidores do
legalismo na igreja. Mas foi ao enfatizar o legal por acima do moral que
conseguiram desarraigar o legalismo. Eles ensinaram uma justificação
jurídica baseada numa doutrina legal da expiação. A Reforma Protestante
nasceu da convicção de que justificação era uma palavra legal e uma
transação forense. Os reformadores não desvalorizaram a renovação moral
do homem, mas tiveram o cuidado de não incluir a mudança moral na
própria justificação. Certamente, a justificação abriu a porta para a nova
vida no Espírito e deu o fruto da transformação do caráter, mas a raiz não
foi confundida com o fruto.

O pietismo e o metodismo não desejavam negar as ideias da Reforma


sobre a doutrina paulina da justificação, mas queriam defender uma religião
vital do coração, bem como protestar contra a justificação sem santidade
pessoal. John Wesley insistiu que era inútil falar sobre salvação pela justiça
imputada enquanto o coração continuava estranho ao poder renovador do
Espírito Santo. Porém, ele também acreditava que justificação era uma
mudança de posição legal, mas insistia que isso deveria ser acompanhado
por uma mudança vital de estado moral.
Hoje, no entanto, de uma ou outra maneira, os aspectos morais da
redenção (novo nascimento, regeneração, santificação, nova vida em
Espírito, etc.) em verdade têm suplantado os aspectos legais da redenção
(substituição, imputação, justificação, etc.). Esse repúdio à justificação
(algumas vezes aberta e conscientemente, outras oculto e
inconscientemente) assume as seguintes formas:

Forma 1. Eleva o moral acima do legal.


Forma 2. Mistura completamente o legal com o moral.
Forma 3. Elimina completamente os aspectos legais da redenção.

Herman Ridderbos identifica a evolução da doutrina da justificação


com estas incisivas observações:

“Enquanto para Lutero e Calvino toda a ênfase recaiu sobre o evento redentor que
ocorreu com a morte e ressurreição de Cristo, mais tarde, sob a influência do pietismo,
misticismo e moralismo, a ênfase mudou para o processo de apropriação individual da
salvação dada em Cristo para seu efeito místico e moral na vida dos crentes.
Consequentemente, na história da interpretação das epístolas de Paulo, o centro de
gravidade mudou cada vez mais dos aspectos forenses para os aspectos pneumáticos e
éticos de sua pregação, e surgiu uma concepção totalmente diferente das estruturas que
estavam na base da essa pregação”. — Paul, An Outline of His Theology (Paulo, Um
Esboço de Sua Teologia), p.14.

Dizemos novamente que esse afastamento da postura objetiva da


Reforma nem sempre foi planejado e deliberado. A maior parte
provavelmente esteve inconsciente simplesmente porque a natureza humana
gravita naturalmente para se concentrar mais em si mesma e no que pode
ser feito em si mesma do que naquilo que Deus fez fora de si em Jesus
Cristo.

A ala mais liberal do movimento cristão se afastou do conceito de


justificação forense, conforme pregado pelos reformadores, e geralmente o
sabe. A ala mais conservadora da igreja também se afastou da doutrina da
Reforma, mas no geral não o sabe.

O fato é que o evangelismo popular de hoje realmente não tem uma


doutrina de justificação. Se a doutrina é consentida, recebe um tratamento
tão pobre e pouca atenção que é realmente condenada ao esquecimento. A
mudança moral da nova experiência de nascimento suplantou a justificação
ou é entendida, de qualquer maneira, como a essência da justificação. O
impulso evangélico moderno é geralmente baseado no apelo de: “deixe
Cristo entrar em seu coração”. Portanto, os aspectos legais da redenção são
perdidos pela preocupação com a experiência religiosa.

Questões em jogo
Como defendemos a restauração da justificação forense ao lugar
principal da redenção? Alguns sem dúvida interpretarão isso como uma
tentativa de desvalorizar a renovação moral do homem. No entanto, os que
defendem a primazia dos aspectos legais da redenção não são os
que realmente desvalorizam a santificação, mas sim o oposto.
Aqueles que ignoram a primazia da justificação forense removem
o verdadeiro fundamento da renovação moral.

A consequência mais terrível de ignorar os aspectos legais da redenção


é que alguém realmente acaba fazendo a cruz de Cristo totalmente ineficaz.
Se pudéssemos ser salvos simplesmente convidando entrar a Cristo em
nossos corações para efetuar uma transformação moral, então devemos dizer
junto a Lutero que: Cristo trabalhou e sofreu tolamente em vão se Deus
pudesse nos salvar simplesmente por uma transformação interior. Ou vamos
dizer: O que aconteceu no Calvário foi apenas uma influência moral para
nos inspirar a lidar com o pecado em nossa experiência pessoal?

A Bíblia é clara no que a justiça de Deus tinha a ver no evento de


Cristo. O pecado foi tratado, Satanás foi derrotado, a morte foi vencida e a
redenção foi realizada. Essa poderosa ação de Deus, que transcende todas as
outras ações por toda a eternidade, não foi uma obra feita em nós (moral),
mas foi uma obra feita fora de nós, na Pessoa de Cristo (legal). Como
costumavam dizer os velhos teólogos, a expiação foi a satisfação que Cristo
deu à lei divina em nosso favor. Foi o cumprimento dos termos do pacto
legal por nosso Representante para que Deus pudesse perdoar pecadores
sem sacrificar a honra da justiça divina. Nossa justificação é grande porque
tem base em uma obra tão perfeita, uma obra muito maior e infinitamente
mais gloriosa que nossa renovação moral, ainda quando esta última seja tão
importante.
Os reformadores foram os grandes destruidores do legalismo na igreja.
Mas eles desenraizaram o legalismo ensinando uma justificativa legal
baseada na doutrina legal da expiação. Eles proclamaram que Cristo
cumpriu e satisfez as reivindicações da Lei de Deus em nosso favor. Se os
pecadores podem ser justificados somente pela fé na satisfação que Cristo
deu à Lei, e se a vida e o sangue do Senhor da glória são o preço de sua
justificação, então é para sempre certo que eles não podem ser justificados
por nada feito por eles mesmos, nem por nada feito a eles mesmos, ni por
nada feito em eles mesmos. O legalismo é condenável, não porque seja legal
(lícito, justo), mas porque é ilegal (ilícito, injusto). O legalismo oferece à Lei
menos do que exige. Quando o pecador vê o Calvário e entende que isso é
exatamente o que a Lei exige para justificar, ele não presumirá oferecer
nada menos à Lei.

A visão legal da expiação e justificação mata o legalismo, e é a única


base da renovação moral. Por outro lado, a teoria da influência moral da
expiação e a visão da renovação moral para a justificação levam
inevitavelmente ao legalismo porque fundamentam a salvação em alguma
fase da experiência humana - não importa se essa experiência é considerada
da fé, do novo nascimento, da nova vida em Espírito, ou da nova obediência
do crente.

Os dois aspectos da salvação - legal e moral - devem ser mantidos na


soteriologia com tanta força assim como quando mantemos as duas
naturezas de Cristo na cristologia. Distinções e harmonias devem ser
mantidas. O protestantismo verdadeiro e original se afirmou nos aspectos
legais e morais da salvação. Este se recusou a subordinar o legal a o moral,
mas afirmou a primazia do jurídico em três áreas principais:

1. Em relação ao pecado se considerava principalmente como culpa


(legal) e não como poluição (moral).

2. Em relação a expiação se considerava que a obra principal era a


satisfação para com a Lei (legal) e não apenas uma demonstração para
mudar a atitude do homem para com Deus (moral).
3. Em relação as aplicações da redenção se considerava que a
justificação (legal) deve preceder e ser o fundamento da santificação
(moral).

Muita cosa está em jogo aqui. Se os aspectos legais da redenção são


perdidos, a doutrina da justificação é perdida. E (como Lutero costumava
advertir) se a justificação for perdida, toda a verdadeira doutrina cristã será
perdida, e nada restará senão trevas e ignorância de Deus. Somos
confrontados aqui com uma situação que poderia significar o
desaparecimento absoluto do protestantismo e o triunfo da corrente oposta
do pensamento religioso.

2. A primazia do legal sobre o moral


Na seção anterior vimos que há dois aspectos a considerar na salvação:
o legal e o moral. O pecado é culpa (legal) quanto contaminação (moral). A
expiação foi uma satisfação feita à Lei divina (legal) bem como uma
demonstração do amor de Deus para mudar nossos corações (moral). A
salvação consiste numa mudança em nossa postura perante a Lei que é
chamada de justificação (legal), bem como numa mudança em nosso ser que
é chamada de santificação (moral).

Nos séculos que se seguiram à era apostólica, a igreja confundiu cada


vez mais esses dois aspectos da redenção. Isso significou que a postura
correta do homem perante Deus, ou sua aceitação diante dEle, jazia sobre
sua renovação moral pessoal. Embora tenha sido argumentado que esta
renovação moral era realizada pela graça, a salvação ainda repousava sobre
a justiça interna do homem religioso.

É provável que a igreja foi incapaz de assimilar a verdade da teologia


Paulina até que adequadamente experimentou as alternativas e constatou
que eram falhadas.

Seja como for, os Reformadores tornaram clara a distinção entre os


aspectos legais e morais da redenção (isto é, entre justificação e
santificação). Eles foram até mais longe e mantiveram a primazia do legal
sobre o moral. Isso foi uma revolução que quebrou o sistema medieval e
inundou a consciência do homem ocidental com tão tempestuosa fúria que
mudou a história da Cristandade - religiosa, econômica, política e
socialmente.

A primazia do legal
1. No assunto do pecado. O pecado deve ser considerado como
culpa (Rom. 3:19), bem como contaminação (Jó 14:4; Jr. 17:9). Na teologia
do Romanismo o pecado é tido primariamente em termos de contaminação,
o qual implica que a salvação é considerada principalmente em termos de
renovação moral. Esta teologia diz que o que torna um pecador aceitável a
Deus é uma transformação interior (gratia infusa) que elimina a ofensa da
contaminação interior. Por outro lado, o protestantismo original, sendo um
reavivamento da teologia paulina, considerou o pecado principalmente como
culpa – a dívida do homem para com a Lei.

Aqui vemos um estranho paradoxo. Os oponentes da Reforma viam o


pecado principalmente como um defeito moral no homem, mas tinham uma
visão superficial da completa ruína do homem e de como esse defeito moral
permeia cada parte de sua existência. Os proponentes da Reforma viam o
pecado principalmente como a culpa do homem perante a Lei, contudo,
foram eles que tiveram uma visão tão profunda da condição moral do
homem que mantinham a doutrina da “depravação total” – que não há
parte alguma da existência do homem que não está contaminada pelo
pecado.
2. No assunto da expiação. Há dois aspectos importantes da
expiação. (1) Há o aspecto que Cristo suportou nossa punição judicial ou
satisfação penal. Isso é com frequência (e corretamente) referido como
morte substitutiva de Jesus Cristo. (2) Também, há o aspecto da revelação
do amor de Deus à mente obscurecida do homem pecador.

Quando somente o segundo aspecto é ressaltado (ou mesmo ofusca o


primeiro), temos o que é conhecido em teologia como “a teoria da expiação
da influência moral”. Esta acompanha a ideia de que o pecado não é um
problema legal (culpa), mas tão-só um problema moral (contaminação).
Com uma boa dose de plausibilidade alega que não foi Deus, mas o homem
que mudou na queda. Assim a salvação somente consiste em mudar o
homem. Alega também que o coração do homem precisa reconciliar-se com
Deus, e a fim de efetuar essa mudança, Deus precisa dar ao homem uma
demonstração de Seu amor e operará a mudança necessária de atitude no
pecador. A cruz é essa revelação. Nessa teoria, a salvação não foi operada
na cruz, mas é um processo subjetivo operado no coração do pecador.
Quando ele se arrepende e crê no amor de Deus (que a cruz o capacita a
fazer), ele é declarado justo porque agora está mudado moralmente e,
portanto, se acha numa correta relação com Deus.

Não negamos que haja um fator de grande influência moral na


expiação. Afinal de contas, não declarou Paulo que o amor de Cristo,
demonstrado em Seu morrer “por todos”, o constrangia a viver para Cristo
(2 Cor. 5:14, 15)? O erro da teoria da expiação da influência moral reside
mais no que nega. Para ser específico:

a) Nega a realidade da Lei divina, sua sentença contra os pecadores e a


ira de Deus ocasionada pelo pecado.

b) Não toma em conta que a reconciliação feita no ato da expiação por


Cristo foi algo que teve lugar por nós e em nosso favor enquanto ainda
éramos inimigos de Deus (Rom. 5:10; Col. 1:20-22). Isso, portanto, é
algo que teve lugar de forma objetiva por nós, e não foi um processo
subjetivo.

c) Reduz o amor de Deus a mero exibicionismo. Se um homem pulasse


no mar e se afogasse apenas para provar seu “amor”, seria considerado
louco. O “amor” que não é baseado em alguma necessidade é
exibicionismo. Se, por outro lado, um homem se lança a um mar
agitado a fim de salvar alguém de se afogar, mas perde a vida no
processo, poderíamos apreciar isto como genuíno amor. De igual
maneira, a morte de Cristo foi absolutamente necessária para nossa
salvação. A justiça deve ser levada adiante. A honra da Lei deve ser
confirmada. Somente Aquele que é tanto Legislador e, ao mesmo
tempo, parte Ofendida poderia nos salvar nessa situação. “… sem
derramamento de sangue não há remissão [de pecados]” (Hb. 9:22). O
processo divino de nos salvar foi tão necessário como tinha sido o
amor de Deus para nós. Contudo, na teoria de influência moral, o
processo da expiação se torna praticamente irrelevante.

Devemos nos lembrar que os apóstolos escreveram inspirando-se do


Velho Testamento e de toda a história e educação de Israel. A base desse
fundamento era a Lei e a exigência por justiça para atender as suas
reivindicações. A mensagem evangélica do Novo Testamento é sempre
apresentada em sua relação com a exigência legal do Velho Testamento. No
livro de Romanos, por exemplo, Paulo é cuidadoso em reiterar a inexorável
exigência legal (Rom. 2:13) antes de prosseguir mostrando como essa
exigência é cumprida na obra substitutiva de Cristo. Isso não é negar a Lei,
mas honrá-la em verdade (Rom. 3:31). Paulo somente nega a Lei como um
método de salvação, mas a confirma como uma válida demanda de um Deus
justo.
Os reformadores consideraram à expiação principalmente em termos
de satisfação, em vez de influência moral. Nisso eles seguiram de Anselmo, e
não de Abelardo. No século XI, Anselmo havia feito um grande trabalho
sobre a doutrina da expiação. Ele argumentou pela necessidade da expiação
com base na santidade da natureza de Deus, e nisso ele fez uma grande
contribuição. Mas ele ainda deixou a doutrina em grande parte no domínio
do abstrato. Os reformadores foram os primeiros homens desde os apóstolos
a relacionar concretamente a expiação e a Lei de Deus. Diz o Dr. George
Smeaton:

“Uma explicação adicional da verdade foi reservada para a Reforma, penetrando mais
profundamente na natureza da lei divina do que foi descoberto pelo grande acadêmico
[Anselmo]. O que faltava em sua teoria, de fato, era um reconhecimento total das
reivindicações da lei divina e da expiação como satisfação dessas reivindicações em toda
a sua extensão e amplitude...

“Às teorias anteriores faltava um pleno reconhecimento das exigências da lei divina e da
expiação como satisfação dessas exigências em toda a sua magnitude; e esse se tornou o
elemento no qual a teologia da Reforma se moveu, e pelo qual todas as outras verdades
foram coloridas… A posição principal deles, à qual eles eram conduzidos por visões mais
profundas da amplitude da lei e de suas exigências inflexíveis, era que a satisfação de
Cristo era perfeitamente idêntica à que os homens deveriam ter prestado; e na expiação,
eles leram as reivindicações inalteráveis da lei divina - George Smeaton, The Atonement
According to Christ and His Apostles (A Expiação Segundo Cristo e Seus Apóstolos)
(republicado por Sovereign Grace Publishers, Grand Rapids, Michigan).

Não vamos aqui dedicar tempo e espaço para citar muitas referências
de Lutero e Calvino que apoiam amplamente o que Smeaton diz. Qualquer
um que se dê ao trabalho de ler esses reformadores saberá que eles
acreditavam que a morte de Cristo era necessária por causa lei de Deus.
Eles ensinaram que a expiação era a satisfação prestada à lei divina em
nosso favor. Aquilo que a Lei de Deus exigia, Deus nos proveu no fazer e
morrer de Jesus Cristo. Sua expiação foi tudo o que a Lei de Deus exige de
nós, portanto, todo homem que crê nisso é atribuído com tudo o que Cristo
fez em seu lugar e, em consequência, permanecer como justo aos olhos da
Lei. A fé na expiação não é vista como um meio de deixar de lado as
exigências da Lei, mas como um método para cumpri-las.
Um crítico da visão legal da expiação pode argumentar que isso está
acabando com a verdade da influência moral da cruz. Afinal, a
contemplação do amor de Deus vista na cruz não se torna um fator
poderoso na transformação interior? Não negamos isso, mas com prazer
afirmamos! No entanto, o que devemos destacar é que uma influência moral
correta se baseia na visão correta (legal) da expiação de Cristo. Quando
vemos a morte de Cristo em sua relação com a lei (legal), ela nos mostra a
perfeita mistura de justiça e misericórdia, a santidade da Lei de Deus que
não pode ser anulada, e a perversidade do pecado que é a transgressão da
Lei de Deus (1 João 3: 4). Somente na luz dessa visão legal da expiação, a
influência moral terá um conteúdo adequado. Qualquer reforma da vida e
conduta que não seja baseada na Lei de Deus é uma religião falsa.
Certamente, o amor de Deus revelado na cruz exige algo! Jesus disse: “Se
me amais, guardai os meus mandamentos” (João 14:15). Enquanto a Lei
nos aponta para Cristo, Cristo nos aponta de volta à Lei. Porém, se a
chamada “influência moral” é separada do que a cruz trata principalmente
(satisfação à lei de Deus), torna-se em fantasma do sentimento humano.

Voltamos à nossa premissa de que o aspecto legal da redenção é a


raiz e o aspecto moral é o fruto. O legal é primário e sempre tem
precedência sobre o moral.

Se alguém tem a mais leve dúvida sobre a supremacia do legal sobre o


moral, que examine como Deus lidou com Jesus Cristo na cruz. No que
tange a Sua condição moral, Cristo era a justiça de Deus. No que diz
respeito a Sua posição legal, ele foi “contado com os transgressores”. A
justiça O tratou, não segundo o que Ele próprio era em Si mesmo, mas
segundo Sua postura aos olhos da lei. Podemos até dizer que quando os
pecados do mundo foram imputados (considerados legalmente) a Jesus
Cristo, Ele foi tratado segundo a Sua posição legal e não de acordo com Sua
condição moral. O legal tomou precedência sobre o moral.

Há uma eternidade de conforto aqui para o crente. Nenhum homem


na Terra é totalmente isento de pecado. Ele percebe que a justiça de Cristo
é imputada (legalmente considerada) como sua, e aos olhos da Lei,
apresenta-se tão justo como o próprio Cristo. Deus não trata com ele à base
de seu estado pecaminoso, mas na base da sua justa posição. Deus não
contempla a iniquidade em Jacó, pois a promessa do novo concerto declara:
“… buscar-se-á a maldade de Israel, e não será achada; os pecados de Judá,
mas não se acharão...” (Jeremias 50:20).

Que conforto e segurança! Achar a verdade de que o legal tem


precedência sobre o moral. Deus não trata conosco à base do que somos em
nós mesmos, mas nos trata de acordo com o que nós somos em Jesus Cristo.

3. No assunto da soteriologia. Se o pecado é principalmente culpa


perante a lei (legal) e se a expiação é uma satisfação à lei (legal), segue-se
que o aspecto legal da salvação deve tomar precedência sobre o aspecto
moral. A palavra bíblica “justificação” é um termo jurídico relativo a
julgamento, sentença e lei. É o veredito do Juiz de que aquele que esta
sendo julgado é declarado justo aos olhos da lei. O verbo justificar significa
declarar justo e não tornar justo. Se justificar é usado como tornar justo no
sentido subjetivo, então se confundirá com santificação.

Qualquer dúvida sobre o significado forense ou legal da justificação


deve ser posta de lado quando se considera o ‘como’ da justificação. Em
Romanos 4, o apóstolo usa a palavra logizomai (imputar, considerar,
atribuir) onze vezes. Seu significado é absolutamente claro. Ao crente é
atribuída a justiça de Cristo porque Cristo obedeceu, até a morte, no lugar
do crente (Substituto) e no nome do crente (Representante).

Os Reformadores não só foram cuidadosos em manter a natureza legal


da justificação e distingui-la da santificação (a mudança moral), também
mantiveram a primazia e supremacia da justificação sobre a santificação. A
comunhão com Deus não pode basear-se na experiência da santificação, mas
na imputação do cumprimento das exigências da Lei que foi efetuado por
Cristo para nós. Nunca podemos atingir um nível de santificação
nesta vida quando a comunhão com Deus não se baseia no perdão
dos pecados.

O grande argumento de Roma era que a doutrina protestante da


justiça forense era subversiva à santificação. Ao fazer a aceitação para com
Deus repousar na transformação interior, Roma argumentou que ela estava
colocando seu verdadeiro valor à santificação.
Uma verdadeira visão da teologia e da história, no entanto, nos
mostrará que aqui foi o erro mais fundamental de Roma. A Genebra de
Calvino ou o Puritanismo Anglo-saxão não eram notáveis por causa de sua
falta de fervor moral. Pode-se dizer o mesmo das comunidades em Espanha
e do sul da Europa onde a luz da Reforma nunca penetrou? O fato é que o
aspecto legal da salvação é a verdadeira raiz da renovação moral. A
justificação é a fonte principal da santificação. A menos que o
aspecto moral repouse no legal e derive sua vida e direção do legal, ele deve
murchar e morrer. De fato, não é mais moral, mas imoral.

Podemos ilustrar nosso argumento referindo-nos à instituição do


casamento. O casamento é um reflexo da relação divino - humano. Antes
que um homem e uma mulher possam viver juntos em toda justiça, eles
devem ser legalmente marido e esposa. O contrato de casamento é uma
aliança legal. O amor santo se baseia em um pacto legal. Nenhuma
experiência de viver juntos tornará o casamento legal. Há quem menospreze
o valor de um contrato de casamento, chamando-o de “um mero pedaço de
papel”. Eles pensam que a única coisa que conta é a experiência de duas
pessoas se amando. Mas logo ficou provado que o casamento baseado em
nada mais do que experiência não tem estabilidade ou segurança e é
atormentado por todo tipo de dúvida infeliz. É uma prostituição do amor,
porque não é segundo a ordem divina.

Nossa comunhão com Deus não é baseada sobre nossa experiência da


santificação, mas sobre o juramento da aliança. A ideia de aliança é achado
em toda a Escritura. Aliança é uma palavra legal, é um contrato. A
justificação nos constitui “casados” (legalmente, com justiça) com Jesus
Cristo (Rom. 7:4). Deus não participará de fornicação espiritual. Devemos
ser legalmente (legalmente por direito) seus por meio de decreto divino
antes que Ele possa viver em união conosco. Ou, para mudar a figura (mas
não a verdade), devemos ser legalmente adotados como filhos antes que
Deus possa enviar o Espírito de Seu Filho para nossos corações (Gal. 4:5-6).

Antes da justificação, o Espírito obra sobre o coração do pecador


atraindo e cortejando-o, e isso conduz à fé e ao arrependimento. Depois da
justificação, o Espírito mora no crente. A diferença é muito clara, bem como
a relação entre um homem e uma mulher antes e depois do casamento.

Se a comunhão com Deus repousa na santificação, o que o crente pode


fazer nos dias de trevas e provações quando tropeça ou é surpreendido por
falhas e erros? Que direito ele pode agora reivindicar ter comunhão com
Deus quando é vividamente confrontado com a pecaminosidade humana
diante da face da glória divina? Quão facilmente a fé vacilaria, e ele ficaria
desarmado no meio de seus inimigos se não tivesse juramento e convênio
para fugir em busca de refúgio no dia da tempestade! Feliz é o homem que
na hora da prova e dificuldade tem algo melhor do que sua própria
experiência inconstante sobre a qual descansar.

Mesmo que Satanás ataque e a dor venha.


Que isto mantenha minha paz:
Que Cristo viu meu desamparo
E seu sangue derramou por mim.

Uma mulher que ignora um relacionamento legal e tenta estabelecer


um relacionamento com um homem baseado na experiência, está
prostituindo uma lei fundamental da vida. No Apocalipse de São João, a
Babilônia (que representa toda religião falsa) é chamada de prostituta (Ap.
17:5). Babilônia é todo sistema que tenta estabelecer um
relacionamento com Deus com base na mudança moral do
homem. Santificação é uma mudança moral. A justificação é sua base
jurídica e, sem a justificação nenhuma verdadeira santificação pode existir.

A santificação é uma mudança moral. A justificação é sua base legal, e


sem esta, uma verdadeira santificação não pode existir.
Aqueles que imaginam que as transações legais não são reais,
considerem por um momento o mundo da economia e dos grandes impérios
empresariais que controlam a mão de obra e os recursos. Em algum lugar
do escritório, uma decisão é tomada, os documentos são preparados, um
contrato é assinado e milhões de dólares são legalmente comprometidos com
uma determinada atividade. Como resultado desse “pedaço de papel” (se
você quiser chamar assim), mil homens colocam músculos em ação,
escritórios movem montanhas e a vida de uma multidão é afetada de
maneira vital. Qualquer atividade importante deve legalmente ser
transmitida antes de ser executada na prática; e nesse aspecto as coisas
divinas não são distintas.

Os resultados de negligenciar os aspectos legais da


salvação
Lutero costumava dizer que, se o artigo de justificação é perdido, toda
a verdadeira doutrina cristã se perde ao mesmo tempo. Vamos atrair
brevemente a atenção para as consequências de negligenciar os aspectos
legais da salvação.

1. Em primeiro lugar, a cruz de Cristo é esvaziada de significado real.


Se Cristo não satisfez as reivindicações da Lei no Calvário, a cruz se torna
uma tragédia sem sentido ou algum exibicionismo incompreensível.

Além disso, como temos indicado na seção I desta leitura, se o


pecador pudesse ser salvo por renovação moral (Cristo no coração, batismo
no Espírito, etc.), seria realmente desnecessário que Cristo sofresse e
morresse. Se não houvesse reivindicações legais a ser cumpridas para a
salvação humana, a cruz seria desnecessária e irrelevante. Talvez seja por
isso que hoje ouvimos tão pouca exposição sobre o evento de Cristo, e, pelo
contrário, somos afogados no “evangelho” da vida transformada do crente.

Nas religiões não-cristãs quaisquer, aspectos históricos (se houver


alguma) podem ser eliminadas sem fazer nenhuma diferença essencial no
conteúdo dessas religiões. Quase parece que a mesma coisa poderia ser feita
hoje com muito do que se passa como religião cristã.
2. Quando os aspectos legais da redenção são negligenciados em favor
da ênfase na renovação moral, o homem se torna o centro em vez de Deus.
Em lugar do ponto focal do Novo Testamento sobre a obra de Deus em
Cristo, torna-se a obra de Deus no coração humano. O homem e sua
experiência inevitavelmente assumem o centro do cenário. O homem, e não
Deus, torna-se o centro da religião.

3. Quando os aspectos legais da redenção são removidos, o crente não


tem fundamento objetivo para sua salvação. Os grandes atos de Deus que
foram realizados fora do crente em Jesus Cristo não são mais o objeto e
âncora da fé. Então não há salvação por substituição, representação e
imputação. A salvação se reduz a um processo subjetivo no próprio homem.

4. A santificação que não se baseia na justificação não é legal; e,


porque não é legal, é imoral. Realmente não edifica a comunidade cristã,
mas a destrói. A menos que a moralidade se baseie na lei divina e no
cumprimento da lei que ocorreu no Calvário, ela se torna imoralidade. É
por isso que o Revelador declara que a religião da grande Babilônia
corrompe o mundo (Apo. 11:18; 17:5).

5. O afastamento e, como em muitos casos, o repúdio aberto dos


aspectos legais da redenção trai a causa do verdadeiro protestantismo. Isso
significa o triunfo dos inimigos da Reforma.
É comumente pensado que a Reforma, sendo uma revolta contra o
legalismo, não tinha tais interesses vitais nos aspectos legais da redenção.
Essa é a visão superficial que muitos têm hoje das questões em jogo na
teologia da Reforma. De fato, muitos pensam que imitam os reformadores e
demonstram sua antipatia ao legalismo, desprezando os aspectos legais de
nossa redenção. Eles não conseguem ver que legal é sinônimo de legitimo,
correto e justo, enquanto o legalismo é uma perversão do legal. O legalismo
não é legal, mas ilegal.

Precisamos de uma aplicação rigorosa do pensamento para raciocinar


corretamente da causa para o efeito neste assunto. A teoria da influência
moral da expiação leva inevitavelmente ao legalismo. A ideia de aceitação
de Deus com base na renovação moral é legalismo. O conceito de que o
pecado é principalmente contaminação (moral) e que a salvação é efetuada
apenas pelo processo de eliminar essa contaminação é legalismo. Todo esse
sistema propõe que é o agente humano que atende e satisfaz as exigências
da justiça por meio de alguma experiência (realização) pessoal própria.

Por outro lado, a visão legal do pecado (culpa perante a Lei), a visão
legal da expiação de Cristo (satisfação à Lei) e a doutrina legal da
justificação (um ajuste aos olhos da Lei) matam o legalismo porque eles
colocam nossa salvação totalmente naquilo que Outro fez por nós. O agente
humano não fica mais com o ônus de tentar satisfazer as exigências da lei,
seja pelo que ele faz, seja pelo que nele é feito. Somente aquilo que satisfaz
a Lei de Deus pacificará a consciência humana; e o senso de justiça que
Deus criou no homem nunca será realmente satisfeito com um perdão que
não se baseia na justiça absoluta.

Portanto, a elevação dos aspectos morais da salvação acima dos legais,


resulta em legalismo e destrói toda a verdadeira moralidade. Por outro lado,
quando os aspectos legais da redenção recebem sua primazia, o legalismo é
derrubado e é fornecida uma base forte e verdadeira da ação moral.

As razões para negligenciar os aspectos legais da


salvação
Todo mundo sabe que a Reforma foi o grande inimigo do legalismo.
Mas, de alguma maneira, ocorreu uma sutil evolução, pela qual a antipatia
pelo legalismo foi transferida para a própria Lei. Gordon H. Clark ressalta
que o legalismo agora adquiriu um novo significado. Enquanto antes se
costumava designar uma teoria de justificação pelas obras, agora se usa
para designar (e denegrir) qualquer obrigação de obedecer a leis objetivas -
como se o amor amorfo substituísse os mandamentos definidos (Christianity
Today, 3/16/73).

O fato é que o Deus justo tem um respeito tão apaixonado pelas boas
obras e um padrão tão alto de obediência aceitável que os pecadores caídos
são totalmente incapazes de atender a essa justa demanda. Um homem que
tenta ser justificado pelas obras da Lei não é condenado por guardar a Lei,
mas porque falha em cumpri-la (ver Gálatas 3:10).

Refletindo sobre isso, Calvino diz: “Portanto, confessamos de bom


grado que a perfeita obediência à lei é a perfeita justiça”. - Instituição,
Livro. 3, cap. 17, seg. 7) “O Senhor promete nada, exceto aos guardiões
perfeitos da lei.” - Ibid., Sec. 1. E Lutero poderia até dizer: “A lei deve ser
cumprida tal que nenhum jota ou til seja perdido, caso contrário o homem
será condenado sem esperança.” - Luther's Works (Obras de Lutero) (ed.
Americana; Ed. Americana; Muhlenberg Press; Concordia, 1955-) 31, p.348.

O Evangelho nos ensina que somos salvos somente pela obra de


Cristo. Mas, em que consistiu Sua obra? Ele fez por nós o que nós
estávamos obrigados a fazer. Diz Calvino: “Porque, se a justiça consiste na
observância da lei, quem negará que Cristo em favor de nós, quando
assumindo esse fardo, nos reconciliou com Deus como se tivéssemos
cumprido a lei?”. - Instituição, Livro. 2, cap. 17, seção 5. Diz-se que a fé
justifica não porque somos feitos justos diante de Deus por causa da fé e
não porque a fé em si mesma agrada a Deus mais do que obediência a Sua
Lei, mas simplesmente porque a fé se apodera da perfeita obediência de
Cristo, com a qual a Lei está bem satisfeita. A menos que vejamos
claramente que a justificação honra e estabelece a Lei (Rom. 3:31), não
estamos vendo a doutrina bíblica da justificação pela fé.
A mensagem da justificação só pode fazer sentido em um contexto em
que a Lei de Deus é tomada na seriedade radical que a Bíblia exige. Um
homem tem que ser firme com sua obrigação de atender às exigências da
Lei, e ele deve perceber que não há esperança de vida eterna, a menos que a
Lei da justiça perfeita seja satisfeita. Como Lutero diz, um homem deve
“por meio dos mandamentos aprender reconhecer seu desamparo” e estar
“angustiado sobre como ele poderia cumprir a lei”. - Luther’s Works, Vol.31,
p.348. Os seguintes comentários do Dr. J. I. Packer acertam com o martelo
na cabeça do prego:

“Os protestantes de hoje (cujo hábito é orgulhar-se de serem modernos) são, portanto,
relutantes em levar a sério a insistência bíblica uniforme de que o trato de Deus com o
homem é regido pela lei… Assim, o protestantismo moderno realmente nega a validade
de todos os termos forenses nos quais a Bíblia nos explica nosso relacionamento para
com Deus.

“O protestante moderno, portanto, está disposto a ver o homem como uma criança
errante, um pródigo perdido que precisa encontrar o caminho de casa para seu Pai
celestial, mas, de modo geral, ele não está disposto a vê-lo como um criminoso culpado e
processado perante O Juiz de toda a terra. A doutrina bíblica da justificação, no
entanto, é a resposta para a pergunta do infrator condenado: como posso ser considerado
reto perante a Lei de Deus? Como posso ser justo diante de Deus? Quem se recusar a
ver sua situação nesses termos, portanto, não se interessará muito pela doutrina.
Ninguém pode despertar muito interesse na resposta a uma pergunta que, no que diz
respeito a ele, não foi levantada. Assim, o protestantismo moderno, por sua recusa em
pensar no relacionamento do homem com Deus nos termos bíblicos básicos, derrubou o
fundamento do Evangelho da justificação, fazendo com que pareça simplesmente
irrelevante para a necessidade básica do homem. - “Ensaio Introdutório” ao livro de
James Buchanan, The Doctrine of Justification (A doutrina da Justificação).

Com frequência os evangélicos mantêm o seu próprio tipo de


antinomianismo, disfarçado em frases de aparência piedosa como: “Cristo
viverá a vida vitoriosa em mim”, “O amor toma o lugar de qualquer
mandamento exterior”, “Quando você é guiado pelo Espírito Santo, você
não precisa da lei”. Eles querem ser mais sábios do que Paulo, que encheu
todas as suas epístolas com imperativos morais e éticos.

É perfeitamente bíblico pregar que a Lei é abolida para o crente como


um meio de salvação, mas é pura heresia antinomista dizer que está
eliminada como regra de vida. Toda criatura existente está sujeita à Lei, e o
homem que declara: “não estou sujeito a qualquer lei”, então introduziu
imediatamente sua própria lei - tal como o indivíduo que se levanta e diz
que “não há absolutos” e que com isso introduz o seu próprio absoluto.

Os oponentes da Reforma no século XVI mantinham que a doutrina


da justificação forense, de Lutero e Calvino, resultaria em permissividade
moral e numa grande quebra da ordem social. Hoje, muitos bons católicos
romanos, olhando a condição do protestantismo moderno, sinceramente
sentem que sua apreensão sobre a doutrina protestante está justificada. Na
maioria das vezes, o protestantismo moderno é suave e flácido pela falta de
disciplina moral. Muitas vezes parece haver mais respeito pela Lei divina e
reverência a Deus entre os católicos do que entre os protestantes; e, se
houver outra reforma - esta vez última - o solo mais favorável para ela
poderá ser achado fora da corrente principal do protestantismo moderno.

Uma coisa é certa: A justificação, no que concerne ao aspecto legal da


redenção humana, nunca será entendida ou fará qualquer sentido exceto
àqueles que respeitarem a lei de Deus e levarem a sério as suas exigências.
Para esses, a doutrina da justificação não será uma raiz fora da terra seca,
mas a mais doce mensagem sob o céu.

3. No aspecto da eleição
Nas seções 1 e 2 desta primeira parte demonstramos que:

1. O pecado é culpa (legal), bem como contaminação (moral).


2. A Expiação é uma satisfação penal para com a Lei (legal), bem como
uma revelação do amor de Deus para com o pecador (moral).

3. A Salvação consiste em justificação com seu veredito de que um homem


é apresentado justo aos olhos da Lei (legal), bem como em santificação com
sua transformação no caráter do homem (moral).

Também vimos que em relacionar corretamente esses dois aspectos da


redenção, o legal não deve somente receber prioridade, mas ter a
precedência sobre o moral. Este foi o gênio e a luz brilhante da Reforma. A
renovação moral do homem não foi negada ou mesmo desvalorizada pelos
reformadores, contudo eles sabiam que a salvação do homem devia basear-se
sobre os atos de Deus em Jesus Cristo. A perspectiva legal do pecado, a
perspectiva legal da expiação, e a perspectiva legal da justificação não
geraram o legalismo. Antes, acertaram ao legalismo sua “ferida mortal”.

Esses aspectos legais da redenção, abrangidos pela doutrina Paulina e


da Reformada sobre a justificação pela fé, chegaram ser uma grande
verdade central que explicava outras verdades. Lutero disse:

“Se o artigo de justificação for perdido, toda doutrina cristã está perdida ao
mesmo tempo… Este somente torna uma pessoa em um teólogo… Pois, com éle vem o
Espírito Santo, quem ilumina o coração por meio deste artigo e o mantém no verdadeiro
e certeiro entendimento de modo que é capaz de distinguir e julgar, preciso e claramente,
todos os outros artigos de fé, e sustentar-lhos com poder.” - What Luther Says, ed. E.
Plass (Concordia), Vol. 2, pp. 702-714, 715-718.

Agora queremos tomar as apreciações da Reforma respeito aos


aspectos legais e morais da redenção e aplicar-lhas à doutrina da eleição.
Ou para colocar-lho de outra maneira, vamos a considerar certos aspectos
da teologia Reformada à luz da justificação pela fé.

Tudo quanto podemos entender a respeito de Deus e da eleição foi


revelado em Seu Filho. Cristo é a verdade que é sinalada continuamente
pelo Espírito. O evento do Cristo é a verdade sobre o futuro, pois em Sua
morte e ressurreição os eventos do juízo final já foram revelados. Ele é
também a verdade sobre o passado. Jesus Cristo é a plena revelação do que
Deus planejou desde a eternidade. No assunto da eleição é importante
determinar que nada saibamos, salvo Jesus Cristo, e Este crucificado (1
Cor. 2:2).

A teologia reformada
De todas as seções do movimento protestante, nenhuma é considerada
assim mesma a mais forte defensora do patrimonio reformado que aquelas
que tomam o nome de “reformados”. Os aspectos legais do pecado e da
salvação são sinceramente expressos por todos os bons teólogos reformados.
As exigências inflexíveis da Lei de Deus, a satisfação de suas reclamações
feitas por Cristo na cruz, o significado forense ou legal da justificação, e o
“terceiro uso da lei”, todos são encontrados em seu lugar na teologia
reformada. Há aqui matéria sólida e teologia sana que lamentavelmente faz
falta na maioria de outras formas do evangelismo insipido. Pessoas
demasiado acostumadas a uma dieta de “doce de açúcar” evangélico fariam
bem em ler algumas obras teológicas escritas por “pesos pesados” do setor
“reformado” como Berkhof, Warfield, Hodge, Buchanan, Denny, Smeaton,
etc.
No entanto, numa área tão importante, será que a teologia reformada
fracassou em ser consistente com o princípio de relacionar corretamente os
aspectos legais e morais da redenção? Será que o calor da controvérsia sobre
a doutrina da predestinação fez uma fissura entre os calvinistas de hoje e
João Calvino mesmo?

A Premissa de Agostinho
O pensamento de Agostinho sobre predestinação e graça foi
influenciado por seu entendimento da condição do homem caído. Contra
Pelágio havia argumentado convincentemente que o homem caído é
inteiramente escravizado. Em si mesmo o homem não sente desejo de
arrepender-se, nenhuma capacidade de crer, nenhuma inclinação para ir a
Deus, e, portanto, não dispõe de livre arbítrio. Os reformadores reviveram a
visão agostiniana da “total depravação”. Mesmo Lutero, que superou
Agostinho na maior parte das áreas de pensamento, declarou que Agostinho
foi bom numa coisa, e isso foi sua doutrina do pecado e natureza caída do
homem. Depravação total não significa que o homem é tão ruim quanto ele
pode ser, e sim que o homem inteiro, ainda o melhor no interior do homem,
está contaminado com a pecaminosidade humana.

Agostinho elaborou sua doutrina da predestinação desde sua


compreensão antropológica - ou seja, estava determinada em base a seu
ponto de vista da condição moral do homem. Se os pecadores são
totalmente perdidos e destituídos de livre arbítrio, a resposta positiva ou
negativa dos homens ao Evangelho, raciocinava ele, tem que dar-se devido a
um decreto de predestinação para eleger alguns e ignorar outros. Assim, as
doutrinas que pertencem particularmente ao sistema agostiniano são
logicamente deduzidas da condição moral do pecador.

Em geral, pensa-se que a única forma de evitar a lógica do


agostinianismo (ou calvinismo extremo) é negar a escravidão do pecador
(depravação total) e atribuir algum livre arbítrio ao homem. Mas nossa
objeção é que Agostinho não levou suficientemente longe o conceito da
escravidão do pecador. Ele entendeu que a escravidão do homem é baseado
em sua condição moral interna. Mas o homem não é um escravo por
causa de sua condição moral. Fundamentalmente, ele é um
escravo a causa de sua postura legal. Esta é a teologia de Paulo sobre
a lei, o pecado e a liberdade humana. Segundo Paulo, o homem é um
devedor e, portanto, um prisioneiro da Lei. É o poder da Lei que obriga ao
pecador ao serviço do pecado (1 Cor. 15:56; Rom. 7:1-8). Como vimos na
seção 2, o pecador não pode ser livrado da Lei (assim, de sua escravidão ao
pecado) por qualquer transformação moral. Nada que ocorra no pecador
(mudança moral) pode afetar sua condição perante a lei como um pecador
condenado.

O que estamos afirmando uma vez mais é que a posição legal de um


homem tem precedência sobre sua condição moral. O homem não é apenas
um escravo devido à sua doença moral. Ele é culpado perante a lei. Ele é
legalmente um escravo. O poder que o mantém prisioneiro não é
uma doença moral. É o poder de uma lei onipotente (1Cor. 15:56).
A doutrina paulina magnifica a graça e a salvação propiciada por
Deus. O homem não poderia ser salvo simplesmente por ser curado de sua
doença moral. O próprio Deus tinha que prover um remédio por um ato que
fosse legal - um ato completamente fora do homem.

Quando asseguramos que o legal toma precedência sobre o moral, não


somente o aplicamos no que tange à escravidão. Também o aplicamos ao
assunto da libertação. A liberdade só vem legalmente. Por exemplo, se um
pecador é justificado por Deus, ele é justo aos olhos da Lei a pesar de que
ainda é uma criatura muito imperfeita e pecaminosa. Assim, Deus trata o
pecador justificado, como se sua doença moral não existisse. Outro exemplo
foi quando Jesus Cristo foi contado entre os transgressores, ele foi tratado
como um pecador e considerado como se não fosse de fato justo, como se
Sua retidão moral não existisse. Em outras palavras, a transformação
espiritual de um homem não é o que proporciona livre arbítrio.

Vimos que, se um pecador escravizado fosse moralmente


transformado, a lei ainda o trataria como se essa transformação moral não
existisse (assim como um assassino convertido ou arrependido é culpando no
tribunal criminal, e ainda ele deve pagar por seu crime). Mas, se o pecador
é legalmente libertado, ele é realmente livre e pode agir como se sua doença
moral fosse inexistente.

Estas são as implicações dos aspectos legais da redenção. Mas


Agostinho não distinguiu claramente entre o legal e o moral. No
pensamento de Agostinho, o pecador encontrava-se presso devido a sua
condição moral.

Calvino, logicamente, distinguiu claramente os aspectos legais e


morais da redenção. No entanto, no sistema conhecido como Calvinismo
esta perspectiva não continuou e não determinou a visão das doutrinas
relacionadas à graça. Isso colocou os calvinistas em algumas dificuldades
absolutamente impossíveis e indefensáveis.
Dificuldades calvinistas
O calvinismo tem colocado o moral antes de o legal. Contrariamente
ao próprio João Calvino, afirma que o pecador deve ser regenerado pelo
Espírito Santo (o moral) antes que possa crer e ser justificado (o legal).
Uma publicação típica Reformada titulada The Grace of God [A Graça de
Deus] (The Banner of Truth Trust]) declara: “É necessário nascer de novo
(que é um ato soberano de Deus) antes que possa arrepender-se e crer”.

Como o calvinista chega a esta posição? Por aplicar lógica em vez da


revelação à condição moral do homem. Ele raciocina que sendo o homem
destituído de livre arbítrio devido a sua condição moral, sua condição
interior deve ser mudada antes que ele possa ser livre para decidir aceitar o
evangelho e ser justificado. Nisto o calvinista coloca o moral antes do legal.
Ele admite que a justificação é uma liberdade legal, mas é forçado a situar
à aquisição de liberdade moral antes da aquisição da liberdade legal. Esse
posicionamento da regeneração antes da justificação é uma tendência
romanizante na Igreja Reformada, e é indefensável. O calvinista neste ponto
alega que a liberdade para crer e aceitar o evangelho tem por base um ato
regenerador dentro do homem, enquanto o católico diz que justificação é
baseada num ato transformador dentro do homem. Em ambos os casos a
mudança moral no homem precede e conduz à mudança legal. O calvinista
neste ponto traiu a João Calvino e ao coração da grande Reforma. (Veja
João Calvino, Instituição, Livro 3 cap. 11, seções 6 e 11; Livro 4, cap. 2,
seção 2; Consenso Tigurinus citado por François Wendel, Calvin: The
Origins and Development of His Religious Thought, pag. 256).

Na seção 2 desta primeira parte demonstramos que não só deve o


aspecto legal da salvação ter precedência sobre o moral, mas o moral deve
basear-se no legal. A “santificação” que não se baseia na justificação não é
verdadeira santificação em absoluto. Não é moral e sim imoral, pela simples
razão de que não é legal (conforme à lei). Referindo-se novamente à
ilustração do matrimônio, a união legal deve preceder a união conjugal,
doutro modo será imoral e Deus nunca será partícipe de fornicação
espiritual. Para usar outra ilustração, o pecador precisa ser adotado como
filho (legal) antes de ser tornado filho vitalmente (Gal. 4:5,6). A primazia
da justificação corre risco aqui, e os calvinistas o comprometeram. A grande
mudança moral chamada regeneração ou novo nascimento é distorcida para
uma mudança imoral quando é situada antes da justificação.

A fim de coerentemente manter esta ordo salutis (ordem da salvação)


“ilegal”, grandes eruditos como Hodge têm tido que alegar que a
regeneração ou novo nascimento é somente uma mudança (subconsciente)
no homem - algo que tem lugar antes que o pecador saiba qualquer coisa a
respeito, algo realizado sem o consentimento do pecador. Isto é semelhante
a que o noivo viole à noiva, obrigando-a à união conjugal antes do
matrimônio, mas sem seu conhecimento ou consentimento. Ainda se a noiva
está inconsciente ou drogada, tal ato é ilegal porque a aliança matrimonial
ainda não tem sido assinada.

Os reformadores criam que o Espírito Santo somente vai ao homem na


pregação do Evangelho. Mas o calvinismo neste ponto propõe que o Espírito
Santo regenera o pecador antes que este ouça o Evangelho. O resultado
dessa teoria de uma regeneração (subconsciente) é uma perspetiva muito
fraca da regeneração. O novo nascimento não é um relacionamento secreto,
clandestino ou impercebível entre Cristo e o crente, mas, acompanhando o
veredito da justificação, é uma grande mudança na condição moral do qual
o crente está muito consciente (Rom. 8:16; Gal. 4:5, 6). O historiador Philip
Schaff está correto quando diz que a ênfase de João Wesley numa
regeneração visível e consciente que acompanha a justificação foi sua grande
contribuição. E nesse ponto Wesley estava mais em harmonia com João
Calvino do que aqueles que tomam o nome de “calvinistas”. Além do mais,
na doutrina da justificação, Wesley afirmou que não diferiu de Calvino “ni
pela distância de um cabelo”.
A base cristológica da liberdade humana
Já apontamos que o sistema agostiniano é baseado na antropologia -
começa com a condição moral do homem (depravação total) e razona seu
sistema a partir desse ponto inicial. Preocupa-se com o aspecto moral da
escravidão do homem e falha em apreciar o aspecto mais primário: o
aspecto legal da escravidão e liberdade humana.

Mas isso não é tudo o que tem a dizer sobre a escravidão humana.
Deus designou Seu Filho para ser o segundo ou último Adão, o novo
Representante a agir legalmente pelo homem perdido. Jesus Cristo assumiu
a natureza humana e tornou-se a ser a nova cabeça federal da humanidade.
O governo foi colocado sobre os seus ombros (Isa. 9:6). Como Substituto e
Fiador da humanidade, Ele redimiu o domínio que se havia perdido por
médio de Adão. Tendo cumprido e satisfeito a Lei, pela vida e morte, o
preço da redenção para a raça humana foi pago (Rom. 7:4). Agora Ele vem
na proclamação do Evangelho com a oferta de uma liberdade já adquirida.

Isso não significa, como alguns têm alegado, que em vista da morte e
ressurreição de Cristo todos os homens, ipso facto, são livres para aceitar a
salvação em qualquer tempo que prefiram. A liberdade está somente em
Jesus Cristo. A expiação de Cristo foi o cumprimento do concerto entre o
Pai e o Filho. Foi uma transação legal que deu a Cristo os direitos e títulos
legais à perdida herança do homem. Cristo não só comprou alguns homens
por Seu sangue, mas comprou toda a raça humana.
Toda alma é Sua propriedade, e Ele adquiriu a liberdade. Cristo tem
o direito de ir ao pecador e conceder-lhe liberdade. Cristo vai ao
pecador revestido no Evangelho, e quando o Evangelho lhe é concedido, a
liberdade lhe é oferecida. Somente ao dar ouvido a esse Evangelho, o
pecador tem liberdade para romper as amarras da escravidão do reino das
trevas. Essa liberdade não é uma qualidade inerente no pecador., nem lhe é
inerente por algum misterioso ato de quase-regeneração. A liberdade é uma
“liberdade estrangeira” - está em Jesus Cristo. Contudo, ela vem ao pecador
e lhe é dada no Evangelho, que é “o poder de Deus para a salvação de todo
o que crê” (Rom. 1:16).

Nesse ponto, o calvinista pode perguntar: “Como o pecador, que está


morto em pecados e totalmente depravado, pode ser livre para aceitar a
Cristo?” Simplesmente respondemos que o aspecto legal da redenção tem
precedência sobre a condição moral do homem. O Calvário prova isso, e a
doutrina da justificação prova isso! Se um pecador pode ser legalmente
libertado, então ele é livre, independentemente de sua condição moral. O
legal transcende o moral de maneira que até os mortos podem ouvir a voz
do Filho de Deus e viver (veja João 5:25). Portanto, a objeção sobre a
depravação total da natureza do homem é, neste ponto, uma
negação do poder do Evangelho.

Quando, pelo poder de Sua intercessão e pela ação do Espírito Santo,


Cristo chega em poder do Evangelho ao pecador, a liberdade certamente se
aproxima dele e - independentemente de sua condição moral - ele recebe o
direito de exercer a liberdade que a humanidade tem em Cristo.
Se o pecador crê, devemos dizer que sua salvação e sua capacidade de
aceitar a Cristo são totalmente de graça. Essa capacidade é dada por Deus
na vinda do Evangelho. Não podemos, porém, explicar a causa pela qual
alguns homens rejeitam o Evangelho. Dar uma razão para a descrença seria
desculpá-la. Não há desculpas. “Por que morrereis, ó casa de Israel?”
(Ezequiel 18:31). Devido a que a incredulidade é tão inexcusável, é, assim
mesmo, tão condenável.

A descrença do homem significa que Deus permanece impotentemente


à margem? Acaso o débil homem deixa o Todo-poderoso sem ação? Não,
pois a Escritura ensina que mesmo que ninguém cresse no que Deus
realizou, o plano e o propósito divino já foram levados a cabo em Jesus
Cristo, e isto é um glorioso acontecimento, acredite o homem ou não. “E
daí? Se alguns não creram, a incredulidade deles virá desfazer a fidelidade
de Deus? De maneira nenhuma!”(Rom. 3:3,4). “Não que a palavra de Deus
haja falhado...”(Rom. 9:6). Cristo declarou mediante Isaías: “Mas agora diz
o Senhor, que me formou desde o ventre para ser seu servo, para que torne
a trazer Jacó; porém Israel não se deixará ajuntar; contudo, aos olhos do
Senhor serei glorificado, e o meu Deus será a minha força”. (Isa. 49:5 AV).
Até mesmo a ira do homem louva a Deus (Sal. 76:10), pois em Sua
insondável sabedoria, Deus faz com que até os que se opõem à verdade
atuem para a vindicação da verdade (2 Cor. 13:8).

As vantagens desta verdade


Se a liberdade é encontrada fora do homem, em Jesus Cristo, e vem
ao homem somente pelo Evangelho, conclui-se que o homem é livre e
permanece livre somente pelo ouvir continuamente o Evangelho. Sugerimos
que esta abordagem ao problema do livre arbítrio reterá tudo o que é
realmente essencial na herança da Reforma enquanto evita as dificuldades
de um determinismo rígido:

• Não nos força a situar a regeneração antes da justificação.


• Esta abordagem torna o crente ter consciência de que a salvação lhe
deve ser favorecida constantemente. A menos que permaneça
ouvindo e crendo o Evangelho, ele escorregará de volta para a
escravidão. As advertências bíblicas sobre cair da graça (ver Gal. 5:4;
Rom. 11:20, 21, e as numerosas advertências no livro de Hebreus) são
levadas a sério segundo requerido pela Palavra de Deus. Na presente
situação existencial o crente firma-se somente pela fé, e sua salvação
repousa em esperança. Nem a salvação, nem a eleição, se tornará um
fato pessoal, empírico, até o dia final do juízo.

• Esta doutrina pode verdadeiramente ser pregada porque proclama a


Jesus Cristo como o Homem eleito (ver o sermão de Pedro em Atos
2:22-36) e exorta até mesmo os crentes a tornarem seguros o seu
chamado e eleição por serem diligentes de serem encontrados em
Cristo (2 Ped. 1:5-11).

• Seu ponto de vista do livre arbítrio do homem e sua perspectiva sobre


eleição estão baseados cristologicamente. Tanto a decisão do homem
por Cristo no tempo (Efe. 1:13) como a decisão de Deus por Cristo na
eternidade (Efe. 1:4-6) são possíveis tão-só por causa de Jesus Cristo.

• Mantém a primazia dos aspectos legais da redenção sobre os seus


aspectos morais; a justificação por acima da regeneração e da
santificação.

• Pode ser verdadeiramente proclamada como boas novas para todos os


homens.
PARTE 2

Eleito em Cristo

1. Livres para escolher.

No Éden a humanidade era livre de escolher a vida ou a morte.


Criados perfeitos e equipados com uma vontade sem obstáculos, se lhes
ofereceu a Adão e Eva a benção ou a maldição. Foram livres de escolher:
lealdade a Deus (que conduziria à vida eterna) ou desobediência (que
conduziria à morte eterna).

Quando Adão, nosso representante federal, optou pela morte da


humanidade, perdeu sua liberdade para escolher a vida. “Vendidos ao
pecado” estamos legalmente baixo maldição – tomados cativos pelo inimigo
a quem Adão escolheu servir. Além da intervenção divina, todos estamos
sem Cristo, “sem esperança e sem Deus no mundo” (Rom. 3:11, 7:14; Efe.
2:1,12), e sem Cristo não há salvação (Atos 4:12).

Deus o Pai tem que agir primeiro para que alguém encontre salvação
no Filho. Ninguém pode ir a Cristo “se o Pai… não o trouxer”. João 6:44. “o
Pai enviou o seu Filho como Salvador do mundo”. 1 João 4:14.

Tendo perdido a liberdade de escolher a vida, só nos resta a liberdade


de escolher nosso próprio cominho – de servir a nosso amo o diabo. Esta
liberdade não foi perdida na queda. A Escritura diz: “… cada um se desviou
pelo seu caminho” Isa. 53:6. Os seres caídos não perderam a capacidade de
escolher seu próprio caminho conforme a sua escravidão.

Então, de esta liberdade de eleição que ainda resta: que nos permite
fazer? Algo que certamente nos permite fazer é: rejeitar os esforços de Deus
em atrair-nos a Ele!
Mas, nos estamos adiantando a nós mesmos… Como atrai Deus aos
perdidos? Qual é esse ato divino pelo qual uma pessoa é levada a Cristo?
Deverá Deus transformar primeiramente a natureza corruta para que
possam acreditar no Filho unigênito? Deve a regeneração, ou mesmo a
regeneração subconsciente, ocorrer antes que um pecador possa ouvir a voz
de Deus? De que forma vem Deus à humanidade perdida?

As doutrinas da graça

Como vimos na primeira parte, a Bíblia ensina que os aspectos legais


da redenção devem ter preferência
sobre os aspectos morais. O método de
Deus sempre:

1. coloca a raiz antes que a fruta – o


legal antes do moral;
2. considera a raiz mais importante
que a fruta – o legal por acima do
moral;
3. ensina que não pode produzir fruto
separado da raiz – o legal produz o
moral.

Na primeira parte mencionava as dificuldades do hiper-calvinismo.


Baixo a influência de Agostinho, este sistema considerava somente os
aspectos morais da queda quando examina a escravidão da vontade. Olha
para a depravação humana (o aspecto moral da queda) como a causa de
nossa incapacidade para escolher a Cristo. Igual que Agostinho nessa área,
o calvinismo ignora a condenação (a culpa original), que passou a todos os
homens na queda (Rom. 5:12-21), e chega a uma conclusão que uma pessoa
deve ser regenerada antes de ser livre para aceitar o chamado de Deus.

Tendo em conta que é nossa corrução moral o que nos impede de


responder ao chamado de Deus, o calvinismo muda a definição de a graça
(uma atitude do coração de Deus) para uma transformação interna no
coração do homem. A crença da mudança de nossa condição moral com o
propósito de liberar nossa vontade coloca o moral acima do legal e ensina
que a regeneração deve preceder à justificação. O resultado é que o
calvinismo seguiu a Roma ao colocar o novo nascimento antes que a
justificação. A “graça salvadora” chega ser uma transformação interna do
pecador em lugar de uma atitude externa de Deus. Os aspectos morais da
redenção são colocados antes de, acima de, e aparte de os aspectos legais.

Sendo que o calvinismo corretamente rejeita a ideia de que toda


pessoa será salva, este conduz à ideia de que algum decreto anterior de
Deus deve ser o que determine a quem vai mostrar graça e a quem não vai
mostrar Seu rosto sorridente. Isso é conhecido como a eleição incondicional,
e essa seleção por parte de Deus acontece antes que uma pessoa seja capaz
de cumprir qualquer condição. A ideia é que Deus decide o destino de cada
indivíduo antes da fundação do mundo.

Com o fim de livrar as comprometidas vontades de aqueles escolhidos


por Deus, os calvinistas propõem suas “doutrinas da graça” que ensinam
que Deus renovará aos que tem escolhido previamente, logo estes escolhem a
vida, e Deus, voluntariamente, passa por alto a todos os demais deixando-
lhes no pecado.

Para explicar como uma pessoa totalmente depravada pode escolher a


vida e ser eternamente salva, o calvinismo apresenta seus cinco pontos
cardinais. Isso são: (1) a depravação total, (2) a eleição incondicional, (3) a
expiação limitada, (4) a graça irresistível y (5) a perseverança dos santos.

1. Depravação total significa que “toda a natureza do homem está


corrompida pelo pecado, mas que não é tão ruim como poderia ser.” - Craig
R. Brown, The Five Dilemas of Calvinism, Ligonier Ministries (Orlando ,
Florida, 2007) pag. 25.

A Bíblia apoia essa doutrina, mas não restringe a queda da


humanidade para só a depravação (corrução). A queda foi principalmente
legal. Quando Adão escolheu livremente comer do fruto, também escolheu a
condenação de toda a raça (Rom. 5:16). A condenação e a corrução são
nossa herança legal e moral de Adão. Condenação é culpa, corrução é
depravação.

2. A eleição incondicional significa que “a eleição de Deus de certos


indivíduos para salvação antes da fundação do mundo, repousou
exclusivamente na sua vontade soberana. Sua escolha de certos pecadores
em particular não foi baseado em nenhuma reposta prévia ou obediência da
parte deles, como a fé, o arrependimento, etc”. - David N. Steele e Curtis C.
Thomas, The Five Points of Calvinism: Defended, Documented,
(Presbyterian & Reformed Publishing, Phillipsburg, NJ, 1963), pags. 16-17.

No assunto da eleição, a Bíblia tem um enfoque distinto. Ensina que


Deus escolheu salvar a todos os que são achados “em Cristo” (Efe. 1:4). A
entrada em Cristo é pela fé – não a fé de Deus, mas nossa própria fé (Efe.
2:8). Em quanto o calvinismo rejeita com razão o universalismo (a crença
que todo o mundo será salvo no final), também propõe que Deus escolheu
incondicionalmente antes da fundação do mundo salvar alguns de nós e
condenar ao resto.

3. A fim de continuar esta lógica, isso restringe a expiação que Cristo


fez na cruz só para os pré-escolhidos. A expiação limitada significa que “a
obra redentora de Cristo teve a intenção de salvar somente aos escolhidos e,
efetivamente, assegurou a salvação para eles. Sua morte foi um sofrimento
substituto do castigo do pecado em lugar de alguns pecadores específicos”. -
Idem, pag. 17.

A Bíblia é bem clara neste ponto. A expiação propiciatória de Cristo


não foi somente por alguns pecadores específicos, mas por cada ser humano
(Rom. 5:18; 1Tim. 2:6; 1João 2:2).

4. Enfrentando-se com a depravação humana, o calvinismo coloca


então o quarto ponto: a graça irresistível. Essa é a ideia de que quando o
chamado de Deus é estendido a estos eleitos, este chamado não pode ser
resistido. Sua postura é da seguinte maneira: “… o Espirito Santo estende
aos eleitos um especial chamado interno que inevitavelmente os leva à
salvação… o chamado interno (que é feito somente nos eleitos) não pode ser
rejeitado; sempre resulta em conversão”. - Idem, pag. 18.

A realidade é que o Evangelho é oferecido a todo o mundo para ser


aceito, mas é rejeitado por muitos. A oferta da salvação é acompanhada da
advertência de juízo, o qual dá sua verdadeira urgência: “aquele que crê no
Filho tem a vida eterna; mas aquele que não crê no Filho não verá a vida,
mas a ira de Deus sobre ele permanece” (João 3:36).

5. Quando esses pré-eleitos são aceitos (justificados) pela fé, o


Calvinismo ensina que eles perseverarão no caminho da salvação e nunca se
perderão. Isso é chamado de a perseverança dos santos e trata sobre:
“todos os que são redimidos por Deus, através de Cristo e a quem o
Espírito também dá fé, estes são eternamente salvos. Eles são mantidos em
fé pelo poder do Deus Todo-poderoso e, portanto, perseveram até o fim.” -
Idem., pag. 18.

Que esse é o desejo de Deus para o crente, ninguém pode negar. A


Bíblia exorta continuamente aos crentes a buscarem a “meta” da perfeição,
não permitindo que ninguém tire seu prêmio ou coroa (Fil. 3:13-16; Col.
2:18; Apo. 3:11).

O poder de Deus que nos atrai


Concordamos que a Bíblia ensina que, em Adão, todos somos
totalmente depravados (1). Mas rejeitamos a ideia da graça irresistível (4).
Além disso, ainda existe uma liberdade entre os seres humanos caídos. Esta
liberdade é a liberdade de escolher nosso próprio caminho e resistir aos
esforços de Deus por nos atrair. Jesus ensinou a seus discípulos que Ele
seria rejeitado pelos “anciãos” (Mar. 8:31). João escreveu:

“Quem me rejeita e não receber as minhas palavras tem quem o julgue; a própria
palavra que tenho proferido, essa o julgará no último dia.” (João 12:48).
O autor de Hebreus claramente nos exorta a não endurecer nossos
corações quando Deus chama (Hebreus 3:7-8). No capítulo 12, ele enfatiza o
seguinte:
“Tende cuidado, não recuseis ao que fala. Pois, se não escaparam aqueles que recusaram
ouvir quem, divinamente, os advertia sobre a terra, muito menos nós, os que nos
desviamos daquele que dos céus nos adverte” (Hebreus. 12:25).

O diácono Estêvão sinalizou aos líderes judeus a rejeição de eles ao


apelo do Espírito, dizendo: Homens de dura cerviz, e incircuncisos de
coração e ouvido, vós sempre resistis ao Espírito Santo; assim vós sois como
vossos pais” (Atos 7:51). Por causa desses textos que mostram claramente
que ainda temos a liberdade de rejeitar o chamado de Deus, precisamos
rejeitar a ideia da graça irresistível.

Também não podemos aceitar a ideia de


que o sacrifício de Cristo feito no Calvário não
foi suficiente para todo ser humano. Cristo “é
a propiciação pelos nossos pecados, e não
somente pelos nossos, mas também pelos de
todo o mundo” (1João 2:2). A Bíblia deixa
muito claro que Cristo morreu pelos pecados
do mundo inteiro (1João 4:14; 1Tim. 2:6;
4:10). A graça de Deus se manifestou no dom
de Seu Filho (2Tim. 1:9,10). Portanto, temos
que rejeitar a ideia de uma expiação limitada
na cruz. Quando Maria quebrou o pote de
alabastro para ungir seu Salvador, o perfume
encheu todo o quarto. Mas nem todos na sala
apreciaram o presente custoso. Isso ilustra o
sacrifício de Cristo, bem como a fragrância de
Maria que encheu a sala. O sacrifício de Cristo
inclui a expiação por muitos mais do que
aqueles que aceitam e estimam.
A questão da eleição
Antes da fundação do mundo, Deus tomou sua decisão final sobre
quem deveria ser salvo e quem não. Para continuar no universo de Deus, é
necessária obediência perfeita a seus preceitos (Mt. 5:48; Rom. 2:13). Assim,
Deus baseou sua decisão de eleição na graça: a graça de Deus em Cristo. A
graça é uma atitude no coração de Deus, não uma ação no coração do
homem. É o favor de Deus, considerando-nos melhores do que realmente
somos. Pela sua graça, Deus escolheu aceitar toda pessoa que encontra sua
perfeição em Cristo. O propósito e a graça de Deus nos foram dados “em
Cristo Jesus, antes dos tempos eternos” (2Tim. 1:9). Nele temos perfeita
obediência e nele somos aceitos (2Cor. 5:21; Efe. 1:6; Col. 2:10). Deus em
sua graça escolheu e aceitou seu Filho como substituto e segurança para a
raça. Jesus é o eleito de Deus (Lc. 9:35). Fomos eleitos “em Ele antes da
fundação do mundo” (Efe. 1:4).

Ali, nos conselhos do céu, Cristo se ofereceu como substituto e


garantia para a raça humana (Zc. 6:13; Hb. 10:7). Prometeu que, se por
qualquer motivo, a criação proposta se desviar da perfeita conformidade
com o governo universal de Deus, Ele daria um passo no intervalo e
assumiria a total responsabilidade (Jô 9:33). Assim como Jacobo na sua
velhice, que aceitou a promessa de seu filho Judá, o Ancião de Dias aceitou
a promessa de seu Filho Jesus, e procedeu à criação da humanidade. Assim
como Jacobo aceitou a vida e a herança de Judá como fiança para o retorno
seguro de Benjamin, nosso Pai Celestial aceitou a vida e a herança de Seu
Filho como garantia da fidelidade da humanidade. Judá foi salvo do destino
doloroso, mas Jesus e o Pai não escaparam. Através do sofrimento, morte e
perda eterna, Pai e Filho asseguraram para Si mesmos uma humanidade
testada e selada. Desde antes da fundação do mundo nos amaram e se
comprometeram em sacrifício por nós (Gen. 43-44; Zc. 6:12,13; Apo. 13:8).

Quando chegou a hora, “Deus enviou seu filho nascido de uma mulher
e nascido sob a lei para redimir aqueles que estavam sob a lei” (Gal. 4:4-5).
Então, de acordo com o propósito de Deus, a graça se manifestou “pelo
aparecimento de nosso Salvador Jesus Cristo, o qual aboliu a morte, e
trouxe à luz a vida e a imortalidade, mediante evangelho” (2Tim 1:9,10).

Na eternidade passada, Deus decretou que todos os que estão em


Cristo seriam protegidos em seu reino e todos os que estavam fora dele não
teriam parte da herança eterna (Dn. 12:1; Efe. 1:3-10; Apo. 13:8). Os
limites foram estabelecidos e a decisão tomada. Isto foi semelhante ao
decreto do rei Nabucodonosor, quando ele desafiou as seus sábios a decifrar
que seu sonho. Ele declarou:
“… Se não me fizerdes saber o sonho e a sua interpretação, sereis despedaçados, e as
vossas casas serão feitas um monturo. Mas se vós me declarardes o sonho e a sua
interpretação, recebereis de mim dádivas, recompensas e grande honra” Daniel 2:5,6.

Analogamente, na eternidade passada, Deus decidiu e escreveu em seu


livro que a vida e todas as bênçãos seriam dadas àqueles encontrados “em
Cristo” e que o salário do pecado seria mantido em todo pecador fora de
Cristo, os limites foram estabelecidos e a porta ainda está aberta.

Na aliança eterna, Deus escolheu uma humanidade testada e selada


em Cristo. Fora de Cristo não há eleição. Cristo é o eleito de Deus (Isa.
42:1-8; Cl 1:18; 1Ped. 2:6) e todos os que estão escritos no livro de sua vida
formaram a comunidade selada (Dn. 12:1; Apo. 7; 20:15). Nossa salvação
final não é baseado em uma obra de transformação em nós, (o moral).
Estamos felizes por nossos nomes estarem escritos (o legal) no livro da vida
do Cordeiro de Deus no céu (Lc. 10:20), quem é nossa eleição segura.

Exceto o Pai o trouxesse


Então, como Deus alcança aqueles que estão fora de Cristo e os coloca
no Amado? Em Efésios 2, Paulo estabelece o fato de que sem a fé, os seres
humanos estão fora de Cristo, “sem esperança e sem Deus no mundo” (Efe.
2:1-13). E em Romanos 16:7 deixa bem claro que algumas pessoas entram
em Cristo antes de outras. Aqueles que serão salvos para a eternidade nem
todos entram em Cristo no mesmo dia, já seja esse dia antes da fundação
do mundo, o dia do Calvário ou o dia de sua vinda.

Desde que Adão comeu o fruto proibido, Deus e a humanidade


tiveram diferenças irreconciliáveis. Mas algo aconteceu no triunfo de Cristo
na cruz. Quando Cristo cumpriu sua promessa ao Pai e pagou nossa dívida,
Deus se reconciliou com a humanidade. Todas as barreiras legais que
impedem comunhão total foram quebradas. Satanás não tinha mais nenhum
decreto para a raça humana. Deus foi vindicado em sua busca por uma
humanidade redimida. Como um marido separado de sua esposa que vai
traz sua mulher não arrependida, Deus vem à sua criação com amor e boas
novas (veja 2Cor. 5:18-21). Através da pregação do Evangelho, Ele chega
dizendo: “Eu fui reconciliado com você. Agora, você não vai se reconciliar
comigo? Se um morreu por todos, então todos morreram. Tua morte, que
era justa, acabou de ser paga por outro, não tema, apenas acredite”. E fé
para crer vem de ouvir, ouvindo as boas novas do Evangelho (Rom. 10:17).
Quando Cristo é levantado diante da humanidade, Ele atrai aos pecadores
perdidos (Isa. 45:22; João 3:14-15; 12:32).

Você fala: “mas eles estão mortos”. Sim, mortos em seus delitos e
pecados. Mas isso não é um problema para Deus. Sua voz penetra a morte
(João 5:25,28). Tendo o direito legal sobre o túmulo, Ele fala e os mortos
ouvem sua voz (João 11:43-44). Quando Adão pecou e se escondeu no
jardim do Éden, Deus veio procurá-lo chamando-o a Adão. Era o Adão
caído, capaz de ouvir a voz de Deus? Sim! Adão diz: “ouvi tua voz... E
fiquei com medo... e me escondi” (Gen. 3:10).

A loucura de pregação
Nenhum homem natural busca a Deus, mas Deus busca
incessantemente homens e mulheres naturais. E, como Ele os busca? Pela
loucura da pregação!

Em 1 Coríntios 1, Paulo descreve claramente como Deus se aproxima


da humanidade para salvá-la. Aqui ele exclui tanto a ideia da “regeneração
antes da fé” quanto a ideia de “livre-arbítrio natural”. Nesta época, são os
calvinistas que sustentam o primeiro, e os teólogos liberais e arminianos o
segundo (ao final do século XVI, James Arminius se opôs às ideias dos cinco
pontos calvinistas). Na época de Paulo, foram os judeus que advogaram um
sinal milagroso antes da fé, e foram os gregos que confiaram na sabedoria
humana para apoiar sua visão da liberdade natural da vontade do homem.
Considere os versículos 21-24 intercalados com nossos comentários entre
colchetes.
“Visto como na sabedoria de Deus, o mundo não conheceu a Deus pela sua sabedoria
[Os seres humanos caídos em si mesmos não têm a capacidade de buscar, escolher ou
entender a Deus.],

“Agradou a Deus salvar os crentes pela loucura da pregação [Então, Deus vem a nós na
pregação do evangelho. Este é um meio poderoso e escolhido para alcançar os perdidos.
No evangelho a justiça de Deus é revelada e a fé é inspirada por sua pregação].

“Porque os judeus pedem sinal [Um setor da humanidade considera que Deus deve
primeiro realizar um milagre entre os perdidos, de que a pregação do Evangelho não é
suficiente para criar fé].

“Y os gregos buscam sabedoria [Outro setor da humanidade acredita que os seres


humanos têm em si a capacidade natural de descobrir a Deus e serem salvos.];

“Mas nós pregamos a Cristo crucificado [Nos anunciamos o Evangelho, que é o poder
divinamente designado por Deus para a salvação.],

“Que é escândalo para os judeus [O Ultra Calvinismo acredita que é herético ensinar que
somente ao pregar o Evangelho é dada a liberdade às pessoas, dando-lhes a capacidade
de acreditar.],

“E loucura para os gregos [Teólogos liberais e alguns arminianos consideram que pregar
o Evangelho é desnecessário para salvar as pessoas].

“Mas para os que são chamados, tanto judeus como gregos, lhes pregamos a Cristo,
poder de Deus, e sabedoria de Deus [Todos os que Deus convida são chamados pela
pregação de Cristo, este é o poderoso meio inteligente que Deus usa para salvar aqueles
a quem chama].
Quando aceitamos a maneira de Deus de atrair os perdidos para a
salvação, Jesus receberá toda a glória (1 Cor. 1:31), porque seu sacrifício no
Calvário é levantado e as pessoas são atraídas por Ele (João 12:32).

Na pregação do Evangelho, Deus chega até nós com os documentos de


nossa emancipação na mão, dizendo: “achei um resgate”. A obra de Deus
não é defeituosa, para que possamos rejeitá-la. Sua misericórdia, graça e
amor são abrumadores. Ele nos deu livremente, de si mesmo, para que
podemos desfrutar de nossa liberdade adquirida. Somos como os escravos
norte-americanos que seguiram o cativeiro depois que a liberdade foi
decretada. Se um mensageiro do Norte vier gritando “Liberdade, liberdade
para todos os servos e escravos”, devemos acreditar nas boas novas e deixar
nosso velho amo, o diabo. Negligenciar a proclamação de quem carrega os
documentos da emancipação é perder nossa oportunidade de liberdade.
Agora é o dia da salvação, não haverá oportunidade mais favorável do que
hoje. “Se ouvirdes a sua voz, não endureçais os vossos corações” (Hb. 3:15).
Se nos perdermos, será porque nós não queremos vir a Cristo para ter vida
(João 5:40).

Deus quer dar a bênção do perdão dos pecados e o dom da justiça


para todos os que acreditam em seu amor e aceitam sua salvação.
A liberdade de escolher a vida eterna não é natural e não somos
infundidos por nenhuma regeneração sobrenatural do Espírito Santo, e sim
apenas pelo chamado externo do Espírito que nos atrai na pregação do
Evangelho libertador. Jesus disse: “o Espírito do Senhor está sobre mim
porque ele me ungiu para dar as boas novas aos pobres, para proclamar
liberdade aos cativos e libertar os oprimidos” (Lc. 4:18). Vocês “conhecerão
a verdade e a verdade o libertará” (João 8:32).

Não temos vergonha do Evangelho de Cristo, “porque é o poder de


Deus para a salvação de todo aquele que crê” (Rom. 1:16). “Agradou Deus
salvar os crentes pela loucura da pregação”. Por isso vamos por todo o
mundo pregando o “Evangelho a toda criatura”. “Quem crer e ser batizado
será salvo, mas quem não crer será condenado” (Mr 16:16). “A todos
quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, aos
que creem no seu nome” (João 1:12). Uma pessoa é aceita na família de
Deus somente pela fé, “porque todo aquele que invocar o nome do Senhor
será salvo” (Rom 10:13).

2. A ordem da salvação
Muitos parecem confusos sobre a ordem da salvação, alguns sugerem
que uma pessoa deve mudar antes de poder acreditar. Outros olham ao
batismo como pré-requisito. É necessário guardar os mandamentos antes de
vir a Cristo? Vamos ver o que a Bíblia diz sobre a ordem da salvação.

Existem vários lugares onde as escrituras falam sobre como nos


aproximamos de Cristo.
Deus deu a Moisés um modelo para a construção do Tabernáculo.
Esse modelo ensina sobre a ordem da salvação. Cada item tinha uma
localização específica. Cada serviço tinha um horário fixo. O pecador tinha
que carregar um cordeiro e entrar no pátio de linho branco. Ali, ao lado do
altar, ele confessava seus pecados à vítima inocente e imaculada, logo era
tirada a vida. O sacerdote devia queimar o sacrifício e depois lavar-se na
pia antes de aspergir o sangue no santuário (ou comer uma porção da
carne). Então a culpa era removida do pecador e colocada no sacerdote ou
santuário.

Dentro do pátio estava o altar do holocausto, onde os pecados eram


confessados. Entre este e o templo estava a fonte ou a pia. Dentro do
templo estava o candelabro de ouro, a mesa de pães e o altar de incenso.
Esses 3 itens representam o Espírito, a palavra e a oração. Por trás do véu
estava a Arca da Aliança, onde o Sumo Sacerdote entrava no final do ano
religioso para purificar o santuário e levar o pecado ao deserto.

Alguns sugerem que a fonte batismal seja movida do pátio do


santuário e colocada na frente da porta da fé. Outros parecem sugerir que o
azeite da unção do Espírito de Deus seja suprimido das lâmpadas e
aspergido sobre o pecador, para que ele possa entrar na corte de linho
branco. Ainda alguns removem os dez mandamentos da arca e sugerem que
o pecador os cumpra antes de chegar ao altar do holocausto. Mas todas
essas ideias colocam obstáculos entre o pecador e a justificação. Sempre
havia cordeiros antes de entrar no santuário.

O arranjo do Tabernáculo mostra uma figura da salvação. Quando


uma pessoa confronta seu pecado, primeiro deve apropriar-se do cordeiro de
Deus e entrar pela porta da fé. Cercado pelo linho branco que representa a
justiça imputada de Cristo, ele confessa seus pecados no altar e lhe são
perdoados. A fonte, que representa o batismo, vem logo do tabernáculo. O
candelabro simbolizava a meditação cheia do Espírito; a mesa de pães, o
estudo da Bíblia; e o altar de incenso, a oração. Mesmo no final do caminho
mais sagrado no lugar santíssimo do juízo, há um lugar de misericórdia
entre o crente e a lei. Confiando na vida e na morte de Cristo no dia da
expiação, os eleitos recebem a bênção de nosso Sumo Sacerdote e estão, a
seguir, preparados para a alegre festa dos tabernáculos.

No livro de Hebreus afirma que assim como “… todo sacerdote é


constituído para apresentar ofertas e sacrifícios... Também é necessário que
Cristo tenha algo a oferecer” (Hb. 8:3). Isso destaca a importância do
santuário terrestre como um tipo de plano de salvação. A vida de Jesus é a
oferta e sua morte é o sacrifício. Essas duas coisas têm valor no santuário
celestial. O templo que Moisés construiu no deserto do Sinai aponta para
Cristo e para Este crucificado. Ali vemos que ao entrar pela porta da fé,
somos justificados e passamos a confessar nossos pecados, ser batizado e
viver uma vida de estudo da Bíblia, de oração e meditação cheia em
Espírito.
No novo testamento, a ordem da salvação também é claramente
marcada. Por falar aos crentes gentios, Paulo escreve:
“… Depois que ouvistes a palavra da verdade, o evangelho da vossa salvação, tendo nele
também crido, fostes selados com o Santo Espírito da promessa…” Efésios 1:13.

Primeiro vem “ouvir o evangelho”. Logo vem “crer em Ele”. Por


último vem “a recepção do Santo Espírito”.
A pregação do Evangelho traz fé para aqueles que ouvem. A fé vem
por ouvir uma apresentação clara da mensagem de Cristo. Depois de
depositar sua fé em Ele, eles recebem o Espírito Santo que é concedido
apenas àqueles que acreditam. A liberdade de acreditar não está presente
em nós naturalmente. É por isso que o Evangelho deve chegar até nós e, se
não crermos no Evangelho de Cristo, seu Espírito Santo não é dado a nós.
A ordem bíblica da salvação é muito clara: aqueles que ouvem o
evangelho e acreditam, recebem o Espírito Santo.

Em sua carta aos Gálatas, Paulo confirma a verdade de que a fé


pessoal vem antes de receber o Espírito Santo.
“Ó insensatos gálatas! quem vos fascinou para não obedecerdes à verdade, a vós, perante
os olhos de quem Jesus Cristo foi evidenciado, crucificado, entre vós? Só quisera saber
isto de vós: recebestes o Espírito pelas obras da lei ou pela pregação da fé?” Gálatas
3:1,2.

Paulo continua dizendo que a benção de Abraão – a justificação – foi


recebida “para que chegasse aos gentios por Jesus Cristo, e para que pela fé
nós recebamos a promessa do Espírito” (v. 14). Esta promessa é “dada aos
crentes”(v. 22). Nós, os que temos crido, todos somos “filhos de Deus pela
fé em Cristo Jesus” (v.26). E, “porque sois filhos, Deus enviou aos vossos
corações o Espírito de seu Filho, que clama: Aba, Pai” (Gálatas 4:6).

Assim, chegamos à conclusão que:

1. A fé vem ao ouvir o evangelho.

2. Toda fé vem antes de receber o Espírito Santo.

3. Pregar o evangelho é o método de Deus para atrair as pessoas.

4. O Evangelho deve ser pregado a todo o mundo.

A cidade de Samaria estava prestes a morrer de fome; estava cercada


pelos exércitos da Síria, o poderoso inimigo. Dentro da cidade sitiada, o
preço dos alimentos se disparou e as mães comeram seus próprios filhos; o
rei culpou a Deus por toda essa miséria. Do lado de fora da muralha da
cidade, 4 leprosos famintos se colocaram perto do portão e disseram uns aos
outros: “Para que estaremos nós aqui até morrermos? Vamos nós, pois,
agora, e passemos para o acampamento dos sírios; se nos deixarem viver,
viveremos, e se nos matarem, tão somente morreremos” (2 Reis 7:3,4).
Então, ao entardecer, eles entraram em uma tenda inimiga; não havia
ninguém lá. Os sírios haviam ouvido algo como o som de um grande
exército e fugiram deixando tudo.

Dentro da primeira tenda, os leprosos comiram até serem saciados,


pegaram toda a prata e ouro que podiam carregar e o esconderam. Depois
de repetir esse processo em uma segunda tenda, disseram a si mesmos: “não
fazemos bem; este dia é dia de boas novas, e nos calamos; se esperarmos até
à luz da manhã, algum mal nos sobrevirá; por isso agora vamos, e o
anunciaremos à casa do rei” (2 Reis 7:9). Eles gritaram a notícia ao
porteiro, ele a transmitiu aos guardas e logo chegou ao palácio. Depois de
verificar a verdade da história, as boas notícias vazaram do palácio e todos
saíram da cidade para aproveitar o saque (2 Reis 6-7).

Isto ilustra a proclamação do Evangelho. “Tendo recebido do Pai a


promessa do Espírito Santo”, Jesus derramou seu Espírito no Pentecostes
(Atos 2:33). “Subindo ao alto, levou cativo o cativeiro, e deu dons aos
homens” (Efe. 4:8). O profeta Daniel previu que Ele distribuiria “despojos,
saques e riqueza” a seus seguidores (Dan. 11:24). David escreveu: “Ele
espalhou, deu aos necessitados” (Sal. 112:9). E Isaías diz sobre Ele:
“Por isso lhe darei a parte de muitos, e com os poderosos repartirá ele o despojo;
porquanto derramou a sua alma na morte, e foi contado com os transgressores; mas ele
levou sobre si o pecado de muitos, e intercedeu pelos transgressores” (Isa. 53:12) .

Em Samaria, a fé vejo por ouvir a proclamação das boas novas. Os


que crerem receberam a recompensa. Do mesmo modo, o anúncio do
sacrifício de Cristo inspira a fé para apossar-se das bençãos. A porta da
salvação está aberta à perdida e faminta humanidade, e quem deseje pode
apropriar-se do pão da vida que desceu do céu (Rom. 10:17; 1 Cor. 1:18, 21;
2 Cor. 4:6).
Uma palavra final
Os pensamentos e argumentos sugeridos nesta leitura não são
apresentados com a ideia de descartar a fé Reformada, mas são
possibilidades sugeridas para sua purificação. Os que creem que a Igreja
Reformada também devia ser a Igreja que está sempre em reforma, estarão
abertos para examinar novas linhas de pensamento. Não devem rejeitar a
antiga luz que foi transmitida a nós com muito esforço e vigilância. Assim,
concluímos com o apelo de Paulo: “Examinai tudo. Retende o bem”. (1Tes.
5:21).

REFERÊNCIAS
1. https://liferesearchinternational.org/

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