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Pesquisa Qualitativa e Subjetividade Os processos de construcao da informacao Fernando Gonzélez Rey ‘Traduca: Marcel Aristides Ferrada Silva THOMSON Thomson Gerente Editorial: Aadilson Pereira Patricia La Rosa Editora de Desenvolvimento: Danielle Mendes Sales covnichr © 2005 ¢e Drona Thomson Learning Usb, uma aivsso €8 Thomson Legeing, In. Thomson Leaming?” @ una smoree registads 290) liza sob cence Impress no Bra Printed n roa 1294 07 05 05 fua Tipu, 16-2 andar Sao Paula = 5° Tel: (1) 3855-8800 Fac (11 35655901 ‘cathomeonlenning.com be ‘hor thomsonlearnng come THOMSON eo, Produtora Editorial gia Cosmo Cantarellh Produtora Grifiea: Fabiana Alencar Albuquerque Tradugao: Marcel Arstides Ferrada sine Copisesque: Feranda Isabel Bitazi ‘Todos os ietos reservados. Neohoma parte deste ro poders rer roproduzi, fejam quas forem os mes 0! 102, 104, 105¢ 107 de (Slade, de 190 eve evra de 1998. Revisio: Carla Montagner e icy Caetano de Oliveira Editoracéo EletrOnic Know-how Editorial capa: ‘Ana Lima Dada Internadonais de ‘atslogaco na Publics (CP mara Breeira do uv n Brasil ‘Gonalez Rey, Fernando Pesquise quatatve subjstividade: os process fe construcae oe intormaczotremendo Gonaaies Rey [raduxso Marge Arges Fores She) = Paula Plone ‘roman teerning, 2005, Isp 85221-0877-8 1 Fesquise qualita 2. Subjetivcade ilo is-19a9. cDD-001.4 Indices para catdlogo sistema Sperauis cualtaive 001.¢ Este livro excepcional constitu tim avango para 0 campo da psicologia, imprimindo-Ihe a paixto de um manifesto. Estimula ¢ energize 0 Ieitor propondo-Ihe «nova taref da compreensio do trabalho da mente, & medida que esta se confronta com © mundo, por meio da exploragio da subjetividade e da conseiéncia [Apsicologia proposta por Nietzsche como “a cigneia mestre™,& qual todas as outras deveriam submeter-se (lém do ben e do mal"), transtor- mou-se, sob 0 dominio do positivisma, em uma paisagem srida que tem desviado muitas mentes brithantes. Esse império do tédio também tem sido fins, como a historia, a filosotia, a sociotogia ea antropologia, e também pelo campo literirio, Ao mesmo tempo, a necessidhade de conheeer os Fendmenos psicoligicos que perpassam todos esses campos mantém-se. Como resultado desastroso, a psicanilise foi adotada como representante de toda a psicologia Curiosamente, por um séeula os sin tes — a exemple disso, pot Husserl € Lev Semenovich Vigotsky. © primeira perguntava-se ma suit obra Krisis por que 0 campo da subjetividade, que deveria ser consider do 0 objeto da psicologia, havia sido totalmente i 208. No caso de Vigotsky, a critica incisiva ao positi cem seus (iltimos trabalhos, manieve-se veulta até recentemente por scus tradutores para a lingua inglesa. No Geiddente, somente os trabalhos in ciais e mais tndicionais de Vigotsky sobre » desenvalvimento infantil mnorado pelas Ciéneias de alarme tém estado prese! nese mencionar os ditimos tribalhos de norado pelos psicilu- ismo, desenvolvict estavam disponiveis. Nesta obra apresenia-se a Epistemologia Qualitativa como primeito esforgo abrangente no estudo cientifico da subjetividade. Mas 0 que é a subjetividade? O professor Gonzilez Rey a descreve: jetasche, F. Além do hent ¢ ro mal. Tradugie de Paulo César de Sowa, Sio Paulo ‘Companhia das Letras, 1982. (N.E) ¥ Peano quoting esbjtviode A subjetividade nao substtui os outros sistemas complexos do homem (bic ‘quimico, fsiolégico, ecolbgico, eboral, sade ete.) que também encontrar, as diferentes dimensies sociais, um espago sensivel para seu desenvolvi- mento, mas transforma-se em um nove nivel na andtise desses sistemas, 0: {quais, por sua vez, se convertem em um novo sistema que historicamente ‘tem sido ignorado em nome do subjetivismo, do mentalismo ¢ do individua- lismo (p. 14), Ou seja, o principal objeto da psicologia foj eliminado quando esta 4rea ficou sab o dominagao do positivism. ‘Ums das vias pelas quais o positivismo tem construido seu império {oi pela invencao ¢ a aplicagio ilimitada do dogma da cientificidade. Aes cestudantes de psicologia foram e ainda so ensinadas as regras que eles chamaram de “ciéneia dura”, ¢ esse dogma foi passado de gerardo a gera- io. Eles foram levados a erer que estavam fazendo © mesmo que os médicos: coletar e medir evidéncias observiveis ¢ replicaveis. Seguindo essas regras, o mistério da psicologia seria, um dia, resolvido. Como esse dogma € falso, no surpreende que 0 positivismo ndo tenha conseguido ccumprir essa promessa. © positivismo evitou tratar do problema epistemoldgico que consis- teem saber qual é o modelo de ciéneia apropriado ao estudo dos fenéme- nos psicoligicos. Dada sua natureza como expresso da subjetividade humana, como se pode coastruir teorias e desenvelver métodos apropria- dos 4 compreensio dos fensmenos psicol6gices? Para entender 0 que esti em jogo, pode-se comparar a construgde imaginativa do qute se requer para estudar efentificamente a natureza dos Fendmenos psicolégicos que este livro nos apresenta com a “Yéia da coroa” do positivismo, 0 conceito de construto hipotético. Murray, ne introdugio de seu livro sobre Personalidade (Themy A. Klnckhohn, Personality in nature, Society, and culture, Nova York, Alfred A. Knopf, 1953), desereve esse construto como fico itil, Seria real- mente iti? Pade uma cigncia se construir baseada na ficedo? De forma pomposa, a produgao de construtos hipotéticos tem sido deserita como abstragdo generalizada. © que isto quer dizer? Observam-se algumas ‘ocorréncias empiricas no nivel mais superficial; e seguida, inventa-se um s: necessidades, furray ¢ C name ana cannire ales comum entre essas ocorrénci motives, atitudes etc, Assim oblém-se 0 construto hipotétice. Isso € uma ficgdo, se mantém vias instrumentals para medi-lo ¢ transforma-se essa ficglo (reificagio) em algo que se ct€ real. [sso nao & fazer cféneia, mas espalhar uma estranha reigido que se exé itil. Util de que Forma? Um his- toriador da psicologia tem argumentado que a sazio pela qual o positivis- mo é aceito universalmente na psicologia & porque permite profissionali- APT WET Tomevendo regras-simples que possam Ser assimiladas pelo aluno medio. que oferecian Esse fato permitiu criar departamentos de psicol seus alunos formas de ganhar a vida em uma variedade de dominios aplicados desta disciplina, algo que nfo se poderia sustentar se ela se eon- frontasse com a complexidade de seu priprio objet. Ao introduzir o vonceito de medica, poderia ser invocada wna rela- gio com a cigncia; assim, instrumentos de medica foram importados da dea da engenharia agrondmica. Fisher, sew inventor, promoveu grande Jobby nos departamentos de psicologia para que esses instrumentas fos sem adotados, A. Newell e A. Simon (Hemunt Problems Sofving, wood Cliffs, N.1., Prentice-Hall, 974) perguntavam-se por que, part construir a psicologia, os pesquisadores vollavam-se para os modelos d le agricultura, e nde, por exemplo, para a neurobiologia ou mesmo a meleo- ralogia. © contexio histérico evocade potle ser a tespesia. A pesquisa qualitativa emergiu como meio de romper com ponte de vista estrelto e opressivo de positivism, no entanto, rem sempre tense confimntado com a necessidade de desenvolver uina fundamentagaio epis~ ta com razio que temoligica solida. O professor Gonzilez Rey argum sxlerem & pesquisa quali- (068 problemas surgem quando os inv tativa sem consciéneia epistemologien perspectiva positivista tradicional, todavia, sera dominant qualitativa, O autor afirme: dla pesquisa A revitalizagao do epistemoldgico &, pois, uma nocessidade dante dl tent tiva de monopolizar o ciembifico a parti da relagto dos dados com a valida de c.a confiabilidade dos instrumentos que os produzem, Esse instruments tismo corrompen o objetivo da cignciae levot i reifiengio do empiric, pro ‘vocando profundas deformagBes 20 usar teora, Por esse motivo, falar de meiodoioeia qualitativa implica um debate teorico-epistemolig esi qultatie esubemaace qual é impossivel superar 0 culto instrumental derivado da hipertrofia que considera 0s instrumentos vias de produgio direta de resultados na pesqui- sa” (p. 3). Neste livro, fornece-se uma epistemologia baseada em uma profun- a preocupagao por descrever o que é necessério para construir uma cién- cia da psicologia realisticamente fundamentada, uma psicologia que possa ter sentido pare as cigncias afins e as humanidades e que interaja criativamente com elas, A esse respeito. deve-se observar que 0 autor acertadamente enfatiza o erro que implicot o fato de a psicologia se afts- tat do ponto de vista epistemolagico-filos6fico ao pensar suas proprias questaes epistemolégicas. Assim, ele se posiciona em relacio a um dos aspectos da subjetividade: a complexidade. Quanto a0 fato de a epistemo- logia qualitativa estar relacionads com a complexidade do seu objeto de estudo, 0 autor esereve: E impossivel falar de complexidade em abstrato. As caracteristicas gerais de um sistema complexo devem adquirir valor heuristco para construir 0 cconhecimento dentra do campo por nés estudado (p. 17) Ele enfatiza ainda: ‘A complexidade expressa uma tensio constante entre organizagio ¢ proc so, entre continuidade e ruptura, que rompe com: o determinismo mecanicis- ip. 18), A Epistemologia Qualitativa representa um modo totalmente novo de conceber os principios gerais de uma perspectiva metodolagica apro- priada ao estudo dos processos psicoldgicos. Ao reconhecer que a realidade “é um dominio infinite de campos inter-relacionados”, tem-se de pensar o conhecimento como imbuido de uum cariter construtivo-interpretativo, conforme o professor Gonzilez Rey afirma: 0) quando nos aproximamos desse complexo sistema por meio de nossas priticas, as quoi, nesse caso, concemem & pesquisa cientifica, formamos powsenao uemnovo camp de realidad em que as priteas So nseparines dos apc tos sensives dessa realidadeestudaa, Sto precisamente esses os aspectos suscetives de seem significados em nossa pesquisa, E impossivel pensar Ge teins um acess iimitadoe diet o sistema dora, portant tal aces so & sempre pail elimitado a pai denossas pris pita (p 5) Por orientar-se pela complexidade dos fendmenos psivoligicos, este livro oferece uma visto inspiradora a todos aqueles que se preocupam com cessas questdes, propiciando fusights sobre como comunicar 0 esforgo cria- tivo do estudo do funcionamento da psique. Novos conceitos s2o introd- zidos, ¢ cada um deles poderia constituir um novo dominio de pesquis nee de sentido ‘Temos, por exemplo, as idéias de sentido subjetiva e de ‘como espacos de inteligibitidade produzidos na pesquisa ciemtifica’ © pesquisador no deve guiar-se por respostas fics: A dnica tranqfilidade que © pesquisador pode ter nesse sentido se refere a0 fato de suas constnugdes Ihe permitirem novas constragies € nova artic agdes entre clas capazes de aumentar a sensibitidade do modo t desenvolvimento para avangar ns eriagdo de novos momentos de intligii lidade sobre o estudado, ou seja, para avangar na criayo de novas zonas de sentido (p. 7) ‘Tampouco pode depender de regras simples, que possam ser ensina- slag as ma: processos subjetivos envolvidos na criasividace do pesquisador como sujei- iio to. Ceeio que © petigo nio esti na especulaga, ms sim ma sta Sep reificagio do especulative (0p. 8) | Ome ha pensamento devem enistir especulayio, Fantasia, desgja ¢ todos os | | er selagso no momento erp Sobre 0 aspecto metodoldgico, o autor. de form muito importante enfatiza “a legitimagio do singular como instineia de produgo de conhe- cimento cientifico” (p. 10). Neste ponta, ele faz eco aos argumentos intro- dluzidos por Newell e Simon (op cit) etn favor da aproximagio ideograf ca a0 objeto de estudo, em contraste Cons aproximacde nomosstica J a 20 objeto de estudo, em conttaste ed positivismo, na qual 0 individuo aparece somente com fragmento em uma compilagao estatistica, $6 uma aproximagio ideogréliea permite 0 acesso ‘aos processos psicoldgicos, € a complexidade inerente a essa tarefa no pode ser negligenciada, ‘Ao propor a fundagdo de uma nova psicologia, este livro oferece ‘uma maneira criativa de colocar o perspectivismo de Nietzsche em acio. Estou me referinda a0 que o professor Gonzalez Rey chama de constr tivo-interpretauivo: ‘Ao afirmar que nosso conhecimento tem um caréter construtivoriterpretati- vo, estamos tentando superar a ilusio de validade ou a legtimidade de um conhecimento por sua correspondéncia linear com uma teslidade, esperanga ‘essa que sé converteu, contrariamente ao que pensam ¢ sentem seus seguido- res, em uma construc simplificada e arbitra a respeito da realidade, 20 fragmenti-la em variveis suscetiveis de procedimentos estatistices € exper ‘mentais de verficagia. mas que no possuem © menor valor heuristico para produzir “zonas de sentido” sobre problems que estudam. afastando-se, dessa forma, da arganizagio complexe da realidade estudada (p. 6, Cap. 1) ‘Outra questio que presumivelmente propiciari intensas. trocas no ‘campo da psicologia € 0 lugar que se atribui a comunivagao na Epistemologia Qualitativa 20 se considerar 2 pesquisa como proceso de comunicagio: Considerar 1 conunicagio um principio episterolégico conduz a reconsi- dear o espago social da pesquisa em sus significaydo para a qualidade da informagio produzida. O instrumentelismo in pesquisa social e sido criticado por diferentes socidlagos, psicdlogos antro- uo, que tem caracterizado a pélogos (Bourdieu, Touraine, Ferraroti, Koch, Gergen, fbaiez, Spink, Gonzilez Rey © outros), considerou que a validade, a confisbilidade © a padronizagdo dos insiramentas, em determinada populagio, era condigio nnecessiria suficiente para legitimar essa informagdo; portanto, legitima- «io prodiz-se por processos instrumentals padronizados, nos quis 0 inte- leeio do pesquisador intervém pouco. Essa Tepresentagio instrumentalista no se ocupos nem do sentido que tais instrumentes tim para 2s pessoas a quem se aplicam, nem do cenirio social em que essa aplicagio se re (Os provessos subjetivos e sociais implicados na pesquisa foram totalmente desconheeilos, 0 que caracterizow nile apenas a pesquisa cientifica, como também os diferentes espagos institucionalizados de produgio c apticagio do cconhecimenta, como saide, eseola ¢ os diferentes tipos de institugdes da via politics e social (p. 16). [Num momento seguinte, o autor mostra sett real interesse pela dialo- sicidade, interesse que nao tem sido acomipantado por uma reflextio epis- temolégica relevante na literatura sobre 0 tema, Por exemplo, ha muita anfase sobre 0 dialogismo como constitutive de uma ontologia humana. Porém, 0 intuito de investigar essa questo tem consistido em observar 0 iniercdmbio dialégica, mas niio 0 observador interagir com os dados, a partir de seu proprio ponto de vista, Tampouco 0 sujeito pode se reduzir a 1um fragmento de um intereémbio, Nesse campo, ainda aberto e em desen- volvimenta, o livro proporciona uma profinda reflextio, camo no trech A Epistemologia Qualitativa [..) € precisamente o ato de compreenclet pesquis: setorstica essa particular ds ci tum prooesso dialégico, & sociais, ja que © homem., permanentemente, se comuniea nos diversos espe {gos sociais em que vive (p. 13) ia Qualtativa reconsiddera a bandeira fatal do Tambéin a Epistemol ue tem sido chamado, provavelmente Ue fortna inapropriada, construcio= inismo social, earacterizado pela “desconsideragia do sujeito come prod tor de pensamento e sentido, deixando-o reduzido 8 convengéneia de vozes ra disew= ou “efeitos” discursivos de uma sociedad reduzida a uma meta mesma como ama siva”. Essa perspectiva que tem sido apresentada e alteativa a0 positivismo tem suprimida a mente niio so como objet de dade, Para um behaviorist, a mente era pesquisa, mas também como rea tuma caixa-preta impossivel de ser decifrada, € para um constr social ela simplesmente ndio existe. Faganha que nao foi sequer sonhada fonista pelos behavioristas ‘Outro importante conceito introduzide nesta obra é a epistemologie da resposta, 0 que & em realidade, uma reprodugao, em termos epistemotdgicos, do principio ‘estimulo-respasta dominante durante toda a primeira metade do século XX ‘na construga do pensamento psicol6gico(..) A Epistemologia Qualitaiva pprocura subverter tal principio e canverter a producto do sujsito, o comple x0 tecido informacional que este produz por diferentes eaminhos, no mate rial privilegiado para construir 0 corhecimento, rompendo assim com um. 460s principios raais arraigados do imaginario dz pesquisa ocidental: 0 fato {de compreender a pesquisa, em sua parte instrumental, como a aplicacdo de uma seqiéncia de instrumentos, cujos resultados parciais sero a fonte do resultado final (p. 14-5) Este livro nos oferece também uma nova visio do que significa ser pesquisador. Como a construgao da teoria é um processo vivo, “o pesqui= sador converte-se em urn nicleo gerador de pensamento que é parte inse- pardvel do curso da pesquisa” (p. 34). 0 autor diz ainda que: a recuperagio do tedrico nao é uma abstragio, els passa pela ecuperagio do pesquisador como sujeito. Um dos elementos que definem a condicio de sujeto &a reflesdo, isto & a capacidade de producdo intelectual permanente na curso da vida e, nesse caso, no processo de pesquisa (p. 36) Na afirmacio a seguir seremos conduzidos pelo eaminho oposto & idéta do pesquisador como algusm que aplica reuras, a despeito do sent- do dos varios contextos nos quais o fendmeno estudado este inserio. {produ orien na pesquisa fiz 0 pesquisador compromeers de fora | permanent, implicando sus reflexio constantesobe as informasées que | fees eat se pees enl Of pence set alee | somecamps cgi, pis nll ipa dp cesso de sentido subjetiva mareado por su ksi, erenas, represena- [rece rcs ee eee eee [aes p36 Ja esta outra afirmago nos conduz a uma visao de mundo completa- mente nova, ¢ 0 autor tem razdo quando diz: (0 reconhecimente de cardter ativo do pesquisador nfo € apenas um fato iso lado obtido com um pouco de boa vontade, mas umm momento essencial de uma aprosimagdo metodoldyica diferente (p. 36). Podemos tomar emprestada do autor a seguinte conclusio: Enfatizar 0 carter construtive-interpretative da pesquisa signilica que um atributo essencial desta proposta de metodo! ja qualitativa & seu caniter teérico. Tal metodologia ¢ orientada para a eonsirugio de modelos com- preensivos sobre o que se estuda (p. 8) Este livro representa uma inversio total das formas como o exerci cio da psicologia tem sido conduzido e encaminha a novas e apaixonan- tes exploragaes. Mari Professeur do Departamento de Psicologia Social da Universidade de Montreal, Canad, ¢ autora de diversos artiges em publicagies de destaque internacional como Journal of Personality and Sociat Psyehology, New kdeas in Psychologe, Revue Internationale de Psychologie Sociale também Representations of the social: bridging theoretical traditions sa Zavalloni Sexpiato1=0 Compromise Ont ma Pgue Quattia 1 huabeticomedeti og opens pon ape gute cnc ss Aproximagio Diferente . 21 O lugar da teoria na pesquisa qualitativa 2.2 O instrumentalismo domtinante nas ciéncias anteopossociais & sas conseqiigneias para a pesquisa: uma nova alternativa na compreensio dos instrumentos 2.2.1 O uso de instrumentos 2. Os iastrumentos esritos 2.3. Os instrumentos apoiados em indutores nao escritos ~ Diferentes Momentos da Proceso de Pesquisa Qualitativa & Capitulo suas Exigéncias Metodologicas 3.1 A pesquisa qualitativa como processo 2 © projeto na pesquisa quolitativa 3.21 A definisio do problema de pesquisa (Os outros momentos a serem esplicitidos no projeto de pesquise qualitaiva 3.2.3. Outros momentos importantes na organizagao da pesquisa Os processos envolvidos no desenvolvimento da pesquisa © miimero de sujeitos a serem estuclados na pesquisa qualitativa Capitulo 4 — Os Processos de Construgao da Informagan na Pesquisa Qualitativa Orientada pela Epistemologia Qualitativa 4.1 A construsio da informagio na pesquisa qualitativa x “4 50 9 p 83 87 93 95 99 os ————<$£— vs quot sted “42 Processos¢ categoriss para # produgao de informagio ns perspective da pesquisa qualitative apoiada na epistemologia qualitative 4.2.1 Adinimica conversacional - Completamento de frases « “A construcio de informagao em questionarios abertos Instrumento de conflito de dialogos: os processos de construgio da informagdo «2.200000 ns 43. Consideragoes finals : vieneeeeeseeenes 200 Bibliografia veceeeereneeeeerteresatnanss + 203 O Compromisso Ontoldgico na Pesquisa Qualitativa 5 PESQUISA QUALITATIVA NAS CIENCIAS SOCIAL ~ AGOES TEORICAS E EPISTEMOLOSICAS Definir hoje © que significa a pesquisa qualitativa ¢ ums tarela dificil. Sempte que sob esse roto sto desensolvidastendénsis mu diferen- ves tanto nas ciéncias natura de modelagio materstica come n2s recat f por esa razio que prefer situa (Gonsiez Rey 1997) 4208 tise do qualitative em uma perspectiva epistemalogies» definindo as bases epistemologicas de uma aprosimagio quaitativa no camPe dda psicologia, aproximagao esta que considero legtima pars qualquer ot das ci sniropossocais, Essa propostaepistemotogien fof por mim denominada Epistemologis Qualitativa (Gonzales Rey, 1997) 1D sentido do termo Ficow definiclo pelo slams epistemolagico ai cobrou nas cients sexiais © modelo quantitatien, empirign € descrie f qual se caraterizou por um postivismo atest, culos protagonistas ncia epistemaligica, mas impunham careciam completamente de conse! van conceito de ciéncia centrado na acumulagto de dados quantificiveis racias abse'= sisoetveis de ats de verficagio imediata por meio de snes fon estatstcas. O postivisma que rornon vide as cencias S06 f que até hoje conginua dominando o imaginaio da pest cientifica ves ea ignorou tudo 0 que significa producto teorct os modelos ir eflexdes, Nesse ponto representow a recuse! de qualquer Filosofia, mais do que uma apropriacio dele 2 reaui a bead © proprio Comte foi consciente da contradigio ao tentar produzir tum conhecisnento sem bases teoricas, apesar de no ter podido resolver esse problema em sua obra. Assim, em seu Curso de Filosofin Positive, comenta (1983): ois, se de um lado toda teoria positiva deve necessariamente fundar-se sobre observagoes, igualmente perceptivel de outro que, para entregat-se lobservacio, nosso espirito necessita de uma teoria qualquer. Se contem- plando os fenémenos nao os relacionarmos de imediato a algam pressupos- to, nao s6 nos seria impossivel combinar essas observagdes isoladas, por conseguinte firar de af algum froto, seado que seriamos completamente incapazes de reté-las; a maioria dos fatos passaram despercebidos a nossas vistas (p24) Comte era consciente da necessidade da teoria, apesar de mio ter con- seguido explicar a forma como essa importincia podia concretizar-se no conjunto de principios que defendeu em consideracio @ ciencia, E evidente que o principal problema da quantificacio no esta refe- rido na opera¢do como tal, operacio que é totalmente legitima na pro- dugio do conhecimento: o principal problema esté naquilo que quanti- ficamos, dentro de que sistema te6rico os aspectos quantificados vlo adquirir significado. Esse tem sido um aspecto totalmente ignorado por causa da utilizagdo, de forma inadequada, da quantificagéo que guia importantes setores da pesquisa nas ciencias sociais. A metodologia con- duziu a um metodologismo, no qual os instrumentos e as técnicas se emanciparam das representacdes tedricas convertendo-se em principios absolutos de legitimidade para a informagio produzida por eles, as quais do passavam pela rellexto dos pesquisadores. E nessa diregio que a medicio ¢ a quantificagdo se clevam como um fir em si mesmnas, dei- sando de lado 0s processos de construgao te6rica acerca da informacio {que aparece nos instrumentos. (© instrumentalismo tem hegemonizado 0 processo de colets de informacio nas ciéncias sociais. Os instrumentos, segundo essa tradicio, tam sido associados a categorias universais através das quais se estabele ccem relacoes diretas ¢ universais entre certos significades e formas con- cretas de expressio do sujeito. Partindo dessa forma de uso, a aplicagao de tais instrumentos nio passa de uma rotina classificatdria. O instrumento ov ogo maps wing é usado como critério de afirmagio conclusiva, com @ qual 0s processos de pesquisa, de avaliagdo e de diagndstico ndo passam de processos clas- sificatorios em que 0 pesquisador, mais que produvir, procura aplicar um conjunto de conhecimentos preestabelecides. Conforme assinala Ferrarotti (1990): E provivel que o retorno aos clissicos do mesmo pensamento cientifico fizesse maito ripido justca aquelas posigdes intelectualmente frageisapesar dos esforcos triunfalistas, que tendem a empobreces sentido esrito, 20 enfatizar suas ténicas especifieas © os procedimentos emt detrimento dos conceitas propriamente tebricos (p. 88). pesquisa cientifica no (0 desenvolvimento de uma posigio reflexiva, que nos permita fun- dameniar e interrogar os principios metodolégicos, identificando seus limites e possibilidades, coloca-nos de fato diante da necessidade de abrir tuma discussio epistemologica que nos possibilitetransitar, com conscién- cia tedrica, no interior dos limites e das conttadigdes da pesquisa cient fica. [ss0 nos leva a romper com a consciéncia tranqilla © passiva com a «qual muitos pesquisadores se orientam no campo da pesquisa apoiados ro principio de que pesquisar ¢ aplicar uma sequisncia de instrumentos cuja informagio se organiza, por sua vez, em uma série de procedimentos estatisticos sem precisar produzir wma s6 ideia [A revializagio do epistemolagico € uma nect va de monopolizat o cientifco a partir da relagio dos dados com a validade ea confiabilidade dos instrumentos que os produzem, ment srificagae do empirico, fade diante da tentati iencia ¢ levou. lismo corrompeu 0 objet 90 usae a tearia, Por esse motivo alae sa um debate tedeico-epistemoldgico, sem 6 qual é impossivel superar o culto instrumental derivado da hipertrofia que considera 0s instrumentos vias de produgde direta de resultados na pesquisa Sem uma revisio epistemoldgica, corremios esse isco, camo de fito ‘vem ocorrendo até hoje, de manter uma posigi0 instrumentalisia na pes- quisa qualitativa a0 legitimar o qualitative por meio dos instrumentos utlizados na pesquisa, endo pelos processos que caracterizam a produ do conhecimento. Nas tiltimes décadas, tém protiferado diferentes propostas cle pesqui- sa quialitativa, entre as quais se destacam a fenomenologia, a ansise do esa iscurso € 08 processos de construgao das praticas discursivas. Nossa pro- posta nfo est centrada apenas na constructo das priticas diseursivas que caracterizam as diferentes atividades humanas, assim como tampouco, ¢ também nio compartilha da énfase nos procedimentos descritive-induti- vos que caracterizam a abordagem fenomenologica. ‘Nossa proposta da Epistemologia Qualitativa foi introduzida com 0 objetivo de acompanhar as necessidades da pesquisa qualtativa no campo da psicologia, pois, de modo geral, a referéncias episterol6gicasalternati- ‘as ao positivismo se limitavam a um nivel de principios muito geras, sem se articularem essencialmente as necessidades dos diferentes momentos conetetos da pesquisa, os quais sem divida requeriam uma fundamentagdo para se legitimar diante dos ctitérios dominantes do positivism, Perante a auséncia de reflexdo epistemolégica que, durante anos, marcou o desenvolvimento das ciéncias antropossociais no aft de cientl- ficidade e de independéncia da filosofie, a busca por alternativas episte- rmoldgicas guiava-se, paradoxalmente, por posigbes jd desenvolvidas na flosofia, as quais em seus aspectos mais gerais séo importadas, por alguns pesquisadores, do campo das ciéncias partieulare. Tal fato ver ocarren- do, por exemplo, no campo da fenomenologia, onde os autores que com- partitham algns prineipios gersis dessa flosofia em um campo particu Jar do saber, se declaram fenomendlogos, importando acriticamente das iéncias particulares principios cuja significacio esta associada a diseus- sées filosolicas que no caracterizam necessariamente o espajo da ciéncia particular a qual sio impostos de forma totalmente pré-elaborada, esses principios epistemolsgicas gerais. Penso que a relacio entre a filosofia as ciencias particulares deve apoiar-se na criagdo e nfo na importasio. Os cientstas sociais encontram na filosofia um pensamento vivo e um conjunto de representagbes te6ri- cas que se convertem em pontos de partida essenciais para 2 construio dlos problemas associados a cada ciéncia. £ 0 que assinala Vigotsky, com quem concordo plenamente (1982): A aplicagao direta da teoria do materialism dialético aos problemas da ciéncia natural e, em patticuar, 20 grape das cigncias bioligicas ov a psico- logis é impossivel, como € impossivel spici-lo diretamente & historia ¢ 9 sociologia. Entre nds, hi quem pense que o problema da “psicologia e 0 tmarxismo” se redua eriar uma psicologis que responda a0 marxismes mas, ha sealidade, ese problema & muito mais complexo (p. 491) = Partindo da Epistemologia Qualitativa, tento desenvolver uma reflexio aberta e sem dncaras aprioristicas em relagao &s exigéncias ¢ as necessida- des de produzie conhecimento em uma perspectiva qualitativa;tento bus- car uma posigio quanto as novas perguntas e respostas criadas ao imple- _mentar um processo diferente de construgio do conhecimento, evitando assim transitar por novas op¢des utilizando principios jé estabelecidos por representacSes epistemoligicas anteriores que no respondem aos novos desafios, Essa tentativa tem também em sua base o apelo de Bachelard pelo desenvolvimento de epistemologias particulares nos diferentes campos do conhecimento, ato que considero a tinica forma real de enfrentar os desa fios epistemolégicos que vio aparecendo nos campos metodologicos par ticulares de cada cigncia, ‘A Epistemologia Qualitativa enfatiza principios gerais da produgio do conhecimento que sustentam nossa proposta metoologica concreta Apesar do livro dedicado ao tema (1997) e das minhas publi riores em relacio ao tema (1999, 2000, 2001, 2002), considero importan- te aprofiundar os significados de alguns desses principios, por causa da Jificuldade que, na peética, tem os pesquisadores para implements principalmente por causa do imaginario dominante no campo da pesqui- sa das cigncias antropossociais 4 Epistemologie Qualitativa defende o caniter construtive interpretat \gbes poste- vo do conhecimenta, 0 que de fato implica compreeniler 6 conheciment camo produc @ ndo como apropriagto linear de uma realidade que se nos apresenta. A realidade é um domini nados independente de uussas pxdticas, no entanto, quando BOs APR to de. npos inter-relacin mamos desse complexo sistema por meio de nossas priticas, as quai ntifica, formamos um novo campo sio insepariveis dos aspectos sensiveis neste caso, concernem & pesquisa de realidade em que as pritic dessa realacle, Sd0 precisamente esses os aspectos suscetiveis de serem significados em nossa pesquisa, E impossivel pensar que temos um acesso ilimitado dieto ao sistema do real, portanto, tal acesso ¢ sempre parcial ¢ limitado a partir de nossis proprias praticas. © pensamento ocidental tem se inclinado a dicotomias, a partir das ‘quais temos concebido o mundo como externo ¢ independente em rela- <0 a nds, como se nio fessemos parte dele e como se nio estivéssemos implicados, de mancira orgénica, em seu proprio funcionamento, Essa i quota esse dimensio do real, que se produz a partir da nossa acto nos diferentes dominios do mundo, é a que ganha visibilidade em nossas praticas cien- tificas 0 que nao significa nem quea realidade seja desconhecida, nem que possamos nos descentrar de nossa subjetividade e de seus efeitos sobre rossas intervenes na realidad; essas sio as duas aspiragdes universais ‘que, por um lado, tém sustentado o relativismo radical ¢, por outro, © positivismo. Segundo Atlan (1993): Ha ama grande diferenca entre afirmar que existe uma realidade e conesé-a {..) Nao nego que existe uma realidade, apenas nego o fato de que uma teo- ria ou tredigio, permitinds uma concepgéo exclusiva de reslidade, defina smo se no pudesse ir mais longe. Na cesta com o qualificativo de “ultims minha opiniao é sempre possivel se aprofundar nas coisas. E por isso mesmo rio se pode falar de “realidad whima’, A realidade &algo a interpretar, ela & Feite daquilo que se pode chamor “interpretando”(p. 66). —— Quando afirmamos o carster construtivo-interpretative do conheci- mento, desejamos enfatizar que 0 conhecimento é uma construgdo, uma producdo humana, e nfo algo que esta pronto para conhecer uma reali- dade ordenada de acordo com categorias universais do conhecimento, Disso surgi 0 conceite de "zona de sentido” (1997), definido por nés como aqueles espagos de inteligibilidade que se produzem na pesquisa cientifica e nao esgotam a questio que significam, sento que pelo contra rio, abrem a possbilidade de seguir sprofundando um campo de consteu~ ¢f0 tedrica, Tal conceito tem, entdo, uma profunda significagto epistemo- lagica que confere valor a0 conhecimento, ndo por sua correspondencia lineare imediata com 0 “teal”, mas por sua capacidade de gerac campos de inteligibilidade que possibilitem tanto o surgimento de novas zonas de agto sobre a realidade, como de novos caminhos de trinsito dentro dels através de trossas representacbes teoricas. O conhecimento legitima-se na sua continuidade ¢ na sua capacidade de gerar novas zonas de inteligibi- lidade acerca do que ¢ estudado e de articular e ‘ada vez mais iteis para a produeia de novos conhecimentos. Ao afirmar que nosso conhecimento tem um caréter construtivo- interpretativo, estamos tentando superar a ilusio de validade ou a legiti- midade de um conhecimento por sua correspondéncia linear com uma realidade, esperanga essa que se converte, contrariamente ao que pensam sas zonas em modelos earprorso onousco ra sesquia usta, 7 ‘¢sontem scus seguidores, em ma construgio simplificada e arbitraria a respeito da realidade, ao fragmenti-Ia em varidveis suscetiveis de proc mento estatsie65&exPRTMintas dE VAREAEAG, is que no possuem ‘menor valor heuristico para produzir “zonas de sentido” sobre o proble- ‘pa que esudam, sfstand realididestd ‘O coniecimento € um proceso de construgio que encontra sa eg timidade ma capacidade de produzir, petmanentements,novas constr ‘cdes no curso da confrontaggo do pensamento do pesquisador com a tnultilcidade de eventos empirics coexstentes no process investiga vo. Portanto, nao exist: nada que poss grant de forma imediata no 10 a8 mais adequadas dessa forms, da or processo de pesquisa, se nossas constrgoes atu para dar conta do problema que estamos estudando. A tinea trangiilida- de que 0 pesquisador pode ter nesse sentido se refere a0 fato de suas cons- truches Ihe permitirem novas construgGes ¢ novas articulagbes entre elas capazes de aumentar a sensibilidade do modelo tedrico em desenvovi- mento para avancar na criaggo de novos momentos de inteligibilidade sobre o estudado, ou seja, para avangar na criagdo de novas zonas de sen- ‘ido. A significagio de cada registro empirico durante 0 desenvolvimento de um sistema te6rico é, necessariamente, um ato de producio teériea, pois ¢ inseparavel do sistema tedrico, 0 qual, em set conjuato, esti por tris desse ato de inteligibilidade Afirmar o carter consteutivo-interpretativo do conhesimento impli ca também estabelecer uma diferenga entre os termos interpretaga0 © gio. No entanto, a0 estabelecermos essa distingdo entre ambos os termos, a cons: trugio pode ndo estar associada, de modo imediato intencional, a ne- Constagie por tris d ql hi mips refeeciis mprios na hist sia do pesquisador, mas que nto se afunilam na representagio intencional somignie a construgio teorica de quem a defende. construsio € um piv Pensa ques construyio nos permite super dos mores ana “Petia qui esate cespeculagao. Onde ha pensamento devem existir especulagao, fantasia, dlesejo ¢ todos o processos subjetivos envolvidos na criatividade do pes- quisador camo sujeito. Creio que o perigo nio esté na especulacdo, mas sim na sua separagdo em relacio 20 momento empirico, na reificacio do speculative que termina sendo uma forma de rotulagio acritica como 2 aque caracteriza 0s artefatos instrumentals, os quais se tornam a-histricase Sentir medo da especulagao € um fato institucionalizado e publico de tum medo oculto na instituigao cientifica e académica: 0 medo das idéias. Acespeculagio é uma operagao do pensamento que nos permite novos acessos ao aspecto empirico da realidade estudada. A especulacao ¢ parte insepardvel da construgao teérica,¢ partir dele retornarmos ao momen- to empirico e passamos a desenvolver sensibilidade para novos elementos rnesse nivel, 0s quais somente poderdo adquirir inteligibilidade gragas a uma representagdo tedrica que nos permita visibiliza-los, Assim, a partir do desenvolvimento da propria categoria do sujito, sobre a qual comen- tamos anteriormente como exemplo de construslo, se abriram novos ‘campos empiricos de pesquisa, como o do sujeito que aprende (Gonzalez Rey, 2003). Historicamente, a aprendizagem se conceituava era categorias do inte- ecto, a cognigio ou bem era visto sob uma perspectiva mais pedagégica, nos métodas e meivs usados no ensino. Contudo, o aluno como sujeito que aprende e a aula como espaco de telacionamento eram emitides nas pesquisas sobre o tema, simplesmente porque nao hevia representacSs tedricas que apoiassem sua incluso na pesquise, Quando se inclui ne repertorio da pesquisa empivica 0 sujeito que aprende, comeca-se a gerar inteligibilidade sobre novos processos que intervérm na aprendizager, como o da produgio de sentidos por parte do sujeite. Enfatizar 0 carter construtivo-interpretativo da pesquisa significa {que um atributo essencial dessa proposta de metodologia qualitativa € seu cariterte6rico. Tal metodologia é orientada para a construcio de modelos compreensivos sobre o que se esta, Mais adianteiremos nos estender na significagio do modelo teSrico para a construgio do conhecimento dentro desta proposta metodoldgica. A afirmagdo do caréter tebrico desta propos- ta nio exclui o empirico, nem 0 considera em um lugar secundério, mas sim o compreende como um momento inseparivel do processo de produ- ao teorica (Gonzilez Rey, 1991). Assim, pretendemos romper definitiva- ‘mente a dicotomia entre o empirico ¢ o tebrieo, na gual © empirice se sta como ainbato de una realidade externa e o teorico € considerado uma pee nomear © emp lidade & um sisterma externo, Se rompermos com conforme firmamos anteriormente,¢ consideratmos nossas priticas como algo constitutive, mas também constitinte dos campos por nds estuda- dos, nica maneira de construir um espaco da realidade como conheci: mento & valer-se de nossas prticas cientficas, as quai sd0 fundadoras de novos campos ds realidade; nesses campos, a infinita complexidade da realidade € suscetivel, por meio de tai praticascientificas, de muliplicar: se em varias formas de inteligibilidade as quais, embora nos permitam visualizar a realidade, 0 fazem de modo limitado por causa dos préprios meios que usamos. Dessa forma rompe-se a expectativa racionlista de que @ mundo pode ser conhecido de forma completa ¢ progressiva pela razio ade é 0 contritio, a forma que tenias para produ Rumana A racion zir inteligibilidade em sistemas, os quais, pa sua complexidade, escapam 60s meios utilizados por nds para conhecé-los. A proliferacao progressiva da pesquisa qualitativa nas tiltimas quatro décadas, nos diferentes campos das ci dda a necessidade de emaneipacio do modelo positivista dominante dian- icias sociis, respondeu sem duvi- te das necessidades da pratica investigativa, por win lado, ¢, por outro, diante dos questionamentos ¢ das novas representay 's aportadas pelos diferentes campos da filosotia, Isso tem levado os autores de distintes campos das cigncias antropossociais a se afiliarem ao qualitativo, sem que essa alliaglo representasse necessariamente um tte de consciencia episte- moldgica, o que, em parte, explica a conservagio de uma epistemologia icional por tras de muritas pesquisas assumidas desde wma positivist tr: intencionalidade qualitativa No campo da psicologia, que é meu campo de atuagao, tenho obser vado uma tendéncia dos pesquisadores a buscar uma nova forma que legitime a coleta empitica de dados, sem se aprotundar na articulagao de { todos os novos processos que deve legitimiar wma proposta de pesquisa clade dos resultados, epistemoldgica, Desse mado, questdes como a gener “ie ‘ 0 esque quate biede ‘o ntimero de sujeito a ser estudado c a validade do conhecimento passam porque ¢precsamente a expressdo de uma necessidade milo mais pati Calarizads no campo das ciéncias antropossociais:legitimagto do sng lar como instincia de produgao do conhecimento cientifico. ‘Ainda que a grande maioria dos pesquisadores qualitativos considere o studo de casos um procedimento legitimo dese tip de pesquss legit midade do singular como via de produgao de conhecimento nao tem sido foco de atenco da maioria dos pesquisadores, precisamente devido a0 cariter epistemolégico dessa questdo. De fato, o alcance dado a esse princi- pio esta em estreita relaclo com a representagio do conhecimento como tim process consratvointerpretaiv ¢&justamente a artculagdo entre tais principios que permite fundamentar a Epistemologia Qualitative para ‘0 desenvolvimento de uma forma particular de metodologia qualitativa. ‘A legitimacao do singular na produgao do conhecimento passa pelo valor que aribuimos ao aspectoterico na psquiss, 0 gual sea aver 0 ponto mais dificil de ser assumido pelos pesquisadores, devido a identifi cagdo histérica entre o empirico € o cientifico instaurada como conse quéncia do positivismo e do modo como a ciéncia se institucionalizou. A propria fenomenologia, que sem vida est ete as aproximacdes filo- s6ficas facilitadoras desse nove caminho epistemolégico, conduziu, segundo assinala acertadamente Ferrarotti (1990) por um lado, a necessidade ainda idealista de uma racionalidede infinita, {que dessfieo plano meramente mecanicista e quantitative ¢, por outro lado, a ambigio plenamente positivista ou, se se quer, neopostivista de investiga ‘io rigorosamente delimitada e guiada por hipdteses suscetiveis de verifca {o,inda que com a conscigncia de que no ha verficagdo definitiva, se nao {gue eada ume remete forgosamente a outras infinitas verificasbes (p. 87), 0 ideal verificacionista sempre implica considerar 0 momento empi- rico como 0 momento final da pesquisa, 20 menos de uma pesquisa par- ticular, embora se saiba, conforme se expressou anteriormente, que uma ‘erificagio nos remete a outras verificagdes, Nesse ideal segue muito pre- sente que 0 critério legitimador da pesquisa esti no resultado em nivel cempirico, representacio esta que dificulta legitimar o singular nd em nivel de procedimento, senao em nivel da legitimidade do conhecimento, | mentos e no nos resultados da pesquisa. O reconhecimento do singular cergromi ong ra pes uation 18 ‘A legitimagao do singular como fonte do conhecimento implica, segundo ja assinalamos, considerar a pesquisa como producio tesrica, entendendo por tedrico a construcdo permanente de modelos de inteligi- bilidade que Ihe déem consistencia a um campo ou um problema na cons- trucio do conhecimento, ou seja, 0 tedrica nfo se reduz a teorias que constituem fontes de saber preexistentes em relagie ao processo de pes- usa mit Goacerne, mulid parlicuarmente aos processos de consteugio initelestial que acompanham & pesquisa. O te6rico expressa-sé ém um caminho que tem, em seu centro, @ atividade pensante € construtiva do pesquisador Nem toda pesquisa orientada qualitativamente deve ter, por obriga~ 40, um fim tedrico, mas podé ter abjetivos praticns que nao a eximem da producao de idéias ¢ do desenvolvimento de modelos de inteligibilidade em relacio 8 questio pesquisad. A producao tebriea apresenta diferentes piveis, maso que a caracteriza € uma produsio intelectual sistemtica que permite organizar, de diferentes formas, 0 material empirico ¢ que integra as ideias dos pesquisadores como parte essencial do conhecimento em labora valor do singular esta estreitamente relicionado a uma nova com preensao acerca do tebrico, no sentido de que a legit na do modelo teorico que » «a0 proveniente do caso singular se di através pesquisador vai desenvolvendo no curso da pesquisa, A inf idgias que aparecem através do caso singular fomam legitimi que representam para o modelo em construgao, o que seni responsivel 6 griteriv de legitimidade ide pelo pelo conhecimento construido na pesquisa. for empirico ou acumulativn, 0 caso singular, nfo tem gitimidade como "Nas cigncias antropossociais, de um modo geral, € na psicalogia, de forma muito particular, criou-se a expectativa de que a pesquisa eve pro duzir um sistema de informagao cuja procedéncia seja instrumental e cuft legitimidade seja reconhecida por processos de significagao estatistica ou pela observasao e pela verificagio perante aquilo. que se repete em situa- ies similares dentro de uma Logica indutiva, Portanto, a legitimidade do produzido ¢ obtida por operagSes externas ao pesquisador, nas quats as idéias do pesquisador intervém apenas no desenvolvimento dos procedi 12 _Piquls quit esabtridade tem em sua base, no entanto, um fundamento radicalmente diferente: a informacio tnica que o caso singular nos reporta no tem outra via de legitimidade que néo seja sua pertinéncia ¢ seu aporte ao sistema tedrico que esti sendo produzido na pesquisa. A pesquisa representa um processo permanente de implicagio inte- lectual por parte do pesquisador, processo que toma novos rumos em seu proprio curso, dentro do marco de referéncia do modelo conceitual em desenvolvimento que a caracteriza, Isso ocorte nas ciéncias antroposso~ ciais, nas quais o singular alcanga uma dimensso qualitativa no vista em nenhum outro sistema da realidade. A sociedade enquanto sistema ‘extremamente complexa, ¢ qualquer processo ou evento que nela aconte- «x € suscetivel de um complexo sistema de desdobramentos gerador de infinitos sistemas de conseqiéncias que esto mais além das representa- goes conscéentes dos sujeitos envolvides em tais eventos, mas que 6 podem ser estudados em sua real complexidade por meio de elementos diferenciados de informacao dos sujeitos; esses elementos permitem arti cular, em um modelo, a significacao do social na vida humana, Um exemplo muito interessante, jé devidamente comentado em nosso livre anterior sobre a pesquisa quslitativa em psicologia (2002), diz respeito a forma com que Freud desenvolvew a construcio da psicandlise pela sequncia de seus casos individuais na psicoterapia, Apesar das dift- culdades enfrentadas por Freud devido as suas praprias limitacbes episte- roldgicas -limitacoes que nem sempre lhe permitiram ver os limites de suas interpretagées, nem a tensto permanente que devia existirentze suas calegorias e# representagdo de seu objeto em construgio ~ 0 certo € que le foi capac de mudar paulatinamente sua teoria, assim como os proprios principios sobre os limites das construgdes do terapeuta no processa de analise, fto expresso de forma magistral em seu trabalho Construgdes ent anclise (1937). [A reivindicagio epistemolégica da significagio do singular na cons- trugio do conhecimento representa, na realidade, uma apcio epistemol6- gica diferente que permite compreender a pesquiss qualitativa como wm processo de construgio altamente dinémico, no qual as hipéteses do pes- [F quisadorestio associadas « um modelo terico que mantém uma cons- J [am ete com o momenta empl «cx legitimidade esté na capa ') cidade do modelo para ampliar tanto suas alternativas de inteligibilidade © carpemnnonesio rages si 13 sobre 0 estudado como seu permanente aprofundamento em compreen- der a realidade estudada como sistema, Os objetivos,aleance e complexi- dade desse modelo podem apresentar distintos niveis, existindo tanto modelos relacionados mais diretamente a0 empirico, caracteristicos de processos priticos de intervencio com objetivas particulares, como madelos de pesquisas cientificas mais concretas, até modelos altamente complexos em set nivel de abstraglo, caracteristicos da produgio cient fica orientada a0 desenvolvimento teérico. Como afirmamos anteriormente, a singularidade possu ne caso das cigncias antropossociais, um valor relevante, todavia, wma das caracteris- ticas da subjetividade humana, configurada na cultura ¢ det constituin- te,€a diferenciacio marcada dos individuos ¢ dos distintos espagos de vida mente social. A significagio epistemol6gica da singularidade esti este relacionata ao valor tebrico da subjetividade no estudo do homem, 2 eul- tura ea sociedade, dimensbes que se constitiem, de forma permanente entre si, na condigdo subjetiva que define a ontologia desses irés sistemas complexos da realidad. O terceirw atributo goral da Epistemologis Qualitativa, o qual esta Intrinsecamente associndo ao quie hi pouco nos reerimios, € precisamente o.ato de compreender a pesquisa, nas cigncias antropossociais, como wn pro- cess0 de comuntcagto, aon processo dialdgico, caracterstica ess particular das cigncias antropossociai, j6 que © homem, permanentemente, se comunica nes diversos espagos socias em que vive. A comunicagio tam- bem tem sido muito considerada pelo consteucionismo social como via de constructe do conhecimento, porém ha uma diferen tas a usam @ a forma que 44 mania com que os autores construcion toma esse principio para a Epistemolngia Qualitativa. A éntase na com nicagio como principio epistemoldgico esti centrada no fate de que uma grande parte dos problemas sociaise humans se expressa, de modo geral, nna comunicacio das pessoas seja direta seja indiretamente Nosso objetivo, diferentemente do construcionisuro social, na € ape+ nas conhecer a organizagio e a significagio de uma produgdo diseursiva A comunicagdo é uma via privilegiada para conhecer as configuragbes € 0 processos de sentido subjetivo que caracterizam os sujeitos indi ce que permitem conhecer 0 modo como as diversas condigbes objet vvida social afetam o homem. Por intermédio da comunicagio, nao conbe- cemos apenas os diferentes processos simbélicos organizados ¢ recriados esse processo, estamos tentando conhecer outro nivel diferenciado da produgao social, acessivel ao conhecimento somente por meio do estudo diferenciado dos sujeitos que compartilham um evento ou uma condigao social. Conhecer um evento ou uma condigZo social, em sus significagio subjetiva, poderé ser efetivo apenas por meio do sistema disperso de suas conseqiténcias sobre a constituigao subjetiva para aqueles que a compar- tilham. Tal sistema de conseqbéncias apareceré gradualmente por vias diretas e indiretas, nas diferentes formas de express simbélica do sujei- to, entre as quais a comunicacio tem um lugar essencial ‘A comunicagao €0 espago privilegiado em que o sujeito se inspira em suas diferentes formas de expresso simbélica, todas as quais serdo vias para estudar sua subjetividade ea forma como o universo de suas condi- bes sociais objetivas aparece constituldo nesse nivel, A subjetividade nto substitui os outros sistemas complexos do homem (bioquimico, ecol6gi- co, laboral, side ete.) que também encontram, nas diferentes dimensoes sociais, um espago sensivel para seu desenvolvimento, mas transforma-se em um novo nivel na andlise desses sistemas, 08 quais, por sua vez, se con- vertem em um novo sistema que, historicamente, tem sido ignorado em nome do subjetivismo, do menialisno ¢ do individualismo. == A comunicasao serda via em que os paricipantes de uma pesquisa se | converterio em sujeitos, implicando-se no problema pesquisado a partir | de seus interesses, desejos e contradigdes. Na pesquisa positivista, o prin- | cipio da neutralidade levava a considerar 0 outro um objeto das aplica- gies de instrumentos do pesquisador, com o qual a comunicacio era vista essencialmente como efeito perturbador que conspirava contra a objetiv dade dos resultados, (O lugar que atribuimos a comunivagdo como espace primordiel pera a manifestagao do sujcito critico ¢ critivo na pesquisa tem, de fato, um papel essencial para superar 0 que denominamos, em trabalhos anterio- res (Gonzales Rey 1999, 2000), Epistemologia da Resposta, a qual & em realidade, uma reproducto, em termos epistemol6gicos, do principio esti- mulo-resposta dominante durante toda a primeira metade do século XX ra construgio do pensamento psicologico. A metodologia, em sua con- cepgio instrumental, apresentou-se como seqdéncia de estimulos, seja comraniin onan na yea main 15, pranchas, perguntas, sensagdes seja outros que, organizados em determi- hnados procedimentos, procuravam a resposta do sujeito como unidade de informagio essencial para a construgio do conhecimento. A Epistemologia ‘Qualitativa procura subverter tal principio e converter a produgaio do sujei- to, 0 complexo tecido informacional que este produc. por diferentes cami- rnhos, no material privilegiado para construir 0 conhecimento, rompendo assim com um dos principios mais atraigados do imaginario da pesquisa ocidental: 0 fato de compreender a pesquisa, em sua parte instramental, ‘como a aplicaggo de uma seqiléncia de instrumentos, cujos resultados parciais sero a fonte do resultado final. Acomunic influenciars, de forma importante, a propr de pesquisa, conforme veremos mais adiante, ¢, ae mesmo tempo, se con- verterd em aim espaco legitimo e permanente de produgio de informagio na pesquisa, pois os desdobramentos do proceso dle comunicagao com os 10 que Ihe atribuimos, 120, segundo o states epistemol definig3o dos instrumentos sujeltos participantes da pesquisa representam 0 caminho essencial de seguimento dos diferentes casos singulares em sew aporte diferenciado ao conhecimento. A pesquisa representa, nas ciéncias antropossuciais, um espago per ranente de comunieago que teri um valor esencial para os processos de produgio de sentido dos sujeitos pesquisados nos diferentes momentos de sua patticipagio nesse processo, A pessoa que participa da pesquisa njo se expressari por causa da pressio de um cia instrumental externa a ela, mas por causa dle uma necessidade pessoal que se desenvol verd, crescentemente, no proprio espago de pesyuisa, por meio dos dife remies sistemas de relagio constituidas nesse processo, |A pessoa consegue 0 nivel necessirio de implicagies para expres fem toda sus riqueza © complexidade se inserida em espagos capazes implici-las através da produgio de sentidas subjetivos, Tals espagos se constituem no interior de seus sistemas mais significativas de comunica 80, por isso a pesquisa qualitativa ovientada a estudar a producto de sen tido subjetivo do sujeito, bem como sta forma de articulagao com os dife- rentes processas e experiéncias de sua vida social, deve aspirar a fazer do espaga de pesquisa um espaco de sentido que implique a pessoa estudada. ‘A informagio obtida na E panhado a logica instrumentalists nas ciéncias sociais, € wma informagie 1 esocialmente istemolagia da Resposta, que tem acome aque responde as representachese as interpretagbes Facies vig somadse so opuesaptsuoasop “1219 sewiayqoud 9 seti9ar sens ap orsuny wa epsua!> epe> ep so1s2yRH ou eper Loguye 10s anap opssnazadas esso anb 29squo>e sb1oUDI se Sepoy LHD WHEyN -aadot ‘optanp tos ‘oosogoursisla sayeae> ap sooxaqias eued wanginuor anb 2 seotio2y sagSnaisue> seaou © waznpuo> anb soustiguay so 2 seiz “om sv anb 01213 "steHossodonue se}uaE seu esinbsed ap 9 ovSezts02) 99 ofals9 0 apedaze wr anb soesrruasoados ap sodn sor ea) esnewroye ewn ou apepyiqists zexwosus apod aub 1 ndas niin og 9 ‘bus Is UD Hu LUN sO} L459 95 OLD 2p rejussaudas 9 opnyso ua od on og -epesadiuo> e setouiojes ‘osupnboyj wio> “sourenuoaus srvatupey “epepars2 sou sod odiue> op onuap ortiaw}2a4yues 0 anasto» eaPd oar suunauy 40,24 auinbpe wiasap exajdlutos eursiss tn ap siesa8 seaasiay>ese> sy-oreaisge tus apeprrojduros ap avpey pussoduuy q souapuaierd anb soar, -aqu so vied orbiayudis ens ap 9 soundado sou anb ap apeprpar ap eater sis op raiave PoqBojortlo ophuyop vUsH 424 ‘SoUAW oF ‘282 stepossodorue seuata sy sesupy> seaimo tuo seprSans seaoyeyouu seayde ap eanetat Y ‘onteiott op tuaje sib exes anb Somes sop sounynstI? toe) ap o1pi9 lod dyyuey ew>y 1 op ouiginbs ap ovSou eum sp opucund seyjeqest weispuareid YOUsp Ss ahb eoqugists HERTSTOTTR Sp Saewepioge se $294) sup eSuepaty ep aried v rer ey eduepran 2p ojapoUs © o49prs409 YOURE apsop ‘sopeutojur ogs setuayss so yenb ead ‘eongtiag! eioypyau eu opumnfiss eirotuuid wapio ap eanatiagy e oxto> opjraqeio> 2 2ab ox "> 1nuotsts eldzaayoatsd ap sojapouu sop oxtauifafoatasap 0 ‘opdtuas9 40g sinbsad vu septeupoad seo -eussoyuy stiunsip Se tuayautas as aub oe opeunuusarapard saqes tn we SO] -putaauios v sordiaured sunde aqusuna> anunsse e opens] wey ‘opeprase ov oyu} v>_S9joquo avsysnd pun seusor cet ov ‘onb epour wre sezeyeiat ap osn ov ogSejar tuo9 eynariied opour ap ‘osst opiqaouad oyuay “SOU! usa se anb tu SoiXalU09 sosotr sou “es}Rojopoiatr Wau v>qs09 Wat ‘>P -upray.oadso ens uwanosoo opu anb a owawy}s2yuo> op sodwes sone tue opeaus8a] wip) as anb spoon ap onap oujeqest ap aduses ossou 2p seaypadso sagysanb stuyap saianb ov ‘sewifipered soxow sop 210u twa seoqioay seisyfezed sao! ¥ opesa] War sou ore} 9p an 0 So2ysoxeyaUU ‘osn nas 2p 9 soduiea sonno «wa soprenposd soutiar ap opSejodenisa 9p eonpad eur osnge un Py ‘ses seppuaDD sep odure> ou ‘ovturdo equ EN eiBojoporeur eum sqwar otto> seuade ogy 2 ‘v2jSejousyside eaneuisye ouror oanenfenb ‘0 repusarduo> ind [erouass9 soumesopisuos onb 2 ‘exrreyenb esinbsad e opseurnrosde essou ewyue anb ‘eoxZojoursysido exsodord eu ‘uesuayx> ens vpot tra ‘Sopez9pIsuod opis ti9y SopeUo}ruEMU eUHIDe soIaBdse SQ “[ePOS 9 eonrjod epia ep sso5mnsut ap sedi saqusz9yip $0 2 vjorso ‘owauupsaytion op orsearide ap > onsapasd ap sopezsjeuorsnynsur sod cvdsa s}ua12}fp so tupquie oULO9 ‘eayTUa}> esinbsod v aIeetUOS oFL oz -uiaiseze> anb 0 ‘soppayuossap atuatuer01 tuedo) esinbsad eu sope2yduut stein0s 2 soanialqns sossaaoud $0 “Pzyjwar as oxSeayide essa anb uta [21205 ‘spars ou0> opus op wieu ‘weryde 2s urenb & seossad se eed ula) sowuownsisut syea an opnuss op wiott nodnao as opu rysypiuouinsisuy ovSewuasoados seq oonod wupuastun sopesinbsod op o122}210! 0 sjenb sou sopezquesped sreuoumnnsuy sossaooad sod as-znpord orseurniay ¢ ‘owed ‘open ~toj0 8S Teun] ied ayuasyns oBipuoa ua SERA” vpRULLAAD un is Sowamuniisur Top opSeallcapRl eS SpepIETIOS & pepyyea 2 anB TaRpHiO9 “(sonno 2 fay 2a[e2t05 “yung ‘zane “UaBIDD “YyDOY “moseiiag ‘ouyemo}, shetpanog) soZojodoniur 2 soBojonysd “Sof oqo1908 sousreyp 10d opesttia ops war anb 2 [e108 esimbsad e opezuotrese> tus) onb sone Sup oueyorusuinnst! © “npyrapoid opSeULZOWU! 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Em tal definigdo, Vigotsky refere-se a uma categoria que constitui no | apenas tum elemento, mas também um sistema dinamico de imtegracio entre diferentes aspectos da psique, integracio que se fixa na consciéncia | como resultado da palavra, mas que, pouco tempo depois, dela se separa. | Ho autor expressa, nessa definigdo, a mobilidade do sentido, o qual é um atributo que ficou historicamente fora das taxonomias estaticas e elemen- tares que tém dominado as representagdes conceituais da psicologia desde sua definigaa comportamental e que tém sido uma das razdes da exclusio da psicologia na interdisciplinaridade das ciéncias antropossociais, cujos autores assumem 2 psicanilise como referéncia da subjetividade. Em 1982, Bratus € eu expressamos em trabalho conjunto: A formagio do sentido (categoria criada por Bratus, que foi discipulo de Lontiev) é um sistem dindmico integral que reflee a interagio de um con junto de motivos dentra de um sistema motivador, em que se expressa deter ‘mint felagdo com o mundo que tera um sentido pessoal para o suit. Essa definic3o, ademais de tirar 9 conceito de sentido dos marcos de uma ativida de isolada, acentua 0 cardter sistemiticn dessa formasio psicolbgica(p. 31). Essa categoria continua sendo desenvolvida, posteriormente, por A.A. Leontiev, que retoma, em todas suas consegiténcias, 0 legado que Vigotsky havia deisado para o desenvolvimento do tema &, finalmente, eu asso a definir o sentido pela sua relag I com a subjetividade. {hos define o sentido como sentido subjetivo como (2003): separa a unidade insepardvel dos processos simbélicos ¢ ‘mesmo sistema, na qual a préenga de ti desses elementos evoca 0 outro, sem que seja absorvido pelo © out (pT27). — emogdes em um Na definigdo de sentido subjetivo pretendo especificar a natureza do sentido, qual se separa da palavra e se delimita em espacos simbolicamente compromise enligicona gesausa slain 22 produzidos pela cultura, que sio as relerénciss permanentes do processo de “subjetivagao da experiéncia humana, No entanto, os processos simbélicos as emogbes produidos nesses espagos sfo impossiveis de serem compreee~ didos por processes padronizados ¢ externos ao sistema subjetivo parti- cular em que 0 sentido € produzido, dai a énfase em seu cariter subjetivo, No sentido subjetivo, especfica-se uma certa autonomia do emiocional, que io aparece como resultado da mediagio semidtica, senio que a acompa- nha. Ea esta complexa unidade ~ na qual circulam tipos diferentes de emo- ‘goes associadas, de maltiplas formas, a diversos processes simblicos ~ que atribuimos @ denominagio sentido subjetivo; este € uma sintese de outra fordem ontolégica da mulkiplicidade de aspectos que caracteriza a vida social ¢a histaria de cada sujito e espaco social concreto. (Um sentido subjetivo representa sempre uma unidade integradora de elementos diferentes que, em sua jungto, o definem, Temos chamado de configuragdes subjetivas as formagoes psicoldgicas complexas caracteriza doras das formas estaveis de organizagao individual dos sentidos subjeti- vs, estes também podem aparecer como o momento processual de uma atividade, sem que se organizem nesse momento como configuracio sub- jetiva, © sentido caracteriza 0 processo da atividade humana em seus iversos campos de acto. Assim, por exemplo, quando um alune esti em sala de aula ¢ 0 professor Ihe chama a atengao, a reaecao do aluno, sempre que esta implique uma emosio, representard uma expressio dle sentido, a gual nao se evidencia somente pela acao do professor, mas também pelo que 0 aluno geta nesse contexto de relacio a partir de outros sentidos atuantes, tanto em configuragoes de sua subjetivicade individual, como em diferentes contextos atusis de sta vida soc! © desenvolvimento da categoria de sentido subj que o desenvolvimento da emocionalidadle da confrontagio de elementos cle sentido, constituidos na subjetividade individual como expressio da historia da sujeito e de outros aspectos que ivo facta explicar resultado da com aparecem por meio de suas agbes concretas no processo de suas distintas atividades, Assim, 0 conceito de sentido subjetivo fundamenta uma con- cepgao histérico-social da subjetividade, a qual rompe com qualquer reminiscéncia le mentalisme ou subjetivismo. ‘A categoria de sentido € mencionada nos trabalhos de alguns dos autores mais destacados que se tém dedicado, nas dltimas décadas, 20 sabeidade estudo da subjetividade: Castoriadis e Eliott, No entanto, nto consegui ‘mos determinar, nesses trabalhos, a especificidade do uso dessa categoria, ‘embora, para 08 autores citadas, o dominio do emocional ¢ irredutivel ao significado, Nesse sentido, Elliott (1997) expressa: o inconsciente se antncia no sentimento antes de poder ser pensido ou considerado reflexivamente.A experiéncia ¢ o sentido de nossis necessidades, sensagbes,afetos, representagaes ¢ fantasias subjetivas se formamy através de ‘uma vinculagao com 0 outro (p. 48) A subjetividade legitima-se por ser uma produgdo de sentidos subje- tivos que transcende toda a influéncia linear e deta de outros sistemas da realidade, quaisquer que estes scjam. O sentido subjtivoesté na base da sub- versio de qualquer ordem que se queira impor ao sujeito ou a sociedade desde fora. As formas de comportantento social explicto diante de situa des externas de marcada pressioe epressio, mais que uma via de expressdo de sentidos subjtivos,representam uma via de ocultamento. A sociedade, encarada sob essa perspectiva, no representa uma dicotomia com a sub- jetividade; na verdade, a subjetividade desdobra-se ¢ desenvolve-se no interior do universo de realidad e de processos Objelivos que caraterizam a organizagio social. Em relagdo ans complexos processos de organizacao Social @2s estruturas sociais,o sentido subjetivo representa tra forma 2 ‘mais pela qual essa complexa realidace afeta as pessoas A subjetividade & uma categoria tanto d2 psicologis, como também de todas as cincias antropossaciais, ela € uma dimensio presente em todos os fendmenos da cultura, da sociedade e do homem;ademais,acres- centa uma dimensio qualitativa as ciéncias antropossociais @ qual no esta presente nas outras cigncias, marcando, pois, as questbes epistemols- gicas e meiodolagicas desse campo. A subietividade constitui um sistema em relagao a0 qual tomam significagoes muitas das metafores produzidas «em outtos campos da ciénci, embora tais metaforas devam ser desenvol- vidas de acordo com os termos desse campo e a partit das necessidades cenvolvidas na produsao do conhecimento que aparecem nel desenvolvimento da subjetividade inscreve-se em uma tendéncia «que caracteriza a psicologia atual, apesar de haver discursos que indicam 0 contrério: a tendéncia de produzir representagbes macro capazes de superar as dicotomias atomizadas que tem caracterizado a relagao individuo- enolic psgz qatiaa 2 sociedade, Nesse sentido, aparecem atualmente nas ciéncias sociais macro debinigbes de diferente valor ontolégico as quais sio a subjetividade eos sis- temas discutsivos. A dimensio discursiva é plenamente reconhecid, sob perspectiva da subjetividade, como uma producio essencial da subjetivide fe social que, porém nto elimina outras dimensdes do subjetivo, assim ‘como tampouco 0 sujeito individual em sua capacidade geradora e critica sem que transila. Isso marca a diferenga centre essa teorizacio sobre a subjetividade c certas tendenclas de ‘pos moderns € pos-estrururalistas qu im por meio da discursivo, A respeito de tais consideragoes, Eliott afirma em relagdo aos espagas discurs! {...) a esperiéneia de um propria ser integral continuo é dispensada em sais, de ai a favor do desejo esquizdide e das intensidades libidinais ca supressio cinica da subjtividade em certas correntes da teoria socal pos: tstruturalista e pés-moderna, uma supressio que implica uma transmut ‘co géral do sujeito no mundo a-sebjetiv de imagens e superficie, sig cantes abstratos e comunicagbes desencadeadas (p. 59}. [A critica de alguns autores pos-modernos da psicologia (Gergen. Shotter e outros) elimina ndo somente a subjetividade, mas também © indo a ser uma narrativ sajeito com 9 gual o historivo desapare comose nao houvene nada por det cio de conhecimento: 9m dos ie ue Devestle oe produaides. A real eignific uma: No momeito atial; um numero ca rentes cigneias anteopossociais se orienta de construgbes semelhantes is la ver maior de autor que defendo nesta epigrate como subjetividade, ainda que esta denomins Gio nio seja empregada por todos (Castoriacls, Cohen, Elliott, Ferrarotti Geertz, Koch, entre outros). Na psicologia, o conccito rompe definitiva- mente com a fragmentacio das categorias psicologicas entendidas come variéveis isoladas, fato muito bem expresso por Zavalloni, quando este escreve (2001) Cada pesquise gera uma narrativa (a autora est se referindo a sis pesquss aisclaidentidade) que xplicta ou implicitament sobre 0s elementos est ae gjenb se ‘srepos seanpad sesiaalp sens wa sousydeur 2 soriayidsa sof “poo op auips burn ‘opmanst yebos oSeds9 op so¥saqut ou Suey LOS spossod se ‘orimmnsur zanbyenb tua ojduoxa sod ‘tssy eys0s osedso un ‘up sefiny wan anb seyai2u09 saosepss sep sesstuoeyord sav wrapduuy as anb 2 tudmaque as onb sapeplyess 498 © opurssed ‘as-trezqemaeks wasvzyyeu “ofominsu as o¢ [81905 apeplanstgns xp souUewWOUD} SO “OPSIP RSSAN "FOP -annsuos 2ruatn[et90s sousttolay sop 9 sobedso sop opSeayeamaet v9 s0sn afqns sopiiues ap axSnpord ap soyuessoza%n stew soss220rd Sop 1) “poquuguip e2 bus ens sess ‘oparugop ‘eS ar omuaUUrITOD o ab ossar0xd aso J -sitigos sodedso smussayip sou supeysediuon sapeprane sejed onstiysh has wa soprznposd soaria(qns sopauas so 2 stenpiatput seanysiqns s2ose -riyuon sens anu sopdypenuos sep ined v eprenposd opsuay vu a1U9ut eayqenae orfains ap oxdypuos ens 2 [eros apepranaiqns suouewiad 9 ep soSedso tua ‘oqueystta9 eUzd0y ap ‘opls2sut ews fenpInput ow2tns so pRMbEES op OH SyTUsis Sunbpe 9 soanolqns s aiqns opdynyasuo> ens ep esne> sod awueU! “osiaid oxojou tn OF Bnpin/pal assy “ontou9quOD nas afuuzad anb souu 190s op oxeyou tun 9 ou ‘Morea EUISSE auEZO;H09 “Nb OpIAT -rasuoo ajuauipesos onpiaspur tun eyuasaide sou POs op oruatUlaa|40> «vied snjnfuns op opSraqiis ep ea199" anlg9s929 eIDUR!DsUOD ESE (uz-o¢ 8) ep phuraye wound onb soporus soso 2 596 yp ap osuayu © opussonbas ‘eons aruawtenanbey} optas Tap P14 eu eyunsaudat opt oss eos apEpYea! 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Assim sendo, as subjetividades social e individual sio partes de um ‘mesmo sistema, no qual as contradigdes entre esses dois niveis de organi- zaGd0 se transformam em produgdes de sentido que participam, simulta- reamente, do desenvolvimento dos sujeitos e da sociedade, em um pro- «ess0 infinite, Por isso, negar um desses momentos em favor de outro toma-se um obsticulo a que ambos se desenvolvam e estd na base das cri- ses vilentas enfrentadas por esses sistemas. Durante muito tempo, a subjetividade foi completamente excluida do estudo dos fendmenos macrossociais mais complexos, 0 que levow a ignorar a expressio diferenciada dos sujeitos estudados como fontes essenciais na construcio da significacao de um acontecimento social para ‘uma popullao, Desse modo, por exemplo, o nazismo tem sido explicado sob uma perspectiva politica, racial, econdmica ete., mas nunca foi estu- dado o que ee representou para @ produgao dos sentidos subjetivos que Jevaram os homens a compartilharem aquelas barbies. Baumen (1998) escreveu, em relagio a0 holocausto: O horror no expresso, em relagio a0 holocausto, que permeis nossas siemérias do holocausto (assaciado de forma nada fortuita ao forte desejo de nto encarar essa meméria de frente) & a corrosiva suspeita de que 0 Hplocausto possa haver sido mais que uma aberracto, mais do que desvio 00

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