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PROCESSOS DE DEFINIÇÃO DO TERRITÓRIO DO PIAUÍ: EVOLUÇÃO DAS QUESTÕES FRONTEIRIÇAS NO NORTE, LESTE E SUL DO ESTADO View project
All content following this page was uploaded by Iracilde Maria de Moura Fé Lima on 17 May 2018.
RESUMO
Este estudo teve por objetivo discutir aspectos relativos à ocorrência, circulação das águas no espaço
piauiense e aos problemas hidroambientais, decorrentes das características do meio natural e de seus
usos inadequados. Partiu-se do pressuposto de que o conhecimento e a conservação da água tornam-se
importantes para todas as sociedades, principalmente porque é vital para a existência e manutenção dos
ecossistemas terrestres. A água é também indispensável para a humanidade, pois além de compor mais
de 50% do corpo humano, se constitui um importante suporte à sustentabilidade socioeconômica,
tendo em vista que corresponde a um dos fatores limitantes para o desenvolvimento sustentável das
sociedades. Buscando o atendimento do objetivo proposto, foram realizados levantamentos de dados
disponibilizados em estudos acadêmicos e documentos técnicos, bem como em experiências
vivenciadas pela autora, ao longo de sua vida profissional em pesquisas no estado do Piauí. Como
base de análise e como síntese da discussão de dados e observações foram gerados mapas através do
geoprocessamento, possibilitando a localização dos mananciais hídricos no espaço piauiense.
Concluiu-se que as dificuldades encontradas pela sociedade, em relação ao acesso e uso da água no
Piauí, decorrem, principalmente, da falta de políticas públicas voltadas para a gestão da água, ou seja,
de um sistema de planejamento e gerenciamento eficiente dos recursos hídricos.
ABSTRACT
The present study aimed to introduce a discussion about aspects of the occurrence and spatial
circulation of water in the Piauí space, highlighting some hydro-environmental problems arising from
the characteristics of the natural environment and its inappropriate uses. It was assumed that the
knowledge and conservation of this natural substance are important for all societies, mainly because it
is vital for the existence and maintenance of earth ecosystems. The water is also vital for humanity, as
it compose more than 50% of the human body and is important as a support to socioeconomic
sustainability, since it corresponds to one of the limiting factors for the sustainable development of
societies. Aiming to meet the proposed objective, data were collected from academic studies, technical
documents of environmental researchers, and from the experiences the author lived during her
professional life in research in the state of Piauí. As basis for analysis and as a synthesis of the
discussion of these data and observations, maps were organized through geoprocessing, making it
possible to locate the water sources and dynamics, as well as their relations with the Piauí
environment. It was concluded that the difficulties encountered by society in relation to access and use
of water in Piauí are mainly due to the lack of public policies aimed at water management, that is a
system of planning and Management of water resources in Piauí.
Keywords: Water resources. Piauí water potential. Parnaíba river. Coastal rivers. Hydro-
environmental problems.
Este estudo buscou traçar uma visão geral da hidrografia do estado do Piauí, tendo por
base estudos realizados anteriormente por pesquisadores de diversas instituições e também de
relatórios de observação de campo.
Partiu-se do pressuposto de que o conhecimento e a conservação da água tornam-se
importantes para todas as sociedades, principalmente porque é vital para a existência e
manutenção dos ecossistemas terrestres. A água é também indispensável para a humanidade, pois
além de compor mais de 50% do corpo humano, se constitui um importante suporte à
sustentabilidade socioeconômica, tendo em vista que corresponde a um dos fatores limitantes para o
desenvolvimento sustentável das sociedades (SALLATI et al, 1999). Justificando essa afirmação,
esses autores colocam que suas evidências são encontradas a partir do desenvolvimento de
civilizações que tiveram seu florescimento nos vales onde a disponibilidade da água se fazia de forma
abundante e com características especiais. Dentre elas, são destacadas as civilizações mais antigas
como a da Mesopotâmia Tigres/Eufrates, a egípcia do vale do rio Nilo, a da bacia do México e da
atual Península de Yucatan, onde floresceu a civilização Maia, nas quais o desenvolvimento da
agricultura e da urbanização moldaram as suas estruturas econômicas e sociais.
Outro aspecto importante a se considerar constitui o fato de que o atual período da história
humana tem se caracterizado por escassez, desperdício e redução da qualidade das águas doces em
grande parte das bacias hidrográficas do mundo, principalmente em decorrência de seus usos
múltiplos de forma inadequada (TUNDISI, 2003).
Rebouças (1999), dentre outros autores, destaca que atualmente esse recurso natural se torna
limitante ao desenvolvimento socioeconômico não somente em relação à quantidade disponível, mas
principalmente pela sua qualidade. Destaca, ainda, que nem toda a água que circula na Terra se
encontra disponível para o consumo direto, uma vez que aproximadamente 97,5% do seu volume
existente no planeta Terra se compõem de águas salgadas, presentes nos oceanos e mares, e
que apenas cerca de 2,5% correspondem à água doce, distribuída nos lençóis subterrâneos,
nos rios e lagos, na atmosfera e nas geleiras das altas montanhas e das regiões polares.
Com relação ao território brasileiro, estudos indicam que nele se encontra grande
quantidade de água doce que representam um volume em torno 12% do total mundial. Esse
país se destaca também pela grande descarga de água doce de seus rios, que é estimada em
cerca de 53% da água doce do continente Sul-Americano. Esses dados conferem ao Brasil a
condição de ser um país rico em recursos hídricos (REBOUÇAS, 1999).
LIMA, I. M. M. F. Hidrografia do Estado do Piauí, disponibilidades e usos. In: AQUINO, C. M. S. A.;
SANTOS, F. A. Recursos Hídricos do Estado do Piauí: fundamentos de gestão e estudos de casos em bacias
hidrográficas do centro-norte piauiense. Cap. 3. Teresina: EDUFPI, 2017, p.43-68. ISBN: 978-85-509-0201-2
O Piauí, por se encontrar numa faixa de transição entre as condições climáticas de
elevada umidade da Amazônia e a semiaridez do Nordeste Oriental, apresenta variações na
ocorrência e na circulação das águas em seu território, mesmo tendo cerca de 80% de seu
espaço localizado numa estrutura geológica de rochas sedimentares (LIMA, 1987).
Para o atendimento do objetivo proposto, a pesquisa realizada teve natureza
bibliográfica em associação a observações de trabalhos de campo realizados no espaço
piauiense. Como apoio ao tratamento, espacialização e discussão dos dados e observações,
foram utilizadas imagens de satélites disponíveis online trabalhadas em ambiente digital, por
meio do geoprocessamento, gerando mapas locais.
Conclui-se que as dificuldades encontradas pela sociedade em relação ao acesso e uso
da água no espaço piauiense não decorrem somente da sua distribuição desigual ou da sua
relativa escassez no espaço e no tempo, mas principalmente da ineficiência do gerenciamento
dos recursos hídricos.
2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
O rio Parnaíba corresponde ao maior rio perene da região nordeste do Brasil que tem
seu curso totalmente incluído na região Nordeste. Apresenta uma extensão de cerca de 1.450
Km, desde suas nascentes principais até a foz, no Oceano Atlântico, onde forma um grande
delta em mar aberto. Em todo o seu percurso apresenta direção geral Sul-Norte, formando o
limite territorial com o estado do Maranhão, tornando-se, assim, um rio federal para efeito de
gestão de suas águas.
Identificado com os nomes de Rio Grande dos Tapuios e Rio das Garças, nos relatos
dos primeiros viajantes que percorreram o espaço brasileiro no século XVI, o batismo do
nome Parnaíba é atribuído ao bandeirante Domingos Jorge Velho, quando aqui esteve no
século XIX, em suposta homenagem à sua cidade natal (BAPTISTA, 1974).
A importância deste rio pode ser historicamente identificada na vida dos piauienses,
seja em registros poéticos (DA COSTA E SILVA, 1985), seja nos símbolos oficiais do Estado
do Piauí, como o hino e o brasão, seja no surgimento de muitas cidades e atividades
ribeirinhas, seja na navegação por suas águas. Assim, esse rio passou a representar não
somente o eixo do processo de colonização do Piauí, no século XVIII, mas também a
integração comercial com vocação internacional, até meados do século XX. Isto porque “a
primazia em projetos de desenvolvimento regional foi apreendida e a navegação a vapor
Vale do Alto Parnaíba: trecho de rios totalmente perene, que abrange uma
área de 77.100 Km2 com uma vazão média anual de 253 m3/s, tendo uma
disponibilidade hídrica livre de 7,9 bilhões de m3/ano para as descargas e
1 – Áreas calculadas por meio digital, com base no mapa de Bacias Hidrográficas do Piauí, elaborado pela SEMAR
(2003), tendo em vista as discrepâncias dos valores das diversas fontes.
2 - Fontes: Carta do DSG (1973); Baptista (1974); Rivas (1996); observação em trabalhos de campo pela autora, na
maioria das nascentes.
3 - A Bacia do rio Poti tem área estimada em 36.000 Km2 no Piauí. Seu rio principal apresenta extensão de 350 Km no
Piauí, 180 Km no estado do Ceará e 20 Km na área de litígio (BAPTISTA, 1974).
Como reflexo dessas condições, o leito do rio Gurgueia se destaca como um eixo que
forma o limite dos rios que apresentam regime de vazão perene (incluindo o seu leito),
localizados à oeste, em relação aos sistemas de drenagem da área leste (incluindo os afluentes
do rio Gurgueia da margem direita), onde quase a totalidade dos seus afluentes são
temporários.
Tabela 5 – Distribuição da média anual dos deflúvios do rio Parnaíba, segundo do tipo
de escoamento superior e de base.
Localização no Deflúvio Deflúvio médio Deflúvio médio Escoamento do rio
trecho do rio Médio Trim. Trim. anual Parnaíba (%)
Parnaíba mais seco mais úmido
m3/s % m3/s % m3/s % Superior De base
A jusante da foz 125,5 40,2 262,0 14,3 212,4 20,0 22,3 77,7
do rio Uruçuí
Preto
Área de veredas
Os rios de maior extensão que têm suas bacias totalmente incluídas na faixa litorânea piauiense e suas
desembocaduras diretamente no Oceano Atlântico são o Portinho, o São Miguel, o Cardoso, o
Camurupim e o Ubatuba (DSG, 1973).
Os diversos usos das águas apresentam relações diretas com o tipo de clima e
solo, bem como das características do ciclo hidrológico local ou regional (TUNDIZI,
2006). Deve-se considerar, portanto, que os problemas de escassez da água enfrentados
pelas populações são decorrentes tanto de causas naturais, quanto do seu uso inadequado
(RICCIOPPO et al, 2011).
Tendo em vista que nas últimas décadas o crescimento da população urbana,
apresentou um acelerado crescimento e, com ele, a promoção de uma crescente pressão
sobre os recursos hídricos, surgiu como consequência a necessidade de aumento dos
volumes de água para suprir as populações de forma adequada, sem causar danos à
saúde pública (TUNDIZI, 2006).
Em relação à ocupação urbana do espaço piauiense, pode-se perceber que ocorre
uma grande concentração de sedes municipais na bacia hidrográfica do rio Canindé, em
relação às demais sub-bacias do rio Parnaíba, como se observa na Figura 2. Tendo em
LIMA, I. M. M. F. Hidrografia do Estado do Piauí, disponibilidades e usos. In: AQUINO, C. M. S. A.;
SANTOS, F. A. Recursos Hídricos do Estado do Piauí: fundamentos de gestão e estudos de casos em bacias
hidrográficas do centro-norte piauiense. Cap. 3. Teresina: EDUFPI, 2017, p.43-68. ISBN: 978-85-509-0201-2
vista que nessa área predomina o clima semiárido e que se encontra sobre grande parte
do escudo cristalino, de rochas impermeáveis, a pressão sobre os recursos hídricos se
torna bem mais significativa nesse espaço. Assim, essas condições se refletem em uma
rede de drenagem temporária e num sistema de abastecimento por água subterrânea não
satisfatório para atender a demanda produtiva em grande parte da área dessa bacia.
No caso de toda a bacia hidrográfica do Parnaíba a população urbana projetada para
2010 correspondia a 65% da população total, sendo abastecida por água em cerca de 91% dos
domicílios, equivalente à média brasileira. No entanto, a situação se tornou crítica em relação
a rede de esgotamento sanitário que apresentava um valor médio de apenas 10%, muito
abaixo da média nacional, considerada de 62% (ANA, 2007).
Na área dessa bacia, a maior demanda pela água correspondia à atividade de
irrigação (9,225 m3/s) de forma semelhante à posição da média nacional, guardadas as
devidas proporções em termos de volume e percentuais. Esta era seguida pela demanda
urbana (6,695 m3/s), enquanto as demais ordens de posições se diferenciaram das posições
relativas da média nacional, uma vez que a terceira maior demanda correspondeu ao uso
animal (2,673 m3/s), bem abaixo da demanda urbana, enquanto para o uso rural a demanda
ficou na penúltima posição (1,387 m3/s) Esta demanda era seguida do uso industrial que
representou apenas 0,638 m3/s (BRASIL/MMA, 2006), demonstrando um uso da água
irrisório em todos esses setores das atividades econômicas.
Especificamente sobre o uso das águas subterrâneas no Piauí, os estudos indicaram
que até o ano de 1999 só era utilizado pela população cerca de 1% da reserva explotável,
correspondendo a aproximadamente 101 m³/hab/ano. Este volume de água também foi
considerado muito baixo, em relação ao grande potencial de reservas de águas subterrâneas
existente no espaço piauiense.
Com relação aos problemas hidroambientais, uma preocupação fundamental a ser
encarada diz respeito à conservação e preservação dos solos e das águas, buscando prevenir a
geração de problemas subsequentes como o risco à erosão e assoreamentos dos mananciais.
Tendo em vista que esses processos ocorrem de forma inter-relacionada, seus desdobramentos
atingem toda a área da bacia hidrográfica, inclusive o litoral, onde os sedimentos
transportados principalmente pelos processos fluviais vão gerar dunas, ilhas e restingas, em
trabalho conjunto com o mar.
Como forma de identificar os problemas hidroambientais que vêm ocorrendo nas
últimas décadas no espaço piauiense, foram destacados alguns exemplos considerados
LIMA, I. M. M. F. Hidrografia do Estado do Piauí, disponibilidades e usos. In: AQUINO, C. M. S. A.;
SANTOS, F. A. Recursos Hídricos do Estado do Piauí: fundamentos de gestão e estudos de casos em bacias
hidrográficas do centro-norte piauiense. Cap. 3. Teresina: EDUFPI, 2017, p.43-68. ISBN: 978-85-509-0201-2
significativos, tendo por base os conhecimentos adquiridos pela autora ao longo de
pesquisas envolvendo trabalhos de campo.
O vale do rio Gurguéia, muito decantado pelo seu volume de água, potencial
pesqueiro e qualidade dos solos, vem demonstrando redução de sua capacidade produtiva e
queda do volume de água do seu leito, em consequência principalmente das interferências
antrópicas na sua grande bacia mantenedora: os cerrados piauienses. Seu leito está sofrendo
atualmente sério problema de assoreamento, com risco de se tornar um rio temporário.
No alto curso, o seu afluente Paraim tem seu leito descaracterizado pelo efeito da
acumulação de sedimentos em grande extensão de seu curso, acumulação essa intensificada
pela contenção de suas águas com sacos de areia, há pelo menos um século. O objetivo
dessa prática consiste em buscar a manutenção da umidade em maior faixa do vale, para
usos da agricultura e pecuária, conforme relataram proprietários de terras da região
(Entrevistados A e B, 2002; 2010). As consequências deste uso se refletem na redução do
escoamento superficial e também na mudança do nível de base da maior lagoa piauiense que
é alimentada pelo rio Paraim: a Lagoa de Parnaguá. Estas condições de uso associadas à
redução dos índices pluviométricos representaram fatores determinantes para que a lagoa
secasse totalmente em 2015.
Também merece preocupação a questão dos poços perfurados ao longo do vale do
Gurguéia, em sua grande maioria construídos sem planejamento quanto ao seu uso e
destinação e que, ao invés de contribuir para a manutenção do regime do rio, tem se
caracterizado como desperdício da água nessa bacia.
Os rios Piauí e Canindé, que têm suas bacias no clima semiárido piauiense (LIMA,
2004), vêm sofrendo várias interferências danosas, como o barramento de seus leitos que,
além de provocarem o seu assoreamento, modificam os sistemas de erosão em função do
estabelecimento de novos níveis de base locais. Outro fator é a supressão de vegetação ciliar,
que vem contribuindo para a degradação de suas margens, além do mau uso do solo por falta
de práticas conservacionistas adequadas. Também o regime de chuvas do clima semiárido,
por ser altamente concentrado, favorece ainda mais a intensificação dos processos erosivos e
de assoreamento dos seus leitos.
O rio Poti, que tem o médio e o baixo cursos no estado do Piauí, vem
experimentando vários problemas de uso das terras e das suas águas, a semelhança das demais
bacias hidrográficas piauienses. Têm destaque, no entanto, os problemas relacionados à falta
de saneamento, notadamente na área do seu baixo curso, onde se localiza a capital do estado,
LIMA, I. M. M. F. Hidrografia do Estado do Piauí, disponibilidades e usos. In: AQUINO, C. M. S. A.;
SANTOS, F. A. Recursos Hídricos do Estado do Piauí: fundamentos de gestão e estudos de casos em bacias
hidrográficas do centro-norte piauiense. Cap. 3. Teresina: EDUFPI, 2017, p.43-68. ISBN: 978-85-509-0201-2
Teresina. Além da redução da qualidade das águas, nesta área os problemas de inundações são
agravados principalmente pelo grande aporte de sedimentos provocado pelo mau uso do solo
e pela construção de galerias plúvio-fluviais inadequadas (LIMA, 2016).
No rio Longá encontram-se várias barragens construídas ao longo do seu curso e de
seus afluentes, sem planejamento de utilização efetiva de suas águas tendo, assim, pouco
contribuído para a solução dos problemas hidroambientais na sua bacia. Destaque-se que na
desembocadura do rio Longá no rio Parnaíba, próximo à cidade de Buriti dos Lopes, foi
construída uma barragem de terra, para permitir a transposição do rio por pessoas e veículos.
Este fato se repete anualmente após as enchentes, quando esse aterro tem sido levado pelas
águas, aumentando a carga de sedimentos e a presença de grandes depósitos aluviais fixos
no leito do rio Parnaíba, uma vez que nesse trecho o rio não tem competência de transporte
de grandes volumes de sedimentos.
Na bacia do rio Piranji tem maior destaque o rompimento de uma grande barragem
construída em 2009 no leito do rio principal, no município de Cocal, como consequência de
fatores naturais e ações antrópicas. Este desastre provocou sérios danos socioambientais e
econômicos, inclusive com perdas de vidas humanas.
O rio Parnaíba, como eixo receptor dos rios piauienses, a exceção dos rios
litorâneos, recebe em consequência toda a carga de efluentes das cidades, uma vez que toda
a drenagem urbana da área de sua bacia é para ele canalizada, diretamente pelas cidades
ribeirinhas, e indiretamente através dos seus afluentes.
No alto curso do rio Parnaíba foi edificada, na década de 1970, a barragem de Boa
Esperança com a finalidade de gerar energia elétrica, depois incorporada ao sistema nacional
CHESF (Companhia Hidrelétrica do São Francisco). Esta construção proporcionou impacto
socioeconômico positivo ao Piauí, porém trouxe, paralelamente, uma série de problemas tais
como: a inundação de extensa área a montante onde se formou o lago, a alteração do
processo reprodutivo dos peixes e, ainda, a alterado do nível de base local, mudando o
sistema de erosão e promovendo maior deslocamento de carga de sedimentos para o lago da
barragem.
Ao longo dos últimos cinco anos da presente década vem ocorrendo uma alteração
do regime pluviométrico (INMET, 2016) caracterizando o fenômeno das secas nordestinas,
tendo graves consequências para todo o sistema hidrológico e socioeconômico. Na faixa
litorânea, os reflexos desse fenômeno se tornam mais evidentes na redução das vazões dos
rios locais que fez secar importantes mananciais, dentre os quais se encontram as lagoas
LIMA, I. M. M. F. Hidrografia do Estado do Piauí, disponibilidades e usos. In: AQUINO, C. M. S. A.;
SANTOS, F. A. Recursos Hídricos do Estado do Piauí: fundamentos de gestão e estudos de casos em bacias
hidrográficas do centro-norte piauiense. Cap. 3. Teresina: EDUFPI, 2017, p.43-68. ISBN: 978-85-509-0201-2
fluviais do Portinho e do Sobradinho. Como consequências diretas as atividades turísticas e
pesqueiras nos trechos do médio e baixo cursos do rio Portinho foram fortemente afetadas.
Constatou-se, ainda, que, além do avanço das dunas móveis sobre os rios litorâneos, dentre
eles o rio Portinho, práticas como o represamento das águas em propriedades particulares e,
ainda, construções de rodovias em vários pontos dos vales, estão contribuindo para alterar os
processos erosivos e a vazão fluvial, se refletindo na redução drástica do espelho d’água
dessas lagoas (Observações de campo, 1984 a 2016; Entrevistado C, 2016).
Como destaca a ANA (2007), a escassez de água decorrente de fatores naturais tem
sido historicamente apontada como um dos principais motivos para o baixo índice de
desenvolvimento econômico e social da região Nordeste, mesmo tendo, no caso do espaço
piauiense, aquíferos regionais que apresentam grande potencial hídrico. Assim, se explotados
de maneira sustentada, estes aquíferos poderiam representar um grande diferencial,
possibilitando a promoção do desenvolvimento econômico e social do Estado do Piauí.
5. CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
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