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2 CONCRETO AUTO-ADENSAVEL (CAA) 2.1 DEFINICAO, termo conereto auto-adensével (CAA) identifica uma categoria de material cimenticio que pode ser moldado nas formas e preencher cada espago exclusivamente através de seu peso Préprio, sem necessidade de qualquer forma de compactagao ou vibragao extema (COPPOLA, 2000, p.42); (ARAUJO et al., 2003, p.1); (BARBOSA et al., 2002, p.2): (MA e DIETZ, 2002, p.2): (Ho et al., 2002, p.505). A auto-adensabilidade do concreto no estado fresco & descrita como a habilidade de todo o material preencher espagos ¢ envolver as barras de ago e outros obstéculos, através, exclusivamente, da agiio da forga da gravidade, mantendo ‘uma homogeneidade adequada (BOSILIKOV. 2003, p.1279). Um concreto s6 sera considerado auto-adensével, se trés propriedades forem alcangadas: a fluidez, a coesdo necessiria para que a mistira escoe intacta entre barras de ago ou habilidade Passante, e a resisténcia A segregagao (European Federation for Specialist Construction Chemicals and Concrete Systems, 2002, p.7). Noguchi et al. (1999, p.1) afirmam, inclusive, que a habilidade do concreto fresco, CAA ou nao, passar através de espacos estreitos ou obstaculos é um dos principais fatores que influem na qualidade final do concreto endurecido. Fluidez ¢ a propriedade que caracteriza a capacidade do concreto auto-adensivel de fluir dentro da férma ¢ preencher todos os espagos (FURNAS, 2004a). Habilidade passante & a propriedade que caracteriza a capacidade do CAA de escoar pela forma, pasando por entre as armaduras sem obstruso do fluxo ow segregagio (FURNAS, 20040). E resisténcia segregacio é a propriedade que caracteriza a capacidade do CAA de se manter coeso ao fluir dentro das fOrmas, passando ou nao por obstéiculos (EFNARC, 2002, p.5). 2.2 HISTORICO A principio, o concreto auto-adensavel (CAA) niio é novo, pois em concretagens submersas ja era usado um concretos que nao exigiam compactagao ou adensamento extermo, até porque Te Concrctos Autorndens Noda para Dow 28 era impossivel. Mas como estes coneretos continham alto teor de pasta de cimento e aditivos plastificantes, certamente apresentavam problemas de retragao, calor de hidratago elevado e alto custo (BARTOS, 2000, p.1). Collepardi (2001, p.2) acredita que o CAA ja era estudado e utilizado em casos priticos em Hong Kong, Nova lonque ¢ Trieste (Itélia) hé 20, 25 anos atras, porém com outra nomenclatura. Até meados dos anos 70, 0 ACI (American Concrete Institute) nfo recomendava que se utilizasse misturas com resultados de abatimento (slump test) acima de 175mm, j4 que a exsudacio aumentava exponencialmente, como pode-se observar na figura 1, Observa-se, inclusive, que & medida que o consumo de cimento diminui © problema se agrava, pois a quantidade de finos é menor. Mas com 0 advento dos aditivos superplastificantes, pode-se dosar concretos fiuidos com valores de abatimento acima de 250mm com nenhuma ou desprezivel exsudagao (figura 2). Assim, foi sugerido que se nomeasse de concretos reodinimicos aquelas misturas bastante fluidas, mas ao mesmo tempo coesivas e com baixa tendéncia a segregacao e exsudacio. Figura 1: exsudagao de concretos sem aditivos (fonte: COLLEPARDI, 2001, p.12) emardo Fonscea Twikian (inim @isrm comin Porte Alegre RS, PPGEC- UFRGS, 2007 Exsudaeio x 10 esBss esses 0 80 150 250 50 150 250 50 160 250 Abatimento (mm) Figura 2: exsudagio de concretos com aditivos superplastificantes (fonte: COLLEPARDI, 2001, p.12) principio mais importante para concretes fluidos e resistentes & segregagao, incluindo 0 CAA, & 0 uso de aditivos superplastificantes combinados com alto teor de materiais finos, sejam eles cimento Portland, adigGes minerais, filer de rochas (calcéreo, basiltico, granitico) e/ou areia fina. Na tabela 1, a mistura A descreve um trago utilizado no fim dos anos 70 em ‘uma doca usando 0 método Tremie de concretagens submersas, onde este foi adensado sem ‘vibragdo ou compactacao extema em um volume de 40.000 m*, enquanto a mistura B foi utilizada na superestrutura desta obra (COLLEPARDI, 2001. 3). Observa-se que o abatimento do tronco de cone da mistua B nao ¢ extremamente alto, a0 contrétio do da mistura A, onde, inclusive, 260mm é tao alto que chega a ser intrigante 0 modo como foi medido, ja que este ensaio no tem toda esta preciso, © modemo concreto auto-adensavel foi desenvolvido no Japao para resolver o problema da aixa durahitidade de constmgaes em concreto armada. Por volta de 1983 iniciaram os primeiros estudos, coordenados por Hajime Okamura (1997, p.50). Para a execucio de estruturas duriveis, é necessério uma compactacao adequada do concreto, a qual é realizada or opertirios qualificados. Mas, com a modemnizagao da indtistria japonesa, foi diminuindo ‘niimero de trabalhadores qualificados em teda a indiistria e, conseqdentemente, nos canteiros de obras, diminuindo, assim, a qualidade final da compactacio das estruturas (OKAMURA, 30 1997, p.50); (DE LA PENA, 2001, p.1): (BARTOS, 2000, p.1): (OUCHI, 1999); (OUCHT e HIBINO, 1999) ‘Tabela 1: tragos utilizados no fim dos anos 70 ‘Componente Mistura A Mistura B ‘Cimento Portland Comum 400 kein 300 Kein (Ginza Volante 7 90 kgm ‘Areia Fina (0,075 - 0,60mm) 180 kein ~ /Areia Média (0 — Smm) 990 kg/m” 670 kgm ‘Pedregulho (5 — 15mm) 630 kom 305 kom” Pedregulho (10 — 20mm) 7 Tok Agua 190 kein 187 keine Superplastificante Then Tega Relagao dgua/cimento 0.47 0.62 Relagio gua/agiomerante OAT Oa8 ‘Abatimento (Sump) 260 mm 20mm (onte: COLLEPARDT, 2001, p. 11) Primeiramente, Okamura (1997, p. 50) pensou em adaptar para as estruturas convencionais, 6s coneretos submersos resistentes a lixiviago, que 4 eram wtilizados na época para resolver este problema. E importante frisar que aquele concreto possuia uma excelente resisténcia 4 segregacao devido ao aditivo modificador de viscosidade, a base de polimeros sohiveis em ‘gua. Mas este tipo de concreto nao satisfez completamente fs expectativas, basicamente por duas razdes: a grande viscosidade impedia eliminago de bolhas de ar aprisionadas na massa do conereto e a compactagio deste em Areas altamente reforgadas com armaduras eta complicada, Assim, 05 estudos foram direcionados para a trabalhabitidade de coneretos. Através da visualizagio do concreto em um experimento proposto por Hashimoto (OKAMURA, 1997, p51), pode-se observar 0 movimento dos agregados gratidos, com a substituigao da argamassa do concreto por um material polimero transparente, na seqtiéncia das figuras 3a a 34. Observa-se que na figura “3a os agregados gratidos do concreto estao alcangando o canal estreito, enquanto que na figura “3b’, jé esto pasando por este canal, e 0 atrito entre as particnlas faz com que estas se aglomerem, deixando vazios entre si, nao ocupando todo o espago disponivel. Nas figuras ‘3c’ e *3d’, a sittagao se agrava, Este fato emardo Fonscea Twikian (inim @isrm comin Porte Alegre RS, PPGEC- UFRGS, 2007 31 dificulta a fluidez do conereto e pode-se observar o resultado do experimento, que mostrou que o bloqueio da fluidez através de um obsticulo ou passagem estreita ocorren em fungio do contato entre os agregados gratidos, ¢ pata evitar este problema, foi limitada a quantidade de agregado eratido, assim como estabeleceu-se que o concreto deveria possuir uma viscosidade moderada (OKAMURA, 1997, p.51). Figura 3: movimento do agregado gratido (fonte: OKAMURA, 1997, p.51) Segundo Okamura (1997, p.51), para o concreto fluir uniformemente através de barras de aco, a tensio de cisalhamento da argamassa deve ser pequena. Esta tensio surge na argamassa, devido ao deslocamento das particulas de agregado graiido. Observando-se resultados experimentais, Okamura concluiu que a tens#o de cisalhamento da argamassa dependeria da relago dgua/aglomerante (a/agl), © que existia uma relagio a/agl dtima, para a menor tens. Assim, surge um problema: aumentando a relago égua/aglomerante, aumenta a fluidez do concreto, mas, a0 mesmo tempo, diminui sua viscosidade. Por isso & que para a produgao de concretos auto-adensiveis € praticamente cbrigatério 0 uso de aditivos superplastificantes recomendével o uso de modificadores de viscosidade, 0 primeiro para aumentar a fluidez ¢ 0 segundo para aumentar a viscosidade do concreto. Apés um estudo aprofundado de todas estas informasdes, em 1988, Ozawa desenvolveu 0 primeito concreto auto-adensivel. Alguns estudos deram segmento a esta nova tecnologia e 32 em 1993, Okamura, Ozawa e Mackawa publicaram 0 primeiro livro na érea (em japonés) High Performance Concrete (OKAMURA ¢ OUCHI, 2003, p.1); (OKAMURA, 1997, p.52): (DE LA PENA, 2001, p.1). Hoje, 0 CAA tem tomado significativo impulso na Europa, tanto na indiistria de pré-moldados de concreto como nas construgdes convencionais (ARAUJO et «al., 2003, p.2). Segundo Bartos (2000, p.1).no inicio dos anos 90, havia poucas publicagdes a respeito do CAA, pois as grandes corporagdes japonesas que estavam desenvolvendo esta nova tecnologia mantinham as pesquisas secretamente, para obterem ganhos comerciais. Tnclusive, 0 CAA eta utilizado com outros nomes, como SQC (Super Quality Conerete) pela Maeda Corporation, NVC (Non-Vibrated Concrete) pela Kajima Corporation, ou Biocrete pela Taisei Corporation. © desenvolvimento do CAA teve um forte impacto nos engenheiros ¢ profissionais especialistas em tecnologia do coucreto na época. © novo tipo de coucreto desenvolveu-se intensiva € rapidamente até se tomar uma importante tecnologia para as construgtes (SHINDOH © MATSUOKA, 2003, p.1), sendo rapidamente adotada em muitos paises da Europa (BARTOS, 2000, p.5), no Japio, como percebe-se na figura 4, que ilustra a produgio anual de 1990 até 1997 (OUCHT, 1999). Persson (2003, p.373) afirma que o CAA ja representava $% da produgao total de concreto da Suécia, em 2003. Producdo x 1000 m3 Figura 4: produgao anual de CAA no Japio, de 1990 até 1997 (fonte: OUCHI, 1999) emardo Fonscea Twikian (inim @isrm comin Porte Alegre RS, PPGEC- UFRGS, 2007 2.3 VANTAGENS © conereto auto-adenstivel é descrito como uma grande revolugio ocortida na tecnologia do concreto para a construsao nas iiltimas désadas, j4 que possibilita varios ganhos, diretos e indiretos, entre os quais (EFNARC, 2002, p.4): (GOMES et al.. 2003b, p.6); (COPPOLA, 2000, p.44); (AMBROISE er al., 1999, p.560); (ARAUIO et al., 2003, p.2); (BARBOSA ef al, 2002, p3); (DE LA PENA, 2001, p.l): (BARTOS, 2000, p.1); (BOSILIKOV, 2003, 1.1279); (OUCHI, 1999); (CAMPION e JOST, 2000, p.31): (PROSKE e GRAUBNER, 2002, P.2): a) acelera a construsao; b) reduz a mao-de-obra no canteiro; ¢) melhora 0 acabamento final da superficie: 4) pode aumentar a durabilidade por ser mais fécil de adensar: ©) peuite yraude liberdade de fous © dimseusdes, 4) permite concretagens em pecas de secdes reduzidas: Q) elimina o barulho de vibragao; h) toma o local de trabalho mais seguro, em fungo da diminuigao do mimero de trabalhadores; 1) pode obter um ganho ecolégico: j)) pode reduzir o custo final do concreto e/ou da estrutura © CAA possui uma grande deformabilidade no estado fresco, ou seja, pode ser moldado facilmente nas mais diversas formas, sob a ado da gravidade, e, ainda mais se forgas externas forem aplicadas (DE LA PENA. 2001, p.1). Isto permite que 0 CAA percorra até dez metros de disténcia horizontal, mesmo com obsticulos no caminho (armaduras, eletrodutos e outros) (COPPOLA, 2000, p.42) 34 Segundo Coppola (2000, p.42), a grande resisténcia a segregagho, aliada a fluidez do CAA, pemnite a eliminagao de macro defeitos, bolhias de ar e falhas de concretagem, responsiveis diretos por perdas de desempenho mecénico do conereto ¢ durabilidade da estrutura, € ‘também é importante frisar que esta tecnologia acelera a edificagao, podendo haver um ganho de tempo da ordem de vinte a vinte e cinco por cento, Bartos ¢ Soderlind (2000, p.15), em estudo experimental realizado, concluiram que 0 muido captado por trabalhadores e pelo entomo da edificagio, quando utilizado 0 CAA, & de, aproximadamente, um décimo do ruido recebido quando © concreto convencional & utilizado, em decibéis. De La Petia (2001. p.1) afirma que, além das vantagens jé mencionadas, 0 concreto auto- adensdvel permite obter altas resisténcias 4 compressao a curto e longo prazo, baixa relagao 4gua/cimento, baixa permeabilidade ¢ alta durabilidade. E a possibilidade da eliminagao da ‘vibragdo & mnito interessante, uma vez que, além da economia de energia elétrica e mao de obra, a vibragio produz ruido, podendo causar doengas nos operirios. Somado a isso, a vibragdo tambem desgasta e exerce Torte pressao nas Tormas, podendo estas cederem, se no estiverem bem presas. Também, Bosiljkov (2003, p.1279) afirma que a adigao de materiais finos no CAA melhora diversas propriedades, tanto no estado fresco como no endurecido. Esta pesquisadora acredita que o5 finos atuam como pontos de nucleagio, ou seja, quebram a inércia do sistema, fazendo com que as particulas de cimento reajam mais rapidamente com a Agua, obtendo-se, assim, ganhos de resisténcia nas primeiras idades. Assim como, aumentando-se 0 pacote de articulas finas, cresce a compacidade da pasta, dificultando a penetracao de agentes externos agressivos e melhorando a zona de transigao. Ao mesmo tempo em que residuos da construgo podem funcionar como finos, dando coestio a0 CAA. a viabilidade de sua utilizago pode ser uma solugo para os problemas gerados em sua disposigao. Assim, o cimento, que é um material mais caro, podera ser usado com a tinica fungiio de dar resisténcia ao concreto (BOSILIKOV, 2003, p.1279): (GOMES, 2003b. p.1): (JACOBS e HUNKELER, 2001). Resultados experimentais mostraram que 0 CAA apresentou redugdes significativas no coeficiente de permeabilidade e absorgao capilar, se comparado a0 concreto convencional referéncia, de faixas de resisténcia similares (ZHU e BARTOS, 2003. p.925). Estes mesmos emardo Fonscea Twikian (inim @isrm comin Porte Alegre RS, PPGEC- UFRGS, 2007 35 autores também concluiram que a penetragio de cloretos depende das adigGes utitizadas, ou seja, CAA e CC de mesmas resisténcias & compressdo, com as mestnas adigdes, devem ter os mesmos valores de penetragao de cloretos. Persson (2003, p.379) conehuin, em um estido experimental realizado, que 0 CAA possui uma resisténcia intema de congelamento superior a0 concreto convencional. Em outro estido experimental, Sonebi et ai. (2000, p.25) conchuiram que 0 CAA teve uma absorgo por capilaridade de cerca da metade do concreto convencional referéncia, ambos de mesma relago a/agl Por todos estes motivos, o concreto aufo-adensével tem se tomado uma excelente opso para © setor da construgio, e como sera visto, vem crescendo rapidamente sua utilizagao e estudos a respeito deste novo material, apesar de que 0 assunto ainda no tem sido muito explorado. 2.4 UTILIZAGAO DO CAA O CAA pode ser utilizado tanto moldado in loco como na indiistria de pré-moldados, pode ser dosado no canteiro de obras ou em centrais de conereto e depois transportado via caminhito betoneira para as construgdes. Também pode ser langado com bombas de concreto, gruas ou simplesmente espalhado, ou seja, o CAA ¢ so versétil quanto 0 concreto convencional Hé poucas referéncias a respeito da utilizagio do conereto auto-adensével em obras de engenharia. E, normalmente, as utilizagdes so em estrunuras especiais, complicadas de se concretar com © concreto convencional. Nesta parte do trabalho, foi feito um levantamento: das referéncias existentes. © CAA foi utilizado em 19 pontes ¢ em ontros projetos na Suécia, onde a durabilidade das estruturas deveria ser superior (PERSSON, 2003, p.373). Segundo Obras (2000). foi utilizado um corereto estrunural branco de consisténeia liquida, na obra “A Sagrada Familia’, de Barcelona, Espanha. Nesta publicagio, nfo fica claro se este concreto era auto-adensivel, mas foram usados silica ativa, que toma a mistura coesa, aditivos superplastificantes, que fluidificam o material. Sabe-se que uma estrutura de concreto branco aparente niio pode, em hipétese alguma, apresentar falhas de concretagem, pois corresdes fisturas ficam visiveis, prejudicano a estética do local, ‘Nigiodo para Dosagem de Concretos Autovadensiver

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