You are on page 1of 18
rewinic10 E AS TENSGES DE sup CRIMINALIZAGAO eM PROCESSOS JUDICIAIS No Distrito FeneRa, FeMINICIDE AND ITS CRIMINALIZATION TENSIONS oy CRIMINAL CASES AT DisTRITO FeveRa, P6s-Graduanda em Ordem Jur Fundacao Escola Superior do Ministé Territérios. Graduada em Direito peta Uni jiexoo Deo: Penal | | tauo:0 objetivo deste trabalho € analisar os states processuais em torno das dificuldades e srenalidades da criminalizagéo do feminicidio * pimiros processos criminais por feminici- foo feminicidio tentado no Distrito Federal, ‘aresponder & questo sobre como esses de- {2s tem compreendido o crime. A metodolo- Stutlaada fol reviséo de literatura e andlise ‘alata, sob a perspectiva epistemoldgica de 722°.4os primeiros processos a chegarem a0 £m sede de recurso em sentido estrito. Na 0 de fteratura, encontraram-se potencia- t cininalagio do feminicidio (acre- tin setbizaio do sistema de justica ern Ul dades dessa criminaliza- ialzagge '® fungées da pena, ética fe dayne ce Penal eo risco dena vouscacbate oe): Como resultado, identi- Processual focado na andlise dos "hesdocim is ado. Fe Siena de “éminicidio e as tensdes de sua criminalizag3o em processos judi i Ciémcios Criminais vol 152. ano 27 p. 465-498, 0 Paulo: Ed, fevereiro 2019. |sapora Douraoo Roca rica e Ministerio Pablico pela tio PUblico do Distrito Federal e versidade de Brasilia, Advogada, isadoradouradorocha@gmailcom Recebido em: 25.02.2018, ri Aprovado em: 23102018 Uttima versio do (a) autor (0): 13.11.2018 Assmract: This work aims to analyze the pro- cedural discussions around the difficulties and Possibilities of femicide criminalization in the context of the first criminal cases involving fe- micide or attempted femicide at Distrito Federal, Brazil, with the ultimate purpose of answering the question about how these discussions have approached such crime, The methodology adop- ted involved the review of other academic works on the subject matter and qualitative analysis, under the epistemological perspective of the ar- chive of the first criminal cases that were taken to the Distrito Federal's Appeals Court as a re- sult of an appeal in its strict sense, The review of academic works showed potentialities of fe- ricide criminalization (certification and desta- bilization of the criminal justice system - CJS), and difficulties faced in this criminalization (di- sagreements between prison functions, the in- “20divergirem,acusagdoedefesa, dividualized perspective of the criminal law and no Distrito Feder Digitalizado com CamScanner 486 Ronsta Beas LIRA DE Ctheis Con A DE Citues Cy MS 2019 © ROC nw 152 cerca da natureza da qualiticade ~ {alizar 2 violencia, de invisibilizar oe 3 natura ee arses aviolncinede poral A aren heyy, menos como demarcarso de poder POC8BWAI discussion rn Erteneiescwremoae ts Teenie nem Ee peo aes cies co aconamene CET Hat ua sie he oe tee oaanan gnegne, aS ney ire G2 brocessamento do crime de femineidi fant 35 Mural or ine Ev ‘oa pecs fence vary a 99s of eon tie ed for iggeing mer tgs Sra Sinn of emg Re » | Wstrito Federal, Brazi, i Panmas-owie: Fini rer Valin. Keno: Fei 7 néstica, Familiar Violence. > Gender - Oy Sis: mos. 2 2 Brean cna se ee Se te eng ‘pas promessas de acredia min gt 22 2s promeses, f20 no sistema de justia criminal. 23 Tendon aoe 3 fe desestabilizaeao do sistema de justica criminal. 2 4. Potencialidades versus. dh tentativa de guia entre 2s tenses. 3. Focalizaio nos matios docrine reacts violencia. 4.1. Invisibilizapao da violencia, 4.2. Género como Pré-requisito, stoma fingis. Referéncias bibliograficas. Sorstete, 1. Intropugéo Maria! saiu para trabalhar, sob os protestosdo companhelro,nofimdodiaen queescolheu comemorar seu aniversério, Alguns meses antes, Mari, violenal durantea noite de natal, ndo conseguiu registrar ocorréncia contraocompath. 10, pois a delegacia disse ser feriado. Alguns de seus dezfilhos foram rcohidss a um abrigo pelo Conselho Tutelar: nao hd registros sobre porque, quantosl>- ram, onde esto institucionalmente, quem sto. Um oficiat de Justia fotacaside Maria oferecer-the a protecao da casa abrigo doze dias depoisda noteemquedh {oi morta pelo companheiro a0 voltar do trabalho, O que interesa aqueles que tem o poder de perguntar no processo judicial da morte de Marla ¢ saber qulo ‘motivo das facadas ~ porque o companheiro matara Mariana volta dela sca 1. Nome ficticio para preservar a identidade das vitimas. "eo ia nga eros ig em con pea ‘est reso ce Ceres Cima a 12 a0 9). eS eo Pave ee | Cetera ins depots de feminidio er sqg ce ‘Romicidio, no Brasil rie ide 2015, ap65 varias modificactesd aor een arco 7 luranteotramitele. Gt ea mate ver mat opotencl olen do tomate fur dgr,ave ola ctine de mincida comm ea 12g de hati edo mendonn ange ja do legal coloca qu ofeminictdioacomecequanac oa A aaa azoes da condigao de sexo feminine” sendocen eee muller BO afo doartigo de lei (G24) como sendoa cxstncade ara miliar contra armulher oua existenciade (i) ndicao de mulher’, tiserimina- edalidade qua. Pee enone eee Sn ¢ sae eri Ee snr. 5002 et ica comomonogra depontelen ep nee eee ean tl tate eae a 1/1048 je 2017, em Frade Santana/BA, no Gropo de Tstalhn de cove ABos C Obteve aprovacto do Comité de Etca em Peqasa em Cs CN emcees eomrtiteed denier Tp segue redagao: “Ar. 121, Matar lguem | Homicdo qulicado i 22a ulher por razdes da condicd de sexo feminino | .142-A~Consde- Fea exo feminino quando o crime eovove I~ volta éomesnca a a tr joctinnagioteondesdmabe( kecaae fail: ena do feminicidio €aumentadade 13 (umtergo)steamendeseocrme Fnac ngestarto ouras3 (sts meses postions oparatl-caon Ep ede 14 anos 04 maior de 60 anes ou com deficiénca I~ na presencade ra mer acendene da vitima (BRASIL, 2015), Feminicsontocumene ss SocoEsm qufendarade om, An, ona, cma concern a uaesderaapsoems seca a aa ace atlundascomeaeemieovcinedaes co A leu ohamicilo sd qld jr ume Hama ¢ . et deixa de ber: aa roe uta eusyerane-oqeeade conan tsi ppetas de csc pr viedo Onesie snd de reagan esl et mio, ea stale egismosn le lh) ~cowotoocs eM Onowsne ee Fatal or econheldosO emis erconeroseo elem gu 255 cher coments ears defog peed pogo teravem desta aagdse aati ORAST 206.92) ‘fain Dovain Femncidn ews ten Fam pean eas ra ea ra Feil eres de sa ao nis Tce rca iniSt a Bk way we oe oem nt Digitalizado com CamScanner 458 RoW BusteMAo& CHOAS COMIN 2019 © RBCCuy agp Cant eSooessoe 469 A pergunta sobre 0s motivos do crime €valoriada np sis de nomios de mulheres sobre o rico de naurizato da vidushsacio do crime do direito penal: é imy ne juin DEDERT, 1987; CORREA, 19811983), ts tencdescr Germinal saber por que o companeiro de Maras Sng th, fn ARDAN gs potencialidades da criminazacodo emiicia, configuracao do crime, no Brasil, as “raz6es da condigag qa Rh 8p Msi jzesNacionais Feminicidio:investigar,processarejulgarmor. Iteratura academica sobre andlise de processos de hong S94 fF gual DE Perspectiva de gener" oj identiicado comocrientact para tretanto,alerta quanto as dificuldades do tratamentodaecos¢emulpe 4 fe Opulher®SOn Ene judiciais na lida com feminicidio, em contraposigioas sistema de justia criminal, naturalizando violencia Cong Mf ie nallzacdo- Os processos foram analisados partic das ina modifica essaatuagio do sistema de justia frentea mulher 98) 10% 1233808 al, sob a perspectiva de arquivo (FARGE, 2009; FOUCAULT, pensados coma criminslizagdo do feminicidio. Esacriminage netic | YesdS* Mico, como resultado, debate sobre anatureza da qualifcadora Gilidadese dificuldades, segundo revisiode literatura, *°Uarpy? %5)es°H ya ou subjetiva ~oqueevou.a focalizactonos motivosd crime. Este trabalho objetivou analisar os debates processuais em 0 ecorrente da importancia dos motivos paso movimen- dades potencalidades da criminalizagio do feminicidiones meeting £54!) ahzacAo do deli no dteto penal, Entctanto, conelutse que es sos criminais por feminicidio ou feminicidio tentado no Diane etree. Pyle! rece naturalizara violencia tratando possee a dominacioda responder a questdo sobre como esses primeiros debates processes ff shit¥=HE mem como naturals nas relacbes doméstcas¢ familiares ~,in- nisten preendido o crime. Pra tanto, foram selecionadososcince pry es PO ena — deixando registros de violencias no respondidas pelo ras prox vi juaicias a chegarem, um ano e meio apés a promulgacto da let ap toler a wp menos como mato de poderemals como requistsaserem Jusigado Distrito Federal eTeritoris, por meio derrecursoemsnyir tf $e na tentativa da defesa de restringit a aplicaga de femincido.Es- ‘pbs, foi feitarevisto de literatura sobre a criminalizagio doen’ Ot raequéncias da analise dos processos sugerem a repergio das dificuldades 1a ote de justign criminal por denna eee I eau do sistema dejustica criminal por demandas genero-specticas dpsoamemcessament judicial do crime de feminiciio no Distrito Feder aquepossbllitou pensaras dficuldadesepotencialidadesdacrminaiseas tenclalidades dividem-se em dois grupos de promessas:acredtacio nests justic criminal (proteger mulheres, prevenirnovas violenciasepunirupsons ¢ desesabilizacio do sistema de justia criminal (denunciar, conheerehewe, rmortes de mulheres). Asdificuldades da criminalizagio dominic sow ‘vergéncias entre a fangao declarada ea fngo real da pena (ANDRADE, 210 Stcaindividualizadora do direto penal eas demuinetas da literatura ue amin 11, Metodologia sxe rabalho se originou das inquietagdes da pesquisadora apés revisio da tetra académica que levou a identificacdo das tenses apresentadas entre as, [ealdades eas potencialidades da criminalizacao do feminictdio, Conformese tinonstara, entre as potencialidades de acreditacdo e desestabilizacio do SIC uetiminalizagao do feminicfdio cas dificuldades dessa criminalizagio(diver- fcasentre fungdes da pena, ética individualizadora do direito penal eo risco ‘eaturalizagao da violencia) ha tensoes, ‘nalisar os debates entre dficuldades e potencialidades da criminalizacto do feninicdio ~ tensionadas ~ nos primeiros processos-crime por feminicidio ou leinicidio tentado no Distrito Federal foi objetivo deste trabalho.* No inicio da 5. Feminiedio, enquanto categoria, objtiva marcar a morte de mulheres, jpeio Aierenciaosujeito passivo do tipo penal homictdio", mas ambém eens como mulheres morrem. Com ess termo, Marcela Lagarde procuou animes «iar alenitnciaestatl para com essas mores de mulheres no México, ove ttt pode ser estendido a outros pases ltino-americaros,“O femincd secs «que as autoridades omissas, neligentes ou em conluio com es agressrsex=n bre as mulheres violencia institucional ao obstaculizar seu acesso us <0 9 onrbuem para impunidade feminiidioimplia rari pone ito, jt que o Estado ¢incapaz de garantiravida de mulheres, de Perfelto penal raz enraves, A motiacto paso cimee jalizante 00 © 9 puramente individuals: 0 genero governaa vida de fe nao 38 ‘ ie bases maiores que as individuais. A permissio deo visto como propriedade de outrem, aser controla- | ec 0 ser xdo fernin'n® ia ser voltado para a familia/maternidade é,inclusi- a pgs foe dociliza i sieida pelo Estado por meio desuaspoliticas publics, romessas de acreditacao no sistema de ustica criminal 1s da criminalizagdo do feminicidio se divdiriam em pro- iaacao no sistema de justia criminal ede desestabiizacio do se inal, As promessas de acreditagao trtam da protego de Mie novas violéncias ¢ puni¢ao dos matadores. Ela, como fio das fungOes classicas da pena por meto da crimina- lecao, retribuigdo, prevencio geral e especial. Maior srnvgeria capaz de desestimular a pratica de feminicidos e proteger wuca intimidacio ou impunidade dos matadores, dat a ne- mais. E as mulheres ndo estariam protegidas da mort por Jim se explicaria a necessidade de, intimidando pela crimina- yrnasde controle, mas jermulheresa margem do Estado ‘necessinio sempre desconfar heres ou resposus d€ heres: “sem -estando os movimentos d ess sno Dia Fea, robe ea RT ferro 2078 Digitalizado com CamScanner a 476 Res Bese of CNOA CMS 2019+ RCC Gre Scormce 4p _por meioda criminalizacto do feminicdigy insulicientesounaauséniciadejulgamento, Nese ° Distrito Federal, anterior lei dofeminicidio,tascore 1°" og, ela go s}Cnaprotsto a mulket Esapossbildaden segs tarammulheresem situacio de violencia domésticae oa pe aga My #%630°F ho, mas équestionsvelPeapropriaformacomqueos}Caede, clescostumavam ser punidos,ecom penasalias (DINI2, cpr tage Pps mente se eal (ANDRADE. 2007) sede. ssamesmapesqusaapontauinagrandecirapeig oe es da criminalizaco 0 Feminicii presenads as Iheres no DF entre 2006 e 2011 nao saem da esfera de oo eno no SIC proteger mulheres, punirmatadons preventer inves z nsbesrenteasdiiculdadesdecomoosjeeeen i ao se saber quem € 0 matador (DINIZ; COSTA: GUMIEg. et Pe igeat! sn te GUMIER}, eo raze nueasdl sera As RU 2015) guste as eaitago podem 8 ideradas maisingénuas 0 niolevaren apontado, 20 menos no DF nao parece haver impunidade 5) Ou mortes violentas de mulheres. Parece haver,na verdade ne tine Se rente descumprimento das fungbesclissias do die penal, co, que uma forma de impunidade," mas qucngo podcast inet Fan mm leiouaumento de pena, ja que essa éapenasa fase final doproceser Pty de desestabilizago do sistema dejustia criminal ‘morte. Assim, a presengade uma ei que criminalizaofeminicin tng nével na perspectiva da punicdo dos matadores, dianteda maa" néstico nacional quanto 20 contextode impunidade'™ S**2deayge tes nos promessa5| 13 eo ase desestablzao desconfiam dati doJCramanaten- spose da pelo gener0e propdem criminal do emma we ; eee ae enero eee ingore oe denuncia e nomeao polic ds mores de mle meso pars erespr de edusisuspralcx shneesre enon ro camhece je desestabilizaio,o femincdioesaraasoados unser triado direito penal nto édigna de confianga ANDRABE toe eset. 1s425POT Siva da dominacao de mulheres pelos homens,a mesma estrut- 2007 sea evidencias de sua capacidadede feivamente protegermulersdam tf Sysiiltou que Maria ndo consuls exis ocomtnciada vinci, li ws sibilit pe possibil jho sob protestos do companheiroemorressena voliaacasa.A Felacio ao castigo do matador, em primeiro lugar, sabe-se pouts seb peo ab ‘carte no pats e por quais tipos especificos de impunidade senasarent es je aeao dosistema de justica criminal, assim, procuraquestionaresta- P: pe Pt ia union cabilzac ae Jobe re funcionamento do direitopenaledoS)C,aparirdeumaaplca rizado, Portanto, também para o problema da impunidade, no evdenene pelo dentro dos movimentos feministas (ANDRADE, 2007). Quanto a prevenir novas violéncias ou proteger mulheres por mei di minalizacio do feminicfdio, o argumento € 0 de que vitimas de ameaadei nicfdio ou de feminicidio tentado poderiam ser protegidas, prevenaio ns violéncias, pela aplicacao de medidas protetivas e preventiva previsusmld Maria da Penha (CASTILHO, 2015). Essa argumentacio acreditaque aie ria da Penha é mais protetiva—o que de fato ela, literalmente, €— massuils dios, proteger mulheres e responder aoscrines conta mile eciganaando repeti as dendincis fits pla literatura dsjulpmenosta ee emesterestipos ou no maior ou menor cumprimentode papisseraise ae pe partes (CORREA, 1981 e 1983; ARDATLLON; DEBERT, 1986). manual ‘Diretrizes Nacionais: Feminicidio ~ Investig, Process eal isMortes de Mulheres sob Perspectiva de Genero, da Secretaria de Pli- faqs as Mulheres (BRASIL, 2016) traz pardmetos lars prase pensar um rededesestabilizar o sistema de justica criminal, ciene das ifculdades des- sesstabilizagio, Sua perspectiva € tendente ética de desestabilizaio por- worena os agentes de justica que Iidardo com o crime quanto necesidade ‘secompreender feminicidio como problema estrutural. Ponto, daailise 14, Ver Andrade chama esta forma de imunidade (ANDRADE, 2007) 15. A questto da impunidade €complexa: pode estar na investiga, no presete cu no julgamenta das mortes, Autoras como Mariza Corts (1983) ees terpretacdes baseadas na otica de crime passtnallevariam ano puri creanet) matador sso nio.ealteariapor ll aumentando pena,massim, peasant? dos jalgadores. x, 16. Os rabalhosrecentes que trataram de fminiidio, antes da criminals Bers no Brasil (PAZ, 2016; MARGARITES, 2015; GOMES, 2010) buscar _rocessos com os marcos temparais da Lei Maria da Pena, promulg oe as a compara maria de mlhereentte dee dale, Ela € vista como uma forma de se evitar a morte de mulheres, pela medidas trade protege de ening de aye de pt bet ede | _ Pliers dnrmsisan conn a of cor Ee” | Eee — anaeaaior EL ae Saale a "ine Raa epacmpasas mete Digitalizado com CamScanner

You might also like