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Publico e privado na satide Mario César Scheffer Ligia Bahia Introdugdo Os sistemas de satide contemporineos sio caracterizados pela atuagio de agentes piiblicos e privados que prestam € realizam agoes € servigos de promogio, prevencio, reabilitagdo tratamento. Nas atividades assisten- ciais, hd diversos formatos ¢ modalidades de composicio de equipamen- tos, insumos e recursos publicos ¢ privados. A situacdo socioeconémica, a histéria ¢ as leis do pafs, ¢ as condigdes politicas, mediadas pelas forcas sociais, por negociagdes e acordos entre diferentes interesses de governo, mercado ¢ sociedade, sio aspectos que contribuem para a definicao da natureza mais publica ou mais privada dos sistemas de satide. No entanto, sdo determinantes a forma ¢ o grau de intervengio estatal na regulacio da oferta e da demanda, ¢ na definigao de recursos pitblicos e Privados envolvidos com as redes de cuidados e servicos de satide. A maior intensidade das acdes desempenhadas pelo estado normalmente mantém cortespondéncia com a extensio do direito a satide. Paises com sistemas universais de satide, nos quais quase toda a popu- las20 possui coberturas intermediadas por politicas estatais, nio profbem © funcionamento de servigos privados. No entanto, esses mesmos siste~ ieee podem abrigar distintas modalidades privadas de cuidados @ " pean nstituigoes privadas, como empresas de planos ist sates ais ¢ cary Rin so responsiveis ou intermediam as relagoes ae ene on iments de sade; ha unidades assstencias privadas, como opariay ae bulatérios ¢ servigos de diagnéstico € yaaiepearree Médicos 2 a modalidades de oferta ¢ consumo, ee cae regulado, Ontoldgicos, de fisioterapeutas, nutricionistas, sy * Pelas respectivas corporacoes profissionais. , -M decorréncia das complexas inter-relagdes existentes nos sistemas de Salide ‘ =, 4 ‘ Snvolvendo recursos humanos, fisicos ¢ financeiros, no ha um pals 219 Digitalizada com CamScanner Parte VIII ¢ Relacao publico-privado cuja totalidade dos cuidados & saiide seja desempenhada exclusivament agentes puiblicos ou apenas por instituigdes privadas ¢ profissionas liber ae ioe eldscos de sistemas de satide, usados para enquata Ee lidades sempre mais diversificadas que seus rétulos, nio sio Purameng piiblicos ou privados. Nos sistemas universais de satide, 0 estado exerce forte poder de regular o financiamento, @ gestdo € a prestacao de servigog Tm sentido oposto, nos denominados sistemas liberais, privados on orien. tados pelo mercado, os agentes € as instituigdes envolvidas no consumo de puvidades assistenciais possuem maior liberdade de atuacio. Nos sistemas em que a satide é responsabilidade publica, o estado geralmente distingue 6 papel dos pagadores ¢ dos fornecedores de cuidados de satide, criando regras e autorizando previamente o funcionamento dos mercados. (© setor privado da satide (MACKINTOSH ct al., 2016; MCPAKE ¢ HANSON, 2016; MORGAN et al 2016), principalmente em paises de baixa e média renda, é extenso ¢ diversificado, variando de drogarias que vendem medicamentos no varejo, pasando por médicos ¢ profssionas “Yc satide liberais, até grupos hospitalares privados ¢ grandes empresas de planos e seguros de satide. Os agentes do setor pri termos de tamanho, objetivos € qu: privado subqualificado que busca ven da; h4 provedores privados, mas sem rias escalas ¢ atividades; ha desde pr: porte até um robusto setor hospitalar comerci econdmicos. Para a identificagao de subsistemas privad satide podem ser consideradas as proporgdes das seguintes a ticipagao das fontes privadas no gasto com satide; cobranga pela utilizas#® de servicos no setor piiblico; participagio do setor privado nas atividades de grandes gt vado da satide sao altamente heterogéneos, em alidade. Em muitos paises, ha um setor der servicos a pessoas de menor ren- fins lucrativos, que operam em vi cas privadas de pequeno ¢ métio ial lucrativo ligado a grupos los no interior dos sistemas de situagdes: pa assistenciais de Atencio Priméria e Secundéria; presensa pos econémicos na rede hospitalar privada e no mercado de plano® ¢ satide (MACKINTOSH ct a/., 2016). eraifick ‘i O setor privado nao existe por si s6 e, no caso de sistemas © dos Hagmentadon, somente pode ser compreendido dentro 4° co ae — ey sdude, uma vez que os setores piiblico © Pe ae Pati as auonlipmpaiiiar ania ddesempenho do $0 ade igualdade de Siac gone baatiie em trés dimens6cs: ae st" ace See coe As caracteristicas dos pacientes, cia erie a piiblico, e a regulagao da saide influet tados, Nao é ade a fc satide prestados pelo setor privado ¢ em oe ‘quado, assim, focar o setor privado unica ¢ isoladan is pois seu funcis funcionamento requer resposta regulatéria, que leva & 220 4 Digitalizada com CamScanner 11.¢ Pablicoe privado na satide o fancionamento, a organiza¢io © o financiamento do sistema de satide como um todo, Publico e privado no sistema de satide do Brasil Em 1988, a Constituicio Federal do Brasil definiu sate como um direito de todos ¢ dever do estado, e instituiu o Sistema Unico de Satide (SUS), que prevé acesso universal a toda a populacio, além de permitir a livre partcipacao da iniciativa privada na saiide. A Constituigao é expressa aoeestabelecer que, na condicZo de relevincia publica, os servicos de satide devem se submeter & regulamentacio, a fiscalizagio e a0 controle do poder pablico, sendo executados pelo estado — Por meio de servigos Prdprios, conveniados ou contratados ~ ou pela iniciativa privada, O sctor privado participa do sistema de satide brasileiro de forma com- plementar, por meio da venda de insumos ou da prestagio de servicos ao sistema pablico; ou se organiza para atender planos de satide ¢ clientelas particulares, Parte do setor privado atende usuarios do SUS, por meio de contratos © convénios com gestores piiblicos. Outra parte do setor privado atende prioritariamente clientelas especificas. Em 2013, aproximadamente 73% dos brasileiros afirmavam usar ex: clusivamente o SUS, € 27% dos brasileiros (IBGE, 2013), além de usarem © SUS em determinadas situagdes, também tinham planos e seguros pri- ‘ados de assisténcia médica e hospitalar, sendo mais de 80% deles ligados aplanos de satide coletivos oferecidos por empregadores, na condigao de beneficio atrelado ao contrato de trabalho. A proporsio de pessoas que tém plano de saiide no Brasil mantém-se ‘stivel nos diltimos 20 anos, entre 25% a 30% da populagio, com oscila- $8es sobretudo em fangao da situagao econémica do pais e do nivel de <™Prego. A populaco que tem planos de satide, em comparagio Aqueles Se ndo tém, apresenta mais anos de escolaridade ¢ maior renda, reporta Shor estado de satide e est mais concentrada nas capitais ¢ nas Regiées ul € Sudeste (IBGE, 2013) uem te) atendi m plano de saide também utiliza frequentemente o SUS, em "Mentos de urgéncia ¢ emergéncia, de alta complexidade e ie de : Tago essarcimento ao SUS. eee ores A? iss0, movimentos organizados de defesa dew Patologias ¢ deficiéncias tradicionalmente excluidas da cobertura jos porta- 225 — Digitalizada com CamScanner eo ae Parte VIII « Relaco publico-privado dos planos - a exemplo dos grupos de luta contra a AIDS, de renais nicos e de saitde mental Jevaram a pauta, até ento pouco abork” para as instincias de controle social do SUS, em especial para o Coma Nacional de Satide (CNS), Cabe ressaltar o interesse, naquela ocasio, gr conselhos ¢ entidades representativas de profissbes da satide (odontol gia, psicologia, fisioterapia, dentre outras) na ampliacio das coberturas para além da assisténcia médica, via regulamentagao, Destacaram-se, nese momento, a auséncia e 0 afastamento de duas liderangas importante; ¢ movimento sindical ¢ o movimento sanitério. Nos anos que precederam a aprovacao da lei 9.656 (BRASIL, 1998) houve uma coalizio de interesses em torno da necessidade da regulamen: tacio do segmento de planos de satide. Porém foi a unio entre médicos ¢ consumidores, profissionais de saiide ¢ usuarios que garantiu certa vo- calizagao politica, repercussio nos meios de comunicagao € respaldo da opiniao publica. ‘Assim, em 1998, 10 anos apés a Constituinte, ¢ depois de intenso de- bate ¢ tramitacio no Parlamento, a lei dos planos de satide passou a dispor sobre varios temas, sintetizados no Quadro 11.1. oss statusdesaide (suse Prbem a nega decberturaem rao do stars de sade icelmenteimpedmo padres de deiciécas) aumento do peo pata clntes com mas de 60 anos hi mas e 10 aos nolan Apis revisin passa incl 5 pres dos plans abs ef ape aunerd esclna para mloes de 60 anos Taner decoberurespaa—Garatem a manutngio de cberurs para aposentadoseeserpregacs x enFo aposeniadosedeserpegados determina) para os partciantes de planos empresa Lesiesedoencspreeisemes —__Vedam acs decobertura less prexsterts aps 4 meses deans Eventos cobertos Cobertura pare todas as doencasinluides not Cétigonveaconal de Does deve abranger a ela dernsplnesezendmento ats problemas rea oe leagiorestnge ascetics de deterinades cede ea ose t resend tabs vigents em contatosantgns = Liitesp atlago desenips Proce de nego de cobetuasem aio da quanta edo ar msm fe desaide procedimentos, dias de intemacao et ame ‘Resarcineto 200 Resarcmento das servos prestads a lentes ce plans desi pesos ts ‘espectosconats em estbelecmentos vinculads 2050S 0 Sistema nico de Sade. Fone: rash (1998) Para implementar a legislagio regulamentadora, foi criada 4 Agen! Nacional de Satide Suplementar (ANS) pela lei 9.961 (BRASIL, 2000) [ANS € uma autarquia especial com autonomia administrativa, finan. patrimonial e de gestio de recursos humanos. Com independent decisdes técnicas e mandatos fixos de seus diretores, além de promo A Digitalizada com CamScanner 226 yr 11 ¢ Publicoe privado na satide piblico, deve normatizar, controlar ¢ fiscalizar as ativi- 4 defe rarantem a assisténcia supletiva a satide. dades a eos sui instrumentos legais e administrativos para promover a de- 7 interesse publico na assisténcia suplementar a satide, regulando as 2 oras setorias, inclusive quanto 2s suas relagdes com prestadores ¢ con- ntribuindo para o desenvolvimento das agdes de satide no pats. jidores, CO! cumin erences da ANS estio exposta no quatro 11.2. fesa do interesse ‘QUADRO 11.2. Competéncia da Agéncia Nacional de Satide Suplementar (ANS). i Jz um ld procedirios€everos que devem costar d oferta de Servis das, stds [esrseinis encase ss cbeuasbigatees \ Ejaeleet norma thas ado e tla pels empress de dps pr oradonaeto ; do acesso de uso de servicns como autorizacbes para realizacio de procedimentos, solicitaggo de segunda j apni snes e mda de conta agndsticaeteraputia et. Conceituar doenas ¢lesbies preexistentes ¢resquardar a cobertura para 0 atendimento a eventos & Elgiade ecrtncas vrronatescdrengae processes orexiondos coma precstnc, bem como observa ds prams silts de leo presets | Digitalizada com CamScanner = 1iaee ee org.br/index-phptoption=com_content8view-articlektid=27696: 5-21-06-49 &ecatid=3 RASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATISTICA (IBGE). Pesquisa ‘Satide (PNS). Rio de Janeiro: IBGE; 2013. MACKINTOSH, M., 6 al. What is the private sector? Understanding private provi- cen the health systems of low-income and midle-income countries. 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