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Universidade de Uberaba
Reitor
Marcelo Palmério
Editoração e Arte
Produção de Materiais Didáticos-Uniube
Editoração
Patrícia Souza Ferreira Rosa
Revisão textual
Erlane Silva Nunes
Diagramação
Jessica de Paula
Ilustrações
Acervo Uniube
Projeto da capa
Agência Experimental Portfólio
Edição
Universidade de Uberaba
Av. Nenê Sabino, 1801 – Bairro Universitário
CDD 370
Sobre os autores
Carlos Rodrigues Brandão
Bons estudos!
Capítulo
O humano no homem:
pressupostos teóricos
1
Introdução
Nenhuma época conseguiu, como a nossa,
apresentar o seu saber em torno do homem de
modo tão eficaz e fascinante, nem comunicá-lo
de modo tão rápido e fácil. É também verdade,
porém, que nenhuma época soube menos que
a nossa que coisa seja o homem. Jamais o
homem assumiu um aspecto tão problemático
como em nossos dias.
(Martin Heidegger)
Objetivos
Ao final deste capítulo, esperamos que você seja capaz de:
• descrever e discutir os diferentes aportes teóricos que
conceituam homem, humanidade e cultura;
• reconhecer os processos de produção e apropriação da
cultura enquanto aspectos modeladores da condição
humana;
• compreender as teorias do desenvolvimento humano, suas
relações com a aprendizagem e os fatores que intervêm
nesse processo;
• explorar as conceituações que conduzem à compreensão do
homem como sujeito histórico, político e social.
Esquema
1.1 O que é o ser humano?
1.2 O ser humano e os outros seres vivos
1.3 O desenvolvimento humano
1.3.1 As teorias do desenvolvimento humano (inatismo,
ambientalismo e interacionismo)
1.4 O ser humano: sujeito e objeto do conhecimento
1.4.1 Do senso comum ao conhecimento científico
1.5 O ser humano: um ser histórico, político e social
1.6 Considerações finais
4 UNIUBE
Ontologia
SAIBA MAIS
Idem
Idem
Idem.
Humanizar
O homem
Descobrindo em suas próprias inexploradas entranhas
A perene, insuspeitada alegria
De con-viver.
(DRUMMOND, 2004, p. 718-19)
EXPLICANDO MELHOR
PONTO-CHAVE
interior que faz com que um animal execute, de modo não racional,
atos adequados às necessidades de sobrevivência própria, da
sua espécie ou da sua prole. É o que se nota, por exemplo, na
atividade das abelhas nas colmeias. Entretanto, algumas espécies
apresentam comportamentos mais flexíveis, como no caso dos
animais domésticos. Nestes, os eventos de imprevisibilidade dos
comportamentos impulsionam, inclusive, a crença de que estejam
conscientes de sua reação. Nesse ponto, há que considerar o
seguinte: embora alguns animais apresentem traços de inteligência,
o uso da razão, enquanto faculdade que permite o encadeamento
de raciocínios que conduzem uma determinada compreensão
e a elaboração de juízos, diz respeito a uma característica
exclusivamente humana. No campo da razão ocorrem as relações
entre as exigências lógicas humanas e os dados provenientes do
mundo dos fenômenos e da existência, conforme percebidos pelo
homem. A esta razão humana, chamamos de racionalidade.
Notamos:
O ser humano pode ajustar-se a um número maior
de ambientes do que qualquer criatura [...]. Mas fogo,
roupas, casas, trens, automóveis, aviões, telescópios
e armas de fogo não são parte do corpo do homem.
Eles não são herdados no sentido biológico. O
conhecimento necessário para sua produção e uso é
parte do nosso legado social. Resulta de uma tradição
acumulada por muitas gerações e transmitida, não
pelo sangue, mas através da linguagem – fala e
escrita. (CHILDE, 1975, p. 40).
SAIBA MAIS
PONTO-CHAVE
vivos é a cultura, e, com ela, a consciência que ele possui de sua própria
condição. Segundo Freire (1967, p. 39):
As relações que o homem trava com o mundo
(pessoais, impessoais, corpóreas e incorpóreas)
apresentam uma ordem tal de características que as
distinguem totalmente dos puros contatos, típicos da
outra esfera animal.
SAIBA MAIS
SINTETIZANDO...
sentido, afirma que “o bom senso ou o senso comum naturais são, pois,
tomados com a determinação do pensamento puro. É próprio do sentido
pré-julgar sua própria universalidade e postular-se como universal de
direito, comunicável de direito” (DELEUZE, 2006, p. 194). Assim, supor
que o pensar faz parte da natureza humana parece dar, por direito, uma
afinidade natural com a verdade.
PONTO-CHAVE
Para Arendt (2005), cada criança que nasce é uma novidade: vem ao
mundo alguém que é diferente de todos os que já viveram antes dele
e dos que convivem com ele. É precisamente a singularidade como
potência presente em cada ser humano que faz com que todo nascimento
reflita uma realidade sempre nova, inédita. Não se trata, portanto, de fins,
mas de começos. Ser capaz de começar algo, de intervir naquilo que
já existe, (re)inventando, (re)criando. Esse processo, atravessado pela
relação educação, trabalho e cultura, permite ao homem revelar-se como
singularidade no mundo que compartilha com os outros e por meio do
qual se qualifica como humano.
Resumo
Referências
COLINVAUX, Dominique. Aprendizagem. In: SOUZA, João Valdir Alves de; GUERRA,
Rosangela (Org.). Dicionário crítico da educação. Belo Horizonte: Dimensão, 2014.
DELEUZE, Gilles. Imanência: uma vida. Revista Educação & Realidade (Dossiê
Gilles Deleuze), v. 27, n. 2, jul/dez. de 2002, p. 10-18. Disponível em: <http://seer.
ufrgs.br/educacaoerealidade/issue/view/1574/showToc>. Acesso em: 03 jun. 2019.
Introdução
Neste capítulo, vamos refletir sobre a educação no paradigma
educacional tradicional e, sobretudo, procurar fundamentar a
questão: o que está mudando na educação? Somos autores de
diferentes formações: antropologia, o Carlos; pedagogia, a Iolanda;
e filosofia, arte e educação, a Sueli. Em comum, o fato de sermos
educadores com visões de mundo semelhantes e uma grande
vontade de compartilhar nossa busca de conhecimento. Entre
muitos educadores, cientistas, artistas, filósofos e poetas que nos
formaram ao longo da vida, selecionamos alguns para este diálogo
sobre a transição de paradigmas na educação. São esses os
nossos referenciais: Cora Coralina (1988), Nikolaos Gyzis (1885),
Maria Isabel da Cunha (1998), Pierre‑Auguste Renoir (1889),
Cipriano Carlos Luckesi (1991), Dermeval Saviani (1987), Maria
Cândida Moraes (1987), Paulo Freire (1970), dentre outros.
Objetivos
Esquema
Não será difícil verificar que sobre alguns supostos hoje tornados
comuns e consagrados, procuramos criar algo ao mesmo tempo atual
e consistente. Não há, repetimos, uma fonte única nem uma filiação
mono dirigida. Mesmo das ideias e sugestões que foram ouvidas,
nós as tomamos com a liberdade que o teor de nossos próprios
diálogos ensejou desde os primeiros dias de trabalho. Este projeto
pedagógico e os dos vários autores lidos, debatidos e referidos
aqui, foram sempre um conjunto rico e relevante de fundamentos
e de sugestões. Nunca uma palavra final. Acreditamos que esta
“palavra final” foi e prossegue sendo das pessoas responsáveis pela
educação na Uniube.
SAIBA MAIS
poético. Cora Coralina faleceu em 1985, em Goiânia, GO, cidade que lhe
deu o título de Doutora Honoris Causa, em 1983, por meio da Universidade
Federal de Goiás.
A representação da escola
SAIBA MAIS
SAIBA MAIS
Foi um dos mais célebres pintores franceses. Para ele, pintar era sempre
exprimir a beleza e a alegria proporcionada pelas cores. Seu maior objetivo,
como ele próprio afirmava, era conseguir criar uma obra que causasse deleite.
66 UNIUBE
Figura 2: A leitura
Fonte: Renoir, pastel sobre papel, c. 1889.
<http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:La_Lecture.
jpg>.
SAIBA MAIS
O que é a cultura?
SAIBA MAIS
Na pedagogia freireana, há
alunos para adaptarem‑se a ela. Ele acredita que está fazendo o melhor
para os discentes, uma vez que os está preparando para viverem na
sociedade.
SINTETIZANDO...
A pedagogia progressista
SINTETIZANDO...
Verificam a aprendizagem
Verificadoras e
a partir do processo de
Avaliações medidoras dos resultados
compreensão, reflexão e
alcançados.
crítica dos alunos.
tradicional;
libertadora;
Práticas renovada progressista;
libertária;
pedagógicas renovada não diretiva;
crítico‑social dos conteúdos.
tecnicista.
SAIBA MAIS
Fritjof Capra
Se você olhar com atenção, verá que os filmes, as telas dos pintores,
as músicas dos compositores, as poesias, os romances, os cantos e
também as peças de artesanato expressam a visão de mundo de uma
determinada época e o paradigma que os influencia.
Isso não significa que os mais simples de agora não tenham outros
valores: eles são mais fáceis de fazer, de lavar e passar e mais baratos.
Vamos observar com atenção dois aspectos:
• primeiro, há um processo de transformação do pensamento, dos
hábitos e costumes e não um processo de rompimento;
• segundo, as coisas de ontem não eram nem melhores e mais
bonitas e nem piores e mais feias do que as de hoje. Elas atendiam
às possibilidades e às necessidades da época.
SAIBA MAIS
Nem apenas no aluno nem somente no professor, mas nos dois; ou,
melhor dizendo, na relação que se estabelece entre aluno e professor. A
ênfase está, portanto, no “e”: professor e aluno.
conhecimento
professor e aluno
SAIBA MAIS
SAIBA MAIS
PESQUISANDO NA WEB
<http://www.picassowebgallery.com/image/tid/516>.
SAIBA MAIS
2.5.1.1 Dicotomias
• o certo e o errado;
• o visível e o invisível;
• o doce e o amargo;
• o feio e o bonito;
• o ensinar e o aprender;
• o sujeito e o objeto;
• o país desenvolvido e o país subdesenvolvido;
• o bairro dos ricos e o bairro dos pobres;
• o estar na moda e o estar fora de moda;
UNIUBE 85
No livro A escola com que sempre sonhei sem imaginar que pudesse
existir, o conhecido escritor brasileiro Rubem Alves (2001) apresenta
narrativas e depoimentos sobre uma escola situada no norte de Portugal,
a cerca de 30 km da cidade do Porto, numa simpática vila que se chama
“Vila das Aves”. É a Escola da Ponte.
SAIBA MAIS
Você poderá saber mais sobre a Escola da Ponte visitando o site: <http://
www.eb1‑ponte‑n1.rcts.pt/>.
SAIBA MAIS
Todo o escrito tem uma história do que escreve. Não fugiremos à regra
e se verá que temos os nossos motivos.
Todo esse escrito a seguir sobre o “mutirão” foi publicado no livro A partilha
da vida (1995), de Carlos Rodrigues Brandão e este recorte está entre as
p. 247 e 250.
Do modo costumeiramente praticado até hoje nos sítios
e nas fazendas do Alto Paraíba em Goiás, o mutirão
é uma modalidade de prática comunal camponês
que associa o trabalho produtivo e a convivência
solidária, o serviço e a festa, o resultado eficaz e
a arte, a demonstração ritual do saber e do afeto
(grifo nosso) e a possibilidade, também ritualmente
controlada, do exercício da competição e mesmo do
conflito.
A sua fórmula é simples e contém todos os elementos
do dom: dar, receber, retribuir.
Há um convite regido pela necessidade de um trabalho
coletivo, associado ao desejo de realizá‑lo não por meio
de empresa paga, mas por meio de uma coletivização
de um serviço vivido em um dia, como um rito.
Há uma resposta obrigatória ao convite, por razões de
parentesco, vizinhança, amizade, associada ou não
a uma dívida anterior e equivalente de parte de um
convidado (quem o convida participou antes de um
mutirão em suas terras).
Há uma oferta obrigatória de alimentos dados pela
família anfitriã, em geral composta de um grande
almoço, um jantar, um café com biscoito e aguardente
à vontade.
Nos últimos tempos (nos últimos cinco, sete, dez anos), muita coisa
tem sido dita e escrita e também praticada no esforço de associar o
trabalho de pesquisa na sala de aula e o trabalho ligado ao ensino
e à aprendizagem. Até pouco tempo atrás, pesquisa e docência
eram consideradas como atividades próximas, mas separadas
e, em alguns casos, como atividades bem destacáveis umas das
outras. O professor que ensina, que trabalha com seus alunos na sala
de aula ou fora dela, e muitas vezes fora dos tempos do calendário e dos
afazeres didáticos, então se dedica ao estudo e, quando pode, a algum
tipo de pesquisa, sobretudo quando é um professor de universidade.
qualquer que seja o seu intento, até mesmo uma finalidade associada
apenas ao autoaperfeiçoamento de uma pessoa, de um educador, de
um pensador.
Temos trabalhado muitas vezes essa ideia em nós, entre nossos alunos
e do mesmo modo quando falamos a educadores, de que essa atividade
96 UNIUBE
SAIBA MAIS
Professor reflexivo
Esse período de planejamento de curso já deve ter sido vivido por você
que é professora e professor. Ou então, já foi observado por você em
alguma escola. Como se realizava esse trabalho?
Esse olhar não menos sério, mas mais generoso e abrangente sobre os
cenários de pesquisa, ele tem também a sua razão de ser nessa intenção
de contrapor essa ideia de investigação docente a uma visão crescente
UNIUBE 99
IMPORTANTE!
SINTETIZANDO...
Pense em algumas.
Você concorda?
UNIUBE 105
Pesquisas que podem ser feitas muitas vezes em alguns dias, mas que,
de alguma maneira, as pessoas, ao construir aquilo, estão vivendo ali
a experiência essencial da educação: a integração entre a vivência do
cotidiano e a reflexão crítica e alargada a respeito desse cotidiano e dos
círculos de vida, em todos os planos, que o cercam e que o estendem
mais além. A confiar nos seus saberes criados por meio da participação
de situações de pesquisa, mas também, e com muita relevância, um
aprender a pensar criticamente por meio do processo de construção dos
seus próprios saberes.
IMPORTANTE!
Vale destacar!
EXEMPLIFICANDO!
SAIBA MAIS
Resumo
Referências
ASSIS, Joaquim Maria Machado de. Conto de Escola. Disponível em: <http://www.
dominiopublico.gov.br/download/texto/ua000191.pdf>. Acesso em: 16 mar. 2010.
ALVES, Rubem. A escola com que sempre sonhei sem imaginar que
pudesse existir. Campinas, SP: Papirus Editora, 2001. Disponível em: <http://
images.google.com.br/imgres?imgurl=http://1.bp.blogspot.com/_2Og5actjAik/
Sa7eHxK5sRI/AAAAAAAAE28/BAQbUchiHi8/s400/Vila%2Bdas%2BAves%2B024.
jpg&imgrefurl=http://lucy-natureza.blogspot.com/2009/03/escola-com-
que-sempre sonhei.html&usg=__VOXsZIztAqhJbXVCOrR_TSC6dJM=
112 UNIUBE
&h=300&w=400&sz=47&hl=ptBR&start=16&um=1&tbnid=waWfos1mJ4
e15M:&tbnh=93&tbnw=124&prev=/images%3Fq%3Descola%2Bda%2
Bponte%26hl%3Dpt-BR%26um%3D1>. Acesso em: 12 out. 2009
CORA CORALINA. Meu livro de cordel. 8. ed. São Paulo: Global, 1998.
VELÁZQUEZ. Las meninas, 1665, óleo sobre tela, 310 X 276. Acervo
Museu do Prado Madrid, Espanha. Disponível em: <http://pt.wikipedia.
org/wiki/As_Meninas_(Vel%C3%A1zquez)>. Acesso em: jan. 2010.
Capítulo A formação do pensamento
3 crítico
Introdução
Objetivos
Esquema
3.1 Filosofia e Educação: definindo conceitos
3.2 O problema filosófico e o problema pedagógico
3.2.1 A Filosofia como elemento do processo de ensino-
-aprendizagem
3.3 Escola: experiência e memória
3.4.1 O papel da escola no contexto brasileiro
3.5 Considerações finais
PONTO-CHAVE
Por seu lado, a palavra reflexão, originada dos radicais latinos re, outra vez,
novamente; e flexus, dobrado (derivado do verbo flectere, dobrar), enuncia
o processo mental em que nos movimentamos sobre as dobras do nosso
próprio pensamento (LALANDE, 1999). Trata-se da disposição de (re)ver
o já pensado; (re)pensar e colocar em questão os próprios fundamentos
do conhecimento. Cumpre destacar, conforme corroboramos as ideias de
Deleuze e Guattari (2005), que a filosofia não é necessária para refletir
sobre o que quer que seja: refletir não é uma prerrogativa da filosofia, mas
a propriedade comum de qualquer área do saber.
constitui com o mundo, e com aquilo que lhe parece problemático; (ii)
se assumimos o problema como aquilo que afeta o homem – razão dos
espantos que lhe são provocados pela existência –, o processo criativo
de inserção no mundo pelo pensamento é um processo naturalmente
filosófico à medida que provoca desencontros, rupturas e força criações.
Compete afirmar que a educação é uma prática social, e, como tal, existe
em toda e qualquer sociedade humana, em todo tempo e lugar. Desde os
agrupamentos sociais mais primitivos a educação já se manifestava como
uma ação intencional orientada pelo conjunto dos valores que permitem
122 UNIUBE
EXPLICANDO MELHOR
Por seu lado, a educação escolar diz respeito aos processos formais de
escolarização, de construção e aquisição de conhecimentos na escola.
Essa perspectiva nos leva a reconhecer a educação escolar como uma
dimensão que se encontra contida na educação, ou seja, como a fração
de um fenômeno que “se atualiza em um estado de coisas e em um
estado vivido que fazem com que ele aconteça” (DELEUZE, 2002, p. 16).
Assim, ao pensarmos a escola como instituição social, o fazemos pelo
viés de uma concepção que temos de educação, o que, por seu lado,
implicará diretamente as relações humanas e de aprendizagem.
UNIUBE 125
PONTO-CHAVE
A filosofia não é ciência e não é arte e, por isso, não pode ser confundida
ou substituída por elas. Cada uma dessas potências, guardando-lhe o que
é específico, delimita suas fronteiras epistemológicas e suas condições de
existência. Os signos emanados da filosofia, da ciência e da arte convidam-
-nos, então, a experimentar o pensamento de modo intenso e não linear; a
vivê-lo como expressão de um exercício que, permitindo-nos ir além do já
pensado, postula o pensamento como novidade, como movimento e como
ato complexo, singular e criativo.
Por isso:
A pedagogia busca na filosofia um ideal que nutra de
sentido e conteúdo a educação; a filosofia, por sua vez,
é sempre algo mais que ensino e recordação de ideias;
é, desde a sua origem, a vigilância crítica, o espaço do
debate, o impulso à fecundidade do pensamento. Por
isso, a relação entre a reflexão filosófica e o processo
educativo é tão íntima que se este não estiver contido
naquela, a educação formará, no máximo, reprodutores
da ciência, da técnica e dos valores culturais.
(CESCON, 2009, p. 13).
UNIUBE 129
SAIBA MAIS
PONTO-CHAVE
Por essa razão, a educação escolar deve constituir-se como espaço que
corrobore a elaboração e a circulação de sentidos através das práticas
narrativas como práticas significativas. A escola e seus sujeitos revelam
a plenitude e a constância de uma interlocução em que os dizeres e as
práticas significam condições de uma enunciação concreta.
PONTO-CHAVE
De acordo com Saviani (2010), foi nesse clima que duas importantes
frentes se destacaram e antagonizaram seus papéis no projeto de
fortalecimento da hegemonia industrial. Se por um lado, afirma o autor,
destacaram-se “as forças do movimento renovador impulsionado pelos
ventos modernizantes do processo de industrialização e urbanização”;
por outro, “a Igreja Católica procurou recuperar terreno organizando suas
fileiras para travar a batalha pedagógica.” (SAVIANI, 2010, p. 193).
Em que pesem estas questões, há, e isso nos parece claro, um ponto
crucial na relação com o que dissemos anteriormente: o modelo político-
-econômico, que tem nos acompanhado desde a colônia, reforça e amplia
a crise de sentido que se abate sobre a escola em nosso tempo. Romper
com esses processos enuncia uma forma de resistência aos processos
que se efetivam na identificação da aprendizagem como aquisição de
informação, nas representações pragmáticas que os alunos fazem de
suas necessidades intelectuais, na imposição de um currículo prescritivo
que cerceia de professores e alunos a construção de um pensamento
complexo e sistêmico, na centralização didática do professor, na
incompatibilidade entre o atual discurso tecnológico e as tensões de
sua integração como linguagem didática, na burocratização do exercício
docente, na naturalização da violência cotidiana...; processos estes
que ratificam a perda da capacidade de dizer a educação escolar como
“abertura para o desconhecido, para o que não se pode antecipar nem
‘pré-ver nem ‘pré-dizer’” (BONDÍA, 2002, p. 28).
Resumo
Referências
ALMEIDA, Francis Silva de. Filosofia e fazer filosófico no ensino médio:
ressonâncias e deslocamentos em Deleuze-Guattari. 2016. 172 f. Dissertação
(Mestrado em Educação)–Universidade Federal do Triângulo Mineiro, Uberaba, 2016.
DELEUZE, Gilles. Imanência: uma vida. Revista Educação & Realidade (Dossiê
Gilles Deleuze), v. 27, n. 2, jul/dez. de 2002, p. 10-18. Disponível em: <http://seer.
ufrgs.br/educacaoerealidade/issue/view/1574/showToc>. Acesso em: 3 set. 2018.
PINTO, Álvaro Vieira. Sete Lições sobre Educação de Adultos. 14. ed. São
Paulo: Cortez, 2010.
SOUZA, João Valdir Alves de. Educação. In: SOUZA, João Valdir Alves de.;
GUERRA, Rosângela. (Orgs.) Dicionário crítico da educação. Belo Horizonte:
Dimensão, 2014, p. 77-81.
Introdução
SAIBA MAIS
Ao final dos estudos deste texto, caso queira saber mais, apresentamos
algumas sugestões de livros que discutem a temática aqui abordada.
Objetivos
Esquema
[...]
Louco, o bêbado com chapéu coco
Fazia irreverências mil
Pra noite do Brasil, meu Brasil
Que sonha com a volta do irmão do Henfil
Com tanta gente que partiu
Num rabo de foguete
Chora a nossa pátria mãe gentil
Choram Marias e Clarices
No solo do Brasil
[...]
O bêbado e o equilibrista
João Bosco
154 UNIUBE
PESQUISANDO NA WEB
SAIBA MAIS
SAIBA MAIS
EXPLICANDO MELHOR
Observe a interação:
políticos educadores
Movimentos
de Cultura
Popular
artistas
trabalhadores
intelectuais
158 UNIUBE
Reflita sobre o que conversamos até aqui. Que relação existe entre
os participantes dos Movimentos de Cultura Popular sintetizados no
esquema anterior?
SAIBA MAIS
Fonte: <http://www.palavrarte.com/entrevistas/entrev_carpinejar_
thiagodemello.php>.
UNIUBE 161
PESQUISANDO NA WEB
Para ler Roda viva e ouvi-la na voz de seu autor, Chico Buarque e do quarteto
vocal MPB4, acesse: <http://letras.terra.com.br/chico-buarque/45167/>.
mulheres, dos meninos de rua e pelo meio ambiente, dentre outros, que
inspiram novas faces para a educação popular.
SAIBA MAIS
SAIBA MAIS
SAIBA MAIS
O que fazer com o povo? Como trabalhar com ele e para ele? Parecem
ser questões presentes nas mentes dos artistas. Há pintores, poetas,
atores, grafiteiros, desenhistas daqui e de outros países que procuram
comunicar‑se por meio de sua arte com e para o povo que vive às beiras
da sociedade.
EXEMPLIFICANDO!
PESQUISANDO NA WEB
SINTETIZANDO...
É importante que você dirija seu olhar para outros cenários, além
de seus livros. A sugestão de ouvir músicas, ler poemas e peças de
teatro das décadas de 1960 e 1970 poderá ampliar sua compreensão.
Assim, você envolverá sua emoção, sua sensibilidade nesse processo
de construção de um conhecimento.
Nos mundos sociais que criamos e vivemos, na trama dos símbolos e dos
significados que criamos e recriamos atribuindo sentido a tudo e a todos
e fora da qual é humanamente impossível viver, tudo se parece bastante
com O aprendiz de feiticeiro – uma lenda poetizada por Johan Wolfgang
Von Goethe, transformada em concerto pelo francês Paul Dukas e que
se tornou muito conhecida depois de adaptada em um filme infantil,
produzido pelo estúdio Walt Disney Pictures.
UNIUBE 169
PESQUISANDO NA WEB
Por que não fazer a mesma coisa, ele mesmo? Acaso não aprendera e sabia
de cor as palavras mágicas?
E ele assim faz. E então vassouras e baldes trabalham por ele. Mas
depois de algum tempo, eis que todo o chão foi lavado e está limpo.
Melhor, está encharcado, pois as vassouras não cessam de encher
baldes com a água do poço e de jogar a água pelo chão. E o jovem tenta
em vão fazer parar o feitiço, pois aos poucos a casa se inunda e tudo está
fora de controle. Ele grita ordens, tenta lembrar palavras e se desespera,
pois havia aprendido bem a fórmula mágica do começo, mas não ouvira
do mestre as palavras de autorização para que tudo cessasse. O mestre
chega a tempo, põe ordem na casa e repreende o jovem aprendiz: – Se
você não sabe como concluir uma magia, é melhor não fazê‑la começar.
170 UNIUBE
IMPORTANTE!
A relação entre homem e cultura pode muito bem ser representada pela
história do aprendiz de feiticeiro. Os poderosos baldes, magicamente
surgidos do nada graças ao fiat do homem, adquirem movimento próprio
e independente. E a partir desse movimento continuam a transportar água
de acordo com a lógica imanente do seu próprio ser, até que, finalmente,
só com muita dificuldade, seu próprio criador poderá controlá‑los até certo
ponto. Como nos conta essa história, também é possível que o homem
encontre, afinal, um poder mágico adicional que lhe permita colocar
de novo sob seu controle as vastas forças que desencadeou sobre a
realidade. Esse poder, entretanto, não seria igual ao que primeiramente
colocou as forças em movimento. E, é lógico, pode, além disso, acontecer
que o próprio homem se afogue na inundação que ele mesmo provocou.
Se a cultura é o que ela parece ser, então tudo o que é humano é “ela”
e “nela” deságua. Assim pensando, todas as ciências não propriamente
“exatas” e “naturais” entre a astronomia e a biologia deveriam ser alguma
espécie de antropologia. No entanto, de uma maneira afortunada,
convenhamos, nem toda a ciência do humano é antropologia e nem
tudo o que é humano cabe dentro da ideia de cultura, tal como os
antropólogos a investigam e, até hoje, com cuidado, procuram descrevê
‑la, compreendê‑la, interpretá‑la. Pois, tanto na história dos cientistas, em
outros campos do conhecimento humano, quanto no dia a dia do senso
comum, o sentido atribuível à cultura é sempre múltiplo e até mesmo,
algumas vezes, contraditório.
EXEMPLIFICANDO!
Mas ainda aqui deve haver lugar para uma pergunta: há algo
propriamente da experiência humana que não seja cultura?
SAIBA MAIS
Da mesma maneira como boa parte dos animais, somos corpos dotados
da capacidade de reagir ao seu ambiente. De se locomoverem nele em
função de mensagens que captam dele por meio dos sentidos e de atos
por meio dos quais deixam a sua marca momentânea em seu mundo.
Um colibri faz isto. Nós também. Mas, entre todos os outros animais e
nós, existe uma diferença essencial. Com uma enorme variedade de
vivências disto, em todos eles existem formas de uma consciência reflexa
da relação entre o ser vivo e o seu mundo. Eles sentem, eles percebem,
eles lembram, eles sabem, eles agem. Nós também. E nós nos sentimos
sentindo, como alguns deles também. Mas nós nos pensamos sabendo,
e nos sabemos pensando. E sabemos que sentimos e nos sentimos
tomados desta ou daquela emoção, porque aprendemos a nos saber
sabendo. Passamos, assim, da consciência reflexa que compartilhamos
com outros seres da vida, à consciência reflexiva, que acrescenta um
“me” e um “mim” a um “eu”, e que é em nós o sinal eterno do sopro do
amor de Deus.
SINTETIZANDO...
IMPORTANTE!
aos seus frutos, e aos dos rios, nomes. Nomes, símbolos, sentidos e
significados. Pois, para a ave que pousa num galho a árvore é a sombra,
o abrigo e o fruto. Para nós, seres da natureza habitantes da cultura, ela
é tudo isso e é bem mais. É um nome, uma lembrança, uma tecnologia
de cultivo e de aproveitamento. É uma imagem carregada de afetos, o
objeto da tela de um pintor, um poema, uma possível morada de um deus
ou, quem sabe, uma divindade que por um instante divide com um povo
indígena uma fração de seu mundo.
A cultura é e está, assim, tanto nos atos e nos fatos por meio dos quais
nos apropriamos do mundo natural e o transformamos em um mundo
humano, quanto nos gestos e nos feitos com que nos criamos a nós
próprios, ao passarmos – em cada indivíduo, em um grupo humano ou
em toda a nossa espécie – de organismos biológicos a sujeitos sociais,
ao criarmos socialmente os nossos próprios mundos e ao dotá‑los e a
nós próprios – nossos diversos seres, nossas múltiplas vidas e nossos
infinitos destinos – de algum sentido.
Eis por que, em termos bastante atuais, falamos que a cultura está
mais no quê e no como. Nós nos dizemos palavras, ideias, símbolos e
significados entre nós, para nós e a nosso respeito, do que no que nós
fazemos em nosso mundo, ao nos organizarmos socialmente para viver
nele e transformá‑lo.
RELEMBRANDO
que eles devem realizar por viverem o seu amor tanto entre os seus
corpos naturais (como as abelhas, como os sabiás), quanto em cenários
humanos: culturas. Por isso, enquanto entre os macacos existem machos
e fêmeas, entre nós, criamos noivas e maridos, namoradas e amantes,
filhos e sogras, “compadres” e padrinhos.
PONTO-CHAVE
A imaginação
Aprender é integrar novos dados, novos fatos, novas sensibilidades, novos
saberes. E integrá‑los em um todo interior que se enriquece a cada novo
saber, na mesma medida em que se reintegra e se reequilibra em uma
dimensão mais densa e complexa, a cada conhecimento significativo.
A imaginação (aquilo que antes até se proibia, e ainda hoje mal se tolera
em algumas escolas) quer sempre ir além dela mesma. Se o saber da
ciência empírica e o conhecimento racional não desejam conhecer limites,
a imaginação em absoluto não os tolera. Ela é como um voo de pássaro,
que, uma vez iniciado desde um ponto único num galho de árvore, pode
tomar qualquer direção, mesmo que não possa ir a todos de uma vez. Ela é,
em cada um de nós, a criança ainda não saída da “idade dos porquês”. Ao
184 UNIUBE
SAIBA MAIS
PESQUISANDO NA WEB
<http://www.cpv.com.br/cpv_vestibulandos/dicas/livros/litobr4101.pdf>.
<http://scholar.google.com.br/scholar?hl=pt‑BR&q=vida+e+obra+guimar%C
3%A3es+rosa&btnG=Pesquisar&lr=&as_ylo=>.
SAIBA MAIS
SINTETIZANDO...
PESQUISANDO NA WEB
<http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/ResultadoPesquisaObraForm.
do?co_autor=&co_categoria=2&co_idioma=&co_midia=2&co_
obra=&colunaOrdenar=DS_TITULO&ds_titulo=&first=50&no_
autor=Fernando%20Pessoa&ordem=null&pagina=1&select_
action=Submit&skip=0>.
Observe a Figura 2.
PESQUISANDO NA WEB
Esse é o caminho pelo qual tem sentido refletir sobre as relações entre
as invenções da educação e da cultura (popular ou próxima a ela) e a
realidade dos movimentos populares.
É sobre este assunto que este rascunho de ideias deverá prosseguir até
o ponto de poder constituir uma proposta (entre muitas) de fundamentos
do seu e do nosso trabalho pedagógico.
Resumo
Referências
CALDART, Roseli Salete. O MST e a formação dos sem terra: o movimento social
como princípio educativo. Estudos Avançados, São Paulo, v. 15, n. 43, dez. 2001.
Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103
‑40142001000300016&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 12 dez. 2009.
DANÇA com lobos. Produção: Kevin Costner e Jim Wilson. EUA: Produção:
Kevin Costner e Jim Wilson Estúdio: Majestic Film/Tig Productions; Distribuição:
MGM/Orion Pictures Corporation, 1990. 1 filme (180 min.): son., color.
Título original: Dance With Wolves.
ROSA, Guimarães. Grande Sertão: Veredas. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001.
Introdução
[...] Digamos: Ética. E tudo estará dito.
André Comte-Sponville
Objetivos
Esquema
5.1 Ética e moral: demarcações conceituais
5.2 Ética, liberdade e consciência
5.3 Ética e práxis educativa
5.4 Considerações finais
PONTO-CHAVE
Embora a ética seja a ciência da moral, ela não se confunde com seu
objeto. A ética é essencialmente teórica, ou seja, descreve uma forma
de investigação da experiência humana no que diz respeito aos modos
do comportamento dos homens em sua totalidade e diversidade. Por
isso, inclusive, dizemos que se seu valor reside naquilo que ela explica,
portanto, na forma crítica que se refere ao fundamento e ao valor dos
códigos, princípios, normas e convicções morais existentes em uma
determinada sociedade.
Em síntese:
A moral é um sistema de normas, princípios e valores,
segundo o qual são regulamentadas as relações
mútuas entre os indivíduos ou entre estes e a
comunidade, de tal maneira que estas normas, dotadas
de um caráter histórico e social, sejam acatadas livre
UNIUBE 205
PRÁXIS
SAIBA MAIS
SAIBA MAIS
SAIBA MAIS
SAIBA MAIS
intersubjetiva e sem que possam sequer expiar suas faltas, que Garcin,
Estelle e Inês descobrem o horror da nudez psíquica que os outros lhes
evidenciam. Está aí revelado o verdadeiro inferno, já que a consciência
não pode negar o enfrentamento da consciência que a denuncia, que age
como mediadora necessária entre a minha consciência e o meu ser-objeto.
PONTO-CHAVE
PESQUISANDO NA WEB
EXPLICANDO MELHOR
SAIBA MAIS
PONTO-CHAVE
Sob este viés, compreendemos que a vida para o ser humano excede
o plano da existência biológica, alcançando os caminhos pela busca da
felicidade, que se revela no viver para o bem, uma vez que “o verdadeiro
sentido da vida humana é manifestamente ético” (COMPARATO, 2006, p.
695). Por isso, toma-se como exigência das novas relações de saber, o
resgate do ideal grego de Paideia, como programa de uma educação em
que o conhecimento se origine da ética e nela encontra a sua finalidade.
A reflexão ética nas práticas docentes visa uma profunda transformação
dos indivíduos, transformando os interesses particulares e contingentes
em interesses racionais e coletivos.
UNIUBE 227
E ainda, que
para nos acercarmos das relações interpessoais de
indivíduos que vão se constituindo em condições sociais
específicas, mostram-se insuficientes as observações
e análises objetivas que excluem as situações
pontuais, efêmeras e contraditórias de dor e alegria,
de serenidade e enfrentamento, de assentimento e
de desobediência, ou os sentimentos de emoção, de
angústia, de raiva, que são experimentados pelos
sujeitos envolvidos em nossas indagações (FONTANA,
2000, p. 106).
Resumo
O objetivo deste capítulo foi ensaiar um exame da formação ética do
professor e dos desafios éticos que constituem a atividade de ensino
no tempo presente. A investigação aqui realizada sedimenta-se,
teoricamente, sobre duas bases: na primeira, partindo da temática
filosófica de Sartre (1978, 1999), Foucault (1987, 2006), Vaz (2004) e
Vásquez (2012), foram construídas reflexões em torno da finalidade
da ética enquanto aporte essencial da tessitura das relações que se
constituem em âmbito sócio histórico e existencial; na segunda, a par
das contribuições de Saviani (2009), Fontana (2000), Rios (2002) e Gatti
(2012), foram analisados os aspectos teóricos da formação docente que
nos permitiram, por fim, questionar a formação ética do professor e a
complexidade das relações entre os sujeitos no campo do saber.
Referências
1992, p. 219-226.
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