You are on page 1of 12

cur

sode

compr
of.
SamerAgi
Novo Curso de Oratória Criativa
aula 3 - bloco 1
Nesta terceira aula conversaremos sobre Christine Lagarde e John Kennedy. São dois
discursos diferentes, que ocorreram em momentos diferentesa da história, mas com enormes
aprendizados.

Christine Lagarde é uma francesa advogada que, hoje, preside o Banco Central Europeu.
Seu discurso é longo, mas cheio de colocações inteligentes e de informações importantes. Ela
estudou inglês, direito e política na França, mas foi advogar em Chicago, nos Estados Unidos, em
1981. Em 1999 ela passa a presidir o escritório em que trabalhava e volta à França para ser Ministra
do Comércio Exterior em 2005. Ela é a primeira mulher a ocupar esse cargo. Depois, ela se torna
diretora do Fundo Monetário Nacional. O discurso a ser estudado foi proferido enquanto ela era
diretora do FMI.

O discurso foi proferido no dia 17 de junho de 2015, na Bélgica, em uma conferência


tradicional católica, e ela vai falar sobre desigualdades econômicas e como enfrentá-las. Ela
rebateu uma tese de que o FMI favorece países ricos em detrimento de países pobres e que essa
seria a causa das desigualdades. Ela defende a ideia de que o problema mais urgente é a
desigualdade dentro dos países, e não entre países.

Andrew Burnet afirma que ela é uma oradora extremamente refinada e cativante, capaz
de comunicar ideias complexas com leve toque persuasivo. Ela começa dizendo:

“No mês passado, em 06 de maio, eu quase engasguei com meu iogurte natural quando
vi a primeira página de um dos mais importantes jornais econômicos que noticiavam os ganhos
dos gestores de fundos de hedge. Os 25 gestores de fundos de hedge mais bem pagos do
mundo receberam um total de 12 bilhões de dólares no ano passado, embora seu setor tenha
apresentado uma performance de investimento extremamente medíocre.”

Ela começa falando sobre a desigualdade entre as pessoas dentro dos países. Perceba
como ela traz algo de pessoal e como isso é cativante. Quando você for conversar com alguém do
seu trabalho, você pode começar dizendo “Passei a manhã pensando no que falaria para vocês.
Hoje, quando levava meu filho à escola, eu pensava em quantos de vocês fazem o mesmo
percurso todos os dias, em quantas coisas temos a mesma rotina, os mesmos medos, a mesma
via. E eu pensava em como ter uma conversa franca com vocês, de igual para igual. Ontem,
quando eu estava no supermercado, tomei um susto com o preço das coisas. Eu pensei ‘e as
pessoas que ganham menos, como elas estão fazendo?’”.

Trazer algo da sua rotina no discurso produz empatia e familiaridade, pois as pessoas se
sentem suas amigas. Isso demonstra seu lado humano.

Ela continua:

“Isso me fez lembrar de uma famosa piada de Wall Street sobre uma pessoa que visitou
Nova York e admirava os iates luxuosos dos banqueiros e dos corretores mais ricos. Depois de
contemplar por um bom tempo esses belos barcos, o visitante perguntou com ironia ‘onde estão
os iates dos clientes?’. Obviamente, os clientes não conseguiam comprar iates, embora
seguissem ao pé da letra os conselhos de seus banqueiros e corretores.”

A partir da pergunta “onde estão os iates dos clientes?” de forma leve, como diz Andrew
Burnet, ela traz uma reflexão que gera uma capacidade crítica. Warren Buffett diz “Wall Street é o
único lugar em que pessoas de limousine param para se aconselhar com pessoas que vieram de
trem”. O que ela quis dizer é que os banqueiros e os donos das maiores corretoras de
investimentos têm iates de luxo. Mas onde estão os iates de luxo das pessoas que são
assessoradas por eles, que investem segundo as suas informações e conselhos? A verdade é que a
desigualdade impera. Temos os iates luxuosos, mas é a classe média que vem conduzindo a
corrida neste oceano sem se perceber.

Ela diz:

“Eu não vou focar nos iates luxuosos dos super-ricos, que se tornaram o rosto de uma
nova era dourada. Não é imoral desfrutar do próprio sucesso financeiro, mas eu gostaria de
trazer à discussão o que eu chamaria de barcos pequenos. Os meios de subsistência e as
aspirações econômicas dos pobres e da classe média.”

Ela começa o discurso trazendo algo de pessoal, depois traz uma história de Wall Street, e
diz que não há problema em usufruir de sua própria riqueza, mas que seu foco é falar dos “barcos
pequenos”. Isso é só uma introdução e ela começou de um jeito leve.
Às vezes você precisa ter uma conversa difícil, expor uma ideia que diverge da ideia da
maioria. Por que não começar de uma forma leve, trazer alguma história e respeitar quem pensa
diferente? Se você quer convencer alguém, comece de forma leve, cativante, pessoal e humilde.

Ela diz:

“Minha principal mensagem esta noite é reduzir a desigualdade excessiva, erguendo os


barcos pequenos. É não só moral e politicamente correto, mas é benéfico para a economia. Não
é preciso ser altruísta para apoiar políticas que aumentem a renda da classe média e da classe
baixa. Todos se beneficiarão com essas políticas porque elas são essenciais para gerar um
crescimento maior, mais inclusivo e mais sustentável. Com isso em mente, eu gostaria de focar
em três questões: a perspectiva econômica mundial, as causas e as consequências da
desigualdade excessiva e as políticas necessárias para um crescimento mais sólido, mais
inclusivo e mais sustentável.”

A partir de agora ela começa a ideia e ela vai expor seus argumentos. Existem formas de
convencer o seu leitor, seu ouvinte ou seu interlocutor. Você pode se valer da maiêutica socrática
para fazer com que a pessoa encontre a resposta por conta própria. Ela poderia ter feito isso, mas
o ambiente ali não permitia as respostas das pessoas. Entretanto, em uma conversa a dois, isso é
plenamente possível. Por exemplo:

“Eu me assustei enquanto tomava meu café expresso pela manhã e li que, de zero a dez, a
taxa de polarização no Brasil é oito. Em países polarizados, essa taxa é de seis. Esse nível de
polarização me assustou e mostra que a racionalidade do debate foi por terra. Mas gostaria de
fazer algumas perguntas antes de apresentar minha visão.

Todos que estão aqui querem um país melhor? Todos que estão aqui querem estradas
melhores? Todos que estão aqui querem escolas melhores e querem poder andar nas ruas às 22h
sem medo? Todos que estão aqui querem empregos para as pessoas da família ou para si
mesmos? Todos que estão aqui querem ter perspectiva de crescimento? Todos que estão aqui
querem ter hospitais que os atenda com qualidade, celeridade e adequação?

Se todas as respostas para essas perguntas são ‘sim’, isso significa que nossos objetivos são
os mesmos. Estamos divergindo somente quanto aos meios, não quanto aos fins. Portanto,
presumo que a finalidade de todos nós é boa e é a mesma: nós queremos o melhor para o país.
Agora, a discussão é sobre o que é o melhor. Gostaria de dizer aos senhores que é preciso superar
algumas formas de pensar o país.
A primeira delas: liberdade econômica não está na contramão da ajuda às pessoas que
mais precisam. A inclusão da classe baixa dentro da realidade econômica para que eles sejam
economicamente ativos e consumidores é uma grande ideia para que esse crescimento seja
sustentável.”

Portanto, você pode usar a maiêutica socrática e começar com questionamentos para que
as pessoas tragam suas respostas, e as suas respostas tragam a resposta para a pergunta
principal. Assim, começo a entender que existem diferentes formas de abordagem, mas o ideal é
começar de forma leve para depois trazer o ponto de vista.

Ela diz:

“(...) mas o crescimento se mantém moderado no geral e desigual entre os países. Quanto
aos anos posteriores a 2016, na visão do FMI, o potencial de crescimento das economias
desenvolvidas e emergentes provavelmente será menor nos anos vindouros. Isso se dá em razão
de mudanças demográficas e de produtividade. E é este novo medíocre que vem sendo
alertado por nós. Para os barcos pequenos, quando há um crescimento menor nos países, isso
significa que o vento que está soprando é um vento mais fraco. Não é forte o suficiente para
reduzir altos índices de desemprego, reduzir a pobreza. Se nós enfileirarmos a população
mundial dos mais pobres aos mais ricos, e colocar cada uma delas atrás de uma pilha de
dinheiro que representa sua renda anual, vocês verão que o mundo é um lugar muito desigual.
Evidentemente há um abismo entre os mais ricos e os mais pobres. As mudanças ocorridas
nessa fila ao longo do tempo, nos farão ver que a desigualdade da renda global, a desigualdade
entre os países, diminuiu nas últimas décadas. Por outro lado, a desigualdade entre as pessoas
no interior de cada país é uma desigualdade crescente.”

Ela traz o seguinte dado:

“A riqueza combinada de 1% dos mais ricos é superior à riqueza dos outros 99% da
população mundial sempre com fundamentos”.

Ela traz o exemplo da China:

“(...) tirou 600 milhões de pessoas da pobreza extrema nos últimos 30 anos e, apesar disso,
é uma das maiores desigualdades. A análise dos meus colegas demonstra que a desigualdade
de renda excessiva, na verdade, retarda o crescimento e o torna menos sustentável com o
passar do tempo.”
Educadamente, ela começa a trazer seu ponto de vista. Quando você for tratar de um
assunto delicado, saiba que sempre há uma forma educada de resolver a situação. Você pode ter
uma ideia completamente diferente da minha e essa ideia pode até ser um peso para algumas
pessoas, mas eu quero ouvi-la e quero que você a exponha para mim de forma humilde, educada,
leve e respeitosa.

Ela traz dados. Precisamos fazer com que as pessoas façam as coisas conosco de forma
convencida e com entusiasmo, e não obrigada e com medo. Isso muda completamente a
qualidade do trabalho e do ambiente.

Ela continua:

“Nossas pesquisas mostram que, se aumentarmos as parcelas da renda da classe média


em um ponto percentual, o PIB aumenta em 0,38%, mas se aumentarmos as parcelas da renda
dos ricos em 1%, o PIB diminui 0,08%.”

Isso ocorre porque os ricos vão poupar o excesso e os pobres e a classe média vão gastar.
Isso gera um crescimento econômico. Uma pessoa da classe média que agora ganha um pouco a
mais tem muitas coisas para fazer, como comprar uma geladeira nova, financiar um apartamento
ou comprar um carro, por exemplo. Já uma pessoa rica, ao ganhar um pouco mais, não vai gastar
mensalmente mais do que já gasta. Portanto, do ponto de vista da economia, o ganho de receita
do rico não gera impacto algum, mas o ganho de receita do pobre e da classe média volta para o
mercado. O que a pesquisa mostra é que, se você acentua as desigualdades entre pessoas dentro
do país, isso é economicamente ruim. Ela mostra que o combate à desigualdade de receitas é um
combate que favorece a economia.

Com isso, você aprende que é possível convencer alguém a partir de dados. Você não pode
impor sua forma de ver a vida sem apresentar os fundamentos para tanto e querer que as
pessoas ao seu redor se sintam convencidas com ideias contrárias às que elas têm. Um bom
advogado conhece o direito e o fato. Ele tem fundamento. Se você quer convencer as pessoas,
você tem que ter fundamentos convincentes. O argumento de autoridade não convence. É
preciso ter a autoridade do argumento.

Ela diz:

“Isso é claro. Mostra que as classes média e baixa são os principais motores do
crescimento.”
Se você quer crescer, é preciso mudar a forma de encarar o problema. Para apresentar uma
solução, eu preciso entender qual é a causa do problema.

Ela diz:

“Nas economias emergentes e em desenvolvimento, a desigualdade extrema de renda é,


em grande medida, provocada pela desigualdade de acesso à educação, à saúde e a serviços
financeiros. Com esses tipos de desvantagem, desvantagens de oportunidades, milhões de
pessoas têm pouca ou nenhuma chance de aumentar a sua renda, ou de acumular riqueza.
Esta é, nas palavras do Papa Francisco, uma economia de exclusão.”

Ela está em um fórum católico, e ela faz questão de citar o Papa Francisco. Isso mostra
como a sensibilidade de quem fala é importante. Você deve trazer algo regional em sua palestra.
É cativante que você traga uma pessoa, uma fala, um ensinamento ou uma expressão de alguém
que é referência para aquele público. Isso gera conexão, e isso é necessário para convencer
alguém.

Ela diz:

“A prioridade número um é a estabilidade macroeconômica, disciplina fiscal mesmo,


porque se vocês permitirem que a dívida pública infle, vocês estarão fadados a um crescimento
mais lento, a uma desigualdade crescente e a uma maior instabilidade financeira e
econômica.”

A prioridade número um para uma casa que está passando por problemas financeiros é
cortar as despesas. Se você continuar gastando mais do que ganha, seu problema se tornará cada
vez maior. Se queremos resolver um problema, precisamos parar de aumentá-lo. Na expressão de
Samuel Vieira, pare de cavar. Se você quer sair do buraco, pare de cavar.

“A segunda prioridade deve ser a prudência. É preciso tomar medidas para reduzir a
desigualdade excessiva sim, mas também é preciso que exista certo nível de desigualdade que
seja saudável e útil para funcionar como incentivo às pessoas para que elas venham a competir,
a inovar, a investir e a aproveitar as oportunidades.”

O segundo ponto é “nós não vamos matar a meritocracia”. Meritocracia só existe entre
iguais. Não existe meritocracia quando o sujeito vai para a escola e não há professor, aula ou
caderno. Em uma escola particular, uma criança assiste a cinco dias de aula. Ela diz que deve-se
ter igualdade de oportunidade, mas vence o melhor. Essa possibilidade de crescer e mudar de
realidade é o que impulsiona as pessoas à inovação. É preciso permitir que as pessoas tenham
esse desejo de mudança vivo, pois o ser humano nasce com o desejo de mudar a realidade que o
circunda.

“A terceira prioridade é ajustar as políticas, as causas específicas da desigualdade em


cada país. Chega de políticas genéricas e padronizadas.”

Ela diz que precisamos de especificidade. Não dá para achar que o problema é o mesmo
para todo mundo. Cada pessoa tem problemas e realidades diferentes, apesar de terem objetivos
em comum. Portanto, preciso trazer a solução específica para aquele problema. Quando você traz
a mesma solução para todos, na verdade ela não é uma solução, pois o problema não é o mesmo
para todos.

Assim, começo a entender que, se quero resolver o problema de uma casa, de uma família,
de um grupo ou de uma empresa, primeiro preciso de disciplina, pois só assim é possível parar de
aumentar o problema. Além disso, precisamos fazer com que as pessoas tenham incentivos para
mudança de vida. Por último, é preciso apresentar sugestões de solução específicas para cada
caso.

Ela se vale de uma frase de Tony Blair, ex-primeiro-ministro do Reino Unido:

“Se eu tivesse de escolher as três ferramentas estruturais mais importantes para reduzir a
desigualdade de renda excessiva seriam educação, educação e educação.”

Por meio da educação o sujeito passa a se comportar de forma diferente, pois a mão de
obra é especializada e isso o faz ganhar mais. Quando ele ganha mais, ele proporciona uma vida
melhor para a sua família. Portanto, é preciso reduzir as desigualdades educacionais. Quando a
escola pública tiver a mesma qualidade de uma escola particular, teremos resolvido o problema
da educação. Se alguém está gastando mais do que recebe, falta educação financeira; se alguém
não está conseguindo lidar com o relacionamento, falta educação, conhecimento e
autoconhecimento.

Ela diz:

“Todas essas políticas e reformas requerem liderança, coragem, colaboração. É por isso
que estou convocando políticos, mentores de políticas públicas, líderes empresariais e todos nós
aqui presentes a traduzir boas intenções em ações ousadas e duradouras. Juntos podemos criar
mais prosperidade para todos. Obrigada.”
“Traduzir boas intenções em ações ousadas e duradouras” é o maior desafio. Todo mundo
quer mudar e quer o bem, mas o maior desafio é traduzi-las em ações ousadas e duradouras.
Quando você estiver se questionando sobre a não concretização das suas intenções e desejos,
pergunte-se “você tem tido ações ousadas e duradouras para esse fim?”

Ela conclui falando de união. A verdadeira liderança prega união. Sempre que você quiser
convencer um grupo, uma equipe, uma família, pregue união.

aula 3 - bloco 2
John Kennedy foi presidente dos Estados Unidos de 1961 a 1963, quando foi assassinado. As
imagens que você tem dele são imagens de um homem novo, até porque ele morreu novo.
Nasceu em 1917 e morreu em 1963. Ele fez um discurso marcante no momento da Guerra Fria,
quando tomava posse na Casa Branca.

O líder da maior potência mundial reforça no discurso o ideário americano, sua história,
seus valores, sempre contrapondo-os ao mundo socialista. Ele tempera o ar belicoso com acenos
às negociações de paz e de limitação de armamentos com os soviéticos. Ele é polido, forte e
educado em sua fala.

Ele começa dizendo:

“O mundo está bem diferente agora. Pois o homem tem em suas mãos mortais o poder
de abolir todas as formas de pobreza humana, bem como todas as formas de vida humana.”

Ele começa de uma forma que nós podemos começar qualquer discurso em uma situação
de crise ou desafiadora. “Estamos diante de um desafio e temos uma arma nas mãos. Ou
matamos o problema, ou matamos a empresa, a família, o casamento”.

Ele diz:

“Deixe que todas as nações saibam, quer nos queiram bem ou mal, que pagaremos
qualquer preço, carregaremos qualquer fardo, enfrentaremos qualquer adversidade,
apoiaremos qualquer amigo, nos oporemos a qualquer inimigo para garantir a sobrevivência e
o sucesso da liberdade.
(...)

Aos nossos antigos aliados cuja descendência cultural e espiritual compartilhamos,


prometemos a lealdade de amigos fiéis. Unidos, podemos nos aventurar em quase todos os
empreendimentos cooperativos. Divididos, não podemos quase nada – pois não ousaremos
enfrentar um poderoso desafio com divergências e desunião.”

“Estamos prontos para qualquer coisa. Temos o objetivo de garantir a liberdade e o sucesso
da liberdade. Esse é um recado para nossos amigos e nossos inimigos. Nós estamos dispostos a
tudo para defender a liberdade. Aos nossos amigos, estamos dizendo que seremos leais.
Precisamos de união, pois divididos não podemos quase nada”.

Mais uma vez há o incentivo à união. Pare de achar que você convencerá as pessoas a partir
da divisão. Um reino não prevalece quando está dividido.

Ele continua:

“Às nossas repúblicas irmãs ao sul de nossa fronteira, fazemos uma promessa especial –
transformar nossas boas palavras em boas ações, (...).”

Que tal transformar boas intenções em ações ousadas e duradouras? A ideia de John
Kennedy é usada por Christine Lagarde. O que os grandes oradores têm em comum? Eles sabem
qual é o grande desafio. O grande desafio é transformar palavras em ações. Mas para isso
precisamos de união.

“E, finalmente, às nações que podem se tornar nossos adversários, não fazemos uma
promessa, mas um pedido: que ambos os lados comecem de novo a busca pela paz, antes dos
poderes sombrios da destruição desencadeados pela ciência consumirem toda a humanidade
em uma autodestruição planejada ou acidental.”

“Se nós não buscarmos a paz, seremos destruídos pela guerra”. Isso vale para seu discurso e
para quando estiver disputando dentro da sua casa ou do seu trabalho.

“Que possamos então começar de novo – lembrando em ambos os lados que a civilidade
não é um sinal de fraqueza, e a sinceridade está sempre sujeita à prova. Que nós nunca
negociemos por medo. Mas que tampouco tenhamos medo de negociar.”

Nesse trecho ele faz jogo de palavras, como fez Machado de Assis, e isso é fantástico. O jogo
de palavras que poetiza a prosa torna emocionante o seu discurso. Temos visto pessoas
absolutamente grossas e vulgares em suas palavras. Elas dão sinais de força a partir de suas
grosserias. Porém, a civilidade não é um sinal de fraqueza, mas um sinal de força.

“Que ambos os lados explorem as questões que nos unem, em vez de buscar os temas
que nos dividem”.

Na construção da paz, precisamos buscar pontos em comum. Se vocês focarem nas


diferenças, ficarão tão diferentes ao ponto de a convivência se tornar impossível. Isso vale para
marido e mulher, para pais e filhos, para sócios, para parceiros de equipe, para pessoas em uma
igreja e para pessoas de um país.

“Que ambos os lados se unam para exaltar, em todos os cantos da Terra, a ordem de
Isaías: ‘Desatar as cordas do jugo, mandar embora livres os oprimidos’.”

A citação confere peso ao discurso. O discurso de Kennedy é um discurso com citações.


Quando você for conversar com alguém, é preciso que você tenha embasamento, não apenas
teórico ou estatístico, mas também de grandes autores e pensadores. Um grande orador lê muito,
e se você não está lendo algum livro agora, saiba que está perdendo uma grande oportunidade.

Ele continua:

“Hoje, as trombetas soam novamente, não como um apelo para portar armas, embora
precisemos delas; não como um apelo à batalha, embora estejamos preparados para o
combate; mas um apelo para assumir o encargo de uma longa luta crepuscular, ano sim, ano
não, ‘alegres na esperança, pacientes no sofrimento’; uma luta contra os inimigos comuns do
homem: a tirania, o poder, a doença e a própria guerra.”

Nesse trecho também há um jogo de palavras que envolve o ouvinte. Mais uma vez ele usa
a citação como fundamento. Para unir as pessoas, é preciso trazer inimigos em comum. Um vírus
que pode matar a humanidade é um exemplo de um inimigo em comum ideal para unir as
pessoas, pois precisamos combatê-lo. Nossa guerra é contra a guerra, e não contra pessoas.
Quando guerreamos contra pessoas, isso significa que a humanidade falhou.

“E, portanto, povo norte-americano: não pergunte o que o seu país pode fazer por você,
pergunte o que você pode fazer pelo seu país.”

Essa é uma frase dele que entrou para a história. Ele convoca as pessoas para a ação. Há
um jogo de palavras que muda a mentalidade das pessoas, e é isso que deve ser feito. Não
precisamos perguntar o que nossa família pode fazer por nós, mas o que nós podemos fazer por
nossa família, por exemplo.

Com John Kennedy aprendemos que é preciso união; estar preparado para a guerra, mas
buscar a paz; focar nos inimigos em comum e nos pontos em comum com as pessoas na
construção da paz; trabalhar o jogo de palavras; trazer fundamentos e citações; e mudar a
mentalidade das pessoas a partir da inversão de questionamentos, para que elas saiam do
lugar-comum.

You might also like