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José Afonso
Grupo I
A. Lê atentamente as estâncias de Os Lusíadas. Consulta as notas.
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1
Dá a terra Lusitana Cipiões ,
Enfim, não houve forte Capitão
Césares1, Alexandros1, e dá Augustos1;
Que não fosse também douto e ciente,
Mas não lhe dá contudo aqueles dões 2
Da Lácia9, Grega ou Bárbara nação,
Cuja falta os faz duros e robustos.
Senão da Portuguesa tão sòmente.
Octávio3, entre as maiores opressões,
Sem vergonha o não digo: que a razão
Compunha versos doutos e venustos4 De algum não ser por versos excelente
(Não dirá Fúlvia, certo, que é mentira, É não se ver prezado o verso e rima,
Quando a deixava António5 por Glafira). Porque quem não sabe arte, não na estima.
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1
Públio Cornélio Cipião, vencedor de Zama (em 202 a.C.); Públio Cornélio Cipião Emiliano, vencedor de Cartago (em 146); Augusto, o célebre
imperador romano; Alexandre, o grande conquistador. 2 qualidades. 3 O imperador Caio Júlio César Octaviano compôs versos. 4 graciosos (de
Vénus). 5 António deixou Fúlvia por Glafira. 6 César compôs uma obra filosófica intitulada De Analogia. 7 que tinha grande experiência de
comédias, pois diz-se que Cipião ajudava Terêncio a escrevê-las. 8 Alexandre lia Homero. 9 de Roma.
1. Explicita os elogios e as críticas que o Poeta dirige aos portugueses, justificando a tua resposta com expressões
textuais. (20 pontos)
3. Indica, explicitando, o recurso expressivo presente nos versos 3 e 4 da est. 96. (20 pontos)
(v.s.f.f.)
B. Lê atentamente o excerto do “Sermão de Santo António aos peixes”. Consulta as notas.
Descendo ao particular, direi agora, peixes, o que tenho contra alguns de vós. E
começando aqui pela nossa costa, no mesmo dia em que cheguei a ela, ouvindo os
Roncadores e vendo o seu tamanho, tanto me moveram o riso como a ira. É possível que
sendo vós uns peixinhos tão pequenos haveis de ser as roncas do mar?! Se com uma linha de
5 coser e um alfinete torcido vos pode pescar um aleijado, porque haveis de roncar tanto? Mas
por isso mesmo roncais. Dizei-me: o Espadarte porque não ronca? Porque, ordinariamente,
quem tem muita espada, tem pouca língua. Isto não é regra geral; mas é regra geral que Deus
não quer Roncadores, e que tem particular cuidado de abater e humilhar aos que muito
roncam. São Pedro, a quem muito bem conheceram vossos antepassados, tinha tão boa
10 espada, que ele só avançou contra um exército inteiro de Soldados Romanos; e se Cristo lha
não mandara meter na bainha, eu vos prometo que havia de cortar mais orelhas que a de
Malco1. Contudo, que lhe sucedeu naquela mesma noite? Tinha roncado e
barbateado Pedro que, se todos fraqueassem2, só ele havia de ser constante até morrer, se
fosse necessário; e foi tanto pelo contrário, que só ele fraqueou 2 mais que todos, e bastou a
15 voz de uma mulherzinha para o fazer tremer e negar 3. (...) O muito roncar antes da ocasião, é
sinal de dormir nela. (...) Assim que, amigos roncadores, o verdadeiro conselho é calar e
imitar a Santo António. Duas cousas há nos homens, que os costumam fazer roncadores,
porque ambas incham: o saber e o poder.
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(1) S. Pedro cortou uma orelha a Malco quando este quis prender Cristo.
(2) fraquejassem; fraquejou
(3) negar ser discípulo de Cristo
4. Insere este excerto na estrutura interna do “Sermão de Santo António aos peixes ”. (15 p.)
Grupo II
Lê atentamente o texto.
[…] Há 30 milhões de pessoas a viver em condições de escravatura em todo o mundo. Seres humanos forçados
a trabalhar por pouco ou nada, obrigados a prostituírem-se ou tratados como propriedade de alguém. […]
Os dados constam do Índice Global de Escravidão, o primeiro estudo a nível mundial sobre um fenómeno
que "muitas pessoas ficam surpreendidas por ainda existir", mas que "continua a ser um estigma de todos os
5 continentes", disse à AFP Nick Grono, diretor-geral da Walk Free, organização criada na Austrália para denunciar
a prevalência da escravatura, mais de um século depois de ter sido abolida na maior parte do mundo. "As leis já
existem, mas faltam os meios, os recursos e a vontade política" para pôr fim a este flagelo, diz Grono.
O índice, admite o responsável, é o resultado de um exercício difícil, quer porque se trata de "um crime
escondido" – "é quase como tentar medir a violência conjugal ou o tráfico de drogas", diz – quer porque a
10 escravatura moderna é mais complexa do que o comércio de seres humanos durante o período colonial. Abrange
situações "em que as pessoas estão reféns da violência, são obrigadas a aceitar um emprego, mas também outras
situações em que são economicamente exploradas, em que não são pagas ou recebem o mínimo para sobreviver
e não são livres de partir". As vítimas de tráfico humano, as mulheres forçadas a casar ou as crianças exploradas
em situações de guerra entram também nesta definição. […]
15 Mais de dois terços das pessoas exploradas em todo o mundo vivem em dez países […], mas o índice é
liderado por um pequeno país, que não consta sequer desta lista: na Mauritânia, quatro por cento da população
vive escravizada, incluindo milhares de crianças que nasceram a ser vistas como propriedade de alguém. […]
Portugal ocupa, a par da Espanha, o 147. o lugar entre 162 países, calculando-se que haja entre 1300 a 1400
pessoas forçadas a trabalhar em situações de exploração. A Islândia surge como o mais bem cotado de todos os
países da lista, com menos de cem pessoas em situação de escravatura, seguida da Irlanda e do Reino Unido.
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1. Para responderes a cada um dos itens (de 1.1. a 1.4.), seleciona a única opção que permite obter uma
afirmação correta. Indica na folha de respostas o número do item e a alínea correspondente. (20 p.)
1.1. O constituinte sublinhado em “Os dados constam do Índice Global de Escravidão” (l. 3) desempenha a função
sintática de
(A) complemento oblíquo.
(B) modificador do nome restritivo.
(C) complemento direto.
(D) complemento do nome.
1.2. O articulador sublinhado na expressão “recebem o mínimo para sobreviver” (l.12), no contexto
em que surge, introduz no discurso a ideia de
(A) causalidade. (C) consequência.
(B) finalidade. (D) condição.
1.3. O segmento “que haja entre 1300 a 1400 pessoas forçadas a trabalhar em situações de exploração” (ll. 18-19)
exemplifica uma oração subordinada
(A) adverbial consecutiva. (C) adjetiva relativa restritiva.
(B) adverbial causal. (D) substantiva completiva.
2.1. Identifica a deixis (e a respetiva marca deítica) presente na frase seguinte: ”... para pôr fim a este flagelo...” (l. 7).
2.2. Atenta nas frases que a seguir se apresentam. Reescreve-as, estabelecendo entre elas um valor de condição e
procedendo às transformações necessárias:
Algumas mulheres são obrigadas a aceitar a exploração. Algumas mulheres desejam apenas sobreviver.
2.3. Refere o valor lógico da conjunção em “... porque se trata de "um crime escondido"...” (l. 8)
2.4. Indica a função sintática do segmento sublinhado: "...tentar medir a violência conjugal..." (l. 9)
2.5. Identifica o referente do elemento sublinhado no segmento “... que não consta sequer desta lista... ” (l. 16).
(v.s.f.f.)
Grupo III
Através das suas obras, Luís de Camões e Padre António Vieira pretenderam atuar sobre uma determinada
realidade social, tecendo duras críticas aos homens.
Constrói um texto bem estruturado, apresentando dois argumentos e dois exemplos, com
um mínimo de duzentas e um máximo de duzentas e cinquenta palavras.
Observações:
1. Para efeitos de contagem, considera-se uma palavra qualquer sequência delimitada por espaços em branco, mesmo quando
esta integre elementos ligados por hífen (ex.:/dir-se-ia/). Qualquer número conta como uma única palavra, independentemente
dos algarismos que o constituam (ex.: /2019/).
2. Relativamente ao desvio dos limites de extensão indicados, há que atender ao seguinte:
− um desvio dos limites de extensão indicados implica uma desvalorização parcial (até 5 pontos) do texto produzido;
− um texto com extensão inferior a oitenta palavras é classificado com zero pontos.