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Copyright© 2022 - Jéssica Oliveira

Edição 01

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eletrônicos ou mecânicos, sem a prévia autorização por escrito da
autora, exceto no caso de breves citações incluídas em revisões
críticas e alguns outros usos não-comerciais permitidos pela lei de
direitos autorais.

1. Literatura Brasileira 2. Romance 3.Jovem Adulto 4.


Contemporâneo

Revisão
Eduarda Azambuja

Diagramação
B S Oliver

Criação da capa
lchagasdesign
AVISO: Este livro é um romance que tem como pano de fundo a
máfia, é recomendado para maiores de dezoito anos e contém
cenas de ação, violência, palavrões e sexo explícito. Não é um
romance dark, embora possa conter gatilhos para leitores sensíveis.
Se espera encontrar cenas de detalhes sobre as negociações
dentro da máfia e burocracias ou torturas, este livro não
corresponderá às suas expectativas.
Sumário
Sinopse
Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Epílogo
Nascida no berço da máfia de Chicago, Fiorella Santoro descobre
tarde demais que seu destino já havia sido decidido antes mesmo
de completar dezoito anos.

Para garantir a paz entre Outfit e a máfia nova-iorquina, Ella, é


usada como uma moeda de troca, sendo forçada a se casar com o
herdeiro da Cosa Nostra: Franco Fiore.

Franco não tem honra, coração e nem moral, dominado como o


Corvo, pois reflete a encarnação do mal, pretende possuí-la e
reivindicar toda sua inocência.

Franco só não presumia que a sua futura esposa fosse tão sombria
e perigosa quanto ele, Fiorella não estava disposta a ceder, quebrar
ou se esconder.
Uma união fatal que tem tudo para terminar em sangue, se torna
uma paixão ardente, perigosa e instável, colocando em perigo não
só o acordo entre as máfias, mas tudo que está a volta deles.
À PRIMEIRA VISTA

Puxo o ar gélido de Chicago com força, minha garganta


queima e os músculos do meu corpo se contraem dolorosamente
conforme me esquivo das incessantes investidas da Helena.
— Fiorella, — ouço as minhas costas, Sávio, o segurança se
aproxima com uma postura rígida, me recomponho para encará-lo.
— Veio me treinar? — pergunto buscando por ar, Helena,
percebe isso e me oferece um sorriso de vitória.
Isso ainda não acabou.
— Não, o seu pai, ele não a quer fora de casa hoje.
Franzo o cenho confusa, pondo as mãos na cintura para
esconder a tremedeira.
— E qual seria o motivo? — questiono, sabendo que ele e
qualquer outro segurança odeia dar explicações, principalmente
para mulheres.
— Não estou autorizado a falar. — reviro os olhos, é claro
que ele não está. Nunca estão.
— Quando uma de nós estiver morta, entramos Sávio. —
aviso ajeitando minha postura de luta, mãos fechadas em punhos
logo à frente do peito. Suspeito ter visto meu segurança com
expressão de repulsa, mas o ignoro, ele dá três passos para trás e
cruza os braços, impassível.
— Idiota. — digo inaudível, e recebo um sorriso da Helena.
A garota se aproxima novamente, ela é incansável, seu
punho fechado vem em direção a minha face, mas eu desvio
passando por baixo da sua mão, e lhe acerto um golpe nas costas.
Me viro para ela com um riso, nisso vejo alguns homens de terno
descendo de uma BMW. Eles ficam lado a lado, exalando elegância,
e no momento em que meus olhos encontram o de um deles, o
único que está todo de preto, dos pés a cabeça, meu corpo é jogado
ao chão, com um grito ecoando pelos meus lábios, meu abdômen
enrijece fortemente.
Gemo, encarando Helena parada aos meus pés com um
sorriso glorioso.
— Nós temos que entrar, Fiorella. — Sávio diz entredentes.
Cerro maxilar, junto minhas pernas e dou uma rasteira na
minha amiga, ela cai de costas, e um grito igual ao meu passa por
seus lábios.
Rio ainda deitada no gramado, de repente vejo uma arma
apontada para minha cabeça. É o Sávio, ele está com um sorriso
agora, aposto que isso é o que ele mais deseja há meses, mas o
seu dedo não está no gatilho. Ele não é estúpido de machucar a
filha do Chefe.
— Morta. Agora vamos entrar.
— Você é um estraga prazer. — resmungo desanimada e
com sua ajuda fico de pé, busco pelos os homens de terno, mas
eles desapareceram na extensão do pátio.

Adentro meu quarto, consumida, tudo o que eu mais preciso


é um bom banho bem quente. Reflito parando em frente ao espelho
e analisando o meu lábio inferior, está levemente inchado por um
golpe da Helena, e atrás da minha orelha há sangue seco fazendo
uma trilha em direção a minha clavícula.
— Você está um trapo. — Sienna menciona na entrada do
quarto.
Olho para o meu macacão de couro preto, justo, sujo e
surrado em alguns lugares, mas é grosso o suficiente para manter o
frio longe e não atrapalhar a minha mobilidade.
— Obrigada. — digo analisando seu vestido longo e
brilhante. Para ela parecer uma rainha só falta à coroa.
Minha irmã e eu somos totalmente distintas: Sienna tem
longos cabelos ondulados tão dourados e brilhosos quanto o sol, já
o meu é um loiro perolado, mas sem brilho algum, recentemente fiz
uma franja que cai em frente aos olhos para dar um ar misterioso, e
esconder um pouco minha expressão de menina assustada.
— Você viu quem está no escritório com papai? — pergunta
ao adentrar o quarto, seus olhos azuis profundos quase iguais aos
meus, me fitam com atenção, e me passam preocupação.
— Carlo, quer que fiquem nos aposentos. — Nos viramos
para a entrada do cômodo e Donatella, nossa madrasta, está
escorada contra o batente acariciando sua pequena barriga de
gestante.
Franzo os olhos, curiosa.
— Quem está com o meu pai? — questiono dando um
passo na direção dela.
— A máfia de Nova Iorque. — meus lábios se separam, e a
ficha começa a cair, a mansão está com segurança extra e Sávio
mais tenso que o normal.
Meus olhos encontram os de Sienna, e vejo o temor através
dos seus olhos, momentaneamente o medo começa a ondular em
meu estômago.
Há anos papai fez um acordo com a Famiglia, para manter a
paz já que ambas as máfias estavam em guerras. Outfit em uma
disputa implacável com a Bratva, a máfia que decapitou minha mãe
e minha irmã mais nova Louisa em uma invasão nesta mesma
mansão. E a Famiglia estava em guerra com a Camorra.
Papai casaria Rocco, meu irmão mais velho com a Edwina,
filha de Riccardo Fiore o Capo da Famiglia, mas o meu irmão deu a
vida dele para salvar a minha no dia da invasão. Mexo a cabeça
espantando os pensamentos
— Fiorella, não há nada que você possa fazer. — Donatella
ajeita sua postura quando passo por ela saindo para o corredor.
Sávio prontamente já está nas minhas costas me seguindo.
Isso não vai acontecer!
Agora que Rocco não está mais aqui para se casar, papai
não tem opção a não ser escolher uma de nós ou entrar em guerra
com a Famiglia novamente. E Sienna por ser um ano mais velha
que eu, com seus dezoitos anos, com certeza será a sua opção.
Sávio me puxa bruscamente pelo braço, me imobilizando.
— Me solte. — vocifero, puxando meu braço com força, e
lhe dando um olhar atroz. Às vezes desejava não depender tanto da
minha posição, mas como filha do Capo de Chicago, minha voz
também tinha poder, mas não com o meu pai.
Abri a porta do escritório com rompante e quase cambaleei
para dentro. Olhos atentos e armas estavam apontados para mim
em segundos, evito revirar os olhos e adentro mais a sala de queixo
erguido.
O homem todo de preto é o primeiro a relaxar e a baixar sua
arma, avisando com um gesto sutil para os demais fazerem o
mesmo.
Seus olhos azuis cristalinos me penetram com a tamanha
intensidade que ele me olha. Desvio o olhar me sentindo
ligeiramente incomodada, nunca ninguém havia me encarando por
tanto tempo, ainda mais na presença de meu pai. Dei passos largos
em direção a ele que compreendeu pela minha expressão que eu já
sabia o que estava acontecendo.
Você não devia estar aqui. É o que os seus olhos me dizem
duramente.
— Fiorella, estes são Ettore Reviello o Consigliere e Franco
Fiore o futuro Capo dei Capi da Famiglia de Nova Iorque — meu pai
diz sem mostrar emoção.
O meu estômago se agitou, e tive que fingir um sorriso,
quando Franco me estendeu a mão, olhei para o meu pai, e ele me
deu um aceno conciso.
Estendi a mão para o homem, envergonha por meus dedos
estarem calejados e as juntas machucadas dos treinos, ele não
pareceu notar, ou se importar, apenas se curvou bons centímetros a
minha frente e com seus lábios gélidos, beijou o dorso da minha
mão, levando um arrepio direto a minha coluna. Puxei os meus
dedos mais rápido que desejava, mostrando o quanto o seu toque
me incomodou, Franco abriu um sutil sorriso de quem percebeu.
— É um prazer conhecê-la, Fiorella. — sua voz é suave e
profunda, o oposto da sua expressão. Seu queixo firme porta uma
cicatriz fina e esbranquiçada que desce em direção ao pescoço,
grosso e musculoso igual ao resto do seu corpo.
Meu pai diz algo, mas ainda estou absorta analisando o
homem à minha frente, que não consegui distinguir o que era, até
duas mãos se fecharem em torno dos meus braços e me levar porta
a fora.
— Perdoe-me a intromissão de minha filha.
— Crianças. — alguém diz e a porta se fecha.
Volto para o meu quarto e me deito na cama do jeitinho que
estou, suja, ensanguentada e fatigada.
Donatella deve ter arrastado Sienna para longe de mim, com
certeza ela pensa que sou má influência, como se eu me importasse
com a opinião dela.
Quando Teodoro, o Consigliere da Outfit, sugeriu que meu
pai se casasse novamente, Sienna e eu entramos em negação.
Papai tampouco queria se casar, mas negar não era uma opção,
mostrava fraqueza e não seria bem visto pelo resto da família.
E então Donatella surgiu, e ao invés de odiá-la aprendemos
a respeitá-la, pois a escolha de estar em nossa família também
havia partido dela.

Acordo com a sensação de ter dormido mais do que devia.


Balanço a cabeça espantando a preguiça e ando para fora do
quarto, para saber que fim teve a visita da Famiglia e antes de
atravessar a porta para a cozinha, ouço a voz do meu pai
conversando com Donatella, paraliso.
É sobre a reunião.
— Quando será o casamento?
Escuto alguém suspirar.
— Em um ano aproximadamente. Riccardo quer que Franco
tenha uma esposa antes de assumir o controle publicamente da
Famiglia, ao que parece o câncer dele está avançando rapidamente.
— Eles te contaram isso? — meu pai não respondeu. — Foi
à decisão certa, Carlo, ela conseguirá manter a paz.
Pobre Sienna.
— Ele aparenta ser tão jovem para se tornar O Chefe. —
Dona comenta.
— Franco tem 23 anos, Teodoro me contou, e foi iniciado
aos 13 anos, após cravar uma estaca de gelo na garganta de um
homem.
Donatella solta um ruído, talvez em choque.
— Não se iluda com aquele rosto fino e equilibrado, Franco
Fiore é um assassino frio e habilidoso. Os soldados o chamam de: o
Corvo, porque reflete a encarnação do mal.
— Esse casamento terminará em sangue, Carlo. — sua voz
falha demonstrando que está completamente em choque.
Ouço um suspirar de meu pai, mas não uma resposta. Meu
estômago se contrai, enjoada. Ele é o nosso pai devia nos proteger,
não nos dar em uma bandeja para alimentar o monstro do outro
lado.
DEZ MESES DEPOIS | SETEMBRO

O carro para de repente e a porta do porta-malas é


destravada, a empurro para cima buscando por ar puro. Não leva
um segundo e Helena está à minha frente me puxando para fora.
— Isso é estupidez, o seu pai irá me esfolar viva, se
acontecer algo com você. — ela não está totalmente enganada, mas
papai jamais a machucaria, Helena salvou a minha vida, ele deve a
ela, para o resto da vida dele.
— Não seja uma estraga prazer, hoje é o meu aniversário,
me faça feliz. Eu quero ser livre por apenas uma noite, amanhã eu
volto para minha gaiola.
Minha amiga aperta seus carnudos lábios com formato de
coração, e acena positivamente, me levando para dentro do carro.
Entramos no Chevette preto um pouco velho com cheiro de perfume
barato e cigarro. Faço cara de nojo e recebo um olhar de
condenação de Helena.
— Então para onde está me levando? — questiono ansiosa,
nunca sai sem seguranças na vida, desde que nasci papai é o
Chefe da Outfit e para minha segurança sempre há uma sombra
constante em minhas costas, menos hoje, farei valer a pena cada
segundo longe de casa.
— Ao sul de Chicago, acho que há uma boate lá que não
pertence a sua família. Então a chance de alguém reconhecer você
será mínima. — diz em dúvida.
Aperto seu braço gentilmente para reconfortá-la, e olho para
fora da janela, o céu está escuro, sem estrelas e um pouco frio.
Estou vestindo uma minissaia de couro com fecho em frente
às pernas, e um cropped preto de manga comprida com tiras de
couro envolta da minha barriga. Estou com um puta frio na barriga,
essa noite tudo é novo para mim.
Nunca fui a uma balada, nem nunca vesti roupas sexys.
— Vou perder minha virgindade hoje à noite, Helena.
A garota freia com força, e o sinto me prende ao banco
fazendo o meu coração disparar.
— Caralho! Você quer me matar? — exclamo, me
segurando no porta-luvas.
— Isso é loucura demais até para mim Fiorella.
Mexo a cabeça mecanicamente, pressionando os lábios.
— Você não entende Helena, assim que papai casar Sienna
com Franco, restará só a mim, e se eu for impura, talvez não haja
um casamento, e estarei livre, quem sabe possa até ir para a
faculdade, ou até mesmo conhecer um homem normal, que nunca
tirou a vida de alguém.
Poderia ter paz, sem medo de outra invasão, sem medo de
morrer durante a madrugada ou em um restaurante ao meio dia.
— Isso é uma puta de uma péssima ideia, — diz e volta a
dirigir com mais calma, relaxo no banco, — Você tem ideia de que
vai doer horrores?
— Como você sabe se nunca transou? — ela revira os
olhos.
— É o que toda a mulher diz.
— Não importa, pode doer, pode sangrar, essa é a minha
porta de entrada para um mundo normal.
Minha amiga mexe a cabeça em negação e assopra um fio
de cabelo preto que cai em frente a sua vistosa face.
— O seu pai vai me matar. — adiciona acelerando.
Respiro fundo a brisa da noite, e me aconchego no banco
olhando pela janela, pensando nos últimos meses que se passaram.
Papai reforçou a minha segurança, me deixando com uma pulga
atrás da orelha, até parece que ele sabia que eu iria aprontar algo,
agora além do Sávio eu tive que escapar de Lazzaro, ambos estão
guardando a porta do meu quarto neste momento. Rio, da minha
tamanha imprudência. Donatella ganhou um menino, Dario, o futuro
Capo dei Capi.
Sienna está mais forte como nunca esteve, pensei que
entraria em colapso por causa do casamento com Franco, contudo
ela simplesmente se esquiva do assunto toda vez que eu tento
conversar com ela a respeito. Um dia após a visita da Famiglia, eu a
vi saindo do escritório do papai em lágrimas, ela se negou a me
contar a respeito da conversa, mas estava explícito. Ela não quer
esse casamento.
Quem iria querer se casar com um homem que tem mais
sangue nas mãos que um Serial Killer?
Seus olhos azuis celestiais não podem encobrir o monstro
que há por trás deles. Nem o seu sorriso suave e quase encantador
que me deu naquela sala de escritório. Estou rodeada de
predadores, e meu pai talvez seja o pior deles. Mexo a cabeça em
negação como se de alguma forma pudesse tirá-los dos meus
pensamentos.
— Chegamos. — Helena estaciona em uma rua
movimentada, e aponta para uma esquina onde fica um prédio de
dois andares, olhando do lado de fora nem parece que há uma festa
lá dentro.
Quando vou abrir a porta do carro ela me segura pelo pulso.
— Não podemos nos separar, Ella. Estamos sem os
telefones para não sermos rastreadas, se algo acontecer nos
encontramos no carro. E pelo amor de Deus não fuja.
Rio.
— E para onde eu iria sua boba? — ela relaxa o aperto em
meu braço e juntas nós descemos.
Atravessamos a rua recebendo muitos olhares nada
discretos, e alguns assobios. Aperto os lábios para conter o sorriso,
e quase arrasto Helena para dentro do prédio onde é a festa.
Passamos por uma placa que estava escrito que mulher não paga a
entrada e nem a bebida.
Embora papai tenha uma coleção imensa de destilados, eu
nunca bebi qualquer coisa que não fosse Champanhe nas datas
comemorativas.
— Você precisa se controlar, Ella.
— E você relaxar, Helena. — brinco, mas sua expressão
carrancuda permanece.
Helena eu nos conhecemos em um lugar que eu gosto de
chamar de porta dos infernos, em outras palavras, manicômio, ou
como minha irmã gosta de suavizar Centro psiquiátrico Red Hill. Nós
não conversamos muito sobre como foi ficar lá, acredito que tanto
eu quanto ela, preferimos acreditar que aquilo nunca aconteceu.
Deixamos um corredor escuro e atravessamos uma porta
dupla para entrar no primeiro piso. Luzes de várias cores piscam
sobre uma neblina cor de rosa. As pessoas dançam cada um do seu
modo, elas se beijam e se esfregam uma nas outras, é delirante,
surreal.
— O que tem no andar de cima? — pergunto.
— Fica a ala vip, bares, pista de dança e quartos. — enrugo
o cenho.
— Caralho tudo isso? — pergunto abismada. — Então
vamos pra lá! — pego em sua mão para arrastá-la. Helena faz cara
feia.
— É o que dizia no site. E não temos dinheiro pra pagar a
Ala Vip, Ella, a não ser que você venda o seu cabaço pra isso. —
ela ri, e morde o lábio quando enfio a mão no decote e tiro algumas
notas de 100 dólares.
— Peguei da carteira do papai semana passada, eu disse
que iria comprar um presente para mim.
Entrar na ala vip foi com tirar doce de criança.
Ao contrário da bagunça que é no andar inferior, o andar de
cima é sofisticado, com música leve e iluminação suave em tons
quentes.
Andamos até o bar chamando atenção de algumas pessoas,
Helena parece nem se importar, ela não tira os olhos de mim, me
sinto péssima por tê-la colocado nessa posição. Se der merda, será
tão ruim para ela quanto para mim. Cheguei até pensar em trazer
Sienna, mas ela jamais desobedeceria às ordens do papai, ou iria
contra a vontade dele, ela com certeza teria me dedurado na
primeira oportunidade se soubesse do meu plano de fuga.
Somos tão diferentes, às vezes eu a invejo. Minha irmã não
vivenciou ou presenciou metade das coisas que aconteceram
comigo. Ela não tem pesadelos que assombram a noite, ela não tem
medo do escuro, ou de perder o controle e machucar alguém. Ela é
perfeita em todos os sentidos.
— O que as garotas vão tomar? — um barman sem camisa,
e muito tatuado pergunta apoiando suas mãos no balcão.
— Duas tequila. — peço.
— Uma. — Helena fala e adiciona. — Estou dirigindo
esqueceu.
— As garotas podem pedir um uber mais tarde. — o barman
sugere com um risinho.
Sem telefone? Sem chance. Sem dizer que o Chevette é a
minha entrada para a gaiola novamente. Pretendemos voltar antes
da troca de turnos, os seguranças estarão esgotados, e Helena
poderá entrar na mansão sem problema, assim eu espero.
— Uma tequila. — o homem assente e me serve.
Pego o shot e encaro o pequeno copo de vidro, a
expectativa por trás do sabor é grande, viro em um único gole como
já vi em alguns filmes, e tusso fortemente fazendo Helena gargalhar.
A minha garganta ainda arde, mas o gosto até que é bom.
— Mais uma. — falo ao homem e relaxo na banqueta,
Helena faz o mesmo e giramos para observar o resto do ambiente.
Há muitos homens espalhados ao longo da área vip, que
são apenas sofás bem almofadados, com baixas mesas de vidro no
centro. Logo à frente há uma pista de dança, onde tem mais
pessoas em pé bebendo do que dançando.
Tomo a tequila em um só gole e quando solto o shot na
mesa, sinto uma mão quente nas minhas costas, tenho um
sobressalto, meu primeiro instinto é me virar e imobilizar o meu
adversário, como venho treinando há anos. Contudo quando
enxergo um par de olhos muito verdes me olhando de volta eu
simplesmente travo, e fico encarando o cara de cabelos loiros e
sorriso gentil.
— Perdão não quis assustá-la. — diz eloquente e senta ao
meu lado, abrindo o botão do seu terno escuro.
— Não assustou. — falo um pouco sem graça.
— Me chamo James e você? — quando abro os lábios para
respondê-lo, sinto um apertão em minha coxa, esforço-me para não
dar um olhar de reprimenda a Helena.
— Estela. — digo docemente e o aperto se suaviza, falar
que me chama Fiorella Santoro, seria como soar um alarme de
incêndio dentro dessa boate. Carlo Santoro, não é só o homem mais
rico de Chicago, como o mais temível também.
Enquanto James me falava como estava sendo a sua
estadia em Illinois, eu tomei mais três shots de tequila, Helena me
encara quase suplicante, ela não me pediu para encerrar com a
bebida, mas eu parei para ver se minha amiga relaxa um pouco e se
divertia pra variar.
James pede licença e se encaminha para o banheiro,
aproveito e me viro para ela.
— Vai ser ele.
— Você mal o conhece. — ela mexe a cabeça assustada.
— Quando eu disse que ia perder a virgindade, você achou
que eu fosse esperar e criar laços? — questiono retoricamente, —
Meu tempo está acabando Helena, a chance de papai descobrir a
minha fuga é muito grande, ele dobrara a segurança e eu ficarei
presa para sempre dentro daquela casa.
— Parece tão errado.
— Mais errado que se casar sem amor, com um homem que
seu pai escolheu para você, como uma puta premiada? — ela
aperta os lábios. — Você está nessa vida há cinco anos, eu nasci
nela, essa lei nunca vai mudar, mulheres são fantoches nas mãos
dos homens. Você devia fugir enquanto pode.
Ela mexe a cabeça mecanicamente.
— Faz o que tem que fazer, eu vou estar aqui esperando por
você. — diz com firmeza.
Fico de pé, sentindo o efeito do álcool oscilar em meu corpo.
Talvez eu nem sinta a tão falada dor, estando bêbada.
Caminho em direção ao banheiro com pequenos passos,
tentando assimilar o ambiente à minha volta, sinto olhos cravados
em mim e não tenho certeza se são os da minha amiga. Encontro
James saindo pelo corredor do banheiro, e seu sorriso aumenta um
tanto surpreso em me ver.
— Quer conversar em um lugar mais privado? — pergunto
torcendo para minha voz parecer natural.
— Me parece uma ótima ideia. — expõe me estendendo a
mão, seguro nela e me impressiono por ser macia e quente.
Acompanho o homem em direção aos quartos privados, fica
em um corredor estreito com várias portas vermelhas, todas
fechadas.
James tira um cartão magnético do bolso do terno, e não
fico impressionada por ele ter um, metade dos caras daqui, sem
duvidas vieram a negócios ou foder suas amantes. É nojento.
Entro no quarto à sua frente, não é muito grande, a luz é
ambiente em um tom avermelhado, e contém uma cama mediana
no centro do quarto com um cômodo de cada lado.
É simples, mas serve, reflito me virando para James. Agora
em um espaço menor ele parece bem maior, mais alto e mais forte.
Com os meus 1,67 e mais o salto da bota, meu queixo se encontra
abaixo do seu ombro.
— Parece assustada. — ele diz dando um passo em minha
direção, preciso reunir meu autocontrole para não dar outro para
trás.
— Não estou. Devia? — pergunto segurando seu olhar.
Ele sorri.
— Não. — fala naturalmente abrindo o paletó, e depois
abrindo os primeiros botões da camisa.
— Já esteve em um desses quartos antes? — questiono
olhando em volta, não há janelas, apenas uma porta que eu acredito
ser o banheiro.
— Não e você? — respiro fundo sentindo a covardia
dominar o meu peito.
— Também não. — James dá um passo em minha direção e
já está quase em cima de mim, obrigando-me a levantar o pescoço
para encará-lo.
Seus longos dedos tracejam para trás do meu pescoço, e
me puxam em direção a sua face, James não me beija, ele me gira
e me põe contra a parede e seu nariz invade o meu pescoço, seus
lábios tocam a minha pele, e descem em direção ao meu seio,
enquanto sua mão vagueia para baixo da minha saia, calor se
alastra em mim, não o calor de excitação, mas o de desespero.
Seja corajosa caralho!
— Abra as pernas. — pede em meu ouvido, — Eu quero
sentir sua bocetinha. — obedeço, e seus dedos tocam minha
intimidade por cima da calcinha, deixando-me com o ar preso na
garganta e quando seus dedos tentam invadir o fino tecido, meus
olhos arregalam e desespero é um eufemismo para o que estou
sentindo, seguro sua mão e a empurro para trás.
— Não dá, não consigo, desculpe. — falo apressadamente
abrindo a porta ao meu lado enquanto James me encara em
incompreensão.
— Estela... — chama, mas fecho a porta em sua cara e
começo a caminhar com passos largos em direção ao bar, antes de
eu deixar o corredor Helena aparece na ponta dele correndo em
minha direção.
— Precisamos nos esconder agora! — rosna.
— Papai? — pergunto com o meu sangue na cabeça.
Helena me arrasta com violência em direção aos quartos, James
está passando pela porta, abotoando o seu terno quando nos
enxerga, sua expressão congela em desentendimento.
— Fuja. — aviso a ele quando Helena me empurra para
dentro do quarto batendo a porta com força na cara do homem. Se
meu pai chegar a sonhar que James ficou a sós comigo, ou que se
quer me tocou, será um homem morto, disso eu tenho certeza.
— Quem você viu? — pergunto com o meu couro cabeludo
eriçado.
— Franco e Lazzaro. — mexo a cabeça em incompreensão,
até consigo relaxar por um momento.
— Isso não faz sentido. — sento na cama e cruzo as
pernas, começando a sentir o coração se acalmar. — Você me deu
um puta susto Helena. — rio, mas minha amiga ainda está
congelada no lugar ela tem uma faca na mão e me questiono onde
foi que ela conseguiu uma.
— Eu sei o que eu vi, Fiorella. — fala ríspida, — Eu estava
sentada no bar conversando com o barman, quando olhei para trás
e vi Franco descendo do elevador com Lazzaro.
— Deve haver uma explicação para isso. — mordo o lábio
com força, — Porque Lazzaro estaria com Franco?
— E se ele for um traidor? — indica, e o meu queixo cai.
— Agora faz sentido, Lazzaro começou a ser o meu guarda-
costas logo depois da visita da Famiglia. Eles te viram? — pergunto
ficando de pé, com uma agitação se apoderando do meu corpo.
— Eu não sei. Vim correndo te encontrar assim que os vi.
— Vamos descer pela saída de emergência. Se acontecer
algo comigo, corra.
— Está me assustando. — ela fala e sua voz falha.
— Não tenha medo por mim, eu valho mais viva que morta,
acredite. — rio, ela faz cara feia.
Respiro fundo, tentando controlar os batimentos cardíacos,
péssima hora para ter saído de casa, e ainda nem consegui perder
a porra do cabaço. Sua fraca! Meu cérebro maldoso cospe a
verdade.
— Vamos. — digo e Helena se enfia a minha frente, — Você
não é o meu segurança, Helena, eu trouxe nós para essa confusão
e vou tirar. — ela me ignora indo até a porta, mas a puxo
bruscamente para trás, — Não posso perder você também, fique
atrás de mim. — digo e soa como uma ordem.
Minha amiga obedece, passo a sua frente e abro a porta
cuidadosamente, enfio a cabeça alguns centímetros para fora, e
espio.
Três portas ao lado do meu quarto enxergo Franco, ele está
com um terno escuro, e uma arma na mão que pende ao lado do
corpo, aperto os lábios para evitar emitir qualquer som e fecho a
porta devagar.
— Eles estão revistando os quartos, Helena. Eu não
entendo, o que eles querem? Porque estão fazendo isso?
O que eu não estou vendo caralho?
— Eu não sei. — sussurra. — É melhor você se esconder no
banheiro. — sua aflição me domina. Balanço a cabeça.
— Não será uma porta que o impedirá de me achar. Mas
você deve entrar, se algo acontecer comigo, meu pai precisa saber
quem foi.
— Eu não vou deixá-la sozinha. — diz e de repente uma
sombra se forma em frente à porta. — Entre no banheiro, Helena. —
cicio a empurrando para dentro, encontro os olhos da minha amiga,
estão temerosos, levo uma mão aos lábios pedindo que fique calada
e na hora que fecho a porta do banheiro a do quarto se parte,
saindo das dobradiças e ficando pendurada ao lado.
— Poxa não custava bater. — digo em advertência, usando
o humor para esconder qualquer vestígio de medo, mas o sinto
presente como uma segunda pele, o meu corpo inteiro está
arrepiado e isso eu não posso esconder.
Lazzaro segura à porta pendurada e a coloca em pé, dando
passagem para Franco. Ele olha o quarto totalmente intocável, e
depois seus olhos queimam em mim, como uma chama azul.
— Olhe o banheiro. — ele ordena, num tom de voz que eu
não consigo decifrar.
Lazzaro passa por mim, e sinto o meu coração afundar no
peito, não há nada que eu possa fazer.
— Vazio. — me esforço para não me virar e eu mesma
procurar, eu acabei de deixá-la ali, quase sorrio aliviada, contudo
esse alívio é passageiro no momento que assisto Lazzaro
abandonar o quarto e puxar a porta pendurada consigo.
Franco me analisa, quase perfurando cada pedacinho do
meu corpo, como se estivesse refletindo sobre o que fazer comigo.
O silêncio é esmagador, quase sufocante, e tenho certeza
que ele sabe disso. Minha língua está dura dentro da boca, eu quero
exigir saber o que está acontecendo, o que ele quer de mim, o que
pretende fazer comigo, contudo permaneço congelada sob o seu
olhar.
Franco guarda a arma no coldre escondido por baixo do
terno.
— Vou te fazer perguntas, e quero que seja sincera. Se
mentir Fiorella, haverá consequências. — seu tom de voz soa afiado
como uma navalha.
Engulo em seco, incerta do que fazer, se eu mentir ele pode
me matar, me torturar, até me estuprar, embora a máfia de Nova
Iorque não tenha fama de machucar mulheres, quando se está em
um interrogatório acredito que não exista uma linha da qual seja
proibido ultrapassar.
— Pergunte. — falo baixo com medo de mostrar o meu
temor.
— O que veio fazer nessa boate?
— É o meu aniversário, só queria me divertir. — exponho
sem delongas, ansiando para que isso acabe.
— Com quem veio? — pergunta sem mostrar um pingo de
emoção, até parece que está conversando com uma parede.
— Minha amiga Helena.
— Onde ela está? — olho por cima do ombro, em direção ao
banheiro.
— Estava no banheiro. — respondo e duvida sonda a minha
voz.
— Esteve com algum homem? — o pavor atravessa o meu
rosto, e nem que eu quisesse dizer que não estive, os meus olhos e
a minha expressão já me denunciaram. — Quem? — um lampejo de
raiva ondula em sua face.
Mexo a cabeça mecanicamente, se eu contar quem é, não
sei o que Franco fará, ainda estou tentando entender aonde ele quer
chegar com essas perguntas.
— Quem? — vocifera, fazendo meu coração apertar.
— Ele não tocou em mim, só conversamos. — grunho
quando ele me pega pelos braços, e seus dedos me apertam como
torniquetes. Tento me soltar de Franco, mas estou dura contra a
parede, e seu corpo forte pressionando o meu, impedindo qualquer
movimento. Todas aquelas malditas aulas de artes marciais não me
serviram de merda alguma, se quando eu mais preciso me defender
eu não consigo.
— Ele tocou em você? — pergunta com uma voz dura, e
sua mão escorrega para a minha coxa subindo como uma aranha,
fazendo-me apertar as pernas com força.
— Eu já disse que não.
— Então se eu te pôr na cama agora, e me meter fundo em
você, encontrarei sangue nos lençóis? — a escuridão brilhou em
seus olhos e talvez um pouco de diversão.
— Você não é louco. — digo espantada, e o aperto suaviza
em meus braços, Franco se distancia o suficiente para eu ver meu
peito subindo e descendo freneticamente, como se tivesse corrido
uma maratona.
— Só estaria pegando o que é meu. — junto às
sobrancelhas sem conseguir esconder a confusão que há em minha
mente.
O que é meu???
— Sua carinha de desentendimento está acabando comigo.
— Eu não sou sua, Sienna foi prometida a você. — seus
lábios se curvam em um sorriso, que me dói o estômago.
— Eu avisei que seria uma péssima ideia esconder isso de
você. — fala e seus dedos afundam em seus cabelos negros,
alisando-os para trás. — Você é minha Fiorella.
Mexo a cabeça em negação, tentando bloquear suas
palavras.
— Está mentindo. Meu pai teria me contado.
Franco suspira, exasperado.
— Isso é o que ele devia ter feito meses atrás. — réplica
com desgosto, — Mas infelizmente concordei em deixá-la ter o resto
da adolescência sem a preocupação de como seria viver comigo
sob as regras da Famiglia.
— Quanta bondade. — escarneço.
Ele cerra o maxilar com força, e sua expressão de raiva se
dissipa quando um celular começa a tocar. Franco enfia a mão no
bolso da calça e atende em seguida.
— Sim, estou com ela. — diz depois de um momento. —
Óbvio. — acrescenta secamente e desliga.
— Era o meu pai? — um sorriso surge nos seus lábios,
Franco não me responde, ele simplesmente joga a porta no chão
causando um estampido e me puxa em direção à saída.
Firmo as pernas no chão, tentando me livrar do seu toque.
— Você anda, ou eu te arrasto. — avisa em meu ouvido.
— Por que não me dá um tiro na cabeça logo?
— Porque ainda vou me casar com você. Devia ficar feliz. —
ele me solta, mas sua mão me segura pela cintura. Seus dedos
gélidos em minha pele nua me causam desconforto.
— Me sinto lisonjeada. — Cuspo as palavras e seus dedos
me apertam me advertindo.
— Você terá que controlar sua linda boquinha, se quiser
manter sua língua. — o encarando frustrada, e só não saio correndo
porque ele ainda me aperta contra o seu corpo.
— Pensei que tivesse senso de humor. — diz com uma
expressão mordaz.
Chegamos em um espaço aberto, meus olhos passam pelo
barman, mas ele abaixa a cabeça e me ignora, sem se importar que
dois homens, do tamanho de um armário, estão me levando
embora.
Lazzaro está em frente ao elevador, esperando por nós,
caminho olhando para os pés com medo de enxergar James e não
conseguir disfarçar ou pior: ele não conseguir.
Entramos na caixa metálica, Franco me solta e escorrego
para fora do seu alcance indo para trás de Lazzaro. Traidor do
cacete!
Lazzaro ignora minha presença desde o dia que chegou em
minha casa, papai nos apresentou brevemente, e foi isso. Helena
achou ele uma delícia, cabelos loiro-escuros, olhos verde-pinho e
forte como um touro, essas características me lembram um pouco
de Rocco. Suspiro sentindo saudades do meu irmão.
As mãos de Franco me puxam novamente e me arrastam
para a festa agitada do andar inferior. Dou uma última olhada em
volta, sentindo meu coração afundar, por uma noite eu queria ser
como qualquer um deles, livre.
O carro da minha amiga não está em lugar algum, é um bom
sinal, ela deve ter saído pela janela do banheiro.
Franco abre a porta de uma BMW preta e eu deslizo para
dentro em silêncio.
— Como me achou? — pergunto assim que ele adentra o
carro.
Ele começa a dirigir e me ignora, descaradamente.
Escoro a cabeça no banco, imaginando o que será da minha
vida. Todos naquela casa mentiram para mim, bem na minha cara.
Se eu soubesse teria aproveitado cada segundo de cada dia. Meus
olhos se enchem de lágrimas, me viro para a janela incapaz de
controlar, não vou dar esse gostinho a ele, a nenhum deles.
O caminho de volta é rápido e silencioso. As lágrimas
secaram embora o nó em minha garganta ainda queime como se
estivesse em brasa. Por um momento me peguei imaginando se
morreria, se eu abrisse a porta e me atirasse para fora do carro em
alta velocidade. Franco deve ter percebido meus pensamentos, pois
mementos depois eu o vi conferindo se as portas estavam travadas.
Os portões da mansão se abrem, e Franco dirige para
dentro sem problema algum. Quando ele dobra a pequena curva do
jardim, enxergo o meu pai e mais alguns seguranças da casa em
frente às escadas.
— Boa sorte para encontrar outra noiva. — aviso, pegando
na maçaneta, — Ele vai me matar.
Franco me lança um olhar que não me diz nada, odeio não
conseguir decifrá-lo. Será que se ele pegasse fogo, ou congelasse,
sua expressão ambígua mudaria?
— Ele não vai matá-la. Essa decisão cabe a mim agora. —
cerro o maxilar com força.
Franco não me mataria, disso eu tenho certeza, isso
acabaria com o acordo de paz feito há quase dez anos. No máximo
ele me espancaria quase até a morte.
Desço do carro e ando em direção ao meu pai, seu cabelo
loiro escuro está desgrenhado, e sua face pálida, está um pouco
avermelhada como se tivesse sido esbofeteado. Santa vontade,
meus dedos coçam para dar um murro na cara dele, por ter me
vendido como uma puta para a máfia de Nova Iorque.
— Onde você estava? — seus lábios mal abrem, mas suas
palavras soam como um grunhido feroz. Já o vi usar esse mesmo
tom de voz com seus soldados. Carlo Santoro neste momento não é
o meu pai e sim o Capo da Outfit.
— Fui dar uma aliviada, antes do grande dia. — minha voz
sai acidamente, carregadas de desprezo. — Mamãe ficaria com nojo
de você. — adiciono, e cuspo no chão aos seus pés.
Ira atravessa o seu rosto, e quando percebo estou apenas
com as pontas dos pés no chão, papai me segura firme com uma só
mão pela garganta, me obrigando a encará-lo, seu aperto em meu
pescoço não machuca, não chega nem perto do que ele fez comigo,
ao me dar ao Franco.
— Vá em frente — desafio olhando em seus olhos — não
tenho mais nada a perder mesmo.
— Já chega. — a voz de Franco faz meu pai aliviar o aperto,
ele me encara como se tivesse vendo um fantasma e me puxa mais
para perto, quase tocando nossos narizes — Vá para o seu quarto.
— ele me empurra com força em direção ao Sávio que me pega
antes que eu caia no chão.
Livro-me das mãos do segurança e subo os degraus sem
olhar para trás. Assim que adentro encontro Donatella com Dario
nos braços e Sienna ao seu lado, ambas respirando aliviadas após
darem uma boa inspecionada em meu corpo.
— Por Deus, onde você esteve? — minha madrasta
pergunta, exasperada, tirando uma mexa do seu cabelo escuro das
mãos de Dario.
— Obrigada por me contarem. — digo passando por elas e
subindo as escadas para o segundo andar.
— Papai nos proibiu. — Sienna diz chorosa, eu não me viro
para ela, estou com raiva demais das duas para me importar — Não
fique com raiva, Ella. — pede, e escuto seus passos na escada.
— Fica longe de mim. — grunho, entrando no quarto e
quando ela tenta fazer o mesmo, eu bato a porta em sua face. A
sombra da minha irmã fica parada diante da minha porta por um
longo tempo.
Afasto-me e me jogo na cama, fatigada, desejando ter
morrido com minha mãe naquele dia. Pelo menos ela está livre
dessa prisão.
Uma suave batida soou na porta, e ela se abre. Não preciso
levantar a cabeça para saber quem é. Papai senta de costas para
mim, ele se curva para frente apoiando seus antebraços na coxa.
Uma posição de derrota.
— Você entende que eu precisava ter feito aquilo? —
pergunta com uma voz de culpa, que ninguém conhece além de
mim e Sienna.
— Não me machucou. — digo sem me importar se o
convenci ou não.
Papai nunca foi agressivo conosco, ele é rígido na frente
dos seguranças e no começo até em frente à Donatella, mas nunca
ergueu a mão para nós. Pensando agora, parece que ele até estava
nos poupando lá no início, para poder nos apunhalar agora.
— Eu não quero me casar. — sussurro na escuridão do
quarto, e fico contente pela pouca claridade, assim ele não poderá
ver a imensidão de lágrimas que passam pelos meus olhos.
— Eu sei Ella, mas todos nós temos deveres a cumprir e
infelizmente esse é o seu.
Meu dever uma ova. — quero gritar.
— Por que eu e não Sienna? — ouço um suspirar e meu pai
se vira para mim.
— Acredite era para ser ela, — papai exala baixinho, — mas
depois que você invadiu o meu escritório, a conversa seguiu outro
rumo.
— O que vai acontecer comigo? — o medo da resposta
pesa em meu estômago.
— Você se casará, e manterá a paz entre nossas famílias,
Ella.
— Isso não devia ser a minha responsabilidade. — exclamo
irritada.
— Seja uma boa esposa, que ele será um bom marido.
Obedeça Fiorella, e mantenha a língua dentro da boca que tudo
dará certo.
— Como deu para mamãe, e para a Louisa e Rocco? —
minha voz sai esganiçada. Papai enrijece e fica em pé, ele nunca,
nunca conversa sobre a invasão à mansão.
A culpa o assolou durante muitos anos, papai não
descansou até matar todos os russos que saíram com vida da nossa
casa, e mesmo depois quando já não havia mais nada a ser feito,
não havia mais ninguém para matar, ele nunca tocou no assunto.
— Ele vai protegê-la Ella, mais do que eu a protegi.
Desgraçado e possessivo do jeito que ele se mostrou hoje,
eu não duvido.
— Quando será a cerimônia?
— Em breve. Amanhã haverá uma pequena reunião para
anunciar o noivado, depois marcaremos a data.
Esposa de um futuro Capo, em outras palavras: viver
constantemente na mira do inimigo.
Eu nunca vou aceitar isso.
Acordo na manhã seguinte com uma réstia de sol
iluminando os pés da minha cama e uma sombra sentada na ponta
dela. Ligo a luz do abajur às pressas quase o derrubando.
— Puta merda, quer me matar do coração? — pergunto a
Helena, e um sorriso triste forma no canto dos seus lábios. — Onde
você estava? — questiono.
— Eu dormi no carro. Estava com medo do seu pai.
— Já o viu? — pergunto saindo da cama e me sentando ao
seu lado.
Ela faz que sim com cabeça, silenciosa e pensativa.
— Ainda está viva! É um bom sinal. — digo lhe dando uma
cotovelada.
— Ele tá enraivecido, mas não me expulsou da mansão, por
causa de você... — para hesitante e tenho certeza que ela já sabe
sobre o casamento.
— Ele não vai expulsá-la, você não tem com o que se
preocupar. — um sorriso escapa por seus lábios.
— Você acha que eu me importo? Será um saco ficar nessa
casa sem você. — diz e meu coração se espreme do tamanho de
uma ervilha.
A ficha ainda não caiu completamente, até ontem eu era
quase um garota normal, meio maluquinha, mas dentro dos padrões
dessa vida de merda, e hoje eu sou uma noiva... e em breve terei
um marido e uma família, longe de tudo que eu amo, tudo que eu
conheço... De repente o pânico toma conta de mim, me deixando
desorientada.
— Ella? — Helena estala os dedos em frente a minha face.
— Eu fujo. — sussurro.
— Ninguém foge da máfia Ella, você mesma me disse uma
vez.
— Deve ter uma exceção. Cacete! — praguejo ao lembrar
das perguntas de Franco. — Se eu tivesse perdido a virgindade com
James, não haveria casamento. Franco ficou enfurecido só por
saber que conversei com um homem.
— Perder a virgindade não é mais uma opção e, eu duvido
que eles te percam de vista agora.
— Eu fujo, Helena, pode ser depois do casamento eu não
ligo. Eles são muito idiotas se acham que vou ser uma esposa
modelo, me curvar e lamber o chão onde o diabo passa.
— Você vai acabar morta, ou pior nas mãos da Camorra. A
Famiglia está em guerra com eles há anos. — franzo o cenho
surpresa, — Eu tenho ótimos ouvidos.
— Você daria uma ótima espiã. — Helena ri.
— Talvez seja melhor aceitar e tentar fazer dar certo.
— Isso é o que Sienna faria. Mas ele quis a mim, então que
aguente as consequências.
Nos jogamos para trás na cama e ficamos encarando o teto
por um longo momento.
O dia passou mais rápido do que eu desejei. Fiquei trancada
em meu quarto a maior parte do tempo com a Helena. Nós temos
quase a mesma idade, dividimos opiniões diferentes, e mesmo não
tendo o mesmo sangue, a considero como uma irmã.
Estou deitada na cama com a cabeça pendurada para fora,
encarando o quarto de ponta cabeça quando escuto uma suave
batida soa na porta, minha irmã enfia a cabeça para dentro.
— Podemos conversar? — pergunta com gentileza,
adentrando o cômodo.
— Fale. — digo sem me importar de me sentar, a encarando
de baixo para cima.
— A sós. — fala e seus olhos buscam por Helena, que está
se colocando de pé agora. Ela nos deixa a sós e me lança um olhar
de cumplicidade antes de fechar a porta.
Sienna senta ao lado da minha cabeça, mas permaneço
encarando a porta.
— O que você quer? — quero saber.
— Você não pode ficar com raiva de mim. — diz suplicante,
— Não havia nada que eu pudesse fazer.
— Poderia ter me contado.
— E no que isso mudaria? Você provavelmente continuaria
noiva.
— Continuaria, mas não estaria com raiva de você agora.
Eu confiava em você e por dez meses você mentiu na minha cara.
Você é a minha irmã, a única coisa que eu esperava era a sua
lealdade, cacete! — meus olhos cospem fúria na direção dela, estou
sentada encarando-a no auge da irritação.
— Eu sei. — seus olhos estão lacrimejando, — Me
desculpe, eu não sabia o que fazer. — diz chorosa, e as lágrimas
escorrem.
Outra batida soa na porta, em seguida Donatella enfia a
cabeça para dentro com um sorriso triste.
— Eles estão chegando, precisa se arrumar. — suspiro
tapando a face com as mãos.
— Vem eu te ajudo a escolher um vestido. — Dona fala com
uma mão estendida em minha direção e um sorriso positivo na face.
— Escolha qualquer um — digo me deitando para trás
esmorecida.
Ela assente, e me pego sentindo saudades da minha mãe,
me recordo tão pouco dela. Somos muito parecidas, pelo menos é o
que os álbuns de foto indicam. Donatella e Sienna param em minha
frente com um vestido longo, frente única, na cor dourado e muito
brilho prateado.
— Não é meio exagerado? — questiono.
— É um noivado Ella, tem que ser belo e delicado. — não
consigo esconder minha cara de nojo, mas fico de pé. Isso vai
acontecer de um jeito ou de outro.
Me dispo sem cerimônia, e com ajuda delas coloco o
vestido. O decote é longo e apertado demais, no formato V. Ele é
justo apenas na cintura, e por cima do fino cetim, há duas camadas
de tule dourado com brilhos prateados. Que puta exagero tudo isso.
Porque ele simplesmente não me leva embora hoje a noite e
terminamos com essa palhaçada de uma vez por todas? Não é
como se fosse real, como se estivéssemos apaixonados e fosse
uma celebração para exibir o quanto nos amamos. É uma puta
enganação.
— Fiorella. — Donatella me chama docemente. — Se quiser
eu posso fazer uma trança em seu cabelo.
Encaro-me no espelho e meus cabelos estão domados, eles
começam a encaracolar, logo abaixo do ombro tapando os seios.
— Não, está ótimo assim.
— Uma maquiagem então? — sugere, e lhe dou um olhar
violento pelo espelho a minha frente. — Irá disfarçar o quanto está
triste.
— Eu não ligo. — comento olhando meus olhos no espelho,
não estão vermelhos ou inchados, não há um pingo de emoção,
além de decepção.
A porta se abre e me viro para ela, Helena entra de olhos
arregalados, ela tenta suavizar a expressão quando eu juntos as
sobrancelhas, preocupada.
— O que aconteceu?
— Nada, estão aguardando por você.
Visto um salto alto preto com ajuda de Sienna, e quando me
ajeito, minha amiga se aproxima e abre sua mão na minha frente,
revelando um colar de pérolas.
— Carlo pediu que eu lhe entregasse. — Pego, porque era
da minha mãe, e coloco no pescoço, pode parecer ridículo, mas me
senti até mais segura.
Quando estamos deixando o quarto, percebo que Helena
fica no cômodo.
— Você não vem? — quero saber, seus lábios se espremem
e sua cabeça balança.
— Por causa de ontem, é melhor não. — realmente, se eu
tivesse a chance de ficar e fugir dos Homens de Honra que me
aguardam na sala eu também o faria.
— Me deseje sorte. — peço.
— Sorte para eles. — diz me tirando um riso.

Andamos as três em direção à sala de estar. Antes mesmo


de chegar às escadas que levam ao primeiro andar, escuto o
burburinho vindo de lá. Um nó tão forte de forma em meu peito, que
eu não entendo como ainda estou respirando.
— Quantas pessoas? — questiono parando no corredor.
— Poucas não se preocupe.
As duas apertam o passo à minha frente. Respiro
profundamente, me sentindo sufocada, o meu coração está em
chamas dentro do meu peito, é como se eu pudesse senti-lo
queimar.
Chego à ponta da escada, e todos se viram para mim e o
silêncio se torna ensurdecedor, não há tantas pessoas, se não
contar os seguranças espalhados pela sala. Agarro-me firme ao
corrimão de ferro e desço com uma expressão tão fria quanto a de
Franco.
Ele está em pé usando um terno preto, muito elegante, que
faz jus a cada milímetro do seu corpo malditamente perfeito. Uma
mulher de meia idade, com o corte chanel, está ao seu lado, sua
expressão é quase gentil, ao contrario da garota de cabelos negros,
longos, e olhos claros, como os de Franco. Sem dúvida são irmãos.
Obrigo-me a descer o resto dos degraus, e forçar um
sorriso, que não me alcança os olhos.
— Cadê o vestido branco? — olho além do Franco e vejo
uma pequena cabecinha me encarando de volta. Ele é uma
miniatura fofa de Franco, e também usa um terno, o menino deve ter
uns sete anos no máximo.
Todos riem, e o silêncio é quebrado.
A garota se agacha na frente dele e diz algo em seu ouvido,
os olhos do menino assentem e compreensão.
— É tão bela quanto Franco a descreveu. — a mulher diz
gentilmente, meus olhos encontram os dele por segundos e me
questiono se isso o que ela disse é verdade.
— Bondade sua. — respondo docemente, depois olho para
o meu pai, e o encontro mais relaxado. Talvez, imaginou que eu
fosse ter um ataque de histeria no meio da sala.
Ao contrário dos Homens de Honra, eu não culpo as
mulheres, certamente elas já estiveram no meu lugar, e passaram
por essa mesma babaquice.
Meu pai apresenta o restante da Famiglia, a senhora se
chama Carlota, a menina Edwina, e o pequenino, Enrico. O pai de
Franco não está presente apenas Ettore. Ele parece jovem demais
para um Consigliere, talvez tenha uns 28 anos, seus cabelos são
castanho escuro e seus olhos verdes, eu acho, ele não manteve seu
olhar em mim nem por um segundo, e seu corpo é tão escultural
quanto o do futuro Capo dei Capi.
— Vai deixá-lo sem graça se continuar encarando-o dessa
forma. — sua voz parece quase cômica, em meu ouvido,
provocando-me um pequeno sobressalto.
— Não foi intencional. — aviso num sussurro, quando vejo
olhos demais em nós dois. — O seu pai não se juntará a nós? —
pergunto, e por alguma razão a tensão cai na sala.
Percebo que os olhos do meu pai procuram os meus, mas o
ignoro.
— Não, — sua voz soa com chicote, então Franco adiciona
calmamente — mas ficará feliz de saber que perguntou por ele.
De repente Franco puxa uma caixinha dourada de dentro do
paletó, ele abre em minha frente com um gesto simples e sem
delicadeza, e me estende a mão como fez há dez meses. Hesitação
me domina. Estou com as mãos em punhos ao lado do corpo e a
palma ardendo com minhas unhas enterradas nela.
Não sei quanto tempo passou, pois ouvi um arranhar de
garganta de algum canto da sala. Soltei o ar e estendi a mão com
um sorriso delicado, eu espero.
Os dedos dele se fecham em torno da minha mão, tão
gentilmente quanto da última vez. Franco segura um anel de ouro
com um monstruoso diamante em cima, e no aro há vários outros
pequenos diamantes cravejados.
O anel desliza em meu dedo facilmente, e a sensação é a
mesma de ter uma granada pendurada ali.
— É lindo. — me forço a falar, olhando em seus olhos, que
não demonstram emoção alguma. Talvez Franco tenha se dado
conta da grande merda que acabou de fazer, e que devia ter
escolhido Sienna.
— O seu anel é lindo, Ella. — minha irmã comenta parando
ao meu lado, os olhos de Franco param nela por segundos, mas ele
desvia para o bolso da calça quando seu telefone começa a tocar.
Franco pega distância de nós e dos seguranças da mansão
que tão intimamente participam do meu noivado e atende a ligação.
Respiro fundo, desejando desmaiar e nisso um garçom
entra com as bebidas, pego uma taça antes mesmo de ele parar, e
recebo um olhar de condenação do meu pai, o ignoro totalmente e
viro o líquido tudo de uma só vez. Papai não pode mais me punir, na
verdade não há punição maior do que esta que estou vivenciando,
então foda-se.
— Nós precisamos ir. — Franco informa, e sua família fica
em pé, tentando esconder a preocupação que brilha em seus olhos.
— Está tudo bem? — as palavras saem de mim depressa,
como se eu me importasse.
— Não se preocupe. — diz com uma expressão mais suave
do que quando deslizou o anel em meu dedo.
Eu mal tive o prazer de conhecê-las, mas fico grata por
estarem indo tão rápido. Cansei dessa encenação.
Papai e os seguranças os seguiram para fora da mansão,
minha irmã e madrasta me encaram com algum tipo de expectativa,
eu realmente não sei o que elas querem de mim, não é como se eu
fosse mudar de ideia a respeito do casamento só porque ele enfiou
um anel em meu dedo.
Honestamente eu acho que nada vai me fazer mudar de
ideia.
Semanas se passaram desde o meu noivado, eu não vi e nem
procurei saber de Franco. A única coisa que me preocupa agora é não
saber a data do casamento, papai não fala nada com medo que eu fuja,
tenho certeza. Ele reforçou a segurança perto da janela do meu quarto e
em frente à porta durante as noites. Estou às cegas e isso está me
matando. Cada dia que passa a vontade de fugir está maior.
A notícia sobre o noivado se alastrou, havia muitos tweets na
internet, e Franco apareceu em alguns deles com um grande ponto de
interrogação ao seu lado.
Quem será a garota por trás do véu, que conquistou o coração do
mais jovem milionário de Nova Iorque.
Conquistou... rio, quanta hipocrisia.
Meu cérebro fica tentando encontrar brechas para sair dessa
situação, mas não há, fugir da mansão é inviável, fugir durante a cerimônia
é implorar para levar uma bala na cabeça do próprio Franco. Nem mesmo
Helena pode me ajudar, papai colocou um segurança nas costas dela.
Bato na porta do escritório do meu pai, e abro em seguida, ele
desvia a atenção do notebook e me encara oferecendo um sorriso amável.
— Me chamou. — pergunto, ele faz sinal para eu me sentar, faço
no automático sentindo um frio na barriga.
— Dona vai levá-la para escolher o vestido de noiva. — O temor
invade o meu corpo tão rápido que não consegui disfarçar.
Meu pai pressiona os lábios e se inclina para frente na mesa.
— Não há mais como retardar Ella.
— E quando é a data? — em outras palavras, quanto tempo eu
ainda tenho?
Meu pai mexe a cabeça mecanicamente e se escora na cadeira, os
segundos de empatia dele foram embora, substituído por sua máscara de
Capo.
— Eu já fui punida o suficiente pai, não tem como fugir disso, e
mesmo que tivesse eu não o faria, — lhe dou o meu olhar mais pesaroso,
para ver se amolece esse coração enferrujado.
— Escolha um lindo vestido, Ella, que eu te conto hoje à noite.
Reprimo um grito, e assinto positivamente, já que brigar, bater o pé
ou fazer birra não adianta mais, saudades de quando eu era pequena.

Jogo-me para dentro do luxuoso e blindado Audi A8, e recebo um


olhar feio de Donatella, ela não é muito mais velha que eu, tem seus vinte e
três anos, porém se comporta como se tivesse bem mais.
Sienna e Helena me dão sorrisos calorosos, acredito que as duas
estejam tentando manter os ânimos nessas últimas semanas. Meu estresse
estava elevado, que descontei tudo nos bonecos sparring. Que bagulho
sem graça.
— Tem alguma preferência de vestido, Ella? — Sienna pergunta
assim que Sávio começa a dirigir com Lazzaro ao seu lado.
— Um que seja bem difícil de Franco tirar. — Helena zomba, nos
fazendo rir. Mexo a cabeça em negação, não quero pensar na noite de
núpcias, não vou sofrer antecipado.
Sávio estaciona em frente a uma loja de grife onde vende vestidos
e acessórios de noivas.
As meninas entram na loja animadas, enquanto eu me sinto indo
para um funeral, talvez eu esteja sendo exagerada e muito dramática, eu
não sei, devia enfiar na cabeça que quanto mais rápido eu aceitar melhor,
mas simplesmente não consigo.
Assim que passo pela porta, eu me viro impedindo a passagem de
Lazzaro.
— Um pouco de privacidade não vai matá-lo. — aviso, deixando-o
com uma expressão dura.
— Tenho ordens para ficar de olho em você.
— OK. Mas se por acaso eu sair do provador nua, boa sorte para
explicar isso ao seu chefe. — ele cerra o maxilar e dá um passo à trás.
Viro-me e vejo que todas estão me olhando, a dona e as
atendentes forçam um sorriso.
— Você devia tentar se dar bem com ele, ele cuidará da sua
segurança em Nova Iorque, Ella.
— Então eu desejo muita sorte pra ele. — passo por Donatella,
Sienna e Helena ambas estão com vestido de noiva em frente ao corpo, se
olhando no espelho. Suspiro. Não posso nem culpá-las, no casamento da
minha prima, Lilia, no ano passado eu estava nessa mesma animação, não
tinha ideia do que Lilia estava sentindo, o casamento também foi arranjado,
mas ela conseguiu mascarar seu desgosto muito bem. Eu nem tento.
Meus olhos se perdem na imensidão de vestidos brancos, sufoco
um grito, respiro fundo, e lhes dou um sorriso.
— A noiva tem preferência para algum vestido? Tule, renda, cetim.
— cita educadamente.
— Acredito que quanto mais casto melhor. — Donatella fala
parando ao meu lado, — Será um casamento grande, Ella, você passará
nas mãos de muitos homens na hora da dança, não acho que Franco irá
gostar de muita pele exposta.
Quanta submissão apenas na porra de um vestido, talvez eu
devesse mandar Franco vir escolher por mim também.
— Papai tem sorte de ter você Dona. — ela me encara surpresa, e
me dá um sorriso iluminado.
Ainda não tinha um vestido em mente, mas agora eu sei
exatamente o que eu quero, detalho para as mulheres minuciosamente e
me pego ansiosa, pela primeira vez desde que cheguei.
— Eu devia ter previsto. — Donatella fala apertando os lábios.
— Ah não se culpe. — lhe dou uma piscada e fico de pé assim que
elas voltam para a espaçosa e confortável sala.
Fico de pé animada, sem entender o motivo, talvez seja porque
agora eu sei que Franco ficará puto ao me ver, ou talvez ele nem ligue.
A dona da loja estende à nossa frente um vestido sereia, composto
por uma pequena cauda com muitos brilhantes, todas emitimos espanto ao
vê-los, é belíssimo.
— Gostaria de provar esse?
Faço que sim com a cabeça e me dispo em frente a elas, e deslizo
para dentro do vestido, ele é justo demais, modelando perfeitamente o meu
traseiro, e afinado minha cintura, digna de uma modelo.
— Quase uma Kim Kardashian. — Sienna brinca olhando para
minha bunda, rio.
Analiso no espelho o longo decote em minhas costas, e gosto do
que vejo, Helena surge ao meu lado e puxa os meus cabelos para trás
revelando as finas alças do vestido; o decote é bem generoso no formato
de U, e o que cobre os meus seios é a tênue camada do tule ilusion, da cor
da minha pele, em cima do tecido há um bordado prateado, formando uma
elegante flor que desce ao longo da cauda.
— Costas, braços e peitos de fora. — Dona me encara, tensa.
— Está gostosa pra caralho. — minha amiga comenta e as
meninas da loja concordam, diria até que um pouco emocionadas.
— Você está maravilhosa, irmã, — Sienna expressa deslizando sua
delicada mão pelas minhas costas nuas, — Mas Dona está certa, tem pele
demais amostra.
— Ele devia ter escolhido você, — Sussurro só para ela ouvir, seus
olhos mostram surpresa e desapontamento, — seria uma esposa melhor
que eu. — sua expressão se suaviza.
— Será esse. — Sienna adiciona com um sorriso.

Desço do carro correndo e subo para o escritório, vou ficar maluca


se eu não descobrir a data desse casamento. Abro a porta e invado a sala
com impulso. Congelo no lugar, recebendo um olhar duro do meu pai.
— Eu não sabia que estava ocupado. — digo assumindo uma
postura rígida.
— Ela nunca bate? — Franco questiona, com uma expressão
ilegível.
— Acostume-se. — meu pai fala e soa quase sarcástico.
Dou um passo atrás e esbarro em uma parede de músculo, olho
por cima do ombro e Ettore me olha de volta, com as sobrancelhas em pé.
— Eu volto depois. — sussurro.
— Espere. — Franco impõe e soa como uma ordem, cerro o
maxilar e o encaro com uma expressão contestante. — Quero falar com
você.
Encaro o meu pai com um olhar suplicante, mas ele está se pondo
de pé com sua máscara de Chefe, papai passa por mim me ignorando
totalmente e deixa a sala com o Consigliere.
Sou obrigada a olhar para Franco, ele está em pé agora, usando
um terno impecável, inteiramente preto como sempre. Seu olhar encontra o
meu, inflexível, ele parece me odiar, eu não entendo porque me escolheu.
— Nos casamos em duas semanas, — meu queixo tomba tão forte
que não consigo trazê-lo de volta ao lugar.
Duas semanas, entre a prisão da minha casa para a de um lar
desconhecido. Achei que teria mais tempo, com minha família. Em duas
semanas serei apenas eu e esse pedaço de carne fria.
— Você terá que aprender a controlar suas emoções, Fiorella, pode
me odiar o quanto quiser agora e depois, mas durante a cerimônia terá que
parecer uma noiva feliz.
Mexo a cabeça mecanicamente incapaz de formular uma palavra.
— Metade dos convidados não é da máfia, e não entendem como
funcionam certos acordos.
Eles entendem, só que para eles o casamento arranjado é crime.
— mordo a língua e lhe dou outro aceno.
— Mais alguma coisa? — pergunto e minha voz sai incrivelmente
suave.
— Sua mãe morreu quando ainda era criança. — menciona
cautelosamente, todos sabem a carnificina que foi a invasão dos russos,
mas ninguém toca no assunto, é como se fosse proibido — Alguém
conversou sobre o que é esperado de você na noite de núpcias.
Meu coração capota e a bile me sobe à garganta, não digo uma
palavra ainda processando tudo. Eu não sou besta, sei exatamente o que
me aguarda no fim da cerimônia. Uma noite sangrenta, reflito ao lembrar as
suas palavras semanas atrás.
...se eu te pôr na cama agora, e meter fundo em você, encontrarei
sangue nos lençóis?
— Não, — emito com a voz monótona, — mas eu sei o que vai
acontecer Franco. — seus olhos azuis anil, sem brilhos ou profundidade se
atenuam por uma fração de segundos.
— Foi bom vê-la. — diz e acredito que seja só por educação.
Franco passa por mim e deixa a sala silencioso como um fantasma.
Se mal conseguimos manter um diálogo, não consigo imaginar
como será o nosso casamento. Uma inquietude se instala na boca do meu
estômago, eu já fui há um bom número de casamentos para saber o que as
mulheres casadas há mais tempo tem que suportar.
Elas não falam abertamente com medo que seus maridos escutem,
mas já ouvi a palavra, agressão, estupro e amantes... Mas papai não agia
assim com minha mãe, eu acho, eles pareciam se amar de verdade,
embora na frente dos outros a frieza de Carlo era implacável.
Torço para que eu seja tão sortuda quanto minha mãe e Dona.
Deixo o Spa Beaty Dear, mais tensa do que quando entrei
apesar da massagem incrível, Abhyanga com seus óleos e ervas,
estou me sentindo marinada. Fiz as unhas e depilação a cera.
Cacete como aquilo dói.
— Querem dar a volta na Times Square? — Dona pergunta,
olhando em seu relógio de pulso, ainda não passou das onze horas
da manhã, o casamento é apenas às dezenove horas, e, a última
coisa que eu quero é ficar socada dentro de um quarto de hotel
esperando as horas passarem.
Essas últimas semanas foram caóticas, mal consegui dormir
com a ansiedade dominando o meu corpo, dobrei o horário do meu
treino para ver se conseguia distrair a minha mente, ou quem sabe
pelo cansaço apenas desmaiar a noite, mas não, quando me
deitava estava incrivelmente dolorida e sem sono algum.
Fomos andando para Times Square, com Sávio e Lazzaro e
mais alguns seguranças espalhados à nossa volta, entre outras
pessoas. Faltam quase duas semanas para dezembro, e o frio de
Nova Iorque é tão rigoroso quanto o de Chicago.
— Aqui é tão lindo, Ella. — Sienna fala pegando em minha
mão e apontando para as luzes e os painéis enormes ao longo da
famosa rua.
— Talvez você goste. — Hell comenta.
Desde que chegamos aqui noite passada as duas tem
tentado me animar, mas falharam terrivelmente. Tem uma tensão
em meus ombros que eu não consigo me livrar, as meninas estão
alegres tentando absorver o máximo do lugar, no entanto, tudo que
eu consigo pensar é em hoje à noite.
Estou apavorada e tenho que esconder isso de mais de
trezentas pessoas. Sinto-me à beira de um colapso.

O carro estaciona em frente ao Hotel Plaza onde ocorrerá a


cerimônia e também estamos hospedadas, ainda não tenho ideia de
onde Franco mora, se é casa ou apartamento, se vive sozinho ou
com a família.
Tudo nele é um grande ponto de interrogação, a única coisa
que eu sei é: nome, idade e que por trás daquela pele imaculada há
um assassino frio.
Sávio desce para abrir a nossa porta, e de repente Helena
segura firme no meu pulso, e aponta um dedo para o lado de fora,
indicando Franco logo à frente, ele conversa com uma mulher de
cabelos dourados, como os de Sienna, ela é pequena, chegando à
altura do coração dele, e usa um longo casaco de pele branco. Os
dois parecem estar em uma conversa acalorada.
Assim que Sávio abre minha porta, a BMW de Franco
aparece ao lado deles. Nisso Helena me empurra para fora do carro
e preciso da ajuda do segurança para me equilibrar nos saltos.
Franco e a moça percebem minha presença. Ambos me encararam,
e fico num impasse sobre o que fazer. A moça tem o rosto pequeno
e delicado, e pela distância eu não consigo ter certeza, mas seus
olhos parecem vermelhos. Meu futuro marido abre a porta do carro,
ela entra sem se despedir, e Franco bate à porta com força.
Ele se vira para mim assim que a sua BMW parte com a
moça, parece um pouco irritado como se fosse minha culpa ter
chegado nesse momento. Abro a boca para saudá-lo, contudo
Franco se vira e segue para dentro do hotel.
Fico sem entender nada, e um tanto indignada pelo seu
comportamento desaforado.
— Quem diabos será que é aquela garota? — Hell pergunta.
— Honestamente eu não ligo e não me importo.
— Uma puta? — minha irmã se questiona, — Ouvi
cochichos sobre uma despedida de solteiro. — diz baixinho para os
seguranças não escutarem.
— Despedida de solteiro? — rio com escárnio, — Como se
nosso casamento fosse de verdade, ou como se Franco não fosse
continuar trepando com metades das putas de Nova Iorque.
— Fale baixo. — Dona grunhe em meu ouvido quando
adentramos o Plaza.
— Desculpe, esqueci que eu tenho que manter a pose de
boa moça, até a porra desse casamento passar. — sussurro e vejo
medo nos olhos de Donatella.
Eu tenho certeza, aliás acredito que todos têm, que eu não
duro uma semana com Franco, minha língua solta e minhas atitudes
impensáveis acabarão me matando.
— Eu vou me comportar, não se preocupe.

A noite veio mais rápido do que eu esperava, não há mais


como retardar, estou em pé em frente ao espelho vestindo o vestido
de noiva que eu cruelmente escolhi para provocar Franco, mas
agora, nesse exato momento nunca desejei tanto ter escutado
Dona. O vestido é maravilhoso, me faz parecer ousada e sexy, me
faz parecer uma mulher, não uma garota que acaba de completar
dezoito anos.
— Você é a noiva mais linda que eu já vi. — Dona comenta
as minhas costas.
— Baboseira, você deve dizer isso a todas. — falo
brincando, ela sorri e sua mão desliza pelas minhas costas nuas
com delicadeza.
Minha maquiagem é o oposto do vestido, é leve e delicada
em tons prata, igual o penteado que escolhi, transaram minha franja
em direção às laterais da cabeça e fizera um coque baixo e
sofisticado, onde uma pequena presilha de brilhantes prateados
está presa segurando o véu.
Olho para Helena e Sienna, ambas sentadas na cama, com
os olhares deslumbrados.
— Acho que eu nunca a vi tão linda. — Helena comenta,
faço cara feia e meu coração acelera assim que ouço uma batida na
porta.
— Sorria, você é uma noiva feliz. — Sienna cantarola
enquanto caminha para atendê-la.
Ah claro, mascarar as emoções. Não tenho certeza se vou
conseguir isso. Respiro fundo e faço um sinal para minha irmã abrir.
A expressão dela congela por milésimos de segundos e então
suaviza com um sorriso gentil, ela se retira de frente a porta,
Carlota, Edwina e Enrico Fiore adentram o quarto.
— Uau! — minha futura sogra exclama com um grande
sorriso, — Você está...
— Quase pelada? — Edwina questiona, e sua mãe me dá
um sorriso sem graça.
— Espantosamente linda. — sorrio. — Franco vai admirar
sua...
— Audácia. — minha cunhada adiciona com um riso.
— Ela só está brincando, você está muito delicada Fiorella.
Agradeço e observo Enrico em um pequeno terno escuro,
ele olha para sua mãe com um sorriso jovial e diz:
— Meu irmão disse que você é tão delicada, quanto o coice
de uma égua. — o silêncio sufocou o lugar inteiro, a face de Calota
se tornou carmesim como o seu vestido de festa, fazendo-me
explodir em uma gargalhada.
Pelo menos Franco tem mais senso de humor que eu.
— Não dê ouvidos ao Enrico, ele não sabe o que diz.
— Mas foi o Fr... — Edwina cobre a boca do menino com a
mão, com um sorriso e sua mãe me estende uma caixa alta preta e
quadrada.
— Franco pediu que lhe entregasse, é para usar na
cerimônia se desejar. — fala gentilmente, e as meninas se
aproximam para ver o que há dentro da caixa, quando eu abri.
— Oh. — elas emitem como um coro.
Pego a tirara moldada a ouro branco e deslizo o polegar
pelo diamante no topo, prensada por outros pequenos outros
diamantes.
— É linda. — falo amavelmente, analisando a joia.
Obviamente não foi Franco que a comprou, mas aceito o
presente de bom grado. Espero a família Fiore sair e peço a Dona
para ajustar na minha cabeça. Deu um charme no meu visual e é
um pouco pesada, mas nada comparado ao peso que há em meus
ombros.
— Meia hora. — Helena avisa, e meu coração martela como
a sentença de um juiz.
Outra batida soa à porta, e sinto minhas tripas em uma luta
dentro de mim. Meu pai entra em seguida vestindo um terno caro na
cor preta, corro para seus braços, antes mesmo que ele diga algo.
Suas mãos deslizam para minhas costas me abraçando, me
confortando. Em instantes estamos sozinhos, tento reprimir as
lágrimas, quando ele se afasta para me olhar.
— Oh, Ella. — sussurra, agora eu não sei se é por
consternação ou pela minha estonteante beleza. — Você devia
comer algo, está pálida com um papel.
Mexo a cabeça mecanicamente.
— Eu estou com medo pai. — admito, os olhos endurecidos
do meu pai se suavizam e suas mãos que seguram em meus
ombros tracejam até minhas mãos.
— Eu sei. Sua mãe também estava quando nos casamos.
— diz, pondo a mão no meu queixo e o erguendo para cima
delicadamente. — Tudo bem sentir medo aqui, — ele cutuca o meu
coração, e seus olhos me encaram frios, — Só não deixe ninguém
descobrir, se não isso tornará sua maior fraqueza.
Meu pai leva a mão no bolso do paletó e pega uma pulseira
de brilhante.
— Era da sua mãe ela usou em nosso casamento. — ele
prende em meu pulso, — Você nunca esteve mais parecida com ela
como hoje. — sua voz sai com angústia.
Para meu pai, eu me tornei o fantasma da mulher que ele
amava, perambulando pela casa. Herdei os longos cabelos brancos,
os olhos azuis prateados com a extremidade da íris mais escura,
mas não ganhei a delicadeza e temperamento equilibrado.
— Vamos, está na hora.
Meu pai estendeu-me o braço e eu me agarrei a ele como
se fosse uma âncora. Deixamos o quarto de hotel em silêncio,
parece que até respirar me exige concentração. Entramos no
elevador, e evitei me olhar no reflexo do espelho, não desejo ver o
quão assustada estou, sou capaz de ficar ainda pior.
O elevador para em um uma sala de recepção onde
encontro a cerimonialista, pela primeira vez. A mulher que decidiu
cada detalhe do meu sórdido casamento. Ela veste um terninho
branco, requintado, e segura um pequeno tablet, em frente há
portas duplas brancas, com arabescos dourados.
— Nossa! — sua voz sai baixa, num espanto, — Você é a
noiva mais linda que eu já vi. — diz e lhe dou um sorriso fraco, me
perguntado de quantas mais pessoas ouvirei isso hoje.
— Gentileza sua.
— Não é gentileza, você está perigosamente linda, Fiorella.
— acredito nele, pois fazer elogios não é do seu feitio.
Meu pai puxa o véu em frente ao meu rosto, ele desce
cobrindo até a altura dos meus cotovelos, e a cerimonialista me
entrega o buquê de rosas brancas e lisianto rosa-claro.
— Pronto? — a mulher pergunta ao meu pai, ele lhe dá um
aceno de cabeça.
Dois homens se aproximam um de cada lado, ambos
segurando a maçaneta dourada.
Olho para papai por uma batida de coração, ele está com
uma expressão ilegível, e ao contrário dele sou obrigada a estampar
um sorriso no rosto.
Chupo as bochechas com força sentindo-as endurecidas
pela tensão, e quando as portas se abrem eu estampo o sorriso
mais iluminado que consigo.
Um acorde nos alcança, mas é abafado por centenas de
pessoas ficando em pé ao mesmo tempo, e se virando para mim.
Meu pai dá o primeiro passo me obrigando a me mover com ele.
O corredor entre as pessoas é longo e vermelho sangue, me
levando em direção ao meu noivo. Quando meus olhos
encontram Franco em um esplendoroso smoking inteiramente preto,
o meu corpo é tomado de ansiedade. Minhas pernas ameaçam
falhar, mas não permito, isso seria vergonhoso demais para a minha
família.
À medida que nos aproximamos, consigo ver minhas
madrinhas de honra, em seus vestidos cor de creme, elas exibem o
mesmo sorriso que eu, só que verdadeiro. Elas realmente acreditam
que possa haver amor nesse casamento, e por um instante me pego
desejando o mesmo.
Quanto mais perto eu estou do altar, mais forte sinto o meu
coração batendo, parece uma sirene dentro de mim, em sinal de
alerta máximo, berrando:
CORRA
CORRA
CORRA
CORRA
Chegamos, e tudo que eu enxergo é Franco à minha frente,
alto e poderoso, dominando o altar. Meu pai segura em minha mão
e Franco já está com a dele estendida para me receber.
Meus dedos frios pela ansiedade, tocam na sua mão
extremamente calorosa, é quase reconfortante. Subo os dois
degraus ficando de frente para meu noivo. Sou forçada a erguer o
queixo para encará-lo. Franco solta minha mão e com um gesto
simples e delicado, que parece ser incapaz de vir dele, coloca o
meu véu para trás.
Seus olhos encontram os meus e sua máscara gélida se
desfaz por meio segundo, me deixando quase acreditar que há um
homem capaz de ter alguma emoção além de raiva e ódio, por trás
daquela expressão bruta. Seu semblante se torna impassível na
hora que ele pega em minha mão e juntos nos viramos para o
ministro. Entrego o buquê a Sienna e me endireito com o semblante
mais calmo. Olhando para o ministro meu cérebro berra:
Não há como fugir disso.
— Senhoras e senhores, estamos aqui presentes para
celebrar a união de Franco Fiore e Fiorella Santoro. — comunica e
faz um sinal para todos sentarem. — Se há alguém entre vocês que
saiba de alguma razão para que isto não deva ser feito, que o diga
agora, ou permaneça em silêncio para sempre.
Ah! Há tantos motivos. — grito em pensamentos já que o
silêncio imortalizou o lugar, eu nunca desejei tanto uma interrupção.
Isso jamais aconteceria, esse casamento é o mais esperado há
quase uma década.
O ministro lê o seu discurso, sobre amor, respeito,
confiança... todos os pilares de um casamento... uma farsa no meu
caso e sou imposta a adorar, e agir perfeitamente de acordar com
uma noiva feliz, minhas bochechas vão quebrar até o final da noite,
se eu não parar de sorrir.
Olho para Franco e me pego pensando que assassinos não
deviam possuir tanta beleza. Com sua expressão suave, ele quase
parece um cara normal, muito rico, muito lindo, e sem sangue nas
mãos... De repente sinto um aperto em meus dedos.
— Fiorella… — O ministro chama, e percebo que estava
perdida em outro lugar. — Aceita?
Franco me olha, ainda impassível como se soubesse que
estava distraída não tentando envergonhá-lo.
— Sim! — expresso em um tom alegre, e dou um sorriso
que poderia partir minhas bochechas, para o meu futuro marido.
O ministro engoliu a minha falsa alegria e se vira para o meu
noivo.
— Franco, você aceita esta mulher como sua legítima
esposa? Para ser fiel, amá-la e respeitá-la, na alegria e na tristeza,
na saúde e na doença ou até que a morte os separe?
E com essa palavra, Franco colocará o último prego no meu
caixão:
— Sim! — sua voz sai grave e triunfante, acredito que
ambos estejamos passando bem a mensagem de noivos felizes.
Ele me encara e sua expressão ilegível tomou conta da sua
face, exceto pelos olhos, parece haver alguma emoção ali, mas não
consigo decifrar, ele se vire e pega as alianças com Ettore.
Estendo minha mão, e Franco segura firme em meus dedos,
contendo minha ridícula tremedeira, e desliza uma aliança dourada
junto com o anel de noivado. Em seguida me entrega a sua e meus
dedos apertam sua mão com força, é a única maneira de esconder
o tremor, e assim eu deslizo o anel em seu dedo.
Quase lá Fiorella.
— Pelos poderes a mim concedidos, eu vos declaro marido
e mulher. O noivo já pode beijar a noiva.
Congelei quando Franco deu um passo à frente, seus dedos
deslizaram para minha cintura, e me puxaram colando nossos
corpos, seus lábios moldaram os meus sem aviso, e sua mão subiu
para o meu rosto escondendo nosso beijou. Sua língua entrou em
minha boca, e eu timidamente envolvi a minha na dele, como em
uma dança lenta.
Ouço um arranhar de garganta, com certeza do ministro, fico
rubra, mas ainda estou imóvel nos braços do Franco, com ele me
beijando como se eu fosse ar e ele estivesse sufocando.
— Deixem um pouco pras núpcias. — ouço Ettore grunhir,
Franco abre um meio sorriso contra meus lábios e se afasta.
— Senhoras e senhores é com muito prazer que vos
apresento Franco e Fiorella Fiore.
Quando me virei, os convidados estavam todos em pé, senti
mãos me abraçando por trás, olhei sobre o ombro e vi uma mecha
de cabelo preto, relaxei nos braços de Helena momentaneamente.
— Foi lindo, Ella. — minha irmã fala jogando os braços
sobre o meu pescoço e me abraçando.
Credo! Como não tinha me dado conta de como as pessoas
ficam emotivas em casamentos?
As duas se afastam quando papai se aproxima com Dona e
Dario.
Seus braços me envolvem brevemente, mas antes de me
soltar ele sussurra em meu ouvido: Seja forte pela família.
Em outras palavras: seja forte pela Outfit, só que a Cosa
Nostra é a minha família agora.
Papai e Dona abrem lugar para a família de Franco nos
cumprimentar, recebo muitas saudações, mas até agora não vi o
Chefe da Famiglia em lugar algum, não me arrisco a perguntar, da
primeira vez que questionei, Franco soou áspero.
Franco desliza a mão pelas minhas costas nuas, sinto um
arrepio na espinha, e inclino o corpo para frente involuntariamente.
— Devia ter previsto isso antes de escolher algo tão
revelador. — Há frieza em sua voz, apesar de seus lábios exibirem
um sorriso para nossos convidados conforme passamos entre eles,
indo em direção ao salão de festa do outro lado do corredor.
— Você não gostou? — pergunto dócil, mas Franco sabe
que estou escarnecendo por dentro.
— Talvez eu goste mais tarde. — diz e sua mão escorrega
centímetros para minha bunda, pavor atravessa o meu rosto, Franco
analisa minhas expressão e sobe a mão para o meio das minhas
costas, novamente.
— Não brinque comigo, Fiorella. — sua voz soa mordaz. —
E sorria é o dia mais feliz da sua vida.
— Quer que eu sorria, então pare de me aterrorizar. —
sussurro, ele franze os olhos e seus lábios se espremem quando
mais pessoas aparecem para nos cumprimentar.
Inferno! Quero sair correndo, quero que isso acabe logo,
quero ir para casa, onde quer que ela seja, quero ficar longe de
todos esses olhares curiosos, que me analisam minuciosamente
como se eu fosse um animal exótico, principalmente a família de
Franco. Aposto que eles estão esperando eu entrar em colapso ou
sair correndo.
Ignoro o meu inferno interior e sorrio para o restante dos
convidados adentrando o salão que é enorme, no formato oval, com
muitas mesas redondas uma ao lado da outra deixando apenas um
círculo aberto no meio. Franco segura em minha mão e nos guia até
a nossa mesa, ela é comprida, como nos banquetes de reis e
rainhas ficando de frente para os convidados. Meu noivo puxa a
minha cadeira gentilmente, ainda com uma expressão suave.
Embora seja falsa, fico contente de não ter que ver a carranca
irritada dele.
Em nossa mesa, está apenas a nossa família, fico grata por
não ter que conversar com alguém. Assim que me aconchego um
garçom se aproxima com taças de Champanhe em uma bandeja,
pego uma e viro em um só gole.
— Não se empolgue, você ainda tem que dançar com
metade desses homens, e não quero que esteja bêbada. — assinto,
exausta dessa situação.
Outro garçom se aproxima com nossos pratos, meu
estômago embrulha, por mais que eu tenha ficado o dia inteiro
praticamente sem comer nada, sinto que preciso empurrar algo para
dentro se não quiser desmaiar até o final da noite.
O homem solta um prato à minha frente, recheado com
ostras, e camarão ao meio. Como rapidamente, e tomo o resto do
Champanhe do Franco, ele me olha e lhe dou um sorriso ficando de
pé.
— Aonde você vai? — pergunta me pegando pelo pulso de
repente, então seus dedos escorrem para a ponta dos meus
delicadamente, quando ele percebe que há olhares em nós.
— No banheiro. — Franco beija o dorso da minha mão
amavelmente e me solta, e antes que eu pudesse sair do lugar, ele
faz um sinal com a cabeça para alguém, e sei que vou mijar sendo
vigiada.
Isso é ridículo! Minha vida será assim agora? Não que antes
não fosse, mas Sávio sabia os limites que não devia ultrapassar, e
por mais jovem que fosse nunca me olhou de outra forma. E eu não
sei nada sobre os homens de Franco, eu mal conheci Lazzaro,
nesses últimos meses sua face parecia uma tela congelada em uma
única expressão, fechada.
No caminho para o banheiro Sienna e Helena vieram atrás
de mim, e um pouco mais distante Lazzaro, com sua expressão
habitual. Entramos as três, e fechamos a porta com força na cara do
guarda-costas. Um grito rompe pelos meus lábios, fazendo as duas
me olharem desalentas.
— É tão ruim assim? — Helena questiona.
— Toda vez que ele fala comigo, é uma ordem ou uma
censura. Nada agrada aquele homem.
— Já tentou ser agradável? — Sienna questiona, e lhe dou
um olhar mortal. Às vezes me pergunto se a porra do problema sou
eu, ou Sienna acha que tudo é um conto de fada.
— E o beijo como foi? — Helena pergunta, tentando
esconder a animação.
Rio, fazendo as duas me encararem estranhas.
— Foi bom? — Sienna questiona, curiosa.
— O meu primeiro beijo foi na frente de mais de 300
pessoas, como vocês acham que foi? — as duas esmorecem,
fazendo-me rir.
Uma batida soa na porta, e não preciso nem perguntar para
saber que é o Lazzaro, checando se eu não fugi pela passagem do
vaso sanitário.
— Seja uma boa esposa Ella, mesmo que ele não te de
amor, ele pode ser bom para você, pode deixar eu e Helena te
visitar. Se você for ruim, não tem porque ele ser bom e no fim você é
quem sai perdendo. — Escoro minha cabeça contra a parede fria,
tentando encontrar sentido nas palavras de Sienna, mas como ser
boa para ele se tudo que eu mais desejo é cortar a sua cabeça.
— Fiorella! — Lazzaro agride a porta, bufo audivelmente e
abro com força.
— Cacete, eu só preciso de um minuto! — grito na cara
dele, e suas feições endurecem, as minhas também.
— Nós já estávamos saindo. — Sienna explica, com sua voz
de porcelana.
— Você não tem que se explicar para ele. — aviso
passando pelo guarda-costas e empurrando minha irmã na frente.
Voltamos para o salão de festa e uma música lenta toca, e
do outro lado do salão conversando com alguns homens, os olhos
de Franco encontram os meus, ele se aproxima à medida que ando
em sua direção.
Nos encontramos no meio do salão e quando sua mão
pegou a minha a luz se tornou ambiente, e uma suave canção, nos
alcançou, La Valse de L'Amour.
Franco pega meu corpo como se eu fosse uma boneca e me
conduz na doce melodia. Minha mão está firme dentro da sua, e a
outra segura em seu ombro com firmeza, nunca desejei tanto ter
mais altura, minha cabeça não alcança nem a curva do seu
pescoço.
— No que está pensando? — pergunta em meu ouvido,
segurando em minha cintura com as mãos e me rodando. Deslizo
minhas mãos para o seu pescoço, uma subindo em sua nuca.
— Que sou pequena, comparada a você. — inclino a cabeça
para encará-lo, Franco está com uma expressão agradável, quase
doce, desgraçado como consegue disfarçar tão bem?
Franco me gira e me puxa para seus braços novamente,
colando nossos lábios suavemente no fim da música. Uma salva de
palmas ecoa pelo salão, e a seguir outra música começa a tocar; um
homem de meia idade, alto e com a cabeça raspada, me oferece a
mão, seus olhos são azuis acinzentados e apresentam exaustão.
Encaro Franco e ele consente.
— És ainda mais bela do que nas fotos. — A mão dele
desliza para as minhas costas tocando em minha pele nua, ele não
parece se importar e nem Franco.
— É o meu pai, Fiorella. — Meu noivo avisa, devo ter
deixado alguma expressão passar despercebida.
— É um prazer Senhor Fiore. — saúdo corretamente e
começamos a dançar, Franco nos deixa a sós, mas logo é
interceptado por sua irmã, que o arrasta para a pista de dança, ao
lado deles fico surpresa em ver Helena dançando com Ettore, seus
azuis estão arregalados encarando os meus.
Com um sorriso, volto meu olhar para o Capo dei Capi da
Cosa Nostra.
— O que achou do casamento?
— Um sonho de princesa. — digo com um sorriso.
— A verdade. — ele pede, e me vejo em um impasse, entre,
dizer o que ele quer ouvir, ou dizer o que eu acho que ele quer ouvir.
— Exagerado, para uma farsa. — Um sorriso se forma nos
seus lábios finos.
— Vocês ficarão bem. — diz, olhamos para Franco e ele
está nos olhando de volta.
— Ele me odeia. — as palavras saem de mim,
impensadamente, — Eu não devia ter dito isso. — menciono, sem
graça.
— Não, — diz chamando minha atenção, — Ele não odeia
você, ele odeia mudanças, e você é uma bem grande. — ele ri, e a
música chega ao fim.
— Foi um prazer. — digo sentindo a face quente de
vergonha, Riccardo me dá um aceno de cabeça e se retira, solto o
ar aliviada.
Busco pelas minhas irmãs no salão, quero passar mais
tempo com elas, antes de voltarem a Chicago, mas assim que viro-
me já tem outro homem me pedindo uma dança, eu não conheço
deve ser da família de Franco.
Dançamos em silêncio, em uma distância confortável, os
dedos dele mal tocaram em minha pele, assim como o restante dos
homens que eu dancei depois desse. Franco também não
conseguiu escapar da pista tendo que dançar com Helena, Sienna
até com a Dona, todas sob a supervisão do meu pai e dos soldados
da Outfit.
Suspiro audível, meus pés doem impiedosamente e minha
coluna parece que vai se partir.
— Cansada? — Romeo Ferraro, de executor a subchefe da
Outfit. O homem me fita com seus olhos pretos como carvão, iguais
ao seu cabelo e sua sobrancelha perfeitamente desenhada.
— Eu aguento mais uma dança. — respondo sem saber
como fugir.
Romeo parece um homem gentil e equilibrado, mas as
histórias que ouvi a seu respeito, sempre me deram muito medo.
Pego em sua mão estendida, e fico admirada por ser
acolhedora, a outra eu deslizo pelo seu ombro.
— Como está Piero, ele não veio? — pergunto olhando em
nosso redor, à procura do seu irmão.
— Está viajando. — fala, e me gira.
A música logo chega ao fim, me despeço de Romeo e sinto
uma mão deslizar pelas minhas costas suavemente, não tenho um
sobressalto, pois imagino quem seja.
— Dança comigo. — sua voz me faz sufocar um grito. Olho
por cima do ombro sentindo o terror borbulhar em meu estômago.
— O que você faz aqui? — minha voz sai baixa e afiada.
James, o cara do bar, me estende a mão pedindo uma
dança, tenho vontade de dar um tapa nele e jogá-lo longe, mas não
o faço pois sinto os olhos de Franco em nós nesse exato momento e
isso com certeza geraria muitas perguntas. Pego em sua mão e
espremo seus dedos com a minha.
— Você não era agressiva desse jeito, se bem me lembro.
— Você não terá o que lembrar, se não sair daqui agora. —
ele ri, chamando atenção de algumas pessoas, cravo minhas unhas
na palma da sua mão, e James faz cara de dor.
— Por que está aqui? — pergunto com medo da resposta.
Meu plano sempre foi fugir do casamento, não sair em um
saco preto, e isso é bem provável que aconteça, se James resolver
abrir o bico e contar que eu o chamei para um quarto privado, que
ele deslizou a mão por dentro da minha saia, mesmo que ele não
tivesse feito nada.
— Sou o filho do governador Brent, vim com a minha família.
Nunca pensei que a veria aqui Estela. — suor brota em minha nuca,
ao ouvir o nome falso que lhe passei.
— O que você quer? — exclamo, meus olhos se perdem
além dos ombros dele, e Helena está com um olhar sanguinário na
direção do James. Puta merda, se ela não se controlar, e meu pai
souber o que houve lá, jamais vai perdoá-la. Ele mesmo vai nos
matar.
As mãos de James agarram na minha cintura, uma de cada
lado, e sou forçado a segurar em seus ombros, enquanto ele me
obriga a me mover lentamente ao som da música.
— Nada, só achei que seria engraçado.
— Isso é o contrário de ser engraçado, — sussurro, — eu
salvei sua vida te mandando embora naquela noite, faça isso por
mim agora. — ele estala a língua, e seus dedos afundam em minha
pele, fazendo-me quase hiperventilar. — A dança ainda nem co...
— A dança acabou. — a voz de Franco soou sólida como
aço, embora sua expressão seja de gentileza e equilíbrio. Os dedos
dele se fecham sem aviso em torno do pulso de James, que cerra o
maxilar sem emitir um único som, ele dá um passo atrás e Franco o
solta, pois olhos curiosos se voltam para nós.
Franco avista alguém do outro lado do salão, e faz um sutil
gesto com os olhos na direção do James que está buscando a saída
nesse momento com passos calmos.
— O que você vai fazer com ele? — minha voz mal passa
pelos meus lábios. — Franco... — balbucio, e seu olhar implacável,
faz-me calar.
Ele fará picadinho de mim hoje à noite.
— Vamos cortar o bolo. — assinto, e o deixo me guiar com
um aperto no coração.
— Relaxa, você está tensa. — fala, deslizando as mãos
pelas minhas costas e me apertando contra seu corpo. Solto a
respiração, e esboço um sorriso gentil.
De longe enxergo o bolo, ele tem seis andares,
completamente branco, e parece que há renda, desenhada na
extremidade de cada camada.
Fazemos a volta na mesa, e os convidados nos seguem,
uma parte animada e a outra tão saturada quanto eu para que esse
evento termine logo.
Juntos pegamos a espátula de inox, nisso flashes são
disparados quase me cegando. Dou um sorriso luminoso para os
convidados, e cortamos o bolo. O recheio é de chocolate com
pistache. Coloco o primeiro pedaço em um prato de porcelana com
detalhes dourados e entrego ao meu noivo com um sorriso
amoroso, arrancando suspiros de nossos convidados.
Franco retribui o sorriso, e aceita o prato, de repente ele dá
uma pincelada em meu nariz com o glacê do bolo, rio, e pela
primeira vez nessa noite, meu sorriso foi sincero.

Estou conversando com Helena, e sendo vigiada


constantemente por Franco. A sensação é de estar na mira de um
fuzil. Já está tarde e sei que não vai demorar muito para subirmos,
quero aproveitar cada momento com as minhas irmãs mas meus
pensamentos insistem em pensar nas núpcias.
Sou completa leiga em relação ao sexo, eu sei onde cada
coisa vai, já vi em filmes, mas gostaria que alguém tivesse me dado
alguma orientação, cogitei uma vez perguntar para Dona, mas como
esposa do me pai, não me senti confortável.
— Você está tremendo. — Helena segura em minhas mãos
me parando.
— Eu estou bem, só estou nervosa. — fecho as mãos em
punhos ao lado do corpo.
— Você acha que ele vai perguntar do James? — céus por
um momento James nem estava em meus pensamentos.
Mexo a cabeça em concordância. Sinto que Franco parece
estar dando corda para eu me enforcar, por isso ainda não
perguntou porque James estava me perturbando.
— O lado bom é que ele não pode matá-la. — Helena diz na
tentativa de me animar.
— Do que as duas estão falando? — minha irmã se
aproxima com uma taça de champanhe.
— Núpcias. — minto.
— Está nervosa? — dou de ombros.
Nervosa é um eufemismo.
— Só quero que essa noite acabe de uma vez. — cada
partícula do meu corpo grita de exaustão, se bobear eu adormeço
antes do Franco tirar o meu cabaço. Rio da minha capacidade para
fazer piada sobre isso, só pode ser o cansaço.
— Está quase lá. — Sienna menciona baixinho, e segundos
depois sinto uma presença atrás de mim.
— Está na hora de jogar o buquê. — a cerimonialista, me
entrega as flores, e me segura pelo braço me guiando para a saída
do salão, quando Franco me encontra no caminho, alguém dá um
alto assobio chamando atenção de todos.
— Pras solteiras que desejam encontrar um par essa noite,
agora é a hora. — Ettore, exclama, com uma taça vazia na mão e
com certeza muito bêbado.
O meio do salão começa a encher de mulheres, dando
gritinhos, animados. Sienna não se junta a elas, ela está paralisada
ao lado do meu pai, que provavelmente a impediu de ir, exceto
Helena que tirou até os sapatos, ela estala os dedos das mãos e do
pescoço me fazendo rir, e inclina o corpo para frente e faz sinal para
eu jogar, como se fosse uma bola.
Localizo bem a minha amiga, no meio da multidão, os
cabelos pretos como ônix se destaca do restante. Viro-me de
costas, espio por cima do ombro e vejo o reflexo do seu cabelo; jogo
o buquê com força e me viro a tempo de ver Helena dar um salto no
ar como uma leoa e agarrar o ramo. Rio da alegria dela, e quando
me viro para Franco ele está calmo me olhando de volta, meu
sorriso se esvaí.
— Está na hora de ir. — diz com a voz calma, talvez dessa
vez tentando não me aterrorizar.
Faço que sim com a cabeça, sentido o meu coração
tropeçar nos ouvidos. Franco pega em minha mão e deixamos o
salão de festa recebendo muitos aplausos.
Entramos em silêncio no elevador, e aquela pressão que eu
senti para sorrir, e fingir estar feliz passa ligeiramente me fazendo
suspirar, mas quando Franco aperta para subir, o encaro com temor.
— Pensei que fossemos para... — ah Senhor, como falar
isso sem parecer patética.
— Lua de mel? — ele pergunta.
Assinto.
— Você queria uma lua de mel? — diz sem fazer questão
de esconder surpresa.
— Não é isso que os recém-casados fazem? — um mini
sorriso aparece no canto dos lábios dele.
— É. Mas não posso me ausentar de Nova Iorque agora,
por isso ficamos no quarto de hotel hoje e amanhã vamos para
casa.
Para casa. É só isso que minha cabeça sorveu, e meu peito
é tomado de dor, só de pensar que não vou mais para lá. Franco
notou meu esmorecimento, mas escolheu ficar calado, fico grata,
pois se nos aprofundarmos nesse assunto, ficaria em lágrimas.
Descemos em um corredor bem iluminado, e pelo tapete
vermelho Franco me conduziu sem pressa para o lugar onde ele
faria de mim uma mulher.
Dia 1

Adentro o quarto primeiro que Franco. Meus olhos vagueiam


pela grande suíte, a luz é quente e suave, a cama king size coberta
por pétalas vermelhas, há uma jacuzzi borbulhando na extremidade
do quarto, onde tem uma ampla janela, dando vista para o Central
Park.
Aproximo-me da janela com meu coração parecendo que
quer fugir do peito, com tamanha ansiedade. Talvez eu deva aceitar
o conselho de Sienna, se eu for boa, Franco não terá motivos para
ser ruim.
Se bem que, um homem que mata a sangue frio, não deve
dar importância para isso, para os sentimentos de uma mulher.
Suspiro, sentindo as lágrimas invadirem meus olhos, mexo a cabeça
como se isso fosse o suficiente para espantá-las.
— Fiorella. — estremeço apenas com o som da sua voz,
apesar de ter sido branda. Emito um baixinho, hum, pois minha voz
entregaria minha maior fraqueza. O medo.
— Vire-se. — amparo uma lágrima com a língua na curva do
lábio, e obedeço, Franco está a centímetros de mim, ele tirou o
paletó, a gravata, e abriu alguns botões perto do colarinho.
Ergo o queixo para encará-lo, seus olhos se estreitam
quando enxergam os meus, e um longo silêncio se estende entre
nós. Reprimo o pavor, ansiando para que isso acabe logo, só falta a
última peça se encaixar, para essa noite acabar.
— Eu não vou gritar... não vou tentar fugir... — minha voz
treme e o meu peito oscila, quando eu levo as mãos nos ombros e
arrasto as alças do vestido para baixo, o peso das pedras cede
descendo centímetros do tecido, o suficiente para revelar meus
seios. O olhar de Franco é carnal, caindo sob o meu corpo, fecho os
olhos e as lágrimas rolam em abundância.
Ele puxa as alças de volta ao lugar e ergue meu queixo, me
obrigando a encará-lo.
— Eu não quero te machucar, não dessa forma. — estreito
os olhos sem entender, e Franco se afasta.
— De qual forma então?
Franco suspira e mexe a cabeça em negação.
— Você usou o caralho desse vestido provocativo para me
irritar, eu teria rasgado ele naquele altar se não tivéssemos cercado
por pessoas. Depois o filho do governador... — ele pausa, seus
olhos ficam obscuros, — O homem com quem você supostamente
conversou naquela boate, é ele, não é? — estremeço com o tom da
sua voz e mexo a cabeça, com as palavras entaladas na garganta.
Se a conversa continuar nesse caminho, terá mais sangue
no meu corpo do que no lençol.
— Eu duvido que tenham só conversado pela forma que
você estava aterrorizada. — ele está indignado, como se eu tivesse
o engano.
— Eu não menti, — tento soar o mais sincera possível, —
mas o vestido foi para provocá-lo. Me desculpe.
Se tiver que pedir perdão, eu vou, pois se Franco descobrir
a verdade: que estou mentindo na cara dele pela segunda vez, não
haverá clemência.
— Temos que encontrar uma forma de conviver. Você está
presa a mim Fiorella, você é minha, querendo ou não. — engulo sua
possessividade, e aceito como uma vitória. Nunca mais quero voltar
ao assunto do James.
Franco se distancia, e sinto o ar encher os meus pulmões
novamente.
— Por que me escolheu? — pergunto, vendo-o se livrar dos
sapatos. Seus olhos encontraram os meus e Franco me analisa por
um instante.
— Você levou um chute no estômago e foi jogada no chão,
invés de sentar e chorar derrubou sua amiga com uma rasteira
limpa. Depois você invadiu a sala sem um pingo de delicadeza, com
sangue no pescoço e mãos calejadas...
— Se procurava beleza e delicadeza, se casou com a
mulher errada.
Cerro o maxilar irritada e um tanto surpresa, isso foi quando
nos vimos pela primeira, eu estava um trapo, mas da maneira que
ele fala, fico envergonhada, desejando ter a delicadeza impecável
de Sienna. Dou um sorriso triste ao perceber que deve ter sido isso,
tanto espanto hoje à tarde, antes da cerimônia.
— Você é mais linda do que imagina Fiorella, — diz como se
lesse meus pensamentos, — Mas eu não a escolhi pela beleza. Não
quero uma esposa fraca, você pode continuar se exercitando, se
não fizer besteira. — quero sorrir, mas não o faço, eu não devia ter
que pedir permissão pra nada, isso é um insulto a qualquer mulher.
Caminho até o meio do quarto e também tiro os sapatos,
quase gemo aos sentir os pés no chão. Tento remover a tiara, mas a
desgraça está presa com o véu e uma porrada de grampos.
Franco abre o restante dos botões da camisa, exibindo o
tórax invejável, e dá um passo na minha direção, eu instintivamente
dou outro para trás.
— Não poderá fugir de mim para sempre. Agora vire-se que
vou tirar isso da sua cabeça. — obedeço com o raciocínio lerdo,
talvez fosse mais fácil se ele me jogasse na cama e consumasse
logo esse casamento.
Franco se aproxima o suficiente para eu sentir o calor do
seu corpo nas minhas costas. Ele começa a mexer no meu cabelo,
e à medida que os grampos vão saindo, a pressão vai diminuindo.
Relaxo o pescoço jogando-o para trás, nisso minha cabeça
choca contra o peito desnudo dele me deixando tensa. Suas mãos
tracejam o contorno dos meus ombros delicadamente fazendo meu
couro cabeludo eriçar.
Deslizo para fora do seu toque, e ouço um suspirar dele.
— Do que tem medo? — sua voz é cautelosa.
Fico calada, sem saber o que responder. De tudo, talvez
seja a resposta certa. Viro-me para Franco, antes que ele perca a
paciência, ele é tão alto e imponente, dominando completamente o
ambiente com sua postura inabalável.
— Não quero que me machuque. — balbucio,
desencorajada.
— Se eu quisesse machucá-la, já teria feito Fiorella. — sua
voz é de censura.
— Não estou falando de me bater, mas de... — engulo as
palavras sentindo a minha face se tornar carmesim, — Meter fundo
até encontrar sangue no lençol. — essas foram as palavras dele,
semanas atrás. Seus olhos mostram reconhecimento, mas sua face
continua impenetrável.
— Eu não devia tê-la assustado, embora você merecesse.
— diz numa voz calma, que ainda me é estranha. — Eu não ia fodê-
la com força, não na sua primeira vez. Não tenho a intenção de
traumatizá-la.
Está fazendo um péssimo trabalho então.
Franco dá um passo, e, está na minha frente, fazendo
sombra em meu rosto.
— Eu vou tocá-la e se não quiser, me peça pra parar. — diz
simplesmente. Aposto que Franco nunca precisou avisar para isso,
aposto que todas as mulheres se jogam por onde ele passa, e
aposto também que ele comeu aquela mulher com quem o vi na
frente do hotel.
Fico tensa, dura como uma rocha quando ele se abaixa
bons centímetros, e com seus olhos fixos nos meus a sua língua
invade a minha boca, retribuo o beijo desajeitadamente, e fecho os
olhos logo depois dele.
Franco segura em meus pulsos e os coloca atrás do seu
pescoço, suas mãos voltam para minha cintura, e seu beijo se torna
mais urgente, fazendo um calor surgir em meu pescoço e descer em
direção ao meu peito. Franco abandona meus lábios e começa a
beijar o meu pescoço, o ar volta aos meus pulmões, e o calor se
alastra com força. Ele me traz para perto do seu corpo, enrijeço
automaticamente, ao sentir seu pau duro em minha barriga.
— Me impeça, se não quer que eu prossiga. — avisa em
tom grave, com sua postura reta, enfiando os dedos um de cada
lado nas alças do meu vestido.
A palavra PARE, ressoa em minha mente, mas eu não a
pronuncio, puramente fico encarando-o. Seus olhos me fitam com
luxúria, Franco me quer e isso está marcado em seus olhos e em
outra região bem específica.
Seja uma boa esposa, que ele será um bom marido.
Será que isso fará de mim uma boa esposa?
Soltei o ar, pois estava prestes a sufocar, e toquei no
abdômen de Franco com a mão aberta, seus dedos abandonaram
os meus ombros e caíram ao lado do seu corpo.
Ele parou.
Tracejo minha mão até o seu rosto, meus dedos tocam sua
fina cicatriz até o queixo, eu ainda não o havia tocado, não por
vontade própria, a sua pele é morna e macia. Franco está tenso, me
encarando, parece que pela primeira vez o deixei sem reação. Ele
segura no dorso da minha mão repente, e cheira o interior do meu
pulso. Meus dedos correm para trás da sua nuca, à medida que ele
se aproxima para me beijar.
Enquanto seus lábios dominam os meus, Franco passa uma
das mãos para as minhas costas, e com outra ele desce o zíper
invisível na lateral.
A ansiedade toma conta do meu corpo, na hora que ele se
afasta e puxa as alças, que cede ao peso e se amontoa no chão aos
meus pés, deixando-me só calcinha. Cruzo os braços em frente ao
peito timidamente, e desvio o olhar dele, nunca havia ficado nua na
frente de outro, e Franco está me encarando como se conseguisse
me comer com os olhos.
— Você é perfeita, não tenha vergonha do seu corpo.
— Você é quem está me deixando envergonhada. —
sussurro sem jeito, e diversão brilha em seus olhos.
Franco estende a mão, me forçando a descruzar os braços.
Pego em seus dedos e ele me puxa para seus abraços, meus seios
ficam pressionados contra seu peito, e novamente sinto sua ereção.
— Eu quero que deite na cama.
Santo inferno. Nem no dia que fugi de casa para a boate
fiquei com o coração tão acelerado. Engulo a inquietação e
obedeço, sentindo os olhos dele queimar em mim.
Deito-me de costas no meio das pétalas, o cheiro delas
invade o meu olfato. Fico com as mãos em cima da barriga, gélidas,
e sinto o meu peito subir e descer, incontrolável.
Franco se detém no limiar da cama sem camisa, o ar fica
preso em minha garganta enquanto analiso seu corpo robusto,
transar com ele sem dúvidas, será um passeio através do fogo do
inferno. E já estou queimando sem ele encostar em mim.
— Afaste as pernas Fiorella. — pede gentilmente, e quando
o faço, Franco, se enfia entre elas, e se apoia nos antebraços,
ficando em cima de mim.
— Está com medo?
— Estou ansiosa. — sussurro.
— Não fiquei, eu farei bem devagarinho. — seus lábios
moldam os meus, e sua mão desce entre os meus seios fazendo
longas carícias, um arrepio se estende ao longo do meu corpo, e
desejei estar coberta.
Franco agarra o meu peito e o aperta, os seus lábios soltam
os meus de repente abocanham o meu mamilo, fico tensa quando
ele suga fazendo-me ofegar.
Franco percebeu, ele solta meu seio e abocanha o outro
com força, sugando e me olhando nos olhos. Minha face queima, e
há uma forte agitação em meu sexo, tento fechar as pernas, mas
Franco está entre elas.
— Franco... — balbucio o seu nome involuntariamente. Ele
morde o meu mamilo e um gemido passa por meus lábios.
Puta merda o que ele está fazendo comigo?!
— Você já se acariciou alguma vez? — Franco pergunta
naturalmente, e se afasta, ele segura na extremidade da minha
calcinha e desliza pelas minhas coxas, soltando ao lado.
Mexo a cabeça mecanicamente.
— Está me dizendo que seu primeiro orgasmo também será
meu?
— Se eu conseguir ter um. — falo sem pensar, Franco
estreita os olhos, e seus dedos invadem minhas dobras, fico
vermelha, por estarem úmidas.
Seu polegar pressiona o meu ponto sensível, me fazer arfar,
ele faz de novo, dessa vez olhando em meus olhos e continua me
estimulando torturantemente devagar, tento fechar as pernas,
Franco não permite, a pressão em seu polegar aumenta fazendo-me
agarrar no lençol e arquear o quadril inconscientemente, contra sua
mão.
— Você está quase gozando. — ele firma e sua mão
abandona o meu sexo, me deixando com o peito subindo e
descendo, acelerado, e sem entender nada.
O que diabos você está fazendo comigo?
— Quer que eu continue, Fiorella? — suas mãos sobem
para os meus joelhos, — Quer que eu te chupe e te faça gozar? —
ele me provoca com suas palavras que me deixam tímida.
O silêncio se estende, eu passei horas praguejando o nome
dele, e agora estou pronta para dizer, sim, para que ele continue me
tocando, quando tudo que eu menos queria era ser tocada por ele.
— Diga. — ele incentiva, e seus dedos se enterram na
minha umidade outra vez, fazendo algo oscilar em meu corpo.
— Sim. — minha voz sai num sopro, envergonhada, eu
devia odiá-lo, não desejá-lo entre as minhas pernas.
Ele sorri, convencido, e desce até o ápice das minhas
coxas, seus dentes mordem o interior da minha perna, e eu sufoco
um grito, me agarrando aos lençóis.
— Não adianta lutar contra isso, Fiorella. Você é minha. —
e com essas palavras a sua língua desliza no meu canal, e seus
lábios se fecham em torno do meu clitóris, Franco não me dá
espaço para pensar, respirar, e me chupa com violência,
provocando uma onda de sensações diferentes, que eu coloco para
fora, em infinitos gemidos.
Seus lábios suavizam, e até consigo puxar o ar, de repente
Franco desliza um dedo para dentro de mim, me fazendo enrijecer
inteiramente.
— Relaxa. — ele pede, com seu dedo ainda dentro de mim,
mas faço o contrário e acabo sugando-o. Franco aperta os lábios
com força, e seus olhos gritam de tesão. — Você é apertada pra
caralho, — ele morde o lábio, parece que faz com força, e coloca
outro dedo, começando a me penetrar lentamente, respiro fundo me
acostumando com a sensação.
Franco desliza o polegar pelo meu clitóris, fazendo-me
contorcer outra vez, seus dedos atingem mais fundo, gemo e mexo
o quadril com urgência contra a sua mão, sem conseguir refrear as
minhas ações, atingindo um ponto doce e sensível. Repetimos o
gesto e encontramos um ritmo que me leva à beira do abismo.
Sinto os últimos tremores do orgasmo com as pernas
bambas, e assisto Franco se livrar das roupas. Ele baixa a cueca
branca da Dolce & Gabbana e seu membro salta poderoso para
fora.
Engulo em seco, com os olhos tomados de terror, seu pau
parece milimetricamente incabível, eu nunca vi ou senti um para ter
noção, contudo, apenas o seu dedo já me deixou desconfortável.
— Eu não vou meter com força. — avisa, se aproximando
das minhas pernas, que eu timidamente fecho, com força. Ele não
tenta abri-las, mas desliza a mão pela minha coxa e seu dedo invadi
minha umidade.
Minhas pernas cedem ao seu toque, e Franco continua me
estimulando lentamente, vagarosamente sinto os espasmos se
direcionar a minha virilha.
Franco cai sobre mim, se apoiando no cotovelo, e sua mão
continua me aliciando docemente. Seus lábios encontram os meus e
seu pau ocupa o lugar da sua mão, fico dura como uma rocha, e o
meu coração freia em meus ouvidos.
— Relaxa. — fala e o esfrega em meu sexo lentamente, de
repente Franco desliza a cabeça, ele geme e pragueja baixinho.
O ar fica preso em minha garganta e estou com todos os
músculos do meu corpo, tensionado. Nunca vou conseguir relaxar, é
impossível. Ele desliza para dentro e um grito agudo escapa por
meus lábios.
— Ai caralhooo! — uivo, a dor é infernal, as paredes
internas reclamam pelo alargamento repetido, que preciso me
segurar para não empurrá-lo para longe.
Abro os olhos com os dentes cerrados, Franco está me
olhando de volta, sua expressão é cautelosa, mas seus olhos
brilham em preocupação.
— Está doendo muito? — pergunta, sem se mexer.
— O que você acha? — exclamo, entre os dentes, e com as
unhas enterradas em seus ombros.
— Acho que você é a mulher mais apertada que eu já
entrei.
— Que meigo. — escarneço, ganhando um riso.
— Eu vou me mover, tente relaxar. — lhe dou um olhar
violento, e Franco tenta esconder o início de um riso enterrando a
cabeça na curva do meu pescoço.
Minhas mãos deslizam para seu pescoço, e bem lentamente
ele sai quase totalmente de mim, respiro fundo, quase aliviada, e
gemo quando ele volta a me preencher vagarosamente.
Franco repete o gesto, e entra com mais força, estremeço
com a dor e, quando ouço um grunhido felino em meu ouvido sinto
até os pelos dos meus braços arrepiarem.
— Posso continuar? — ele pergunta com a voz
entrecortada, e com o corpo inteiramente rijo em cima de mim.
— Sim.
Franco apoia o cotovelo no colchão e desliza a mão por
baixo da minha nuca, ele puxa meu lábio com os dentes e me beija
sem piedade, me concentro apenas na forma que nossas línguas se
provocam, e se entrelaçam, enquanto ele reivindica o meu corpo
dolorosamente lentamente.
Entre os seus gemidos abafados por meus lábios, e suas
carícias, sinto que algo cresce profundamente dentro de mim, mas
antes que eu descubra o que é Franco, goza com força em um
golpe duro.
— Com o tempo melhora. — menciona contra minha boca, e
desliza para fora de mim.
Franco senta na extremidade da cama e faço o mesmo logo
atrás dele, sentindo-me muito dolorida, dos pés à cabeça.
Meus olhos caem sobre suas costas, e o choque atravessa
o meu rosto, há tantas cicatrizes, como se Franco tivesse sido
açoitado, porém as marcas seguem um padrão, exibindo o formato
de asas.
Toco em suas cicatrizes com as pontas dos dedos, e Franco
me olha por cima do ombro.
— O que fizeram com você? — pergunto um pouco
espantada, isso deve ter doido horrores.
— Há dois anos fui capturado, por um homem que usava
uma máscara escura, ele me prendeu com grilhões e me desenhou
asas com uma lâmina.
— Asas são por causa do apelido?
O corvo.
— Quem sabe. — Franco diz com um pequeno encolher de
ombros, — Todo o homem que ele pega, é encontrado morto com
desenhos feitos à faca.
— Isso é horrível. Você o matou? — pergunto, me pondo de
joelhos e sentando nos calcanhares.
— Ainda não, pois não tenho ideia de quem ele seja. —
Franco fica de pé e anda silenciosamente em direção ao banheiro,
ele fecha a porta e fico sem saber o que fazer.
Será que eu disse algo errado?
Olho para a cama e as pétalas estão amassadas, e no meio
do lençol uma mancha de sangue bem clarinha, provando a minha
santa inocência. Deito-me na cama e espero ele sair do banheiro,
por mais exausta que eu esteja um banho viria a calhar, a
maquiagem ainda me pesa na face.
Mais de meia hora se passou desde que Franco entrou l, às
minhas vistas pesam, e eu me entrego ao sono, sem forças para
resistir.
Acordo sobressaltada e sinto um peso sobre a minha
cintura, olho por cima do ombro e Franco está com a face enterrada
em minhas costas e o braço agarrado em mim.
Deslizo devagarinho para fora da cama, abro minha mala
silenciosamente e me deparo com dezenas de calcinhas minúsculas
de renda de todas as cores. Cristo!
Pego qualquer uma, e um sutiã, depois abro outra mala e
sem escolher muito, tiro de dentro uma saia xadrez, preta com a cor
creme, uma blusa branca de tricot com gola caída e uma meia
calça.
Entro no banho sentindo o meu corpo dolorido, parece que
eu levei uma surra na noite passada. Mas não chegou nem perto
disso, tirando a parte terrível da penetração, foi bom pra cacete,
pensei que fosse explodir de dentro para fora de tanto prazer.
Fraca! Meu cérebro maldoso cochicha e com razão, eu não
resisti, fui uma boa esposa como me foi pedido, e gostei. Ambos
não tivemos escolhas com relação a esse casamento, mas Franco
ainda teve a opção de escolher entre mim e Sienna. E ele me
escolheu, ele mudou a minha vida toda, desgraçado.
Não ter voz me enfurece, ele poderá viver normalmente, o
casamento já aconteceu, já foi consumado, Franco pode
simplesmente me jogar em uma casa e me esquecer lá para
sempre. O medo se instala rapidamente na boca do meu estômago,
talvez eu não devesse ter dado tudo de bandeja.
Quero bater minha cabeça na parede, mas não o faço, pois
a porta do banheiro é aberta, viro-me de costas sem saber como
encará-lo. Franco se aproxima por trás e sinto sua ereção na minha
bunda, ele enterra seus dedos em minha cintura, e me puxa contra
seu corpo, o seu pau desliza entre as minhas pernas. E o escuto
gemer em meu ouvido.
— Que bunda. — ele aperta minha nádega direita, e sua
mão desliza para o meio dos meus peitos — Quero o seu corpo,
Fiore, quero sentir sua boceta quente e macia no meu pau outra
vez. — diz com a voz grave em meu ouvido e meu coração explode
de tensão e de excitação, deve ter algo bem errado comigo.
— Franco... — balbucio.
— Eu sei que está dolorida ainda, acalme o coração, eu não
vou entrar em você, não agora.
Ele me solta, e eu deixo o banho com as pernas trêmulas,
me visto rapidamente com a roupa que escolhi, e calço uma bota de
salto alto e cano curto. Pelo menos não precisei me livrar de todas
as minhas coisas.
Estou secando os cabelos, quando ele deixa o banheiro com
uma toalha enrolada na cintura. Observo ele se arrumar pelo
espelho da penteadeira, enquanto finjo secar as pontas do meu
cabelo.
Franco tira a tolha e seu traseiro musculoso fica a vista,
meus olhos sobem para suas costas e as cicatrizes me fazem ter
pena dele, apesar deste ser o preço por viver na sombra da máfia:
sangue, honra e poder, esse é o lema.
Franco coloca o coldre duplo e depois um terno inteiramente
preto e se vira para mim de repente, nossos olhos se encontram no
espelho, não tenho tempo de desviar, então ajeito minha franja em
frente aos olhos e desligo o secador, meus ouvidos agradecem.
— Vamos tomar café com a nossa família, e depois vamos
pra casa.
Assinto, ansiosa para ver as meninas outra vez, passo pelo
Franco buscando a saída, mas ele me segura pelo braço, impedindo
minha passagem.
— Devagar Fiorella, é uma mulher casada agora, não pode
mais sair por aí se comportando como uma adolescente.
— Tem vergonha do meu comportamento? — pergunto e
soa irônico.
— Você bufa, revira os olhos e faz cara feia
constantemente.
— Você está sempre de cara feia e isso não parece um
problema pra você.
— As pessoas temem o que elas veem. — me esforço para
não revirar os olhos.
— Eu vou tentar ser mais delicada em público.
— Ótimo. — Sibila.
Descemos juntos, andando civilizadamente como um casal
qualquer, mas quando chegamos ao espaço de refeição, tenho que
frear os pés ao lado de Franco para não sair correndo abraçar a
minha família.
O salão é oval em tons de dourado, e há duas grandes
mesas com comidas distribuídas ao longo delas. Os homens estão
sentados de um lado e as mulheres do outro. Os olhos do meu pai
encontram os meus, assim que ele nota nossa presença, sua
expressão se suaviza por um momento, mas o ignoro, e vejo Romeo
e Teodoro me analisando de longe também, suspiro, e dirijo meu
olhar para as meninas na mesa do outro lado, junto com a mãe e a
irmã de Franco.
Minhas irmãs sorriem animadas e seus olhos brilham em
perguntas que elas não podem me fazer, por ora.
— Vá se despedir. — Franco fala, e sinto uma ponta de
tristeza, penetrar o meu coração.
Ando até elas com passos rápidos, sem me importar com a
delicadeza, tenho mais meia hora, talvez uma, com elas e só Deus
sabe quando nos veremos novamente, não quero perder um
segundo.
Me aproximo da mesa e as mulheres me dão olhares
curiosos, exceto Edwina, gostaria de saber porque ela tem essa
aversão por mim, se mal nos conhecemos.
— Teve bons sonhos, Ella? — Helena pergunta em tom
baixo quando me sento entre ela e Sienna.
Eu coro involuntariamente puxando um pedaço de pão da
cesta.
— Eu dormi muito bem, obrigada. — ela sorri, bebericando o
seu café.
As mulheres começam a conversar entre si e fico aliviada
por minha noite de núpcias não ser o centro das atenções.
Depois de engolir o meu café quase às pressas, peço
licença para ir ao banheiro, Sienna e Helena me seguem, sem
disfarçar que estamos indo fofocar. E Lazzaro nos segue de longe,
está aí um dos motivos da minha cara feia, das minhas bufadas, e
viradas de olhos, eu não tenho um minuto de paz.
— Como foi, Ella? Ele a machucou? — Sienna questiona
inspecionando o meu corpo.
— Eu estou bem, ele não me forçou. — as duas arregalaram
os olhos surpreendidas.
— Então ainda é virgem? — Helena questiona.
Mexo a cabeça mecanicamente, e me sinto corar, porra
porque eu sempre fico corada quando o assunto é sexo?!
— E foi bom? — Sienna quer saber.
— Sim, mas dói pra caralho. — elas me encaram
assustadas.
— Ai, eu não acredito que você vai ficar aqui. Me liga ou
manda mensagem sempre que puder. — Helena pede e me abraça
apertado.
— Papai ficou com o meu telefone.
— Talvez Franco te dê um. — Sienna expõe com pesar.
— Veremos. — menciono completamente desanimada. —
Eu não quero ir. — adiciono abraçando ambas e a porta do banheiro
se abre.
Edwina adentra, ela faz cara de desdém em nossa direção,
mas apenas eu vejo, pois minhas irmãs estão de costas, e até
melhor assim, Helena ia querer arrancar os olhos da garota. O que
não me parece uma má ideia.
Deixamos o banheiro, às três, meu pai já estava de pé ao
lado de Dona, que embala o pequeno Dario inquieto. Me aproximo
deles e Dario tenta vir para o meu colo, ele é um pouco parecido
com meu pai, mas tem os olhos de Dona, castanhos brilhantes.
— Como passou a noite? — papai pergunta, me fazendo
arquear a sobrancelha, em uma sutil pergunta: QUER DETALHES?
Porém eu sei que tudo o que ele quer saber é se eu estou bem.
— Estou viva, não estou. — respondo com mágoa, ele vai
embora e me abandonará aqui, não sei se um dia o perdoarei por
isso.
— Ele sentirá falta de você. — Dona a apaziguadora, diz e
empurra o pequeno para os meus braços. Dario tenta pegar meus
cabelos e levar a boca.
— Ele sentirá falta de comer os meus cabelos. — retruco
tirando uma mexa das suas mãos gordinhas e aperto sua bochecha
fofa. — Sentirei falta de você Zezé Pêra. — Dona faz careta para o
apelido que eu lhe dei, mas o meu pai ri.
— Está na hora de ir. — papai diz e um nó se forma na boca
do meu estômago.
— Descemos com eles. — Franco informa parando ao meu
lado, nisso Dario se estica e puxa sua gravata para fora do terno,
puxo meu irmão de volta para meus braços, mas ele ainda está
agarrado na gravata.
Papai cerra o maxilar, quando Franco segura o bracinho de
Dario e o solta do tecido com uma expressão quase suave.
— Vamos. — Franco avisa.
Descemos todos em dois elevadores, conosco veio minhas
irmãs, os guarda-costas e Ettore.
Chegamos ao saguão juntos, os segui para fora hotel e
fiquei embaixo do toldo, nos degraus com tapetes vermelhos, vendo
os seguranças guardarem as malas. Franco ficou logo atrás de mim
cuidando de cada movimento meu.
— Deixei uma surpresa para você, nas tangas. — Helena
fala com sorriso, abraço minha amiga sem entender o que ela quer
dizer.
— Se cuide, Hell. — ela assente e nossos olhos se enchem
d’água juntos.
— Somos tão bobas. — ela balbucia e se afasta, com
certeza tentando esconder as lágrimas, e minha irmã ocupa o seu
lugar e me abraça apertado.
— Sentirei sua falta, nada mais será igual sem você lá, Ella.
— Pare não me faça chorar mais. — peço tentando reprimir
as lágrimas, e a minha garganta começa a doer.
Papai não me deu um abraço, ele apenas deu um sorriso
que não alcançou os olhos e entrou no carro, já Dona se aproxima
com um sorriso acolhedor e me aperta contra seu peito com força.
— Carlo ama você mais que tudo, não se esqueça disso. —
sussurra.
Mexo a cabeça mecanicamente, incapaz de pronunciar
qualquer coisa, parece que há um buraco em meu peito que fica
cada vez maior.
Dona entra no carro e quando fecha a porta o ursinho,
cantor e mordedor de Dario cai para fora, pela janela do carro.
Desço o restante dos degraus e ando até o ursinho o
apanho do chão e quando estendo para Dona, uma explosão
reverbera a céu aberto, quase que no mesmo instante escuto meu
nome passar pelos lábios de Franco e quando me dou conta do que
está acontecendo, meu corpo já está tombando para trás, e uma dor
penetrante atravessa o meu pescoço.
Bato a cabeça no mármore da calçada e a escuridão toma
conta dos meus olhos, em instantes sinto mãos em meu corpo,
depois em meu pescoço, um cheiro forte e metálico envolve meu
olfato me deixando enjoada.
— Ela está viva. — Franco avisa para alguém, e sou erguida
do chão — Conserte essa bagunça e encontre quem fez isso. —
ouço e a escuridão me leva completamente.
Minhas pálpebras tremem com o esforço que eu faço para
abri-las, e mal consigo enxergar uma réstia de luz. Sinto meu corpo
cansado, pesado, mas não sinto dor, isso é um bom sinal, eu acho.
Ouço vozes indistinguíveis de longe, e também uma porta abrindo e
fechando. E sem compreender muita coisa a escuridão me leva
outra vez.
Abro os olhos banhada de suor, minha visão demora um
instante para se ajustar ao ambiente. Estou em um quarto tão claro
que dói as vistas, as paredes são brancas e tem uma pequena
mesa ao lado da porta envernizada.
Vagueio os olhos pelo resto do cômodo e tem uma pessoa
com roupas claras sentada em minha cama, de costas para mim.
Umedeço os lábios sentindo a garganta seca, e tento me esticar
para tocar em seu ombro, mas estou presa.
Olho para os meus pulsos um de cada lado, eu estou
amarrada aos ferros da cama.
Oh não! Eu devia ter previsto que ele faria isso comigo.
Desgraçado.
O alvoroço invade o meu corpo, fazendo-me tremer
violentamente conforme tento puxar os pulsos com força das
amarras, a pessoa que estava sentada se vira para mim, seu rosto é
um borrão, em meio a minha fúria e as lágrimas que invadem meus
olhos.
— Me solte! — ordeno, me debatendo contra as amarras.
— Eu não posso. — sua voz sai tremula, ela pega o telefone
e o leva a orelha ficando de costas para mim.
A adrenalina invade minhas veias, cedendo-me a uma força
incomum, giro o corpo na direção da mulher, e agarro-a com força;
uma perna na cintura e a outra sob seu peito, ela cambaleia para
trás batendo sua cabeça em minha barriga, o ar me escapa dos
pulmões, a mulher escorrega centímetros, mas prendo minhas
pernas com força envolta do seu pescoço e a pressiono contra meu
ventre.
— Onde diabos eu estou? — grito, sentido as braçadeiras
de plástico rasgando o meu pulso, conforme a mulher faz força para
se soltar, me arrastando junto.
— Estará morta em breve se não me soltar. — ela urra com
as unhas enterradas em minha perna por cima da meia calça.
— Se eu não te matar primeiro. — digo entredentes
apertando seu pescoço com toda a minha força.
A mulher solta um berro que ecoa pelo quarto, em segundos
a porta envernizada é escancarada. Edwina surge no batente, e fica
horrorizada em frente a ela.
— Solte-a! — uma voz grossa e firme feito aço reverbera
além da garota na porta e me faz congelar. Franco puxa Edwina
para fora e Ettore surge atrás dele e sua expressão fica em choque
como a de Edwina, ele solta uma sequência de resmungos
incompreensíveis.
— Onde eu estou? — grito, mas minha voz sai esganiçada
pela aflição, — Porque me prendeu? — choramingo.
Franco faz a volta na cama, sua expressão é de cólera,
parece que ele deseja me matar.
— Eu disse para soltá-la, Fiorella. — fala duramente e
encara a mulher, consigo ver pelo olhar dele que se preocupa com
ela.
Minha vontade é de partir o pescoço dela com as pernas,
mas alívio o aperto e a empurro para longe com um chute, ela cai
para frente de joelhos tossindo, Franco a puxa para cima. E a
mulher se vira para mim com um gesto de indignação e com a face
muito vermelha, demoro segundos para reconhecê-la, é a mesma
com quem Franco estava na saída do hotel Plaza.
Franco a segura pelos ombros quando ela ameaça vir na
minha direção, a raiva flui dos seus olhos, mas não me dão medo,
eu continuo a encarando.
— Saiam todos. — Franco ordena e direciona a mulher para
saída, assim que Ettore fecha a porta atrás de si, o meu marido se
vira para mim com uma expressão ilegível.
Franco enfia a mão dentro do paletó e pega uma faca
média, ele se aproxima, sentando ao meu lado, na extremidade da
cama e permanece em silêncio por um tempo, olhando o meu
pescoço.
— Por que você a atacou? — meus olhos caem sobre o
metal da faca em sua mão.
— Me solta que eu conto. — digo buscando por seus olhos.
— Porque a atacou? — repete com uma voz incisiva e seus
dedos se fecham com força no cabo de aço. Reprimo a vontade de
gritar com ele, e escoro a cabeça para trás contra os travesseiros,
sentindo as lágrimas escorrerem por minhas têmporas.
Ele devia estar me consolando, não? Afinal fui eu quem
levou um tiro, porém ele está aqui, quase implodindo em raiva,
porque eu ataquei a sua... amante?
— Você não pode mais fazer isso, entendeu? — fecho os
olhos sentindo-os queimar.
— Eu não vou machucá-la. — digo mecanicamente e não
tento parecer convincente.
Franco leva a faca na amarra e solta uma de cada vez,
deslizo a mão para o pescoço e tem um curativo grudado.
— Você levou um tiro de um raspão, mas pelo visto já está
bem.
Oh, claro estou soltando fogos.
— Foi a Bratva? — questiono, massageando os meus
pulsos, machucados.
— Não, o seu pai seria o alvo principal, mas eles acertaram
você, para atingir a mim. — seus olhos mostram remorso.
— Camorra?
— Bem provável, — Franco me analisa, — isso não vai mais
acontecer, eu prometo.
— Você não pode me prometer isso.
— Eu farei o possível para cumprir. — ele fica de pé e sua
expressão está mais suave, como se ele tivesse enjaulado o
monstro.
— Porque me amarrou? — ele solta o ar lentamente.
— Foi Ettore, você estava incontrolável, não queria levar os
pontos e tentou nocauteá-lo, eu cheguei agora pouco. — esclarece.
— Não lembro nada.
— Deve ser o choque, vamos pra casa. — ele me puxa para
seus braços, e vejo que estou sem minhas botas.
— E a minha família?
— Voltaram pra Chicago, o seu pai não tem autoridade em
Nova Iorque, não adiantava tê-lo por aqui. — não consigo disfarçar
o desgosto, e cada vez fica mais longe de eu querer perdoá-lo. —
Ele pediu para ligar quando estiver melhor.
— Onde estamos? — pergunto quando saímos do quarto
para uma área externa, pelas fotos de animais nas paredes pintadas
de azuis celestes, parece muito um pet shop.
— Uma clínica veterinária, — diz me levado por um
corredor, — O médico que atende a Famiglia, estava mais bêbado
que um gambá.
— Quem fez os meus pontos? — questiono, olhando sua
face que se mantém impenetrável, ao contrário dos seus músculos
que ficam tensos contra o meu corpo.
— Verônica, a mulher que você estava sufocando, é filha do
médico.
— Ela cuida de animais. — digo e me sinto ofendida.
— Foram apenas pontos. — a voz dele sobe.
Cerro o maxilar e me calo quando entramos em uma sala de
recepção muito fofa, com paredes claras e patinhas desenhadas, e
uma quinquilharia de coisas para animais em estantes. Escoro a
cabeça na curva do pescoço de Franco e ignoro os olhares feios.
— Vou ficar mais um pouco com a V, ela está em choque
por ter sido estrangulada. — Edwina diz em um tom pesado de
agressividade.
Minha vontade é de pular do colo dele e arrancar a língua da
garota, mas faço algo que os pega de surpresa.
— Obrigada pelos pontos e, lamento tê-la machucado, eu
fiquei assustada quando percebi que estava amarrada. — expresso
gentilmente para a mulher. O seu cabelo loiro dourado está preso
em um coque frouxo revelando um pescoço carmesim.
Ela assente levemente com a cabeça, e seus olhos desviam
dos meus para Franco, brevemente. Ele gosta dele, até um cego
conseguiria ver.
— Lamenta o caralho, foi Franco que mandou você dizer
isso! — Edwina afirma.
— Não mandei, e já basta Edwina, não vou permitir que fale
assim com a Fiorella — escondo a surpresa gritante em minha face
pelo repentino apoio dele, enfiando a cabeça em seu pescoço
novamente.
Deixamos a clínica em silêncio e já anoiteceu, me pergunto
quanto tempo eu apaguei, enquanto Franco me põe na BMW, que
está estacionada no acostamento. Encostei a minha cabeça no
banco e observei as ruas agitadas de Nova Iorque até entramos em
um bairro com grandes mansões, algumas lembram a minha casa, e
me pego desejando estar lá.
Respiro fundo com dificuldade, parece que há mãos
apertando o meu coração com força. Quero chorar, mas reprimo as
lágrimas. Essa é a minha realidade agora e preciso dar um jeito de
ficar bem com isso, antes que eu entre em colapso.
Franco atravessa os portões assim que dois seguranças os
abrem para trás. Consigo ver a mansão nitidamente, é tão
espalhafatosa quanto o casamento, exala luxo e poder em cada
detalhe; tem dois andares, sua cor é clara e tem muita iluminação,
há tantas janelas e portas que fico confusa em busca da entrada
principal, e há sua frente um exagerado jardim com uma piscina
retangular de uns seis metros de comprimento, talvez.
Franco estaciona e desce me pegando no colo em seguida.
— Gostou? — pergunto me vendo absorver o lugar todo.
— Essa casa é só pra nós?
— Sim.
— Sua intenção não é me ver pelo resto do casamento? —
questiono, pois é isso que parece.
— Pensei que fosse gostar, lembra um pouco sua antiga
casa.
— Sim, mas éramos uma família de seis.
— Também não me sinto à vontade em um lugar tão grande,
mas essa era a única casa próxima da minha família, e nesse
momento eu preciso ficar perto deles.
— Por causa do seu pai?
Franco assente, sem dar explicações e acho melhor não
questionar, acredito que ele não confie em mim, para dar mais
detalhes. Não o julgo, eu também não confiaria.
— Onde morava?
— Em um apartamento residencial, no Plaza. — explica e
começa a se dirigir para dentro da casa.
— Você ainda tem o apartamento?
— Tenho. — diz passando por uma porta de vidro e me
colocando no assoalho de madeira escura.
Estamos entre a cozinha e a sala de jantar, meus olhos
vagueiam pela sofisticada bancada, e para a parafernália de
acessórios que há ao longo da cozinha.
— Eu não sei cozinhar. — menciono, seguindo Franco para
um corredor largo, passando por uma sala de repouso e entrando
em outra bem grande.
— Tudo bem, amanhã cedo você conhecerá os funcionários.
Vagueio os olhos pela extensão do cômodo, há pelo menos
três colossais sofás brancos, tapete felpudo escuro, mesa de centro,
um piano no canto perto de uma parede de vidro e uma TV em cima
da lareira.
— Você toca? — quero saber.
— Não, é para você. — diz atravessando a sala, o sigo,
subindo para o segundo andar com Franco sempre a minha frente,
ele parece com pressa.
— E como sabe que eu toco?
— Eu sei muita coisa sobre você. — franzo os olhos na
dúvida.
— Além do piano, o que mais sabe?
— Está bem falante. — ele comenta, mas soa como uma
reprimenda, me olhando por cima do ombro e fazendo-me ficar sem
jeito.
Quando estou nervosa eu fico falante, pois assim esqueço o
que está atormentando os meus pensamentos, mas parece que
minhas perguntas estão o aborrecendo.
Sigo-o através de um corredor com o formato de um T, há
portas em ambos os lados, contei pelo menos dez, e quando
chegamos ao fim do corredor, viramos à direita ficando em frente
uma larga porta branca.
— Está com fome? — pergunta abrindo as portas da suíte.
— Não. — respondo olhando para a vastidão do quarto.
— Eu não estou acostumado com pessoas tagarelas, — diz
me fazendo corar nitidamente, — mas você é a minha esposa
Fiorella, eu vou escutar você.
Assinto, mordiscando o interior da bochecha.
— Tome um banho, eu preciso fazer algumas ligações. —
ele se retira e eu jogo a cabeça para trás, me sentindo uma idiota e
uma fisgada em meus pontos no pescoço. Cacete, ranjo os dentes.
As minhas malas estão aos pés de uma grande cama de
madeira escura com cabeceira estofada de couro preto. Me abaixo
no chão e abro as duas malas.
Pego qualquer camisola preta e jogo para cima da cama,
depois vasculho a mala de lingerie atrás da peça menos sexy, mas
tudo grita SEXO, dentro da mala. Suspiro pego uma calcinha da
mesma cor da camisola e quando vou fechar a mala, um aparelho
celular escorre do compartimento extra. Oh céus! É o telefone da
Helena.
Pego o aparelho e ligo a tela, está com pouco bateria e tem
uma pequena mensagem gravada na tela:
Mandarei meu número novo em breve, Com amor Hell.
Instantaneamente fico feliz, e escondo o celular de volta no
compartimento junto com o carregador enrolado. Fecho as malas e
procuro pelo banheiro. O quarto tem uma ampla janela dando vista
para o pátio da frente e logo ao lado fica o closet, espio por cima é
bem espaçoso, e está repleto de ternos pretos de um lado, do outro
vazio, acredito que seja o meu espaço.
Junto minhas peças de roupa em cima da cama e caminho
para o banheiro do lado oposto do quarto. Olho para a banheira
oval, e por um segundo penso em me afundar nela e esquecer da
vida. Mas decido que o chuveiro é a melhor opção.
Fecho a porta e me viro para o espelho, tomo um susto
quando me vejo, há sangue para tudo quanto é lado, os meus
cabelos perolados estão vermelhos iguais a minha blusa branca. Há
sangue seco na curva do meu queixo, pescoço e orelha e minha
pele está pálida como se eu tivesse visto um fantasma.
Arranco minha roupa e o curativo com cuidado. Faço cara
feia assim que vejo os pontos pretos, não tenho ideia de quantos
foram, mas há pelo menos uns oito centímetros de linha preta.
Tomo um banho ligeiro, sentindo o estômago roncar tão forte
que chega a doer, não devia ter dito que não estava com fome. Eu
mal toquei no café da manhã e pela minha palidez extrema devo ter
perdido um bom tanto de sangue.
Visto a camisola preta de tule, é curta para cacete, deixando
amostra a poupa da minha bunda e para completar é de renda
vazada nos seios e aberta em frente à barriga. Encaro-me no
espelho enquanto penteio o cabelo com pressa, cogito trocar de
roupa, mas sinto que se não comer algo logo vou desmaiar.
Entro no quarto e Franco ainda não subiu, desço me
familiarizando com o ambiente. Minha casa. Meu cérebro considera,
mas meu coração ainda não compartilha o mesmo pensamento.
Ouço a voz do meu marido vindo de algum canto da casa,
ele ainda deve estar no telefone. Entro na cozinha e pego um jarro
de leite na geladeira, abro algumas centenas de armários atrás de
um copo, estava cogitando tomar no bico quando encontrei.
Encontro o saco de pão e faço um sanduíche rapidamente.
Quando começo a comer ouço passos vindos em minha direção,
tento manter minha expressão natural, mas congelo quando vejo
Franco, Ettore, Lazzaro e mais outro cara adentrar a cozinha. Quase
engasgo com o pão, ficando um em tom escarlate. O olhar de
Franco cai impiedosamente sobre meu corpo, os outros homens
desviam rapidamente o olhar assumindo uma expressão séria e
desaparecem de vista como ratos fugindo para o esgoto.
O pão entala em minha garganta e sou forçada a tomar o
resto do leite para descer.
Franco fecha a porta e entra na cozinha com passos
cautelosos me analisando predatoriamente. Questiono-me quanto
tempo eu levaria para subir correndo e vestir algo apropriado. Grrr,
como se houvesse algo naquela mala.
— Pensei que estivéssemos a sós. — balbucio, voltando a
comer o meu pão, indiferente.
— Você comia pão vestida dessa forma na sua antiga casa?
— coro sem argumento e mexo a cabeça mecanicamente. — Então
pôs para me provocar? — seus olhos brilham diante da pergunta.
Mexo a cabeça novamente.
— Não fui eu quem arrumou a mala de roupa íntima. —
esclareço, quando ele para diante de mim, Franco tirou o terno, mas
ainda está usando o coldre. Ele coloca uma mão de cada lado do
balcão me prendendo, engulo o pão com força me sentindo
empanturrada.
— Como está o pescoço? — questiona, pondo meu cabelo
para trás da orelha e inspecionando.
— Dolorido. — minto, não sinto porra alguma.
— E embaixo? — sua mão escorrega para minha barriga
nua, mas seguro-a no lugar.
— Estou cansada. — sussurro, seus olhos encontram os
meus e seus dedos se desvencilham da minha mão, alcançando o
meu sexo por cima da calcinha.
— Até para ser chupada? — ele sussurra em meu ouvido e
seu dedo desliza delicadamente pelo fino tecido da calcinha, cruzo
as pernas com força, sentindo minha intimidade se agitar
violentamente.
— Sim. — balbucio, mesmo que meu corpo grite o contrário,
e anseie pelo seu toque não quero que ele me veja só como um
pedaço de carne. Se alimenta e quando está satisfeito se afasta,
porque foi isso que ele fez na nossa noite de núpcias.
Franco se afasta de mim voltando a sua postura dura e
desaparece no corredor, apenas confirmando o que eu estava
pensando. Suspiro e termino de comer o meu pão sem vontade.
Queria entender porque o meu corpo reage tão rápido a
qualquer toque dele. Se Franco persistisse mais um pouco eu
cederia, incapaz de me controlar. Eu sou uma piada.
Subo para o quarto depois um longo momento, Franco está
embaixo de um fino lençol, com o peitoral desnudo até a cintura.
Desligo a luz, e ando até a cama, sentindo seus olhos em mim.
— Estava me esperando dormir para subir? — pergunta,
quando me deito na extremidade da cama e me encolho como um
feto.
— Sim. — admito de costas para ele.
— Abomina tanto assim o meu toque? — pergunta,
naturalmente.
— Não é isso. — digo incerta me virando para ele, antes até
que era, imaginar Franco com as mãos em mim me deixava em
cólicas — Você pretende me amar um dia ou esse casamento será
por dever para sempre? — ponho para fora me sentindo uma
garotinha tola.
Franco fica em silêncio por um longo tempo, estou
ponderando dormir e esquecer que eu fiz essa maldita pergunta. Ele
deve estar pensando: mulheres e os seus sentimentalismos, porém
se ele quer alguém só para foder que encontre na rua.
— Se eu responder por dever, nunca mais deixara eu te
tocar? — ele pergunta e meu estômago dói, não era bem isso que
estava esperando escutar.
— Talvez.
— Você entende que eu teria que me satisfazer fora de
casa, não é? — dou de ombros.
— Eu ainda não me importo se você tem outra pessoa,
Franco, mas eu não quero criar expectativas à toa.
— E quem iria satisfazer você? — ele pergunta se virando
para mim, mostrando curiosidade. Quero rir, o menor dos meus
problemas é o sexo.
— Não sei, algum segurança. — suponho, e sua feição
escurece violentamente.
— Meus homens nunca tocariam em um fio do seu cabelo, e
se um dia isso acontecer ele irá desejar não estar vivo. —
possessivo do caralho, quero berrar.
— Você não respondeu. — digo, pensando que talvez a
resposta dele esteja bem clara com essas diversas perguntas a
respeito de satisfazer. Viro-me de costas para ele exausta,
começando a sentir pequenas pontadas de dor nos pontos. Franco
me puxa pela cintura até o meio da cama, seu braço desliza para
minha barriga e se mantém ali estático.
E sem uma resposta eu adormeço.
Acordo com a luz do sol batendo em minha face.
Espreguiço-me fortemente e percebo que já estou sozinha na cama.
Encaro o céu nublado pelas cortinas abertas e tenho vontade de
ficar na cama, porém ao invés disso eu pulo para fora e enfio uma
saia de couro de cintura alta, com meia-calça preta grossa e uma
blusa vermelha, tricot. Escovo-me no banheiro e decido deixar os
cabelos soltos, está um ondulado nas pontas.
Desço as escadas para o primeiro andar e meu salto ecoa
no piso de madeira. A casa é muito mais iluminada durante o dia,
com suas várias janelas e paredes de vidro dando vista para o pátio
dos fundos.
Ando até a cozinha e encontro Franco sentado à mesa,
vestindo um terno preto, e tomando uma xícara de café, ele solta o
telefone na mesa e encontro o meu olhar.
— Vai sair? — pergunto.
— Sim, vou trabalhar.
— E onde é seu trabalho? — questiono me sentando à sua
frente.
— Em Wall Street.
— Onde nós moramos?
— Upper East Side.
— E qual é o seu trabalho? — Franco ergue a duas
sobrancelhas sutilmente.
— Quantas perguntas para uma manhã. — cerro o maxilar.
— Saber onde eu moro e qual é o emprego do meu marido,
é o mínimo. — ele inspira fortemente e toma um longo gole de café.
— Sou diretor de uma empresa de alta tecnologia. — franzo
os olhos, mas não retruco essa profissão não combina em nada
com ele.
— Que horas você costuma voltar? — Franco encolhe os
ombros.
— Nunca tive horário fixo. — aperto os lábios.
— O que eu faço o restante do dia? — agora ele aperta os
lábios, pensativo.
— Olhe um filme, leia um livro, toque piano.
Sinto-me letárgica, sem dúvidas eu devia ter ficado na
cama.
— Meus pais moram há cinco minutos, faça uma visita,
Edwina tem sua idade, converse com ela.
Rio.
— A sua irmã me odeia. — Franco não discorda. — Posso ir
conhecer melhor a cidade. — sugiro, pois me nego a ter que pedir
permissão.
— Até pegarmos quem atirou em você, terá que ficar em
casa.
Mexo a cabeça mecanicamente. De uma prisão para outra,
só que essa é bem mais solitária, meu peito dói de repente quando
começo a pensar nas meninas e meus olhos se enchem d’água.
Inferno faz um dia que não as vejo mas a sensação é de que nunca
mais as verei.
Saio da mesa e desapareço pelo corredor limpando as
lágrimas.
— Fiorella. — O meu nome ecoa pela casa, Franco pragueja
alguma coisa, mas não compreendo, pois já estou no segundo
andar entrando no quarto. Jogo-me na cama da onde não devia ter
saído, Franco adentra segundos depois e fecha a porta com força,
chego a estremecer com o som.
— Nunca mais me deixe falando sozinho. — sua voz
reverbera pelo meu corpo, — Você sabia que haveria mudanças,
Fiorella. — diz baixo e áspero.
O ignoro, pois se eu abrir a boca não sairá nada bonito.
Franco agarra o meu tornozelo de súbito e me arrasta para a
extremidade da cama. Seus olhos me engolem furiosos.
— Mudanças que eu não escolhi. — grito entre lágrimas,
tentando puxar o meu pé da sua mão. Franco fica me encarando no
meio da cama por um longo tempo, então de repente ele me solta e
se retira pisando firme.
Desabo para trás desejando morrer e assim eu fico por um
longo tempo encarando o teto, com o nariz entupido e lágrimas
incessantes, até adormecer.
Levanto da cama e desço, sentindo o cheiro de comida, meu
estômago ronca em resposta. Desço com receio de encontrar com
Franco, mas acredito que ele não estará em casa tão cedo.
Atravesso o corredor para a cozinha e encontro uma
pequena senhora de cabelos pretos presos em um coque, em frente
ao fogão. Lazzaro está sentado na ilha de costas para mim,
conversando com outra empregada de cabelos ruivos escuros,
vestida com um avental cinza. Ela se cala quando me enxerga e
Lazzaro se vira, seus olhos não alcançam os meus e ele se
endireita no assento.
— Bom dia. — falo entrando no espaço.
— Boa tarde. — o segurança comenta e me pego buscando
por algum relógio, encontro um grande, de parede em cima na sala
de jantar, já passou do meio dia.
— Senhora. — a mulher em frente ao fogão saúda com um
sorriso gentil, — Me chamo Elói e ela, — indica com o queixo uma
mulher ruiva de olhos claros, e sardas na face, — Se chama Nádia.
— É um prazer. — respondo me aproximando do balcão e
me sentando dois bancos longe de Lazzaro.
— Franco já almoçou, ele pediu que cozinhasse algo que
desejasse. Tem preferência?
— Ele esteve aqui? — a mulher percebe minha surpresa, e
responde rapidamente.
— Sim, foi embora há uns quinze minutos. Tem preferência
para algo? — acrescenta.
— Não, pode servir o que tiver pronto. — ela dá uma aceno
com a cabeça. Não demora muito até soltar um prato com batatas
gratinadas, ervilha e um pedaço de bife.
Começo a comer, e quando termino só estamos eu e Elói na
cozinha, ela termina de lavar a louça em silêncio.
— Elói. — chamo sua atenção, a mulher se vira com uma
expressão suave.
— Pois não senhora.
— Trabalha há muito tempo para Franco?
— Cinco anos.
— Como ele estava quando veio almoçar? — a mulher
ameaça apertar os lábios, mas substitui a ação por um sorriso.
— Estava normal.
— Carrancudo. — adiciono e ela sorri.
— Acredite é a expressão natural dele. — fala.
Deixo o meu prato na pia e subo para o quarto em busca
das minhas malas, elas foram arrastadas para o closet, mas estão
fechadas. Pego o telefone rapidamente, tranco a porta do quarto e
me atiro na cama.
Tem uma mensagem de Helena, com um número de
telefone para eu ligar.
Digito com os dedos trêmulos, e o coração tomado de
ansiedade.
— Ella?
— Hell?
— Ahh. — gritamos juntas.
— Como você está? A última vez que a vi... Céus Ella, achei
que estivesse morta e não saiu notícias na internet, em lugar algum,
estava começando a surtar.
— Franco com certeza abafou a confusão, mas eu estou
bem, foi só de raspão.
— E como estão as coisas aí? — quero saber.
— Tensas. Sienna e Dona estão dando um gelo em Carlo.
— ela fala e de repente escuto a voz da minha irmã atrás. — Te
coloquei no viva voz. — informa.
— Oh Ella, você nos deu um susto do caralho. — fico
surpresa em ouvir minha doce irmã falar um palavrão, Hell, a levará
para o mau caminho, sorrio.
— Um tiro que doeu bem menos que conviver com Franco.
— rio.
— Ele está a maltratando? — minha irmã pergunta, e
suspiro.
— Ele é um ogro, mas não me machucou. Eu só não
imaginei que sentiria tanta falta de casa, de vocês.
— Seja uma boa esposa, e então peça para nos deixar te
ver depois do Natal. — em outras palavras, abras as pernas e o faça
feliz. O natal é em um mês, será uma tarefa difícil bancar a esposa
feliz em tão pouco tempo.
— Eu vou tentar. — respondo e fico mais um tempo
pendurada com as meninas no telefone, relato como foi apavorante
acordar depois do tiro e estar amarrada, conto a elas sobre a
Verônica e a Edwina, e as duas surtam junto comigo.
Depois sobre a nossa conversa noite passada e em como
Franco me deixou no vácuo deixando-me pensar no que quiser.
— Você é perfeita Ella, ele vai te amar sem perceber. — Hell
comenta fazendo-me rir, se ele não me matar primeiro talvez aja
uma chance muito, muito pequena disso acontecer.
Despeço-me delas, e fico pensativa no que fazer, espio pela
janela, há seguranças por todo o pátio. Pergunto-me se ele pôs
tantos justamente porque consegui fugir do meu pai, e ele tema que
eu faça o mesmo se não for bem vigiada.
Pelo menos dentro de casa a única cara feia que preciso ver
é a de Lazzaro. Desço, acendo a lareira e me sento no sofá, perco
as horas maratonando John Wick.
Quando percebo já anoiteceu e estamos apenas Lazzaro e
eu, ele disfarçou, mas o peguei com os olhos na grande TV uma
porção de vezes.
Belisco a comida que Elói deixou para mim na cozinha e me
pego ansiando pela chegada de Franco, esse silêncio está me
matando. Subo para o quarto, tomo um banho e Franco ainda não
chegou.
Deito-me na cama e fico com os olhos na janela, cogito
pegar o telefone e ligar para Helena novamente, e nisso a porta do
quarto é aberta, estou de costas, mas sei que é ele.
Em instantes o chuveiro é ligado, Franco fica lá por uma
eternidade. Seguro minha vontade de ir até lá e perguntar por que
ele demorou tanto, mesmo que ele tenha dito que não tem horário
para voltar, já passou das onze horas da noite e eu não me sinto
confortável sozinha.
A luz do banheiro é apagada e a cama afunda em seguida,
Franco fica estático, ele não me toca, ele não conversa comigo, ele
nem parece respirar. Faço o mesmo, e acabo tendo uma noite
infernal, já deve ter passado das três da manhã e ainda estou
rolando na cama buscando uma posição confortável.
— Pare quieta. — ele resmunga, e me abraça pela cintura,
puxando-me e colando seu peito nas minhas costas.
E desse jeito eu miseravelmente consigo dormir.

Acordo sozinha, e pela claridade lá fora percebo que dormi


demais, sem vontade levanto da cama, me escovo e depois coloco
um vestido preto de mangas compridas e saia rodada.
Desço e encontro apenas Elói e Lazzaro na cozinha.
— Bom dia. — Ela saúda e me oferece um café, aceito de
bom grado me sentando ao lado do segurança. Pelo visto hoje será
mais um dia longo e silencioso entre mim e o guarda-costas, eu juro
que eu não entendo como ele consegue ficar aqui o dia inteiro me
vigiando. Como se eu fosse conseguir escapar pelos seguranças lá
fora.
Durante o café me pego pensando no que fazer no resto do
dia. Franco havia dito para eu ler um livro, será que ao menos tem
uma biblioteca em um dos cômodos?
Termino o café, e saio para explorar a casa. Ando em
direção oposta à escada e abro porta por porta, encontro: quarto,
despensa, escritório, banheiros, estou chegando a última porta do
corredor, sem fé que seja uma sala com livros.
Abro com força, pois parece que ela já não é usada há muito
tempo, ligo a luz ao lado e, me deparo com muitos móveis cobertos
por finos lençóis, e não há janela.
Fecho a porta e adentro a sala, descubro alguns móveis que
devem ser do antigo morador. Suspiro desanimada, são só quadros
e coisas velhas, puxo mais um lençol revelando uma grande estante
de madeira escura, com alguns livros.
Não fico contente com minha descoberta, pois metade
parecem ser livros para estudo, mas um em específico chama a
minha atenção, o autor russo Fiódor Dostoiévski, Crime e Castigo.
Escoro-me na estante e começo a folhear as páginas
amareladas sem a menor pretensão de ler e quando me dou conta
estou sentada no chão com as pernas cruzadas e chegando a
página 100.
Ergo-me do chão sentindo as nádegas formigar, solto o livro
na estante, e deixo a sala pensando em pedir um chá para Elói.
Quando chego a sala Lazzaro está parado no meio dela
rígido como uma pedra, e com o semblante fechadinho.
— Qual o problema? — pergunto, e nisso vejo Franco
descer as escadas para o primeiro andar, a sua expressão
consegue ser o pior que eu já vi.
Lazzaro deixa a sala com passos largos, levando consigo
Elói e Nádia, que estavam no corredor, às mulheres dizem algo
baixo, mas não compreendo.
— Sobe! — sua voz ruge atrás de mim, me assustando.
— O que eu fiz de errado? — Franco me pega pelo braço e
me arrasta escada acima, quando percebe que não tenho pretensão
de ir com ele por vontade própria.
— Onde diabos você estava? — sua voz é um chicote, me
despedaçando. Franco me solta, e eu cambaleio para fora do seu
alcance, atordoada.
— Na sala dos móveis cobertos por lençóis. — Franco
franze o cenho.
Ele não deve ter ideia da metade das salas que existem
nessa casa.
— Lazzaro me ligou e disse que você sumiu, nem ele ou os
empregados estavam te encontrando.
— Eu não desapareci, você está me vendo. — Ergo os
braços, incompreendida, — Não que você realmente se importe. —
escarneço.
— Você e sua língua insolente estão acabando com a minha
paciência Fiorella! — ele fala em tom baixo, ameaçador.
Encaro seus olhos na mesma intensidade raivosa que ele
olha os meus.
— Me escolheu, agora aguenta! — Sibilo entre os dentes,
Franco me pega pelos braços como se eu fosse uma boneca de
porcelana e me pressiona contra a parede.
Uma das suas mãos desliza para o meu pescoço, exibindo
como seria fácil para ele me matar. Meus olhos o encaram o
desafiando a seguir em frente. Franco morde o lábio inferior com
força, e seus dedos sólidos se mantêm estáticos, fecho os olhos,
esperando-o decidir se quer me matar ou me ignorar, mas sou
tomada por seus lábios.
Fico em choque, quando a língua dele entra na minha boca,
e a mão que desejava me estrangular, segura o meu rosto quase
que delicadamente. Franco traceja uma das mãos para a minha
coxa e sobe impetuosa por baixo do vestido. E impeço seus dedos
de invadirem minha calcinha.
— Franco. — sussurro contra seus lábios. Ele abre os olhos
e parece que recobrou o juízo.
— Me deixe tocá-la. — ele pede, em meu ouvido tão baixo
que é quase impossível de escutar, — Eu quero sentir o seu corpo,
Fiore e quero que deseje o meu toque em você. — suas mãos
apertam o meu quadril quase dolorosamente.
Oh céus, eu desejo o seu toque infeliz. Penso sentindo a
calcinha encharcar.
— Não. — pronuncio e Franco enrijece automaticamente,
suas feições ficam duras, aproveito que ele está estagnado e saio
do seu caminho, — Ontem você me ignorou o dia inteiro, agora
surta comigo sem razão, e meio segundo depois quer o meu corpo.
— O que você quer? — pergunta.
— Que me trate com respeito Franco. — é o mínimo. Seu
semblante se suaviza por um segundo.
— Eu perdi a cabeça quando pensei que tinha fugido. — ele
admite — Você não quer ficar aqui Fiorella, sei que na primeira
oportunidade que encontrar tentará desaparecer.
— Eu não quero fugir de você para morrer lá fora, mas eu
não quero ficar aqui presa e ignorada, só alimentando suas
necessidades.
— Você ainda não alimentou nenhuma das minhas
necessidades.
— Ahh. — expresso desacreditada. — É por isso que está
com tanta raiva?
Será que a mente do homem é tão pequena, e tudo é
relativo ao sexo?
Franco está com os lábios comprimidos, e quando os abre
para me responder o seu telefone toca. Ele puxa do bolso da calça e
atende em seguida, Franco me olha e deixa o quarto fechando a
porta.
Em instantes o vejo entrando na BMW, e outra vez eu fico
socada nessa maldita casa sem uma resposta. Inferno!
Coloco o telefone de Helena carregar em uma tomada que
tem atrás da cama, pois não achei outra em lugar algum do quarto,
e decido que hoje à noite eu peço um telefone para não ter que
esconder mais esse.
Desço, depois de um momento e encontro Elói e Lazzaro na
cozinha, nenhum ergue o olhar para mim, mas a tensão está no ar
esmagando o silêncio. Suspiro, abrindo a geladeira buscando algo
para comer.
— Eu estou bem. — aviso a ela, pegando um prato pronto e
pondo no micro-ondas. Sento-me ao lado de Lazzaro com um
sorriso, ele com certeza desejava que eu tomasse umas porradas,
mas não aconteceu.
— Nos dê licença, Lazzaro. — peço lembrando-me que
quando Dona foi para nossa casa, ela estava tão deslocada quanto
eu estou, e passava a maior parte do tempo na cozinha,
conversando com as funcionárias, acredito que tentando se encaixar
em qualquer lugar que fosse daquela casa.
— E para onde deseja que eu vá? — pergunta com uma
pitada de zombaria.
— Faça de conta que eu desapareci e vá me procurar. —
respondo na mesma audácia, ele cerra o maxilar e se retira.
O micro-ondas apita mostrando que minha comida está
pronta, e Elói me entrega em seguida e permanece parada em
minha frente do outro lado da ilha.
— Está bem mesmo? — ela cochicha, parece preocupada.
— Ele não me dá medo. — respondo e a pequena mulher
me olha como se eu devesse temer.
— Eu nunca o vi tão agitado, — sussurra com um riso, —
ele estava quase te procurando dentro dos armários. — rio.
— Eu não o compreendo.
— E quem é que compreende os homens? — ela aperta os
lábios.
— Ele tinha alguém antes de mim? — quero saber, Elói
trabalha para Franco há cinco anos, ela deve saber disso.
Analiso a expressão da mulher com cuidado, e noto que ela
não sabe o que responder.
— Eu não me importo com as outras, Elói, só quero
entender o que meu marido gosta. — minto.
— Eu não sei como responder isso, senhora.
— Você acabou de me dar uma resposta.
— Senhor Fiore, nunca foi de lavar mulheres para a
cobertura, Edwina passava muito tempo lá.
Assinto, um pouco aliviada, talvez Franco não seja tão sem
vergonha quanto achei.
Sento-me à sala e começo maratonar, The Handmaid's Tale,
já que minha busca por um livro quase acabou me matando.

Anoiteceu e nada do meu marido chegar. Se Franco não


quer que eu fuja, ele terá que ser mais presente, ou sim, na primeira
oportunidade que eu tiver sairei correndo.
Subo para o quarto, tomo um banho, e me deito segurando
o telefone da Hell, cogito ligar para ela, mas desisto no momento
que a porta do quarto é aberta. Deslizo o aparelho para debaixo do
travesseiro, e me sento observando Franco ir até o closet, ele não
está com as mesmas roupas de hoje à tarde, sei disso, pois está
usando uma camisa branca embaixo de um terno azul.
Franco volta para o quarto em silêncio, apenas de cueca, e
desliga a luz, não parece estar a fim de conversar. A cama afunda
ao meu lado, e eu impulsivamente ligo a luz do abajur ainda
sentada.
— Onde você estava? — pergunto cautelosa, a última coisa
que eu quero é começar outra briga.
— Trabalhando.
— E o que houve com suas roupas? — o início de sorriso
surge no canto da sua boca.
— Qual o problema Fiorella? Não me diga que está com
ciúmes. — encaro Franco e desligo a luz do abajur, me sentindo
uma tola. Deito-me de costas para ele desejando ter ficado calada.
A luz do lado dele é acesa, Franco fica apoiado no
antebraço me olhando.
— O que eu disse sobre me deixar falando sozinho? — sua
voz sai dura, mas sua face não está raivosa, só indecifrável.
— Me castigue então. — escarneço, e seus olhos se tornam
violentos, nisso o celular embaixo do meu travesseiro começa a
vibrar em minha cabeça, o meu coração dispara e sem pensar
levanto os centímetros que faltam e beijo Franco com força o
empurrando para o seu lado da cama, ainda com aquela sensação
de algo estar vibrando na cama.
Franco me puxa para seus braços e quando percebo estou
montada nele. Seus lábios me beijam tão forte que quase me
machucam. Deslizo as mãos para seus ombros nus, e o empurro
suavemente.
— Vá devagar. — peço, e volto a beijá-lo sem aquela
urgência, minhas mãos se enterram em seus cabelos pretos como
carvão, Franco nos gira me deitando no meio da cama, ele fica entre
as minhas pernas e sinto sua ereção sólida em minha virilha.
Os lábios dele beijam o meu pescoço, e seus olhos se
detêm nos pontos do meu ferimento por um momento, depois
começam a beijar o meu ombro, a clavícula, e descem em direção
ao meu peito que sobe e desce descompassadamente. Franco
segura na extremidade da camisola de cetim e a rasga num puxão
firme, o tecido desliza para fora do meu corpo.
Fico inteiramente arrepiada com seu olhar. Franco pega em
meus seios um em cada mão, e os aperta, estremeço. Seus lábios
abocanham meu mamilo com força, ofego, e me contorço enquanto
ele suga e me olha ao mesmo tempo. Ele prende os meus pulsos na
cama, depois chupa o outro, fazendo-me quase arquear o corpo.
— Você cheira malditamente bem, Fiorella. — diz cheirando
minha pele entre os seios, e sua língua desliza por ali me provando.
Franco tira minha calcinha, e separa as minhas pernas,
tendo melhor visão do meu sexo. Fico vermelha quando ele desliza
os dedos pelas minhas dobras e solta um gemido que faz meu sexo
pulsar.
— Você está muito molhada. Inferno, como eu te desejo.
Ele passa o dedo no meu clitóris, e o prazer oscila, fazendo-
me morder o lábio. Seus olhos prendem os meus e seus dedos
começam massagear o meu ponto sensível com desempenho,
Franco se aproxima e seus lábios se fecham em torno da minha
coxa, ele dá pequenas chupadas e mordidas. A sensação é ao
mesmo tempo demais e insuficiente, o prazer cresce em meu
estômago, minhas pernas ficam rígidas, e me pego desejando tudo
que Franco está fazendo, seja mais forte e mais rápido.
Deslizo uma das pernas sob seu ombro, ela engata em seu
pescoço e eu o puxo para frente. Franco ergue seu olhar até o meu
com um sorriso nada sutil.
— O que você quer que eu faça? — percebo diversão em
sua voz.
— Você sabe... — exclamo e recebo um beijo em cima do
meu clitóris.
— Sei, mas quero ouvir da sua boca. — aperto os lábios, e
mexo a cabeça em negação.
Franco afunda sua língua em minhas dobras, fazendo-me
estremecer, e quando chega no meu ponto pulsante onde meu
desejo está todo concentrado, ele para e me olha novamente.
— Fale. — mexo a cabeça em negação.
Franco repete o gesto e se detém novamente, me
esperando implorar, não o faço, e levo meus dedos com ímpeto ao
meu clitóris para eu mesma acabar com isso, antes que isso acabe
comigo, mas ele segura minha mão me impedindo.
— Fale. — sua voz é afiada e excitante ao mesmo tempo.
Por uma batida de coração pensei em negar novamente,
mas estou excitada demais para continuar com esse joguinho.
— Me chupe. — imploro, meu marido me dá um sorriso
glorioso e cai de boca em mim, o meu coração trabalha ferozmente
enquanto Franco me devora, alterando sua língua dentro de mim e
sugando meu clitóris.
Minhas pernas começam a formigar e um calor surreal surge
em todo o meu corpo. O orgasmo explode no meu interior, e me
pego com as mãos em punhos no lençol enxergando tudo preto.
Abro os olhos com a visão embaçada, e encontro Franco de
joelhos, seu pau está inchado fazendo força para ser liberado da
sua cueca boxer. Comprimo o lábio na hora que ele baixa o tecido e
seu pênis salta para fora, grande, rosado e parece um pouco
pesado.
Santo inferno!
— Fiorella. — coro e não consigo esconder, estava secando
o pau dele descaradamente.
Encontro o seu olhar, devo estar com a expressão
apavorada, pois sua face está quase amável.
— Não vai doer como da primeira vez. — mexo a cabeça
mecanicamente, sentindo um alvoroço no meu interior.
Franco engatinha para cima de mim, se enfiado entre
minhas pernas, o meu peito desce e sobe freneticamente com a
minha mente pensando na dor lancinante da primeira vez. Ele
encosta sua testa na minha, seus olhos me encaram enquanto a
cabeça do seu pênis invade a minha entrada, vagarosamente.
— Relaxa. — sussurra, e sua língua invade a minha boca na
mesma hora que seu pau desliza para dentro de mim, devagar e me
preenchendo totalmente, a musculatura do meu sexo se expande se
tornando desconfortável, mas não dói tanto. Franco estremece
fortemente dentro de mim quando coloca o máximo que consegue.
— O que foi? — quero saber, vendo seu corpo inteiro rígido.
— Você não entenderia.
— Tente. — peço, enquanto ele desliza para fora e entra
pulsando fortemente.
— Sua boceta é tão quente e apertada, que tenho vontade
de fodê-la com toda a minha força.
Minhas pernas travam impedindo Franco de se movimentar.
— Eu disse que não entenderia. — Franco força o corpo
para baixo e minhas pernas cedem não suportando o seu peso. —
Já disse eu não vou machucá-la, Fiorella, e com o tempo você irá
implorar pra te comer com força. — ele expressa e seu pau entra na
mesma intensidade das suas palavras, fazendo-me estremecer.
Ele faz de novo, colando nossos lábios. Movo o meu corpo
contra o dele, e Franco parece gostar da minha iniciativa, pois sorri
e minha respiração acelera, sentindo-o bombeando dentro e fora,
dentro e fora, os seus gemidos em meus ouvidos, me deixam
excitada, e com vontade de tê-lo ainda mais dentro de mim.
Tracejo as mãos para seu troco, e cravo minhas unhas com
força, ele abre os olhos e reprime um grito. Franco pega em minha
mão de repente e leva para baixo entre nós.
— Se acaricie. — ele pede com voz grave, pondo os meus
dedos no meu clitóris, sinto a umidade do meu sexo e seu pau
trabalhando sem piedade dentro de mim. Franco olha para baixo
quando começo a me tocar, e sua penetração se torna forte,
implacável, acelero meus dedos e gemo alto e incontrolável, à
medida que o prazer cresce em mim, o meu corpo convulsiona
sentindo cada partícula vibrar, e gozo me dividindo em mil pedaços
embaixo dele.
Franco fica sob os joelhos, admiro seu corpo que reluz pelo
suor. Sua cabeça pende para trás com ele mordendo o lábio inferior
completamente em êxtase, odeio admitir isso, mas Franco é a coisa
mais gostosa e sexy que eu já vi na vida, ele me pega com força
pelo quadril e com mais uma potente estocada se esvazia dentro de
mim. Seu corpo cai sob o meu, e sua cabeça pousa entre os meus
seios.
Franco rola para o lado depois de um momento e afunda
seu nariz na curva do meu ombro e me abraça pela cintura.
— Como está o pescoço? — questiona com a voz rouca.
— Coça um pouco, mas não dói. — me viro para poder
encará-lo, seu cabelo está uma bagunça e sexy ao mesmo tempo, e
sua expressão completamente relaxada, sexo faz mágica.
— Isso não era para ter acontecido, mas você lidou bem
com a situação. — sua respiração está voltando ao normal.
— Lidei? — pergunto surpresa. — Eu quase estrangulei a
Verônica. — digo e sinto a mão de Franco parar as caricias em
minha barriga.
— Me surpreendeu ter feito aquilo com as mãos amarradas,
mas até agora eu não entendi porque o fez. — mordo o lábio,
questionando-me quanto Franco investigou a meu respeito.
— Você soube sobre a minha internação na Clinica Red
Hill?
Sua cabeça mexe mecanicamente e Franco permanece em
silêncio me esperando prosseguir, imediatamente me arrependo de
ter entrado no assunto, preferia que ele já soubesse ao invés de lhe
contar.
— O que houve? — questiona devido ao meu silêncio, e
seus olhos se tornam cautelosos. Encaro o teto, sentindo uma
agitação no meu anterior.
— E-eu. — sinto vontade de morder a língua, que treme
dentro da minha boca. Franco se ergue e se apoia no antebraço
olhando em meus olhos, com atenção.
Suspiro vendo que não terei escapatória agora que comecei.
— Eu me tratava com ansiolíticos depois da invasão dos
russos — pauso vendo os olhos dele brilharem em perguntas que
ele não faz — Tomei um frasco inteiro de uma vez, e quando acordei
estava presa em uma cama na ala psiquiátrica. — um riso
involuntariamente me escapa, — Achei que você tivesse me
prendido quando despertei no consultório da veterinária.
Ele ainda me olha em silêncio, deve estar pensando que se
casou com uma doida, e isso me incomoda.
— Eu não sou maluca, tá.
— Eu não acho que seja, — diz voltando a fazer carícias em
minha barriga, — Porque tentou se machucar?
Aperto os lábios, sentindo uma inquietação tomar conta da
minha perna.
— Eu não quero falar disso, Franco. — me sento
abruptamente fazendo-o se distanciar e desço da cama antes que
suas mãos consigam me pegar.
— Fiorella. — ele chama, paraliso no caminho para o
banheiro com Franco as minhas costas, suas mãos deslizam para
os meus ombros que estão tensos, e ele me vira fazendo-me
encará-lo, seu olhar está suave e preocupado.
— Porque as lembranças estavam me matando lentamente.
Fecho os olhos e a escuridão me leva direto para aquela
maldita noite da invasão, corpos cobertos por sangue ressurgem em
minha mente, gritos ecoam em meus ouvidos, tiros, muitos tiros...
abro os olhos sentindo o meu couro cabeludo eriçar.
— Quando foi isso? — ele pergunta e me leva em direção
ao banheiro.
— Eu tinha 12 anos, as minhas noites eram carregadas de
pesadelos e durante o dia as lembranças se alimentavam da minha
mente, eu vivia praticamente chapada de tanto antidepressivo. Eu
só queria que aquilo acabasse. — confesso e Franco me puxa para
baixo do jato d’água após ligá-lo.
— E depois? — questiona me olhando fixamente.
— Hã. — Emito dúvida sobre o que ele quer saber, — Eu
fiquei internada na clínica por um mês, e conheci a Helena lá… — a
expressão de Franco vira uma confusão, fazendo-me rir.
— O que ela fez pra parar lá? — seus olhos brilham em
curiosidade.
Mexo a cabeça em negação.
— A história não é minha para eu contar, mas ela me salvou
de um dos “loucos”, — digo com aspas, — que me atacou no
banheiro, e meu pai tirou nós duas de lá, continuei o tratamento em
casa e depois de um tempo comecei as aulas de autodefesa.
Franco me encara como se ainda estivesse remoendo o que
eu acabei de falar, aposto que o arrependimento está berrando em
sua mente agora.
— Eu avisei que escolheu a irmã errada. — sussurro. Fecho
os olhos e recebo a água deliciosamente quente em minha face.
— Não repita mais isso. — sua voz soa como uma ordem,
fazendo-me abrir os olhos para encará-lo, Franco se abaixo e me
beija debaixo do jato d’água, vagarosamente.
Quando acordei Franco já havia saído, puxei o telefone
debaixo do travesseiro e conversei com as meninas por quase uma
hora. A saudade ainda é enorme, mas aquele aperto que estava
quase me sufocando no primeiro dia está menor, é quase um alívio.
Arrumei-me rapidamente e desci, tomei um café
conversando sobre coisas banais com Elói e Nádia. Cogitei por algo
na televisão para assistir, mas já estou saturada de ficar deitada no
sofá olhando séries.
Lá fora o dia está ensolarado, mas as árvores se curvam
com vento forte, penso em sair dar uma volta e conhecer os
arredores, mas sozinha é tão solitário. Sento-me em frente ao piano
sem expectativa, eu tocava encantadoramente bem uma das
poucas coisas que fazia melhor que Sienna. Depois de um longo
momento de indecisão, me pego tocando La Valse de L’Amour, a
canção que Franco e eu dançamos na festa.
Ontem a noite foi surreal, mas ainda assim eu não entendo
o que esse casamento espera de mim. O que Franco espera de
mim. Ele não é tão acessível quando está vestido, até parece outro
homem, consegue passar de bruto e amável em questão de
segundos, não consigo compreendê-lo.
Franco deseja o meu corpo, os seus olhos, as suas mãos e
sua boca me mostraram isso algumas vezes, mas isso não significa
que ele vá honrar os votos do matrimônio. Me pego desejando não
amá-lo, não até ele me responder se esse casamento será por
dever para sempre.
A música chega ao fim, suspiro, insatisfeita, e quando ergo
meu olhar encontro meu marido na entrada da sala me observando,
sua expressão para mim como sempre é indecifrável.
— Foi a única música que lembrei. — menciono para ele
não pensar que estou vivendo um conto de fadas, relembrando
como foi nossa primeira dança. Não sou tão patética assim.
— Toca muito bem. — dou de ombros com um sorriso.
— Por que chegou cedo? — questiono saindo de trás do
piano. Ainda não passou das duas horas da tarde.
— Vamos dar uma volta.
— Onde? — pergunto sem fazer questão de esconder
minha animação.
— Vou levá-la para o treino, se vista com algo confortável.
— ele diz, naturalmente, quase pulo em seus braços, mas apenas
subo para o andar superior, com o coração frenético.
Entro no quarto, e pego o primeiro conjunto que vejo em
minha frente, uma legging rosê com detalhes cinza, o top da mesma
cor, e uma jaqueta esportiva tão justa que parece uma segunda
pele.
Estou amarrando os tênis quando sinto um aperto em minha
bunda.
— É bem justa esta calça. — menciona o bem com ênfase
me analisando quando fico de pé.
— Não me diga que está com ciúmes? — zombo, como ele
fez comigo, noite passada, e pensar nisso agora me faz lembrar que
Franco não me respondeu porque estava com outro terno.
— Não preciso, todos sabem a quem você pertence.
— Não sou uma propriedade, Franco. — falo calma, não
quero brigar, mas também não vou aceitar que me trate como um
objeto.
— Não é. Mas é minha, agora vamos. — expressa me
dando as costas, não retruco e o sigo para o andar de baixo.
Deixamos a casa e Franco abre a porta da BMW para eu
entrar.
— Já estou livre para sair de casa? — ele mexe a cabeça
mecanicamente.
— Não, até eu ter certeza que não levará outro tiro.
— Então para onde está me levando?
— A propriedade do meu pai tem uma academia, reservei as
tardes pra você, — assinto. — Com qual idade você começou o
treinamento?
— Aos treze.
— Aqui você não terá sua amiga para disputar e eu não
poderei ficar com você pra te ensinar sempre.
— Será que Lazzaro me ensinaria? Acredito que ele
adoraria me dar uma surra. — rio.
— Por que diz isso? Ele te fez alguma coisa?
— Não fez nada, mas eu sinto que ele não gosta de mim.
— Ele não está aqui para gostar de você e sim para
protegê-la.
— E porque ele protegeria alguém que ele não gosta?
— Porque ele jurou a mim, protegê-la, com a vida dele, e se
algo acontecer com você ele desejará estar morto no seu lugar.
Pobre Lazzaro se ele soubesse o quanto sou um imã para o
caos, jamais teria prometido algo assim.
— Então isso é um sim?
— Eu vou falar com ele. — sorrio.
Franco entra em uma propriedade tão elegante quanto a
nossa casa, e assim que estaciona ao lado de uma fonte d’água, o
painel do carro pisca com o nome da veterinária. O celular dele deve
estar conectado no dispositivo do carro. Franco desliga a chamada
e desce sem me dar explicações, uma sensação estranha me
atinge, fazendo minhas mãos tremerem e meu coração ficar agitado.
Desço em seguida, e avançamos em silêncio pela extensão
do pátio passando por um belo jardim.
— Franco. — chamo, ele me olha por cima do ombro, está
distante, e tenho certeza que aquela mulher ocupa seus
pensamentos. — Quero um celular. — digo, não era bem isso que
eu tinha em mente, queria saber por que ele não atendeu a ligação,
o que ela queria, e se os dois se veem ainda.
— O que houve com o seu?
— Ficou com o meu pai.
— Então aquele que você esconde de mim é de quem? —
fico rubra, e a tremedeira aumenta em meu corpo.
— Helena. Desde quando você sabe?
— Soube ontem quando ele vibrou embaixo do seu
travesseiro. — Franco ri.
Meus lábios se entreabrem desacreditada, ele sabia e fez de
conta para poder se aproveitar de mim.
— O quê? Só você pode tirar proveito da situação?
Mexo a cabeça mecanicamente sem ação, apenas sorrio.
— Eu quero outra coisa. — digo e seus olhos me encaram
com atenção, — As meninas podem vir me visitar depois do Natal?
— Ainda não passou uma semana e você já quer vê-las?
— Por isso é depois do Natal. — adiciono e o telefone de
Franco apita, possivelmente mensagem, ele olha rapidamente para
tela e bloqueia, o meu estômago se retrai, quando eu penso em
quem possa ser.
— Se Carlo permitir, não vejo problema. — fala, e sua mão
desliza para o meio das minhas costas, ele me direciona para uma
ampla sala com paredes de vidros escuros do teto ao chão. Assim
que atravessamos as portas me deparo com uma luxuosa
academia, tudo muito limpo e organizado, paredes claras, aparelhos
pretos.
Franco anda em minha frente, me mostrando o lugar, e
passamos por um vestuário.
Atravessamos o lugar, Franco diminui o passo quando
chegamos em frente a um tatame preto, há um ferro amarelo
passando sobre ele na extremidade, com alguns sacos de pancada
pendurados, e ao lado um ringue todo preto.
— Nos armários você vai encontrar luvas e pesos, o que
você precisar terá lá. — assinto.
— Obrigada. — Franco me dá um aceno e um passo atrás,
— Você já vai? — questiono sem conseguir esconder a decepção.
— Preciso, mas eu volto para jantar com você.
— Está bem. — respondo, acho que nunca jantamos juntos,
na verdade nunca fizemos nada juntos além de brigar e sexo.
Suspiro um pouco decepcionada, mas não me prendo a esse
sentimento, somos recém-casados, e Riccardo Fiore mesmo disse
que Franco odeia mudanças e eu fui uma bem grande. Quem sabe
ao passar do tempo ele deseje passar mais tempo comigo.
Franco me deixa sozinha, não demora segundos e Lazzaro
entra com seu semblante suave, mas seus olhos brilham em
diversão, eu disse que ele adoraria me dar uma surra.
— Franco pediu que eu treine você. — diz se aproximando
do tatame.
— Eu sei, vai me arrancar o coro, não vai? — seus lábios se
curvam em um riso, modesto.
— Não até você tirar os pontos do pescoço. — assinto,
animada, lutar com um homem que não terá piedade será bem mais
interessante. — Me mostre o que sabe. — ele pede e obedeço sem
pestanejar.
A tarde passou num piscar de olhos, Lazzaro me explicou
uma porção de coisa, metade eu já sabia, mas na prática fui um
desastre. O medo de arrebentar os pontos, fez nós dois nos limitar a
agressividade.
Voltamos para a mansão quando já estava escurecendo,
tomei um banho relaxante enquanto esperava Franco chegar, e na
hora que desci Elói já havia ido embora e deixado nossas comidas
arrumadas dentro do forno.
Horas se passaram e já está quase chegando a meia noite,
ainda estou sentada na ilha esperando Franco, patética. Lazzaro me
olha de vez enquanto, presumo que pela primeira vez com pena.
Subo para o quarto, coloco uma roupa confortável e me
deito sem expectativa de que Franco irá voltar para dormir em casa.
Se ele fosse um homem comum que voltasse sempre tarde até
pensaria que está comendo outra por aí. Bem, se for isso que está
acontecendo, eu já devia estar ciente, só não sabia que iria me
incomodar tanto.
Cristo Fiorella, o homem pode ter levado um tiro, uma
facada. Peço a Deus que seja isso, rio.
Só percebi que peguei no sono quando senti a cama
afundar do meu lado, abri os olhos e deslumbrei Franco se ajeitar
apenas de cueca boxer, seus dedos deslizam para a minha cintura e
me puxaram para seus braços.
— Onde estava? — pergunto.
— Fiquei preso no trabalho. — diz e seus dedos descem em
direção ao meu ventre procurando a entrada da minha calcinha, o
impeço.
— Ninguém acha estranho um escritório ficar aberto até de
madrugada?
— Eu não estava no escritório.
— Onde estava? — pergunto sonolenta.
— Não gosto de interrogatórios, Fiorella. — raiva borbulha
em meu estômago.
— Você estava com ela? — pergunto e vejo Franco rígido
ao meu lado como se eu tivesse dito algo absurdo, mas o que ele
espera que eu pense?
— Não faça perguntas que não deseja saber a resposta.
Puta que pariu custa responder pelo menos uma vez, sim ou
não??? Meu cérebro deseja berrar.
Pulo para longe dos seus braços, sentindo uma agitação me
desorientar, se eu dormir nesse quarto com Franco sou capaz de
sufocá-lo com o travesseiro. O mínimo que Franco poderia me dar é
um pouco de honestidade, até agora eu fiz tudo que me foi pedido,
obedeci e ganhei o que?
— Aonde você vai? — sua voz sai baixinha e desafiadora,
com certeza colocaria medo em algumas pessoas. Mas advinha só
Franco, eu fui criada por uma criatura tão horrenda quanto você, eu
não tenho mais medo.
— Ficar longe de você. — aviso chegando à porta.
— Não saia desse quarto. — diz em tom de aviso, quando
meus dedos estão girando a maçaneta, encontro seu olhar com a
pouca claridade que entra pelas janelas e atravesso a porta
fechando-a em sua cara.
Talvez eu tenha assinado o meu atestado de óbito ao fazer
isso, mas não posso deixá-lo fazer o que quer comigo agora, se
vamos viver o resto da nossa maldita vida juntos. Pensar nisso me
dói à alma.
Sinto-me em uma gangorra com Franco, sobe e desce, sobe
e desce, não devia ser tão cansativo. Entro em um dos vários
quartos e me deito na cama sem travesseiros, lençóis ou cobertas.
Exalo alto, devia ter feito Franco sair.
Encolho-me na posição fetal e fico encarando um cabideiro
de madeira, remoendo as atitudes dele, nunca vi um homem tão
ambíguo, as mudanças de humor dele vão acabar com o meu
discernimento. Dona estava certa, meses atrás quando disse ao
meu pai que esse casamento acabaria em sangue. Eu só não
imaginava que seria o meu casamento.
A porta é escancarada e o temor que eu devia sentir não
adveio, estou de costas para Franco ainda encarando o cabideiro e
suas formas, parece um homem com muitos braços. Aguardo pelo
sermão sobre deixá-lo falando sozinho, sobre as mudanças que eu
sabia que haveria, ou em como o meu comportamento é
inadequado. Contudo, um longo tempo se passou e fazer de conta
que Franco não estava parado atrás de mim me observando, estava
me deixando com o coração inquieto.
Relaxei o corpo, pois já não aguentava mais ficar contida
naquela pequena bolha fetal que me encontrava, um suspiro passou
pelo meu lábio quase inaudível.
O colchão chacoalha atrás de mim, fecho os olhos
esperando pelo pior, mas sou pega pelos braços de Franco, reprimi
a vontade de pular deles enquanto me carrega para o nosso quarto
em um silêncio suave, podia dizer que estava sendo levada por um
fantasma se a presença dele não fosse tão forte.
Nos deitamos, e continuo sem entender o que está
acontecendo, porque ele foi me buscar? Apenas para provar que
pode fazer o que quer comigo?
— Franco. — balbucio na escuridão, ele se encontra
paralisado ao meu lado.
— Nunca dei satisfação e não vou começar agora. — diz de
uma forma contida, que me faz mordiscar o interior da bochecha. —
Eu só peço que confie em mim Fiorella, quando digo que estou no
trabalho é porque estou no trabalho.
— Eu não devia ter duvidado, — admito, — só achava que
seria diferente. — Franco entende que estou falando do casamento,
e suspira.
— Tem muita merda rolando, e eu não posso me dar o luxo
de ficar em casa com você.
— O que está acontecendo? — me arrisco a perguntar.
— Nada que você deva se preocupar.
— Não confia em mim, por causa do meu pai?
— Ainda não, espero que entenda.
— Entendo. — não me agrada nenhum um pouco, mas ele
seria tolo se confiasse abertamente.
Franco relaxa ao meu lado, e sua mão corre para o meu
abdômen, encaro seus olhos azuis cristalinos, enquanto sua não
desce como uma aranha em direção ao meu sexo, e cruzo as
pernas, apertadas.
— Fez as pazes pra transar? — pergunto desapontada.
— Não, já estou encarando um conflito lá fora, não preciso
de outro dentro de casa. — Soa sincero, ele parece realmente
cansado demais até para mentir. Inspiro lentamente, aceitando
acreditar nas suas palavras, relaxo as pernas deixando sua mão
entrar em minha calcinha e me entrego às suas carícias.
A minha pele está quente, como se estivesse em brasa.
Apesar de hoje ser uma tarde terrivelmente fria em Nova Iorque,
gotas de suor se formam em minha nuca e escorrem em direção a
minha coluna exposta.
Estou montada em Franco com ele dentro de mim, suas
mãos seguram firmes em meu quadril fazendo movimentos intensos
e precisos, enquanto eu me agarro ao seu pescoço tentando conter
os infinitos gemidos. Franco fica em pé de repente, ele pressiona o
meu corpo contra a porta do quarto, e sem sair de mim, desliza um
braço por baixo da minha perna esquerda, ele me manuseia como
se eu fosse uma boneca.
— Tudo bem? — questiona, e tracejo minha mão para sua
face.
— Sim. — gemo em resposta quando Franco esfrega sua
púbis em meu clitóris.
Franco desliza para fora e se enterra em mim com força,
pontos de dor e prazer se misturam me arrancando um grito, seus
olhos que buscam os meus estão sombrios e puro tesão.
— Não pare. — imploro, sentindo seu pau pulsar fortemente
no meu interior e seu lábio se curva em um pequeno sorriso.
— Eu disse que um dia iria me implorar para te comer com
força, Fiore. — sua boca se apossa da minha impetuosamente, e
Franco começa a me foder com mais potência do que ele já usou
nas últimas semanas.
Cravo as unhas em suas costas e afundo meus dedos em
sua nuca puxando seu cabelo para trás, beijo a curva do seu queixo
e enterro meus dentes em seu pescoço. Franco grunhe tão alto que
me faz estremecer, e me penetra com mais força, mordo o seu
ombro, ele geme, e eu amo o som, amo cada vibração que seu
corpo faz quando está possuindo o meu. Ele morde o lábio inferior
com força, o seu aperto em meu traseiro se torna quase
insuportável, e sei que ele já vai gozar. Ele mete impetuosamente
chegando ao fundo e alcança o seu clímax gemendo em meu
ouvido.
Minha cabeça cai sobre a curva do seu peito, exausta, e
minha respiração está uma coisa de louco.
Franco me põe sentada na cama com movimento simples,
ele faz o mesmo, e vejo seu corpo brilhando de suor. Aliso seu
tronco, deslizando a mão por suas cicatrizes, que parecem vergões
rosados. Franco me encara relaxado por cima do ombro.
— Merda, eu preciso ir trabalhar. — resmunga, e fica em pé
se espreguiçando abertamente, vislumbro seu corpo, sem aquela
vergonha imensa que sentia no início.
— Não vá. — peço segurando a sua mão.
— Sabe que eu não posso ficar. E você tem o chá da tarde
com a minha mãe. — faço beiço, Franco sorri e me puxa fazendo-
me ficar em pé.
— Vamos tomar um banho, depois eu te levo lá.
Entramos os dois no box. Durante o banho o peguei me
observando algumas vezes. Sempre penso em perguntar o que ele
está pensando, mas depois de algumas semanas morando junto
cheguei a conclusão de que quanto menos eu souber o que passa
na cabeça do meu marido melhor.
Completamos um mês há alguns dias, e ainda estamos
vivos, quem diria, há primeira semana foi caótica, não que ainda não
seja um desastre completo, mas como Franco passava muito tempo
fora a trabalho, não tínhamos muito tempo para brigar, e depois que
o médico da Famiglia veio tirar os pontos do meu pescoço, pude
começar a treinar pesado com Lazzaro, chegando em casa
exaurida, só com forças para comer, e aguardar meu marido
retornar.
Consegui encontrar uma rotina, os dias começaram a
passar mais rápidos, e Franco passou a chegar mais cedo, eu estou
tentando fazer dar certo e acredito que ele também, do jeito dele.
Saímos os dois do banho, me visto às pressas com um
vestido branco, justo e de mangas compridas e um cinto preto preso
à cintura. Muito elegante para tomar um chá com minha sogra,
penso ao deslizar para dentro de um sobretudo cor de caramelo
para suportar o frio de dezembro, e por último calço um scarpin
preto.
Estou terminando de ajeitar minha franja, vendo Franco
arrumar as armas no coldre por baixo do colete escuro, não entendo
como ele suporta andar armado o tempo inteiro.
Desço na frente dele, um tanto faminta e diminuo o passo
quando chego à escada. Enxergo lá embaixo Ettore, Edwina e mais
um cara de terno preto, deve ser segurança dela.
Os três me olham, e fico rubra imaginando há quanto tempo
eles estão aqui e se nos escutaram.
Franco chega por trás de mim, ele paralisa ao meu lado
assim que os enxerga também, sua mão desliza para o meio das
minhas costas, e assim descemos para o andar de baixo.
— Sua casa é incrível irmão. — Edwina é a primeira a falar,
ela me olha com um sorriso ficando de pé, — Mas já pensou em
reforçar a vedação das paredes?
Aí está a minha resposta. Nunca odiei tanto a minha palidez,
devo estar parecendo uma cereja.
— Não pedi por sua visita Edwina, da próxima vez avise
antes de vir. E você Ettore, o que quer? — pergunta duramente,
mas o Consigliere não pareceu se importar.
— Encontraram quem atirou em Fiorella. — avisa e sinto
uma agitação no meu âmago.
— Onde ele está?
— No Escala esperando por você. — posso jurar que vi um
brilho nos olhos dos dois homens.
— Encontro vocês lá fora. — Franco indica a saída com a
cabeça, e todos, incluindo sua irmã, se retiram.
Ele se vira para mim com uma expressão neutra.
— Se eu conseguir te busco mais tarde. — diz percorrendo
seus dedos por baixo do meu braço e me segurando na altura do
cotovelo, — Ignore Edwina, nem sempre ela é rabugenta.
— Porque ela não gosta de mim? — pergunto, pois não é
como se eu tivesse desejado ter entrado para a família Fiore.
— Não é pessoal, ela só precisa de alguém para culpar
quando as coisas não saem do jeito que ela quer.
— E o que ela queria?
— Não se prenda a isso, Fiorella.
Faço que sim com a cabeça ainda imaginando o que seria.
— Ainda vai me levar ou peço ao Lazzaro? — pergunto
encarando fixamente seus olhos.
— Eu a levo, são só cinco minutos. — lhe dou um sorriso e
me encaminho para fora. Entramos na BMW e o restante fez o
mesmo em seus carros.
— O que é Escala? — pergunto.
— É uma boate.
— Hum, é um puteiro. — Franco ri.
— Não tem nenhuma puta lá, só as dançarinas.
— Que são putas. — adiciono, ele não discorda.
Franco desliza a mão pela minha coxa e acelera.
— O que você fará com o homem que tentou me matar? —
pergunto e sua mão aperta minha coxa.
— Conversar. — ele dá um sorriso afiado que mostra todos
seus dentes, parece animado.
Atravessamos os portões da mansão e tem alguns carros
estacionados ao longo do pátio, de longe consigo ver algumas
senhoras caminhando em direção a casa.
— Pensei que fosse um chá só com sua mãe. — comento
quando o carro para.
— É só um chá com as minhas tias e primas, — meu
estômago embrulha, — não se preocupe, elas só querem fofocar
sobre o casamento. Se ficar cansada peça ao Lazzaro para levá-la
embora.
— Ok. — Franco segura a minha face e planta um beija em
meu pescoço em cima da estreita cicatriz da bala, curvo o pescoço
com cócegas e um riso, escondendo minha expressão de surpresa.
Franco não é exatamente o tipo de homem que demonstra afeto,
exceto durante e depois do sexo. Parece que finalmente estamos
avançando as bases.
Quando nos viramos para frente, vemos Edwina andar na
direção da Verônica com passos largos, a moça usa um sobretudo
lilás fechado em frente ao peito, com pelúcia branca na gola.
Encaro Franco de soslaio e seus olhos estão olhando para
ela, até ele perceber que eu estou olhando para ele.
— Se comporte. — ele avisa.
— Por que, vai me dar um pirulito mais tarde? — zombo.
Ele aperta os lábios, talvez escondendo um sorriso, mas
seus olhos o deduram.
— Desça antes que eu fale uma besteira. — rio e pulo para
fora do carro, aceno brevemente, mesmo não o vendo através do
vidro fumê, e as luzes da frente piscam ao meu sinal, e Franco
começa a dar a ré.
Ando em direção a casa e meu sorriso se esvai quando
percebo as duas meninas me olhando, elas se viram e se apressam
caminhando em minha frente.
Senhor me dê paciência, peço em oração, sempre odiei
esses eventos, agir delicadamente por muito tempo é uma
habilidade de Sienna. Saudades de casa, as últimas vezes que
liguei mal consegui falar com ela, Helena disse que Donatella está
transformando Sienna em uma verdadeira dona de casa, algo me
diz que Carlo está tramando alguma coisa, e Sienna ainda não se
deu conta.
Entro em uma sala menor com sofás, quadros e uma
quinquilharia que só pessoas velhas guardam, tudo em tom
dourado, a mãe de Franco aparece em frente à outra porta e me dá
um sorriso caloroso.
— Fiorella, ficou feliz que tenha conseguido vir. — diz me
dando um beijo na bochecha.
E como eu escaparia disso?
— Obrigada pelo convite.
— Venha meu bem, estão todas ansiosas para te ver. — diz
me pegando pelo braço, e me levando, olho uma última vez para
Lazzaro e seus lábios dizem um inaudível: boa sorte.
A mulher me leva em direção a um corredor, de longe ouço
muitas vozes tagarelando sem parar. Adentramos em uma ampla
sala, muito clara e sofisticada; em cada assento de sofás e
poltronas há pessoas sentadas, vejo que há uma senhora, me
observando, um sorriso amável surge em meus lábios. De longe
tenho certeza que vi Edwina revirar os olhos. Paciência Fiorella.
— Gostaria de tirar o casaco? — Carlota pergunta.
Assinto, e lhe agradeço, tirando o sobretudo e lhe
entregando.
— Parece que está sobrevivendo bem ao casamento. —
sobrevivendo?
Possivelmente, uma das tias de Franco comenta, mas não
identifico a voz, só escuto as risadas das outras senhoras.
— Não seja rude Eleonora, vai assustar a garota. — Carlota
comenta com um riso gentil e me sinaliza uma poltrona cor de
creme, me sento e cruzo as pernas delicadamente, Sienna teria
orgulho de mim.
— O que eu disse de errado? — Eleonora questiona, — Ela
parece mais tranquila agora do que no dia do casamento.
— Franco é muito bom para mim. — comento e o silêncio
paira sobre a sala, como se eu tivesse dito algo errado.
— Deu para ouvir o quão bom ele era hoje mais cedo. —
Edwina diz com desdém ao lado de Verônica que a encara sem
entender, fico vermelha em segundos. Mordo a língua com força
para nada estupido sair da minha boca.
As senhoras me encaram curiosas, mas apenas sorrio, não
vou discutir minha vida sexual com ninguém dessa sala.
— Sinal que está sendo uma ótima esposa. — Minha sogra
corta o silêncio.
— Por abrir as pernas e aquecer a cama para Franco?
Devia ganhar um prêmio. — Edwina escarnece e todas as senhoras
a encaram, em reprovação, a garota faz uma expressão de vítima.
— Edwina! — Carlota chia entre os dentes atrás de mim, —
V leve a minha filha para tomar um ar.
Verônica engata no braço da minha amada cunhada e a leva
por um corredor.
— Carlota, o que deu nessa menina? — Eleonora pergunta
e me ajeito na poltrona curiosa, não é possível ela me odiar tanto,
eu não fiz absolutamente nada.
— Ela passava bastante tempo na cobertura de Franco no
Plaza. Mas agora ele tá casado, — ela sorri para mim, — não
precisa de uma adolescente tirando a paciência dele. — Claro ele já
tem a mim, penso ironicamente.
— Talvez esteja na hora de arrumar um marido para ela. —
uma das mulheres comenta, meu estômago embrulha. A face de
Carlota empalidece, ela não quer casar a filha. E qual mãe iria
querer?!
— Talvez castigo funcione. — digo com um riso, Edwina é
insuportável, eu a estrangularia com minhas mãos se não fosse
haver consequência, mas não desejo o que estou passando para
ninguém.
Por mais que Franco e eu estejamos nos entendendo agora,
ser livre das amarras da máfia e poder fazer escolhas sempre foi o
meu sonho. E essas senhoras, como mulheres que já estiveram no
meu lugar, deviam pensar o mesmo.
— Vamos ao chá. — Carlota oferece.
Escorei-me para trás na poltrona e assisti a minha morte
lenta, as senhoras falavam sobre muitas coisas, metade eu não
entendi e apenas assenti.
Comi biscoito, macaroons e um pedaço de torta, tomei tanto
chá que acho que minha bexiga vai explodir a qualquer momento,
só assim pude ficar fora dos assuntos das senhoras, ocupando a
boca com comida.
Levantei depois de um momento, e percebi que não sei
onde fica o banheiro. Carlota está ao meu lado antes mesmo de eu
buscar por ela nas poltronas.
— Onde fica o toalete? — pergunto baixo.
— Vem eu a levo. — Carlota alcança meu casaco e a
acompanho para fora da sala, passamos por várias janelas e lá fora
já está escurecendo.
Será que seria rude eu ir embora depois de ir ao banheiro?
— Eu peço desculpas se eles te assustaram. — Carlota fala
parando em frente a uma porta branca, — Caso precise de qualquer
pode me pedir. — ela sorri e se retira.
Entro no banheiro e me alivio, até respirar se tornou mais
fácil. Encaro-me no espelho enquanto me levo e minhas bochechas
estão rosadas, parece que fui esbofeteada, o que teria sido bem
melhor do que ficar nesse chá.
Deixo o banheiro e me perco no caminho para a sala,
adentrando em outro corredor, paraliso na entrada de um cômodo
quando enxergo Edwina atirada em um sofá com as pernas por
cima de uma mesinha de centro mexendo no celular.
— O que você quer aqui? — ela fica de pé, num pulo, seus
cabelos pretos estão presos para trás bem apertado.
— Eu errei o caminho. — esclareço, dando um passo para
trás.
— Você parece um inseto, está por todo o maldito lado.
— Eu não vou brigar com você Edwina. — aviso lhe dando
as costas, minha respiração acelera, mas preciso mostrar que sou
mais controlada do que uma garota de dezoito anos, quero rir.
Sinto um puxão em meu ombro, que me faz desequilibrar
dos saltos, tendo que me segurar na estante ao lado.
— Não me dê as costas! — ela uiva, em minha frente
fazendo meu coração soar como uma sirene em meus ouvidos.
Recomponho minha postura e a encaro, analisando o quão
punida eu seria por Riccardo caso desse uma surra em sua filha.
— Qual é o seu problema? — pergunto dando um passo na
sua direção, ela não recua, corajosa ou burra? Difícil decisão.
— Franco nunca vai amá-la, — ela profere as palavras de
repente, — Ele ama a Verônica! Ele a escolheu por livre arbítrio, até
deu um anel para ela, então você apareceu e fodeu com tudo.
— Eu não tive escolha, — aviso com os dentes cerrados,
ainda tentando assimilar o que ela me contou, Franco estava noivo?
Questiono-me sentindo minhas pernas ficarem moles, e digo a
menina duramente — você melhor que ninguém devia saber e me
entender, Edwina.
— A única coisa que eu sei é que você é a puta da Outfit. —
fico cega pela raiva, que se apodera dos meus instintos e agarro em
seu pescoço com as duas mãos, Edwina perde o equilíbrio e
cambaleia para trás contra a parede. Seus olhos me encaram
ferozes, suas narinas se dilatam, enquanto suas unhas arranham o
dorso da minha mão tentando me afastar conforme eu aperto sua
pele quente e macia com mais robustez. Consigo sentir os
batimentos do seu coração na palma da minha mão, e me concentro
neles por um momento. Deleitando-me com sua agitação, se eu
fosse mais corajosa arrancaria o ar dos seus pulmões, mas isso
faria Franco me odiar.
— Você aprenderá me respeitar Edwina, nem que seja da
forma mais difícil. — lhe aviso em um tom baixo e o som de vidro se
partindo faz meu coração pular, viro o meu rosto e vejo Verônica
diante de um monte de cacos de vidro com água aos seus pés.
— Solte a minha amiga! — ela vocifera, se abaixando e
pegando um vidro do chão. Suas mãos tremem visivelmente. Quero
revirar os olhos, mas não o faço, pois Lazzaro aparece na entrada
da porta. Seus olhos analisam a situação, sem demonstrar um pingo
de emoção. Tiro as mãos da Edwina, e ela cambaleia para longe de
mim, chegando ao lado da sua amiga que ridiculamente baixa o
vidro.
— Vamos Fiorella. — Lazzaro se retira do caminho me
dando passagem, eu preciso de meio segundo para me recompor e
conseguir sair do lugar.
— Vai contar para ele? — pergunto.
— Não, mas você devia antes que Edwina distorça tudo.
— Há quanto tempo você está ouvindo? — questiono o
encarnando.
Lazzaro dá um sorriso modesto e não me responde, pois
Carlota surge à nossa frente, despeço-me dela o mais breve e
educada possível, e deixo a casa com Lazzaro.
Recostei a cabeça no assento na escora de couro e soltei
um grito estrangulado. Lazzaro que está à minha frente, no banco
do motorista, me olha preocupado.
Sorri para ele.
— Alivia o meu estresse, devia tentar. — suspiro.
— Eu prefiro quebrar alguns pescoços. — rio.
— Há quanto tempo trabalha para o Franco?
— Você não vai arrancar nada de mim como fez com Elói.
Suspiro.
— Ele a ama, Lazzaro?
— Isso só ele poderá responder.
Chego em casa deprimida, me arrasto para o andar
superior, troco minhas roupas e deito na cama, com uma sensação
estranha tomando conta do meu peito, acredito que seja ansiedade.
Fecho os olhos e me pego lembrando da conversa que tive com
Edwina.
Franco era noivo. Pensar nisso me faz sentir uma pontada
de tristeza penetrar o meu coração. Afinal ele não é só um pedaço
de carne fria, Franco tem um coração, ele só não pertence a mim.
Suspiro e reprimo as lágrimas idiotas que ameaçam invadir
minha face.
Não se apaixone Ella. Meu cérebro sussurra baixinho, mas
meu coração se espreme do tamanho de uma ervilha, frisando que
é tarde demais.
A luz do quarto é acesa, e fico aliviada por estar com os
olhos secos, ergo a cabeça e Franco se aproxima da cama usando
um paletó cinza claro.
Ele tira a parte de cima jogando no recamier, seu semblante
está fechado, mordo o lábio na dúvida se ele já sabe o que houve
na casa da mãe dele ou se está assim por causa do homem
capturado que ele foi “conversar”.
— Tudo bem? — pergunto ficando sob os cotovelos.
Ele assente.
— Quer me contar o que houve?
Ele mexe a cabeça em negação, parecendo exausto, e
questiona:
— Como ocorreu o evento?
— Prefiro ser torturada a ter que participar de outro chá da
tarde. — Franco me dá um sorriso diabólico, e puxa de algum lugar
do paletó uma faca.
— Posso resolver isso agora. — diz com uma voz
desafiadora, e aquele semblante fechado foi substituído pela versão
sexy e depravada do meu marido.
Mexo a cabeça em negação com um riso.
Franco agarra o meu pé e me arrasta até a extremidade da
cama, sua faca desliza pelo interior da minha coxa, mordo os lábios,
não acredito que isso está me deixando excitada, eu devia estar
apavorada.
Franco se aproxima do meu sexo, sua faca faz a curva na
minha virilha, e desliza pela minha pele cortando a renda da minha
calcinha de ambos os lados sem fazer esforço. Ele morde o lábio
encarando o meu sexo, faço um ruído com garganta chamado sua
atenção.
— É assim que você tortura suas vítimas? — uma risada
gutural passa por seus lábios.
— Deles eu gosto de ouvir gritos de terror, — profere e corta
o cetim do meu robe em direção ao seio. — De você Fiore, — sibila
e desliza a faca em direção ao meu mamilo que enrijece com o
contato do metal frio. — Gosto de ouvir gritos de prazer.
Os dedos de Franco entram em minhas dobras, molhadas,
sem avisar, gemo.
— Não se mexa. — avisa e sinto a lâmina pressionar a
minha auréola. Seus dedos investem em mim forte e intenso, e seu
polegar desliza pelo meu clitóris e me causando um espasmo no
ventre.
— Franco... — gemo. — Está me pedindo o impossível. —
digo sentindo uns tremeliques na perna, e involuntariamente minha
pélvis ergue de encontro a sua mão.
— Shh. — emite, só massageando meu ponto sensível
agora.
Oh, céus! O tesão é tanto que quase esqueço que há uma
faca contra o meu seio, que me cortaria facilmente como manteiga.
Franco desliza apenas um dedo dentro de mim, e solta um
gemido.
— Cada dia que passa, parece mais apertada. — fala e a
faca desaparece em algum canto do quarto. — Eu vou explodir se
não entrar em você agora. — expressa baixando sua calça junto da
cueca.
Seu pau brilha vermelho intenso, com sua cabeça lubrificada
de pré-gozo. Franco se aproxima, seus lábios encontram os meus e
seu pau desliza na minha entrada com força, arrancando-me um
grito. Franco grunhe contra os meus lábios e investe dentro de mim
com movimentos precisos e seus olhos que me encaram com ardor,
queimam como uma chama azul, intensamente. Ele geme, sem se
importar com o barulho alto que está fazendo, e me agarro ao seu
pescoço, pois daqui a pouco vou parar na cabeceira.
E sem aviso, Franco goza fortemente, com um alto
grunhido, seu corpo inteiro estremece, mandando vibrações para o
meu.
— Ahh me desculpe. — diz rouco colando sua testa na
minha, — Devia ter me controlado, se quiser eu posso te chupar até
você gozar?
Mexo a cabeça mecanicamente, Franco faz isso todas às
vezes e eu nunca tive coragem de fazer nele, ainda que ele já tenha
insinuado algumas vezes, como seria bom foder a minha boca. Eu
não tenho a menor ideia do que fazer e morro de vergonha de dizer
isso a ele.
— Deita comigo. — peço o puxando pela mão, em direção
aos travesseiros.
Franco obedece me acolhendo em seus braços, minha
cabeça fica na curva do seu pescoço, enquanto encaramos o teto,
com a respiração pesada.
— Já estou livre para sair? — pergunto.
— Está, mas não significa que não seja perigoso.
— E quem era o homem, Franco?
Ele se vira na minha direção, com os lábios comprimidos.
— Um soldado qualquer da Camorra. — expressa sem
emoção, — Ele foi iniciado há um ano e o teste final para entrar na
máfia de Las Vegas era matar você.
— Las Vegas o aceitou? — pergunto, já que estou viva.
— Não com aquela pontaria. — diz com um riso e beija a
minha têmpora. Retribuo e beijo seu pescoço, e vejo que está de
camisa branca.
— Onde estão suas roupas?
— Lixo, estavam imundas, estas são de Ettore. —
menciona escorando sua cabeça na minha, ele suspira e fecha os
olhos, em instantes ele adormece tranquilamente. E me pego
observando-o até meus olhos cederem ao sono.
Encaro-me no espelho vestindo uma saia lápis de couro
preto com abertura nas costas, uma blusa de mangas compridas
vermelha com decote generoso, e longas botas de salto alto. Teria
me vestido melhor se tivesse me programado, mas terá que servir.
Desço rapidamente enfiando um sobretudo branco. Quando chego
ao andar de baixo, Franco está em pé soltando sua xícara de café
na mesa.
— Bom dia! — saúdo a todos na cozinha.
Franco analisa minha roupa brevemente.
— Aonde você vai a essa hora? — questiona.
— Vou com você. — sorrio, — Agora que posso sair, quero
conhecer onde trabalha.
Ele me encara por um momento, nem pensei na hipótese
dele dizer não. Dou-lhe um olhar pedinchão que funcionava com
meu pai, e um sorriso doce, que faria qualquer um dizer sim.
— Então vamos que já estou atrasado. — diz secamente.
Franco sai em minha frente, e dou uma piscada para Elói
que sorri para mim do outro lado da cozinha.
Entro na BMW assim que as portas são destravadas e
deslizo para dentro, ao lado de Franco.
— Parece animada.
— Isso te incomoda?
— Não. — diz e começa a dirigir para fora dos portões, vou
observando as ruas, as casas, tentando me localizar, não tenho a
menor ideia de direção.
— Onde vamos passar o natal? — pergunto após ver muitos
enfeites nas casas.
— Vamos a um jantar na casa dos meus pais. — Meu
estômago embrulha, mas afasto de lado a sensação nauseante
antes que ela acabe com a minha manhã.
— E como ele está? Não o vi na mansão ontem à tarde. —
se bem que eu mal adentrei a casa.
— Mal. Talvez seja o seu último natal. — Franco diz
simplesmente.
— Vocês são próximos?
— Éramos.
— O que houve?
— Nada que valha a pena falar. — aperto os lábios e não
insisto.
— Você se tornará O Chefe, será o homem mais poderoso
de toda costa-oeste, isso não te assusta?
— Não vou fazer nada que já não faço agora. — diz e segue
dirigindo em um silêncio pesado.
Depois de um momento, Franco estaciona em um espaço
aberto, e o Audi de Lazzaro para logo atrás.
— Você disse que trabalha em uma empresa de tecnologia,
ela existe mesmo ou...
— Ela existe, mas também é fachada.
Caminho ao seu lado em uma rua com prédios muito altos,
por instinto me pego olhando ao redor, como se de fato fosse ver
alguma arma apontada em minha direção.
— Está com medo? — pergunta subindo alguns degraus,
caminhando em direção a um edifício acinzentado e com pilares de
pedra.
— Estou. — admito.
Franco me analisa, por um momento e passa o braço em
volta do meu pescoço, quase sumo embaixo dele.
Tenho que apertar o passo para acompanhá-lo, e antes de
atravessar as portas passamos por uma parede com o nome Fiore
anexado, em grandes letras de forma, em tom metálico.
Um homem de terno escuro saúda Franco com uma aceno
de cabeça, e chama o elevador para nós, seus olhos não param em
mim nem por um segundo. Ao contrário das mulheres da recepção.
— Ele é da Famiglia? — pergunto após as portas metálicas
fecharem.
Franco assente e tira os braços da minha volta quando seu
telefone começa a tocar, ele olha a tela e desliga em seguida
colocando no bolso, o observo pelo reflexo do espelho e sua
expressão continua ilegível. Torço a língua para não perguntar quem
era.
O elevador para no último andar, e Franco segura as portas
para eu passar. Adentro uma ampla e sofisticada recepção, há um
balcão de madeira escura com três meninas atrás separando a sala
de espera das salas executivas.
Passamos pela recepção e as meninas saudaram um
baixinho bom dia muito educadamente.
— É muito bonito aqui. — digo quando ele para em frente à
porta escura e abre dando espaço para eu passar. Entro na sua
sala, que é exageradamente grande e aconchegante, com a mobília
escura como as do lado de fora. Contém também sofás e poltronas
de costas para as grandes janelas de vidro.
Franco senta a sua mesa e me aproximo dele, vejo uma foto
nossa do casamento emoldurada, estamos dançando a valsa,
minhas mãos em torno do seu pescoço, e estamos nos olhando nos
olhos, Franco havia me perguntado o que eu estava pensando.
Reflito pegando o quadro.
— A sua mãe lhe deu isso?
Ele sorri e assente.
— Podemos ter um em casa? — questiono analisando sua
expressão.
— Claro. — responde e uma batida soa na porta, ela se
abre em segundos. A cabeça de Ettore adentra a sala e seus olhos
me encaram com surpresa.
— Vou roubá-lo por um segundo. — assinto com um sorriso.
— Não saia daqui. — Franco avisa.
Um dia espero conseguir tolerar essa forma de mandão dele
sem querer revirar os olhos. A porta se fecha, coloco o quadro de
volta no lugar e escorrego para a grande cadeira escura, é macia
pra cacete. Minha mão coça para bisbilhotar, mas o notebook ainda
está desligado e as gavetas chaveadas.
Suspiro, o que me resta é esperar, penso e nisso o telefone
toca, linha direta. O barulho é alto fazendo meu coração acelerar,
olho para porta vendo se Franco vai chegar, e o telefone segue
tocando.
Pego e atendo.
— Franco... — a voz do outro lado parece até um clamor,
chamando Franco. Um calor explode em meu corpo como um
vulcão em erupção.
— Pare de ligar para o meu marido! — exclamo, e Verônica
encerra a chamada.
Coloco o telefone no gancho com as mãos trêmulas e fico
de pé, péssima ideia, pois tenho uma leve vertigem. Me agarro à
mesa, sentindo a tremedeira se espalhar pelo corpo intensamente,
encontro uma porta escura no canto da sala e corro até lá torcendo
que seja o banheiro. Abri sentindo a bile subir minha garganta,
respiro fundo esperando a náusea passar, mas só tenho tempo de
erguer a tampa da privada e vomitar, céus, me agarro ao vaso,
sentindo lágrimas invadirem meus olhos.
Maldita ansiedade.
Ouço a porta do escritório ser fechada bruscamente, e tenho
certeza que é Franco.
— Fiorella. — Meu nome ecoa pela grande sala e de
repente a porta do banheiro é aberta, fico de pé puxando a
descarga.
— Estava vomitando? — pergunta e preocupação sonda
sua voz.
Assinto, passando água na boca.
— Está sentindo alguma coisa, está pálida?
— Eu sou pálida. — ele faz cara feia, e sinto que meu corpo
ainda treme, e meu estômago protesta por comida. Deixo o banheiro
com Franco logo atrás de mim.
Suspiro, desejando ter ficado em casa.
— Vamos, eu vou levá-la embora.
— Não. — respondo pondo uma mão no meio do seu peito,
o parando — Lazzaro pode me levar, eu só preciso comer alguma
coisa.
— Me liga se precisar de algo. — Lhe dou um aceno e deixo
a sala.

Chego em casa e subo direto para o quarto, parece que


perdi o apetite no caminho. Coloco uma roupa mais leve e me deito
abraçada nas pernas. Sentindo um aperto na boca do estômago.
Alguém bate à porta depois de um momento e ela se abre
suavemente, Elói enfia a cabeça para dentro com um sorriso gentil.
Franzo o cenho me sentando, Elói nunca subiu até o meu quarto
assim de repente.
— Eu fiz uma sopa para você. — diz empurrado a porta com
o quadril e entrando no quarto.
— Não precisava.
— O chefe mandou. — diz me entregando a bandeja escura
de tomar café na cama, — Você está bem?
— É só a ansiedade, Elói. — lhe dou um sorriso.
— E o que te aflige, menina?
— O futuro. — sorrio, tristemente.
Tomo a sopa na companhia da governanta, sentindo-me
nauseada ainda. Volto a me deitar pelo resto da tarde,
completamente letárgica. Aquela ligação me atingiu feito uma
bomba, é a terceira coisa que escondo de Franco não sei até onde
eu vou conseguir seguir com isso.

Desperto, meus olhos piscam sonolentos e vejo uma


sombra preta na entrada do quarto, pisco novamente e ela está
mais próxima, está se debruçando em cima de mim.
— Hey! — sou sacudida pelo ombro, abro os olhos e
enxergo Franco sentado na extremidade da cama, ele põe a mão
em minha testa. — Como está se sentindo?
— Bem, é só um mal estar.
— Você ficou no quarto o dia inteiro e não comeu quase
nada. — faço cara feia.
— Não me trate feito um bebê.
— Se não melhorar até amanhã, o médico virá vê-la.
— Por causa de um mal estar? — pergunto chocada.
— Você não sabe o que é. — diz em tom de reprovação.
Franco chuta os sapatos para longe, e se deita ao meu lado,
ele me puxa para seus braços, e eu não penso duas vezes em me
aconchegar em seu peito e cair no sono novamente.
Acordo na manhã seguinte e Franco ainda está deitado ao
meu lado, fico surpresa, até checo seus batimentos cardíacos na
veia carótida, pois deve estar morto. Seus olhos se abrem nessa
hora encarando os meus, circunspecto.
— Vivo! — digo com um sorriso.
— Você está melhor? — assinto e me distancio, pois ele
senta de repente.
— Vamos descer para tomar café, quero vê-la comer. —
arqueio a sobrancelha.
— Está tão preocupado que eu morra? — brinco.
— Isso não seria bom para a aliança entre as máfias. —
meu semblante se fecha todinho, que não consigo disfarçar o
quanto as palavras dele magoaram. — Eu me expressei mal. —
adiciona.
— Você disse exatamente o que queria dizer. — Ando até o
closet e pego um robe comprido, deixo o quarto sem olhar para
Franco.
— Bom dia. — saúdo os empregados na cozinha e peço
para Elói me fazer um chá. Sento-me à mesa, tem tanta coisa: pães,
doces, salgados, uma torta, mas não sinto fome só um aperto no
estômago.
— Coma. — Ouço-o nas minhas costas, e suspiro com sua
ordem, Franco pega um pedaço de pão e coloca no meu prato.
— Talvez você queira me tratar também. — resmungo e seu
olhar implacável, me faz pegar e morder o pão, sem vontade. Ele
senta ao meu lado e começa a tomar o próprio café da manhã.
— Se não está bem, melhor cancelar o treino de novo. —
diz de repente.
— Já tem dois dias que não vou, e essa semana Lazzaro
disse que me deixaria pegar nas facas dele. — rio.
— Você gosta de facas? — pergunta sem esconder
surpresa, dou de ombros.
— Gosto, Carlo teria me dado uma se eu não tivesse
roubado uma das dele, para treinar com Helena. — Franco ri.
— As duas são um perigo juntas.
Não discordo. Hell foi a melhor coisa que me aconteceu
depois da invasão à mansão, perdi metade da minha família, mas
ganhei uma irmã maravilhosa, mas nós duas juntas somos terríveis.
Dias se passaram desde o meu mal estar, estamos só
alguns dias do Natal, mas não estou nenhum um pouco ansiosa, só
de pensar em ter que ficar em um jantar com Edwina e Verônica,
pois as duas parecem siamesas e não se desgrudam, me dói na
alma.
Franco disse que alguns familiares dele estarão presentes, e
por isso preciso agir como uma dama, quis rir, mas fiquei me
perguntando se sou tão bruta quanto ele me faz pensar.
— Eu poderia tê-la matado duas vezes. — Lazzaro grunhe
em meu ouvido, segurando a lâmina de uma faca rente ao meu
pescoço.
— Quero que me ensine a atacar com uma faca, não só me
esquivar. — reclamo.
— Você tem mais chances de sobreviver fugindo de um
ataque do que tentando manusear uma faca.
— Vamos Lazzaro do que tem medo? Prometo não
machucá-lo. — escarneço, o segurança ajeita sua postura e me
encara feio.
— Parece que há um conflito aqui. — ouço atrás de mim,
me viro e vejo Riccardo Fiore em uma cadeira de rodas, ele veste
um terno preto que parece grande em seu corpo debilitado. Atrás
dele, um cara talvez um pouco mais velho que Franco, o empurra
em nossa direção.
— Senhor. — saúdo com um sorriso, gentil, tentando focar
apenas em seus olhos, que já perderam o brilho.
— Qual é o impasse? — ele quer saber, encaro Lazzaro
antes de responder.
— Lazzaro só quer me ensinar a fugir dos ataques.
— Você tem mais chances de viver. — diz como se já
tivesse cansado de repetir isso.
— E se eu não tiver para onde fugir faço o que, morro? —
Riccardo ri.
— Ela está certa Lazzaro.
— Eu não vou atacá-la.
— Tudo bem, Domenico a enfrentará. — Riccardo avisa
olhando para o cara atrás de si e o semblante de Lazzaro se fecha
enquanto o meu se abre.
— Fiorella... — Lazzaro segura em meu cotovelo chamando
a minha intenção.
— Franco não gostará disso. — ele sibila.
— Então Franco pode falar comigo depois, — Riccardo
intervém, — ainda dou a última palavra aqui, espero que não
precise lembrá-lo disso.
— Não, senhor. — o segurança parece que foi castrado
dando um passo atrás.
Meu coração acelera quando o Senhor Fiore manda Dom
subir no tatame.
Tiro minha jaqueta jogando em um canto do chão, estou
vestindo apenas o conjunto de uma legging verde escura e uma
blusa que se parece muito com um tope. O frio passa pela minha
barriga, mas é apenas a ansiedade.
Domenico se aproxima, seus cabelos pretos e seus olhos
claros me lembram um pouco de Franco.
— Ataque Dom, mas não forte o suficiente para seu primo
querer matá-lo. — um brilho cruza pelos olhos de Domenico, e ele
assente positivamente.
Céus, o cara é tão grande quanto Lazzaro, chegando a ficar
uns dez centímetros mais alto que eu. Ele estala o pescoço com um
sorriso e se aproxima, a sua mão não perde tempo e se ergue em
direção a minha face, passo por baixo do seu braço e lhe acerto
uma cotovelada no centro das costas.
Ouço uma vaiada passar pelos lábios de Riccardo, quando
Dom se vira para mim, com um riso. Ele jamais me deixará ganhar,
nem que precise me quebrar inteira.
Dom avança, dessa mais rápido como eu previa, giro para
fora do seu golpe, sentindo meu coração começar a acelerar. Pelo
visto eu feri gravemente o ego de alguém.
— Vai começar a fugir? — pergunta e fico surpresa pelo seu
tom de voz ser agradável.
— Não, mas também não vou correr os seus braços. —
digo, Dom olha para o lado, possivelmente para o Capo, aproveito e
avanço em sua direção com a mão fechada, Dom segura em meu
punho e me gira me deixando com as costas coladas contra seu
peito, bem firme.
— E agora? — ele sussurra em meu ouvido fazendo-me ter
um arrepio indesejado. Cravo os dentes em seu braço, ele grunhe e
afrouxa o aperto, aproveito a mobilidade, e lhe acerto uma cabeçada
em cheio no nariz. Dom me atira no chão com força, eu caio de
quatro, sentindo meu pulso latejar, estou me erguendo quando
Domenico me empurra de volta para o tatame com força.
— Domenico chega. — Riccardo avisa, encontro os olhos de
Dom sua face está vermelho resplandecente, com sangue
escorrendo pelo nariz, mas ele já está em ação com seu próximo
golpe e me acerta em cheio um chute no quadril que me arranca um
grito e me faz rolar para fora do tatame.
Fico deitada de costas, recebendo picos de dor, cerro os
dentes, para não emitir um gemido. Domenico se aproxima, e a
preocupação está estampa em sua face, Lazzaro empurra o homem
para longe.
— Você tá muito fodido. — ele vocifera, antes de se abaixar
ao meu lado.
— Está doendo muito? — questiona.
— Não. — minto, — Só me ajude a levantar. — peço
incapaz de lhe estender a mão, pois estou abraçada em meu corpo
contendo a dor. Lazzaro me puxa e eu gemo alto.
— Vamos entrar e por gelo nisso. — Riccardo fala e faz um
sinal para Dom ir à frente.
— Não precisa, eu estou bem. — digo, quando Lazzaro
passa os braços ao meu redor e me puxa para seus braços. Faço
cara de dor.
— Você entende porque ele fez isso? — Riccardo indaga.
— Seria humilhante apanhar de uma mulher. — respondo e
o velho assente.
— Você estava indo muito bem. — menciona direcionando
sua cadeira para a saída e Lazzaro o segue para dentro da mansão.
— O quão fodida eu estou? — questiono ao segurança, que
me dá um olhar feio.
— Você nada, mas Franco vai matá-lo.
— Ele não fará isso por causa de mim, e foi só um chute,
não é como se Dom tivesse me dado um tiro.
— Ele se importa com você Fiorella.
— Ele se importa com o acordo entre as máfias. — o
segurança comprime os lábios e não discute.
Assim que entramos na casa, Lazzaro me leva por um
corredor, entrando em uma sala em seguida. Carlota aparece por
outra porta com uma compressa de gelo.
— O que houve? — pergunta quando sou deitada por
Lazzaro em um sofá.
— Dom chutou Fiorella. — Riccardo expressa.
— O que? Mas por que ele fez isso? — ela pergunta
atordoada.
— Foi sem querer. — minto, Dom me acertou sem dó ou
piedade.
— Nos dão licença. — a mulher pede ainda surpreendida,
ela espera os dois sair e com sua ajuda eu puxo a legging para
baixo ficando apenas de calcinha.
A compressa fria em meu quadril me faz arrepiar inteira,
relaxo no sofá, me sentindo culpada se algo acontecer com Dom,
ele revidou e pela expressão que ele me olhou lá, percebeu que
pegou pesado.
— Quer tomar um analgésico?
— Sim, por favor.
Carlota me deixa só, tiro a bolsa d’água e enxergo vários
pontinhos roxos em minha pele pálida. Que merda! Escora-me para
trás e ouço uma discussão vindo do lado de fora, tenho certeza que
é a voz de Franco, me ajeito sentindo pontadas de dor, mas preciso
saber o que está acontecendo.
Puxo a calça para cima e ela pressiona a minha lesão, ranjo
os dentes e ando até a porta pela qual Lazzaro e Riccardo saíram.
Abro uma fresta e enxergo o meu marido aos socos com seu primo,
no meio do corredor.
Franco desfere três golpes um atrás do outro na face de
Dom, o corpo dele vacila caindo para trás. E Franco sobe em cima
dele, uma perna posiciona em seu peito e outra no pescoço.
Meu corpo inteiro é tomado de desespero, estou congelada
no lugar quase hiperventilando, vendo Franco pegar uma faca do
paletó, meu coração bate em minha cabeça, me deixado
desorientada.
Abro mais a porta, minhas pernas falham e caio para fora,
os olhos de Franco encontram os meus, mas ele me ignora, fazendo
um sinal com a cabeça para Lazzaro, que ocupa toda a minha linha
de visão em segundos, e antes que me pegue do chão, os gritos de
dor e desespero de Domenico ecoam pelo corredor, e reverberam
por toda a minha alma.
Meus olhos são tomados pelas lágrimas. Lazzaro me coloca
no sofá, e me dá um olhar feio quando tento me erguer novamente.
— Fique aqui se você não quer mais confusão.
Carlota entra por outra porta com um copo d’água e um
frasco de remédio.
— O que está havendo? — amparo a face com as mãos
incapaz de falar, nisso a porta se abre e Franco passa por ela, sua
expressão é perversa. — Franco o que você fez? — Carlota olha
para a mão do filho que está manchada de sangue até o punho. A
náusea bate em meu estômago tão forte quanto o chute de Dom.
— Nada comparado com o que eu devia ter feito. — fala
exalando irritação. — Nos deem licença.
Meu coração se aperta e tenho vontade de me segurar em
Lazzaro, mas não o impeço de sair acompanhado por minha sogra,
assim que ela me entrega o copo e o remédio. Minhas mãos tremem
e não tenho nem como disfarçar.
— Está com dor? — pergunta pegando o remédio e abrindo
o frasco agilmente.
— O que você fez com ele? — pergunto baixinho entre as
lágrimas incessantes.
— Arranquei sua orelha. — meus lábios se separam pasma,
e Franco me entrega um comprimido com mão limpa, — Eu teria
decepado a perna se eu tivesse um facão. — seu tom de voz sobe.
Engulo o comprimido com um longo gole d’água.
— Não entendo porque está sofrendo por ele. — expressa
nada contente, tomando o copo da minha mão e o soltando ao lado,
— Baixe a calça, eu quero ver.
Fico de pé ignorando a dor, e desço a legging, e antes que
havia apenas alguns pontos roxos, agora se transformaram em uma
mancha plena e escura.
— Desgraçado! — Franco pragueja ficando em pé, o seguro
pelo braço, o impedindo de sair, para onde quer que ele queira ir.
— Eu quero que o médico olhe isso.
— É só um hematoma, com o tempo vai sair Franco.
Seu semblante se suaviza por um instante, e ele solta um
suspiro baixinho.
— Eu devia matá-lo, e punir o Lazzaro por deixar algo assim
acontecer com você.
— Lazzaro não teve culpa, o seu pai mandou que ele não se
metesse, o que ele poderia fazer? — vejo seu pomo-de-adão subir e
descer, pensativo. — Podemos ir para casa?
Ele assente.

Entro na banheira com ajuda de Franco, a dor não está mais


aguda e é suportável, mas ele acha que com a sorte que tenho
posso escorregar, cair e morrer. E quem sou eu para discordar.
— Não está com raiva de mim? — pergunto quando ele se
vira para me deixar sozinha no banheiro.
Franco para diante da porta, sua expressão está contida,
não exibindo emoção alguma.
— Não. — diz e se escora no batente, — Preferia que não
tivesse acontecido. Domenico é um Homem de Honra, talvez
Riccardo confie mais nele do que em mim, no entanto, pisou onde
não devia.
— Ele não vai revidar?
— Só se ele quiser morrer. — fala e me deixa só.
Que caralho de confusão, reflito escorando a cabeça na
cerâmica.
É Natal! A casa está enfeitada até o teto, já que Franco não
me deixou treinar até que o hematoma sumisse totalmente, resolvi
transformar a mansão na vila do Papai Noel. Franco não pareceu
muito contente, mas estava entediada para cacete, então peguei
Nádia emprestada de Elói e fomos às compras.
Meu telefone toca na estante, corro para buscá-lo, é uma
chamada de vídeo das meninas.
— Feliz Natal! — cantarolamos as três.
— Como estão? — questiono.
— Ansiosas para o ano que vem, chegamos aí na segunda
semana de janeiro.
— Eu não vejo a hora. — respondo.
— Está toda arrumada, já vão sair? — Hell pergunta e fico
de pé, mostrando o meu vestido sereia, longo e vermelho escuro,
todo de brilhantes, gritando luxúria, foi o valor de um carro. Sorri,
Franco terá uma surpresa com a fatura.
— Sim, Franco está terminando de se arrumar.
— Esse decote consegue ser quase maior que o vestido de
noiva. — Sienna desaprova, fazendo Hell revirar os olhos.
— É a Ella? — ouço papai perguntar, eu não converso com
ele desde a despedida no hotel Plaza. — Sim, você quer falar com
ela? — Sienna pergunta na mesma hora que vira o celular na
direção dele.
Olhamo-nos e o silêncio se estendeu, só se passou um mês
e meio desde que fui obrigada a deixar Chicago, pensei que fosse
sucumbir de saudades dele, mas não sinto nada além de desgosto.
A sua expressão me encara neutra, embora seus olhos não filtrem
suas emoções.
— Como Dona está? — pergunto sem fingir alegria, ele nos
pôs nessa situação, agora aguente.
— Ela está bem, sente sua falta.
— E você?
— Oh, Ella. — emite pegando o celular e dando as costas
para as meninas. — Você sabe que sim.
— E como eu poderia saber? Você foi embora e não ligou.
— digo com amargura.
— É melhor assim, para você criar laços com sua nova
família. As meninas disseram que você parece feliz.
— Eu levei um tiro pai, e parecer feliz, não é estar feliz. —
respondo e me pego desejando não estar conversando com ele. —
Dê Feliz Natal ao Dario. — falo e encerro a chamada, com vontade
de jogar o telefone longe.
Solto o aparelho com força, e quando me viro enxergo
Franco nos últimos degraus da escada. Ele está em um impecável
terno preto, sua vestimenta habitual.
— Estava dando feliz natal a minha família. — explico.
— Eu escutei. Ainda sente raiva porque foi obrigada a se
casar? — pergunta se aproximando de mim e trazendo consigo o
meu casaco de pele branco.
— Tenho raiva porque ele não me deu escolha.
— Eu também não tive. — diz me ajudando a vestir o
casaco, — Sabia que Ettore era pra ter se casado com sua irmã.
Viro-me para Franco, chocada.
— Como assim?
Franco aperta os lábios, quem sabe se dando conta de que
não devia ter entrado nesse assunto.
— Depois que Rocco morreu, o acordo teve que ser
ajustado. Meu pai propôs ao Carlo que Ettore se casasse com
Sienna. Seu pai recusou, ele não aceitaria nada menos que um
herdeiro, então Riccardo aceitou me casar.
— Quando foi ajustado o acordo?
— Há anos, mas eu só soube que teria que casar um dia
antes de conhecê-la.
— E Enrico? — pobre menino.
— O acordo não duraria mais dez anos, se não houvesse
um casamento logo. — fala e fico surpresa pela honestidade. —
Vamos já estamos quase atrasados.
Chegamos à mansão dos Fiore, e vários carros se
estendem ao longo do pátio, há mais seguranças do lado de fora
que o normal.
— Lazzaro não poderá ficar de olho em você o tempo
inteiro, então não saia da minha vista.
— Por quê? Algum ruim vai acontecer?
— Eu não sei, mas não confio no meu tio Vitto, ele... —
Franco me olha com os lábios pressionados, indecisos se deve
continuar o assunto, ele quer confiar em mim, mas não sabe se
deve.
— Ele acha que seu pai está debilitado demais para
comandar, e você teme que ele use o Natal para se tornar o próximo
Chefe. Os Natais em Chicago são semelhantes, por isso depois da
invasão passamos a comemorar apenas com a família. — falo, e
Franco assente.
— Quem sabe ano que vem passamos a fazer assim
também. — sorrio.
Descemos os dois, Franco deslizou as mãos para as minhas
costas e me puxou contra seu corpo, o caminho até a casa foi
rápido, olho para Franco e sua expressão é uma mistura de
imponência e severidade. Ele olha para mim, e sua máscara
descongela por milésimo de segundos.
Atravessamos as portas e adentrando uma extensa sala de
estar, o silêncio se propagou e todos os convidados se voltaram
para nós, até Franco tirar o meu casaco e exibir meu fabuloso
vestido, e algumas senhoras começam a me elogiar. Senti-me
exposta como no dia do casamento e minha sogra veio em minha
direção com um largo sorriso
— Céus, você está incrível! — sorrio gentilmente, sentindo a
mão do meu marido deslizar pelas minhas costas e apertar meu
bumbum sutilmente.
— Se comporte e não beba, quero você consciente. — fala
só para eu ouvir. Assinto.
Meus olhos varrem a sala conforme andamos, em um canto
muito reservado em poltronas de couro escuro, há alguns homens
de terno, sentados, bebendo uísque e fumando charuto, até o pobre
Enrico que devia estar brincando com qualquer coisa, está no meio
deles. Do outro lado, há uma distância razoável, as mulheres
conversam entre si, bebem vinhos ou espumante.
— Vou roubá-la por um momento. — Carlota engata seu
braço no meu e me leva em direção às mulheres, muitas delas
estavam no chá daquela tarde.
Elas elogiam cada fio do meu cabelo, me deixando sem
graça, não entendo como elas são imensamente simpáticas, quando
Edwina é o poço do ódio comigo. Pensando no diabo, ela entra na
sala usando um vestido preto e segurando uma taça, ao seu lado
Verônica em um vestido azul escuro, ambas me encaram
rigidamente.
— Uau, elas te odeiam. — tenho um sobressalto, quando
ouço atrás de mim. Viro-me e uma garota, talvez um pouco mais
velha que eu, de olhos e cabelos escuros, sorri. Encaro-a sem
reação, acredito que nunca nos vimos antes.
— Eu me chamo Beatriz.
— Fiorella. — me apresento.
— Todo mundo sabe quem você é. — comenta e me puxa
pelo braço sutilmente, — Ignore Edwina como eu faço, nenhuma
das duas vale o estresse.
— Quem é você? — pergunto, pois poucas pessoas falariam
mal da filha do Chefe tão abertamente.
— A bastarda de Riccardo Fiore. — diz simplesmente e
precioso cerrar a mandíbula para meu queixo não cair. Franco
nunca me disse que tinha uma irmã, bem, na verdade ele não me
contou muita coisa.
— Oh, eu não sabia... — expresso sem saber o que dizer.
— Tudo bem, não é segredo, mas prefiro ficar longe dessas
festas sempre que posso.
— Queria poder também. — ela sorri.
— E como é estar casada com Franco? Ele é muito babaca?
— olhamos para o meu marido do outro lado da sala e seus olhos
estão em nós.
— Uma montanha russa. — a garota ri.
Carlota se aproxima de nós com um álbum de capa bordo, e
logo atrás dela uma governanta com um quadro de uns trinta
centímetros ou mais.
— Franco disse que você adorou o quadro do escritório e
pediu que eu fizesse um para você.
A governanta vira o retrato, e as mulheres se aproximam
para olhá-lo também. A foto foi captada instantes depois que Franco
pincelou o meu nariz com o glacê do bolo, estou com um sorriso
amável e com a ponta do meu nariz branco, Franco está me
olhando e seu sorriso também parece ser verdadeiro.
— Muito lindo, obrigada. — pego o quadro com a moldura
de metal claro, com certeza de ouro branco.
— Vou pedir para o Lazzaro pôr no carro, junto com o álbum
de fotos.
Agradeço e Carlota nos deixa a sós levando os presentes.
— Mora aqui na mansão? — questiono.
— Não, moro com Giovani, ele é subchefe em Boston.
— Está casada há muito tempo? — pergunto enquanto nos
sentamos em poltronas escuras.
— Há três anos, foi arranjado como o seu.
— Você é feliz? — ela me dá um sorriso que não alcança os
olhos.
— Você é? — pergunta, retribuo o sorriso, pois não sei o
que dizer, Franco e eu estamos vivendo civilizadamente, ele tem
passado mais tempo em casa, e notei que fica mais propenso a
conversar depois do sexo.
— Não sei como conquistá-lo. — confesso e me arrependo
quase que no mesmo instante, mas é tão cansativo passar por tudo
isso calada.
— Você deseja um casamento de verdade? — pergunta
baixinho se inclinando para frente.
— Sou idiota por querer isso? — digo tão baixinho quanto
ela.
— Não, precisamos nos agarrar no que temos, seja por
dever ou não, infelizmente essa é a nossa realidade.
— Eu só não sei como faço.
— Vocês fazem aquilo? — pergunta e faz um sutil gesto
com a mão fazendo-me rir.
— Quase todo dia. — Beatriz arregala os olhos.
— Se ele te procura sempre, não deve ter amantes. —
sussurra. — Você procura por ele?
Mexo a cabeça em negação.
— Venha, vamos dar uma volta. — diz ficando de pé, faço o
mesmo, encarando Franco antes de deixar a sala, ele não está com
a expressão das melhores.
— Minha mãe era uma puta de luxo, foi assim que ela
conheceu Riccardo. — diz quando alcançamos uma varanda. — Ela
falou que os homens são todos iguais quando se trata de sexo. A
lista de clientes dela era a maior da agência. — comenta com
orgulho.
— O que ela fazia? — Beatriz da de ombros.
— Ela disse um dia, que as bocetas são todas iguais o que
muda na hora do sexo é o que você sabe fazer para diferenciar a
transa. Usar um brinquedo, um chicote, uma fantasia e
principalmente, saber chupar bem uma rola. — coro, ficando da cor
do meu vestido, Beatriz ri.
— O quê? Não vai me dizer que você nunca caiu de boca
nele.
— Eu não tenho ideia do que fazer. — Bea ri alto.
— Uau! Você deve ter uma boceta de ouro. — rio,
relembrando a quantidade de vezes que Franco diz que sou
apertada pra cacete, será por isso que ele nunca se importou? Ou
será que alguém anda fazendo essa parte no meu lugar?
Argh! Merda de pensamento.
— Imagine que é um picolé maravilhoso e chupe como se
fosse acabar o mundo. — ela ri provavelmente da minha expressão,
— Ou seja apenas espontânea.
Sorrio e assinto pensativa. Eu consigo ser espontânea,
normalmente as metades das besteiras que eu faço é sempre sem
pensar. Entramos em seguida, Franco pediu para eu não sumir das
vistas dele, e cá estou eu em uma sacada no segundo andar,
conversando sobre minha vida sexual com uma completa estranha,
que não me fez sentir estranha ou mal em momento algum.
Busco por Franco quando chegamos ao primeiro andar, mas
não o vejo em lugar algum.
— Franco foi procurá-la. — Edwina diz, sem muita vontade,
mas seus olhos me encaram me passando uma sensação ruim.
— Eu vou encontrá-lo.
— Ótimo, o jantar sai em dez minutos. — Carlota avisa.
Peço licença a Beatriz e começo a procurar por meu marido.
Entro em um longo corredor, com várias portas e corredores
que se ligam. Talvez seja mais fácil pedir para Lazzaro ir atrás de
Franco do que eu me esgueirar sozinha pela mansão. Desço até o
fim sem muita esperança de achá-lo e quando viro para o próximo
corredor encontro Franco e Verônica.
Os dois estão próximos demais e Verônica está sorrindo e
segurando em sua gravata com as duas mãos, possivelmente
tentando ajustar o nó. Ambos me olham no mesmo instante,
permaneço estática desejando ficar invisível ou somente
desaparecer. Dou um passo atrás voltando para o corredor e indo
em direção à festa. Sei que não devia estar me sentindo mal, pois
não presenciei nada de mais, apenas uma conversa muito íntima,
entre o meu marido e a mulher com quem ele não pode ficar.
Aperto o passo me sentindo desolada, e com o choro preso
na garganta.
— Fiorella. — Meu nome ecoa até mim, olho por cima do
ombro, Franco está logo atrás andando com passos largos. Só não
saio correndo dele, pois o vestido longo e os saltos não me
permitem.
De repente sou pega pela cintura e puxada para trás com
força.
— Pare de fugir. — diz em meu ouvido. Tento me livrar dos
seus braços, mas nem que eu quisesse conseguiria, Franco é forte
demais. Ele me guia para uma sala ao lado, e uma luz fraca se
acende.
Franco me solta e me vira para ele, obrigando-me a encará-
lo. Sua face inflexível, suaviza em instantes quando enxerga a
minha.
— Eu não sei o que você acha que viu, mas não estava
acontecendo nada. — explica calmo.
— Você sabe muito bem o que eu vi, e talvez não tenha
acontecido porque eu cheguei. — minha voz sai o oposto da dele.
— Estava te procurando, disse para não sair das minhas
vistas. — seu tom de voz aumenta, e minha indignação também.
Ele fala como se a culpa fosse minha.
— E você desistiu assim que aquela vaca surgiu no seu
caminho. — escarneço e sua face fica carmesim. — Seja imparcial
pelo menos uma vez, Franco, e se coloque no meu lugar. — limpo
as lágrimas do contorno do rosto.
— Eu te dou a minha palavra que não estava acontecendo
nada.
O encaro tentando engolir sua mentira, pois aqui não é o
lugar para ficarmos discutindo, mas hoje à noite quando chegarmos
em casa eu vou querer bem mais que só a palavra dele como jura.
— Tá bom. — digo tão baixo, que não tenho certeza se ele
escutou.
Franco segura em meu rosto, e seus polegares limpam
minhas lágrimas.
— Não chore, Fiore. — Chupo meu lábio inferior sentindo-o
salgado. Franco se aproxima e me beija devagar e seus braços
envolvem o meu corpo docemente, então ele diz contra os meus
lábios: — Precisamos subir.
Franco pega a minha mão e me puxa, me levando em
direção à sala de jantar. As pessoas estão se sentando quando
adentramos. A minha sogra caminha em nossa direção preocupada.
— Você está bem querida? Está pálida.
— Estava me sentindo um pouco enjoada. — minto, e ela
me encara surpresa. — Assim que comer ficarei bem.
— Claro. — diz sinalizando nossos assentos em uma mesa
com pelo menos 16 cadeiras. Franco me conduz pela mão na
direção de dois lugares vagos, quase ao meio da mesa.
Ele puxa a cadeira para mim, e desliza ao meu lado. Do
outro lado da mesa em frente ao Franco sua irmã está sentada, na
minha frente Verônica e ao seu lado o Domenico, fazendo o meu
estômago embrulhar, não consigo encará-lo, pois meus olhos
insistem em parar na sua cicatriz, onde devia haver uma orelha
ainda há pontos pretos. Franco desliza a mão por baixo da mesa, e
alisa minha perna, devo estar com um semblante claramente
péssimo para ele ter feito isso.
Respiro fundo, e percebo que Ettore está ao meu lado, ele
me dá um sorriso gentil, e retribuo.
Em seguida a sala é invadida pelos garçons que começam a
entregar os pratos na mesa.
— Cordeiro assado, com batatas gratinadas... — me perco
na explicação de Carlota quando outro garçom se aproxima com as
bebidas. Começo a comer em silêncio e escuto apenas Edwina
rindo espalhafatosamente, me dando nos nervos. Cerro o meu bife,
imagino a língua das duas no lugar. Olho para Franco, ele está
conversando com seu tio Vitto do outro lado.
— E o que está achando de Nova Iorque Fiorella? Sente
saudades da família? — a mulher ao lado de Vitto, pergunta
silenciando a mesa.
— Não tive muitas chances de conhecer Manhattan, mas o
pouco que vi adorei. — digo esbanjando doçura, — E Franco é a
minha família agora. — respondo e meu sorriso se abre luminoso
para o meu marido.
Nossa eu devia ser atriz.
Escuto alguns Oh, na mesa, e a vontade de revirar os olhos
é enorme.
— Edwina pode levá-la para conhecer a cidade. — Riccardo
sugere, e nós duas nos entreolhamos, prefiro ser chicoteada a ter
que passear com essa cadela.
— Ela já é uma mulher casada, não devia ficar passeando
por aí. — Edwina comenta acidamente.
— Sou a esposa de Franco, não sua prisioneira, Edwina.
Quando chegar a hora do seu casamento, — digo carregada de
maldade, — o que acredito que será em breve você me entenderá
melhor. — sinto os olhos de Franco em mim, mas estou fula demais
para me importar se estou passando dos limites.
— O que te faz pensar isso? — ela pergunta se inclinando
para frente e segurando a faca com tanto força que os nós dos seus
dedos ficam brancos.
— A sua idade e seu comportamento insolente. — respondo
sem conseguir conter uma pitada de irritação, e o que nos impede
de nos agarrarmos é apenas a mesa no nosso caminho.
— Isso é algo a se discutir, mas não na ceia do Natal. —
Riccardo fala naturalmente, terminando de mastigar um pedaço de
cordeiro.
— Pai? — a garota o chama, parece suplicante.
— Agora não, Edwina. — sua voz é calma, mas me dá
medo.
O jantar seguiu com o clima de funeral pelo menos para mim
e minha cunhada, se eu fiquei com pena dela? Nenhum pouco.
Talvez assim ela seja mais humana e se coloque no meu lugar. Eu
não desejo um casamento arranjado nem para o meu pior inimigo,
mas eu abro uma exceção para ela.
O caminho para casa foi longo e silencioso, Franco não
trocou uma palavra comigo, durante ou depois do jantar e eu estou
exausta demais para entender o mau-humor dele.
Entro no quarto e solto os sapatos depois me atiro na cama
e fico encarando o teto me sentindo letárgica. Estou quase pegando
no sono quando o escuto entrar, me apoio nos cotovelos para olhá-
lo e Franco me ignora notoriamente.
— Franco, eu não podia ficar calada. — explico, odiando ter
que fazer isso.
— Mas devia. — fala asperamente, o encaro desacreditada,
enquanto ele tira o paletó e caminha para o closet.
— Edwina vive me atacando, eu não vou baixar a cabeça
para ela. — replico, e fico de pé tirando o vestido. Quando Franco
volta para o quarto estou deslizando em uma camisola de cetim
vermelha.
— Você sabe em qual posição a colocou hoje?
— Na mesma que estou agora, um casamento de mentira.
— digo as últimas palavras com raiva.
— Eu não estou com saco para isso agora Fiorella. Vá
dormir. — ele ordena e desliga a luz do quarto, fazendo o sangue
subir para minha cabeça.
Caminho até o interruptor e acendo as luzes.
— Ela me falou de você e da Verônica. — digo quando ele
está se aproximando da cama, mas Franco não diz nada, apenas se
deita. — Você deu um anel para ela. — exclamo.
— Isso não te diz respeito, agora desligue a luz e vá dormir.
— Não diria se fosse o seu passado, mas ela está presente
o maldito do tempo inteiro.
— O que você quer de mim, Fiorella? — Franco senta, seus
olhos gritam fuja, mas finco o pé no chão, pois não tem para onde
fugir.
— Uma resposta. — digo, já estou farta de aguentar tudo
calada sem saber o que eu devo esperar desse casamento. —
Pretende me amar um dia ou esse casamento será por dever para
sempre?
— Porque gosta de complicar tudo?
— Eu quero uma resposta, Franco.
— Eu não tenho uma resposta para essa pergunta. — sua
voz sobe gradativamente, me fazendo estremecer.
Meu coração parou por um momento enquanto eu
compreendia sua resposta. Tentei engolir o nó que se formou em
minha garganta enquanto dava um passo para trás. Franco podia
nunca me dar seu coração, mas eu queria ao menos fingir que ele
seria meu algum dia, mas nem essa esperança ele quer me dar.
— Então quando tiver me procure. — aviso deixando o
quarto.
Fecho a porta e me escoro contra ela com uma dor
crescente no peito, fico remoendo se essa não foi a pior decisão que
já tomei desde que cheguei aqui. Franco pode nunca ter uma
resposta e seremos para sempre dois estranhos morando juntos.
É véspera de ano novo, e estou feliz que não há nenhuma
festa para ir. Já Franco ainda não voltou para casa. Faz exatamente
uma semana que não trocamos uma palavra, o silêncio está me
matando. O vi pouquíssimas vezes antes de ele sair para trabalhar,
mas não o vi retornar nenhuma vez.
Eu abri a porta para ele correr para os braços da Verônica,
isso pulveriza minha alma, ainda mais quando lembro o que ele me
disse semanas atrás: Você entende que eu teria que me satisfazer
fora de casa, não é?
Não, eu não entendo!
Caminho até a cozinha, e nem mesmo Lazzaro está
presente, sentado em frente à ilha bebendo um café, apenas muitos
homens de preto espalhados pelo gramado, isso é quase uma
prisão.
Abro a geladeira sem vontade alguma de comer, iguais aos
últimos dias. Mas tiro um pote de doce de leite de maracujá e solto
na ilha. Suspiro, já faz quase dois meses e ainda não sei onde ficam
os talheres. Quando por fim encontro uma colher o meu telefone
toca.
— Oi Hell.
— Aquele ordinário ainda não voltou? — pergunta fazendo-
me rir.
— Não, mas tudo bem.
— Não está nada bem, Ella, ele não devia te deixar passar a
virada do ano sozinha. Isso é... — ela suspira.
— Triste. — completo, — Ainda faltam dez minutos, e não
faria diferença, pois não estamos conversando.
— Você precisa resolver isso.
— O tempo vai resolver.
— Argh! Você parece a Dona falando. — rio.
— Quer que eu faça o que?
— Se anime, vai tomar umas cachaças é Ano Novo você
está sozinha, então pelo menos aproveite e enlouqueça.
— Aí está um tédio, não é?
— Tédio é um eufemismo, seu pai convidou apenas
Teodoro, Romeo e Piero para o jantar, Sienna está fazendo sala, ou
seja, estou sozinha como você.
Fico mais um tempo conversando com Hell, mas subo para
o quarto em seguida, tiro o meu vestido branco, e deslizo em uma
camisola de renda preta.
As minhas roupas permaneceram no closet junto com as de
Franco, mas eu continuo dormindo há quatro quartos de distância
dele. Nádia tem arrumado o meu cômodo todos os dias, mas não
perguntou sobre nada, apenas o deixou mais confortável para mim,
com quadros, tapetes e poltronas.
Caminho para o quarto onde estou dormindo e quando me
deito escuto a explosão de fogos lá fora, até me levantaria para
assistir, mas não estou com ânimo pra nada. Meu primeiro ano
novo, casada e vou passá-lo sozinha.
Não sei o que pensar disso.
Escuto os últimos fogos, encarando o teto e sentindo o
coração acalmar. Esses últimos dias tem sido um inferno dormir
sozinha. Franco ocupava metade da cama e ainda assim era tão
confortável. Odeio sentir tanta falta dele, gostaria de saber como
passei de odiá-lo intensamente por isso que estou sentindo agora:
saudades. Argh!
Estou encontrando o meu sono quando ouço a porta do
quarto ser aberta. Ergo o olhar e Franco está parado em frente à
porta, sua camisa social preta está desabotoada revelando uma
faixa branca enrolada em suas costelas.
— Franco. — balbucio, quando seus olhos azuis profundos
e intensos como um furacão encontram os meus.
Ele adentra o quarto parando aos pés da cama, e com um
movimento simples arranca a minha coberta. Sua mão agarra meu
calcanhar antes que eu pudesse encolher as minhas pernas, e
Franco me arrasta até a extremidade da cama com um puxão firme,
o meu coração pareceu perder uma batida no caminho. Seu rosto se
contrai possivelmente de dor.
Franco cai sobre mim, impedindo-me de fechar as pernas, e
se apoia com uma mão próxima a minha cabeça. Seus cabelos
estão rebeldes, e parece que há fuligem no contorno da sua face.
— O que está fazendo, Franco? — pergunto, quando sua
mão desliza para dentro da minha camisola alcançando o meu seio,
seguro em seu braço e os afasto de mim.
— Eu preciso de você. — fala, simplesmente como se nada
tivesse acontecido a semana inteira e sua mão agarra na tira da
minha calcinha.
— Franco não. — peço tentando contê-lo.
Não vou me entregar a ele, só para suprir suas
necessidades.
— Não dessa forma. — o empurrando para trás pelos
ombros.
— Você é minha esposa. — adverte.
— Só no papel! Eu não te devo nada. — exclamo e firmo os
calcanhares na extremidade do colchão e me empurro para cima,
saindo debaixo dele, Franco agarra o meu tornozelo e quando me
puxa lhe acerto um chute com força nas costelas, bem onde está a
faixa branca. Ele solta um gemido agoniado e cai para frente se
apoiando no colchão com as mãos.
— Eu disse não!
— Eu... — ele me interrompe num sussurro, Franco leva
uma mão ao peito e rola para o lado caindo no chão, o baque do
seu corpo contra o piso de carvalho me faz estremecer.
Pulo para fora da cama e acendo a luz. Me aproximo de
Franco, ele está estático com um braço amparando as costelas.
Que coisinha linda e vulnerável, penso o analisando e me
pego indecisa entre chutá-lo para deixar de ser babaca, ou ajuda-lo
a se levantar.
— Quer me matar?
— Não, mas te dar uma surra com certeza. — o início de
uma risada se inicia, mas termina com Franco gemendo. — Eu não
devia ter vindo. — fala depois de um momento e seus olhos refletem
a culpa.
— É, não devia. — saio do quarto e o deixo no chão, se não
precisa de mim, que se vire para se levantar sozinho.
Entro na suíte principal, encontro o paletó em frangalhos e
as armas jogadas em cima da cama, empurro tudo para um canto e
me deito na cama, imaginando o que aconteceu para fazê-lo agir
dessa maneira.
Fecho os olhos e imploro para o sono vir, meus
pensamentos ficam presos em Franco em meu quarto, eu não devia
sequer me preocupar com ele, depois da forma que ele me tratou.
Obrigo-me a ficar deitada nem que seja para ficar rolando na cama.
Horas se passaram e ainda estou com os olhos arregalados.
— Inferno! — pulo da cama e ando até o meu quarto, e ele
está atirado no mesmo lugar.
Olha só o futuro Capo Dei Capi, não consegue nem se
levantar do chão, escarneço mentalmente, devia ter trazido o celular
para tirar uma foto.
Cutuco Franco com o pé, pois a bela está adormecida, seus
olhos se abrem vagarosamente e me encaram com atenção. Sem
dizer nada me abaixo uns vinte centímetros e lhe estendo a mão,
ele agarra em meu antebraço e o puxo para cima com um gemido.
Franco rola para minha cama e fica deitado de barriga para
cima. Ele respira pesadamente e ergue a cabeça para me olhar.
— Venha aqui. — ele pede gentilmente.
— Não. — respondo mexendo a cabeça juntamente, e deixo
o quarto fechando a porta.
Deito-me outra vez me sentindo bem por ter ajudado, mas
nossa situação não irá se resolver assim. Olho para o relógio antes
de adormecer, e já passou das quatro horas da manhã, bela forma
de começar o ano.

Quando acordo, Franco está sentado ao pé da cama polindo


suas facas. Ele está apenas de cueca, e seu cabelo molhado
escorre algumas gotas para suas costas, que são amparadas pela
faixa branca presa ao seu tronco.
— Eu quero que fique neste quarto, o seu lugar é aqui
comigo. — diz deixando-me surpresa, tanto por saber que acordei
quanto por suas palavras.
— Isso é uma ordem? — pergunto me sentando.
Ele se vira e me encara.
— Não. Ontem eu… — ele aperta os lábios, — Eu não
queria assustá-la, nem machucá-la.
— Não foi o que pareceu.
— Eu sei e lamento. — ele solta as facas e se vira para
mim.
— Não volto sem uma resposta, seja boa ou ruim, eu não
ligo. — digo antes que ele me manipule com palavras bonitas, o que
parece ser quase impossível também.
Sua face se mantém neutra, como se estivesse congelada.
— Eu quero que seja minha esposa. Não apenas no papel.
Essa é a forma dele de dizer que tentará me amar?
— E Verônica? — pergunto, e seu pomo-de-adão oscila,
enquanto seus olhos me encaram com atenção.
— Rompemos há alguns meses. Estou tentando mantê-la
afastada Fiorella, mas não posso proibi-la de visitar Edwina.
— Você iria se casar com ela? — seus olhos se estreitam
como quem diz: não pergunte coisas que não deseja saber.
— Provavelmente, mas a Famiglia vem em primeiro lugar. —
é claro que vem.
— Nunca odiou essa vida?
— Não. Fui criado para ser quem sou e não me vejo
fazendo outra coisa.
— Queria poder dizer o mesmo. Fui criada para ser uma
donzela, mas prefiro mil vezes segurar em uma espada do que em
uma agulha.
— Eu tenho uma coisa para você. — Franco fica de pé, e
vejo que até os pequenos movimentos lhe causam dor, ele anda até
o closet e sem demora volta carregando uma caixinha preta, estreita
e comprida.
Ele senta em minha frente e abre à caixinha revelando uma
faca média de dois gumes, o cabo é vermelho igual à bainha de
couro enfeitada com pequenos diamantes. Franco a desembainha e
me estende, meus olhos analisam a lâmina de aço, tão claro que
quase consigo me ver no reflexo dela.
Pego a faca, e um sorriso se forma em meu rosto.
— Está afiada?
Ele mexe a cabeça em negação.
E quem é que precisa do fio quando se pode usar a ponta,
penso com um riso.
— É muito linda.
— Era pra ter te dado no Natal. — expõe pegando a faca e a
guardando.
— Eu não tenho nada para você.
— Não preciso de nada, apenas fique nesse quarto.
Franco está compassivo demais, que chega a parecer
suspeito.
— Esteve com outra mulher? — pergunto de repente
pegando nós dois de surpresa, ele pressiona os lábios, talvez não
gostando da minha desconfiança.
— Não. — diz sem tentar me convencer.
Franco fica em pé e pega no recamier uma camisa social
preta e desliza pelos braços.
— O que houve com você?
— Longa história.
— Me conte. — peço me pondo de joelhos.
Ele mexe a cabeça em negação enquanto desliza uma
gravata preta pelo colarinho. Engatinho até ele parando em sua
frente, e sentando-me nos calcanhares.
— Quero saber por que está todo lanhado. — explico
segurando nas pontas da gravata e ficando sob os joelhos.
— Você sabe que tem coisas que eu não posso contar. —
diz enterrando seu nariz na curva do meu pescoço, e sua barba rala
me faz arrepiar inteira.
— Nem resumidamente? — questiono, deslizando as alças
da camisola pelos ombros.
— Você está me provocando? — comprimo os lábios e dou
de ombros, sentido a renda desliza para a minha cintura.
— Vai me contar?
— Bem resumidamente... — ele pondera e me empurra para
trás com cuidado. Esparramo-me na cama e Franco puxa minha as
minhas roupas pelas pernas.
— Franco? — chamo esticando uma perna até o seu peito,
vendo seu olhar lascivo perdido entre minhas pernas.
— Há meses estávamos esperando um contêiner vir de
Bogotá — diz se pondo em cima de mim, seus olhos desviam dos
meus descendo pelo meu corpo.
— Então? — pergunto com um riso, visivelmente os homens
pensam com a cabeça de baixo, Franco não consegue nem
raciocinar.
— Eu posso resumir depois? — Rio.
— Não!
Ele suspira.
— Nele tinha uma tonelada de cocaína. — assinto e minhas
mãos agarram a extremidade da sua cueca, e a deslizo para baixo.
Seu membro pula para fora, e me pego pensando se eu é que quero
saber o fim da história.
— E... — Franco balbucia abrindo minhas pernas com as
suas, seu pau bate em meu sexo, quente e pesado e brinca na
minha entra. — Ettore e eu fomos supervisionar a descarga, e
quando os caminhões estavam cheios apareceu meia dúzia de
homens, talvez mais, armados.
— Eles roubaram a carga? — pergunto surpresa.
Franco solta um riso involuntário, como se eu tivesse
perguntado algo absurdo.
— Não.
— E quem tentou roubá-la?
— O resumo acaba aqui, Fiore. — Franco diz e na hora que
seus lábios tomam os meus o seu telefone começa a tocar em
algum canto do quarto, ele solta uma sequência de palavrões, e se
afasta puxando sua cueca para cima, cobrindo sua ereção.
— O que foi cacete? — ruge para alguém do outro lado da
linha.
Franco joga o telefone em cima da cama depois de um
momento, e começa a se vestir.
— Tudo bem? — pergunto, puxando o lençol para cima do
meu corpo e me sentando.
— Não. Se vista com algo quente, vamos para a casa dos
meus pais.
— Franco, eu não quero ir. — acredito que todos me
odeiam, inclusive Carlota depois que coloquei sua filha em maus
lençóis.
— Você tem dez minutos para se aprontar. — avisa fechado
o zíper calça.
Evito revirar os olhos e desço da cama, quando passo por
Franco ele tenta apertar minha bunda, mas lhe dou um peteleco na
mão, o impedindo.
Entro no closet e coloco uma legging peluciada, botas de
cano longo, uma básica e sobretudo justo preto com botões
dourados na diagonal, e por último uma echarpe.
Atravesso o quarto e me escovo rapidamente, e quando
entro no quarto, ele está terminando de abotoar um pesado
sobretudo cinza escuro.
— O que houve com suas costelas?
— Fraturei quatro na batida de carro.
— Você bateu o carro? — pergunto perplexa, ele aperta os
lábios, pesaroso. — Não acha melhor repousar? — Franco ri.
— Não se preocupe Fiore, já quebrei mais costelas que
consigo lembrar. — franze os lábios.
— Porque estamos indo para a casa dos seus pais? —
pergunto enquanto descemos.
— Meu pai quer me ver. — diz e minha barriga ronca
quando passamos pela cozinha e percebo que já está beirando à
uma hora da tarde.
— Por que eu tenho que ir junto? — questiono o seguido
para o lado de fora.
— Lazzaro está ocupado, e minha mãe quer vê-la.
— Me ver? — questiono sentindo uma pontada de dor no
estômago.
— Ela só quer saber como está. — Franco esclarece,
parando em frente a uma moto, bem grande, preta. Ele puxa dois
capacetes, preto fosco, do guidão e me alcança um.
— Outro carro chegará mais tarde, — explica enfiando o
capacete e subindo na moto com agilidade, Franco ergue a viseira e
me encara com atenção. — Nunca andou de moto, não é?
Mexo a cabeça mecanicamente, ele sorri.
— Eu vou devagar, prometo. — sem opção enfio o capacete
e subo na garupa abraçando Franco com força, seus dedos pegam
os meus e os colocam dentro do bolso do seu casaco.
— Vamos providenciar umas luvas para você. — diz e
arranca, colo meu rosto em seu corpo, sentindo o vento cortante
chicotear meus cabelos.
Depois que os seguranças abriram os portões, chegamos à
mansão de Riccardo em menos de dois minutos. Franco estacionou
e me ajudou a descer, e depois de soltar os capacetes, passou um
braço a minha volta e me guiou para dentro.
— Está acontecendo algo ruim, não é? Estou com um mal
presságio. — menciono quando chegamos em uma sala.
— Sempre está acontecendo algo, Fiore. Não precisa temer,
não deixarei nada de ruim acontecer com você.
— Estou me referindo a você, Franco. — seus lábios se
entreabrem, mas se calam quando chegamos à sala de jantar,
enxergo os cabelos loiros da Verônica de longe. Encaro Franco,
mas ele continua andando me levando até a mesa, Carlota fica de
pé assim que percebe nossa presença com um sorriso amável, as
meninas se viram para trás e instantaneamente suas feições
endurecem.
Respiro fundo.
— Que bom que você veio Fiorella, espero que esteja com
fome.
— Ela está. — Franco diz, antes que eu conseguisse negar.
— Coma Fiore, eu logo venho buscá-la. — ele fala baixinho e me
deixa com Carlota, quando me viro para a mulher, ela está com um
largo sorriso.
— Estou vendo que estão se entendendo. Você sabia que
Fiore, significa flor. — assinto enquanto ela me direciona até a
mesa, me sento em frente às duas najas e fico sem saber para onde
olhar.
— Edwina, vá a até a cozinha e peça que tragam um prato
para Fiorella. — Carlota avisa, a garota cerra o maxilar, mas
obedece deixando a sala com passos pesados.
Verônica segue bebendo sua sopa silenciosa.
— Franco mencionou que estava com mal estar ontem à
tarde, por isso não vieram à festa de ano novo. — minha sogra
menciona de repente, e minha cara de surpresa é evidente, ele
mentiu, e nem sequer me avisou.
— Oh, sim, — digo e noto minha voz subir um quarto, — Eu
estou melhor agora.
— Se me recordo você estava com mal estar no Natal
também. — ela fala e Verônica me olha sutilmente, mostrando que
está ouvindo a conversa.
Preciso parar de mentir e Franco também.
— Acho que é só saudades de casa. — olha só outra
mentira.
— Já fazem quase dois meses que está casada, já
considerou estar grávida? — eu teria ficado mais chocada com a
pergunta se Verônica não tivesse se afogado com o caldo da sopa,
tendo uma crise de tosse.
A mulher toma um gole d’água, assumindo um tom
avermelhado, e Edwina se aproxima nesse momento, ela encara
nós três com um olhar desconfiado.
— Sobre o que conversavam? — pergunta.
— Nada. — sua mãe responde secamente.
A sopa vem em seguida e fico grata por ficar de boca cheia,
e não ter que conversar. Depois da pergunta de Carlota, não sei no
que pensar. Eu não tenho enjoos matinais, e todos os meus mal
estar foram por motivos claros.
Oh céus. Quase dois meses transando sem proteção e só
me dou conta disso agora. É isso que acontece quando se é criada
sem orientação alguma, tudo que eu sei sobre sexo é o que eu vi
em filmes ou séries, sem contar que papai quase não nos deixava
ver televisão. Nossa grade curricular era impecável, tínhamos
atividades durante o dia inteiro.
Começo a ficar enjoada, mas acredito que seja só coisa da
minha cabeça. Tomo o resto da sopa e peço licença, deixando a
mesa em seguida.
Caminho sem direção e acabo em uma aconchegante sala
de estar. Aproximo-me da janela, que dá uma bela visão do pátio da
frente, grande gramado com um belo jardim.
Encosto minha cabeça na fria janela de vidro e a vejo ficar
embaçada contra a minha respiração. Fico um momento assim,
apenas pensando no que Carlota disse, ela parecia tão animada,
mas cogitar essa hipótese me dói o estômago, sou jovem demais
para ter um bebê.
Sem dizer que não seria apenas um bebê. Se algum dia
tiver um filho, ele será treinado para matar, se for menina, será
vendida como uma puta.
Ouço um leve arranhar de garganta, ajeito minha postura e
me viro. Encaro os olhos cor de mel e um pouco esverdeado de
Verônica, acho que nunca olhei com atenção. Cabelos ondulados,
leves sardas no nariz, e lábios com o formato de coração. Olho além
dela e não há ninguém, nem mesmo o seu cão de guarda, a
Edwina.
— O que quer? — pergunto.
Verônica se aproxima parando perto da janela, seus olhos
se perdem lá fora por um momento, então ela se vira para mim e
ganho toda a sua atenção.
— Eu não queria estar aqui tanto quanto você, mas Carlota
pediu que eu lhe entregasse isso, — ela me estende uma caixinha
rosa e azul. — Ela pensou que ficaria mais confortável com alguém
mais jovem.
— Claro, me parece mais apropriado logo você me trazer
um teste de gravidez. — Minha voz sobe e minha irritação também.
— Ela não sabe de mim e do...
— Meu marido. — completo, puxando o teste da sua mão,
analiso por uma batida de coração a caixinha e a guardo no bolso
interno do casaco, sentindo um grande aperto no coração.
Verônica fica parada ao meu lado estagnada, ela está
olhando além da janela e seus lábios tremem levemente.
— Você o ama? — sua voz sai como porcelana e ainda sim
suas palavras soam como um chicote na minha alma. Respostas
absurdas e cruéis cruzam minha mente, mas as engulo com força
pensando em uma resposta adequada enquanto os olhos dela
permanecem no pátio, distantes.
— Isso não te diz respeito.
— Ele pediu que eu me afastasse, — menciona e seus
olhos encontram os meus, cautelosa, — eu fiz isso por ele, mas se
Franco vier atrás de mim, eu não direi não, não espero que me
entenda, mas você faria o mesmo se estivesse no meu lugar.
Suas palavras me atingem em cheio e sinto-me caindo de
um abismo, completamente sem chão. A única coisa que me
impede de matá-la, como eu devia ter feito semanas atrás naquela
clínica veterinária, é Franco diante da porta. Ele está longe demais
para escutar nossa conversa, mas pela sua expressão não gostou
nada de nos ver sozinhas.
Aproveito minha expressão de consternação e amparo uma
lágrima falsa, com o dorso da mão. Verônica se vira para trás e sua
expressão é de surpresa quando o vê.
Aproveito e ando até meu marido com passos largos, passo
por ele com cabeça baixa, sentindo meu corpo tremer inteiramente
de raiva, minha vontade é voltar lá e fazê-la engolir cada maldita
palavra. Desgraçada!
— Fiorella. — Franco me puxa pelo antebraço em instantes,
e me gira para ele, — O que ela te disse? — ele ergue meu queixo
me obrigando a encará-lo, e dessa vez a lágrima que escorre é
verdadeira. Franco a ampara com o polegar.
— Não quero falar. — expresso livrando meu queixo do seu
toque.
Não sei o que responder, não tenho ideia do que Franco
faria se soubesse que ela está disposta a ser sua amante. E não sei
o que eu faria se isso chegasse acontecer.
— Eu disse que não queria ter vindo. — Exclamo o
encarando.
— Se não me disser vou perguntar a ela. — avisa, fazendo-
me sentir o coração bater na cabeça. Engulo a frustração, e assumo
uma postura tão dura quanto à dele.
— Eu jamais terei o que vocês tiveram, que sou apenas
parte de um acordo e nunca vai passar disso. — Oh céus, percebo
que exagerei na mentira, quando o maxilar de Franco fica rígido, ele
dá um passo na direção da sala onde eu estava, mas o pego pelo
braço bruscamente.
— Por favor, esqueça isso. — peço e estendo minha mão
para sua face, meus dedos deslizam para sua nuca e o puxo para
baixo, meus lábios encontram os dele delicadamente, Franco
intensifica o beijo e em instantes o sinto duro contra a minha barriga.
— Minhas bolas vão explodir se eu não te comer hoje à
noite. — não devia, mas rio e Franco mexe a cabeça
mecanicamente em reprovação.
Ele se afasta para me encarar.
— Eu vou ter que deixá-la aqui, preciso fazer uma coisa.
— Oh Franco, — imito, mexendo a cabeça juntamente, —
Eu não fico. — aviso e sua expressão se fecha.
— Eu não estou te dando escolha, Fiore. — cerro o maxilar
com raiva e cruzo os braços em frente ao peito.
— Ok. Só avise a suas bolas que elas vão explodir se
depender de mim. — Franco cerra o maxilar igualmente, mas
acredito que seja para não rir.
— Está usando sexo para me chantagear?
— É a única arma que eu tenho. — dou de ombros.
— É perigoso, e também irei de moto para ser mais rápido.
— Eu fico quietinha, você nem irá notar minha presença. —
lhe dou um olhar pedinchão, implorando que seu coração duro,
amoleça.
Franco suspira, ele comprime os lábios, movendo a cabeça
mecanicamente.
— Você vai, mas sem perguntas, entendido?
Concordo, escondendo meu sorriso.
Franco me pede para aguardá-lo do lado de fora, que ele
precisa pegar algo, só espero que ele não cruze com aquela vaca
no caminho, penso parada ao lado da moto. No solzinho está
gostoso, o frio de Nova Iorque é quase tão rígido quanto o de
Chicago, mas pelo menos ainda não está nevando.
Franco se aproxima carregando um par de luvas, ele me
entrega em seguida, é pequena e peluciadas por dentro, não
pergunto a quem pertence tão pouco deveria me importar.
Subimos na moto e como eu prometi não questionei sobre
nada, nem para onde estamos indo. Apenas cuidei as placas
durante o percurso inteiro.
Passamos por uma placa que dizia “Bem-vindo a Long
Island”, há cerca de uma hora. Não percebi carros nos seguidos,
então significa que estamos sem seguranças também. Começo a
ficar curiosa, e com receio de para onde Franco está nos levando.
Entramos em um reserva de chão batido e uma extensa mata, o
clima ficou mais gélido, que me encolho toda para perto de Franco,
me agarrando ao seu calor.
— Já estamos chegando. — ele avisa e acelera, mata
adentro.
De longe vejo um prédio antigo acinzentado no formato
retangular, os portões são abertos e Franco atravessa diminuindo a
velocidade, parando perto da propriedade que parece um depósito,
com escadas vermelhas que levam para o primeiro andar.
Assim que desço me estico sentindo dor nas costas.
— Tudo bem? — questiona soltando os capacetes.
— Ótimo!
— Então vamos. — Franco sobe as escadas e o acompanho
um passo atrás. Ele atravessa uma porta de metal, adentrando em
um vasto espaço aberto, o ar quente abraça o meu corpo e quase
gemo de gratidão.
Caminhamos atravessando a sala, e o burburinho dos
homens cessa quando notam a presença de Franco, e o que
sobressai é apenas os barulhos das máquinas. Há dezenas delas
no tamanho médio e com uma aparência estranha, não tenho ideia
do que cada uma delas faz, só que há um homem atrás de cada
uma.
— O que são aquelas máquinas? — pergunto sem reprimir
minha curiosidade, quando chegamos a uma porta do outro lado.
— O que eu te disse? — pergunta naturalmente assim que
atravessamos, parando em cima de uma escada reta, dando vista
para uma garagem, há pelo menos três caminhões estacionados.
— E você acreditou em mim? — rio.
— São máquinas embaladoras, cada uma produz 150 mil
saquinhos de coca por dia.
— Uau, é muita coisa. — respondo seguindo-o escada
abaixo, olho para os caminhões novamente e começo a ligar os
pontos. Eles trouxeram a carga de Bogotá noite passada, acredito.
Ettore surge em nosso caminho, e para de repente quando
me enxerga, lhe dou um sorriso, ele retribuiu, mas quando seus
olhos encontram os de Franco vejo reprovação explícita.
— Não enche, e me diga onde ele está.
— Caminhão do meio. — Franco lhe dá um aceno, se
virando para mim.
— Fique com o Ettore, eu não vou demorar. — ele dá uma
última olhada ao Consigliere, que lhe dá um aceno breve, então nos
deixa a só com passos largos, indo até o grande caminho branco.
— Quer um café? — Ettore pergunta gentilmente.
Assinto e Ettore me guia para uma cabine fechada, mas
com paredes de vidro, e antes dele fechar a porta, um grito
animalesco nos alcança, me viro sobressaltada sentindo os meus
cabelos da nuca eriçarem.
— O que foi isso? — pergunto vendo o Consigliere em
frente a uma máquina de café, ele gesticula para eu me sentar, e
assim o faço em um sofá de couro preto.
— Franco disse por que estão aqui? — questiona me
entregando um copinho branco descartável.
— Não. — ele comprime os lábios.
— Então acho melhor perguntar a ele. — assinto,
decepcionada.
Tomo o café observando os caminhões por um momento,
parece bem silencioso do lado de fora. Ettore caminha até o frigobar
e percebo que ele está mancando.
— Estava com ele noite passada? — pergunto enquanto o
homem abre uma garrafa de cerveja.
— Ele te contou? — pergunta, desconfiado.
— Resumidamente. — respondo.
— Ele está interrogando um dos homens que sobreviveu.
— E se o homem não falar nada, o que acontece?
— Ah, ele vai é irrefutável, Franco é muito persuasivo. — ele
sorri, e até imagino como meu marido está persuadindo o homem
dentro do caminhão.
— Isso não parece incomodá-la. — menciona sentando em
uma poltrona afastada.
— E devia? Aqui não há mocinhos, então seria hipocrisia
sentir pena.
— E se fosse o Franco? — pergunta e seus olhos me
mostram curiosidade.
— Ele é o meu marido acima de tudo, então, sim, eu me
importaria se fosse com Franco. — respondo soltando o copo na
lixeira ao lado. — Tem algum banheiro que eu possa usar?
Ettore assente, e aponta para trás de si, há uma porta
branca.
Deslizo para dentro da pequena cabine, que contém apenas
uma privada e uma pia ao lado. Quando me sento no vaso, ouço a
caixinha se mexer dentro de mim.
Enfio a mão no casaco e a pego, fico encarando o desenho
que lembra um termômetro, e mostra o indicador de semanas.
Carlota pensou em tudo.
Suspiro e vejo minhas mãos tremerem levemente. Descarto
a embalagem sem pensar, se eu estiver grávida é melhor saber
logo, para considerar o que fazer.
Leio a descrição na embalagem, antes de descartá-la no
lixo. Em seguida faço xixi direto no palito, sentindo o coração bater
na minha cabeça e pedindo a Deus que dê negativo.
Fico encarando o resultado, que demora um minuto para
aparecer, nisso ouço uma batida na porta, fazendo-me dar um pulo
do vaso.
— Fiorella, vamos. — Franco avisa, com uma voz grave que
me deixa assustada.
Cacete!
— Estou saindo. — analiso o teste mais um momento, e
nada do resultado. Argh! Foda-se eu vejo em casa, guardo o palito
no bolso interno do casaco e deixo o banheiro depois de me lavar.
Encontro Franco em pé secando as mãos em um pano
branco, mas manchado com sangue, sua expressão é mordaz,
hesito em me aproximar, ele estava com essa mesma feição ontem
à noite. Seja lá qual informação adquiriu, coisa boa não foi.
— Franco. — balbucio, e seus olhos encontram os meus
pacíficos, meu peito relaxa quase que momentaneamente.
— Vamos, antes que anoiteça, ficará mais frio. — assinto e
me despeço de Ettore brevemente.
O sigo para fora do depósito. Franco me entrega o capacete
em silêncio, ele está distante, como se algo tivesse sorvendo seus
pensamentos. Gostaria de saber o que, mas é melhor manter o bico
calado dessa vez, ele não parece muito propenso a conversar.
Subo na garupa e ele põe minhas mãos dentro do bolso do
seu casaco, e arranca com pressa. Adentramos na estrada de chão
em segundos, fico olhando a mata passar por meus olhos, distraída,
até enxergar uma luz piscar no meio da floresta, ajeito a minha
postura, rápido, e olho para trás, talvez eu esteja delirando. Não
estou, há duas motos atrás de nós.
— Franco.
— Eu vi. — ele diz e acelera juntamente.
Os barulhos das motos ficam mais audíveis, olha para trás,
mas já está escuro demais, só consigo ver o farol há uma distância
razoável, pois Franco continua acelerando. Mas reduz a velocidade
em uma curva e uma das motos avança ficando talvez a um metro
de nós.
— Porque não estão atirando? — pergunto, pois um simples
tiro em minhas costas me faria cair da moto, assim restaria apenas
Franco.
— De duas, uma: eles me querem vivo, ou querem você
para barganhar.
Franco tira seu capacete e o arremessa para trás com um
gemido de dor, a tempo vejo a moto desviar desacelerando e a outra
investe no seu lugar rápido demais.
Encolho-me o máximo que consigo para perto de Franco
quando enxergo algo metálico brilhar no escuro, não tenho certeza
do que é, mas o meu medo é iminente.
— Franco. — balbucio, mas seu nome é engolido pelo
vento.
Ele acelera tão rápido que mal enxergo as árvores, tudo se
torna um borrão, eu não entendo nem como ele está vendo algo. De
repente saímos da reserva entrando em um asfalto com duas vias, a
moto para de sacolejar e me sinto quase grata, se não fossem pelas
motos logo atrás de nós, que ganham velocidade.
— Abra o meu casaco. — ele pede, e minhas mãos sobem
rápido para o primeiro botão, meus dedos tremem incontroláveis,
mas abro um por um, sem Franco me apressar. — Segure firme. —
entrelaço meus dedos contra seu tórax e quando fecho os olhos,
Franco freia de repente, e a traseira da moto empina fazendo meu
corpo sair do assento e meu coração rugir em meus ouvidos.
O tempo que a roda levou para voltar ao chão foi o tempo
preciso para os motoqueiros passarem por nós e Franco sacar as
duas armas. Seus tiros são direcionados para o mesmo motoqueiro,
que na tentativa de desviar bate nas barreiras de concreto branco
da via.
O outro fugiu, como um rato.
— Fique aqui. — Franco desce da moto, e minha vontade é
de me agarrar nele.
Ele atravessa a via com passos largos, sem olhar para os
lados, pois não há movimentação nenhuma por essa região. Franco
se agacha, vira o motoqueiro de barriga para cima com força
excessiva, e remove seu capacete bruscamente, revelando um
cabelo escuro.
O motoqueiro se mexe levando a mão ao peito, Franco pisa
nela e saca a arma, apontando para a cabeça do cara. Viro o rosto
para a outra via, já tenho desgraça demais gravada em minhas
memórias, não preciso de mais uma. O tiro me faz encolher, mas
apenas isso, não sinto pena ou remorso, às vezes me pergunto se
tem algo errado comigo, ou se todos que nascem nesse mundo
ficam assim, indiferente com a vida alheia.
Franco atravessa a rua falando no telefone, ele cospe uma
ordem atrás da outra, indignado. Depois guarda o aparelho no bolso
e me encara com o semblante inescrutável.
— Sabe quem era? — questiono.
— Pela tatuagem no pescoço eu tenho uma vaga ideia.
Uma gangue de motocicletas, eles estão se deslocando para Nova
Iorque há alguns meses. — diz subindo na moto.
— E o que eles faziam na reserva?
— Possivelmente reconhecendo terreno. Não se preocupe
com isso.
— Vamos deixá-lo aqui? — questiono e Franco me olha por
cima do ombro.
— Ettore já está a caminho, ele cuidará dessa bagunça. —
responde e arranca.

Adentro a casa e me arrasto para o quarto, a sensação de


hoje é ter vivido vários dias em um só dia. Tiro meu casaco e o jogo
em cima da cama, um banho é tudo que eu mais quero agora.
Franco está lá embaixo no escritório, sua irritação está nas alturas,
e o melhor que eu posso fazer é ficar distante até ele se acalmar.
Sento-me na beira da cama e removo as botas e as calças,
depois me atiro para trás consumida pelos últimos acontecimentos.
Viro-me na cama e enxergo o teste de gravidez saindo do casaco.
Oh céus, por um momento eu esqueci completamente que
carregava isso. Engatinho até lá e pego o teste, nada mais deveria
me assustar nesse dia, mas ler a palavra grávida, na janela de
controle, consegue superar tudo.
Sua estúpida! Estúpida! Estúpida! Estúpida! Meu cérebro
fica repassando essa palavra cruelmente até ela perder o significado
em minha mente.
Analiso o teste novamente, embaixo do palito está escrito 1-
2, segundo a embalagem significa que estou de duas a duas
semanas. Porra cadê a embalagem?
Oh cacete! Joguei no lixo do depósito. Quero bater minha
cabeça na parede, por ser tão burra. Levanto-me da cama sentindo
minhas pernas bambas, a um aperto tão forte em meu peito que
parece que vai parti-lo ao meio. Escondo o teste no closet e pego
uma roupa qualquer.
Ando para o banheiro e só percebo que estou chorando
quando me vejo no espelho. Seguro-me com força na pia enquanto
me encaro, em busca de uma solução que não existe.
Como fui tola.
Ligo o chuveiro e fico embaixo d’água imaginando como
será daqui para frente. Papai, Riccardo e acredito que até Sienna
ficarão felizes; grávida em menos de dois meses, parece até um
recorde. Eu também devia ficar feliz, afinal é o que se espera de
mim, mas não entendo porque não estou.
Suspiro e quando me viro, Franco está na entrada da porta
me olhando.
— Por que está chorando? — pergunta, deve ter reparado
em minha face, vermelha.
— Besteira. — digo mexendo a cabeça mecanicamente.
— Você sabe que pode me contar tudo, não é?
Assinto com um sorriso que não me alcança os olhos, mas
não consigo lhe contar, estou tão exausta desse dia, de tudo o que
aconteceu que eu só quero que termine logo.
— Eu fiz coisas que preferia que não tivesse visto. —
menciona, com um olhar culpado.
— O meu coração já perdoou os seus pecados Franco, e
nada que você faça mudará isso.
Franco adentra o box com roupa e tudo e me beija embaixo
da corrente d 'água. Eu não tenho forças para afastá-lo, para negar
o seu toque, na verdade o meu corpo anseia por ele, como nunca
antes.
Suas roupas somem em questão de segundos, e Franco me
puxa para o seu colo, sinto sua ereção bater em meu sexo, mas ele
não entra em mim, e deixa o banheiro com passos largos.
Ele me solta no meio da cama, e beija minha barriga me
arrepiando toda, Franco desliza sua língua sobre meu corpo e sobe
lambendo as gotas até a altura dos meus seios.
Seguro em seu rosto é o trago mais para cima, seus lábios
reivindicam os meus amorosos, e Franco entra em mim gemendo
contra minha boca, seus movimentos são suaves e precisos ao
mesmo tempo.
Ficamos assim, com apenas os sons dos nossos gemidos
preenchendo o quarto, ambos com a cabeça cheia demais,
buscando conforto e tranquilidade no corpo um do outro.
Duas semanas se passaram desde que fomos perseguidos
pelos motoqueiros, os dias parecem que tem voado desde que
soube que estou grávida, estou tentando manter distância da
mansão dos Fiore, pois assim que Carlota colocar os olhos em mim
eu sei que pedirá uma resposta, suspiro, e a única coisa que me dá
um pouco de paz é saber que minhas irmãs chegam hoje à tarde.
Conversei com Helena durante a semana, mas não tive
coragem de contar a ela. A sensação que eu tenho é de que se eu
contar a alguém se tornará real, e eu não estou pronta para esse
tipo de realidade agora.
Desço para o primeiro andar e no caminho vejo o
Consigliere em pé no meio da sala.
— Ettore, o que faz aqui? — pergunto, chegando aos
últimos degraus, com as pernas trêmulas.
— Vim conversar com o Franco, — explica, me analisando.
Olho em direção ao escritório e a porta está entreaberta.
— Sobre o que? — pergunto, impensadamente, os olhos de
Ettore desviam para o escritório brevemente.
— Eu vi a embalagem no banheiro, mas não é a respeito
disso que vim falar com o seu marido.
Enrubesço sentindo que levei um tapa.
— Deu negativo. Se você puder não dizer nada, não quero
decepcioná-lo. — falo e torço que ele engula a mentira, não sei
como ou quando contar ao Franco, e com certeza não quero que
Ettore seja o primeiro a saber.
Ettore comprime os lábios.
— Você é jovem, não devia se preocupar com isso, uma
hora vai acontecer.
Assinto. E ando para fora da sala assim que Franco deixa o
escritório.
Sirvo-me com chá quente e me sento ao lado de Lazzaro na
ilha, ele voltou há pouco tempo mais reservado que o normal, e
estava um pouco machucado. Nem tentei questionar onde ele
estava, pois sei que não iria me dizer.
— Minhas irmãs chegam hoje, — comento chamando sua
atenção, — Sabia que Helena tinha um crush em você? — digo na
expectativa de animar Lazzaro e nessa hora Franco e Ettore entram
na cozinha.
— Como é que é? — Franco questiona com um riso.
— Você me ouviu. — respondo bebericando o chá.
— Ela é uma criança. — Lazzaro desconversa, enrugando o
nariz.
— Hey, — lhe dou uma cotovelada, — ela é mais velha que
eu.
— Quem sabe casamos Lazzaro com Helena, assim você
teria uma amiga por perto. — Franco menciona, e percebo que até
Ettore ficou tenso igual a mim e ao segurança.
— Relaxem, estou brincando. Nem quero vocês duas juntas
por muito tempo. Helena não é uma boa influência.
— Você mal a conhece. — rebato e meu tom de voz sobe,
irritada com o comentário dele.
— Sei o suficiente, se bem me lembro foi ela que te ajudou a
fugir no seu aniversário.
— E ela teria me ajudado até no dia do casamento se eu
tivesse pedido, porque é isso que os amigos fazem, mas você não
saberia disso porque só tem capachos. — digo irritada e desço da
ilha deixando a cozinha com passos firmes.
Ouço Ettore soltar um baixo assobio, admirado eu diria.
— O que deu em você? — Franco questiona no pé da
escada me virando para ele bruscamente, fico quase na sua altura.
— Não sei, — admito, realmente eu não tenho ideia, tudo
tem me deixando estressada ultimamente, — me desculpe. —
sussurro abraçando o seu pescoço.
Franco tenta se afastar ainda sério, mas não o solto e fico
pendurada em seu pescoço com as pernas para cima. Sua cara feia
se suaviza, e ele me abraça pela cintura me levanto até o sofá, vejo
a porta da frente bater quando Franco senta comigo em seu colo.
— Você tem agido diferente, nos últimos dias. — menciona
me fazendo engolir em seco, — O que está acontecendo, Fiore? —
ele pergunta tão docemente que tenho vontade de me aninhar em
seu peito e contar tudinho, tirar esse peso de mim, mas eu não
consigo.
— Tenho saudade de casa às vezes. — digo, pois é
verdade, e não quero mais mentir para ele.
— Não posso abandonar Nova Iorque agora, meu pai está
cada vez mais debilitado, quando tudo se ajeitar nós vamos e você
visita sua família.
— O que ele tem? — questiono, na esperança de Franco se
abrir comigo.
— Câncer de próstata, em estágio avançado, e já atingiu
outros órgãos.
— Ele parece bem. — menciono lembrando-me das últimas
vezes que o vi. Meio magro, pálido, mas não morrendo. Franco
mexe a cabeça mecanicamente.
— Ele disfarça muito bem.
Suspiro, escorando a cabeça em seu ombro, fico cheirando
seu pescoço por um longo momento, enquanto acaricio os cabelos
da sua nuca com a outra mão, Franco brinca com uma mexa do
meu cabelo.
— Ficará em casa hoje? — questiono, já que é sexta-feira e
ainda não foi trabalhar.
— Não, mas eu venho em casa para levá-las jantar.
— Jura? — pergunto encarando-o um tanto surpresa, acho
que nunca saímos jantar.
— Juro, Fiore.
Beijo o meu marido com força, demonstrando todo o meu
contentamento, e à medida que o nosso beijo fica mais intenso,
sinto seu pau ganhar vida contra a minha coxa.
Minhas mãos deslizam para o seu cinto, e o abre agilmente.
— Eu vou fazer uma coisa, mas não quero que fique com
muita expectativa. — aviso, descendo do seu colo e me ajoelhando
em sua frente.
Seus olhos buscam os meus quando eu puxo o fecho da
sua calça, e eles brilham de luxuria.
— Tarde demais pra me pedir isso.
Dou-lhe um olhar de reprovação, me sentindo queimar, e
com sua ajuda libero o seu pau, e o envolvo com meus lábios, antes
que eu perca a coragem. Ouço Franco soltar um gemido sufocado,
e estremecer quando minha língua fez o contorno da cabeça do seu
pau, sentindo o gosto do pré-gozo.
— Puta merda! — Franco ruge, quando sugo a cabeça e
deslizo a língua por sua pequena fenda, depois meus lábios
envolvem cada centímetro dele, e eu chupo como se fosse acabar o
mundo, sem ideia se estou fazendo certo ou errado.
Ergo o olhar buscando pelo de Franco, e ele está me
devorando com os olhos, suas mãos deslizam para meus cabelos e
os arrastam para o lado tendo melhor visão dos meus movimentos.
Ele solta um gemido gutural e seu quadril se inclina de encontro a
minha boca.
— Devagar, Fiore. — ele geme alto e sua cabeça pende
para trás na escora do sofá, ele está sob o meu domínio e isso é
interessante.
Chupo meu marido com o resto das minhas forças, e o sinto
ficar cada vez mais rígido em minha boca.
— Eu vou gozar, se não quiser engolir, saia. — avisa, num
sufoco, mas continuo os movimentos e sorvo seu líquido quente
quando ele jorra na minha boca.
Sugo as bochechas tirando um riso de Franco.
— Então, foi bom? — questiono vendo o mastro dele ainda
em pé, Franco me dá um sorriso tão grande que eu nunca vi antes.
— Seus lábios parecem veludo, Fiore, se eu soubesse antes
que essa boquinha linda era tão gostosa... — ele mexe a cabeça em
negação e me puxa do chão, para seus braços. — Agora eu vou te
comer aqui nesse sofá. — diz e me empurra para o lado no assento
macio, caio de bunda para o ar, a sua mão invade meu vestido
pondo a saia para cima.
Suas mãos apertam as bochechas da minha bunda com
força.
— Erga o quadril. — manda e faço o que me foi pedido,
então Franco puxa minha calcinha para baixo até a altura do joelho.
— Empine a bunda Fiore. — obedeço me sentindo
vulnerável nessa posição, e ainda assim ansiosa por seu toque.
Franco desliza os dedos entre meus lábios, e alcança meu
clitóris, ele o massageia, fazendo-me pulsar e apertar seu pulso que
está entre as minhas pernas.
— Franco. — cicio, e seu dedo desliza para dentro de mim,
pressiono-o com a musculatura da vagina desejando por mais. —
Eu preciso de você. — choramingo empinando mais a bunda.
— Você anda gulosa demais. — diz e tenho uma vaga
impressão que ele estava se referindo ao meu sexo. — Fique de
quatro, quero testar algo novo.
Franco fica em pé, viro-me para ele me segurando na
escora do sofá, ele agarra meu quadril com as duas mãos e desliza
seu pau na minha extensão. Gemo e empurrando mais a bunda
para que ele coloque logo. Seu membro espalha minha umidade
novamente e sem aviso Franco mete fundo, arrancando-me ar.
— É assim que você quer?
— É. — gemo, e de repente Franco esbofeteia meu traseiro,
o sinto queimar com a dor, e de alguma forma é maravilhoso. — De
novo. — imploro com um gemido, e Franco me dá outra palmada
tão forte e gostosa ao mesmo tempo, que começo a pensar que tem
algo errado comigo.
— Me diz se doer. — ele avisa e quando o olho por cima do
ombro Franco desliza o dedo no buraquinho, meu coração acelera,
mas meu sexo pulsa em resposta com Franco ainda me penetrando.
— Relaxa, Fiore. Eu não vou machucá-la, prometo.
Solto o ar, e me deixo acreditar nele, Franco retirou o seu
dedo buscado por umidade, e então deslizou quase todo ele, me
fazendo estremecer com a dupla penetração, e começar a empurrar
o quadril contra seu corpo.
— Gostou disso? — pergunta enquanto me penetra em
ambos os lugares, me deixando desorientada, não imagina que
dava pra sentir tanto prazer ao mesmo tempo em um lugar tão
incomum, para mim.
— Sim. — gemo alto, sentindo o orgasmo ganhar espaço
em meu corpo.
Franco tira o dedo de mim e agarra minha cintura, ele
investe firme e fundo, fazendo-me gritar seu nome até não ter mais
forças para me segurar. As estocadas foram diminuindo aos poucos
e quando Franco sai de dentro de mim, seu esperma escorre quente
pela minha perna.
Meu corpo se torna gelatina, e escorrega para o sofá.
— Toma um banho comigo? — pergunto com a respiração
pesada, vendo Franco vestir sua calça. Ele me encara com um
risinho.
— Eu adoraria subir e lamber cada gota do seu corpo, Fiore,
mas preciso trabalhar, e as suas irmãs já devem estar
desembarcando.
Assinto e subimos os dois para o quarto, Franco se lava
rapidamente na pia do banheiro e dou-lhe um beijo de despedida,
antes de entrar no banho.
Essa semana fez dois meses que não as vejo, a saudade é
esmagadora eu tenho tanto para contar.
Deixo o banho e visto-me rapidamente com um vestido preto
de mangas compridas, coloco também botas de cano baixo e
quando estou secando os meus cabelos vejo pela janela um SVU
preto estacionar perto da casa.
Jogo o secador e a escova em cima da cama e desço às
pressas, quando chego lá embaixo ambas estão ao lado do carro
olhando em volta.
— Uau Ella, sua casa é incrível. — Sienna diz
impressionada enquanto eu a agarro para um abraço.
— Precisam ver dentro. — abraço Hell, e as levo para
dentro com meu coração explodindo de felicidade.
Passamos por Lazzaro no caminho, ele cumprimenta as
meninas brevemente com um aceno de cabeça.
As duas adentram olhando em volta, tão embasbacada
quanto eu fiquei.
— É muito grande! — Helena diz indo até a sala.
— Eu disse que era um puta exagero. — As duas riem e
sentam no sofá comigo no meio.
— Me contem tudo. — elas se entreolham com um riso.
— Quase tudo está igual na verdade Ella, só é menos
barulhento sem você. — Sienna comenta com um riso, e empurra
uma mecha do seu cabelo para trás da orelha, ela parece um pouco
triste.
— O que não está me contando? — pergunto, ela vira os
olhos.
— Não seja boba. — diz com um sorrio.
— E você, Hell?
— Aquela casa é um saco sem você, é muito solitário. — diz
tristemente, e me pego com pena dela, Hell não tem família, e nem
amigos além de mim e Sienna.
— Você devia ir embora e conhecer pessoas novas. —
sugiro.
— Seu pai não me deixaria simplesmente ir, não sabendo de
tudo que eu sei sobre a máfia.
— De nós três, você é a única que tem chances de ter uma
vida normal, devia se agarrar a isso e tentar algo novo, nem que
seja sob os cuidados da Outfit.
— Papai não pode casá-la eu acho. — Sienna diz e nós três
ficamos em dúvida. Ele pode casar as nossas primas, porque não
casaria Helena?
— Alguma novidade boa? — pergunto, pois essa vibe
depressiva é tudo que eu menos preciso agora.
A duas sorriam.
— Dona está grávida.
— O quê?! — pergunto, sentindo-me nauseada, — Dario
nem completou um ano.
— Você e eu temos um ano de diferença. — Sienna me
lembra — E papai e Dona estão felizes, você não?
— Porque eu devia?
— Credo, Ella. — Helena fala surpresa.
— Você não quer filhos? — Sienna pergunta, ela parece
preocupada com minha resposta, quero rir.
— Quero, mas também não queria que minha única função
fosse só procriar e esquentar a cama do meu marido.
— Pensei que você e Franco estivessem bem. — Sienna
fala, vendo-me escorar a cabeça para trás.
— Nós estamos, só que... vamos subir. — digo e puxo
ambas pelas mãos para o andar superior, entramos em meu quarto
em silêncio, as duas sentam na cama, apreensivas, mas sem me
perguntar nada, apenas me observam entrar no closet.
Pego o teste de gravidez e volto para o quarto, talvez elas
me animem, já fazem duas semanas, já está na hora de encarar a
realidade, já que não há como retardar isso.
Atiro o teste entre as duas, no meio da cama e me deito na
extremidade dela. Vejo minha irmã abrir um sorriso iluminado, e
Helena não conseguiu esconder a tempo seu pavor, que é
substituído por um sorriso amável em segundos.
— Oh, Céus Ella! Isso é maravilhoso, você terá um bebê.
Sua família ficará maior e mais forte, e você não estará mais
sozinha. — Sienna está com lágrimas nos olhos e um sorriso doce,
ela está feliz de verdade e não entendo porque eu não consigo ter
esse mesmo sentimento, ela me abraça apertado comigo ainda
deitada, fazendo-me rir.
— Você está bem com isso? — Helena pergunta, quando
Sienna se recompõe.
— Eu não sei. — sorrio e me sento, — Ainda estou
aprendendo a lidar com Franco, ele é meu marido, mas mal nos
conhecemos, e, agora um bebê.
— Ele já sabe? — Sienna questiona.
Mexo a cabeça em negação.
— Fazem duas semanas desde que descobri e toda a vez
que penso em falar, amarelo. Se eu soubesse que ele ficaria feliz ao
menos, talvez eu não ficasse tão apreensiva em contar, mas nunca
conversamos sobre filhos, nossas conversas sempre tiveram limites.
Metade das coisas das quais pergunto ele só dá meia resposta. —
digo revirando os olhos.
— Se não usam proteção, acredito que ele já esteja
aguardando por isso. — Helena diz pegando o teste e analisando de
perto. — Quem comprou para você? — questiona.
Jogo-me para trás novamente e relato às meninas o que
aconteceu nas últimas semanas, deixando de fora somente o
depósito, acredito que Fraco não iria gostar, e não quero perder sua
confiança, logo agora que ele tem se aberto mais comigo.
Helena queria que eu tivesse revidado as palavras de
Verônica com um murro no meio da cara dela, vontade não me
faltou, mas sinto que fiz melhor em deixar passar.
— Porque não faz uma surpresa? — Sienna sugere de
repente, — Compre uma roupinha de bebê e envie para o escritório
dele.
Rio.
— Não! — ela revira os olhos.
— Eu vi em um filme, uma mulher pendurou o primeiro
ultrassom na geladeira e deixou lá até ver quando o marido ia
perceber.
— Eu não tenho uma ultra, — comprimo os lábios, cogitando
a opção de uma surpresa.
— Nós podemos fazer uma. — Sienna sugere, ela está
verdadeiramente animada.
— E como faríamos isso com Sávio e Lazzaro em nosso
encalço, e sem dinheiro? — minha doce irmã me dá um sorriso
travesso mostrando que tem uma ideia.

Descemos todos depois de um longo momento e pedimos


para Lazzaro nos levar para o centro da cidade. Sienna custou, mas
encontrou uma clínica particular e conseguiu agendar uma consulta
no nome da Helena. Ela pagará com o cartão de crédito do papai,
bom, pelo menos quando ele vir à fatura, já saberá que será vovô.
Passeamos pela cidade, em uma rua próxima da clínica,
entramos em algumas lojas apenas para matar tempo e quando
faltam quinze minutos para a consulta, paramos para comprar um
Donut.
— Você quer um também Lazz? — Lazzaro me dá um olhar
feio, nos fazendo rir.
— Que bom que estão se dando bem, Ella. — Sienna
comenta pegando sua rosquinha com cobertura cor de rosa.
— Ele é adorável. — comento e sei que Lazzaro escutou,
pois sua expressão é séria.
Esses homens que não sabem receber elogios.
Caminhamos pelas calçadas lentamente, desfrutando das
rosquinhas quando de repente Helena para levando uma mão a
barriga com um gemido, satisfatório, ela me olha de soslaio e pisca
um olho.
— Tudo bem Hell? — Sienna perguntou preocupada.
— Sim, estou, — diz dando mais um passo e levando a mão
à boca, — Acho que a comida do voo não me caiu bem.
— Tudo bem aí? — Sávio pergunta atrás, nós três nos
entreolhamos e viramos para ele.
— Hell, não está se sentindo bem. — explico com a voz
vacilante, por mais que Helena seja uma excelente atriz, não sei se
estamos indo longe demais com isso só para fazer um ultrassom.
— Talvez seja melhor ir ao médico. — ele fala, e nós três
assentimos.
— Olha, ali tem uma clínica. — Sienna aponta para o outro
lado da rua.
— Então vamos. — Sávio diz, parece preocupado também.
Atravessamos a rua e adentramos o espaço fechado, deixo
Sienna e Helena andarem na frente em direção ao balcão de
recepção, enquanto eu aguardo ansiosa nas poltronas escuras com
Lazzaro.
As meninas se juntam a nós em seguida.
— A médica já vai chamar, você entra comigo, Ella. — Hell
afirma.
— Entramos todas. — falo acariciando seu braço.
Lazzaro se distancia de nós e telefona, possivelmente para
Franco, ele conversa brevemente, mas olhando em nossa direção o
tempo inteiro.
— Helena. — uma das portas é aberta e uma mulher
aparece na entrada com um sorriso gentil.
Ficamos de pé as três com o coração na mão, e
atravessamos o pequeno corredor em direção à médica. Ela nos
encara surpresa, talvez pela idade ou por serem três garotas
entrando no consultório sem nenhum homem.
Assim que passamos pela porta, a médica a fecha e pede
para que nos sentamos. Uma sensação estranha me atinge, como
se agora de fato eu tivesse tomando consciência a respeito da
gravidez e não há mais como retardar.
— Qual das meninas é Helena? — a médica questiona, ela
usa um avental branco e um crachá com nome de Daiana Runar
pendurado.
— Sou eu. — digo, em um tom firme.
— É a sua primeira, ultrassom?
— Sim.
— Já está fazendo acompanhamento da gestação?
— Ainda não. — ela assente e seu olhar cai sobre meu
corpo, me analisando possivelmente deve me achar jovem demais
para ter um bebê, isso é óbvio, cruzo os dedos em cima da sua
mesa exibindo uma aliança e um anel de noivado com um diamante
quase do tamanho do meu punho, e percebo que ela relaxa por um
momento.
— Meu marido está trabalhando, por isso minhas irmãs
vieram comigo, e também porque quero surpreendê-lo. — explico.
— Isso é adorável. — diz com um sorriso, — Pode tirar a
roupa toda e colocar o avental no banheiro.
Assinto e me encaminho para a porta que ela sinalizou,
troco de roupa rapidamente, pois se demorarmos muito acredito que
Lazzaro vai querer invadir o consultório para ver se eu não fugi.
Volto para a sala e encontro a médica sentada ao lado de uma maca
e na sua frente uma espécie de computador.
As meninas estão do outro lado me encarando com risinhos
nervosos, não estamos fazendo nada ilegal, mas a sensação é
como se estivéssemos.
— Sente-se e tente encostar os calcanhares nas nádegas.
— pede, sinalizando a maca.
Obedeço no automático, sentindo o coração acelerar,
assisto a médica pegar uma espécie de bastão branco, fino e
comprido, ela desliza uma camisinha nele e as meninas arregalam
os olhos.
— Isso é um transdutor, vou introduzir no seu canal vaginal,
não vai doer, não se preocupe. — assinto.
A médica aperta em algum botão que deixa a sala mais
escura, e depois ergue meu avental e desliza a sonda gélida para
dentro de mim, é desconfortável, sem dúvidas.
— As irmãs podem se aproximar, se quiserem ver de perto.
— as meninas sorriem e andam para o outro lado da cama.
Enquanto Dra. Runar mexe a sonda dentro de mim, e clica
em alguns botões no computador, observo Sienna, seus olhos estão
grudados no computador e ela estampa um sorriso que não consigo
descrever.
Minha irmã está beirando os vinte anos, e nunca foi tocada
por um homem, beijada ou amada, e eu de alguma forma roubei
tudo que ela mais sonhava, mesmo sendo por conveniência.
— Ali. — a médica congela a tela do computador em uma
imagem escura, semelhante à de um raio-X, ela sinaliza um
pequeno pontinho preto, enquanto o bastão permanece dentro de
mim.
— É tão pequeno. — digo admirada, olhando o pontinho
preto com atenção, parece um minúsculo cavalo marinho.
— O seu bebê tem 4 milímetros, equivalente a uma semente
de maçã. — encaro as meninas e nós sorrimos. — Ele está muito
bem. — adiciona.
— Quantas semanas? — Sienna quer saber.
— Aproximadamente cinco semanas, querem escutar o
coraçãozinho?
— Já dá para escutar? — pergunto surpresa, pois é
minúsculo.
— Vai se surpreender com o quão alto pode ser. — diz e
aperta um botão no computador, o transdutor se mexe suavemente
e quando escutamos um som chiado romper pela sala, ela o
paralisa dentro de mim.
Relaxo na maca e me concentrando apenas naquele som
que não consigo distinguir, é alto, e forte, e me passa uma sensação
de oásis.
Helena pega em minha mão chamando a minha atenção.
— Como se sente?
— É estranho, mas não de uma forma ruim.
— É óbvio que não, tem uma vida dentro de você, Ella. —
Sienna diz com um sorriso meigo e alisa meu ventre.
Tem uma vida dentro de mim.

Chegamos em casa no fim da tarde. Antes de deixarmos o


consultório, a médica receitou algumas vitaminas que preciso tomar
e me entregou uma pequena imagem com a foto do bebê. E na
saída da clínica percebi que Lazzaro estava com uma expressão
suspicaz, mas não questionou nada, apenas Sávio quis saber o que
Helena tinha. Passamos na farmácia antes de voltarmos para
mansão e compramos os antiácidos para a azia estomacal de
Helena e as vitaminas para mim.
Enquanto as meninas desfazem as malas no andar superior,
pego um copo d’água na cozinha, e encontro Lazzaro a ilha como
de costume.
— Helena não estava passando mal, não é? — pergunta
quando solto o copo na pia.
— Como descobriu? — seus olhos entram os meus.
— Perguntei à recepcionista porque estavam demorando
tanto. — respiro fundo.
— Vai contar a ele?
Lazzaro mexe a cabeça, e quando vai me dizer algo, Franco
adentra a cozinha. Ele olha para nós brevemente e solta as chaves
na ilha.
— Sua irmã está melhor? — pergunta parando em minha
frente, nisso escuto o segurança nos deixar em silêncio.
— Sim. — digo com um frio na barriga e deslizo as mãos
para o seu pescoço. Franco desce centímetros e beija a ponta do
meu nariz, me tirando um sorriso, depois seus lábios moldam os
meus em um beijo quente. De repente escutamos um arranhar de
garganta, Franco abre os olhos e se afasta assumindo uma pose
mais séria.
— Meninas. — ele cumprimenta minhas irmãs que estão
com risinhos diante do corredor.
— Eu vou tomar um banho. — fala para mim.
— Subo em seguida. — aviso.
As duas abrem espaço para ele passar e sentam a ilha, elas
já trocaram de roupa, preciso fazer o mesmo, mas antes um banho
quente.
— Quando você vai contar a ele? — Hell pergunta.
— Semana que vem quando estivermos a sós. — Sienna
faz beiço.
Deixo-as na cozinha e subo para o meu quarto, a porta do
banheiro está entreaberta e a vapor saindo pela pequena
passagem. Adentro o banheiro, Franco está de costas, com a
cabeça inclinada para frente e água correndo sobre suas cicatrizes.
— Vai ficar aí só admirando? — pergunta se virando para
mim, com um sorriso.
— Vou, quando tomamos banho juntos, demoramos o dobro
para sair. — digo em tom de advertência, — E você me prometeu
um jantar.
— E nós vamos, assim que você entrar no banho comigo. —
lhe dou um olhar de reprovação, pois sei que ele não sairá do
chuveiro até eu entrar, — Serei bem rápido. — diz com um olhar
predatório, tentando parecer convincente enquanto me dispo.
— Veremos. — resmungo entrando no box.
— Não pode me privar da melhor parte do meu dia, —
censura, me direcionando para baixo d’água, e encosta as minhas
costas na parede fria, — Quando estou com você, consigo ter um
momento de paz e esquecer que tenho um monte de merda pra
resolver. — expõe, moldando os meus lábios, brevemente, enquanto
suas mãos exploram meu corpo, e continua descendo até ficar de
joelhos em minha frente. Franco põe minha perna esquerda sob seu
ombro. E em como muitas outras vezes, meu marido cai de boca em
mim.

Quando deixamos o banho estava me sentindo uma velha,


toda enrugada. Escolho um vestido sexy, para sair com meu marido,
ele tem a cor vermelho, de alcinhas e frente única, com um
generoso decote no formato de coração.
— Então? — pergunto adentrando o quarto e Franco está
pondo a gravata, seus olhos caem sobre meu corpo e o vejo
pressionar os lábios.
— Curto demais. — Quase reviro os olhos.
— Não é isso que eu quero saber.
— Está gostosa, como em qualquer outra roupa. — diz sem
demonstrar emoção, me fazendo rir.
— Obrigada! — me aproximo dele e lhe dou um peteleco na
mão, para me deixar terminar de arrumar o seu nó. Franco me
segura pela cintura e me olha com atenção.
— Está feliz com as meninas aqui? — pergunta, buscando
por meus olhos.
— Estou — sorrio, — Donatella está grávida. — digo, sem
pensar.
— Seu pai deve estar feliz.
— Você ficaria? — me arrisco a perguntar, Franco estreita
os olhos sutilmente.
— Você está atrasada? — pergunta me pegando de
surpresa, mas não consigo distinguir qualquer emoção em Franco,
pois seu telefone começa a tocar no bolso da calça.
Ele se afasta para atender, e me sento sentindo o coração
bater na cabeça.
— Se ele não quer tomar, não dê. — Franco diz secamente.
— Ele não é um bebê se quer sentir dor deixe-o sentir.
Fico em pé apreensiva, sem entender com quem Franco
está falando.
— Não, eu estou de saída, e se eu tiver que ir aí não vai
prestar.
Franco desliga o telefone, mas o segura com força, sinto
que ele está com vontade de arremessá-lo longe.
— Hey, o que houve? — pergunto me aproximando, ele
inspira fortemente.
— Meu pai não está aceitando a morfina. — diz, irritado.
— Se você tem que ir tudo bem. Ele é o seu pai.
— Não, essa noite eu disse que a levaria jantar e eu vou. —
fala me puxando pela mão.
Quando chegamos lá embaixo as meninas ficam em pé,
animadas, ambas em vestidos maravilhosos: Sienna veste um em
tom rosa chiclete, decote reto, mas justo, modelando as suas
curvas, e Helena usa um vestido preto, longo e com fenda na perna
esquerda.
— Vamos. — Franco fala e se direciona para a saída, ele
está aqui, mas sinto que sua cabeça está em outro lugar. Em seu
pai.
Entramos na nova BMW, as meninas sentam atrás e ficam
em silêncio apenas olhando pelas janelas, percebo que a presença
do meu marido, as deixa contidas.
Quando chegamos há uma altura do caminho, o celular dele
começa a tocar no dispositivo do carro, é Domenico. Franco pega o
telefone no bolso e atende, com um semblante nada agradável.
Pergunto-me se não escolhemos um péssimo dia para sair
de casa.
— Fala. — Franco diz secamente, se eu não conhecesse
meu marido ficaria com pena de Dom, mas esse é quase que o tom
natural dele. — Então resolva caralho. — Franco ruge atrás do
telefone, depois de um momento.
Olho para as meninas com um sorriso, tentando tranquilizá-
las, pois estão tensas.
— Vamos ter que fazer uma parada antes. — Franco diz e
faz o contorno bruscamente, fazendo-me segurar no assento com o
coração na mão.
— Franco! — exclamo levando a mão ao peito, ele dá um
suave aperto em minha coxa, sem tirar os olhos do volante. — Para
onde está nos levando?
— Escala. Mas vocês ficarão no carro. — Argh! Claro que
vamos.
Franco estacionou em frente à boate. É um prédio cinza que
fica em uma esquina movimentada. De onde estamos consigo ver o
início de uma fila em frente a uma porta com dois seguranças.
Assim que meu marido nos deixou, Lazzaro se pôs em pé diante do
carro, enquanto Sávio está na traseira.
— Será que ele vai demorar muito? — Hell pergunta,
olhando pela janela.
— Já faz 40 minutos. — digo desanimada e abro a janela
chamando atenção de Lazzaro. — Estou com vontade de ir ao
banheiro.
— Não vou cair nessa.
— Estou muito apertada, Lazz, você quer que eu tenha uma
infecção na bexiga, logo agora. — recorro ao seu lado sentimental.
Lazzaro estreita os olhos, mas permaneço com o meu olhar
pedinchão, fazendo-o revirar os olhos.
— Um pé dentro e o outro fora. — avisa sério, e me esforço
para não lhe dar um sorriso, apenas assinto, fechando a janela.
— Vamos para a boate meninas. — falo dando uma
piscadinha.
Descemos todas e andamos seguindo o meu segurança,
para a boate, passamos na frente de todos, recebendo muitos
olhares feios. Adentramos o Escala, parece um bar/boate, o
ambiente é escuro, mais iluminado com luz quente, em várias
lâmpadas de led nas paredes e no teto. No meio há uma pista, e ao
redor vários sofás no formato de U, em couro vermelho e preto, e do
outro lado em um espaço mais reservado, subindo uma curta
escada, tem um bar.
— Fiquem no bar, eu vou ao banheiro. — aviso a ambas que
foram para as minhas costas, por causa do fluxo de pessoas.
Elas assentem, animadas com o ambiente, aposto que
Sienna nunca foi há um lugar assim antes, eu pelo menos tive a
minha fugidinha que terminou de uma forma horrível.
— Onde o Franco fica? — pergunto ao Lazzaro, que indica
com o queixo para cima, mas só tem os camarotes, Franco deve
ficar no andar superior.
— Você tem cinco minutos. — ele informa passando por
várias pessoas e nos levando para um corredor perto do bar.
Entro em uma cabine sem vontade, mas já estou aqui, uso o
banheiro rapidamente, e quando o deixo, Lazzaro está escorado
contra a parede me esperando.
Caminhamos para o bar para encontrar as meninas, e Ettore
está conversando com Sienna. Minha irmã está sentada em uma
banqueta com Helena ao seu lado.
— Vamos voltar para o carro, Fiorella. — o segurança diz
quando paro ao lado de Ettore.
— Por que a pressa, Lazz? — me queixo, — Já estamos
aqui, nos deixe ficar. — meu olhar pedinchão não funciona mais
com ele.
— É, deixe as meninas ficarem, Lazz. — Ettore zomba do
guarda-costas.
— Quando você tiver uma senhora Reviello, o que eu
acredito que será bem em breve, você poderá dar pitaco. — Lazzaro
escarnece.
— Você está noivo? — Sienna pergunta ao homem,
surpresa.
— Não. — responde com um olhar mordaz ao Lazzaro, que
ri.
— Um passarinho cantou por aí que você está na lista do
Chefe.
— Jamais me casaria com Edwina. — O Consigliere está
tenso, o assunto não está o deixando muito animado.
— A única coisa que te livraria desse casamento seria outro
casamento. — Lazzaro rebate, com um sorriso zombeteiro, pelo
visto nem os homens estão com sorte.
— Te desejo muita sorte, se isso chegar acontecer. — digo
fazendo o sorriso do meu segurança se manter, mas ele se afasta
em seguida pegando o telefone, possivelmente foi ver com Franco
se tudo bem nós ficarmos. Observo-o com atenção, na expectativa.
— Sem álcool. — Lazzaro diz ao se aproximar, guardando o
aparelho no bolso.
Assinto parando em frente às meninas e puxando elas das
banquetas, eu nem posso beber mesmo e duvido que Sávio deixaria
as meninas tomarem algo.
— Vamos dançar. — aviso, o meu segurança faz cara de
arrependimento instantaneamente.
— Ele não vai brigar com você depois? — Helena pergunta,
quando chegamos à pista.
— Não. — mexo a cabeça juntamente, e danço quando o DJ
começa mixar uma música. Sienna e Helena também, eu estou tão
feliz que minhas irmãs estão aqui que nem ligo para os olhos de
Lazzaro presos em nós o tempo inteiro.
Um cara chega por trás da Sienna, mas o pobre coitado não
durou um segundo e Sávio o fez desaparecer, nos tirando risos.
Helena está com a expressão de quem está caçando, eu só não sei
quem.
— Eu vou ao banheiro. — minha amiga avisa e desaparece
entre as pessoas num piscar de olhos.
— Estou com sede e com dor nos pés. — Sienna avisa me
pegando pela mão, voltamos ao bar novamente e pedimos uma
água com maçã verde e limão.
— Você devia comer algo, Ella. — puxo uma rodela de maçã
de dentro do copo e mastigo, fazendo-a revirar os olhos.
— Eu como assim que formos embora.
— Você não teve enjoos ou qualquer outro sintoma? —
pergunta bebendo sua água.
Mexo a cabeça em negação, recordando-me de quando
Dona estava grávida, caralho ela vomitava todas as manhãs, era um
show de horror. E no fim da gestação ela ficava mal-humorada de
repente, era irritante demais, não entendo como papai tinha saco
para aturá-la.
— Acho que estou com sorte por enquanto. — respondo.
— Há um boato rolando, estão dizendo que tem algo errado
comigo, — Sienna comenta girando o copo vazio na mesa, — Por
isso Franco não me escolheu para se casar. — diz com um sorriso
sem graça.
— Oh, Sienna, você sabe que é mentira, não dê ouvidos a
eles, é babaquice, você é perfeita e Franco foi um tolo. — Nós
rimos.
— Acho que eu não conseguiria lidar com o que você lida.
— menciona e entendo que se refere a Verônica e Edwina, aquelas
vacas.
— Não deixe ninguém pisar em você Sienna. — ela mexe a
cabeça, assentindo.
Olho em volta procurando por Helena, ela desapareceu, e
vejo Lazzaro no telefone de costas para mim.
— Eu vou ao banheiro, se Lazzaro questionar diz que fui
procurar por Helena. — informo sorrindo, pois farei exatamente isso
quando sair do banheiro.
— Você não presta. — minha irmã diz.
Ando até o toalete com passos largos, e ninguém me barra.
Se não fosse pelo tiro que levei, diria que é ridículo ter um
segurança o tempo inteiro, é exaustivo e chato também saber que
estou sendo vigiada o tempo inteiro.
Procuro por Helena nas cabines e minha amiga não está em
nenhuma delas. Essa piranha está aprontando alguma coisa, penso
com um riso, e deixo o banheiro a sua procura.
Antes de descer para a pista, olho para o bar e somente
minha irmã está lá sentada com Sávio. Caminho entre as pessoas
até alcançar uma escada que sobe para os camarotes, o segurança
me analisa, mas não barra a minha passagem.
Avisto uma morena de longe, com um longo vestido preto,
ando até ela com passos largos.
— Achei você. — digo puxando-a pelo braço, é uma garota
que eu nunca vi antes me olha com o cenho franzido. — Foi mal. —
falo soltando-a e dando um passo atrás, então meu corpo choca-se
contra uma parede de músculos.
— Ora, ora quem está perdida por aqui. — essa voz faz meu
couro cabeludo eriçar.
James me pega pelo braço, quando tento me afastar, e me
vira para ele, com o coração disparado, não é possível essa
desgraça estar aqui logo hoje.
— Vamos dar uma palavrinha. — ele diz me puxando mais
para perto.
— Se você for esperto, me soltará agora, James. — aviso,
mas seus dedos se fecham com mais força em meu braço, com um
riso.
— Seu marido não pode me matar se não ele já teria feito
isso no dia do casamento não acha? Ou você não contou para ele, o
que aconteceu naquele quartinho.
— Você acabará morto se não ficar calado. — rosno e lhe
dou um chute no saco com força, James se curva para frente
grunhindo e Franco está às suas costas, seus olhos encontram os
meus tão frios quanto no dia que me viu naquele quartinho.
— Leve-o para o meu escritório. — Fraco diz e Lazzaro
arrasta James para fora da ala vip, os olhos do meu marido
encontram os meus gélidos e sei que é melhor me manter calada.
— Você vai junto. — avisa e me puxa pelo braço, não bruscamente,
mas firme o suficiente para não fugir, como se eu tivesse para onde
correr.
Quando chegamos ao bar, Helena está sentada em uma
baqueta com o semblante aterrorizado, com certeza ela já viu
James com Lazzaro. Minha amiga se coloca de pé, mas Ettore a
impede de andar até mim.
— Leve as meninas para casa. — Franco fala ao
Consigliere, e continua andando me levando junto consigo,
entramos no elevador, e antes das portas fecharem vejo Sienna me
encarando sem entender nada.
— Franco. — balbucio, e me viro para ele tentando me livrar
do seu toque que está se tornando doloroso.
— Você mentiu. — ele diz entre dentes, sem me olhar e me
empurra para fora quando as portas se abrem no segundo andar,
sem me dar chances de explicar.
O pior é tentar explicar, sem parecer culpada.
Firmo as pernas que parecem gelatinas e adentro mais uma
sofisticada e grande sala, com sofás espalhados, e uma mesa perto
da parede de vidro.
— Pode descer Lazzaro. — Franco fala, e o segurança
passa por mim sem nem me olhar e some no elevador.
— Franco, o que você vai fazer? — pergunto e nisso James
aparece em minha frente com sangue escorrendo pelo canto dos
lábios, pelo visto ele resistiu à subida.
— Você não pode me matar, então vamos descer e
esquecer isso. — James avisa, em um tom firme. Ousado, para
quem está com a cova cavada.
— De fato, não posso matá-lo. — Franco afirma passando
por mim e se aproximando de James, que não recua, — Mas
desejará estar morto. — sibila e de repente dá um golpe na face de
James, sangue jorra do nariz do homem, que leva as mãos ao rosto
com um grito de dor.
Franco lhe acerta outro golpe no estômago, roubando o seu
ar. James cai de joelhos como um saco de batata.
— Levanta seu merdinha. — Franco sibila entredentes, e o
pega pelos ombros o erguendo, depois o atira para trás, jogando-o
em cima de uma poltrona, como se James fosse um boneco de
pano.
— Fiorella, pegue o cortador de charutos, na segunda
gaveta. — pede simplesmente afrouxando o nó da gravata e tirando
o paletó.
— Franco. — balbucio, horrorizada, mexendo a cabeça em
negação, se eu me mover um centímetro sou capaz de cair dura no
chão.
— Não quer que eu machuque seu namoradinho? —
pergunta zombando.
— Não aconteceu nada. — James, exclama num lamurio,
ainda atirado na poltrona. Idiota eu avisei.
— Será? — Fraco diz apertando os lábios em dúvida, —
Vamos descobrir juntos o quanto minha esposa é mentirosa. É só
uma pena pra você, porque vai doer. — Franco enfatiza com um
sorriso para James, e caminha até a mesa tranquilamente, ele está
irreconhecível. Não sei o que será de nós, quando terminar sua
tortura com o filho do governador.
No momento que Franco abre a gaveta, James corre
disparado em direção ao elevador, e quando seus dedos alcançam
o botão, um tiro atravessa a sala, acertando a parede logo acima da
cabeça de James.
Olho para Franco com o coração batendo na cabeça, ele
suspira e solta à arma na mesa, mexendo a cabeça em negação e
estala a língua com força.
— Odeio fujões. — diz andando até James, que se encontra
de costas para a caixa metálica, se encolhendo contra ela como se
pudesse atravessá-la de alguma forma.
— Fiorella, diga que não aconteceu nada, porra. — ele
implora, mas não adianta negar agora, Franco sabe que eu era
virem, e por mais que o que rolou não tenha sido grande coisa, eu
menti, e sua raiva é por isso, mas quem sofrerá as consequências
será James. Talvez ele só esteja mostrando o que gostaria de fazer
comigo e não pode, ou não consegue.
Franco arrasta James pela nuca em direção a cadeira.
— Você vai ficar parada aí? — James rosna, — Diga algo,
faça qualquer coisa, caralho. — ele exclama, mas estou congelada
no lugar, e nem eu pudesse fazer algo, eu não faria.
Avisei James desde o casamento, talvez assim ele aprenda
a dar ouvidos a uma mulher.
— Você fica de bico calado ou arranco sua língua. — Franco
avisa prendendo o homem com algemas, cacete, de onde ele tirou
aquilo?
— Franco, pra que tudo isso? — pergunto naturalmente,
tentando esconder meu terror.
Ele me ignora e tira de dentro do bolso o cortador de
charuto, ele é comprido no formato oval, contém três buracos, dois
para os dedos e um ao meio para o charuto.
Meu estômago embrulha imaginando o que ele vai cortar.
— Pra você entender, que há consequência quando mente.
— responde.
Oh céus, as suas palavras no passado foram: Se mentir
Fiorella, haverá consequências.
Inferno como fui idiota.
— Você está se excedendo. — digo, mexendo a cabeça
juntamente.
— Ele tocou em você?
— Nada aconteceu. — James choraminga, jogando a
cabeça para trás, quando Franco desliza o cortador em seu dedo
mindinho.
— Responda! — ele rosna.
— Sim. — sussurro, e estremeço inteiramente sentindo o
grito agonizado de James atravessar o meu corpo.
— Onde? — sua voz reverbera até mim, e o vejo encaixar o
cortador em outro dedo, fico muito enjoada.
Mexo a cabeça em negação incapaz de falar, Franco está
fora de controle.
James dá outro grito, que faz meu peito ficar tomada de
aflição.
— Ele tem mais de 18 dedos e pra cada não que você
disser eu vou arrancar um.
Meus olhos se enchem d'água, e me pego tremendo,
incontrolavelmente.
— Onde? — ele questiona e ouço James gemer baixinho,
ele está chorando.
— Pescoço. — sussurro, e outro grito esganiçado, me faz
fechar os olhos com força, e as lágrimas rolarem. — Coxa, — digo
me sentindo enjoada, e o lamurio de James chega até mim outra
vez, fazendo um nó se formar na boca do meu estômago.
— Fiorella. — seu tom de voz reverbera me causando mais
desconforto que os próprios gritos de James. Estou me segurando
em um balcão olhando para baixo e tentando respirar, pois tudo que
eu vejo é uma sombra escura sob meus olhos.
— Ele tocou na minha calcinha, é isso. — respiro fundo e
olho por cima do ombro, James está desmaiado, possivelmente de
dor. Sua mão está caída contendo cinco cotocos, pingando sangue.
Cinco dedos porque eu menti. Franco é horrível, perverso,
impiedoso...
— Dom... — escuto, me viro para Franco, ele está ao
telefone, — Preciso que faça uma limpeza no segundo andar, não
precisa do saco preto só gaze e uma bandagem serve. — ele
desliga e entra em um cômodo, um banheiro, presumo.
Franco sai de lá em instantes falando ao telefone,
novamente.
Ele para em minha frente, e desliga o aparelho o guardando
no bolso.
— Se tivesse me dito a porra da verdade podíamos ter
evitado isso. — diz severamente.
— Não jogue a culpa pra cima de mim. Você fez isso porque
está com o ego ferido, — rosno, — Quantas vezes você comeu a
vaca da Verônica enquanto estávamos noivos? Traga ela aqui, para
eu arrancar seus dedos também.
— Controle sua língua Fiorella, pois estou sem paciência. —
rio alto com escárnio.
— Bem conveniente me mandar ficar calada, pois sabe que
é verdade. — grito.
— Você é minha e ninguém devia tê-la tocado além de mim.
— ele cospe as palavras com fúria.
As portas do elevador abrem e Lazzaro passa por ela, seus
olhos analisam meu corpo brevemente, e depois o restante da sala.
— Leve Fiorella embora e não a deixe sair de casa. — ele
nem me olha e isso me enfurece, queria que ele visse e percebesse
o quanto isso é irracional.
— Vamos. — Lazzaro diz e me esquivo dos seus dedos, que
tentam me pegar pelo braço.
— Eu sei o caminho. — advirto, indo para o elevador.
Entro na caixa metálica, desacredita em como meu dia
conseguiu se tornar essa desgraça. Só espero que Franco se
acalme antes de voltar para casa, e que de alguma forma possamos
achar um jeito de passar por cima disso tudo.
Chego em casa, as meninas estão sentadas na sala, com
pijamas quentinhos. Elas correm me abraçar e não consigo falar,
mas me debulho em lágrimas e soluços, elas não questionam
apenas me amparam esperando eu me acalmar, e me encaram
apreensivas.
— Ele machucou você? — Sienna me segura pelos ombros.
Mexo a cabeça mecanicamente, pego as meninas pelas
mãos e juntas subimos para o meu quarto, longe dos ouvidos de
Lazzaro.
O segurança não disse uma palavra o caminho todo, mas
seus olhos não desviavam de mim, pelo retrovisor, preocupação,
estampava a sua face.
— Que diabos aconteceu lá, Ella? — Hell pergunta,
sentando na minha cama com minha irmã ao seu lado.
— Helena me contou sobre o James. — suspiro.
— Eu fui procurar você, Helena, e encontrei James. — os
olhos da minha amiga reluzem a culpa, — Franco nos viu juntos e
tirou suas próprias conclusões. Ele cortou os dedos do James com
um cortador de charuto. — digo e me encontro em lágrimas
novamente.
Deito-me no meio das meninas com o coração esmagado.
— Ele não devia ter feito isso na sua frente. — Helena tenta
secar minhas lágrimas, mas elas rolam incontroláveis.
— Ele estava cego de raiva. — digo, como se de alguma
forma justificasse.
— Você precisa falar do bebê Fiorella, antes que ele acabe
fazendo uma besteira pior. — Siena diz contida.
— Eu sei, mas eu não quero contar nessas circunstâncias.
Simplesmente não tem clima.
A madrugada chegou, as meninas foram para o seu quarto e
eu me mantive acordada até quando consegui, precisava ver como
Franco estava, mas ele não voltou para casa.

Assim que acordo tomo um banho, me visto com algo


confortável, principalmente agora que fui proibida de sair de casa e
desço sem ânimo algum, mas sinto que vou desmaiar se não comer
algo.
Quando chego à cozinha as meninas estão na mesa
conversando com Nádia e Elói. Ambas me cumprimentam e nos
deixam a sós em seguida.
— Ele não voltou não é? — Hell questiona, quando começo
a beliscar um pedaço de pão.
Mexo a cabeça em negação desanimada.
— Ele me proibiu de sair também.
— Tudo bem, não precisamos ir para lugar algum, ficaremos
com você pelo menos até ele chegar.
Assinto.
— Que tal a gente esquecer um pouco de ontem, ficar
remoendo não te fará bem. — minha amiga sugere.
— Hell está certa. Sabia que os bebês sentem quando as
mães estão tristes e isso pode atrapalhar no desenvolvimento dele.
— faço cara feia, fazendo Sienna rir. — É sério, Dona me contou, e
depois eu pesquisei.
Deslizo a mão pelo ventre, respiro fundo, tenho que lidar
com dois bebês, e você é o que menos está me dando trabalho
agora, penso.
— Eu topo tentar ignorar o aconteceu noite passada, mas
antes eu quero saber onde você estava Helena?
Tenho uma leve impressão de tê-la visto se embuchar com o
pão, quando minha irmã e eu a encaramos.
— No banheiro.
— Eu fui ao banheiro e você não estava lá.
— Eu desci pra encontrar vocês na pista. — pigarreia
tomando um gole de café.
— Helena eu não sou idiota. — digo e soou mais áspero que
eu desejava.
— Eu não posso dizer, Ella.
— Quem é o homem? — Sienna questiona.
— Se for um dos homens de Franco, você tem que me
contar, ele pode estar se aproveitando de você.
— Não tem ninguém se aproveitando de mim. — ela
resmunga.
— Então por que não pode contar? — questiono.
— Porque causaria problemas pra nós dois.
— Pelo amor de Deus, estou com cólicas. Me conta! —
imploro.
Ela mexe a cabeça em negação, com um riso.
— Não confia mais em mim? — pergunto sem conseguir
esconder a mágoa.
— Óbvio que confio, Ella.
— Você transou com ele? — Sienna indaga de repente,
deixando Helena corada.
— Céus você deu pra ele e não pode nem dizer seu nome.
— Ok. Mas e se a gente adivinhar? Você não estaria nos
contando. — Sienna sugestiona fazendo Helena revirar os olhos.
— Só tem três opções plausíveis, que estavam com nós
ontem, Sávio, Lazzaro, Ettore.
— Eu não vou dizer. — Helena rebate.
— Sávio estava comigo o tempo inteiro. — Sienna comenta
para mim.
— Lazzaro só me perdeu de vista quando fui ao banheiro.
Viramos para minha amiga, com as sobrancelhas
arqueadas.
— Não vou dizer. — ela insiste em negar que já está óbvio.
— O Consigliere! Como, quando e o mais importante, por
quê? — quero saber.
— Meninas eu não posso falar.
— Mas também não está negando. — digo, ela dá de
ombros nos fazendo rir.
— Se o Carlo descobre, não sei se o que ele faria.
— Ettore tirou sua honra, talvez papai exigisse um
casamento. — Sienna comenta, fazendo minha amiga arregalar os
olhos.
— Eu não sou um Santoro, talvez ele não se importe tanto.
— Papai adotou você, Helena, acho que só se você fizesse
algo muito estupido, ele não se importaria. — digo.
— Então é mais um motivo para ninguém saber.
— Não vamos contar. — minha irmã e eu dissemos juntas.

A tarde passou num piscar de olhos, e quanto mais se


aproximava da noite, eu sentia uma agitação tomar conta do meu
âmago, Franco simplesmente não veio para casa, nem para o jantar
que eu mal consegui encostar, pensar em comer me deixa enjoada.
Espero as meninas subirem para se deitarem e saio para o
pátio à procura de Lazzaro, ele está fumando escorado contra uma
pilastra de concreto.
— O que você quer, Fiorella? — pergunta jogando a bituca
no chão e amassando-a com o coturno.
— O meu marido. Onde Franco está?
— Não estou autorizado a responder. — mordo o lábio com
força.
— Ele vai me abandonar nessa casa? — pergunto, com
lágrimas nos olhos.
Lazzaro suspira, comprimindo os lábios.
— Ele está com raiva, é melhor pra você que ele se
mantenha afastado, deixe-o esfriar a cabeça.
Assinto incapaz de dizer qualquer coisa e subo para o meu
quarto. Olho para cama intocável, sinto vontade de chorar. O quarto
fica tão vazio sem ele aqui. Como eu queria odiá-lo, para que esse
aperto em meu peito sumisse. E mesmo depois de tudo o que eu
presenciei no escritório, nada mudou com relação aos meus
sentimentos por Franco, talvez isso seja preocupante.
— Quer se deitar com a gente? — Sienna pergunta, me viro
para elas diante do corredor, e assinto, tristemente.
— Os homens são uns bebês. — Hell diz, furiosa, ao se
deitar.
Ajeitei-me no meio delas, e fico encarando o teto inapta a
discordar e adormeço sentindo os carinhos de Sienna em minha
cabeça.
Levanto-me sentindo o corpo dolorido, principalmente na
lombar, já faz uma semana que venho dormindo com as meninas.
Uma semana que não vejo Franco, que não tenho notícias dele.
Esse tempo que ele está levando para se acalmar está me fazendo
perder o controle.
Mandei mensagens para ele durante a semana, altas horas
da noite, quando a ansiedade toma conta me fazendo sentir a beira
da loucura, Franco está me torturando, parece que está se
alimentando com minha dor, e isso está me matando.
As meninas já desceram para o café da manhã, mas como
minhas noites têm sido longas de tanto levantar para ir ao banheiro,
e fico horas acordada pensando em Franco até conseguir pegar no
sono novamente, então durmo até tarde e durante o dia também, e
às vezes acordo com sono. Meu organismo está uma loucura,
parece que o bebê tomou o controle de tudo; os meus seios estão
maiores e sensíveis, tenho muito enjoo quando acordo, mas como
não consigo comer quase nada, não tenho o que vomitar.
— Você está bem? — Sienna pergunta assim que entro na
cozinha, já são quase onze horas e Elói está preparando o almoço,
seja lá o que ela está cozinhando me faz torcer o nariz.
— Sim, podiam ter me acordado. — respondo me sentando
à mesa, bocejando. — Nádia, traga o meu café da manhã. — peço à
ruiva que está tirando o pó dos armários.
Nenhuma das empregadas perguntou sobre o paradeiro do
meu marido, seus olhares foram quase piedosos durante a semana,
o que me fez começar a ficar com raiva de Franco.
— Não quer esperar o almoço, senhora? — Elói questiona,
com um sorriso doce.
Mexo a cabeça mecanicamente.
— Eu não sei o que você está cozinhando aí Elói, mas o
cheiro está me embrulhando o estômago. — digo e recebo olhar de
advertência das meninas.
— É o prato que você mais gosta, lasanha a bolonhesa. —
diz e seus olhos me analisam com atenção.
— Será que você não está grávida? — Nádia diz de repente
ao soltar meu café na minha frente.
Dou-lhe um olhar duro. Não quero que mais ninguém saiba
antes de Franco, mas está começando a ficar difícil esconder.
— Nádia vá pegar mais orégano na dispensa. — Elói pede,
quando me vê bebericando o café.
A ruiva sai apressada e me sinto mal, mas não me prendo a
isso. Estou com problemas maiores na cabeça, problemas que
nenhuma uma garota da minha idade deveria ter.
— Quer que eu prepare outra coisa para você almoçar?
— Não, a sua lasanha é perfeita. — respondo.
Encaro as meninas, elas me olham apreensivas.
— Vocês voltam hoje, é uma pena não podermos ter
explorado a cidade melhor. — digo com lágrimas invadindo meus
olhos, caralho, acho que não teve um dia que não chorei essa
semana.
— Nós viemos por você e não pela cidade, Ella. — Hell diz
com um sorriso, triste.
— Franco me abandonou. — digo pegando as duas de
surpresa, elas mexem a cabeça juntamente.
A semana inteira se passou e não tocamos no assunto do
meu marido simplesmente ter sumido. Franco, até parece que tem
outra casa, fico me perguntando que roupas ele está usando, que
cama ele está dormindo, o que ele tem feito durante as noites que
ele ficava comigo em casa?
Ele sente a minha falta?
Porque ele está fazendo isso com nós. Ah, porque eu sou
uma mentirosa.
— Ele não faria isso. — Sienna afirma, mas dúvida sonda a
sua voz.
— Porque não conta que está grávida de uma vez?
— Eu quero que ele volte por mim, não que se sinta
obrigado a voltar.
— Daqui alguns dias você não conseguirá mais esconder
Ella, seu mal estar, está dando muita bandeira. — Hell diz.
— Mas ele não está aqui para ver isso. — falo deprimida.

A tarde veio, e me peguei esmorecida vendo as meninas


arrumarem as malas, o jato particular do meu pai vai partir às cinco
horas, elas vão desembarcar perto das sete e meia. Sinto vontade
de ir com elas, não quero ficar nessa casa sozinha, tem sido
solitário com as meninas aqui, que dirá quando estiver sozinha.
— Eu já estou com saudades. — digo abraçando as duas,
em frente ao SVU que irá levá-las e sentindo as lágrimas invadir
minha face.
— Me liga se precisar de alguma coisa, eu dou um jeito e
venho. — Helena diz em um sussurro.
— Não deixe ele te quebrar, vire o jogo, seu bebê precisa de
uma mãe feliz. — Sienna alisa meu abdômen sutilmente.
Assinto, tentando absorver suas palavras.
— Mandem um beijo a Donatella.
Minhas irmãs entram no carro, e o aguardo sumir na
extensão do pátio, sentido um aperto no peito, até respirar parece
que se tornou doloroso, viro e vejo Lazzaro as minhas costas, seu
semblante está suave, diria que até ele está começando achar que
Franco está indo longe demais me torturando com esse silêncio,
mas ele não diz nada, apenas me olha e caminha para dentro de
casa.
Olho ao redor, o silêncio é ensurdecedor, é tão grande e ao
mesmo tempo tão vazio e não tem como fugir.
Acendo a lareira e me deito no sofá, fico olhando o fogo por
um bom tempo, não tinha intenção de adormecer, mas acordo com
meu telefone tocando, é mensagem das meninas, avisando que já
desembarcaram e estão bem.
Levanto para tomar um copo d’água e encontro Lazzaro na
cozinha, ele está jantando um pedaço de lasanha.
— Elói acabou de partir, mas deixou sua janta no micro-
ondas.
— Não estou com fome. — respondo tomando a minha
água.
— Se você quer que ele volte logo, devia contar que está
grávida.
— Não vou usar o meu filho pra isso, Franco volta por mim
ou pode ficar onde está. — digo me retirando da cozinha.
— Ele está no Plaza. — Lazz diz de repente me pegando de
surpresa, — Tem um apartamento no residencial.
— Obrigada, Lazzaro. — digo e subo para o meu quarto,
troco a minha roupa por algo mais confortável, e quando vou
guardar meus brincos na caixinha de joias, encontro meu ultrassom.
Pego a pequena imagem e me deito em minha cama, olho
para o ultra com atenção tentando localizar o bebê, sorrio, isso é a
minha cara, não consigo achar um ponto preto em uma foto, o que
será desse bebê?
Depois de um momento o encontro, e minha mão desliza até
o meu ventre, está durinho e um pouco proeminente como se eu
tivesse comido pra caralho.
Somos dois, Franco é um. Quem está perdendo é ele.
Viro-me para o lado e adormeço.

Assim que acordo, guardo o ultrassom, tomo as vitaminas


que a médica me receitou e desço sentindo cheiro de bolo.
— Bom dia. — digo a todos que estão na cozinha e me
sento ao lado de Lazzaro.
— Dormiu bem? — o segurança pergunta, nisso sinto os
olhos de Nádia em nós dois.
— Na medida do possível. — respondo, pois acordei muitas
vezes para ir ao banheiro, me proibi de pensar em Franco e, me
peguei ponderando em nomes de bebês.
— Já está liberada para sair. — ele avisa, e parece feliz por
mim, quando olhei para Nádia, ela estava nos cuidando novamente.
— Claro, agora que minhas irmãs foram embora, Franco
resolveu me tirar do castigo. — digo indignada, e deixo a cozinha
pisando firme, a raiva borbulha dentro de mim, e sinto que vou
implodir se eu não fizer algo para aliviar.
Passo por uma estante que tem um porta-retrato nosso do
casamento.
Pego ele, a moldura é pesada, feita de ouro, meus dedos
deslizam pela face do Franco, e tenho vontade de arrancar sua
cabeça, por me tratar feito uma prisioneira, não como sua esposa.
Meus olhos se enchem d’água, e eu não aguento mais essa
sensação esmagadora, essas lágrimas incessantes e essa maldita
situação.
Olho para a foto mais uma vez, e o arremesso contra as
janelas de vidro. O som do vidro se partindo é quase libertador, e
me dá um certo alívio.
— Fiorella, o que está fazendo? — Lazzaro está atrás de
mim, olho para ele por cima do ombro e pego um vaso que parece
bem caro.
— Sobrevivendo, Lazzaro. — respondo e jogo o vaso longe
acertando a frente do piano, cacos de vidro voam para todos os
lados.
— Você vai se machucar.
— E quem se importa. — digo, pegando umas pedras pretas
bem pesadas que servem para enfeite, só pode, que coisa inútil,
penso e jogo uma contra a mesa de vidro e a outra a lareira.
Quebrando ambas.
— O que está havendo? — Nádia aparece ao lado do
segurança e preocupação brilha em sua face.
— Nada, só estou aliviando minha raiva já que Franco não
está aqui para eu descontar nele. — digo pegando outro vaso e
tirando as plantas falsas de dentro.
— Cuide suas palavras Fiorella. — Lazz adverte.
— Eu jogaria esse vaso na cabeça do seu chefe se ele
entrasse aqui agora. — aviso com um olhar severo e jogo o vaso
contra outra janela, me sentindo satisfeita. Respiro fundo, e me viro
para Nádia.
— Eu aceito um chá e um pedaço de bolo quando estiver
pronto. — aviso.
A mulher assente. Ando até o piano ignorando a bagunça
que acabei de fazer e me sento em frente.
— Pensei que fosse ficar feliz com a notícia, não quebrar a
casa inteira.
— Você não conhece mesmo as mulheres. — digo enojada.
— Você sabe que vou ter que relatar isso a ele, né?
— Faça o seu trabalho Lazzaro, eu não ligo e acho pouco
provável que Franco se importe. — dou de ombros, se Franco fosse
me causar algum mal teria feito há uma semana.
O segurança deixa a sala pisando firme quando começo a
tocar Swan Lake, Tchaikovsky.
Relaxo ao som da melodia sentindo meu coração
desacelerar aos poucos. Meus olhos se mantêm no piano embora
eu já saiba onde fica cada tecla, contudo evito olhar a algazarra à
minha volta, pensando que talvez eu tenha passado dos limites, não
que eu esteja me sentindo culpada, mas alguém terá que limpar
essa bagunça.
Fico tocando piano até quando Elói sinaliza que o bolo está
pronto e me junto a ela na cozinha, enquanto Nádia organiza a sala.
— Você toca muito bem. — a cozinheira diz me entregando
um pedaço de bolo com cobertura de chocolate e uma xícara de chá
de maçã.
— Toco desde os seis anos. — Acho que é a única coisa
que eu faço bem e eu nem gosto tanto.
Como em silêncio, enquanto vejo Lazzaro atrás da parede
de vidro, do lado de fora, falando ao telefone. Dedo duro, penso
bebericando o meu chá.
Lazzaro adentra a casa, carrancudo, mas o ignoro e subo
para o meu quarto em seguida, penso em pôr uma TV no quarto. Já
que eu passo a maior parte do tempo aqui em cima.
Agora que posso sair de casa, tudo que eu menos quero é
fazer isso, nem os treinos, eu estou com vontade de retomar. Sento-
me na beira da cama e me jogo para trás, o bolo volta com força
parando a minha garganta, só tenho tempo de correr para o
banheiro e vomitar. Cacete.
Me lavo e me deito na cama em seguida, fico apenas
observando o vento chacoalhar as árvores do lado de fora, sem
ânimo pra nada.
Espreguiço-me no sofá, acho que acabei pegando no sono
enquanto assistia Midnight Mass. Já escureceu, mas não deve
passar das seis horas da tarde. Ando até a cozinha, que está vazia,
Lazzaro deve estar fumando do lado de fora. Depois que eu surtei
na semana passada, quebrando alguns móveis, ele tem se mantido
reservado. Se foi ordem do meu marido narcisista, ou ele apenas
não aprovou o meu comportamento e está me dando um gelo, eu
não tenho ideia.
No dia seguinte quando acordei a sala estava organizada,
como se eu não tivesse surtado no dia anterior, os vidros e os
móveis foram substituídos por outros e Franco não me deu
nenhuma advertência, como eu previa.
Analiso o que tem dentro da geladeira mesmo sem vontade
de comer, não tive uma alimentação decente desde que vi Franco
cortar os dedos de James, aquilo e toda a nossa situação deu um
nó em meu estômago de uma forma irremediável.
Fecho a geladeira sem pegar nada, subo para o meu quarto,
acabo escolhendo um robe qualquer e jogo em cima da cama, e
entro no box para um banho.
Já estamos na primeira semana de fevereiro, e no fim deste
mês faz dez anos que a Bratva invadiu a mansão. Sempre levei
flores para minha mãe e meus irmãos, Rocco e Louisa, contudo
agora eu duvido que Franco me deixe viajar até Chicago só para
isso.
A vontade de fugir nos últimos dias voltou com força. Estou
começando a aceitar que Franco não voltará para essa casa, penso
também em meu bebê, ele teria uma chance de uma vida melhor e
normal longe das garras da máfia. Pois se for menina padecerá nas
mãos do marido assim como eu, sem ter escolhas, apenas vivendo
de migalhas.
Limpo os pensamentos, prometi a Sienna que tentaria me
manter alegre pelo bem do bebê, só que é difícil sorrir, e fazer de
conta, quando tudo está desmoronando à minha volta.
Escoro-me na parede sentindo uma forte tontura, era só o
que me faltava desmaiar no box. Desligo o chuveiro e fico contida
no lugar, ainda sentindo-me girar mesmo de olhos fechados.
Respiro fundo, e os abro depois de um tempo, fico aliviada
que passou, pego a toalha do puxador e deixo o banheiro com
passos largos, me enrolando nela, quando chego à frente da
penteadeira, meus olhos enxergam apenas um borrão no reflexo do
espelho, tudo gira, e na hora meus dedos tocam na escora da
cadeira, minha visão escurece e me sinto cair completamente sem
forças.
— Fiorella. — Ouço, abro os olhos com dificuldade, e me
sinto desorientada.
— Franco? — balbucio deslizando a mão para o contorno da
sua face, e meu polegar traceja o contorno do seu lábio
delicadamente. Minha visão desembaça devagar e enxergo Ettore
ajoelhado ao meu lado.
Ah cacete, eu devo estar delirando.
— Fiorella, — o homem chama novamente, ele segura meu
rosto com ternura, me obrigando a encará-lo, — Eu vou tirá-la do
chão. — avisa, e sinto sua mão passar por baixa das minhas coxas
nuas, e a outra me segurar perto dos seios.
Oh céus, eu desmaiei na saída do banho.
Olho para o meu corpo, e vejo que a toalha me cobre, mas
não foi do jeito que me enrolei.
Ettore me solta na cama e puxa o edredom sobre meu
corpo, seus olhos me encaram com atenção.
— Você está grávida, não é? — diz sentado na beira do
colchão.
— E você comeu a minha melhor amiga. — ele espreme os
lábios, pensativo.
— Não vou dizer nada ao Franco, isso não me diz respeito.
— Te digo o mesmo. — falo e nisso vejo Lazzaro na porta.
— Que merda está acontecendo aqui?
Ettore se coloca de pé, assumindo uma postura séria,
aposto que ninguém gostaria de estar na posição dele nesse
momento, comprometedora.
— Subi quando ouvi um barulho, — o Consigliere aponta
para a cadeira ao chão, — E encontrei Fiorella desmaiada.
— Esse não é o seu dever. — o segurança adverte. —
Devia ter me chamado.
— Se fumasse menos teria notado. — Ettore avisa.
— Chega! — digo quando vejo o Lazz abrir os lábios,
provavelmente para retrucar. — O que veio fazer em minha casa?
— quero saber.
— Franco pediu que eu pegasse alguns papéis no escritório.
Eu já vou. — avisa e deixa o quarto com passos largos.
— Me diga que está vestida pelo menos? — comprimo os
lábios, fazendo-o mexer a cabeça em negação. — Sabe que preciso
contar a ele.
— Por favor, não. — imploro, sentindo os olhos encherem
d’água. — Ettore não dirá nada.
— Coisas ruins acontecem quando mente, pensei que tinha
aprendido.
— Não me crucifique, Lazz. — digo, amparando as malditas
lágrimas.
— Comece a comer, Fiorella, você está definhando e pegue
um pouco de sol também. — diz juntando a cadeira e saindo do
quarto em seguida.
Desço da cama com cuidado, vendo se estou com as
pernas firmes, paro em frente ao espelho nua, e analiso meu corpo:
estou magra, mas nada fora do comum, a minha clavícula está mais
visível, e minha face um pouco menor, mas o meu abdômen tem um
minúsculo volume, acredito que só eu consiga notar.
Aliso a mão no meu pequeno pacotinho, e solto um suspiro,
vamos ter que dar um jeito de ficar bem.

Enquanto tomo um chá de frutas vermelhas e como um


pedaço de torta de maçã, troco mensagens com as meninas,
fizemos um grupo, assim fica mais fácil para mim, não preciso
explicar a mesma coisa duas vezes.
Dona e meu pai já descobriram que estou grávida, pela
fatura do cartão, mas prometeram não contar nada a Franco. Ambos
não sabem da nossa briga, acreditam que eu esteja esperando para
fazer uma puta surpresa.
Solto o telefone na mesa quando Lazzaro entra na cozinha.
— Quer um chá, Lazz? — questiono, com um sorriso, mas
ele morre quando enxergo Franco às suas costas.
A torta de maçã sobe tão depressa, que sou forçada a
descer da banqueta e deixar a cozinha com passos largos, em
busca do banheiro mais próximo.
Meu corpo treme, expulsando todo o conteúdo, fazia um
tempo que já não vomitava. Lavo-me na pia, e fico escorada contra
a porta do banheiro sem saber o que fazer. Franco sumiu por quase
três semanas, minha vontade é de socar a cara dele, e ao mesmo
tempo abraçá-lo, mas isso deve ser só o meu cérebro emotivo
falando alto.
Tomo coragem e deixo o banheiro, subo para o meu quarto
sem olhar em direção à cozinha e quando adentro o cômodo o diabo
está em minha frente, afrouxando o nó da gravata.
Aqueles olhos azuis me fitam quase que incisivamente, e de
repente me sinto sem saber como agir na sua presença. Franco
está com a barba por fazer e sua expressão não é tão diferente da
minha.
— Minha mãe está lá embaixo, — diz e percebo que ele
também não está confortável com minha presença. — Vista algo
confortável, ela a levará para uma caminhada, Lazzaro disse que
você não saiu de dentro de casa nas últimas semanas.
Chupo o lábio inferior desacreditada, que ele mal acabou de
chegar e está me dando ordens para sair, e pior de tudo, está
agindo como se não tivesse ficado fora por dias.
Não o respondo, pois um nó se formou em minha garganta
tão forte e apertado, que com certeza entraria em lágrimas se
tentasse dizer algo, apenas assinto mecanicamente e ando até o
closet.
Coloco uma legging preta, uma jaqueta bordô corta vento,
por cima de uma básica e um tênis para corrida. Deixo o closet, e
Franco está sentado na extremidade da cama com o terno
desabotoado.
— Fiorella. — ouço, paro diante da porta e me viro para
Franco, ergo as sobrancelhas em uma pergunta silenciosa, — Nada.
— sussurra depois de um momento, mexendo a cabeça juntamente.
Desço para o andar inferior, odiando ter que sair de casa
com Carlota que me encherá de perguntas sobre o teste de
gravidez.
Chego à cozinha e minha sogra está com uma roupa
parecida com a minha. Ele deve estar na casa dos quarenta anos, e
ainda com três filhos é uma mulher incrivelmente bonita.
— Fiorella. — saúda com simpatia e um sorriso.
— Bom vê-la, Carlota. — digo lhe dando um abraço.
— Não tive tempo de programar uma rota, mas faremos a
que sempre faço todas as manhãs. — diz pegando uma garrafa
d’água verde escuro que combina com sua roupa.
Deixamos a casa em seguida, o sol da tarde está acolhedor,
mas o chão está aterrado por neve. Lazzaro e outro segurança nos
seguem de longe.
— Então, o que ele aprontou? — Carlota pergunta assim
que atravessamos os portões.
Pigarreio sem saber o que responder, fazendo-a rir.
— Para meu filho ter vindo até mim, pois não consegue
fazer a própria esposa sair de casa, deve ter sido algo bem
estúpido.
— Bem, ele me fez sair, eu estou aqui. — comento com um
sorriso.
— Porque ele sabe que não diria não para mim. Olha, os
homens são complicados, e longe de mim querer defender Franco,
pois o que quer que tenha acontecido, eu tenho certeza que ele
deve ter exagerado, mas o conheço quando está arrependido.
— Só que ele é cabeça dura demais para admitir ou voltar
atrás. — deduzo.
— Homens de Honra não voltam atrás, e não pedem
perdão, isso feriria o ego deles. E isso é algo que eu gostaria de ter
aprendido assim que me casei com Riccardo, teria esperado menos.
— E o que você fazia?
— Para puni-lo? — ela sorri quando assinto.
— Nada. Negar sexo, só o fazia buscar prazer em outro
lugar, eu torrava os cartões de credito dele, e quando Riccardo
percebia que tinha agido feito um cretino ele me comprava
presentes. Essa era a forma dele se desculpar.
— Franco pediu para você me convencer? — ela sorri,
mexendo a cabeça em negação.
— Essa é a minha história, mas sei que ele tem sentimentos
por você, Fiore. Ele só não demonstra por que foi ensinado que
amor é um sinal de fraqueza.
— O seu casamento teve amor?
— Eu tentei que tivesse nos primeiros anos, mas depois
desisti, Riccardo amava o poder. Amava tanto que matou o meu
primeiro noivo, Massimo Fiore, o primogênito.
— Ele matou o próprio irmão? — pergunto chocada, a
segurando pelo braço.
— Matou e se tornou o Capo dei Capi da Cosa Nostra. —
Meu queixo cai, Riccardo parece ser um homem tão...
honestamente não tenho palavras para descrever, mas matar o
próprio irmão é desumano.
— Você não teve medo de se casar com ele? — ela ri.
— Massimo, já era velho e viúvo, ele me dava medo. E já
tinha um filho, o Domenico, por isso Riccardo o criou.
Meu queixo cai novamente tão forte que ouço minha sogra
gargalhar.
— Franco disse que Riccardo tem uma confiança muito
grande em Dom.
— Sim ele tem. Franco sentia muito ciúmes de Dom quando
era pequeno, mesmo nós tendo os criado como irmãos. Eu demorei
um ano para engravidar, e Dom já estava com três anos. Riccardo e
ele eram inseparáveis.
— Isso não será um problema futuramente? — pergunto,
pois Dom é filho do primogênito, ele tem direito ao trono, não?
— Domenico foi criado na rédea curta, ele sabe os limites
embora tenha se excedido com você, mas não será estúpido de ir
contra Franco.
— Você acredita nisso?
— Preciso, é ele quem está tomando conta de Riccardo
nesse momento. — ela ri.
Caminho tentando digerir tudo o que ela me contou, deve ter
tanta coisa que eu não sei sobre a família de Franco. Pergunto-me
em qual extremo Franco chegaria para conseguir se manter no
poder.
— Franco ficará bem. — ela garante, alisando minhas
costas.
— Como consegue sobreviver a isso, sabe, a não ter
escolhas?
— Eu fui criada para saber ceder, você foi criada por um
Capo e Capos não cedem.
— Então a culpa é do meu pai. — digo sorrindo.
— É sim! A culpa é sempre dos homens. — ela zomba.
Quando percebo estamos quase em frente a minha casa
novamente, e tudo o que eu menos desejo agora é entrar.
Espairecer me fez bem, conversar com ela me deu um pouco de
ânimo, era o que eu precisava, pois as últimas semanas foram pra
lá de estressantes.
— Eu não queria ser inconveniente Fiorella... — diz e pausa,
meu estômago se contorce, já imaginando o resto da sua pergunta.
— Positivo. — afirmo, para que ela não precise falar.
— Ai meu Deus! — ela me abraça apertado, — Franco já
sabe? — ela se afasta olhando em volta, como se tivesse dado
bandeira esse abraço de repente.
Mexo a cabeça em negação.
— Eu ainda não tive chances de dizer. — respondo.
— Conte e seus problemas acabam. — ela sorri, olhando
para minha barriga, percebo que suas mãos estão agitadas, para
me tocar. — Não acredito que já sou avó, sou tão jovem. — fala
emotiva.
— Eu também. — expresso sem pensar, e a vejo comprimir
os lábios.
— Eu sei querida, mas você terá alguém para amar de
verdade, e ele te amará de volta incondicionalmente, depois eles
crescem e se tornam um porre, — ela ri, — Pelo menos assim você
terá algum sentido para viver. — diz e paramos em frente aos
portões.
— Até que faz sentido. — respondo.
— Me avise quando contar, Riccardo ficará feliz em saber
que terá um neto.
— Eu aviso. Você quer entrar?
— Melhor não, — ela está com um sorrisão, — vou acabar
lhe dedurando sem querer. — acrescenta e se despede com um
beijo.
Subo com Lazzaro ao meu lado. Ele está com uma
expressão suave.
— Você se preocupa comigo, me fez sair de casa. —
expressa em tom de reprovação.
— Óbvio que me preocupo, você morre, ele me mata. —
Lazz escarnece, fazendo-me rir alto.
— Obrigada, foi bom ter caminhado, mesmo aqui do lado de
fora.
— Digo o mesmo, mas foi Franco quem a fez sair. —
responde quando alcançamos a entrada da porta.
— Você não vem? — sussurra e vejo um sorrisinho surgir
em seus lábios.
— Vê se não quebra nada. — sussurra quando abro a porta.
Passo pela cozinha com um frio na barriga, e está vazia,
tomo um copo d’água e subo para o quarto, também está vazio. Não
entendo o motivo, mas sinto alívio. Eu quero Franco em casa, mas
não sei se estou preparada para conversar com ele, e ignorar as
semanas que ele ficou longe para me punir.
Tomo um banho demorado, e me preparo mentalmente para
qualquer situação que possa vir a seguir. Sentindo-me faminta,
deixo o banho e adentro o closet, a toalha escorrega para os meus
pés, nisso sinto uma presença nas minhas costas, me viro e Franco
está no quarto parado diante da porta. Sinto meu coração bater na
cabeça, mas o ignoro e tento agir naturalmente. Pego qualquer
calcinha e a visto, não preciso me virar para saber que ele continua
me olhando. Coloco um conjunto flanela, ele tem cor de creme e
corações cinza, meio infantil, mas é muito confortável.
— Quer alguma coisa? — pergunto ao me virar e vê-lo
parado como uma coluna no meio do quarto. Seu maxilar fica
cerrado, e quando ele vai me responder o seu telefone toca.
Solto meus cabelos que estavam presos, e deixo Franco
falando ao telefone. Desço com o estômago embrulhado, mas sinto
que preciso comer, pelo bebê.
Belisco um prato pronto que Elói deixou para mim no micro-
ondas, e empurro para dentro tomando um copo d’água. E quando
escuto passos descerem as escadas afasto o prato para longe, me
sentindo empanturrada, parece que voltei à estaca zero.
Franco não entra na cozinha, ele deve ter ido para o
escritório, me pergunto o que o fez voltar? Suspiro, taí uma coisa
que só vou saber falando com ele e isso parece estar longe de
acontecer.
Como está muito cedo para dormir, me sento em frente ao
piano e folheio o caderno de notas musicais, quase na última
página, encontro a canção que era a favorita da minha mãe,
Comptine d'un autre été, Yann Tiersen. Ela tocava quase sempre
depois do jantar, mas depois da morte dela eu nunca mais consegui
nem ouvi-la sem ficar em lágrimas.
Escoro o caderno contra o piano e deixo na página da
canção.
Vai lá e se torture idiota, ouço em minha cabeça, mas ignoro
e começo a tocá-la, antigamente ela me trazia sensação de paz,
agora só um aperto no peito. Eu me considero tão forte, mas apenas
uma música consegue me fazer chorar. É ridículo, o bebê está
acabando com meu autocontrole.
Canção idiota! Penso mexendo a cabeça, sentindo as
lágrimas pingar no teclado, passo a língua pelo contorno dos lábios,
ergo meu olhar para ver a próxima nota e encontro meu marido
novamente feito uma coluna parado no canto da sala me olhando.
Desço o olhar para o teclado, tentando fazer de conta que
sua presença não me abala. Não entendo o que Franco quer de
mim, ele ficará me sondando até quando? Porque não diz logo o
que quer ou me deixa em paz?
A música chega ao fim, e escuto um arranhar de garganta,
nossos olhos se fixam, por um longo momento, reparo que ele está
com a barba feita e sua aparência está razoável perto de quando ele
chegou.
— Por que está chorando? — percebo que ele se esforça
para falar.
Quer que eu te faça uma lista? Escarneço mentalmente.
— Lembranças. — digo indiferente, pegando o caderno
outra vez, meus olhos encaram os nomes e as notas, mas meu
cérebro não absorve nada.
Franco está tentando conversar, e ao mesmo tempo
ignorando o fato que me abandou nessa porra de casa por quase
três semanas.
— Fiorella. — sua voz é firme.
— Porque você voltou, Franco? — as palavras correm para
fora da minha boca, e fico até grata, pois não aguento mais isso.
— Você não me queria de volta? — indaga, e não responde
a porra da minha pergunta.
— Na primeira semana sim, mas você me abandonou aqui
por tanto tempo que agora eu não sei mais. — respondo com
honestidade, passou tempo demais, se Franco se importasse ele
nem teria feito o que fez.
— Eu não a abandonei a casa é sua. — cerro o maxilar,
sentindo-me frustrada.
— Diga o que quiser, pois é a sua palavra que vale. — dou
de ombros.
— Quer que eu vá embora, então? — pergunta,
naturalmente quando me coloco em pé. Reflito por um segundo, e
se Franco quer ficar ou ir, não será a minha opinião que mudará
isso,
— Faça o que quiser. — exclamo, e subo as escadas ao
lado para o segundo andar, ele não me impede apenas me olha
sumir para o segundo piso.
Franco precisa reconhecer que errou, não estou esperando
um pedido de desculpas, eu menti, mas não justifica o que ele fez,
eu mereço mais que isso. Quem sabe ele esteja esperando que eu
seja como as outras esposas, apenas estoure o limite do cartão
como punição, e o receba de pernas abertas sem questionar.
Já estou deitada há um longo tempo desejando adormecer
de uma vez, quando a porta é aberta suavemente. Fico estática, no
canto da cama, com medo até de respirar. Ouço um farfalhar e
imagino que seja ele tirando suas roupas, um segundo depois a
cama afunda, e ele rola para perto de mim.
Seu calor corporal aquece as minhas costas, rápido demais
que sinto necessidade de me afastar, mas fico paralisada. Isso é
patético, eu estou na minha cama ele quem é o intruso, ele é quem
devia estar na saia justa.
— Sei que está acordada. — expõe suavemente, e seus
dedos tocam as costas do meu antebraço perto do cotovelo.
Solto o ar lentamente, e relaxo o corpo, pois não há para
onde fugir.
— Senti sua falta, o maldito do tempo inteiro. Foi por isso
que voltei. — admite e seus dedos se fecham em torno do meu
braço me forçando a virar para ele.
— E ficou todo esse maldito tempo fora, apenas para me
punir. — afirmo, puxando meu braço dos seus dedos. — Sou a sua
esposa, e você me trata como um de seus homens.
Na fraca luz que entra pelas janelas, o vejo mexer a cabeça
em negação.
— Você mentiu para mim, duas vezes. Eu teria te matado se
fosse um dos meus homens.
— Então eu devo ficar grata?
Ele expira lentamente.
— Não podia deixá-la impune e ao mesmo tempo não sabia
o que fazer com você.
— Já pensou em conversar?
— O medo costuma dar mais certo.
— Eu não tenho medo de você, Franco.
— E é por esse motivo que não sei como lidar com você,
Fiorella. Você faz e diz coisas que eu não admitiria se fosse
qualquer outra pessoa. Então quando eu falo que estou perdendo a
paciência é porque eu não quero machucá-la.
— Será sempre assim? — prendo o ar em meus pulmões,
tensa, ansiando por sua resposta.
— Acredito que não vamos ter mais mentiras, então não. —
responde e percebo que ele relaxa ao meu lado.
Viro-me de volta, com os pensamentos embaralhados.
Estou maluca ou ele acabou de me dizer que não lamenta, e ainda
faria de novo se fosse necessário?
Limpo minha mente, deslizando a mão pelo ventre, melhor
não me ater a esses pensamentos hoje. Franco quer ficar porque
sente minha falta, quem sabe eu devo considerar isso uma vitória,
por ora, eu tenho mais a ganhar com ele ao meu lado, do que com
ele contra mim.
— Me odiará por muito tempo? — pergunta.
— Eu não sei, Franco. — sussurro, e sinto um pequeno
alívio dele ter perguntando.
Franco, invés de me arrastar até ele como antigamente, se
aproxima, e desliza a mão até a minha que repousa em meu
abdômen. Seus dedos se engatam por cima dos meus e se mantêm
estáticos.
Ele pega no sono primeiro, enquanto, eu, fico remoendo
tudo o que aconteceu nas últimas semanas, meu cérebro parece
incansável, e fica me torturando, me lembrando de como foi horrível
ficar sem tê-lo por perto, e agora que ele está aqui... talvez seja
coisa da minha cabeça, mas parece que ele conseguiu o que queria
muito rápido... fazendo-me sentir idiota e fraca por ceder tão
depressa.
— Você não devia estar comprando um vestido para hoje à
noite? — Lazzaro pergunta, enquanto arremesso uma faca em um
boneco improvisado, pintado por mim em um quadro de madeira.
Lazz comentou que o boneco lembra um pouco de Franco.
Eu disse que não vi semelhança alguma além de ser bem dotado
com o cabelo preto e olhos azuis.
— Eu tenho uma caralhada de vestido, algum deve servir
pra essa festa idiota.
— Talvez refinar o vocabulário seja uma boa ideia. — me
viro quando ouço a voz de Franco.
— O que faz aqui? — pergunto sem pensar, nisso vejo
Lazzaro deixar a academia em silêncio.
Hoje faz três dias desde que Franco voltou, ele tem ficado
mais tempo em casa, e tem sido bem atencioso, a ponto de eu
acreditar que ele fez alguma merda ou quer alguma coisa, estou
indecisa, pois ainda não transamos no máximo nos beijamos por um
longo tempo, sinto que isso está o enlouquecendo, não posso negar
é divertido vê-lo sofrer.
— É assim que recebe seu marido? — diz em tom de
reprovação, mas sua expressão soa divertida.
— O que faz aqui, querido? — pergunto em um tom
exagerado de doçura.
Fraco mexe a cabeça e seus olhos param no boneco que eu
estava arremessando as facas.
— Você que fez? — ele se aproxima do quadro
pressionando os lábios, o boneco está com facas cravadas na
cabeça, no coração e nas bolas.
— Sim, você gostou? — rio. — Lazzaro disse que eu tenho
uma ótima pontaria.
— Para quem tem as bolas tão grandes, acho difícil errar.
— Mas o coração é pequeno se você olhar bem. — digo
com desdém.
— É assim que eu sou pra você? — pergunta parando ao
lado do boneco, fazendo-me apertar os lábios para não rir diante
das semelhanças.
— Talvez eu tenha exagerado nas bolas. — respondo
fazendo-o cerrar o maxilar, Franco da um passo na minha direção
com um olhar de reprovação e dou outra atrás, e seus longos dedos
agarram meu pulso, me puxando para perto de si.
— Quem sabe eu te mostro outra coisa dotada.
— Agora é você quem está se superestimando. — zombo.
— E é mentira? — pergunta segurando em minha coluna.
— Como eu posso saber Franco? — rio, — Não tenho com
o que comparar.
— É justo, mas eu não minto. — declara fazendo-me virar
os olhos.
Franco me segura pelo rosto, e seu polegar desliza por
meus lábios.
— Quando vai me tirar do castigo? — pergunta e uma mão
desce para minha coluna e me puxa para perto de si, sinto sua
ereção no meu quadril. — O meu pau não devia estar assim, com
um diálogo sobre bolas. — rio da expressão dele, Franco aprendeu
o meu olhar pedinchão.
— Ok. Se você acertar uma faca onde eu escolher, suas
bolas voltaram ao tamanho normal hoje à noite.
— Onde? — pergunta pegando uma de suas facas no
paletó.
Pressiono os lábios, indecisa, não sei quanto Franco é bom
em arremesso, mas adoraria que ele errasse.
Caminho até o quadro e acrescento um pênis minúsculo no
meu boneco e Franco faz cara feia instantaneamente me tirando um
riso.
— Dê dez passos atrás e acerte o piu-piu. — digo me
afastando do desenho.
Meu marido obedece e anda com passos largos, ele se vira
de repente e arremessa a faca sem avisar, corro para ver onde ele
acertou. Viro-me para Franco, cabisbaixa, e ele me encara com um
sorriso convencido.
— Eu acertaria de olhos fechados se me pedisse. — cretino!
Cerro o maxilar, desacreditada, ele atingiu a cabeça do pauzinho.
— Revanche? — pergunto, e seus olhos brilham em
maldade.
— Posso escolher o que eu ganho? — quer saber,
arrancando a faca do desenho.
— Depende o que quer? — ele sorri, quando cruzo os
braços.
— Ah Fiorella eu quero algo bem específico. — coro
sabendo o que é, e isso eu não dou nem que ele me acorrente.
— O trem nem partiu e você quer entrar pela janela. —
advirto.
— Não é pela janela que eu quero entrar, Fiore. — faço cara
feia e cruzo os braços.
— Guarde a faca, a brincadeira acabou. — Franco dá uma
risada gostosa.

Voltamos para casa e minha vontade é de me jogar na


cama, e dormir pelas próximas dez horas, porém o jantar
beneficente da esposa do Senador Crowley é em poucas horas e
preciso me arrumar.
Franco mencionou que era sua mãe quem participava
desses eventos com Riccardo. Foi um aviso do que me espera
daqui para frente. Às vezes acredito que Franco já tomou o lugar do
seu pai há meses, pois duvido que Riccardo esteja em condições de
tomar alguma decisão, e quanto mais debilitado ele está, mais
próximo Franco fica de assumir o cargo diante de toda a Famiglia.
Tomo um banho e quando adentro o quarto meu telefone
está vibrando na cômoda, é mensagem no grupo das meninas. Me
sento na extremidade do colchão para ler.
Mensagem Sienna: Já contou, Ella? Estou ansiosa para
espalhar que serei titia.
Mensagem Helena: Já oficializaram as pazes?
Mensagem Sienna: Sério Hell, que é com isso que está
preocupada?
Reviro os olhos e bloqueio a tela quando vejo Franco parado
na entrada do quarto. Ele veste um terno com corte inglês
inteiramente preto.
— Porque nunca usa outra cor? — pergunto o analisando,
quando adentra o quarto.
— O preto esconde sangue com facilidade e nunca sai de
moda. — ele sorri.
— Quando ficou longe nas últimas semanas, o que você
estava vestindo?
— Eu mantive minhas coisas no apartamento, para
emergência.
— Então nada do que tem nessa casa é seu?
Ele mexe a cabeça em negação.
— É só um apartamento, Fiorella. — diz, ao notar minha
expressão de decepção.
— Não. — digo mexendo a cabeça juntamente, — É a sua
válvula de escape, por isso demorou tanto para voltar. É a vida que
você teve que abandonar quando nos casamos, mas você a
mantém.
— É só um apartamento. — repete.
— O apartamento onde você tinha uma vida com a
Verônica. — expresso, magoada, ativando os hormônios de grávida,
e começando a chorar ridiculamente, como um bebê.
— O que você quer que eu faça, Fiorella?
— Tem algo dela lá? — pergunto, vendo sua expressão se
tornar ilegível.
Franco se agacha em minha frente, e segura em meus
joelhos gentilmente.
— Não. — diz, e pela primeira vez desde que o conheci não
consigo acreditar nele. — Fiore, não chore. — seu dedo escorre
para minha bochecha úmida e a limpa. — Eu posso vendê-lo se isso
a faz feliz.
— Não. — falo chocada, — Eu não quero que se livre das
suas coisas Franco, só não quero que use o passado para se
manter afastado de mim.
— Não vou usar. — afirma e seus dedos correm para minha
cintura, Franco sobe centímetros e me beija. Seguro em sua face e
desfruto dos seus beijos, até quando meus lábios começam a arder
pelo atrito em sua barba, então me afasto.
— Preciso me arrumar. — ele suspira e assente, se
afastando.
Paro em frente ao espelho, e passo um batom vermelho
escuro, nunca fui boa em maquiagem, Sienna ou Dona que me
arrumavam para os eventos, então fiz o básico, rímel, delineador e
batom.
— Você não vai vestida assim. — ouço as minhas costas,
me viro ajeitando a minha franja.
— Vai começar a controlar minhas roupas também? —
pergunto com as mãos na cintura.
— Isso nem dá pra chamar de roupa, é calcinha e sutiã com
um pano transparente por cima.
— É um vestido, Prada. — ele faz cara feia.
Viro-me para o espelho novamente, o vestido é meio
extravagante, mas digno de uma Met Gala. A parte de baixo se
parece com uma calcinha classic briefs, e cobre todo o meu
bumbum, não entendo o que Franco está reclamando, na parte de
cima um top com o decote de coração, ambos pretos. E por último o
que dá o charme, é o tule ilusion preto, de mangas compridas e
longo que se amontoa aos meus pés, com muitos brilhantes.
— Não quero que os outros cobicem o que é meu. — minha
expressão de desgosto combina com a dele agora.
— Eu não troco. — finco o pé no chão e cruzo os braços.
— Se eu tiver que arrancar os olhos de alguém hoje, não
diga que eu não te avisei.
— Desde que não seja os meus. — aviso, pegando minha
bolsa de mão na penteadeira.
Descemos, e percebo que talvez Franco esteja certo quando
adentrei a cozinha e Lazzaro mal me olhou, e saiu rápido.
— Viu? O deixou constrangido, com sua nudez. — dou um
olhar violento ao meu marido e saio para o pátio.
O frio me faz estremecer do lado de fora, e vejo um sorriso
nos lábios de Franco.
— Ainda dá tempo de trocar.
— Não. — sibilo em tom de censura deslizando para dentro
da BMW. Gemo com o calor do interior do carro.
— Teimosa. — diz ao deslizar para o meu lado.
— Possessivo, controlador, narcisista. — despejo em cima
dele com um sorriso e Franco me olha carrancudo.
— Só cuido do que é meu.
— Possessivo. — Cantarolo, mexendo em uma mexa do
meu cabelo.
— Eu escutei. — sibila, eu sorrio.

Franco segue o fluxo de carros de luxo para dentro de uma


propriedade, tão extensa quanto a nossa. Ele para o carro próximo a
mansão inteiramente banca de dois ou mais andares.
Minha porta é aberta a seguir, e um homem estende a mão
para mim, desço do carro com sua ajuda e o agradeço gentilmente.
Quando me viro Franco está dando as chaves do carro para
Lazzaro estacionar.
— Você não parece muito animado. — comento, sentindo
sua mão deslizar pela minha coluna e me puxa para perto de si, seu
olhar se suaviza quando encontra o meu.
— Só estou mantendo as aparências. — ele beija minha
têmpora, pegando-me de surpresa. Caminhamos ao meio de um
vasto jardim, com várias lâmpadas de chão que iluminam o caminho
para a entrada da mansão.
Olhando os casais à nossa volta, quase me sinto uma
pessoa normal, desfrutando de um evento com o meu esposo,
aposto que todos pensam o mesmo. Olho para Franco, sua beleza
surreal máscara o monstro que ele é de verdade.
— Precisamos ficar até o fim?
— Haverá uma exposição de quadros, e depois um leilão.
Vamos embora a seguir. Eu tenho planos pra você hoje à noite. —
diz com malicia, na hora que chegamos à entrada de uma porta-
duplas.
— O que vão leiloar?
— É surpresa. — ele cerra o maxilar, acredito que Franco
não goste muito de surpresas. — Fique por perto, Lazzaro se
manterá afastado para não chamar atenção, então hoje eu serei sua
sombra. — informa me guiando para dentro de uma sala muito
grande e iluminada, com a exposição de quadros em vários
corredores.
— Vamos comprar algum quadro? — questiono, sentindo a
mão de Franco abandonar minhas costas.
— O que você quiser. — diz e me guia para dentro da sala.
— Franco! — escuto vindo de trás. Nos viramos.
— Senador Crowley. — ele saúda o homem, de cabelos
grisalhos, na casa dos cinquenta, e uma mulher um pouco mais
jovem que o Senador, usando um vestido verde de chiffon.
— Bom vê-los novamente. — ela diz alegre estendendo a
mão para Franco, que apenas aperta com um gesto simples, e
então a mulher se aproxima para me dar um beijo.
— Obrigada pelo convite. — soo extremamente simpática.
— Aproveitem o evento. — ela expressa e nos deixa indo
receber os próximos convidados, nisso um garçom entra em minha
linha de visão, carregando uma bandeja com algumas taças de
champanhe.
Franco pega uma quando o homem para em nossa frente.
— Tome Fiore, aproveite. — ele sinaliza para eu pegar a
taça.
— Não, eu prefiro comer algo antes. — minto, pensando que
agora eu não tenho mais desculpa para não contar sobre o bebê.
Franco assente dispensando o homem.
Quando chegar em casa não vou esperar pelo momento
certo, já escondi tempo demais, Franco me encherá de perguntas,
que não estou nem um pouco a fim de responder, mas dizer a
verdade com certeza será melhor.
— Não gostou de nenhum? — pergunta, e nem percebi que
já estávamos olhando os quadros. Do lado que estamos são todos
abstratos e coloridos demais.
Mexo a cabeça mecanicamente, e o guio para outro
corredor e encontro um quadro preto e branco, com a estátua da
liberdade pintada de vermelho.
— Gostei desse. — informo em frente a ele, — Ah, e vou
levar um para a sua mãe. — digo e começo a escolher outro quadro
para Carlota. Ela foi muito legal comigo e manteve meu segredo.
Escolho um quadro com flores Peônias abstrato em tons de
azul.
— Ela vai gostar. — comenta, dando o número de referência
ao jovem da recepção.
Franco segura em minha mão e me guia para o fundo da
sala, tem outra porta-duplas abertas com um homem de cada lado,
seguranças possivelmente, atravessamos a passagem adentrando o
salão de festas. Ele é oval com luz quente, e muitas mesas
redondas e cadeiras organizadas diante de um pequeno estrado,
bem enfeitado com tecido vermelho escuro e um pezinho para
microfone. Escuto uma música suave, mas é abafada por muitas
vozes.
— Quantas pessoas estão presentes? — Franco franze os
lábios.
— Trezentas, talvez mais.
— Uau. Isso é quase o nosso casamento. — faço assim que
encontramos nossa mesa, com Fiore gravado em uma plaquinha
branca.
— Porque estamos a sós, e as outras mesas com mais de
quatro pessoas? — questiono ao meu sentar.
— Eu comprei os lugares, não quero ninguém perturbando
nossa noite com conversa fiada. — rio mexendo a cabeça em
negação.
Franco senta ao meu lado e seu braço corre para trás das
minhas costas, por cima da escora da cadeira.
— Ainda devo um jantar a você, não esqueci.
Não tenho certeza se ainda quero aquele jantar. Não
conversamos a respeito de James, e não tenho coragem de entrar
no assunto, pensar já me embrulha o estômago, e remexer no que
passou não mudará o que aconteceu.
— No que está pensando? — Franco pergunta baixinho e
preocupado.
— Esse mês é o aniversário da morte da minha família. Eu
costumava levar flores pela manhã. — comento na expectativa de
irmos.
— Você quer ir, não é?
Assinto.
— Eu não tenho como deixar Nova Iorque agora, mas talvez
Ettore possa acompanhá-la. — sorrio feliz com a possibilidade de ir.
Janine, esposa do Senador, sobe no estrado, fazendo todos
que estavam em pé sair em busca de seus lugares. Ela aguarda
com um sorriso genuíno e a seguir agradece toda a sua equipe de
apoio, e os convidados que adquiriram mais de quatro milhões em
quadros. Não fico nem um pouco surpresa, os meus custaram mais
de duzentos mil.
Ela desce do estrado e seu marido toma o seu lugar.
— Serei breve prometo, — ele sorri, — Quero agradecer a
presença de todos e por terem colaborado para que as crianças do
Hospital Lower Manhattan, consigam o tratamento para leucemia. —
Os convidados dão uma salva de palmas, — Peço que aproveitem o
jantar, e abram as carteiras, pois a seguir teremos o nosso leilão. —
outra salva de palmas.
O homem desce do estrado e a seguir garçons surgem
como enxame por todos os lados, servindo o prato de entrada.
— O que aconteceria se o governo se recusasse a colaborar
com a Famiglia? — pergunto depois que o garçom solta um prato
com Carpaccio em nossa frente e duas taças de espumante.
— Depende do caso, Fiore, extorsão é um dos métodos. Se
for algo mais complicado, greve.
— Greve? — franzo o cenho.
— A máfia controla o sindicato, se o governo não cede, o
sindicato faz greve, os trabalhadores param, tudo para. Nada entra
e nada sai do país.
— Uau, eles parecem marionetes. — digo perplexa.
O prato principal chega a seguir, e peço ao garçom que me
traga um copo d’água. Franco segue conversando sobre os
negócios da Famiglia, ele não disse muita coisa abertamente, mas
citou: lavagem de dinheiro, casa de jogos e tráfico de drogas, nós
paramos quando o garçom trouxe os pratos de sobremesa:
Tiramisú, eu comi a de Franco também, pois estava gostosa
demais.
Escoro-me contra o ombro de Franco vendo Janine subir no
estrado. E vamos ao leilão, estou curiosa para saber o que irão
leiloar e percebo que meu marido também, pois seus olhos analisam
a mulher com atenção.
— Espero que tenham aproveitado o jantar, do nosso ilustre
chefe Auguste Ramsey. — ela sinaliza um senhor de idade com um
chapéu na cabeça e todos dão uma salva de palmas ao chefe. —
Garanto que estão todos ansiosos para descobrir o que será
leiloado. — diz em tom de mistério, eu sorrio, mas Franco está com
uma expressão impassível.
— Se anime, talvez seja divertido. — ele contrai os lábios,
mas não sorri.
Uma jovem entrega uma espécie de lista a Janine que
continua com o mistério.
— Vamos leiloar as mulheres. — diz divertida, e o
burburinho começa com muitas risadas — Acalmem-se maridos e
companheiros, — Janine expressão com um sorriso, — Será
apenas para uma dança, e não serão todas.
— Se chamarem você não vai. — Franco sibila e encaro
decepcionada.
— É um leilão, você não me compraria? — ele me dá um
olhar que não precisa de resposta.
— Vou citar alguns nomes, e peço que a jovem escolhida
venha até mim. — a mulher prossegue assim que as pessoas se
acalmam, percebo que muitas estão animadas.
— Marisca Stiven, Brokes Wilson, Bibiana Jones... — Janine
prossegue com a lista e as meninas desfilam para frente, com
grandes sorrisos, — Fiorella Fiore, — ela comunica por fim.
Encaro Franco, e seu maxilar forte está cerrado, em um
impasse, ele sabe que eu quero ir, mas não quer me deixar, talvez
porque esse vestido seja um tanto revelador e terá olhos demais em
mim.
— Vá, Fiore. — diz sem muito ânimo, dou-lhe um sorriso
doce e fico de pé, desfilando até as outras meninas. Encontro os
olhos de Franco e relaxo diante de centenas de olhos ansiosos
esperando Janine iniciar o leilão.
Ela anda até a primeira moça e a elogia, dos pés à cabeça.
— O lance inicial para uma dança com a doce e linda
Marisca é de quinze mil dólares.
— Vinte. — ouço um rapaz gritar, a menina lhe manda um
beijo.
Vislumbro Franco e me perco imaginando como será a
reação dele quando souber da gravidez, de repente enxergo um
homem se aproximando por trás do meu marido, Franco se vira
quando percebe uma presença, os dois trocam palavras e a
expressão de ambos não é das melhores.
Deus, não dá pra ter um dia normal nessa porra de vida?
Franco se coloca de pé, seus olhos encontram os meus e
sua expressão está temerosa, ele faz um sinal sutil com a cabeça, e
sei que está avisando ao Lazzaro para tomar conta de mim, então
deixa o salão acompanhando o outro homem.
Merda! O que aconteceu para ele ter que me deixar aqui?
Me pego aflita, desejando ir atrás que nem percebo quando
chega a minha vez.
— A nossa próxima leiloada será a jovem esplendorosa
Fiorella. — expressa de repente, o lance inicial será de vinte e cinco
mil dólares.
Cacete, cadê o meu marido para me comprar agora, que
irônico não? Se ele ao menos tivesse pedido ao Lazzaro que desse
os lances, mas ele simplesmente me abandonou aqui.
— Quarenta. — Um senhor das primeiras fileiras diz, tenho
a impressão de tê-lo visto em meu casamento.
— Cinquenta. — Uma voz grossa reverbera até mim, busco
por seu dono, mas há cabeças demais atrapalhando minha visão.
— Cinquenta e cinco. — ouço de um jovem, de cabelos
loiros e sorriso malicioso.
Oh céus fique calado e mantenha seus olhos.
— Noventa mil. — a voz grossa surge novamente, e me
pego apreensiva, pensando que foi uma puta de uma má ideia ter
vindo aqui. O silêncio sobressai o ambiente e me sinto apreensiva
por não saber de quem era a voz que persistiu em me comprar.
— Noventa mil para a estonteante senhora Fiore, dou-lhe
uma... dou-lhe duas... vendida para Logan Specter.
Logan Specter?
Estou impaciente em uma fila ao lado, com as meninas,
esperando nossos compradores aparecer, para darmos início a
dança, quero muito saber quem é esse tal de Specter, mas desejo
mais que tudo saber onde está o meu marido.
Os homens que participaram do leilão se aproximam um por
um e as meninas engatam em seus braços e seguem em fila para a
pista de dança que há no meio do salão.
Meu estômago se contorce, quando o último comprador
surge em minha frente. Ele é alto e imponente, vestindo um terno
com risca de giz azul marinho, seus cabelos são loiros e os olhos
azuis celestiais.
— Fiorella. — Specter saúda e por algum motivo seu tom de
voz faz meu coração acelerar, ele estende a mão, e hesito em pegá-
la, pois um alarme soa fortemente dentro de mim, mas não entendo
o que é.
A música começa suavemente, e me forço a pegar em seus
dedos. Specter me conduz até o meio do salão, e ficamos no meio
dos outros pares.
A mão dele desliza para minha cintura, e respeitosamente
ele mantém uma distância confortável entre nós. Ergo o queixo para
encará-lo, o homem deve ter a idade de Franco, talvez mais.
— Ella. — ele emite baixo e com urgência, meu corpo
paralisa estranhando esse comportamento, mas o homem continua
se movimentando por nós dois.
— Quem é você? — seu pomo-de-adão oscila, e seus olhos
se tornam apreensivos.
— Rocco. — murmura, pavor atravessa meu rosto, e sinto
minhas pernas falharem, tento me afastar desse homem, que diz ser
meu irmão morto, mas ele me segura firme dessa vez, me contendo
no lugar. — Sei que deve ser assustador ouvir isso, mas você
precisa se acalmar, não temos muito tempo.
Meus olhos se tornaram uma profusão de lágrimas, e tudo
fica um borrão.
— Eu não sei quem é você, mas eu enterrei Rocco há dez
anos. — digo desorientada.
— Não. — sussurra, — Você será forte por mim e eu por
você, entendeu? — mexo a cabeça proibindo as lembranças de
invadir minha mente, — Carlo enterrou outro garoto, eu fugi da Outfit
na noite da invasão.
— O que você quer de mim? — choramingo e meus dedos
lutam contra os deles, pois quero me afastar e ele não permite. —
Me solte. — exijo.
— Acalme-se. — pede contido olhando em volta, mas me
sinto sufocada, enjoada, preciso de ar puro — Quero encontrá-la
fora daqui, não posso explicar agora, não há tempo. Estarei em
frente ao Washington Square, daqui dois dias, às duas da tarde.
Não conte a ninguém. — diz em meu ouvido.
Rocco se afasta e olha por cima do ombro.
— Eu preciso ir, Ella. — seus dedos soltam minha cintura e
sinto meu corpo amolecer, meu irmão desaparece no meio da
multidão, minhas pernas cedem ao peso do meu corpo e mãos
firmes me pegam no meio da pista.
— O que aconteceu? — Franco me puxa contra seu peito
com firmeza.
— Nada.
— Está mentindo. — ele sibila, olhando a minha face, e seus
olhos demonstram reprovação, Franco me leva para fora da
multidão que nos encara sem entender nada.
Saímos para uma área externa, com degraus de ambos os
lados, o ar frio entra em meus pulmões com força, e me sinto
enjoada, me afasto de Franco e vômito, segurando-me na pilastra
de concreto.
As mãos dele puxam meus cabelos para trás, e ele me
alcança um lenço. Quando me endireito Lazzaro está se
aproximando de nós.
— Me traga o homem que estava dançando com ela.
— Franco pelo amor de Deus! — grito, chamando sua
atenção. — O homem não me fez nada.
— Então porque está trêmula e vomitando? — pergunta
entredentes em um tom de voz severo.
— Porque estou grávida. — respondo enraivecida,
esperando que seja o suficiente para ele esquecer Rocco por ora.
Franco endireita sua postura ficando duro como uma rocha,
seu rosto é uma mistura de emoções, não consigo decifrar se está
surpreso, feliz ou com raiva. Seus olhos descem até meu abdômen,
talvez em dúvida.
— Oito semanas. — falo, e percebo que estou quase na
primeira semana do terceiro mês.
— Como e quando descobriu? — pergunta, fazendo sinal
para Lazz buscar o carro, e se aproxima mais relaxado, ele olha em
volta e tira o seu terno, deixando amostra um pedaço do coldre por
baixo do colete, e o coloca em minha volta.
— No dia que matou o motoqueiro, a sua mãe pediu a
Verônica que me desse um teste de gravidez. — digo esperando
que isso o afete de alguma maneira, e desço os degraus vendo a
BMW de longe se aproximando.
— Minha mãe não tinha que ter feito isso e você devia ter
me contado, foi a mais de um mês. — repreende.
— Eu ia fazer uma surpresa, mas então fui surpreendida e
você passou quase três semanas me ignorando. — expresso, e pelo
meu tom de voz, ele entendeu o quão fula estou.
— Eu teria voltado. — rebate.
— Mas não teria sido por mim! — exclamo, irritada.
A BMW para em nossa frente e Lazzaro desce, abro a porta
e deslizo para dentro batendo a porta com raiva. Franco entra e se
vira para mim, sua mão desliza para minha perna e se detém. Não o
encaro, pois estou com ódio dele, mantenho meus olhos em minhas
mãos que tremem entre minhas pernas.
— Não chore. — ele pede, e me questiono de onde ele
desenterrou esse tom de voz doce.
— Não choro porque eu quero. — respondo limpando as
lágrimas com o dorso da mão.
Franco suspira baixinho.
— Eu teria voltado por você, Fiorella. — diz e sua mão
escorrega para minha barriga, tão gentilmente e o olho pelo canto
dos olhos calada.
Não respondo, pois não sei o que dizer, só me encolho no
assento quando Franco começa a dirigir em silêncio. Já está tarde,
as ruas estão vazias, não demora dez minutos e estamos em casa.
Subo para o quarto e tomo um banho me sentido, fustigada,
quem sabe eu não achasse tudo tão dramático se não estivesse
grávida, queria que o bebê não mexesse tanto com o meu bom
senso também, já sou meio imprudente por conta própria.
Rocco surge em meus pensamentos, mexo a cabeça
tentando dispersá-lo, não posso lidar com essa realidade agora,
meu casamento está uma baderna, preciso focar em um problema
por vez, antes que enlouqueça.
Deslizo para dentro de uma camisola de seda branca e
deixo o banheiro. Franco está sentado no recamier, ele solta o
telefone ao lado quando sente minha presença as suas costas e se
vira.
— Vem cá. — ele me estende a mão, com um olhar
atencioso.
Seguro em seus dedos fortes e calejados, e Franco me puxa
para o meio das suas pernas. Suas mãos seguram minha cintura, e
seus olhos buscam os meus.
— Por que me deixou no leilão? — quero saber e meu
marido solta o ar lentamente.
— Estava sendo investigado...
— Por quem? — fico perplexa.
— Eu devia ter arrancado à língua do James. — exala
baixinho, — Ele prestou queixa, depois retirou a queixa.
— Por vontade própria?
— Amo sua inocência, Fiore. — Faço cara feia, — Enfim, a
polícia ignorou o ocorrido, mas por algum motivo ontem, um detetive
local, pediu que eu o acompanhasse para fora da festa e me fez
algumas perguntas sobre o filho do governador.
— Devemos nos preocupar?
— Não, isso já está resolvido, deve ser algum policial
querendo dar o ar da graça.
Uma pulga atrás da orelha me diz que essa visita
inesperada do policial tem algo a ver com Rocco, ou seria uma puta
coincidência, bem na hora que Franco deixa o salão, é a minha vez
de ser leiloada. Rocco não teria chances de conversar comigo,
Franco nunca permitiria que outro homem me comprasse.
Céus isso vai reter meus pensamentos.
— Fiorella. — chama, me tirando do devaneio. — Você está
bem com a gravidez? — pergunta e uma das suas mãos desliza
para a fenda da camisola, cobrindo meu ventre. Sua mão me
apalpa, e seus olhos me encaram com satisfação.
— Eu não queria no começo. — admito. — Acho que por
isso não contei antes, mas depois que o vi no ultrassom, e ouvi o
som de um pequeno coração, sabia que iria ficar bem.
— Você fez um ultrassom? — ele franze os olhos, e me
arrependo de ter mencionado.
— Eu não quero mais brigar. — aviso cansada, e quando
tento me afastar ele me segura.
— Tudo bem, eu também não quero.
— Helena não estava com dor, à consulta era para mim. —
explico rapidamente, — Você quer ver o ultra?
— Claro. — Franco está relaxado, e parece
verdadeiramente feliz com o bebê.
Caminho mais tranquila até o closet, e apanho a imagem na
caixinha de joias. Volto para o quarto, e me sento em suas pernas,
entregando para ele.
Encaro sua face com os lábios pressionados enquanto
Franco procura nosso filho em uma imagem toda escura.
— Fiore... — ele me olha depois de momento, com um riso
sem graça.
— Lado esquerdo, na parte mais clara, tem um pequeno
ponto preto. — explico acariciando os cabelos da sua nuca, e
deposito um beijo em sua orelha.
— É tão pequeno. — balbucia.
— Tinha o tamanho de uma semente de maçã. — rio da
expressão dele. — Agora deve estar do tamanho de uma
framboesa, e segundo Sienna, já estão aparecendo às perninhas,
os bracinhos, até a íris do olho. Sim, ela está muito animada. —
adiciono.
— Seu pai devia casá-la.
— Talvez. Ouvi um boato que Riccardo está pensando em
casar Ettore com a sua irmã, é verdade?
— Riccardo o acha ideal para Edwina, é solteiro, confiável e
já a conhece.
— E você?
— Eu não a casaria com ninguém, mas essa decisão não
cabe a mim ainda.
— Vai ter um casamento? — pergunto, pensando em
Helena, será que ela tem sentimentos pelo Consigliere?
— Será decidido em breve, e não comente com Ettore,
tenho medo que ele fuja. — Franco ri.
Se ele não quer que eu comente, é porque já sabe a
decisão de Riccardo, pobre Ettore.
Pulo do seu colo e guardo a ultra de volta no closet,
aproveita e pego minhas vitaminas.
— Estamos a sós? — pergunto indo para a porta do quarto.
Ele assente, ficando em pé e tirando o coldre e a camisa,
desço para a cozinha, acendo a luz e, tomo as vitaminas que havia
esquecido mais cedo. Quando me viro, Franco está nas minhas
costas, me dando um cagaço.
— Puta merda, quer me matar do coração? — pergunto
levando a mão ao peito.
— Estamos a sós, mas o pátio está cercado por seguranças
e as janelas são de vidro. — olho através da ampla janela e vejo
dois seguranças ao longo do pátio de costas para a casa.
— Eles nem olham para mim, é como se eu fosse invisível.
— Porque eu avisei que arrancaria seus olhos e os faria
engolir se te olhassem.
— Você não fez isso. — assobio, chocada para não dizer
outra coisa, quando haverá um limite para a possessividade dele?
Franco morde o lábio inferior, segurando em minha cintura,
ele nos gira e me coloca sentada em cima da bancada com um
gesto simples.
— Você é minha. — afirma se enfiando entre as minhas
pernas. — E quanto mais olhos eu puder afastar de você, eu vou.
Franco segura na extremidade da minha camisola e a puxa,
passando pela minha cabeça deixando-me nua da cintura para
cima.
— Você não teme que eles me vejam assim? — quero
saber.
Franco se aproxima do meu pescoço com um sorriso
perverso, ele desliza meus longos cabelos para trás do ombro, e
deposita um beijo ali.
— Não ligo, pois estarei dentro de você.
— Isso é tão errado. — sussurro, excitada não é possível.
Inclino-me para trás, e Franco faz uma trilha de beijos até meus
seios.
— Uau, Fiore, — expressa com deleite, segurando meus
seios com ambas as mãos, — Nosso filho será uma criança de
sorte. — seus lábios abocanham meu mamilo, não tive tempo de
protestar sobre sua insinuação suja, pois a sucções reverberou por
todo o meu corpo fazendo o desejo se alastrar com força total para
o meio das minhas pernas. Ele passou para o outro seio e me senti
ficar molhada no mesmo instante.
Franco agarra meus quadris e seus polegares encontrem a
renda branca da minha calcinha. Seus olhos se detêm em meu
ventre, e o vejo em dúvida.
— Tudo bem, não vai machucá-lo, só tente não me
atravessar. — debocho, e Franco me lança um olhar de que isso era
tudo que ele mais desejava.
Ergo a bunda e ele desce minha calcinha pelos tornozelos,
pendurando-a na porta de um armário ao lado, rio. Se não
lembrarmos de tirar, Elói terá um surpresa pela manhã.
Franco abre bem minhas pernas, tendo uma ótima visão do
meu sexo, me inclino para trás quando seus dedos deslizam por
minhas dobra úmidas, me tirando o ar. Ele chupa o lábio inferior com
força, e me penetra com o dedo indicador.
— Mal comecei e já está prontinha para mim. — seu tom de
voz, me faz miar em afirmação. Seu polegar toca meu clitóris
sensível e começa a massageá-lo.
Um gemido passa por meus lábios sem que eu consiga
segurá-lo. Faz tanto tempo, eu preciso de mais, muito mais.
— Sentiu minha falta, Fiore? — sua voz grave, faz meu sexo
explodir de tesão.
— Oh, céus como eu senti. — grunho, quando Franco retira
seu dedo e posiciona a palma da mão sobre meu clitóris levando
espasmos por todo o meu corpo.
— Não goze ainda. — abro os olhos, encontrando os dele,
sua postura, seu rosto e sua voz é de um Chefe, imponente e
implacável.
— Não me torture. — choramingo, tentando evitar o
inevitável, mas meu corpo já está à beira do colapso, gemo,
erguendo involuntariamente a pélvis contra sua mão desejando por
mais, e Franco para os movimentos de repente, busco por ar com
força, para insultá-lo, de grande filho da puta, mas então suas mãos
agarram meu quadril e sua língua mergulha na minha fenda
esfomeada.
— Oh céus... — me escuto gritar, sentindo as gotículas de
suor escorrer em meu pescoço.
Gemo, quando os lábios de Franco se fecham em torno do
meu clitóris, e o suga com fervor fazendo-me contorcer sobre a ilha,
e encontrar o clímax mais rápido do que desejava.
— O seu gosto, é tão gostoso quanto seu cheiro, Fiore. —
profere e beija o meu ventre.
Respiro fundo sentindo meu corpo tremer
descompassadamente e me sinto quase sem forças. Franco está
descendo suas vestimentas, admiro seu corpo rijo, e o seu pau
quando ele o libera da cueca.
Acho que nunca o vi tão duro, a cabeça brilha vermelho
intenso. Franco me desce da ilha e me vira de costas, ele guia sua
ereção para o meio das minhas pernas. A cabeça do seu pau
esfrega nos lábios do meu sexo, me atiçando, fazendo-me pulsar
fortemente.
A respiração dele se torna pesada em meu ouvido,
enquanto suas mãos apertam minha bunda.
— Eu daria tudo para te comer com toda a minha força
agora. — sussurra, e sinto seu pênis invadindo minha entrada,
grosso demais, me causando desconforto, fico tensa tarde demais,
pois Franco mete com furor, e sinto as paredes internas se alargar.
— Puta merda! — rosno.
— Cacete! Você está mais apertada ou é impressão minha?!
— geme puxando meu quadril para trás, ele desliza para fora, e se
enterra novamente.
Franco afunda seus dedos entre meus cabelos e me puxa
para trás quase dolorosamente, seus lábios grudam em meu ouvido,
— Sua boceta é ainda mais gostosa, do que me lembrava. — diz em
tom grave, que leva vibrações por todo o meu corpo.
Gemo em satisfação, e remexo meus quadris na direção de
suas estocadas. Franco mordisca o lóbulo da minha orelha e depois
o meu pescoço com força, jogo a cabeça para trás contra o peito
dele, e seus braços, envolvem-me, com firmeza, um cobrindo minha
barriga e o outro os meus seios.
Suas estocadas se tornam intensas, quase rigorosas,
Franco solta gemidos primitivos em meu ouvido. Meu corpo clama
por mais, eu quero tudo, estou gemendo sem pudor, sentindo os
braços do meu marido, me apertar com mais força, ele está
perdendo o controle, e eu estou alcançando meu clímax, que não
consigo pará-lo, o prazer é demais, vindo de todos os lados, mas o
aperto de Franco está se tornando insuportável.
— Franco... — gemo sentindo-o vibrar dentro de mim, cada
vez mais fundo, mais duro e potente, — Franco! — grito sentindo
que vou partir, ele se enterra em mim uma última vez, seu corpo
enrijece e com um rosnado feroz ele goza com força.
— Merda. — grunhe saindo dentro de mim, de repente e me
vira para ele, — Eu machuquei você. — afirma e sua face
resplandece preocupação.
— Um pouco, pensei que fosse me quebrar. — rio,
abraçando meu corpo dolorido pra cacete.
— Isso não tem graça. — adverte me analisando, e suas
mãos correm pelo meu tronco, e se detém em minha barriga.
Respiro fundo, buscando por ar.
— Estamos bem. — tento tranquilizá-lo, — Mas vamos
pegar leve da próxima vez. — respondo me sentindo desconfortável
agora pela nudez escancarada no meio da cozinha.
— Vamos subir. — Franco me puxa para seu colo, e antes
de deixarmos a cozinha eu pego a calcinha pendurada no armário
com um riso.
Nos deitamos exaustos, tomar um banho passa por meus
pensamentos brevemente, mas me nego a sair dos braços dele.
Franco acaricia o topo da minha cabeça e a outra mão
repousa em minha barriga, fazendo círculos com o polegar. Helena
estava certa, não estávamos usando proteção, Franco já devia
esperar por isso, talvez só não imaginasse que fosse acontecer tão
rápido.
Adormeço em segundos, saciada e exausta.
— Um pouco mais glitter, Lady Lou, e o príncipe, Alfred, irá
se apaixonar por você. — digo a minha boneca e a sento em uma
linda cadeira de ouro, depois deslizo a carruagem do príncipe Al,
pelos portões de um belo castelo.
Pego o príncipe na mão.
— Você vai se casar com ela, e a fará muito feliz, entendeu?
— aviso e o coloco sentado em uma cadeira ao lado de Lou.
— Você não está meio grandinha para brincar com
bonecas?
Encaro Rocco, sentada no chão da sala com vários
brinquedos de Louisa esparramados à minha volta, coloco as mãos
na cintura e faço cara feia.
— Você não é novo demais para ter uma arma? — pergunto
vendo o seu coldre com duas pistolas.
— Justo. — ele sorri. — Está tarde devia estar na cama,
Ella. — diz sentando no sofá à minha frente.
— Estou sem sono, e está todo mundo acordado: mamãe
tentando fazer Louisa dormir no fim do corredor, e papai foi buscar
Sienna na casa da prima Lilia, é uma bebezona. Ela disse que eu
não fui convidada porque sou muito chata. Você também me acha
chata?
— É a minha irmã favorita, — Rocco pisca. — Só não conte
a elas.
— Será o nosso segredo. — pisco de volta com um sorriso,
e pego o bule e a xícara de chá.
— Você gostaria de um chá príncipe Alfred? — Lady Lou
pergunta.
Ouço Rocco rir, ele se põe em pé e me deixa sozinha na
sala. Não compreendo os homens da minha família, para papai sou
nova demais para dormir fora, para Rocco grande demais para
brincar com bonecas.
O que eu devo fazer?
Bobões.
Venha Lady Lou, vamos passear pelo vale, nem um príncipe
sem graça vale o seu tempo.
Pego minha boneca, que tem longos cabelos pretos com
uma linda coroa repousando em sua cabeça e caminho pelo vale
encantado tentando cantar a música da Cinderela.

Salagadula Mexegabula Bibidi-Bobidi-Boo


Junte isso tudo e teremos então
Bibidi-Bobidi-Boo
Salagadula Mexegabula Bibidi-Bobidi-Boo
Isso é magia, acredites ou não
Bibidi-Bobidi-Boo

Quando estou quase no fim do corredor escuto o som de


algo caindo no chão, deve ser Rocco aprontando alguma coisa,
solto um bocejo, talvez esteja na hora de dormir. Vou pedir à mamãe
que me coloque na cama, ou será que já estou grandinha demais
para isso também?
Bufo tremendo os lábios, e entro na sala que mamãe está
com Louisa, e tem um homem muito feio atrás dela, ele tem uma
barba muito grande e a cabeça raspada, e o homem cobre a sua
boca com a mão.
— Mamãe, — falo paralisando na entrada da sala sem
compreender, o homem sussurra algo em seu ouvido e retira a mão
da sua boca em seguida.
— Tudo bem, querida. — minha mãe tem lágrima nos olhos.
— Venha cá. — ela me estende as mãos, e quando dou um passo à
frente uma explosão reverbera pela casa, fazendo meu coração
bater rápido.
Louisa senta no berço e começa a chorar, um tiro de repente
atravessa a cabeça da minha irmãzinha, manchando as grades do
berço de sangue. Um grito alto e animalesco passa por meus lábios
e outro tiro explode na sala atingindo a parede atrás de mim.
— Fuja, Ella! — minha mãe berra empurrando o homem
contra a parede, mas ele é grande e forte como um touro.
O homem pega mamãe e a joga no chão, ela grita para eu
fugir, e lágrimas surgem em meus olhos. Eu quero ajudá-la, mamãe
está sofrendo, mamãe está com dor, mas eu estou paralisada. O
homem mau continua a ferindo, ele acerta vários golpes na face
dela, até a mamãe parar de gritar.
O silêncio pairou sobre a sala, vi o homem sacar a sua arma
e fechei os olhos quando ele mirou na cabeça dela, o tiro fez meu
coração quebrar, em tantos pedaços, que achei que fosse morrer
nesse instante.
— Sua vez putinha. — o homem profere com um sotaque
pesado, apertei os olhos com força, desejando que fosse rápido, o
tiro reverberou e a dor em meu peito ainda era grande.
— Vamos, Ella. — Rocco diz em um tom grave, que eu
nunca o vi usar antes.
Meu irmão tenta me arrastar com força e acaba
machucando meu braço, pois estou dura, como uma pedra.
— Me deixe aqui. — peço com sufoco, vendo o homem que
matou minha mãe, caído sobre ela, dou um passo à frente, e Rocco
me puxa com firmeza.
— Nunca. Você será forte por mim e eu por você, entendeu?
— diz e me arrasta para fora da sala quando ouvimos mais
disparos, Rocco me puxa pelo pulso, e me mantém sempre as suas
costas, percebo que há sangue em sua camisa branca, perto do
pescoço e ombro.
— Você tomou um tiro? — balbucio.
— Shh. — sussurra. — Ella, há muito deles, o segundo
andar está limpo, eu quero que suba para o meu quarto e se
esconda dentro do baú do recamier. Entendeu? — Rocco me
encara esperando uma resposta.
— Entendi. — respondo e uma explosão atravessa o
corredor, Rocco cambaleia para trás, e dispara uma sequência de
tiros.
— Ratos do inferno. — pragueja, levando a uma mão ao
tórax, seu corpo cai em cima de mim, e o escuto ofegar.
— Eu não posso perder você também. Por favor, Rocco, eu
imploro não morra. — meus dedos pressionam seu sangramento.
— Suba e se esconda. — ele assobia entre os lábios.
— Eu não vou sem você. Você será forte por mim e eu por
você.
— Você é minha irmãzinha eu tenho que protegê-la, então
pare de teimar. — avisa pegando a outra arma do coldre, — Assim
destrava e assim trava. — diz mostrando com os dedos cobertos de
sangue, — Mira e atira em quem aparecer na sua frente. — ele me
estende.
Mexo a cabeça mecanicamente.
— Pague! — ordena, puxando Lady Lou da minha mão e a
jogando longe perto da escada. — Eu lamento Ella, mas terá que
amadurecer mais rápido. — ele me estende a arma travada.
— Vem comigo. — implorando vendo Rocco se tornar um
barrão por causa das lágrimas.
— Não posso me esconder. Você pode e estou te
mandando ir. — vocifera e me empurra com força para perto da
Lady Lou, pego a boneca e a coloco debaixo do braço, me levanto
do chão descendo meu vestido rosa, e subo os degraus sem
conseguir olhar para trás. E quando estou alcançando o segundo
andar escuto um tiro, que me faz paralisar e querer voltar para meu
irmão.
— Corra. — A voz de Rocco repercute até mim, e eu
obedeço perdendo até o sapato pelo caminho, e na hora que entro
em seu quarto e fecho a porta, acordo.
A luz do abajur está acesa e Franco debruçado sobre mim,
me sacudindo pelos ombros. Sento-me de repente com o peito
acelerado e uma sensação de sufocamento.
— Com o que estava sonhando?
— Nada. — respondo descendo da cama me sinto suada
em todos os cantos do corpo, e já está amanhecendo, respiro fundo,
pelo menos não terei que voltar a dormir pelas próximas horas.
— Fiorella. — Franco me chama quando estou entrando no
banheiro, o ignoro fechando a porta e me escorando nela.
Malditas lembranças. Maldito Rocco.
Entro no chuveiro, com a sensação que meu coração quer
fugir do peito e recebo o primeiro jato de água fria, que me faz
arrepiar inteira.
NÃO PENSE!
Meu cérebro adverte, quando o pesadelo ameaça entrar em
minha cabeça.
Pense em outra coisa.
Pense em outra coisa.
Pense em outra coisa.
Respiro encostando a cabeça na parede fria, a porta se
abre, não me viro, continuo olhando para os meus pés.
— Fiorella. — Franco entra no box, e suas mãos seguram
em meus braços gentilmente. — Me conte o que aconteceu.
Mexo a cabeça mecanicamente, Franco me puxa para baixo
do jato d’água, e sinto sua ereção nas minhas costas, inclino a
cabeça para trás e a água quente limpa minhas lágrimas, Franco me
gira e me encara sério.
— Estou preocupado. — diz confuso e apreensivo.
Meus olhos caem na sua ereção, e seguro em seu pau sem
pensar em mais nada, meu marido enrijece em minha mão.
— O que está fazendo? — questiona erguendo meu queixo
me forçando a encará-lo.
— Não quero conversar. — aviso, começando a tocá-lo,
Franco me para e o encaro com lágrimas nos olhos.
— Não posso fazer isso, com você assim, Fiore. — ele me
abraça, e minha testa cola em seu peito.
— O sonho teve haver com seu irmão Rocco? — me afasto
para encará-lo. — Você disse o nome dele enquanto dormia.
Assinto para Franco, pois quanto mais eu falar, mais ele vai
querer saber.
— Tudo bem, não precisa me contar. — ele diz e volto para
seus braços mais relaxa.
Ficamos assim por um longo momento, apenas me
concentrei nos batimentos cardíacos de Franco, no seu cheiro e nas
carícias em minhas costas.
Depois que saímos do banho, Franco desceu para o
escritório para fazer algumas ligações, e eu me pego deitada na
cama com os olhos bem abertos, pensando em Rocco e no que
será que ele quer comigo.
Por que ele voltou depois de todo esse tempo?
“Estarei em frente ao Parque Washington Square, daqui dois
dias, às duas da tarde.”
Quanta estupidez seria ir até lá?
Sempre que Franco e eu estamos nos entendendo parece
que o destino gira e coisas me colocam em situações controversas.
O sonho parece um chamado: NÃO! — meu cérebro berra
juntamente, isso é ridículo até para mim, tem que ser apenas uma
puta coincidência e também, talvez um gatilho.
Eu não vou!
— Fiore. — ergo a cabeça e encontro Franco diante da
porta.
— O que foi? — balbucio, desanimada, e com os
pensamentos embaralhados.
— Vamos dar uma volta. — ele comprime os lábios e me
estende a mão.
— Para onde? — pergunto sentindo meu estômago
embrulhar.
— Eu não devia ter dito à minha mãe que já sabia da
gravidez.
— Não seja cruel, — rio, pensando que talvez seja uma boa
sair e espairecer a mente, e falar do bebê — Ela está ansiosa para
contar a Riccardo, e já teríamos que ir mesmo. — aviso lembrando-
me do quadro que comprei para ela. Lazzaro teve que voltar para
buscar hoje cedo, pois saímos na corrida noite passada e deixamos
tudo para trás.
— Eu vou me arrumar. — pulo da cama.
Franco estaciona em frente à mansão dos Fiore e descemos
juntos, ele desliza uma mão para minhas costas e me guia para
dentro da casa, em silêncio. Percebi que passou boa parte da
manhã me observando, nem mesmo foi trabalhar fora.
Entramos na sala principal, e Carlota fica de pé com um
sorriso jovial, e pega de cima da mesa uma pequena caixa branca
com um laço vermelho em cima.
— Eu não resisti quando vi. — comenta me entregando a
caixa e abraça Franco. — Nem acredito que será papai. — ela dá
um tapinha na bochecha dele e a aperta em seguida fazendo-me rir.
— Controle-se. — adverte, sua mãe sorri e ignora seu senso
de humor, e apanha o quadro quando Franco lhe estende. — Foi
Fiorella que escolheu.
— É lindo demais. — expressa amável.
Sento-me em um sofá macio cor de creme e Franco se
aconchega ao meu lado. Analisando-me abrir a caixa, há um body
todo preto, estilo smoking em frente ao peito e um pouco mais
embaixo com letras divertidas, está escrito, poderoso chefinho.
— É adorável! — eu digo, e me pego emocionada, malditas
lágrimas, ergo o body e mostro para Franco, ele sorri com um olhar
de aprovação.
— Então está mesmo grávida. — Edwina afirma, na entrada
da sala, abaixo o body e suspiro vendo Verônica ao seu lado, com
os olhos vermelhos como se tivesse chorado a noite inteira.
Podia ser mais embaraçoso? — reflito e a mão de Franco
acaricia as minhas costas.
— Sim, nos dê os parabéns. — meu marido pede e soa
quase como uma exigência. Edwina adentra mais a sala, e Verônica
não se aproxima, mas sinto seus olhos me comer viva.
— Um bebê é sempre bem-vindo. — ela diz com esforço e
um sorriso que não alcança os olhos, parece desanimada, não por
nós, mas por algo a mais.
— Amanhã teremos um brunch, adoraria que viesse, as
mulheres vão enlouquecer com a notícia. — Carlota avisa quando
uma emprega se aproxima com uma bandeja trazendo um bule e
biscoitos.
Encaro Franco com um sorriso, mas pedindo socorro com
os olhos.
— Não. Já temos outro compromisso. — diz secamente, a
mão dele não insiste. Respiro aliviada.
— Vou enviar uma térmica de chá e alguns muffins para
você.
— Obrigada, tenho tomado muito chá. — falo, nisso Edwina
deixa a sala arrastando Verônica consigo.
Franco fica em pé, de repente, quero questionar aonde ele
vai, mas me mantenho calada.
— Vou conversar com meu pai. — assinto, e o vejo andar
em direção à saída que as meninas partiram. Por um segundo
imaginei Franco indo atrás dela e isso me doeu na alma.
Carlota senta ao meu lado, um pouco mais sossegada.
— E como meu sogro está?
— A situação não está nada boa, Franco terá que assumir
logo, isso significa passar por cima de Riccardo se for preciso.
— Espero que não chegue a isso. — sussurro.
A conversa caiu como pedra em meu estômago, e quando
terminei de tomar o meu chá, Franco voltou para sala com o
semblante de um velório.
— Fiorella vamos. — me chama da entrada.
Despeço-me da mãe dele rapidamente, pego o presente e o
sigo para fora da mansão com passos largos, preocupada.
— Algum problema? — pergunto quando alcançamos o lado
de fora, e vejo Ettore se aproximar de um Jaguar preto. O
Consigliere se vira para nós seu semblante está circunspecto.
— Não. — Franco assobia entre os dentes.
— Amanhã, uma hora da tarde. — o homem diz ao entrar no
carro, fazemos o mesmo.
— O que tem amanhã? — Franco não me responde e
começa a dirigir, parece com pressa. Chegamos em casa em
minutos, abro a porta do carro mas percebo que ele não, então me
viro para ele.
— Preciso ir a um lugar. — explica.
— Está me deixando preocupada. — falo com um
pressentimento ruim. Franco, relaxa sua expressão e pega na minha
mão.
— Ficaremos bem, só descansa um pouco que a noite eu
volto para jantar com você.
Assinto e desço do carro levando o presente comigo.
Adentro a grande casa, estou sozinha, e sem vontade de fazer
nada, bocejo subindo para o quarto, mas o temor de dormir e ter
outro pesadelo me faz voltar para a sala e ligar a TV. Não acredito
que estou passando por isso outra vez. Inspiro fortemente e me
aconchego no sofá.
Acordo, sobressaltada e com o coração acelerado, tive outro
sonho com Rocco. Sabia que agora ele dominaria meu consciente.
Suspiro.
Levanto-me e noto que já anoiteceu, e Franco pelo jeito
ainda não chegou, subo para quarto, e me deito na cama com o
telefone na mão, penso em enviar uma mensagem no grupo das
meninas, mas seria idiotice envolver Sienna nisso.
Pensando agora no que meu irmão disse na festa, o nosso
pai enterrou outro garoto no seu lugar, então ele sabe que Rocco
está vivo, e pior ainda, é um desertor. E papai não fez nada todos
esses anos?
Ligo para Helena, talvez ela me dê um conselho útil, pois
estou começando a cogitar ir nesse encontro, nem que eu tenha que
fugir de Lazzaro.
— Hell. — digo receosa.
— Esse tom de voz me preocupa. — sorrio, minha amiga
me conhece mesmo.
— Tem alguém perto de você?
— Não. — responde depois de um momento, — O que você
aprontou? — quero rir, mas preciso manter o foco antes que eu
perca a coragem. Detalho a minha amiga, a respeito da festa do
senador Crowley, desejando que ela não me ache insana, pois se
alguém viesse até mim e dissesse: Seu irmão está vivo. Eu
mandaria se foder.
— O que eu faço? Eu sinto que devo ir, mas toda a decisão
que eu tomo, tem acarretado consequências no meu casamento.
Ouço um suspirar.
— Se fosse você lá, eu iria sem pensar duas vezes Ella, e
se, o seu medo é Franco, conte para ele na volta. — sorrio.
— Como se ele não fosse arrancar de mim. — respondo.
— É o risco.
Oh céus.
— Pensa com calma e depois me avisa.
Concordo encerrando a ligação. Penso em fazer os prós e
contra, mas a minha decisão já foi tomada antes mesmo de ligar
para Hell, acho que eu só precisava de um incentivo. Os prós eu só
saberei quando ouvir o que Rocco quer de mim e contra, perder a
confiança do meu marido para sempre, pensar nisso me faz doer o
estômago.
A noite se estendeu, já passou da meia noite e Franco ainda
não chegou, jantei sozinha, e subi para o quarto, entediada. Estou
deitada alisando meu ventre que tem ficado cada vez mais durinho,
e me pego desejando que os meses passem logo, assim terei
companhia nessa casa imensa.
Acordo e vejo que o lado da cama está intacto. Escovo-me e
desço vestindo um roupão, por cima da camisola, quando chego lá
embaixo, o vejo atirado no sofá com uma garrafa de uísque aberta
na mesa de centro.
Dou a volta no sofá e me sento na pontinha dele, afundo
meu dedo indicador na bochecha de Franco, ele nem reage. Uau
podia matá-lo e ele nem perceberia. Rio, nisso seus olhos se abrem,
desalentos.
— Puta merda, que hora são? — pergunta sentando, com o
cabelo todo desgrenhado e ainda assim, maravilhoso.
— Já passou das 10 horas. — respondo, e só não começo a
ficar preocupada por ele ainda estar em casa, pois Franco tem
compromisso à uma hora.
Ele fica em pé, e tonteia quase caindo de volta no lugar.
— Parece que a noite foi agitada. — comento esperando
alguma reação dele.
— Estava caçando alguns ratos. — diz subindo para o
quarto com pressa.
— Pegou alguém? — ele me dá um sorriso como resposta.
— Por que não manda um de seus homens?
— Porque eu gosto da caçada. — responde e desaparece
no andar superior.
Mexo a cabeça em negação, sem ter o que argumentar e
quando entro na cozinha, Nádia está soltando na ilha uma térmica
de chá e os muffins em uma cestinha bonitinha. Dizem que a sogra
é o próprio Satanás, mas parece que eu dei sorte.
Pego uma xícara e me sento em frente a eles, com o
estômago roncando.
— Nádia quer um pouco de chá? — ofereço me servindo.
— Não, senhora, obrigada. — diz indo em direção à
dispensa.
Tomo duas xícaras de chá de hortelã, e quando estou no
terceiro delicioso muffin de chocolate, sou puxada para trás de
repente e beijada no pescoço.
Olho por cima do ombro, o meu marido está com os cabelos
molhados, e usando um terno impecável.
— Já vai sair para caçar? — pergunto, quando ele me rouba
um muffin da cesta.
— Não, é uma reunião com os subchefes.
— A respeito do seu pai?
— Não posso discutir isso com você, Fiore.
— Isso me parece um sim. — falo servindo mais chá e
recebendo um olhar de reprovação dele.
— Se comporte. — ele beija o topo da minha cabeça, até
parece que sabe que vou fazer merda.
— Minhas roupas estão começando a ficar apertadas, tudo
bem se eu sair? — pergunto, torcendo para que não implique e ao
mesmo tempo não me deixe sair de casa.
— Compre o que precisar. — Ele desliza a mão pela minha
barriga e me sinto mal por usar o bebê, pois ainda não preciso de
roupas maiores, talvez sutiãs.
Franco parte para sua reunião, e eu subo para o quarto,
com o coração batendo na cabeça. Tomo um banho ligeiro,
ignorando completamente a falta de juízo.
Deve ser quase meio dia, e ainda nem sei como despistar
Lazzaro, céus só espero que Franco não desconte nele a sua raiva
por mim, pois é a segunda vez que fugirei sob os cuidados dele.
Entro no closet, coloco um vestido lã batida, cor creme,
justinho que modela minhas curvas, por cima dele uma cinta da cor
camurça, do mesmo tom da bota de cano longo e o pesado
sobretudo para suportar o frio de fevereiro.
Estou modelando as pontas do cabelo quando vejo pela
janela um SVU preto estacionar no pátio. A ansiedade misturada
com desespero domina o meu corpo. Desço para o primeiro andar
pedindo a Deus que não seja Carlota. Quando chego ao hall aperto
o passo não acreditando em quem estou vendo do outro lado da
porta de vidro.
— O que você faz aqui?
— Pensei que fosse precisar de uma ajudinha. — Helena diz
em meu ouvido quando eu a abraço com força.
— Como você veio?
— Avião, voo comercial. — reviro os olhos puxando minha
amiga para dentro, estou em cólicas, literalmente.
— E meu pai? — quero saber.
— Ele não faz ideia, eu comprei com um dinheiro que eu
estava guardando da mesada há um tempo.
— Oh, Hell. Você não devia ter vindo, eu não quero metê-la
em confusão.
— O meu sobrenome é confusão. — zomba e dá uma
piscadinha.
Minha amiga, veste uma calça de couro preto, coturnos e
sobretudo, branco e peluciado, está maravilhosa como sempre.
— Já sabe como se livrar de Lazzaro? — pergunta baixinho,
e pegando um muffin quando nos sentamos à ilha.
Sirvo à última xícara de chá, sentindo uma agitação em meu
âmago.
— Não, eu ia improvisar. — Helena ri, mexendo a cabeça.
— Ainda bem que eu vim, eu tenho um plano. — diz e soa
enigmática, me inclino na sua direção, e minha amiga sussurra
detalhadamente o seu plano para a minha fuga.
Quando nos sentamos na Starbucks, comecei a me sentir
enjoada apenas em olhar para o meu mocaccino, mas sei que é
apenas a ansiedade tomando conta, mais o organismo de grávida.
— Você está legal? — Hell pergunta sentando em uma
mesinha para dois, e Lazzaro próximo à porta, nos dando
privacidade.
— Estou tremendo e um pouco enjoada.
— É nervosismo. — concordo, olhando as horas em meu
relógio de pulso, deixei o telefone em casa, pois tenho certeza que
há um rastreador nele.
Falta menos de meia hora para me encontrar com Rocco, eu
tenho tantas perguntas para fazer que temo não dar tempo de voltar
em menos de 15 minutos.
— Distraia a minha mente. — peço.
— Tem visto ele? — balbucia e sei a quem se refere.
— Bem pouco, e sempre de passagem. — ela assente,
enrugando os lábios. — Gosta dele, Hell?
— Eu não sei. — balbucia, — Como ele foi o meu primeiro
beijo e minha primeira transa, eu penso um pouco nele. — ela
admite e encolhe os ombros.
Seguro em sua mão e a puxa para o meio da mesa.
— Franco não disse com todas as palavras, mas Ettore
parece o ideal para se casar com a piranha da Edwina.
— É melhor assim. Ettore não tem sentimentos por mim, só
que ele faz umas coisas muito loucas com a língua e... — minha
amiga para de falar com um riso. — Vou sentir falta daquilo.
— Você ainda tem o Lazz. — Helena sorri olhando para
Lazzaro acompanho o seu olhar e o meu segurança, me olha de
volta, dou-lhe uma piscadela, e sou ignorada.
Tenho certeza que Lazzaro avisou Franco assim que Helena
bateu na minha porta, mas não recebi nenhuma ligação dele, deve
estar em reunião ainda, e espero que demore um pouco mais.
— Está na hora. — avisa, apertando minha mão. — Ande
devagar. Depois de cinco minutos eu vou, e farei de tudo para
mantê-lo longe, até você voltar. — diz fazendo meu coração
disparar.
— Devia vir comigo e pegar o voo para Chicago, é o mais
sensato. — ela sorri.
— Não, Lazzaro vai perceber em cinco minutos que você
sumiu e terá cães a farejando por todos os cantos de Nova Iorque.
— Está certa. — digo ficando em pé, sentindo cólicas, e um
puta nervosismo, o meu coração parece um cavalo galopando no
peito.
— Vou ao banheiro. — aviso em alto e bom tom, Lazzaro
cuida os meus passos, e sinto que até respirar me faz sentir
suspeita.
Atravesso o local e depois uma porta de madeira branca,
entrando no banheiro feminino, e bem como Helena falou, as
janelas são no estilo guilhotina e não são tão altas.
Não sorrio ainda, pois esse é o menor dos meus obstáculos,
o maior é voltar antes que Lazzaro perceba que eu fugi pela janela
da Starbucks.
Penduro-me na janela e passo o copo para o lado de fora
sem dificuldades. Pulo para o chão e minhas pernas tremem quando
acerto o concreto, meu joelho reclama de dor, malditas botas de
salto. No instante que me viro para a rua do parque Washington
Square, tem algumas pessoas paradas me observando.
Oh merda!
Atravesso a rua na direção delas com passos largos,
ignorando-os, e vejo estudantes universitários por todos os lados.
Rocco me disse que estaria aqui, mas não me disse onde
exatamente, pois a praça é enorme.
Começo a caminhar sem direção, me enfiando entre as
pessoas, para me camuflar, agora que eu definitivamente fugi, tenho
como obrigação descobrir o que Rocco quer, para ter o que contar
ao Franco.
Ah ele vai comer o meu rim.
Ando para perto da fonte, e paro embaixo de uma
construção proeminente, acho que ela se chama Arco de
Washington. Escoro-me contra a pilastra e assim pelo menos tenho
visão para os dois lados.
Cadê você Rocco? Cadê você!
Olho meu relógio de pulso, e são quase duas e quatro, se
chegar ao cinco e ele não tiver me encontrado, volto para a
Starbucks, e enterro essa loucura.
O ponteiro se torna lento, me pergunto se o relógio resolveu
parar de funcionar agora, ou é coisa da minha cabeça. Respiro
fundo, tudo o que eu menos desejo é desmaiar no meio do parque.
Ergo o olhar e tem um homem de terno escuro vindo em minha
direção, mas não é o meu irmão.
Está na hora de voltar Ella, meu cérebro avisa, viro-me na
direção oposta a do homem e dou de cara com Rocco, ele veste
uma roupa casual e boné preto do Knicks. Sua aparência é uma
lástima, parece que passou a noite em claro, fugindo do diabo.
— Precisamos ir. — diz pegando em meu pulso e me
puxando.
— Calminha aí, — sibilo, — Eu não disse que iria para lugar
algum com você.
— Estamos expostos demais aqui, tem uma van do outro
lado da rua. — fala e sinaliza com o indicador, de fato há uma van
preta estacionada em frente há um parquinho.
— Você tem cinco minutos. — aviso, deixando que ele me
conduza pelo braço em direção ao veículo.
— Cadê o seu segurança? — pergunta olhando a minha
volta.
— Tomando café na Starbucks. — respondo e soa irônico,
olho na direção da cafeteria e meu estômago, se contrai fortemente.
Senhor, que Lazzaro ainda não tenha notado. Helena há
esta altura deve estar fingindo que estamos conversando no
banheiro, mas é difícil saber quanto tempo o segurança vai aguentar
esperar até pôr a porta ao chão.
— Então como eu devo chamá-lo, Rocco ou Sr. Specter? —
pergunto quando nos aproximamos da van.
— Pode me chamar de Logan.
— Acho que eu prefiro Rocco. — assobio entre os dentes, o
vendo arrastar a porta da van para o lado. Dando vista para o
interior, e tem uma mulher loira do lado de dentro, ela está sentada
diante de um notebook.
— Entre. — ele pede.
Olho para meu irmão por cima do ombro. Quero questionar
que merda está acontecendo, mas sei que só me dirá depois que eu
entrar. Olho as horas, são duas e sete.
Entro na van, Rocco faz o mesmo e fecha a porta em
seguida, as janelas têm os vidros fumês, e a única claridade que
temos é uma pequena luz quente sobre nós e da tela do notebook,
da mulher que continua me olhando.
Rocco apresenta a mulher brevemente como Denise Vence.
— Fale. — exijo.
— Você está tão diferente. — ele balbucia me olhando e
tocando o meu joelho.
— Dez anos que você me abandonou Rocco, eu não tenho
tempo para isso agora. — ele enrijece, e assente.
Os olhos do meu irmão se direcionam para a mulher, ela
entrega o computador para ele, e ajeita os olhos de grau na face.
— Sou um agente da narcóticos, — diz simplesmente, e
seus olhos seguem mexendo no computador.
— Você está de palhaçada com minha cara? — empurro a
tela do computador para baixo, chamando sua atenção.
Rocco puxa da cintura um distintivo e me entrega, comprimo
os lábios, sem saber o que pensar, além do óbvio, ele quer me usar.
Depois de todos esses anos, ele só me procurou pra me usar.
— Eu estava há meses rastreando uma embarcação em
Bogotá. — explica e nesse exato momento recordo-me da virada do
ano, e começo a compreender porque Franco, não pode contar
certas para mim, — Uma tonelada de cocaína chegou na virada do
ano. A equipe devia seguir para onde ela ia depois de desembarcar
aqui em Nova Iorque, mas tivemos complicações.
— E o que eu tenho haver com isso? — pergunto fingindo
desentendimento.
— Quero sua ajuda para capturar Franco Fiore, e encontrar
o depósito onde ele escondeu as drogas. — Rocco expõe, roubando
o ar dos meus pulmões.
— Você faz ideia em qual situação está me colocando? —
pergunto perplexa e ficando em pé, mas Rocco me puxa de volta
para o lugar.
— Ella... — diz e soa suplicante.
— Não. — faço entredentes, — Você volta depois de anos e
me pede algo sem pé e nem cabeça, estou arriscando o meu
casamento para vir falar com você, e, você é igual ao papai, só quer
me usar.
— Casamento? — pergunta frustrado, — Carlo deu você em
troca de paz. — A indignação está tomando o meu corpo, que treme
quase descontroladamente.
Rocco respira fundo e solta o computador ao lado, ele tira o
boné e me olha com atenção.
— Eu não tenho o direito de julgar sua vida Ella, pois você
não tem voz e nem escolha, mas se nos ajudar você estará...
— Morta, — interrompo-o, a sua manipulação — E você
sabe disso, a Famiglia fará picadinho de mim.
— Eu cuido de você.
— Temos proteção à testemunha, você mudaria de nome,
de país, e poderia viver em liberdade. — a mulher acrescenta de
uma forma positiva.
Olho para Rocco, com lágrimas nos olhos.
— Cuida? — rio, — Você me abandonou em uma casa
cheia de gente morta. Eu só tinha nove anos, Rocco, se você se
importasse mesmo, teria dado um jeito de me levar com você.
— Acha que eu não me arrependo? — ele explode, e seus
ombros ficam rígidos. — Com quinze anos eu já tinha matado mais
de cinquenta homens. Eu não escolhi aquela vida, Fiorella, e
precisava sair dela de qualquer jeito.
— Faça o bem, mas não me envolva, pois já é tarde demais
para mim.
— Você não sabe o que diz, pois não vê a metade das
coisas que seu marido faz. — Rocco pega o computador e o gira
para mim.
Há uma tela aberta em uma galeria, ele abre uma das fotos,
e aparece um corpo sem os membros, Rocco arrasta para o lado e
mais corpos vão aparecendo, alguns empilhados, outros picotados.
Meu estômago embrulha com força, misturado com cólicas e
enjoo.
— Homens brutalmente assassinados.
— Homens bons? — questiono.
— Isso não importa, ninguém devia morrer dessa forma,
você não enxerga?
— Eu não ligo, Rocco. — respondo, e vejo choque em seu
rosto.
— Não é possível isso não incomodá-la, o que ele fez com
você?
— Já pensou que pode ter sido o seu pai? Chefe da Outfit,
você devia fazer uma visita a ele. — digo em um tom pesado de
agressividade.
— Não posso me envolver com a Outfit.
Rio, e olho as horas no relógio, já são duas e vinte e cinco.
Caralho! Lazzaro já deve ter percebido que não estou no banheiro,
espero que Helena tenha fugido.
— Logan. — a mulher o chama lhe entregando um envelope
pardo.
— Eu preciso ir, Rocco. — aviso, vendo-o abrir o envelope e
tirar algumas fotos escuras de dentro.
Meu irmão estende para mim e diz:
— É por esse homem que você deseja condenar a sua
vida?
Olho a primeira foto, gravada nela há uma imagem de
Franco e Verônica se beijando, respiro fundo e ignoro os dois, a foto
foi tirada no residencial Plaza, pois no canto da imagem aparece um
pedaço prédio.
Passo para a foto seguinte e os dois estão transando, assim
como o restante das outras fotos. Sinto-me mortificada por dentro,
mas por fora estou congelada, sem demonstrar emoção alguma.
— Sério, você vai usar isso? — pergunto pressionando os
lábios, — Franco tinha um relacionamento com ela antes de nos
casarmos. — explico me sentindo ridícula e depreciada.
Rocco ajeita sua postura, ele e sua colega trocam olhares e,
em seguida Denise lhe entrega uma câmera, tamanho médio.
— Foi há uma semana. — meu irmão vira a câmera para
mim e mostra na tela a imagem dos dois conversando no
apartamento, com a data embaixo ao lado. Foi um pouco antes de
Franco voltar para a mansão, enquanto eu sofria, ele comia a
Verônica. Rocco passa para outra foto, e os dois estão se beijando,
afasto a câmera me sentindo muito enjoada, levo a mão a boca, e
quando vou vomitar meu irmão me estende uma pequena lixeira.
Inferno! — limpo a boca com um lenço que Denise me
alcança e quando me recomponho, pergunto:
— Quantas vezes, ela foi vê-lo?
— Muitas vezes. — Denise responde.
Caio em silêncio, sentindo o coração partir dentro de mim.
Não quero acreditar que ele fez isso com a gente, mas as fotos...
elas são verdadeiras. E o meu casamento é uma mentira, e eu fui
estúpida por me deixar acreditar que ele poderia me amar algum
dia.
— Fiorella. — Rocco aperta meu joelho.
— Me deixe pensar. — peço amparando a face com as
mãos, sentindo os pensamentos confusos.
Franco estava com raiva, mas nem de longe isso justifica ter
me traído e com Verônica ainda, ele sabe como me sinto em relação
àquela mulher, e mesmo assim passou por cima de tudo.
Queria ser menos corajosa, e mais submissa, mas
felizmente não fui criada para ceder e nem me curvar.
— Do que precisa? — pergunto, perturbada, confusa e com
muita raiva de Franco.
Quero que ele sofra, e quero que ele saiba que a dor dele é
por minha causa. Eu nunca o trairia, ou o delataria, nem que me
enfiassem uma arma na cabeça. O amor é doente e nos faz fazer
coisas doentias, mas também há um limite, e Franco ultrapassou o
dele.
— Primeiro da localização das drogas, — recordo-me da
placa que passamos para ir ao depósito, Long Island. — Assim que
conseguir e tiramos você da casa, depois do país.
Assinto, pensando que poderíamos ir embora agora, mas
preciso enfrentá-lo. Quero ver a cara de Franco quando vir às fotos,
e quais desculpas ele usará.
— Está sentindo alguma coisa? Está pálida demais. —
Rocco coloca a mão em minha testa preocupado.
Mexo a cabeça mecanicamente, e afasto sua mão.
— Preciso levar as fotos. Franco vai querer saber porque
fugi, eu tinha em mente contar tudo que conversamos, mas os
planos mudaram. — agora direi que me encontrei com um detetive
particular, acredito que ele engolirá.
— Ele vai machucá-la? — Rocco questiona e seus olhos
mostram preocupação.
— Estou grávida, ele vai quebrar a casa inteira, mas não
tocará em mim. — minto, não tenho ideia de qual é o limite de
Franco quando se trata de mim.
— Eu lamento que isso esteja acontecendo. Mas você e o
bebê ficarão bem, e quando tudo acabar verá que os fins justificam
os meios.
— Espero que esteja certo.
Rocco anota seu telefone em um pedaço de papel e o enfio
dentro do sutiã.
— Isso que você está fazendo é muito corajoso. — Denise
diz quando Rocco abre a porta da van.
— E estúpido, porque se ele descobrir, vocês dois acabarão
em sacos pretos.
Desço da van sentindo um formigamento em minhas pernas,
acho que fiquei muito tempo sentada.
— Nós despedimos aqui. — aviso, dando um passo atrás,
Rocco me pega pelo pulso de repente e me puxa para os seus
braços.
— Você amadureceu rápido demais. — diz e me aperta com
força como se quisesse compensar dez anos em um só abraço. —
Se precisar liga, mesmo que não tenha o endereço, tiramos você
daquela casa.
— Eu entro em contato. — me despeço e atravesso a rua
carregando as fotos em baixo do braço. Volto para a Starbucks, pois
preciso de carona para ir embora e, algo me diz que tem algum
soldado de Franco me aguardando, caso retorne.
Quando chego em frente a cafeteria, um homem de terno
escuro e feições rígidas ajeita sua postura rapidamente no momento
que me enxerga, ele vem na minha direção pegando o telefone do
bolso.
— Estou com ela. — diz com seus olhos bem escuros
analisando os meus.
Entro no SVU preto e solto as fotos no banco ao lado, cogito
abrir o envelope, mas não vou me torturar com isso, pois a
sensação de derrota já é tão grande, que não sei nem como farei
para enfrentar Franco quando chegar em casa. Estou cansada, com
raiva e com cólica, aliso meu ventre e encosto a cabeça na janela
sentindo as lágrimas escorrerem pelo contorno da minha face,
enquanto o segurança me leva de volta ao inferno.
O carro estaciona em frente à mansão. Respiro
profundamente e desço com o peito subindo e descendo como se
tivesse corrido uma maratona. O meu estado piora quando vejo
Lazzaro sair de trás de uma pilastra, seu semblante é mordaz,
quase violento.
— Onde está a Helena? — quero saber, preciso saber!
— O Chefe está te esperando. — sua voz é áspera, como
nunca foi antes.
— Lazzaro, o que você fez com a minha amiga?
Ele não responde e me leva até a porta, depois a fecha as
minhas costas, me deixando pensar no que quiser.
Seja forte.
Seja forte.
Peço mentalmente, pois força é tudo que eu preciso agora
para enfrentar o diabo. Atravesso o corredor e de longe enxergo o
piano em frangalhos, quanto mais adentro o cômodo mais enxergo o
estrago da sala. Os meus saltos pisam nos cacos de vidro fazendo-
os os menores se estilhaçarem e outros saltarem longe.
Alcanço a entrada da sala, e vislumbro Franco de costas
para mim, de frente para o que deveria ser uma parede de vidro.
Meu marido está sem o paletó e veste uma camisa social branca
com o coldre por cima.
Faço a volta em uma poltrona caída no chão, e paro a uma
distância razoável dele.
Franco olha por cima do ombro, e acho que o escuto
suspirar, ele se vira, exibindo a camisa rasgada no peito e suja de
sangue, sangue dele, que escorre por pequenos cortes. A
preocupação se instala na boca do meu estômago e preciso me
lembrar que eu não devo sentir nada por esse homem, que não seja
ódio.
Seguro o seu olhar, com o queixo tão erguido quanto o dele,
seus olhos queimam de raiva, e sua expressão envia sinais de que
o mais sensato seria correr e se esconder, mas está tarde demais
para isso.
Não vou me curvar, não vou ceder, Franco perderá essa
batalha.
— Fugiu pela janela de uma cafeteria. — diz cada palavra
soando ríspida e cortante, nada que eu já não tenha escutado antes,
mas há uma energia diferente fluindo dele, algo escuro e perigoso.
Engulo a intensidade de emoções que correm pelo meu
corpo, e me ouço dizendo:
— Se eu não fosse vigiada permanentemente, não teria que
fugir. — surpreendo-me como o meu tom de voz saiu suave, e em
como isso incomodou ele.
Franco desce o olhar para minhas mãos, onde seguro o
envelope com força, para esconder minha tremedeira repentina e
uma sensação nauseante, não tenho certeza se esses sintomas são
da gravidez ou porque estou estressada em um nível elevado, pois
me sinto suada em algumas partes do corpo.
— Eu só tenho uma pergunta, — diz encurtado o espaço
entre nós, — E se mentir haverá consequência, Fiorella. — cerro o
maxilar com raiva, vendo Franco tirar do bolso da calça uma espécie
de relógio smartwatch preto.
— Faça a sua pergunta. — desafio com o olhar, como se
não tivesse nada a temer.
— Com quem você estava? — exige uma resposta com
autoridade, e o tom da sua voz é a mesma que ele usa com seus
soldados.
— Com um homem... — percebo que comecei com as
palavras erradas, no instante que sua face se torna uma máscara
impenetrável.
Franco não me dá tempo para explicar, quando percebo ele
está em cima de mim, seus dedos fortes se fecham em torno do
meu pulso segurando-me com firmeza.
— Me solte! — vocifero puxando o braço, e quando acho
que ele vai bater em minha face com a outra mão, seus dedos
deslizam o relógio em meu pulso, nesse momento acerto uma
bofetada em seu rosto, que deixam os meus dedos formigando, e na
hora que ele volta seu olhar para mim, o pânico toma conta do meu
coração.
Estou morta. É o que eu penso quando meus dedos se
fecham em torno da Beretta, Franco me empurra para trás e a arma
desliza do coldre, firme em minha mão.
— Que porra é essa que você pôs em mim? — exclamo,
com os olhos cheios de lágrimas.
Franco não responde, os seus olhos estão em minha mão
trêmula, que segura a arma, ele ousa dar um passo na minha
direção, e eu ergo a Beretta apontando para o seu peito. Franco fica
estático analisando a situação, ele está sem facas e a única arma
que ele tinha consigo, está em minha mão.
— Fiorella. — sua voz é de advertência, nem quando tem a
porra de uma arma apontada para si, consegue ser resignado.
— Cala a boca. — assobio entre os dentes e limpo as
lágrimas da face com o dorso da outra mão.
Depois de tudo o que ele me fez e ainda faz, eu
simplesmente não conseguiria tirar sua vida. Talvez eu devesse tirar
a minha por ser tão fraca.
— Abaixe a arma. — diz em tom persuasivo, e faz sinal com
as mãos para eu me acalmar.
— Eu mandei calar a porra da boca. — sibilo, sentindo o
coração bater forte na cabeça, deixando-me desorientada.
Localizo o envelope com as fotos no chão e o chuto em sua
direção.
— Pegue. — digo entredentes.
O pomo-de-adão do meu marido oscila, e ele não tem outra
escolha a não ser apanhar o envelope. Franco Fiore está
incapacitado, e isso está o deixando maluco. Quero sorrir e
perguntar como se sente não tendo escolhas, mas me contenho,
pois esta situação já está indo longe demais.
Ele tira as fotos de dentro e seus olhos caem sobre a
primeira, conflito se mostra em seu rosto, só comprovando a
verdade.
— Onde conseguiu isso? — sua voz está contida.
— Então é verdade. — falo, com a dor da traição rasgando
um buraco em meu peito.
— Quem foi o homem que te deu essas fotos, Fiorella? —
pergunta em tom baixo, sem paciência.
— Isso não importa. — grito, com a face rubra de indignação
e a fúria ondulando em meu estômago que se contrai
dolorosamente, Franco ousa dar um passo fora do lugar, miro
centímetros para o lado e atiro contra a outra parede de vidro. O
som reverbera pelo meu corpo na mesma intensidade da raiva que
estou sentindo por ele.
— Em algum momento, foi real pra você? — exijo saber, me
sentindo cada vez mais fora de mim.
— Fiorella baixe a arma. — diz em tom de aviso e seus
olhos desviam para além de mim, quando viro a cabeça centímetros
para o lado, sinto o cano de uma arma contra o meu crânio, Franco
relaxa instantaneamente e me estende a mão para lhe entregar a
Beretta.
Isso não pode acabar assim, reflito com os olhos cheios de
lágrimas e, sentindo uma pressão forte se formar em meu ventre,
levo uma mão à barriga como se fosse conter a dor, que me faz
fechar os olhos com força e soltar um gemido de dor.
— Pare de teatrinhos. — ele assobia entre os dentes.
As lágrimas escorrem quando eu abro os olhos, ergo a parte
da frente do vestido e o interior das minhas coxas está coberta por
sangue, que escorre com fluxo em direção as minhas pernas. Meus
lábios se separam e o terror atravessa o meu corpo. Sinto meu
coração se quebrar de uma forma, que não há mais conserto.
O meu bebê está indo embora, mais um que me abandona,
Deus tem um senso de humor sombrio quando se trata de mim.
— Baixe a arma, nós dois sabemos que você não vai atirar.
— pede calmo e mais próximo, não tenho forças para discordar.
— Você venceu Franco. — balbucio, girando a arma em
direção a minha cabeça, o cano frio pesa contra minha têmpora
direita, e vejo martírio refletir em seu rosto.
— Fiorella! — sua voz vibra por todo o meu corpo
suplicante. — Me peça o que quiser, mas solte essa arma, por favor.
Veja só quem está fazendo teatrinho agora.
Homens feitos não pedem desculpas quem dirá um por
favor.
Mexo a cabeça mecanicamente e as lágrimas voam para os
lados.
— Não dá. Eu não aguento mais você me escondendo
coisas, me traindo, e agora o meu filho, que era única coisa boa que
poderia provir desse casamento, me deixou.
— O bebê ainda pode estar aí, vamos para o hospital e
depois conversamos.
Mexo a cabeça em negação.
— Você não conversa, lembra?
Franco assente, de forma consternada, e me sinto levar uma
coronhada na cabeça. Tudo gira, e fica preto em segundos, alguém
me segura por trás antes que eu tombe no chão e tira a arma da
minha mão.
Braços fortes me erguem para cima, e me apertam contra o
corpo.
— Ettore prepare o carro. — ordena e ouço passos em
seguida, — Lazzaro, pegue roupas limpas, e depois descubra quem
entregou essas fotos a minha esposa.
Sou carregada para fora com passos largos, e minha
cabeça lateja contra o peito de Franco parecendo que vai explodir,
me pego desejando por isso. Entramos em um carro, as portas
batem com força e logo começa a se mover muito rápido.
— Você acha que ela faria aquilo? — ouço a voz de Ettore,
como se estivesse a milhas de distância, estou me desligando aos
poucos.
— Não sei, ela é imprevisível. — sua voz sai baixa e
pesarosa.
— E as fotos, são verdadeiras? Pensei que tinha terminado
com Verônica antes do casamento.
— Algumas, — diz me causando repulsa — mas não as
comprometedoras. — seus dedos deslizam por minha face
delicadamente, e o silêncio se estende dentro de mim.
Acordo deitada em uma cama de hospital e, através de uma
larga janela vejo que anoiteceu. Giro a cabeça sentindo-a dolorida e
quando ergo o braço para afagá-la percebo um cateter clarinho no
meu pulso esquerdo. Olho à minha volta, o quarto é grande e claro
demais, fazendo Franco se destacar todo de preto repousando em
uma poltrona ao lado cama.
Ele ergue a cabeça, e quando nota que estou consciente
fica em pé, e anda até ao meu lado, sua face está amassada, e
seus olhos com uma expressão de fracasso, é estranho, não
combina com ele.
— Como está se sentindo? — Franco senta na extremidade
do colchão ao lado da minha perna, e sua mão repousa em cima do
meu joelho, contenho a vontade de afastá-lo de mim. — Você me
deu um baita susto. — sussurra.
— O bebê ele... — engasgo com o resto das palavras
levando uma mão ao abdômen e sentindo minha face umedecer
rapidamente.
— O bebê está bem. — fala, devolvendo o ar — Mas você
terá que repousar até o fim da gravidez, perdeu muito sangue e foi
encontrado níveis elevados de misoprostol no seu organismo.
— O que é isso? — Franco comprime os lábios.
— Os médicos disseram que é um anti-inflamatório que
serve tanto para dor de estômago, quanto para aborto.
— Como isso foi parar no meu organismo?
Franco suspira e mexe a cabeça mecanicamente.
— Não sabemos, mas eu vou descobrir.
Levo às mãos a face e limpo as lágrimas, nisso enxergo o
relógio em meu pulso, de repente a briga inteira se passa como um
flash em minha cabeça e o meu coração reverbera dentro de mim,
como se tivesse despertado, fazendo a máquina dos batimentos
cardíacos, apitar.
— Fiorella. — ele fica em pé ao meu lado.
— O que é isso? — exijo saber, analisando o objeto, que
não tem fecho, apenas uma plaquinha de metal com o brasão dos
Fiore.
— Um relógio, de alta tecnologia, com trava digital, câmera,
alto-falante e GPS. — fala calmo.
— Tire isso de mim agora! — imponho.
— Você precisa se acalmar.
— Já estou farta de você me dizendo o que eu preciso fazer.
— o monitor ressoa ao meu lado.
Franco segura em meu pulso, e seu polegar pressiona a
pequena tela, que acende, e em seguida destrava a plaquinha de
metal embaixo.
— Você é doente. — grito e atiro o relógio nele.
— Sou um desgraçado doente, mas não importa o que eu
for, não vou perdê-la.
— Você já perdeu Franco!
— Não, — expressa mexendo a cabeça juntamente, — eu
não sei quem te entregou aquelas fotos nem porque fez aquilo, mas
são fotos antigas.
— Está mentindo. — protesto, chocada que ele quer seguir
em frente com isso, — Eu vi na câmara a foto e a data de vocês se
beijando. Como explica isso?
Franco respira fundo, seu maxilar está tenso, e noto que ele
não tem argumento. Traidor de merda.
— Verônica foi me visitar na cobertura.
— Eu não quero ouvir mais nada, Franco.
— Eu não comi ela. — ele exclama como quisesse abrir um
buraco e enfiar na minha cabeça, — Não foi nem perto disso. —
engole em seco e senta na cama. — Ela apareceu de repente uma
noite, eu estava estressado e cansado pra caramba, trocamos
algumas palavras e...
— Você a beijou. — concluo.
— Ela me beijou e foi horrível, porque não era você. —
Mexo a cabeça, em negação e limpo as lágrimas, incessantes com
as mangas da blusa, tentando digerir o que ele está me falando.
— Ontem na casa da sua mãe, Verônica estava chorando,
você foi atrás dela?
— Não. — diz com firmeza. — Precisa acreditar, Fiore.
Como posso acreditar nas palavras dele, se Franco falaria
qualquer coisa para conseguir o que quer.
E Rocco também...
Mas as fotos... fecho os olhos puxando na memória, e
percebo que não vi as imagens dos dois transando na câmera, pois
fiquei com o estômago embrulhado.
— Só está sendo bonzinho porque quer um nome. Todos me
usam como se eu não passasse de um objeto.
— Eu já tenho um nome. — meus olhos se estreitam, em
dúvida. — Logan Specter, o homem que a comprou no leilão.
Acredito que ele ainda não saiba que seja Rocco e muito
menos um agente da narcóticos, então obrigo-me a permanecer
calma.
— Como descobriu?
— Ele foi o único homem que chegou perto de você. E acha
que eu não investigaria quem pagou noventa mil dólares por uma
dança com minha esposa?
— Isso não quer dizer nada. — Franco tira um pedaço de
papel do bolso, é o telefone de Rocco, agora meu coração acelera e
não tenho nem como esconder, pois a máquina apita.
— Isso é dele não, é? Fiorella precisa me dizer quem é esse
homem, ele não está no sistema, é um fantasma.
Oh céus Rocco, o que você fez com a minha vida?
— O que ele pediu a você? — Franco persiste.
— Porque acha que ele quer algo?
— Fiorella, aquelas fotos são de meses atrás, e se tem
alguém me vigiando eu quero saber quem é.
Escoro a cabeça para trás na cama sem saber no que
pensar, Rocco mentiu para mim? Será que ele chegaria a tanto para
conseguir o que quer?
Quando tudo acabar verá que os fins justificam os meios.
Rocco disse.
Sorrio, desacreditada, ele não pensou duas vezes em me
mostrar aquelas fotos.
Oh, céus como sou estúpida.
— Quer saber quem é o homem, me traga Helena aqui. —
conflito, cintila em seus olhos, mas jamais darei uma informação
sem conseguir algo em troca.
— Helena fugiu. — cerro os olhos em dúvida.
— Ligue para o meu pai, ela deve estar em Chicago a esta
altura.
— Não. Helena está sob os cuidados da Famiglia agora, se
ela colocar os pés em Chicago, seu pai tem o dever de me entregá-
la.
— Dever? Pra que? O que pretende fazer com ela?
— Sua amiga te ajudou a fugir pela segunda vez, colocando
o acordo das máfias em perigo...
— Ela não fez nada de errado, a Famiglia não pode puni-la
por algo que foi decisão minha.
— E eu não posso puni-la porque é minha esposa.
— Eu sei o que está fazendo Franco, e como vou ter certeza
que não vai machucá-la assim que eu disser quem é Logan
Specter?
— Porque eu te dou a minha palavra.
Reflito por um momento, chegando à conclusão que eu não
tenho escolha, não tenho mais nada para trocar, e não sei se
implorar funcionaria nessas circunstâncias.
Abro os lábios decida a contar a verdade e a porta do quarto
se abre. Uma médica morena, alta, com longos cabelos pretos entra
na sala com um sorriso gentil, percebo que Franco se segura para
não correr com a mulher daqui.
— Olá, Fiorella, me chamo Grace Pierce, e vou monitorá-la
até ganhar sua alta. Como está se sentindo?
— Bem.
— Já foi ao banheiro?
— Ainda, não. — respondo e percebo que estou usando
absorvente.
— Quando for, me informe, preciso saber se o fluxo de
sangue parou. — assinto.
A médica faz a volta na cama e para ao meu lado, ela tira do
bolso um aparelho, medidor de pressão azul escuro e passa em
volta do meu braço.
— Estou com fome e sede. — informo, vendo-a me apertar
como um torniquete.
— O café da manhã é às oito horas, mas você pode comer
algo da cafeteria.
— O que você quer? Eu busco.
— Um bolo de mirtilo e um chá de... — de repente me vem à
mente a garrafa de chá que recebi da Carlota...
— Fiorella. — Franco interrompe meu pensamento.
— Esquece o chá, me traga um leite quente. — ele assente
deixando o quarto em seguida.
— Sua pressão está baixando, isso é bom. — diz pegando o
estetoscópio.
— Me empresta o seu celular? — ela tira o aparelho da
orelha e me encara confusa.
— Você pode usar o residencial do quarto. — diz sinalizando
um telefone ao meu lado.
— Não posso. — a médica olha em direção a porta
ponderando, e me entrega o telefone em seguida.
O pego com a tela já desbloqueada e disco o número de
Helena rapidamente. O telefone cai direito na caixa postal. Inferno!
Não perco mais tempo tentando ligar para ela, e disco outro
número em seguida. Meus olhos permanecem na porta enquanto a
chamada se inicia, já é de madrugada, talvez ele nem atenda.
— Pai. — sussurro, sem intenção, pois a médica se afastou
para me dar privacidade.
— Fiorella. — percebo que sua voz sobe um quarto.
— Você não devia ter dado Helena a Famiglia.
— Não vou começar uma guerra com a Famiglia porque as
duas são desmioladas. Você não devia ter fugido.
— Não tenho tempo para o seu sermão. — assobio, irritada
— Rocco me procurou, fugi para me encontrar com ele.
— Fiorella não diga mais nada. — seu tom voz e vacilante.
— Pai, assim que Franco descobrir, ele matará Rocco nós
dois sabemos disso. Dê um jeito e avise-o, para sair da cidade.
— Eu não posso, seria traição contra a Famiglia. Rocco fez
a escolha dele quando partiu há dez anos, terá que arcar com as
consequências.
— Ele é seu filho, caralho! — eu grito e a médica se vira
para mim.
— Ele é um desertor sem honra.
— Ligue para Rocco e o avise, ou eu darei um jeito de todos
os homens honrados da Outfit saber que o filho do Chefe é um
agente da narcóticos. — encerro a chamada, orando em
pensamentos que ele engoliu a ameaça, e estendo o telefone a
médica, Grace atravessa o quarto com passos largos e quando seus
dedos alcançam o aparelho a porta se abre.
— Não tinha mirtilo, eu trouxe framboesa. — assinto.
— Você levou um tombo e tanto, — a médica menciona,
franzo o cenho, confusa, — Sua cabeça está doendo?
Ahh! A coronhada que levei.
— Não. — aviso olhando Franco que permanece em pé
segurando o meu lanche.
— Bom. Então coma e descanse, se tudo estiver em ordem
irá embora ao amanhecer. — avisa e deixa a sala em seguida.
Franco senta ao meu lado, e me estende o pedaço de bolo,
enrolado em uma embalagem roxa. Começo a comer e seus olhos
permanecem em mim atenciosos, veremos até quando isso vai
seguir, quando ele souber que pretendia delatá-lo a polícia.
— Você puxaria o gatilho? — pergunta de repente, fazendo-
me parar de comer para encará-lo, vejo preocupação em sua face, e
não o culpo, ele vai ter que viver com a mulher que apontou uma
arma para o seu peito.
— Não, sou muito covarde, não conseguiria viver sabendo
que tirei a sua vida.
Ele pressiona os lábios cautelosos.
— Estou me referindo a você, Fiore.
Oh. Os meus lábios se separam, surpresa pela sua
preocupação.
— Eu não sei, Franco. — respondo amassando a
embalagem, — Estava no meu limite. Mas eu não tenho
pensamentos suicidas tá, se é com isso que está preocupado.
— Eu me preocupo com você.
— A sua forma de demonstração é um tanto inóspita.
— Eu sei, — diz puxando minha mão para dentro das suas.
— vou trabalhar essa parte, eu prometo.
Franco desliza para o meu lado na cama e não me faz
perguntas a respeito de Rocco, e me vejo agradecendo
mentalmente, já é madrugada e estou exausta demais para
controlar minha língua. Só espero que meu pai avise o meu irmão a
tempo.
Escoro-me contra o pescoço de Franco, e não permito que
os eventos da noite passada invadam minha mente. Apenas rumino
em quais às chances de alguém ter batizado o meu chá, até por fim
adormecer.
Estou sentada na cama encostada contra uma parede de
travesseiros comendo biscoito, enquanto vejo Franco quase implodir
no meio do quarto, andando de um lado para o outro, após ouvir a
história que lhe contei sobre Rocco.
Solto a xícara na cômoda, e vejo a marca do cateter em
meu pulso. Saímos do hospital perto das dez horas da manhã, fiquei
no soro pelo resto da noite e quando havia amanhecido o
sangramento diminuiu se tornando apenas um borrão. Recebi
remédios para dor e para prevenção de parto prematuro, Lazzaro os
comprou para mim.
Ainda não tivemos chances para conversar, preciso ouvir da
boca dele, que minha amiga conseguiu fugir, mesmo que eu tenha
escutado de Franco. Toda vez que eu ligo e seu telefone cai na
caixa postal sinto meu coração se espremer, ela só está nessa
situação por minha culpa, preciso dar um jeito de encontrá-la e
avisar que Franco não irá machucá-la.
— Eu não acredito que ia me entregar para a narcóticos.
Franco fala de repente, parando no meio do quarto e
segurando o meu olhar com firmeza.
— E eu não acredito que Verônica tenha escalado o seu
corpo e te beijado, sem sua permissão. — contesto.
— Fiorella. — seu tom de voz suaviza. — Se ele
conseguisse me pegar, me condenariam a prisão perpétua.
— Você se colocou nessa posição quando não deu limites
pra aquela vadia. Eu jamais teria te entregue ao Rocco, mas quando
vi aquelas fotos, desejei que você pegasse fogo.
Franco se aproxima, sentando ao meu lado na cama, sua
aparência é de quem levou uma surra.
— Eu não sinto nada por ela, o que eu preciso fazer pra
acreditar em mim?
— Mate-a. — digo e vejo sua expressão, endurecer,
fazendo-me rir. —— Não sente uma ova. — adiciono.
— Eu não mato mulheres, Fiorella.
— Mande o Dom. — sugiro e sua expressão se mantém
congelada, aguardo qual desculpa ele usará, mas Franco tira o
telefone do bolso, disca um número, e leva ao ouvido.
— Domenico, está na mansão? — pergunta olhando em
meus olhos, se ele espera que vou mandá-lo parar, está me
confundindo com as outras esposas. — Verônica está por aí? —
questiona, ele desliga depois de um momento e me olha confuso.
— Ela foi embora. — cerro o maxilar com um sentimento
estranho, talvez decepção. Desde ontem no hospital coloquei na
cabeça que o misoprostol veio dentro daquela térmica de chá.
E Verônica é a pessoa que tem mais acessos a remédios, é
veterinária e seu pai o médico da Famiglia. Se eu pudesse confirmar
eu mesma a matava.
— Um dia ela volta. Esses ratos do inferno sempre voltam.
— digo, mordiscando outro biscoito, insatisfeita.
Franco desce assim que recebe uma ligação, ele parece
ligado no automático, aposto que está pensando em uma forma de
caçar Rocco, mas não tem ideia de como, no seu breve
interrogatório não dei muitas pistas, eu não vou ajudá-lo a matar
meu irmão, por mais que ele mereça por ter me trazido para essa
teia de confusão, mas não a morte.
Estico-me na cama, e ligo para Sienna, talvez ela tenha
alguma novidade sobre Helena.
— Ella. — balbucia, não parece muito animada.
— Tem alguma notícia?
— Além de a Helena ter fugido ontem cedo e depois
ajudado você a fugir, não. — diz carregada de desgosto. — O que
as duas tinham na cabeça?
— É mais complicado do que você imagina.
— Então me explique. — pede atenciosa, e a ouço dizer em
seguida para alguém — Sim é a Ella, quer dizer um oi?
Tento ouvir com atenção a conversa do outro lado, mas não
entendo nada.
— Papai mandou um oi, ele disse que está tudo no seu
lugar. Eu não sei o que significa.
— E quem sabe?! — minto sentindo um alívio, isso só pode
ser um sinal, Rocco foi avisado, — Eu preciso desligar Sienna. —
encerro a chamada antes que ela persista na história.
Desço para o primeiro andar, ainda com fome, não é
possível. Abro a geladeira e pego um jarro de leite, quando a fecho
encontro Lazzaro na entrada da cozinha, ele se vira e se retira.
— Lazzaro. — chamo, ele para, agora se é por vontade
própria não tenho certeza. — Eu lamento ter fugido de você. — digo
soltando o leite na ilha e encurtando o espaço entre nós.
— Não me deve desculpas, Fiorella. — diz dando um passo
atrás indiferente.
— Helena, ela fugiu mesmo? — pergunto e recebo um
aceno de cabeça, Lazzaro deixa a casa em seguida, taciturno.
Viro-me cabisbaixa e encontro Franco na entrada da
cozinha.
— Ele me odeia. — balbucio com lágrimas nos olhos,
Franco pressiona os lábios.
— Está chorando pelo segurança. — Franco se aproxima e
me puxa pela cintura, — Me diz que isso é um sintoma da gravidez?
— pergunta retoricamente.
— Porque tem que ser tão insensível? — pergunto e ganho
um beijo no topo da cabeça.
— Eu preciso sair. — diz, afastando sua cabeça para me
olhar.
— Aonde vai?
— Não posso dizer. — aperto os lábios, sentindo os olhos
encherem d’água, céus eu vou desidratar até o final da gravidez.
— Não confia mais em mim. — afirmo, saindo dos seus
braços, seco as lágrimas na manga da blusa, e pego a jarra de leite.
— Vou mandar caçar o seu irmão. — solto o jarro no
mármore com um estampido.
— Ele só quer fazer o que é certo, Franco.
— Que faça longe dos meus negócios.
Respiro fundo, e sirvo o leite em um copo, orando que
Rocco tenha partido de Nova Iorque. Odeio que as coisas tenham
ficado dessa forma entre nós, queria ter pelo menos me despedido
melhor.
— Não quero que se envolva, precisa evitar estresse,
lembra?
— Para isso acontecer eu tenho que nascer de novo. —
replico tomando um gole de leite.
— Volto mais tarde. — avisa deixando a casa em seguida.
Termino de tomar o leite e ando até a sala, o piano quebrado
foi removido, deixando um grande espaço vazio. As paredes de
vidro pelo menos foram recolocadas.
— Amanhã chega um piano novo. — ouço Nádia nas
minhas costas e me viro para ela com um sorriso.
— Que bom que está aqui, queria mesmo falar com você.
— No que posso ajudá-la?
— A térmica que trouxe com o chá da mansão dos Fiore, —
digo, sondando sua expressão que se torna irresoluta. — Quem fez
o chá? — pergunto por fim.
— Foi dona Carlota.
— Você estava na cozinha com ela?
— Sim, senhora.
— Quem mais estava?
— Senhora eu... — ela titubeia, fazendo-me cerrar os olhos.
— Nádia eu quase perdi o meu filho, alguma coisa me diz
que havia bem mais que chá naquela térmica. — seguro em seu
pulso pegando-a desprevenida, e a puxo com firmeza até mim, —
Se não me ajudar a descobrir quem foi, direi a Franco que foi você.
— pânico cintila em seus olhos, fazendo-me sentir mal, eu jamais
colocaria a culpa em Nádia, ela não tem jeito que machucaria uma
mosca, mas preciso da sua ajuda, e bem como Franco disse: o
medo costuma dá mais certo.
— E-eu. — gagueja.
— Quem estava na cozinha com Carlota, Nádia?
— Senhorita Edwina, Verônica. — diz com a voz vacilante.
— Edwina e Verônica ficaram sozinhas com as térmicas? —
pergunto e percebo que talvez eu esteja indo longe demais, as duas
são horríveis, mas será que seriam tão cruéis a esse ponto?
— Eu não sei senhora, me desculpe.
— Tudo bem, Nádia. — suspiro e pergunto tentando aliviar a
tensão da pobre empregada, — Há quanto tempo trabalha para
Franco? — tento soar natural.
— Desde que vocês se casaram. Dona Carlota me designou
para os serviços dele.
— Sente falta de trabalhar para ela?
— Não. — diz e percebo que minha pergunta foi injusta, ela
jamais diria que sim.
— Se te faz sentir melhor, eu também não pedi para estar
aqui. — ela dá um risinho.
Ouvimos um barulho na cozinha e nos viramos, Lazzaro
está pegando um copo d’água.
— Eu vou ver se ele precisa de algo. — avisa me deixando
sozinha na sala.
Sento-me no sofá, e os pensamentos começam a me
atormentar; estou protegida, debaixo de um teto, bem alimentada e
minha amiga sabe se Deus lá onde.

Deito-me depois de tomar um banho me sentindo


revigorada, está tarde da noite, mas o meu sono não vem, pego o
telefone e ligo para a Helena novamente o telefone chama até cair
na caixa.
Seguro o aparelho no alto e com força, sufocando a vontade
de arremessá-lo na parede.
— Hey o que ouve? — Franco surge na entrada do quarto, e
pergunta apreensivo.
— Estou preocupada com Helena. — sussurro, sentindo as
pesarosas lágrimas surgirem em meus olhos.
Os lábios de Franco se espremem novamente e noto que
ele não sabe agir quando estou chorando. Ele dá a volta na cama e
senta ao meu lado.
— Já estamos procurando por ela, Fiore, daqui a pouco a
encontramos.
— E o que fará com ela?
— Eu não sei. — diz e soa sincero.
— A devolva para a Outfit. — sugiro, e Franco mexe a
cabeça em negação.
— Estava indagando quando liguei para Carlo, só não
imaginei também que ele fosse ceder à garota com tanto facilidade.
— ele chupa o lábio com força e chuta o sapato longe sentando-se
ao meu lado, e me puxando para seus braços. — Descanse. —
sussurra, alisando o topo da minha cabeça.

Franco me conduz para dentro da mansão dos Fiore com as


mãos em minhas costas. Ele me obrigou a vir com ele, pois não
ponho o pé para fora de casa desde que Helena sumiu.
Acho que eu passei metade dos meus dias tentando ligar
para ela, mas seu celular segue desligado, e não poder sair para
procurá-la é o que me aflige.
Quando chegamos à entrada da sala de estar, Franco se
vira para mim.
— Tome um chá com a minha mãe, eu vou conversar com o
Dom. — Apenas em ouvir chá, tenho vontade de vomitar.
Assinto.
— Fiorella. — Franco me segura pelos ombros, — Está
começando a me preocupar. — diz de repente, olhando em meus
olhos.
— Eu estou bem. — minto, estou péssima.
— Estou fazendo tudo que eu posso para encontrá-la, Fiore.
— Eu sei. — outra mentira, Franco nunca gostou da Helena,
se ela sumisse para sempre ele ficaria feliz, eu acho.
Franco beija o topo da minha cabeça quando sua mãe surge
na sala e me deixa, indo em direção a outro corredor.
Ando até a mulher que me recebe com um sorriso caloroso.
— Como está se sentindo querida? — pergunta me
abraçando, Franco disse para mim que mencionou com sua mãe o
sangramento, para que eu tenha alguém para conversar caso
precise. Como se eu quisesse me lembrar daquilo.
— Honestamente, tenho raiva de tudo. — Carlota sorri e me
conduz à cozinha.
— Perfeitamente normal. — diz fazendo a volta na ilha e
parando em frente em várias térmicas.
— Sabe eu achei maravilhoso aquele chá que você
preparou para mim.
— Frutas vermelhas, eu imaginei que fosse gostar, é o meu
favorito.
— Não, ele era de hortelã.
— Hortelã? — ele franze o cenho, e sinto uma agitação
fortemente no meu interior. — Deve ter acontecido confusão com as
térmicas, eu estava fazendo tantas coisas ao mesmo tempo.
— Você não tinha ajuda? — sondo.
— Só as meninas, a V e a Edwina. Taí o motivo da confusão
com as térmicas, elas acabaram mais atrapalhando que ajudando.
Certeza que aquela vaca, colocou alguma coisa no meu chá
e depois fugiu como rato, mas como vou provar isso? Edwina jamais
admitiria, e se eu revelar minha desconfiança sobre sua melhor
amiga dará com a língua nos dentes.
— Soube que Verônica foi embora. — menciono, vendo-a
servir o chá e uma xícara.
— Sim, a viagem dela pegou todos nós de surpresa, V disse
que precisa de um tempo para ela. Edwina está deprimida, e a
situação só vai piorar quando ela souber do casamento.
— Casamento. — balbucio.
— Riccardo, vai casá-la com Ettore, ele mencionou comigo
noite passada.
— Ettore já sabe?
— Não, nem o Franco, Edwina faz dezenove anos em um
mês, ele irá esperar.
— E como Riccardo está?
— Dopado. — ela sussurra. — Daqui alguns dias não dará
para esconder de ninguém à condição dele.
— Isso é horrível.
— Sim, muito, tanto que enviei Enrico para um colégio
interno até essa situação acabar, ele tinha medo de Riccardo.
— Ele ficará bem. — afirmo e andamos até a sala, uma
enfermeira de meia idade entra na cozinha e chama atenção da
minha sogra, que me pede licença e acompanha a mulher para
outra sala.
Olho as horas no relógio de pulso e a data ao lado, faz meu
coração palpitar, amanhã é o aniversário da morte da minha mãe e
Louisa, estou tão envolvida com o sumiço de Helena que eu nem
reparei nos dias.
Já se passaram duas semanas, e tudo me lembra ela, até
os longos cabelos pretos da Edwina, que voam alto quando ela
adentra a sala com passos largos em minha direção.
— Edwina. — digo, na hora que ela para em minha frente, e
sua mão se ergue em direção a minha face, quando percebo uma
bofetada estala em minha face. Viro-me para ela novamente
alisando a bochecha sentindo-a queimar, e enxergo Franco na
entrada da sala, vejo seu semblante escurecer em uma batida de
coração.
— Nunca mais ameace Nádia, ou eu cortarei sua cabeça. —
rosna, chamando minha atenção, e não vê o seu irmão se
aproximar.
Franco agarra a garota pela nuca, e puxa para trás fazendo
Edwina sair do lugar e se curva como um arco. Seu rosto desce
centímetros parando perto do dela, e seus dedos invadem seu
paletó pegando uma faca.
— Me solte. Você não pode me matar.
— Eu ainda não posso. — Franco sibila com um sorriso
felino e adiciona. — Vou arrancar a sua língua, uma coisa que eu
devia ter feito há muito tempo.
— Vá se foder. — ela cospe com lágrimas nos olhos e tenta
se soltar das mãos dele.
— Franco. — chamo, petrificada, mas ele me ignora e a joga
contra um sofá com furor, arrancando um grito agudo dos lábios da
garota.
— Você respeitará a minha esposa, nem que eu precise
arrancar cada membro do seu corpo um por um.
— Franco, pelo amor de Deus, pare. — exclamo e me vejo
implorando, se ele fizer isso se arrependerá pelo resto da vida, isso
é demais até para mim.
Ele me ignora, subindo no peito da garota como fez com
Dom, Edwina bate em seus braços tentando afastá-lo, mas Franco
tem quase o dobro do seu tamanho e a força de um touro. Então me
vejo desmaiar, para cima de um sofá.
Um segundo depois Franco está em cima de mim, me
acudindo, e Edwina fugindo da sala correndo. Abro os olhos e o vejo
cerrar o maxilar.
— Você fingiu. — diz com a mesma expressão gélida que
estava encarando Edwina.
— Agradeço que você queira arrancar todos os membros da
sua irmã por mim, — enfatizo. — mas eu sei me proteger.
— Então por que não se protegeu? — pergunta duramente,
guardando a faca.
— Estava tentando entender porque ela tirou as dores pela
Nádia.
— Vamos embora. — diz simplesmente me estendendo a
mão para levantar do sofá, sem nem ao menos se importar com o
motivo.
Quando fico em pé, Franco segura minha face, e alisa
minha bochecha possivelmente vermelha e muito quente.
— Devia ter me deixado arrancar a língua dela.
— Acho que ela já entendeu o recado. — aviso puxando sua
mão e o levando para fora da mansão.
Quando entramos no carro, viro para Franco chamando sua
atenção, mas ele está com os pensamentos em outro lugar.
Provavelmente em Edwina.
— Sabe de algo que eu não sei? — quero saber, Franco
relaxa no assento do carro e se vira para mim.
— Edwina e Nádia estão juntas. — diz monotonamente.
— Mentira. — exclamo de cara feia. — Eu teria percebido,
Nádia é nossa empregada, e pelo amor de Deus, quem ficaria com
sua irmã por livre arbítrio?
— A Nádia, e minha mãe ainda não percebeu. — avisa e
começa a dirigir.
— É por isso que não a casaria com ninguém?
— É. Edwina mataria o marido na primeira oportunidade.
— E se a máfia descobrir?
— Não vai.
— Você descobriu. — digo, e Franco mexe a cabeça em
negação.
— Edwina me contou, para que pudéssemos contratá-la
como empregada. Era a única forma que as duas teriam para ficar
juntas.
— E você aceitou isso bem?
— Ela é minha irmã, o que eu poderia fazer? — assinto.
— Sua mãe mandou uma espiã para dentro da nossa casa.
— Nádia é uma boa mulher. — cerro o maxilar, com raiva —
O que você fez com ela, para que Edwina chegasse nesse ponto?
— Não fiz nada, ainda. — adiciono.
— Fiorella.
— Eu quero ela fora da minha casa. — aviso.
— O que você fez? — reforça.
— O misoprostol veio da garrafa térmica que ela trouxe, com
o chá da sua mãe.
— Isso é uma acusação grave. — comprimo os lábios.
— Se não veio do chá que foi preparado pela sua mãe, com
duas ajudantes que me odeiam. Quem mais seria? Elói? Lazzaro?
Você?
— Por que não me contou sobre o chá?
— Porque não tinha certeza. — respondo, mas agora não
há mais dúvidas depois que Carlota disse que as meninas fizeram
confusão com as térmicas.
— Acha que Edwina participou? — ele pergunta
atravessando os portões da nossa casa.
— Sinceramente, não.
— Desgraçada. — Franco assobia entre os dentes.
Descemos do carro em silêncio e nos encaminhamos para
dentro de casa, Lazzaro nos saúda com um aceno de cabeça e
permanece do lado de fora. As coisas entre nós continuam iguais,
apenas Elói me trata sem frieza, e Nádia parece um rato fugindo de
mim, toda vez que me enxerga, agora eu entendo o motivo. Vaca.
Belisco algo na cozinha, ultimamente tenho comido bem
mais que o normal, e agora eu realmente estou precisando de
roupas novas, principalmente os jeans estão mais apertados.
Termino de comer e ando até o escritório de Franco, a porta está
entreaberta, e ele falando ao telefone.
— Onde? — sua voz é implacável, — Como assim
conseguiu fugir? — diz fazendo o meu coração acelerar.
Ele deve estar falando de Rocco.
— Não me ligue até encontrá-lo. — avisa, respiro fundo e
espero o coração se acalmar para entrar no escritório.
— Fiorella. — diz soltando o telefone na mesa e vindo na
minha direção. — Precisa de algo?
— Quero ir a Chicago amanhã. — falo me sentando na
ponta da mesa, Franco se aproxima se pondo entre as minhas
pernas. Suas mãos pousam em minha barriga docemente e sua
face mexe em negação.
— Com seu irmão solto por aí não quero você longe de
casa. — expõe e me vejo afastando a mão dele, Franco endireita
sua posição e me fita com a face inescrutável.
— Rocco não me faria mal. Ele é o meu irmão.
— Ele fez sua cabeça.
Suspiro.
— Eu quero ir, e quero ver minha irmã, talvez assim eu fique
melhor. — peço docemente.
— Eu sei o que está fazendo, Fiorella. — adverte.
— Não estou tentando esconder. — encolho os ombros.
— O médico pediu repouso, lembra?
— E que esforço eu farei dentro de um avião?
— Não quero ficar longe de você. — rio.
— Você está apelando. — censuro.
— Estou. — afirma e suas mãos voltam para a minha
cintura, — Eu me preocupo com você e o bebê.
— Se eu sumir no meio da noite, já sabe onde me encontrar.
— aviso me levantando e me afastando dele, sua expressão se
fecha todinha, e Franco não me impede de sair do escritório.
Subo para o quarto, e tento ligar para Helena pela milésima
vez hoje e a caixa postal dela está sendo muito atenciosa. Desligo
sem deixar mensagem. E me deito na cama sem cabeça para fazer
mais nada, e em uma piscada de olhos, vejo Franco adentrando o
quarto.
Ele senta na cama e se vira para mim, pensativo.
— Lazzaro, Ettore e Dom irão te acompanhar.
— Tudo isso é medo que eu fuja ou que eu dedure o local
do seu depósito ao meu pai?
— Não Fiore, é precaução, você poderia ter dado a
localização do depósito e ido embora com Rocco naquele instante.
Eu já sei onde está a sua lealdade. — expressa e seus dedos
correm para o meu cabelo.
— Vou me comportar.
— Disso eu não tenho tanta certeza. — Franco ri.
Levanto da cama e engatinho até ele, monto em seu colo e
abraço seu pescoço. Meus dedos se enrolam nos fios do seu
cabelo, e os puxo para trás sem muita força, fazendo-o inclinar a
cabeça.
— Também sentirei sua falta. — aviso, e beijo o seu
pescoço, Franco arrepia.
Sorrio, e subo beijando seus lábios, sua língua invade a
minha boca com urgência e seus braços me abraçam com a força
certa. Depois da nossa briga, não nos reaproximamos, dessa forma,
ainda estava com uma puta raiva de Franco, e o médico pediu que
esperássemos alguns dias.
Mas agora, eu preciso dele, meu corpo exige ele.
— Fiorella, — engasga contra meus lábios, quando desfivelo
sua cinta.
— Shhh. — digo contra seus lábios, e intensifico mais o
nosso beijo, puxando seu pau pra fora. Franco estremece grande
pesado em minha mão.
Afasto-me e puxo o vestido com desenvoltura passando
pela cabeça.
— Não quero machucá-la. — avisa, deslizando as mãos
pelas minhas costas, em direção a bunda.
— E não vai. — sussurro descendo a calcinha com ajuda
dele, seu terno roça em meus mamilos deixando-os pontudos. E seu
olhar cai sobre nossa intimidade, seu pau está preso entre nós
contra o pequeno volume da minha barriga, o pego nas mãos e
Franco deixa escapar um gemido.
O apertei levemente e deslizei o polegar pela cabeça grossa
e rosada. Franco mentem seus olhos nos meus e sua face está
tensa e exala luxúria.
Minhas mãos escorregaram por sua extensão dura como
uma rocha e quente como o inferno e o vi prendendo o fôlego.
Comecei acariciá-lo, vendo cada terminação do seu corpo
ficar rígida sob o meu toque. Franco morde o lábio inferior com força
e inclina seu corpo para trás, estremecendo.
— Puta que pariu! — ruge entredentes e me para
bruscamente, — Já faz muito tempo, Fiore. — diz passando os
braços em minha volta — Monta em mim.
Sorrio, erguendo a bunda para ele, e deslizando na sua
extensão lentamente com sua ajuda. Puxo seu terno para trás e
abro sua camisa com um puxão firme.
Franco abraça o meu dorso, e o deixo conduzir as
estocadas. Não me deixo pensar em mais nada e me deleito em seu
corpo, em seu cheiro e nos seus gemidos guturais em meu ouvido.
Mal consegui dormir noite passada estava com o coração
que era uma loucura, a ansiedade dominando meu corpo. Acordei
antes de Franco e corri fazer uma pequena mala de mão, só com as
vitaminas e uma peça de roupa caso eu precise.
Vesti-me com calça peluciada, botas longas, e por baixo de
um trench coat preto, e uma grossa blusa de lã. Quando terminei de
arrumar meus cabelos desci e enviei infinitas mensagens a Sienna,
avisando que chegaria em algumas horas.
Desço animada, e pensando agora parece até errado estar
tão feliz hoje. E meu sorriso se esvai quando encontro Nádia no
meio da sala com um espanador na mão. Ando até ela refletindo em
como resolver nossa situação. Todo esse maldito tempo ela vendo o
caos que era a minha vida com Franco e de certo rindo as minhas
custas com Verônica e Edwina.
— Bom vê-la aqui, Nádia. — seus olhos brilham em
preocupação, — Quero te devolver algo. — expresso, e o dorso da
minha mão estala na face da mulher com ímpeto, como Edwina fez
na minha.
A empregada volta seu olhar para mim cheios de pavor, e
sua mão alisa a bochecha com meus dedos marcados nela.
— Minha intenção nunca foi machucá-la Nádia, eu blefei, e
você deu com a língua nos dentes.
— Senhora, eu não quis trazer transtorno, me perdoe.
— Diga a sua namorada, que os atos dela têm
consequências. — a mulher sacode a cabeça e sai da minha frente
completamente desorientada.
Ando até a cozinha e me sento à ilha, metade de mim
satisfeita e a outra injuriada, nunca quis fazer mal a ninguém que
realmente não merecesse, Nádia foi à exceção. Agora que está tudo
às claras, talvez Edwina queira manter a paz, pelo bem da amada.
— Bom dia. — Elói. — saúdo a mulher.
— Madrugou hoje menina. — menciona, soltando uma
sacola com pães na bancada.
— Vou para Chicago. — falo pegando um pão quentinho da
sacola.
— Bom dia. — escuto em meu ouvido e recebo um beijo no
pescoço.
Franco senta ao meu lado e Elói lhe entrega uma xícara de
café também.
— Liguei para o seu pai agora. — diz me pegando de
surpresa.
— Por quê?
— Estará no território dele, e se acontecer qualquer coisa
com você, ele será o responsável.
— Nada vai acontecer. — deslizo a mão pela coxa dele e
aperto sua perna inquieta. — Estarei de volta para jantar com você.
Franco tira do bolso do terno o relógio que pôs em mim a
força. Mexo a cabeça em negação, e Franco mexe ao contrário.
— Você vai usar e quando voltar tiramos. — quero revirar os
olhos com força, mas enfio a coleira disfarçada de relógio em meu
pulso. Se o deixa mais sossegado, e não interrompe a minha visita a
Chicago, por que encrencar, não é?

A BMW para no espaço aberto de uma pista de pouso,


próximo de um jato branco. Descemos os dois e Franco traz minha
mala de mão, logo atrás de mim. Em seguida, mais um carro para
na pista e descem dele, Ettore, Lazzaro e Dom.
— Parece um tanto exagerado, todos só para me guardar.
— A sua segurança é importante para eles também.
— O acordo das máfias? — deduzo e Franco assente.
Franco para em frente à escadinha do jato, e entrega a mala
ao Lazzaro que sobe junto com os demais. Meu marido se volta
para mim, e seu olhar é taciturno. Suas mãos seguram em meu
quadril e me puxam para perto de si.
— Se eu pudesse, te acorrentava em casa. — diz contraindo
os lábios, fazendo-me rir.
— Ficaremos bem — afirmo quando seus dedos deslizam
para o bebê. Trago a sua face mais para baixo e lhe dou um beijo
nos lábios. — Se comporte. — aviso me livrando dos dedos dele e
subindo os degraus com um sorriso que poderia partir minhas
bochechas, e quando me viro para frente os acompanhantes estão
me olhando com uma expressão impassível.
Adentro mais o espaçoso jato e me sento nas primeiras
fileiras. Enquanto uma aeromoça fecha a porta do jato, olho pela
janela a BMW está saindo da pista, me sinto estranha nesse
momento deixando o Franco, parece que um pedaço de mim está
ficando para trás.
O jato começa a erguer, pego o meu telefone e envio uma
mensagem de texto para minha irmã.
Ella: Desembarco em menos de três horas. Bj.
Ajeito-me no banco e anseio por terra firme, o meu telefone
vibra em seguida com mensagem.
Sienna: Te aguardo ansiosa.
Guardo o telefone dentro da mala, e me pego pensando na
minha amiga. Cristo, toda a vez que me encontro sossegada e com
a mente vazia, Helena surge com força me fazendo ficar
melancólica.
Se ao menos eu pudesse fazer algo para ajudá-la... uma
ideia surge em minha cabeça. Levanto da poltrona sem dar espaço
para sensatez e repouso ao lado de Ettore sentado à janela. Ele se
vira para mim, e suas sobrancelhas bem delineadas sem erguem,
deixando mais visível um par de olhos verdes bem claros.
— Fiorella. — ele saúda educadamente, se ajeitando no
assento, mantendo distância.
Oh, céus, ele me viu nua, quero levantar e sair correndo,
mas agora só ficaria mais embaraçoso.
— Contou ao Franco? — me pego perguntando, parece que
minha língua criou vida e resolveu me fazer passar vergonha.
— Tive depois que Lazzaro detalhou o inconveniente. — diz
de uma forma contida, e assinto sem graça. Bem, pelo menos eu
não tive que explicar nada, pois do jeito que Franco é deve estar
tentando esquecer, como eu devia estar fazendo.
— Eu quero te pedir uma coisa, pessoal. — explico baixo
me inclinando da direção do homem, — Em troca te dou uma
informação.
Os olhos de Ettore se estreitam desconfiados, mas curiosos
também.
— Antes que diga Fiorella, — ele sibila, tão baixo quanto eu.
— nos meterá em encrenca?
Mexo a cabeça mecanicamente.
— Qual é a informação? — pergunta baixinho, com um olhar
cauteloso e o corpo inclinado na direção do meu.
Sorrio.
— Só digo se aceitar me ajudar.
— Já pediu ajuda ao Lazzaro? — me escoro na poltrona
espiando Lazzaro do outro lado do corredor, mais a frente, ele está
olhando pela janela, mas tenho certeza que seus ouvidos estão em
nossa conversa.
— Já, mas a minha informação não serve para ele. — os
olhos do Consigliere brilham a curiosidade, — E Lazz está bravo
comigo. — adiciono apertando os lábios.
— Ele devia protegê-la do inimigo, não de si mesma. — diz,
não em tom de censura, mas de apoio.
— Acho que estamos quites, ele quase arrebentou com a
minha cabeça. — ele, dá um risinho como se tivesse lembrado.
— Ettore, quero que procure Helena. — informo, e vejo sua
expressão se tornar profunda e impenetrável. — Franco mandou
homens atrás dela, mas com certeza está se escondendo deles, —
seus lábios se espremem e é evidente a sua resposta. — Hell não
fugiria de você. Por favor, eu só quero minha amiga de volta. —
apelo para as lágrimas, e vejo sua expressão se tornar benevolente.
— Vou tentar encontrá-la. — informa com persuasão. —
Agora pare de chorar e me dê a informação?
Sorrio, limpando as lágrimas.
— Se casara com Edwina, assim que ela completar
dezenove anos, daqui um mês. — vejo o semblante do homem, cair
por terra. — Eu lamento. — expresso com sinceridade, esse
casamento será mais complicado que o meu, não gostaria de estar
na pele de nenhum deles.
— Franco te deu essa informação? — pergunta com a voz
contida
— Ninguém sabe, exceto Carlota e nós dois agora.
— Você me deu uma informação prescindível, se não posso
usá-la pra nada.
Comprimo os lábios, sem saber o que responder, de fato
não há nada o que ele possa fazer. Se ele tiver sorte, Riccardo
morre antes de deixar oficial.
— Encontre Helena e depois fuja. — sugiro fazendo-o
engasgar com o próprio ar. — Qual doeria menos, um tiro na cabeça
ou um casamento com Edwina? — pergunto retoricamente, e vejo o
homem me dar um olhar de reprovação.
Relaxo na poltrona, já tenho problemas demais, Ettore que
encontre uma solução para escapar desse casamento ou se prepare
para morrer enquanto dorme.

Assim que descemos do jato adentramos um Audi preto que


estava à nossa espera. Sentei-me atrás com Lazzaro, e me peguei
sentindo falta das nossas conversas, o via como um amigo muitas
vezes e não sei o que fazer para ele me desculpar.
— O que é? — pergunta e noto que estava o encarando.
— Não pode ficar com raiva de uma mulher grávida. —
balbucio, e noto que a única orelha de Dom está inclinada em
direção a nossa conversa,
— Não estou com raiva. — expressa de forma retraída.
Assinto tristonha e olho pela janela, o que me anima é que
já estamos chegando à mansão dos Santoro.
Os portões se abrem para trás nos dando passagem, e
quando fazemos a curva do jardim Sienna está nas escadas em
frente à casa me aguardando.
Pulo para fora do carro assim que Ettore destrava as portas,
e minha irmã me encontra no caminho, com um sorriso caloroso,
seus braços me envolvem e me sinto relaxar neles.
— Como está?
— Bem. — respondo olhando além dela, Dona segura Dario
nos quadris, ele está enorme e muito lindo também. Ando até eles e
os abraço com força.
— E meu pai? — quero saber, temos que trocar uma
palavrinha a sós.
— No escritório esperando por você. — menciona.
Olho para trás e a Famiglia está em pé como uma parede
logo atrás de mim.
— Vamos entrar, o almoço está quase na mesa. —
Donatella comunica, e sinto os braços de Sienna nas minhas costas
me levando para dentro de casa.
— E o bebê como está? — pergunta, ninguém daqui sabe a
loucura que aconteceu semanas atrás e decidi deixar assim mesmo,
não tem porque fazer o dia ficar mais dramático.
— Está ótimo. Estou com onze semanas, e você Dona?
— Treze. — ela me dá um sorriso bondoso.
Entramos todos na casa, e a segurança está tão reforçada
como no dia que vi Franco pela primeira vez, até Romeo repousa no
sofá relaxado, como se não fosse de propósito sua presença.
Dou-lhe um aceno com a cabeça e um sorriso, de repente
sou puxada pelo pulso com força, e vejo Sienna me levar em
direção a escada.
— Vem preciso te mostrar uma coisa. — expressa animada
e me arrasta para o andar superior, quando saímos da vista dos
homens ela para e me encara pesarosa.
Ele solta o meu braço e se vira para mim.
— Só o Lazzaro já era foda, — expressa e fico surpresa
pelo palavreado, — Agora mais o Consigliere e o cara sem orelha.
— ela estremece.
— Cuidado dobrado. — aliso a barriga, e minha irmã
assente com um riso.
— Vá conversar com o papai e depois, eu quero saber de
tudo, Ella. — expõe com seriedade.
Concordo sem ter ideia do que explicar, e ando com o
coração martelando no peito até o escritório de Carlo. Bato na porta
suavemente e abro em seguida.
Meu pai se coloca em pé abotoando o paletó escuro, ele faz
a volta na mesa, quando entro e fecho a porta. Sua feição é
insondável analisando minha face, fazendo-me lembrar da nossa
última conversa.
— Ella. — sussurra, e seus braços caem à minha volta com
força.
— Pai. — balbucio, repousando a cabeça no seu peito.
— Como está? — ele me segura pelos ombros, me
afastando, para olhar em meus olhos.
— Cansada e confusa pai. — o escuto suspirar. — Por que
não contou que Rocco havia fugido? — pergunto e meu pai se
escora na extremidade da mesa.
— Eu não podia contar, e você era tão jovem Ella, estava
passando por tantas coisas, depois cresceu e achei mais sensato
manter em segredo.
— Quem mais sabe?
— Não posso te dar essa resposta.
— Porque não o trouxe de volta quando era jovem?
— Demorei anos para contatá-lo, enviei homens que nunca
mais voltaram e há dois anos, o último retornou em um saco preto
com um recado.
— Qual?
— Viria atrás da Outfit, se não o deixasse em paz.
Que irônico Rocco. Escarneço mentalmente.
— Franco não tem nada a perder, ele vai matá-lo, pai. —
digo com o coração atormentado e os olhos ardendo para derramar
as lágrimas que eu tento segurar.
— Rocco não devia tê-la envolvido nisso, — exclama com
as narinas dilatadas, e me segura nos ombros me forçando a
encará-lo, — Ele ficará bem, tem treinamento da máfia e da agência
antidrogas americana, Franco só conseguirá pegá-lo se Rocco
quiser ser pego.
Respiro, aliviada, pois as palavras do meu pai soam
incontestáveis.
— Vamos descer, Ella. — diz abrindo a porta para mim,
seguimos para a sala de estar em silêncio, os homens da Famiglia
ficam em pé assim que entramos, Carlo os cumprimenta um por um,
e vejo que seus olhos se detêm tempo demais em Domenico.
Será que ele sabe do ocorrido? Pergunto-me.
Sienna adentra o espaço e anuncia que o almoço está
pronto. Nos encaminhamos para sala de jantar ao lado, me sento
entre Lazzaro e Ettore, com Sienna a minha frente com Romeo ao
seu lado. Vejo minha irmã inquieta, ao lado do homem, que a ignora
notoriamente e conversa com o meu pai e os demais.
Os pratos são servidos, e me vejo em uma corrida para
terminar o almoço e ter um minuto a sós com minha irmã.
— Vai engasgar desse jeito. — Lazzaro repreende, olho
para o prato de Sienna e já está vazio. Ela dá uma pisca e inclina a
cabeça para a sala ao lado. Levantamos as duas, chamando
atenção dos demais.
— Estava maravilhoso, Dona, — falo gentilmente, — Vou
estar na sala ao lado. — aviso ao Lazzaro, e não espero sua
resposta seguindo minha irmã com passos sutis, mas no fundo
todos sabem que queremos sair correndo fofocar.
Nos sentamos próximas do piano em frente a uma janela
dando vista ao jardim. Sienna segura minhas mãos em meu colo, e
me dá um olhar preocupado.
— Me diga o que está acontecendo, ninguém me conta
nada, Ella. Já estou enlouquecendo sem ter notícias da Helena e
por que você fugiu? — sua expressão é decisiva, ela não vai me
deixar em paz até saber.
Pigarreio, cogitando contar que fugi para ver um detetive
particular, quando Sienna aperta minha mão firme e diz:
— Não invente nenhuma desculpa bonitinha, não sou tão
frágil como todos pensam.
— Fugi para ver o Rocco e papai deu Helena a Famiglia. —
Vejo a face da minha irmã perder a cor, espero ela assimilar as
palavras por um momento, e então conto sem detalhes demais, qual
é a situação.
Sienna está petrificada, tenho vontade de lhe dar uma
bofetada para ver se volta a sua expressão normal.
— Não pode contar a ninguém. — aviso, ela mexe a cabeça
mecanicamente, ainda absorta.
— Como consegue lidar com tudo isso? — flashbacks de
duas semanas atrás correm em meus pensamentos, fazendo-me
apertar os lábios.
— Pra falar a verdade, eu não sei. — balbucio. — Agora me
diga, como andam as coisas por aqui? — quero saber, pois falar de
Helena e Rocco me deprime.
Minha irmã suspira, pensativa.
— Chatas demais, tenho visto a prima Lila nas últimas
semanas, ela disse que Antônio tem uma amante. — menciona em
tom de reprovação.
— Esses homens deviam ser castrados. — digo pensando
em Franco e nas fotos dele com a Verônica, mexo a cabeça
espantando os pensamentos. E minha irmã concorda com um riso.

A tarde passa em um piscar de olhos, e a saudade


imensurável que pensei sentir da mansão e das minhas coisas não
adveio. Devo ser maluca, talvez bipolar, mas Nova Iorque é a minha
casa, ao lado de Franco e toda a sua possessividade. É sem
dúvidas, normal eu não sou.
Ando pelas lápides em silêncio com minha irmã ao meu
lado, ambas carregando vasos com a flor copo-de-leite, brancas.
Era a planta favorita da mamãe, Carlo sempre comprava um vaso
para cada uma de nós levarmos, pelo visto isso ainda não mudou.
Paramos em frente há três túmulos, e há flores em cima de
dois deles, Francesca e Louisa Santoro.
— Papai esteve aqui mais cedo. — Sienna explica, olhando
o túmulo de Rocco, meus olhos caem sobre ele também, e não
acredito que passei nove anos lamentando a sua morte.
Desgraçado.
Ajoelho-me entre Louisa e mamãe, e coloco o vaso entre as
duas, Sienna faz o mesmo, escorando a cabeça em meu ombro em
seguida.
— Sente falta dela? — balbucia.
— Sempre. — respondo repousando minha cabeça na sua.
Toda vez que venho aqui, tento recordar somente das coisas
boas: do sorriso da minha mãe, do seu cheiro doce e almiscarado,
ou até quando ela insistia em fazer nosso café da manhã,
queimando todas as panquecas, ela nunca foi uma boa cozinheira.
Dou um sorriso triste, e me pego vendo a fotinho de Louisa, ela
tinha recém dois aninhos, e vivia querendo morder a cabeça da
Lady Lou. Rio, sentindo uma lágrima escorrer e pingar na grama
fria.
Sei que onde elas estiverem, estão em paz.
Embarcamos no jato assim que deixamos o cemitério, dormi
o caminho inteiro, me sentindo plena, foi bom ver a minha família, e
o melhor foi que não aconteceu nenhum desastre, talvez assim o
meu mafioso possessivo desencane e relaxe nas futuras viagens.
Adentro a casa com passos largos e o coração batendo
forte, não compreendo o motivo, até ver Franco sair de dentro do
seu escritório, ele está sem o paletó e sua gravata desfeita em
frente ao peito, meu marido caminha até mim e o seu sorriso é o
mais lindo de todos.
— Posso estar sendo tolo, ou extremamente piegas — diz
segurando meus quadris e me puxando para seus braços, —
Imaginei por um instante, como seria ficar nessa casa sem você, e
quase ordenei que Lazzaro a trouxesse de volta. — meu corpo se
enche de calor com suas palavras. Aperto os lábios, deslizando as
mãos para o seu pescoço, e meu dedos se enroscam no cabelo da
sua nuca.
— Eu também amo você. — respondo, e sua língua
reivindica a minha boca docemente.
— Minha. — Sibila contra meus lábios e volta a me beijar.
Estou em frente à TV, em cima de um colchonete, tentando
ridiculamente acertar os passos que a instrutora de pilates ensina na
grande tela. Dona mencionou os benefícios dos exercícios para
gestação e como lutar está fora de cogitação, me sinto igual às
dondoca dona de casa.
Pelo menos assim ocupo minha mente, já que faz três
semanas desde que voltei da mansão dos Santoro, e ainda não
temos nenhuma notícia da Helena.
Estou começando a pensar o pior, ela é só uma garota, não
devia ser tão difícil encontrá-la. Tenho vontade de ligar para Ettore e
questionar se ele tomou alguma providência, mas nem o seu
número eu tenho e todas as vezes que nos vimos Franco estava
presente.
Pensando em meu marido agora, faz uma semana e meia
que ele me deixou, para ir atrás de Rocco. Nenhum dos seus
homens conseguiu capturá-lo, e os últimos que o viram foram
encontrados mortos, deixando Franco descontrolado e possesso.
Ele não pensou duas vezes antes de ligar para Dom, e os dois
saíram de moto na manhã seguinte.
Franco disse que precisava resolver essa pendência, como
se matar o meu irmão fosse prioridade, para que ele pudesse riscar
esse item de uma lista imaginária.
Eu venho relevando todas as coisas, para não surtar, na
verdade são apenas duas, mas que conseguem foder com o meu
juízo.
Minha melhor amiga desaparecida e meu marido tentando
matar o meu irmão.
— Agora faremos a posição do Gato Arrepiado. — a
instrutora declara, e fica de quatro em cima do colchonete, faço o
mesmo.
Estou de legging de cintura baixa e um top com mangas
compridas, exibindo o início de um pequeno volume em meu ventre.
O motivo pelo qual eu venho tentando manter o equilíbrio.
— Tente encostar o queixo no peito enquanto movimenta o
quadril para frente e estique as costas empinando os glúteos.
Novamente, contraia os músculos pélvicos e repita o movimento
cinco vezes.
Faço os movimentos, sentido minha coluna estalar, e
quando estou no último movimento olho entre as minhas coxas e
enxergo pernas cruzadas. Viro-me, e Franco está escorado contra o
batente do corredor.
— É isso que você faz enquanto eu fico fora? — pergunta
com um risinho, faço cara feia e me levanto.
— Se você está de volta é porque... — me calo sem querer
pensar ou imaginar o resto.
— Não o pegamos. — afirma de uma forma contrariada, e
não consigo esconder minha expressão de alívio. — Nós o
seguimos até Las Vegas, mas seria estupidez começar uma caça lá.
— Rocco sabe que estão em guerra com a Camorra. —
expresso andando até ele.
Franco concorda com um aceno.
— Deixe-o ir. — peço encarecidamente, segurando em seus
bíceps, enquanto seus dedos pegam em minha cintura e deslizam
pela minha barriga gentilmente.
— Sabe que eu não posso fazer isso.
— Então o que vai fazer? Não consegue pegá-lo e também
não pode deixá-lo ir. — percebo que minhas palavras não o
agradam, quando ele para as caricias em minha barriga.
— Ettore me deu um conselho. — e novamente a ansiedade
domina o meu corpo, como uma descarga elétrica.
— Diga! — Franco sorri.
— Você é a mulher mais curiosa da face da terra, sabia? —
diz colocando os meus cabelos para trás do ombro, me afasto
quando seus lábios tentam me beijar.
Ele suspira e seus olhos encaram os meus com atenção.
— Coloquei uma recompensa pela cabeça dele. — meus
braços caem de volta do seu corpo, petrificada, — Caso Rocco
coloque os pés em Nova Iorque outra vez, não há chances dele sair
daqui com vida.
Chupo o lábio inferior esmorecida e ao mesmo tempo
aliviada, se ele não voltar ficará vivo, espero que seja esperto e
encontre outra máfia para desmantelar.
— Eu não quero que se envolva com isso, Fiore, — diz
analisando a minha face. — Seu irmão sabia onde estava se
enfiando quando resolveu vir atrás de mim. Se ele fosse um soldado
de Carlo faria o mesmo que eu, defenderia a família.
— Eu estou bem. — afirmo.
— Está? — pergunta retoricamente, — Então suba e me
faça à posição do Gato Arrepiado. — sugere com um risinho, lhe
dou um murro no peito, e mexo a cabeça mecanicamente.
— Tenho consulta em uma hora, e você vem junto. — afirmo
me desvencilhando dos seus braços. — E tome um banho está
fedendo. — torço o nariz, fazendo-o soltar uma risada.
— O que fizeram com a minha mulher? — pergunta, vendo-
me subir para o quarto.
— Culpe o seu filho, ele é quem está me deixando com os
sentidos apurados.
Prendo o meu cabelo e tomo um banho ligeiro, antes que
Franco decida entrar comigo. A saudade dele é imensa, mas não
somos animais, ele terá que esperar até depois da consulta.
Entro no closet e coloco um vestido de lã na cor terracota.
Pego as botas e me sento em dos pufes para calçar, sinto que perdi
um pouco do equilíbrio depois que entrei para o quarto mês de
gestação, quero ver o que restará quando eu não estiver mais nem
enxergando os meus pés.
Termino de me arrumar em frente à penteadeira, Franco
adentra o quarto apenas com uma toalha enrolada na cintura, ele
faz questão de tirá-la as minhas costas, e exibir sua ereção no
reflexo do espelho.
Deslizo a língua pelo lábio inferior, e depois subo meu olhar
para encontrar o dele, suas sobrancelhas escuras se erguem em
uma pergunta silenciosa e explicita pra cacete.
— Sentimos sua falta. — diz com um risinho convencido.
— A consulta. — reprovo, soltando a escova na penteadeira,
o vejo cerrar o maxilar, e o seu pau se mexer, quase rio, mas me
forço a deixar o quarto antes que ele resolva me agarrar.
Desço e encontro Lazzaro na cozinha, ele fica surpreso
quando me vê, quem sabe imaginou que Franco não sairia de cima
de mim pelas próximas horas.
— Tenho consulta. — esclareço fazendo-o assentir, como se
isso explicasse muita coisa.
As coisas voltaram quase ao normal entre nós, parei de
tentar fazer as pazes e um dia como se nada tivesse acontecido,
Lazz perguntou se eu já sentia o bebê se mexer, enquanto eu
alisava a barriga e tomava café da manhã.
Franco desce depois de um momento, com a barba feita, e
aparência mais saudável. Ele me come com os olhos, posso sentir
isso e lhe dou um olhar de censura.
— Como é Las Vegas? — pergunto quando entramos na
BMW.
— Suja e brega com putas, bêbados e viciados em todos os
cantos.
— Parece bem divertida, nos filmes. — balbucio, mas é
meio óbvio porque é ficção.
— Nunca saiu de Chicago e Nova Iorque? — pergunta
curioso.
— Não. — respondo com decepção.
— E para onde gostaria de ir?
— Maldivas, — respondo sem pensar muito, — Lá parece
um sonho, calor, águas cristalinas. — por um instante me imaginei
tomando um sol.
— E você?
— Não sei, gosto de Nova Iorque.
— Seu pai me disse que não gosta de mudanças, não
pensei que fosse ao extremo.
— Quando ele te disse isso?
— Em nosso casamento.
Franco não diz nada e vai o resto do caminho em silêncio.
Adentramos a clínica, que Carlota me indicou durante uma
ligação na semana passada, e assim que a recepcionista nos
enxerga, ela pega o telefone, e com um sorriso forçado nos pede
para entrar na sala ao lado.
Franco anda atrás de mim, me guiando com uma mão as
minhas costas, e abre a porta sem nem bater. Doutora Villar, se
coloca em pé e nos saúda com aperto de mão, ela é loira, baixinha,
e tem o sorriso simpático.
Ela indica a cadeira para nos sentarmos, mas Franco fica
em pé encarando a mulher, tenho vontade de lhe dar uma
cotovelada para que controle a carranca.
— Como tem passado, Senhora Fiore? — questiona,
sentando e possivelmente abrindo minha ficha no computador.
— Bem. — balbucio.
— Bom, — diz simplesmente e me olha, — Temos
agendado um ultrassom, pode sentar na maca e puxar o vestido
para cima. Faremos na sua barriga.
Levanto-me e faço o que me foi pedido, Franco me observa
imóvel, a médica senta na cadeira ao meu lado, e a sala escurece
em seguida. Ela cospe algo gélido e transparente em minha barriga,
fazendo-me arrepiar. Estendo minha mão para Franco e vejo
hesitação em seus olhos. Será que isso é muita demonstração de
afeto em público?
Quando minha mão está caindo sobre a maca, ele anda na
minha direção, parando atrás da médica, que pega um equipamento
e desliza sobre minha barriga espalhando uma espécie de gel. Na
tela a sua frente, aparece um bebê todo formado, em tons
alaranjados. Vejo Franco relaxar enquanto observa o bebê com
atenção.
— O seu bebê está com... — ela clica em umas teclas e
adiciona, — Onze centímetros, e cento e dez gramas. Será um
bebezão. — diz tirando-me um riso.
O aparelho pressiona minha barriga exibindo o comprimento
da coluna, os pezinhos, até os dedinhos. É perfeito demais.
— Querem saber o sexo? — pergunta e meus olhos
encontram os de Franco. Sei o que todos esperam de mim, tanto a
Famiglia quanto à Outfit. Um filho homem, como se houvesse um
botão onde eu pudesse selecionar a opção.
— Só se quiser. — ele diz com um olhar complacente.
— Pode dizer. — falo, pois tenho absoluta certeza que vou
ficar com isso em meus pensamentos.
— É um menino. — A expressão de Franco se mantém
ilegível, mas sei que por dentro ele está dando saltos de alegria.
Sorrio. Uma parte de mim feliz por ele não ter que passar o
que eu passei e a outra mortificada, imaginando como será a vida
do meu filho, Rocco invade meus pensamentos por um momento,
ele não suportou, e fugiu...
Mexo a cabeça mandando embora os pensamentos
negativos, cansada de sofrer antecipado.
Deixamos o consultório da médica sem mais delongas, e
entramos na BMW. Franco permanece com a expressão congelada,
deixando-me irritada.
— Você não dirá nada? — pergunto com minha voz
carregada de decepção.
— Eu estou feliz. — afirma alisando a minha perna.
— Então porque não parece? Você não queria um menino?
— Não me importo com o sexo do bebê, Fiore. Se fosse
menina, seria tão perfeito quanto você.
— Então o que é? — quero saber, e o telefone de Franco
toca no painel do carro, é Dom.
Franco comprime seus lábios e desliga.
— Eu te disse uma vez que, fui criado para ser quem sou e
não me vejo fazendo outra coisa. A minha alma já está condenada
ao inferno, e eu aceito isso...
— Oh. — balbucio, deslizando uma perna sob sua coxa. —
Nosso filho não tem que ser como você.
— Nós homens também não temos escolhas, Fiorella. —
emite me partindo o coração. — Eu prometo a ti que serei um pai
melhor que o meu foi para mim, e que nosso filho terá honra de
verdade. — sua mão apalpa minha barriga com carinho.

Chegamos em casa, e não existe fita métrica para o meu


desanimo, a descoberta do sexo devia ser um momento de
felicidade, pelo menos para planejar o quartinho o enxoval inteiro,
ou imaginar como será o rostinho, não esse clima de luto.
Desço do carro, e vejo outro estacionado logo ao lado da
piscina, acredito que seja Ettore pelo modelo, Jaguar preto. Meu
estômago dói imaginando o que ele quer com Franco, quase
sempre que ele vem traz más notícias ou os dois saem resolver
alguma merda.
— Deu tudo certo lá? — Lazzaro pergunta diante da porta
ele está com uma expressão relaxa.
— É menino. — respondo e um largo sorriso se formar em
seu rosto.
Entro na casa e escuto o segurança parabenizando Franco.
Ando para a sala, e Ettore está em pé diante da entrada.
— Fiorella. — ele saúda com o semblante preocupado. —
Está tudo bem?
Dou-lhe um aceno de cabeça e um pequeno sorriso.
— É menino. — revelo.
— É menino. — escuto de trás do Consigliere, uma voz que
faz minhas pernas falhar.
Ettore sai da minha frente revelando Helena, minha amiga
caminha e me abraça com força espremendo minha barriga,
fazendo-a doer.
Afasto-me para ver o seu rosto, o seu corpo, ela está bem,
linda como sempre e intacta.
— Cristo, Helena, por onde você andou? — quero saber, e
vejo seus olhos ficarem sérios, olhando além de mim.
Viro-me e Franco está ao lado de Ettore, a expressão que
ambos se encaram, me faz pensar que vão se acatar no meio da
sala.
— Franco, Helena está aqui! — grito o óbvio, chamando a
atenção dos dois, — Você sabia? Sabia que haviam encontrado
ela? — pergunto eufórica, sentido o coração bater forte, ignorando a
tensão que vibra na sala.
— Não fui informado. — diz encarando Ettore. — Fico
contente que esteja bem e segura, Helena. — Franco, balbucia sem
expressão alguma, ou seja, a normal.
— Obrigada. — Helena fala tão baixo quanto ele.
— Ettore, uma palavrinha em meu escritório. — avisa dando
as costas para o homem, que lança um olhar discreto a minha
amiga.
Quando os dois saem da sala, me viro para Helena, que usa
um vestido cor de pêssego, que faz suas feições ficarem dóceis.
Seus cabelos pretos estão soltos e bem ondulados, e a face um
pouco rosada. Ela está maravilhosa, achei que quando a
encontrassem estaria maltrapilha e definhando.
— Por onde andou? — questiono e pego em sua mão para
nos sentarmos e meus dedos se enroscam em um anel. Puxo sua
mão até os meus olhos, e há uma aliança de noivado ao lado de um
anel de casamento, Helena tenta se desvencilhar de mim, mas eu a
seguro firme em minha mão.
— Que merda é essa? — pergunto analisando o grande
diamante.
Helena empalidece, parece que engoliu todas as palavras,
ela mexe a cabeça mecanicamente com os olhos azuis meio
arregalados.
— Ettore te deu isso? — meu cérebro parece que pifou.
— Não é o que parece. — sussurra se livrando das minhas
mãos.
— Me parece muito que você está casada. — sibilo entre
dentes em choque.
— O casamento é de mentira, e não posso dar mais
detalhes.
— Você pode e vai! — advirto. — Maldito, eu pedi para ele
encontrá-la não para usá-la de bote salva-vidas.
— Ettore não me usou. Se acalme, o seu marido já deve
estar comendo as vísceras dele lá dentro.
— Eu espero realmente que sim. — falo pasma. — Você
estará presa a ele para sempre Helena. — ela mexe a cabeça em
negação.
Cristo o que eu fiz? Enfiei Helena em um casamento
arranjado.
— É só até Edwina se casar depois... — ela sussurra e se
cala em seguida, olho por cima do ombro, os dois já voltaram para a
sala.
— Helena, vamos. — Ettore fala, fazendo o meu sangue
subir para a cabeça.
Levanto sem pensar, virando-me para o homem que eu
malditamente pedi ajuda, e quando avanço em sua direção com
olhar violento e as mãos em punhos para lhe dar um murro, Franco
me detém pelos ombros no meio do caminho.
— Ela é dele agora, para sempre. — olho para Helena, e
pavor cruza a face dela.
— Você pelo menos sente algo por Helena? — pergunto
pegando a todos de surpresa, a face de Ettore é insondável, mas
seus olhos o denunciam, deixando bem explicita sua resposta. Não.
Filho da puta ele só a comeu.
Tento me desvencilhar dos braços de Franco e nisso o seu
telefone começa a tocar no bolso do paletó, e ele me dá um olhar
antes de me soltar, com quem diz: não faça nenhuma merda.
— Fale Dom. — Franco diz ao telefone.
Afasto-me dele e ando até a minha amiga que está com os
braços cruzados em frente ao corpo, seus olhos estão em Ettore, se
eu pudesse arrancava as bolas dele, por tê-la usado dessa forma.
— Eu estou bem. — Hell balbucia segurando em seus
cotovelos.
— Riccardo morreu. — me viro para Franco, e vejo em sua
face uma máscara impenetrável.
Desço do carro com minha amiga, e somos acompanhadas
por Lazzaro, até o local do enterro, Franco não quis que eu fosse
noite passada para o velório, ele saiu com Ettore logo que soube da
noticia e me deixou sozinha com Helena. Eu ainda não o vi, mas
pela maneira que ele estava ontem desde que chegou de Las
Vegas, acredito que até o final da noite seu autocontrole esteja por
um fio.
A minha cabeça estava tão preocupada com ele que eu não
consegui pensar em mais nada, nem mesmo em interrogar Helena,
sobre como e quando ela foi encontrada, e o que levou ela a se
casar com Ettore.
Bem, agora tempo é o que não nos faltará.
Caminhamos entre as passagens das lápides em direção à
multidão de casacos pretos. Presumo que toda a dinastia está neste
cemitério para prestar condolências, e suponho que este foi um dos
motivos para que Franco não me quisesse perto tão cedo.
Franco se tornou Capo dei Capi, na hora que Riccardo deu
o último suspiro, e agora, mesmo no velório do seu pai, os abutres
de honra estão o analisando, esperando qualquer sinal de fraqueza.
Lembro-me do que Carlota disse quando Massimo se tornou
Capo e Riccardo o matou para tomar o seu título. Isso me apavora
um pouco, pois Franco tem muitos tios e primos que podem querer
o seu lugar, principalmente Domenico que guarda as suas costas ao
lado do caixão fechado.
Carlota, Edwina e Enrico e até mesmo Beatriz estão
próximos de Franco, mas tão pouco choram. O meu marido usa a
mesma expressão que me apavorava antes de nos casarmos: frio,
calculista, imponente.
Seus olhos encontram os meus, e ele indica com um olhar
para eu ir ao seu lado. Lazzaro segura o braço de Helena, contendo
minha amiga no lugar.
Ando até Franco e aliso o rostinho de Enrico com as mãos,
depois me viro para a multidão, há muitas pessoas, e metade julgo
que sejam seguranças.
— Daqui a pouco vamos para minha casa, haverá a
recepção com o buffet. — Carlota sussurra.
Assinto.
Olho para Franco pelo canto dos olhos, eu quero tocá-lo e
perguntar como está, no entanto não o faço. Eu nunca entendi o
relacionamento que ele tinha com Riccardo, mas independente de
qualquer coisa, era o seu pai e duvido que ele não esteja sentindo
nada.
Olho para frente e Helena está com Ettore e Lazzaro às
suas costas, minha amiga veste um dos meus vestidos pretos, e sua
expressão combina com o luto, os seus olhos encontram os meus
talvez pensando na merda que fez ao se casar com Ettore.
Riccardo morreu, e o casamento não iria seguir, visto que
Franco não queria casar a Edwina. Que ironia não? Quero rir, Ettore
se casou para fugir de um casamento e agora está preso a um de
mentira.
Permaneço rígida ao lado de Franco até que as pessoas
param de vir prestar pêsames.
— Vá com a Carlota, eu a vejo mais tarde. — diz
naturalmente e sinto os dedos da mulher se fecharem em volta do
meu antebraço.
— Vamos querida, enterro não é lugar para uma grávida. —
ela sussurra.
Encontro Lazzaro e Helena no caminho e voltamos para o
carro seguindo Carlota e seus filhos, nem mesmo Enrico ficou para
terminar de assistir a descida do caixão.
— Pensei que seu pai viria. — Helena comenta assim que
adentramos o carro.
— Se ele viesse não poderia levá-la de volta. — minha
amiga comprime os lábios, consternada.
— Como está, Sienna? Soube que foi visitá-la.
— Como você acha Helena, você desapareceu por um mês
e uma semana. — recordo-me que ainda nem avisamos ela.
— Ella, eu não poderia mesmo ficar na mansão para
sempre. Carlo casará Sienna uma hora, e eu não sou filha legítima
dele, Dona não ia querer uma mulher de quase vinte anos dividindo
o teto com o marido dela.
— Dona te fez alguma? — estreito os olhos.
— Céus, não! Mas é o que eu sinto.
Relaxo no banco e assisto por um momento, Lazzaro seguir
o carro da frente. Que semana bagunçada, reflito e vejo Hell deslizar
a cabeça pelo assento em direção ao meu ombro, sua mão desliza
para o meu ventre e me apalpa gentilmente.
— Um menino. — balbucia e seus olhos encontram os meus
dóceis. — Me conte o que aconteceu quando voltou para casa
naquela noite.
Pede e instantaneamente vejo os olhos de Lazzaro em mim
pelo retrovisor.
Mexo a cabeça mecanicamente, pois também não quero
lembrar.
— Brigamos. — Hell aceita a minha resposta rasa, porque
sabe que quero me aprofundar na história dela, mas não o faço,
agora não é o momento, apenas conto sobre o sangramento, e que
minha principal suspeita, resolveu fazer uma viagem de última hora.

Adentramos na mansão dos Fiore, e seguimos o rebanho de


ovelhas negras para a sala de recepção, onde ocorrerá o Buffet. A
sala está com uma grande mesa, com vários tipos de comidas
estendida ao longo dela. Meu estômago embrulha só de pensar em
pôr algo para dentro.
— Vamos dar uma volta. — Helena me puxa pelo pulso para
fora da sala e entramos em uma área externa, com vista para o
pátio de trás. — Como você está?
— Preocupada com Franco. — digo, pois é só nele que
consigo pensar.
— Não devia Ella. Franco já era temido antes, agora que
sua palavra é lei, ninguém se atreverá a fazer algo.
— Talvez hoje não, mas o perigo agora é iminente. — minha
amiga passa os braços à minha volta e me aperta com força.
Caminhamos pela mansão sem direção, ficar em movimento
me faz respirar com mais facilidade e até esquecer um pouco a
bagunça que está a minha cabeça. Lazzaro nos segue mais de
perto, e sua insegurança não me faz sentir mais segura.
Helena paralisa na entrada de uma sala, fazendo-me bater
contra o seu corpo.
— Aii, — gemo e saio de trás das costas dela, alisando
minha barriga.
— Vamos para outra sala. — avisa, pegando em meu pulso,
quando enxergo Verônica sentada em um sofá com o celular na
mão.
Os olhos da mulher se arregalam como se fossem saltar da
orbita, Verônica fica em pé, perdendo totalmente a cor do rosto, ela
dá um passo para o lado, como se quisesse fugir como um maldito
rato.
— Você não devia ter voltado. — minha voz sai branda,
dominada pelo autocontrole.
A mulher abre os lábios, mas não emite nenhum som, e
seus olhos revelam sua covardia. Adentro mais a sala com passos
firmes e o coração amortecido no peito.
— Pague ela. — aviso, Helena, que estreita os olhos, —
Agora! — Sibilo.
— Fiorella. — ouço Lazzaro atrás de mim, quando minha
amiga avança em direção a Verônica que corre até a outra saída. —
O que vai fazer?
— Acertar as contas. — aviso tirando o meu sobretudo e lhe
entregando. Lazzaro já está com o telefone na mão para ligar para
Franco. Independente do que meu marido disser, Veronica sangrará
hoje.
Vejo Lazzaro deixar a sala, e Helena trazer Verônica pelo
braço, a mulher tenta refrear os pés no chão, mas isso não impede
minha amiga de empurrá-la para frente em minha direção. Verônica
firma as pernas no salto parando a um braço de mim, e posso sentir
a tensão em seu corpo.
— Por quê? — pergunto, olhando em seus olhos, cobertos
por lágrimas ainda não derramadas.
— Franco era meu — exclama e as lágrimas rolam, — Eu
cuidei dele quando todos acharam que fosse morrer, fiquei ao seu
lado até se recuperar. E pra quê? — sua cabeça mexe em
negação. — Ele me esqueceu assim que se casou.
— Você quase matou o meu filho, que não tem culpa
alguma nessa história — digo, com a palma da mão coçando.
— Só queria que ele sofresse como me fez sofrer. —
expressa lamentosa e limpa a face vermelha.
— Fiorella. — Lazzaro está nas minhas costas.
— O que ele disse? — questiono, olhando por cima do
ombro.
— Pediu que não fizesse força. — informa e me estende sua
arma com um olhar apreensivo. Um riso abre em meus lábios,
impressionada, e vejo um lamurio escapar pela boca da Verônica.
Franco deixaria eu mesma matá-la, nossa, ele deve estar no
limite.
— Eu não posso fazer isso. — expresso, chocada, que tipo
de pessoa eu seria se tirasse a vida de alguém com um bebê em
meu ventre? — Me dê uma faca. — peço estendo a mão com a
palma virada para cima.
— Ella. — Helena balbucia e sua voz vibra a aflição.
— Tudo bem Hell. O sangue será pago com sangue, me
parece bem justo. — menciono olhado nos olhos da Verônica, e
fecho os dedos em volta do punhal que pesa em minha mão, as
lágrimas dela escorrem e não me comove nenhum pouco.
— Segure, ela. — aviso ao segurança, sua expressão é
inconcebível.
Engraçado os homens, eles matam a sangue frio e quando
enxergam uma mulher armada, parece que somos bruxas de Salém.
— Lazzaro, por favor, não faça isso. — ela implora com as
mãos fechadas em frente ao corpo, para ele não tocá-la, mas
Lazzaro a segura por trás com firmeza. Observo a face da Verônica,
suas narinas estão dilatadas e fúria estampa o seu semblante.
— Você já o tem, — ela grita, — O que mais você quer?
— A sua cabeça. — respondo só pelo fato dela não
demonstrar um pingo de remorso, — Mas vou me contentar com
seus dedos.
O mesmo terror que vi em James, está esculpido na face da
mulher.
— Qual mão? — Lazzaro pergunta alto, sobre o choro da
Verônica, dou de ombros e ele estende a esquerda em cima da
mesa de centro.
Agacho-me para poder encará-la.
— Isso não é por Franco, Verônica, que tipo de mãe eu seria
se ignorasse o que você fez? Não espero que me entenda, mas
você faria o mesmo se estivesse no meu lugar. — digo as suas
palavras de semanas atrás, e seu semblante mostra
reconhecimento.
Os olhos de Lazzaro encontram os meus breves e desviam
quando me vê erguer a faca, e sem hesitar deslizo em um golpe
firme sobre os dedos da mulher. O grito dela oscilou em meu corpo,
como uma corrente elétrica.
Soltei a faca na mesa evitando olhar para os seus dedos,
não preciso dessa imagem na minha cabeça. Fico em pé e assopro
uma mexa do meu cabelo para trás, nessa hora vejo Edwina na
porta, mais branca que um osso.
— Gostaria de dizer algo? — pergunto, vendo o segurança
sair de cima da Verônica que abraça os cotocos coberto por sangue,
contra o peito e chora incessantemente.
— Não. — ela balbucia, parece que está mais abatida pela
amiga, do que com a própria morte do pai.
— Pode levá-la, mas os dedos ficam. — Edwina me lança
um olhar resignado e ajuda sua amiga a sair do chão.
Sento-me no sofá onde Verônica estava e Helena faz o
mesmo, me puxando para seus braços. Em silêncio vimos Lazzaro
pegar um pedaço de jornal e juntar os dedos da mulher, meu
estômago embrulha com força, e me vejo na urgência para tomar
um banho.

Voltamos para minha casa em seguida, assim que cheguei


fui direto para o banho sentindo o corpo tremer. A adrenalina que
tive na hora que cortei os dedos da Verônica foi embora, e agora o
que pesa é só a consciência. Nunca desejei ser uma pessoa má, sei
que a minha forma de lidar com a situação pode soar errado para
algumas pessoas, mas infelizmente é eficiente.
Suspiro, deitada no sofá vendo Helena caminhar de um lado
para o outro na sala, falando ao telefone com Sienna, e relatando
minuciosamente os detalhes da sua fuga, que me deu instantes
atrás, fiquei petrificada e triste por ela ter passado um perrengue
dos infernos e feliz que agora ela está aqui comigo. Minha amiga
apesar de tudo parece bem animada, será que ela ainda não se deu
conta que nunca mais terá uma vida normal?
Ficará presa ao Consigliere para sempre, e pensando no
diabo o próprio entra na sala, fazendo Helena encerrar a chamada.
— Onde está Franco? — quero saber, e segundos depois
meu marido surge de trás do Ettore. Levanto-me sentindo um alívio
no peito.
O abraço pela cintura, ignorando a presença dos dois,
Franco relaxa instantemente e passa seus braços a minha volta, seu
nariz invade meus cabelos, inalando o meu cheiro.
— Já estamos indo. — Ettore avisa, fazendo-me enrijecer.
— Franco. — balbucio, e recebo um olhar de repreensão
dele, olho para Helena, ela me dá um sorriso que tenta me mostrar
que está tudo bem e caminha para fora da sala com Ettore.
— Não me peça para separá-los. — comenta pondo meus
cabelos para trás da orelha. — Os dois merecem isso por tramar as
minhas costas.
— Ele não a fará feliz, é um casamento de mentira.
— Helena se casou por vontade própria. — retruca, — E se
ela for esperta como você, — diz com um risinho, — Ettore caíra de
quatro por ela.
Quero esconder um riso, mas não consigo, Franco me pega
nos braços, com firmeza.
— Lazzaro me contou o que aconteceu. Quer conversar? —
pergunta me olhando com atenção e nos levando para o andar
superior.
Mexo a cabeça em negação.
— Não há o que dizer, só que ela não colocará mais os
dedos em nosso casamento. — ele ri alto e eu amo o som da sua
risada.
— Sabia que você era a esposa certa para mim. — declara.
— Por que competimos com a loucura? — quero saber.
— Porque você é minha igual. — diz com persuasão, e me
põe na cama.
Cruzo as pernas e me sento nos calcanhares, enquanto o
vejo remover o paletó, o colete e por o coldre. Franco estala o
pescoço com força, e depois tira a camisa, sentando-se no recamier.
Deslizo as mãos por seus ombros, que estão quentes e
tensos.
— Você está bem com a morte do seu pai? — pergunto,
pois a máscara que ele usava mais cedo sumiu, e sua face está
suave.
— Ele já estava morto, Fiore. — aperto meus lábios
pesarosa.
— E como a Famiglia está reagindo? — pergunto, pondo
meu queixo na curva do seu pescoço e Franco arrepia com minha
respiração gélida. Seus olhos encontram os meus de soslaio.
— Metade já estava ciente que meu pai não comandava
mais nada, e a outra terá que me aceitar, visto que reforcei o
juramento para me legitimar Capo dei Capi. — explica naturalmente.
Franco se vira para mim, e me puxa para o seu colo.
— Nada mudará dentro da nossa casa, não tem com o que
se preocupar. Você e o nosso filho serão a minha prioridade sempre.
— ele sussurra, como se fosse algo que não devia ser dito, e suas
mãos deslizam para o meu ventre amorosamente, encaro Franco
com um sorriso leve e juntos sentimos o primeiro chute do bebê.
— Você sentiu isso? — pergunta, impressionado, sorrio e
assinto tão emocionada quanto ele.
Franco me deita na cama, e sobe minha blusa até a altura
dos seios, suas mãos ocupam toda a minha barriga, ele aproxima os
lábios do meu ventre e deposita um beijo, depois murmura algo
inaudível para meus ouvidos.
— O que está fofocando aí? — ergo a cabeça e arqueio a
sobrancelha.
Franco engatinha até mim, abrindo minhas pernas com as
suas, e se enfiando entre elas. Ele desce se apoiando nos braços e
com o seu nariz quase encostando ao meu, expressa com uma voz
devassa:
— Disse que agora a mamãe fará a posição do Gato
Arrepiado pro papai. — Não sei se eu rio ou bato em Franco.
Então faço os dois, mas sou presa por suas mãos, que
seguram meus braços acima da cabeça, o meu marido desce os
centímetros que faltam para sua boca encostar na minha e me beija
sem piedade.

04 MESES DEPOIS | SETEMBRO


Volto para o quarto parecendo um zumbi, não tenho ideia de
quantas vezes acordei essa noite, e pelos vãos das cortinas
percebo que está quase amanhecendo. Dou um grande bocejo e me
deito na cama novamente, quando me viro encontro Franco com os
olhos bem abertos.
— Eu disse que posso cuidar do Stef durante a noite. —
avisa com um olhar preocupado me puxando para seus braços.
— E dará os seus peitos para ele mamar? — pergunto sem
conter um risinho. — Nádia estava com ele, mas se Stef tem fome o
que eu posso fazer?
Franco enruga os lábios, nada contente com a minha
resposta e sem argumento.
— Você está se preocupando demais. — falo, me virando
para Franco e deslizando uma mão por sua face, sua barba está
grande e macia.
Seus olhos azuis intensos me observam com atenção,
posso adivinhar no que ele está pensando: no dia do parto.
Stefano nasceu há exatos quarenta dias. Estava com oito
meses e alguns dias, e minha pressão parecia uma panela de
pressão prestes a explodir na minha cabeça além das complicações
que o misoprostol causou. Mas no fim deu tudo certo, Stef mesmo
nascendo antes do tempo já tinha o tamanho de um bebê de nove
meses, com os cabelos da cor de carvão, mas que parecem com
plumas. Os olhos claros, mas ainda indefinidos e uma carranca
igualzinha à de Franco. Sorrio, fazendo Franco estreitar os olhos.
— O que foi? — quer saber.
— Nada. — falo descendo a mão para o seu corpo quente e
nu, — A quarentena acabou, e seu pintinho já pode voltar a nadar
em águas profundas. — aviso sentindo cada gominho do seu tórax
se tencionar. Meu dedo indicador desliza para a extremidade da sua
cueca e puxa o elástico, fazendo estalar contra a sua pele.
— Não brinque comigo, Fiorella. — adverte, mas seus olhos
brilham a luxúria.
— Eu sei que estou um trapo, mas sinto sua falta —
confesso pegando em seu pau por cima da cueca e sentindo-o
crescer e pulsar na minha mão, mostrando que o sentimento é
mútuo.
Franco permanece em silêncio fitando-me com o seu olhar
intenso. Se inclina vagarosamente e prendo a respiração quando ele
deixa um beijo de lábios abertos no meu pescoço e mordisca minha
pele deixando-a sensível, em seguida sinto sua língua quente
acalmar o lugar em que seus dentes cravaram. Gemo adorando a
sensação que ele provoca apenas com seus lábios.
— Minha… — rosna, com uma voz profunda retirando minha
camisola e calcinha, deixando-me nua, exposta para o seu deleite.
Ele se abaixa distribuindo beijos em cada centímetro da
minha pele, contorço-me ansiando que ele chegue logo em um lugar
que está pulsando ardentemente, e como se lesse os meus
pensamentos sinto sua barba densa roçar o lado interno das minhas
coxas. Ergo o olhar e o flagro com um sorriso devasso nos lábios e
os olhos envelopados de prazer e luxúria.
— Fiore… Esperei muito para prová-la novamente —
Sussurra, esfregando minha fenda encontrando-a completamente
molhada.
Seus olhos brilham e ele sorri parecendo satisfeito.
— Foi o que pensei… Já está molhada para mim, mas não
importa, primeiro a farei gozar na minha boca, e depois irei fodê-la
até estarmos totalmente saciados.
Com um rosnado do vindo do fundo da garganta ele
abocanha meu sexo. Arqueio minhas costas no colchão. Franco mal
começou a sua tortura e já sinto ondas de prazer invadir o meu
corpo.
Tem sido longos dias sem sentir o calor do seu corpo no
meu. Fecho os olhos e jogo a cabeça para trás, puxando o lençol,
delirando e caindo na vórtice que sua boca deliciosa provoca em
mim.
Franco suga meu clitóris com voracidade, deslizando contra
minhas dobras molhadas, tornando-as mais úmidas.
Aquela sensação deliciosa começa a se formar e ele
percebe, pois desacelera seus golpes me levando a borda do
precipício.
— Franco… — choramingo seu nome, silenciosamente
implorando para me fazer chegar a minha libertação.
Sinto o seu sorriso e dois dedos são empurrados para
dentro de mim.
— Oh, Deus! — grito.
Arqueio, empurrando meu quadril para a sua boca.
Ele se afasta, observando o meu rosto.
— Adoro foder essa boceta apertada, querida e
principalmente, adoro ver quão linda fica quando está prestes a
gozar — Murmura batendo seus dedos duros em mim, me fazendo
arfar e me tornar uma bagunça.
E um grito se perde em minha garganta quando o primeiro
espasmo alcança-me e tudo à minha volta se torna um borrão.
Seus lábios me tomam, em um beijo urgente calando todos
os meus gemidos e murmúrios de prazer.
Quando nos afastamos, a luxúria ainda ferve entre nós e ao
julgar como seu pau pulsa furiosamente contra o tecido fino da sua
boxer, meu delicioso marido já está no limiar do limite.
Sorrio sensualmente e passo minhas unhas sobre seu peito
trabalhado o empurrando gentilmente contra a cama, prontamente
libertando-o da única peça que me impede de tê-lo.
O pego em minhas mãos e Franco suspira audivelmente,
com sua mandíbula cerrada enquanto o guio diretamente em minha
entrada.
Com os olhos cravados no seu, desço sobre ele lentamente.
Suas mãos poderosas seguram cada bochecha da minha
bunda, apertando-as.
Gememos em uníssono.
Quando já estou totalmente empalada por ele, começo a me
mover, lento, e fundo, o levando a loucura como todas as vezes ele
faz comigo.
— Isso… mostre-me quem está no comando… — rosna,
cravando ainda mais seus dedos em minha pele, começando a ditar
o nosso ritmo.
Minhas coxas se apertam em cada lado e isso parece
enlouquecê-lo.
— Fiorella, sua boceta está me apertando tão
deliciosamente que irei explodir.
Ele agarra minha nuca e levanta o quadril, encontrando os
meus golpes.
O jeito que ele me olha é intenso, carnal e erótico que não
demora muito para me ter completamente enlouquecida, gritando o
seu nome. Franco mantém o seu aperto, intensificando ainda mais e
quando fecha os olhos e solta uma respiração ruidosa, sinto seu
líquido quente explodir dentro de mim, provocando uma avalanche
prazerosa, me fazendo chegar no meu segundo orgasmo.
Caio exausta e suada, sobre o seu peito e os seus braços
deslizam para minha coluna fazendo longas carícias, o silêncio se
propaga e estou a cair no sono quando Stefano começa a chorar.
Franco estende a mão para a babá eletrônica e a silencia,
mas o chorinho do meu bebê, eu consigo escutar mesmo com a
porta do nosso quarto fechada.
Sento-me no automático, ele me coloca na cama puxando a
sua cueca ao lado.
— Eu vou lá, não deve ser fome, — diz entrando no
banheiro para se lavar, e Stef continua a chorar inconsolável, olho
pela tela da babá eletrônica e Nádia começa a embalar o berço
gentilmente.
Eu devia estar fazendo isso.
Quando meus pés alcançam o chão, Franco volta para o
quarto e me dá um olhar de advertência.
— Fique na cama. — diz e soa como uma ordem, fazendo-
me arquear uma sobrancelha. — Estou falando sério, hoje é seu
aniversário, eu quero você descansada pra mais tarde.
Oh céus é o meu aniversário! E provavelmente passaria
despercebido, Stefano tem ocupado todo o meu tempo, que às
vezes nem sei quando é noite ou dia, pois o sono dele é totalmente
desregulado.
Deito-me na cama e vejo Franco puxar sua calça do
recamier, ele começa a vesti-la com seus olhos nos meus.
— Descanse, se ele ficar com fome o trago. — avisa e deixo
o quarto fechando a porta atrás de si.
Aconchego-me na cama novamente, e me cubro sentindo os
músculos do corpo e a mente, exigindo descanso. Pego a babá
eletrônica a tempo de ver Nádia deixar o quartinho de Stef. Franco
se aproxima do berço, e apanha nosso filho, ele se vira para câmera
do quarto e mostra Stef que quase desaparece em seus braços.
Franco me dá uma piscada, pois sabe que estou de vigia. Ele tem
se esforçado muito ultimamente para estar presente tanto para nós
quanto para Famiglia, que devia ser sua prioridade, na visão dos
Homens de Honra.
Depois que se tornou o Chefe, tivemos algumas mudanças,
mais guarda-costas principalmente depois que o Stef nasceu.
Domenico tem feito mais visitas, e como Carlota mesmo disse, ele
sabe o seu lugar. Eu lamento de verdade que teve que perder sua
orelha por nossa culpa, mas aquela desavença nunca o fez ser
desrespeitoso comigo. Também, seria estupidez.
Vejo Franco sentar na cadeira de balanço com meus olhos
pesando e na primeira embalada dele, sinto meus olhos se
fecharem vagarosamente, e sou levada pelo cansaço.
Acordo sentindo uma fisgada no peito, e quando abro os
olhos Stef está agarrado em meu seio, enquanto sua mãozinha
incontrolável bate no outro, e Franco sentado na extremidade da
cama mexendo no telefone. Ele me olha com um riso e encolhe os
ombros, como quem diz: está alimentado, não está?!
Em seguida Franco me mostra o telefone e na tela há
exatamente uma foto minha de instantes atrás, com os dois peitos
amostra e Stef na luta para abocanhar um.
— Você vai apagar isso. — aviso puxando o lençol e
cobrindo até a nuca do bebê.
Franco mexe a cabeça mecanicamente com um risinho no
canto dos lábios.
— Tudo que eu amo em uma foto — comprimindo os lábios,
— Nem pensar. — adiciona, guardando o telefone no bolso.
Suspiro e mexo a cabeça em negação, Deus queira que
ninguém hackeie esse celular.
— Tome um banho e desça. — Franco avisa ficando em pé.
— Está muito mandão hoje. — digo inconformada, é meu
aniversário quero mimos, não ordens.
— Estaremos lá embaixo esperando por você. — Franco
diz, pegando Stef que veste um macacão muito fofo, vermelho com
colete xadrez preto e branco, dou uma cheirada no cangote dele
antes de soltá-lo por fim.
Olho as horas no rádio relógio e, caralho, já está beirando
ao meio dia. Ah que delícia poder dormir, sem preocupação, quando
Franco está em casa parece que tudo está no seu lugar.
Entro no banho, e gemo quando a água quente escorre pelo
meu corpo, aliso a minha barriga sentindo a fina marquinha da
cesariana. Faz alguns dias e ainda é estranho não ter mais aquele
barrigão que me impedia até de enxergar os pés. Rio, mas não sinto
falta, Stef já estava grande demais, a sensação era que eu iria
literalmente explodir a qualquer momento.
Termino o meu banho, e deslizo em um vestido laranja floral,
de alcinhas finas e decote reto, já estamos quase no fim do verão e
eu amo esse clima.
Seco meus cabelos rapidamente, e tomo o meu
anticoncepcional antes de descer. Eu amo Stef, mas disse ao
Franco antes de deixarmos a maternidade que não quero ter mais
filhos. Não serei usada como uma máquina reprodutora para que a
Famiglia possa fechar mais acordos futuramente. Ele não objetou e
eu aceitei isso como um sim.
Chego ao corredor sentindo o cheiro de comida, e o meu
estômago desperta dentro de mim, quando alcanço as escadas
enxergo os longos cabelos de Helena debruçada sobre o sofá, com
certeza mimando o bebê.
Ela percebe minha presença e se vira para mim, com um
sorriso doce.
— Até que enfim a aniversariante acordou. — repreende me
dando um abraço e quando olho além da minha amiga, enxergo
Sienna sentada no sofá, meu queixo cai surpresa.
— Oh... Meu Deus você está aqui. — expresso, e me
aproximo dela.
— É seu aniversário, Franco pediu ao papai que eu viesse.
— ela dá uma piscadinha. — E eu estava muito ansiosa para
conhecer essa fofura. — diz cheirando a cabecinha de Stefano.
— Por que não me disse que viria? — pergunto, dando um
beijo nela.
— Porque não seria surpresa. — Franco avisa atrás de mim,
com Ettore ao seu lado. Dou um largo sorriso que me dói às
bochechas, e recebo os parabéns do Consigliere.
— O almoço está na mesa. — Elói anuncia da entrada da
sala, nisso Stef começa a chorar, devo ser uma péssima mãe, pois
acho adorável o seu chorinho.
— Vou roubá-lo para mim. — Sienna diz, trazendo o meu
filho.
— Já não tem a Mady para chorar nos seus ouvidos? —
pergunto retoricamente, já que Dona teve a bebê recentemente.
Minha irmã assente com um sorriso, mas o seu olhar arregalado
mostra o quanto Dona está sofrendo.
Assim que pego o bebê o choro cessa, e vejo Franco fazer
uma carranca.
— O que você tem que eu não tenho? — quer saber me
puxando pela cintura, com o bebê entre nós.
— Peitos. — Ettore responde antes que eu pudesse
formular uma resposta, arrancando risos das meninas que se
encaminham para a cozinha.
— Errado ele não está. — Franco emite, com um risinho, ele
parece incrivelmente relaxado.
Solto Stef no berço móvel no meio da sala e coloco para
rodar o móbile de macaquinhos.
Franco aguarda as minhas costas, me viro para ele e o
abraço pela cintura, ganhando um beijo no topo da cabeça.
— Obrigada. — sussurro, encontrando o seu olhar, sua
cabeça mexe levemente em negação.
— Isso é o mínimo, — fala, pondo o meu cabelo atrás da
orelha, e seu polegar desliza pela pequena cicatriz do tiro que recebi
após o dia do nosso casamento.
O olhar de Franco encontra o meu suavemente.
— Obrigado, por não desistir de nós, só Deus sabe o quanto
eu merecia aquele tiro, aqui no meio desta sala.
— Eu posso resolver isso. — aviso com um riso e vejo
Franco me dar outro.
— Nunca pensei que desejaria tanto uma esposa mafiosa.
— e com essas palavras ele me beija, tão intensamente como na
primeira vez, naquele altar, como se eu fosse ar e ele estivesse
sufocando.
Olhando para trás, jamais supus que seria feliz aqui, e
depois de todo o terror vivido, não me vejo em outro lugar, que não
seja nos braços do meu mafioso possessivo.
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