SERVICO DE ESTUDO DAS GRANDES ENDEMIAS ‘Superintendente: Dr. E. Chagas (Trabalho da Comissio de Estudos de Patologia Experimental do Nordeste) Diretor da Comissio: Prof. Aggeu Magalhies Estudos sobre a Esquistosomose em Pernambuco, Brasil * pelos a Coutinho © Profs. Aggeu Magalhaes, Bez Drs, Lourinaldo Gouyéa, Durval Lucena e Luiz Ignacio (Com 15 grificos no texto e 29 estampas) PARTE I 1 — Investigacdes em torno da epidemiologia da esquistosomose mansonica em Pontesinha e Vitoria, estado de Pernambuco, Brasil. PARTE IL Il — Estudos histopatologicos sobre casos de infestagito pelo Schis- fosoma mansoni, PARTE II Ill — Esplenopatia na esquistosomose. * Recebido para publicagio a 13 de Fevereiro de 1940 e dado & publicidade em Junho de 1940. 205,206 Memorias do Instituto Oswaldo Cru: 35, (1) INTRODUCAO Pelo Prof. Aggen Magalhies A existencia da Esquistosomos de Manson, em Pernambuco, 4 parte as inyestigagées iniciais de Lutz e Penna, em 1918, passou a ser objeto de estudo sistematico, somente a partir do ano de 1933, quando a Cadeira de Anatomia patologica da nossa Faculdade de Medicina, recebendo do governo esladoal o encargo de apurar cicnlificamente a causa de todos 0s Gbitos ocorridos sem assistencia medica, na cidade do Recife, realizou as primeiras verificagées de lesdes determinadas pela localizagio do ovo do esquistosoma, em diversas visceras dos cadaveres autopsiados Nos Anais da Faculdade de Medicina, volume I, ano 1934, publi- cava-se, pela primeira vez, no Recife, um trabalho sobre esquistosomose, realisado pelo entio assistente da cadeira de Anatomia patologica, Be- zerra Coutinho, trabalho em o qual eram descritas e comentadas as les6es viscerais devidas ao esquistosoma, encontradas em vinle © tres cadayeres autopsiados no Servico de Verificacto de Obitos, a cargo da mesma Cadeira. Nesse mesmo ano, Meira Lins e Fernando Wanderley, apresentaram 4 Sociedade de Medicina, uma comunicacio abrangendo a observacdo de vinte © sete casos de esquistosomose passados pelo Hos- pital Infantil «Manoel de Almeida », quatro desses casos, tendo sido au- lopsiados pelo Servico da Cadeira de Anatomia patologica. Outros tra- balhos, foram sucessivamente publicados, tais.como: 0 de Bezerra Cou- linho, constituindo uma tése para a docencia livre da Cadeira de Pato- logia Geral, e abordando com documentacio do material da mesma Cadeira, a questio da agio cancerigena do Esquistosoma mansoni; 0 do Lauro Gama, assinalando, num dos numeros da Revista Academica do ano de 1936, todos os casos alé enlio existentes nos arquivos da Cadeira de Anatomia patologica e abordando © papel do Esquistosoma na etio- logia da cirrose hepatica; 0 de Aggeu Magalhaes, no livro de Estudos Pernambucanos dedicado a Ulisses Pernambucano em 1937, tazendo uma revisio do assunto e assinalando o que alé aquela data se havia re- trado sobre 0 mesmo, neste Estado, Em Novembro de 1938, 0 Dr. Evandro Chagas, chefe do Servica de Estudos das Grandes Endemias, subordinado 20 Instituto Oswaldo uz, veio a Pernambuco realisar um inquerito sobre esquistosomose, percorrendo grande parte do Estado e colhendo dados ¢ informagées que vieram confirmar a enorme difusio da doenca (O Hospital — vol. 14, n° 16, 1938). Interessando de perto © assunto ao Servico que dirige, 0 Dr, Evan=Jun., 1940 Coutinho, Gouvéae Lucena: Esquistosomose em Pernamb.° 207 dro Chagas, entrou em entendimento com o Prof, Agamennon Magalhies, Interventor Federal, no sentido de. colaborar 0 governo local na reali- sagiio de um plano de estudos sobre a Esquistosomose, no Estado, ¢ do qual resultasse © conhecimento das areas de maior endemicidade, — da biologia do yerme e do seu hospedeiro intermediario, da epidemiologia, enfim, da verminose, com as consequentes dedugdes para sua profilaxia ‘ambem interessou-se pessoalmente, por essa colaboragio, 0 Prof Cardoso Fontes, diretor do Instituto Oswaldo Cruz, que aqui esteve quando em viagem de inspecdo aos seryigos de Estudos das Grandes Endemias, no norte do Paiz. Obtida a colaboracio por parte do governo estadual, constituiu- se uma Comissio de Estudos, sob os auspicios do Servico de Estudos das Grandes Endemias, referindo-se este Relatorio aos trabalhos que essa mesma Comissio realisou sobre 0 assunto, do més de Novembro de 1938 ao més de Dezembro de 1939, No relato desses trabalhos, limila-se a Comissiio a expor as suas verificagdes no que diz respeito 4 epidemiologia, 4 Anatomia patologic: e a alguns aspélos clinicos da doenga, sem deler-se em comentar mais largos, nem em discussde estudos deverfio proseguir ainda, e, somente com a conc! mos, julgara oportuno disculir todas as verificacdes, e, principalmente analisa-las em relacio a0 que se tem verificado sobre o assunto, no grande dos n&o sé no Paiz como no Estrangeino, , mem em conclusdes, de vés que seus iso. dos_ mes numero de trabalhos jf publi I~ INVE EM TORNO DA EPIDEMIOLOGIA DA ESQUIS: ‘TOSOMOSE MANSONICA EM PONTESINHA E VICTORIA, ESTADO DE PERNAMBUCO, BRASIL. Pelos Prof. Bezerra Coutinho e Drs. Lourinaldo Gouvea e Durval Lucena © povoado de Pontezinha acha-se localizado & margem esquerda do rio Jaboatio, pouco antes da confluencia deste com 0 rio Pirapama, com © qual constitue um estuario comum. A povoag de cinco quilometros e meio do mar, esti construida em terreno vl arenoso, da formagio da restinga, com excecdo de algumas construgde icam sobre pequenos comoros argilosos da « formacio das barreiras a, Rosa, e 0 Alto do Guaxinim. io disla cer que © Allo do Chalé, 0 Alto de $208 Memorias do Instituto Oswaldo Cruz 33, (1) My charco de agua Satebra (mangues) oH ML Chaney de agua ae doce (mani $i) PONTEZINHA erteinn ge = Estratn ae femne® HS oe 21 4 30% FL beima ae 31% 20 Charees datnades wm Sec Wp art ROM Planta gees ne Paes neta Grifico 16 Jun., 1940 Coutinho, Gouvéae Lucena: Esquistosomose em Pernamb.2 209 A formagio da restinga é limilada a leste pelo mar. Neste ponto 6 formada pelo cordio de dunas baixas que se dirige de Boa Viagem, na orientagio geral de S. 0. até Barra de Jangadas, onde o liloral é in- lerrompido pela foz do estuario comum dos rios Jaboalao e Pirapama A oeste, o limite da restinga é dado pela linha de elevagdes, ora mais ximas, ora mais afastadas da costa, perlencentes & formacio terciai «das barreiras >, no local representadas pelos diversos montes Guara- rapes, a0 norte, ¢ pelas pequenas ¢levacdes referidas, — Allo do Chal etc, — ao sul. Por detraz do cordio de dunas, estende-se a zona baixa alagada, denominada Curcuranas. A formacio da restinga 6 muito recente, faz parte de um processo ainda em evolucio, sendo os atuais baixios e lagoas das Curcuranas restos de uma laguna bastante extensa, nfo mais antiga que a formagio dos recifes, que ocupaya todo espaco: compreendiilo entre as elevacdes da « formagao das barreiras », e 0 pon- tal, hoje mareado pela linha de praias, — Boa Viagem, Piedade, Candeias, Simao Pinto e Barra de Jangadas. O fechamento da laguna poude-se fazer facilmente, ao norte, 4s cuslas dos sedimentos carregados pelo Capiberibe, dando origem 4s planicies de Ibura; e ao sul pela vas dos rios Jaboatio e Pirapama, de modo que as comunicagdes da laguna com o mar foram se fazendo progressivamente cada vés mais dificeis, alé © isolamento completo. Posteriormente a esta fase, comegou o entulha mento progressivo da lag6a, no que contribuiram a areia levada pelo vento a partir das dunas do litoral, e 0 material proveniente da erosiio dos montes proximos, ao mesmo tempo que se processava o dessallga- mento da lagda. O resultado desta série de processos, foi transformar a primitiva laguna na atual planicie das Curcuranas, earacterizada pelo seu baixo nivel, e pelos charcos isolados durante o estio, mas reunidos em uma s6 massa dagua durante a estago chuvosa. As escayaces que os servigos federais de profilaxia anti-malarica empreenderam nesta zona, permitem apreciar a estralificacio dos deposilos deixados por cada uma dessas fases da evolucio da laguna. Superficialmente encontra-se_areia frouxa, alternando com camadas argilosas. Logo abaixo sucede uma camada earacterizada por argila de mistura com numerosas agulhas de espongiarios e algumas carapacas de diatomaceas dagua doce, novamente camadas argilosas ¢ arenosas, alé que se atinge um leito espesso de restos de moluscos, — gasteropodos ¢ lamelibranquios, — de especies muito comuns, que vivem em grande quantidade nos mangues visinhos de Re- cife. Por baixo deste leito de restos de agua salobra, encontra-se de novo areia de grossura variavel. Hoje em dia, mereé do alerro progressivo, a baixada das Gureuranas 6 uma superficie deprimida, cujo centro é ocupado pelo sistema de lagéas pro-210 Memorias do Instituto Oswaldo C € charcos onde cresee 0 juncal muito denso conhecido pelo nome de « ma- nibit». A superficie que permanece seca, é inclinada suavemente para © manibti, ¢ é arborizada principalmente por mangabei cajueiro (Anacardium occidentale), mangueira (Mangifera indica), co- queiro (Cocos nucifera), dendé (Elais guincensis), ¢ com vegelactio her- bacea muito rica, mas sempre xerofila ¢ psamofila, salvo nas imediacdes de agua. Os labores agri¢olas concentram-se bem na orla do manibti Consistem principalmente em plantacio de mandioca (Manihot ulilissima), maeaxcira (Man. aipi), araruta (Maranta arundinacea), balala doce (Ipomoea batatas), que sio feilas sempre na parte mais alla de monli- culos de terra dispostos para este fim, circulares ou alongados, ¢ de altura tal que as parles aereas das plantas permanecam sempre 6 dagua quando esta invade as rocas, pelo aumento do nivel das manibit (figs. 1, 2, 3, 4 e 5) © manibit é antes de tudo, um juncal denso. As superficies de aguas livres so raras em toda a area das Curcuranas, elas ocorrem no meio dos chareos, onde puderam ser atingidas facilmente pelo serv de drenagem, raramente nas margens dos charcos, mas todas apresentam © mesmo aspecto (figs. 2, 4 ¢ 5) caracterizada pela presenga de nin- Teaceas com as largas folhas nalantes. Durante 0 periodo eslival, so- mente no manibit se encontra agua livre, mas com as chuvas, sobretudp hos méses de Margo a Agosto, 0 nivel das aguas sobe consideravelmente, invade a campina em torno e se esgueira por entre os monticnlos das plantagées (figs. 6 e 7), cobrindo uma extensio consideravel, ¢ perma- necendo assim durante toda a eslacio chuvosa e inicio do estio. Esta agua 6 de cér muito carregada, devido 0 humus em dissolucio, e con- Tere 4 terra, embora arenosa, uma fertilidade muito grande, 0 que deter- mina a localizagio das plantacgdes nas zonas inundaveis, isto é, na orla dos chareos. Com esta agua, difundem-se, pela terra aproveitada na agricultura, 0s animais do manibi. Assim podemos fazer abundantes capluras de Planorbis olivaceus, com grande facilidade, no terreno trabalhado, por entre os monticulos das plantacées, emquanto que a pesquisa no manibi propriamente foi sempre de resultados precarios, devido 4 dificuldade de apanhar os moluscos no emaranhado inextricavel de juncos. Esta difusio periodica de caramujos que albergam a fase larval do Sch. mansoni, coloca-os nas proximidades do homem durante um periodo de alguns méses, 0 necessario para que o ciclo do trematodio se processe ¢ asse- gure a infestagio dos que, levados pelo trabalho, se poem em contacto com eles, A’ parte a atividade agricola, 0 manibi repre: 1 (Hancornia sp.), aguas do senta um centro deJun., 1940 Coutinho, Gouvéa e Lucena: Esquistosomose em Pernamb.© 211 atracio para o homem pelos produtos vegelais ¢ animais que fornece junco para csteiras, para vassouras e a obra de cestaria; produlos ali- mentares; camardes, peis ‘amujos comestiveis do genero Ampullaria; caca de marrecos ¢ outras ayes que periodicamente fazem pouso li. Com excegio da eaca, recurso ocasional, a significacio economica do manibit 6 bastante apreciavel, ¢ existe um pequeno comercio de camardes, prin- cipalmente, na povoacio de Pontezinha, onde reside a maioria das pes- séas que trabalham nas Curcuranas Os planorbis encontrados em Pontezinha, onde foram pela primeira vés assinalados por um de nés em 1938 (1) diferem dos encontrados nas outras zonas do Estado pelo tamanho que alingem 03 exemplares maiores, a0 contrario das investigagdes ante s de Lutz ), que s6- mente puderam achar, nas zonas que percorreram, caramujos menores, do tipo que determinaram como sendo uma outra especie — Planorbis centimetralis. Os exemplares por nés colhidos, variam desde 0 lamanho menor de 4 milimetros, até as conchas grandes de 30 milimetros de dia- metro, © que, segundo Lutz, é suficiente para permilir cla sendo da especie olivaceus, Spix (3). Estes caramujos foram sempre encontrados em abundancia na agua que invade o solo cullivado, onde é facil serem vistos apanhados, por haver a cultura destruido a yegetacio herbacea que dificulta 0 seu encontro no manibi ou no meio das hervas Sto vistos sempre passeando pelo fundo lodoso da agua, presos ‘is folhas dos vegelais escassos, nestas areas cultivadas, ¢, salvo quando a cor muito escura da agua o impede, a profundidades variaveis alé cerca de 10 centimetros. Quando a agua é clara ¢ a vegelagio nao dific se apanhar grandes quantidades em pouco tempo de caplura, sendo a sua frequencia média estimavel grosseiramente em 20 exemplares por metro quadrado. Com a descida das aguas, 0 que natur: todo comego de estio, os ca icam depostos na superficie da terra, © neslas condi¢ées encontramos alguns que permaneciam vivos. Seme- Penna (2 ificar como lia, pode mente ocorre amujos Ihante fato deve ser aproximado daquele verificado por Barlow (4) para 0 Planorbis boissyi e © Bullinus contortus no Egito, caramujos que podem sobreviver até 6 méses 4 secura englobados na lama dos canais. Em condig6es naturais acreditamos que estes caramujos que se retraem para as espiras centrais, deixando livres, ou obluradas com muco seco uma espira inteira, possam ser vilimas da agressiio de formigas ou outros predadores, mas nas condigdes de laboratorio, caramujos que se desse- caram bruscamente, permaneceram até agora 60 dias em seco, sem ne- hum cuidado especial, e reviyescendo prontamente, na tolalidade dos caramujos experimentados, logo que se praticou a tecnica de revives- cencia aconselhada por Barlow.212 Memorias do Instituto Oswaldo Cri A pesquisa de infestagdes naturais foi praticada em 1737 caramujo ansportados para 0 laboralorio, ¢ examinados individualmente. Destes caramujos, 6 apresentavam infestagio por cercarias de cabeca discoide, duas ventosas, e cauda simples, 3 apresentavam metacerearias ¢ 4 fureo- cercarias identicas morfologicamente as do Sch. mansoni, 0 que dé um indice de 0,38% para o trematodio de cercaria discoide, ¢ de 0,23% ps a infestagio mansonica. O baixo indice de infestagdo para outros trema lodios que nfo o Sch, mansoni mostra que a zona das Cureuranas deve ser considerada como pobre faunisticamente, em hospedadores de trema lodios fazendo sua evolucio neste molusco, 0 que nos parece confirmade pelo fato de 14 nao ocorrerem tipos de cercarias cuja presenga verificamos em outras localidades. Todas estas formagdes lacustres que constituem o conjunto das aguas doces de Cureuranas, ficam afasladas cerea de um quilometro da povoacio de Pontezinha. Nas proximidades imediatas encontram-se al- guns chareos temporarios ao longo da via ferrea, que nao parecem ter grande importancia na epidemiologia da esquistosomose, visto que so- mente em um se encontrou um pequeno numero de caramujos no maiores de tres milimetros de diametro, ¢ isto mesmo em numero muito escasso. Rodeando a povoagio a leste em uma distancia variavel entre 300 © 600 metros, encontram-se alagados, hoje postos em comunicacio com 0 estuario do Jaboatio, pelos trabalhos empreendidos em 1927 sob a directo de Lessa de Andrade e Aggeu Magalhaes (5). Nesta época cram lagoas de agua doce, identicas és que hoje permanecem nas Curcura- nas, ¢ provavelmente, embora no livesse sido assinalado na época, abri gavam tambem planorbideos. Hoje, pela penetragio da agua salobra do estuario, foi invadida por mangue, perdeu completamente o carater de manibi, e a populacio animal dominante 6 de erustaceos do genera Uea, de grandes carangueijos goiamuns (Cardisoma sp.), ¢ de moluscos (Neritina), ou formas parecidas, que sio tipicos de agua salobra. Nestas condigées nfo foi encontrado nem um planorbideo, de forma que, a obra, empreendida para a profilaxia da malaria, pode ler resolvido tam- bem a profilaxia da esquistosomose neste caso particular. A populacio humana das Cureuranas, propriamente, 6 muito es cassa. As raras cabanas encontram-se todas 4 margem da linha da estrada de ferro, a grande parte dos lavradores ¢ pescadores habitam 0 povoado de Pontezinha, proximo ¢ facilmente accessivel. Pontezinha conta aproximadamente 1200 habitantes de ambos os sexos. Parte dessa popu- lacdo 6 constituida pelos operarios da fabrica de polvora Hermann Lund- gren, € por suas familias, e habitam todos em moradias de regular cons- truco, pertencentes 4 fabrica, e localizadas nas ruas: Conde da Boa Vista, do Centenario ¢ do Allo de Sta. Rosa.Esquistosomose em Pernamb.© 213 Jun., 1940 Coutinho, Gouvéa e Lucer 135 Sa Va da {4 x Ll {| PONTEZINKA {| eae i Deno minagso das ruas eS Pesan obvies \\ \ \ Grifico 22u4 Memorias do Instituto Oswaldo Cri 35, (1) A populacao que trabalha no campo, composta de pescadores ¢ lavradores em sua maioria, habila os arredores do grupo de casas da fabrica, em cabanas de barro a sopapo, muilas vezes nao rebocadas, © quasi sempre coberlas de palha de coqueiro, em ruas outras, — 1 dos Pescadores, rua das Curcuranas, ete. Os trabalhos efetuados na populacio con: m no exame de IGzes ¢ indagacio clinica de 1.010 individuos, 0 que representa pralica- mente a quasi lotalidade da populagao. As pesquisas microscopicas eram cfetuadas correntemente pelo exame direto das fézes, recorrendo-se ao enriquecimento pelo método de Telleman-Rivas, todas as yéses que o imples exame direto dava resultados negalivos. Em todos os casos foi feita uma unica colheila de fézes, sem preferencia outra que a scringio de habitagées, de modo a percorrer-se uma por uma todas as ruas da povoagio. Considerando que na esquislosomose a climinagio de ovos niio se faz com regularidade, os numeros oblidos nao representam senio uma parte dos valores reais da infestagio, e decerto bem maiores seriam as taxas encontradas se se livesse feito repelidos exames nos casos que foram se mostrando negativos. 0 resultado obtido mostra no seu computo final que os diferentes quarteirdes nao teem a mesma incidencia, caindo os numeros mais ele- vados nas ruas das Curcuranas, dos Pescadores ¢ do Zinco, onde a grande maioria de habitantes nio 6 de operarios da fabrica, e sim de lavra- dores ¢ trabalhadores em misleres que levam ao contato mais intimo da agua. Os numeros mais baixos, notavelmente os da rua Conde da Boa Vista, habitada quasi es mente por gente que trabalha na fabrica, indicam bem a relacio entre a frequencia da infestacio e os afazeres dos habitantes. Tabela 1 — Percentagem de infestagto esquistosomica nas diversas ruas do povoado de Pontezinh: Rua das Curcuranas 39,1 070 « dos Pescadores 34,0 oJ « do Zinco 33,3 ofo «do Agafrao 29,7 of0 « da Estacao 24,1 O/o «da Cajazeira 22,0 ofa « do Miranda 21,4 oo « do Centenario 20,5 Jo Alto de Sta. Rosa 19,1 o/o Rua Conde da Boa Vista 13,9 ooJun. 1910 Coutinho, Gouvéa e Lucena: Esquistosomose em Pernamb.° 215 incidencia por idade, foi ealeulada subdividindo a populagia examinada, em grupos mais ou menos equivalentes em numeros de in- dividuos, dando 0 seguinte resultado: Tabela 2 — incidencia da esquistosomose por grupos de idade em Pontezinha. De 0— 5 anos 27 of « 6— 10's 12,1 of © u- < 308 of < 16-20 « 378 Jo © 1-30 « 30,7 0/0 « 1-45 « 248 of0 «46 em diante 16,6 oJo Fsle resultado mostra que a parlir de cinco anos de idade a pel cenlagem de infestagdes cresce depressa, principalmente na fase de 10 para 15 anos, que dobra o numero em relacio ao do periodo anterior, Isto coincide precisamente com o desenvolvimento das relacées com a agua, porque na maioria dos casos nessa idade comecam as creancas a fazerem 0 seu aprendizado de trabalho no campo, 6u, quando nio de familias de lavradores, com a época em que costumam a se afastar de casa e se dedicarem a diversdes que as pdem em contalo com a agua, como os diyertimentos de pescaria, ete. O decrescimento a partir de 21 anos de idade deve ser alribuido precisamente as mesmas razbes que Faust (6) atribue 0 desaparecimento de oves nas fézes dos casos de in- feslaciio antiga, dificuldade maior para a descarga de ovos através de paredes intestinais esclerosadas, 0 que permite concluir que uma menor frequencia de ovos nas fézes nao corresponde 4 desaparigio da doenca, nagiio de ovos mas 4 sua passagem para uma forma de escassa elim A ineidencia por sexo mostra uma maior frequencia para 0 mas- culino, que aparece infestado na raziio de 21,4, enquanlo 0 sexo femi- nino somente ¢ infestado na razio de 14,7%. Esta diferenga percentual, caracteristica de Pontezinha, em comparacio com os dados que lemos de Viloria, indicam a maior exposicio do homem 4 infestagao. Real- mente a fonte de infestacio em Pontezinha é 0 manibit, paragem di tante da povoacio, e frequentada principalmente por homens, pral mente cyilada pelas mulheres. Os trabalhos femininos que mais per- mittem 0 contacto com a agua infestada por cercarias, so os ligados as alividades domesticas, 4 lavagem de roupas, ¢ esta nao é feila em Ponte- zinha no manibi, j& pela distancia, como pela cor escura da agua, cor de café, como acentuamos atrés, 0 que a torna impropria para este mistér. A agua de consumo domestico em Pontezinha é a mesma usada em Recife, canalizada de Gurjahi, passando o cano’ adutor pela po- voagiio, onde abastece a fabrica, casas de residencia e um chafariz. add) 35, Memorias do Instituto Oswaldo Cru: or cento looer sen a positivos = ae negotivos J o-5 6-10 516-200 21-30 31-43 46-.- Incidéncia da esquistosomose por idade. Pesqui- 3a de ovos nas fexes. Pontesinha — Pernambuco. Bry Gratico 3217 ¥ O31 a soonduivluad — olGajiog “safa} soli sono ap vfinbsaq coe dod asoluosojsinbsa op vojaliapioly| nistosomose em Pernamb.° Coutinho, Gouvéa e Lucena: E 1940 Jun.,218 Memorias do Instituto Oswaldo Cruz ‘us Esta Thesina agua para o Bafiho da maior parte da popu- laco, sendo raros os que habilualmente servem-se somente para esle im da no rio Jaboatdo, que mesmo a montante da povoacio sofre o efeito das O banho de r . lomado agua do manibit » local 6 de agua salobr marés, I A cidade de Vitoria, séde do municipio do mesnio nome, é uma das mais importantes do interior de Pernambuco. Conta cerca de 15,000 habitantes, quasi todos artesdes, pequenos agricultores e comerciantes, © pelas suas feiras constitue um centro de atragio muito procurado da zona da mata, e da eaatinga. Situada a cerca de 60 kms. de Recife, sli edificada nas margens do rio Tapacura, que costeia 0 perimetro urbano, A regio 6 toda de constiluicfo cristalina, os afloramentos de rocha n&o decomposta sio muilo numerosos ¢ sobreludo constiluidos por gneiss, atrayessados por yeios de feldspalo e pegmalito, A, paisagem 6 muito ondulada, toda zona 6 uma allernancia de morros ¢ encostas) de Slo formado pela rocha decomposta, sendo 0 trabalho ‘da eros? muito acentuado. A flora j& apresenta uma alleragdo que denola a passagem da mala humida do fitoral para a caatinga, com predominio de yegelaco xer6- m nas baixadas e nos locais mat fila, nos altos, sendo por humidos, nas marge \s do:rio e dos corregos, homéloga da mata liloral A’ pay] ios do norde: apresénta wna, grande diminui eo rio Tapacura, que como a maioria dos le 10 do estio, jo de volume de aguas na eslac e jo; entre jein proximgs daveidade, algumas lagoas de pequena exter clas, h denominada Caissara, muito facilmente acessivel a pé. Além das lagoas, ocorrem otras colecées dagua de menor importancia, todas artifigiais, como barteiros, depresses produzidas pela retirada de argila para as olarias,que se.eachenr por ocasiao das chuvas. No perimetro mesmo da cidade, omo na chacara do Colegio Nossa Senhora das Gracas,Jun, 1940 Coutinho, Gouvéa e Lucena: Esquistosomose em Pernamb.°, 219 — 27a assy BE mean eens — uh thc (et OSE nee Kc CW 8 6 tae 2s es ay i os 1 38g, ad? ¢ dessa Sy) toga $43 8 Ms SOgT5 « Aah r Sles J g Reeds Oe eH220 Memorias do Instituto, Oswaldo Cru 35, (1) A lagéa da Caissara (Figs. 8 e 9) € uma formacio lacustre de carater permanente, alongada, de pequena profundidade, compreendida entre duas séries de colinas, com ribanceiras ingremes do lado oeste, mais suaves do lado este, encerrada em uma pequena fazenda para cria de gado bovino, Recebe as aguas de alguns pequenos corregos, mas 0 principal fator de enchimento 6 a agua metedrica que cae no perimetro de sua bacia, O excesso de agua escorre por um sangradouro que se vae perder no rio Tapucuré, mas isso s6 se verifiea por ocasiaio da ps- io. chuyosa, estando todo o estio separado do rio. As aguas sio bas nle Lransparentes, azuladas; a yegelacio sublitoreana 6 escassa, cons: lituida principalmente de cipericeas, sendo abundante apenas em uma das extremidades, a que di para o sangradouro, onde ha um grande nu- mero de ninfeaceas, além de numerosas plantas nalantes, como Pistia stratiotes, Salvinia, Azolla. A vegelacio submersa é constituida principal- mente por caréfilas. A yegelacdo do perimetro 6 herbacea, notando-se © dominio de graminaceas, e, frequentemente, compostas, leguminosas. Commelina pohliana, que, quando na beira dagua, as yéses, fica com as ramagens imersas. A fauna de yertebrados é pobre, poucos peixes, do genero Astyanax ¢ Prochilodus, antibios, aves aquaticas, marrecos, ga- linhas dagua, jacanans, repteis — cfgados. Os moluscos encontrados siio: Ampullaria sp., Ancylus sp. ¢ numerosissimos pequenos planorbideos, aramente de mais de um centimetro de diametro, que sao facilmente apanhados na vasa com auxilio de uma_pene' tados em um cabo, de modo a deixar passar a vasa lodosa. Sao vislos facilmente por transparencia passeando na vasa do fundo, ou apanhados nas folhas largas das ninfeaceas, de Pistia stratiotes, ou mespastanto as folhas de Commelina pohliana que por acaso estejam imersas na agua. Durante varias sessdes de captura foram apanhados e examinados individualmente 2.251 caramujos. As dimensdes destes moluscos vari yam entre 4 e 11 milimetros, sendo a maior parte composta de ca mujos de dimensdes pequenas. Entre eles encontravam-se formas albinas relativamente escassas, Sua morfologia e dimensdes coincidem exalt: mente com as descritas por Lutz como constituindo a especie centimetratis Foram encontradas numerosas cercarias de diversos lipos: cercarias de cabeca discoide, cauda simples e delgada, identicas és encontradas oca- sionalmente em Pontezinha; cercarias de cabeca discoide, cauda muito volumosa porém simples, que saiam de umas redias fortemente pigmen- ladas de alaranjado; outras cercarias, semelhantes fs primeiras, porém com duas manchas oftalmicas; outras de cauda bifida, ornadas de cilios, e com dois pequenos ocelos; mais raramente cerearias de cabeca discoide, cauda simples ¢ delgada, mas de uma pigmentacao cinzenta, que as tor- “a de fios metalicos monJun., 1910 Coutinho, Gouvéa e Lucena: Esquistosomose em Pernamb.» 224 hava opacas ¢ as distinguia das do primeiro tipo. Uma yés s6 foi en- contrada a presenga de cercarias analogas ss do Sch. mansoni, 0 que dé a taxa de 0,044% para a infestacao mansonica, enquanto que a taxa para os outros tremalodios, em conjunto, no compulando 17 véses, em que foram encontradas metacerearias, 6 de 5,9%. As condicdes de infestagdo da lagéa da Caissara sio portanto bem diversas das do ma nibit, das Cureuranas. Fm primeiro lugar, a infestagio por trematodios diversos, & parle 0 Sch, mansoni, muito maior na lagoa da Caissar indica positivamente que ela deve ser muito procurada, ou mesmo ser © «habitat » normal, de grande numero de especies anima infestadas por tremalédios. Por outro lado, 0 indice muito menor de infestagdo dos planorbideos pela cercaria do Sch. mansoni, mostra que a frequencia de contaminagio da lagéa pelo trematodio infestador do ho- mem & muilo menor do que em Pontezinha, 0 que s6 se pode com- preender admilindo que a lagoa nao é procurada habitualmente pelo homem, Ao mesmo tempo que se chegav 1 evidencia, as pesquisas sistematicas de ovos lateralmente espiculados nas fézes, que se iam reali- sando na cidade, mostravam a existencia d jo muilo mais intensa da lotalidade dos habitantes do que em Pontezinha. Este fato no permitia que se consideras: a respons savel pela infestaciio da cidade, visto seu baixo indice de infestagao man- soniea de planorbideos indicar que ela nao representava um centro de atracio humana comparavel ao manibi das Curcuranas para Ponte- zinha, fazendo-se entiio necessaria a investigacio de outras aguas, afim se encontrar 0 ponto de difusio da endemia. Foi entao empreendida de cercarias nos caramujos apanhados no proprio rio Tapacurd, a cidade, ¢ 6 ponto habitual de banho, de lavagem de roupas de toda a cidade, ¢ € ainda ulilizado para outros fins como lavagem de yeiculos, de animais de transporte, ete, que poem o homem em con- lato imedialo com a agua, O rio Tapacuré 6 ainda o ponto de desague de um sistema de valelas (figs. 13 € 14), esgoto a céu aberto, que drena nfio 6 as aguas pluviais, mas tambem aguas de serventia domestica da cidade. O rio Tapacuré (figs. 10, 11 e 12), como todos os rios do Nor- deste do Brasil, 6 de regime periodico, com variacdes muito notaveis, de modo que pela estagio séea, diminue muito a caudal, chegando mes mo, as yéses, a interromper seu percurso. Em compensagio, é habitual © enchimento do leito em consequencia de precipitagdes meteoricas, 0 que pode acontecer mesmo em épocas de estio, como se deu no dia 3 de Novembro do corrente ano, Semelhantes inundagdes naturalmente modifieam da noite para o dia as condicdes hidrobiologicas, de modo normalmente ae a pesqu que costeis222 Memorias do Instituto Oswaldo Cruz 35, (1) que os indices de infestacio estabelecidos para um dado momento para os planorbideos, podem variar muito devido ao carreamento dos cara- mujos pela caudal avolumada, e substituicho por novos caramujos de outras paragens. Durante 0 periodo em que o rio foi estudado, sua caudal era re- lativamente pequena, a profundidade da agua, nos logares remansosos, nao excedia 60 cent. e onde a correnteza era mais forte, mercé do desen- volvimento do leilo, no passava de poucos centimetros de profundi- dade, Sua largura varia bastante, nunca excedendo, nos pontos mais largos, 12 metros, salvo quando a caudal se subdivide, pelo aparecimento de pequenos bancos de areia, ou ilhotas pedregosas. As margens apre- sentam aspéto muito variavel, ora sio a pique, abertas em caiion, ora apresentam declive, mais ou menos suave ou ingreme, ora formam praias de areias geralmente nuas de vegelagio, ora sio argilosas ou lodaceatas, ¢ lomadas por plantas que muitas véses teem as frondes imersas na agua corrente. Em alguns trechos em que a rocha nao decomposta aflora, as margens sio pedregosas e tambem pobres de vegeta Nas zonas em que as margens sio baixas, quer sejam argilosas quer arenosas, en- contram-se, ao lado do rio, em comuniea¢io com ele (fig. 10) por meio de canais, ou completamente separados, pequenos chareos ¢ pocas dagua, de fundo lodoso, quando em sélo de argila Os caramujos sio encontrados tanto na corrente principal, como nas colecdes dagua colaterais. Na correute, eles sv vislos nos pontos mais proximos das margens, nfo sendo encontrados no centro da caudal, onde a vyelocidade da corrente é maior, e somente nos pontos em que © funde é argiloso ou lodoso, nunca nas margens arenosas. Podem estar livres, depostos no fundo, sio porém frequentemente encontrados presos & vegelacio, és folhas que mergulham na agua, sem preferencia nitida por certos vegetais. Sto, porém, especialmente abundantes nas colecdes dagua marginais, quando em s6lo de argila ow lodosas. Desde que comecou o servico de captura e exame dos caramujos do rio Tapacura até a cheia do dia 3/XI/1939, haviam sido colhidos ¢ examinados individualmente 1.398 exemplares. Destes, ito apresenta- yam cerearias analogas morfologicamente és do Sch. mansoni, 0 que di uma percentagem de 0,575, maior que a obtida para o manibi das Curcuranas em Pontezinha. Os outros trematodios, todos dos tipos veri- ficados na lagéa da Caissara, foram encontrados em 20 caramujos, dando a percentagem de infestacfo de 1,50. Passada a cheia do dia 3/XI, Toram feilas novas capturas, e, de um conjunto de 571 caramujos apa- nhados nos dias 7 ¢ 13 de XI, nfo foi encontrado nenhum com cerca: do tipo das do Sch. mansoni. Por outro lado neste mesmo sloc!Jun, 1940 Coutinho, Gouvéa e Lucena: Esquistosomose em Pernamb.0 223 vista a presenca de cercarias de outros trematodios em 14 caramujos, 0 que corresponde 4 taxa de infestagiio de 2,459, maior que a encontrada no rio antes da cheia, embora menor que a dada pela lag6a da Caissara. Considerando que os caramujos apanhados apés a cheia devem ter sido \razidos pelas aguas novas, pode-se dai concluir, com bastante funda- mento, que os planorbideos nao apresentam habitualmente, f6ra do peri- metro urbano, uma infestagio apreciayel, ou constante, por furcocercarias do Sch. mansoni, e que, portanto, a infestagio mansonica do rio é fun- cio da contaminagio do mesmo, por parte da populacio infestada da cidade. © numero maior de infestagio por outros trematodios na lagéa da Caissara péde ser motivado ou pela presenca na lagéa de animais infestados que nfo sejam tao frequentes no rio, o que reslaria a demonstrar, ou por efeito dos abalos e choques mecanicos, produ- zidos pela violenta agio da correnteza, por ocasifo da cheia, 0 que pode muito bem determinar a morte de grande numero deles, uma vés que alguns autores, entre eles os de Porto-Rico, verifiearam uma grande diminuicio de resistencia dos caramujos infestados por trematodios, em sua fase larvar, aos agentes mecanicos. © papel das yaletas na difusto da esquistosomose foi verificado pelo exame de 247 caramujos 14 apanhados, stock no qual foi encontrado um caramujo infestado por cercarias de morfologia mansoni. Neste mesmo stock foram encontrados 35 caramujos portadores de outras cer- arias, 0 que indica ser a valela procurada por outros animais alberga- dores de trematodios diversos. A populagio da cidade 6 aproximadamente 15.000 habitantes. Fo- ram examinadas fézes de 1.530 individuos de ambos os sexos e de todas as idades, tendo-se 0 cuidado de extender o exame por toda a cidade, para que o resultado final pudesse dar uma idéa tao perfeita quanto pos- sivel do conjunto total da incidencia. Esta nfo se manifestou mais in- tensa de modo especial em nenhuma das zonas exploradas, 0 que indica uma wniformidade muito evidente da infestagdo em todos os bairros. No lotal de 1,530 individuos, 593 apresentaram ovos nas fézes, sendo o exame procedido da mesma forma que para Pontezinha, e, como li, feila somente uma colheita de fézes para cada individuo, 0 que permite 4 mesma reserva, no referente ao fato da percentagem de 38,600 de casos posilivos estar abaixo do numero real de infestagdes. A incidencia por idade, feita a distribuigdo de casos da mesma mancira que para Pontezinha, deu o seguinte resultado:224 Memorias do Instituto Oswaldo Cruz 35, (1) Tabela 3 — Incidéncia de esquistoromose por grupos de idade em Vitor 0— 5 anos 21,9 ofo « 6-10 « 45,4 fo > Al 5. << 56,9 oo « 6-0 « 52,2 ojo « 2-30 « 48,7 Jo « 31-45 « 30,5 ofo «46 em diante 25,0 oo Como pa Pontezinha, a incidencia s6be rapidamente alé a idade de.15 anos, porém, enquanto que em Pontezinha, os valores continuam subindo além de 15 anos, para s6 decrescerem a partir da idade de 21 anos, aqui em Vitoria o decrescimo ja se acentua antes de atingida essa idade. Por outro lado todas as taxas sio mais elevadas do que para o caso daquele povoado, 0 que 6 nolayel sobretudo para as baixas idade: Semelhante disparidade é facil de compreender, e deve-se a que em Pontezinha, a fonte de infestacdo, 0 manibii, esta a alguma distancia, de modo que a probabilidade de infestaco na. primeira infancia é rela- livamente pequena, enquanto que em Vitoria, sendo 0 rio Tapacurd,. & margem do qual se ergue a cidade, a fonte da contaminagio, a tacilidade de infestacéo infantil cresee notavelmente. Esta fisionomia especial da incidencia da esquistosomose em Viloria, vae se refletir ainda, nas taxa de infestacgio por sexo, como se depreende do seguinte quadro: Tabela 4 — Incidencia da esquistosomose por sexo. Vitori Sexo masculino 36,9 Jo .Sexo feminino 41,4 Co Resultado diverso do. verificado em Pontezinha, e que s6 se pode compreender se no caso de Viloria admilir-se uma maior exposicio das criaturas do sexo feminino 4 infestacio. Ora, isto corresponde precisa- mente ao fato de que em Vitoria, 0 uso da agua do rio para servicos domesticos é muito mais intenso que em Pontezinha, Em Vitoria, nio 86a agua do rio é usada para banho, como é a unica praticamente em- pregada na lavagem de roupas, servico que ocupa praticamente todas as mulheres de condigio mais humilde, quando niio para servigo alugado, pelo menos para atender as necessidades de suas proprias casas. Os homens em Vitoria se dedicam ao comercio ¢ ao arlesanalo em sui maioria, ¢ as condi¢des da cultura do solo nao os obrigam a um contato com a agua tao intenso como em Pontezinha, Num total de individuos cujas {ézes foram examinadas em Vitoria estavam incluidos apenas 81 trabalhadores do campo, ¢ entre eles somente 24 apresentavam ov: Sch. mansoni nas fézes, 0 que dé uma incidencia de 29,6%, menor que a incidencia geral, de toda a populacio examinada', s de ' Em Pontezinha a incidencia nos trabalhadores do campo foi de 45,5 010.1940 Jun Coutinho, Gouvéa e Lucena: Esquistosomose em Pe ‘conquivliag - DIUO4IA ‘seal spy sono ap oP inbsaq “epop! sod asoluosojsinbsa op violgplol| 797 Gv-IS —OS-1G__—O%-DI Gi-1 o1-9 G-o Ct) so! o@au Soa 4isodInslitulo Oswaldo Cruz Memorias do Gratico 7 % o 1 20 30 40 50 60 70 Incidéneia da esquistosomose por sexo. Pesquiza de ovos nos fezes. Vildria- Pernambuco.Jun., 1940 Coutinho, Gouvéa e Lucena: Esquistosomose em Pernamb.° 227 Nio obstante, 0 habito do banho de rio, ou quando creangas, a ajuda que prestam aos servicos domesticos, os expde da mesma maneira, i infestagao. Existem, porém, algumas profissdes, que levam 0 homem ao contato da agua com frequencia nolavel: os tratadores de animais, le- vando cayalos ao banho, os condutores de aultomoveis, que levam seus veiculos para lavar dentro do rio em zonas em que o declive da riban- ceira o permite. 0 rio nao é somente 0 fornecedor de agua para muilos usos, é tam- bem 0 esgoto de grande parte da cidade. © destino das aguas servidas ¢ dos exerementos nas residencias mais confortaveis 6 a fossa, mais ou menos salisfatoria, sob 0 ponto de vista higienieo. Mas a grande maioria das casas n&o teem aparelhagem salisfatoria de despejos; quando muilo, um barril enterrado no s6lo; muitas véses, apenas uma excavacio de emergencia que vai sendo entulhada quando cheia. Muilas yéses nem isso, os exerementos sao recebidos em vasos € depois alirados nas imedia- g6es do rio, ou mesmo dentro dagua, ou na valeta que alravessa a ci- dade, E’ tambem muito divulgado o costume de fazer as dejecdes na superficie do s6lo, 0 que quando feito nas imediagdes do vio assegura a sua contaminacio. O encontro destas dejecdes nas proximidades da agua, é extremamente frequente e mostra como fica assegurada jerma- nentemente, a infestacio mansonica dos planorbideos. A’ parle os estudos sistemalicos realisados em Pontezinha e em Vitoria, foram tambem examinados caramujos de outras procedencias, cm remessas enviadas ao Laboratorio, constituide 0 maior numero de casos por stock demasiado pequenos para que se possa fazer uma idéa segura dos indices de infestagio, Os caramujos apanhados no rio Jaboalio, na altura de Socorra nio deram ao exame nenhuma cercaria. Nas mesmas condigdes estavam caramujos apanhados em um lago decorativo na praga do Derby, na ci- dade de Recife. De Palmares, em um agude proximo 4 cidade, e muito usado como ponto de banho, foi-nos enviada wma pequena remessa de 24 caramujos, dos quais um apresentava cerearias com a morfologia do Sch. mansoni. Do municipio de Agua Preta, da mesma localidade, recebemos varias remessas perfazendo um tolal de 251 caramujos. Eram_ todos muito pequenos e nenhum tinha mais de 6 milimetros de diametro. No total da remessa foram encontrados 20 caramujos com cercarias perten- centes a tres tipos que tambem ocorrem em Vitoria, mas nenhuma com228 Memorias do Inslitulo Oswaldo Cruz 35, (1) morfologia das cerearias de de infestacao trematodica de ch. mansoni, 0 que d& uma percentagem A ocorrencia de planorbideos por nés_verificada pessoalmente, em aguas de lipos mais diversos, desde as aguas acidas, humosas, da res- linga das Curcuranas, alé as aguas oligotrofas, de reagao levemente al- calina, da lagoa da Caissara, desde as aguas paradas, alé as correntes do rio Tapacurd, mostra que o caramujo responsavel pela difusio da esquistosomose em Pernambuco adapla-se muito facilmente a todas a variedades de aguas doces, fechadas on fluentes do Estado. Embora niio tenhamos investigado na zona da caalinga, tivemos oportunidade de examinar uma remessa de conchas sécas, provenientes do acude do Saco, municipio de Serra Talhada, em pleno sertdo, que nos foi gentil- mente oferecida pelo Dr. Miguel Archanjo, clinico desta cidade, entao vindo de la, As conchas eram todas de planorbideos, e variavam de dimensées desde 4 alé 15 milimetros de diametro, sendo porlanto maiores que a média encontrada em Vitoria, porém menores que os caramujos do manibi das Curcuranas A variabilidade de tamanho dos planorbideos brasileiros ja foi objeto de estudo por parte de Vianna Martins (7), que, baseado tanto em em argumentos de ordem anatomica, como sobre a variabilidade de di mensdes dos stocks colhidos em diversas fontes, contestou a validez das centimetralis. Lutz, © reduziu-as espécies olivaceus Spix, immunis Lutz 4 sinonimia de Australorbis glabratus (Say, 1818) Pilsbry, 1934. (Planor- bis quadaloupensis Sowerby, 1821). Nossas verificagdes parecem per milir o estabelecimento de uma relagio inversa entre o diametro maximo alingido pelos caramujos e a taxa de infestagio por trematodios, como se depreende do seguinte quadro: Tabela 5 — Relagio entre o tamanho maximo dos caramujos e a taxa de infestagao por trematédios. ocatidade Texa de infestagio global Diametto mx. em mil. Manibii das Curcuranas 0,61 ofo 30 mill. Lagéa da Caissara 5,94 oo 11 mill, Agua Preta 7, 9 oo 6 mill. Estes primeiros resultados, que serio verificados mediante inyes- ligagdes ulleriores, parecem indicar que a infestagio por trematodios age como um fator limilante do tamanho ‘dos caramujos. Ora, os cara- mujos crescem bastante lentamente; Lutz (2) estima que pelo menosJun, 1940 Coutinho, Gouvéa e Lucena: Esquistosomose em Pernamb.® dois anos so necessarios para que seja atingido o tamanho maximo de um caramujo do lipo olivaceus, Mas niio havia nenhuma indicagio sobre as elagdes entre a maluridade sexual dos caramujos ¢ 0 scu diametro, to- mado como indice de idade, a qual deveria ser bastante precoce, para que a populacao de planorbideos nao caisse a zero nas paragens de alla infestagao trematodica. Por isso empreendemos a verificagdo de gametos nos menores exemplares provenientes de Pontezinha, onde é sabid ocorrencia de formas grandes. Esta pesquisa foi feila mediante a reti- rada do ovolestis ¢ de seus condulos exeretores, que, quando em ali dade se mostram sob a forma de corddes ramificados ¢ entumecidos, de cor acinzentada, e preparo de esfregacos do contetido liquide, que foram corados @ hematoxilina e cosina e examinados a imer Fstas_ pre- paracdes mostraram a presenga de espermatozoides tipicos, em grande abundancia em caramujos muilo pequenos, sendo o tamanho dos menores examinados, em numero de dois, de quatro milimetros de diametro. Foram encontrados espermatozoides sistematicamente em todos os cara- mujos maiores de 4 milimetros, tendo sido examinados para este fim caramujos até um diametro de 7 milimetros. Nao pudemos obler dados a respeilo de caramujos menores, por falta de material. rando caramujos de criacio em laboratorio afim de precizar este parti cular, Semelhante fato n&o sémente torna muito plausivel a tése da identidade das varias espécies de Lulz e Spix, conforme Vianna Martins, como reyela a facilidade com que podem os planorbideos se difundirem, devido 4 sua prolificidade idade muito baixa. Tal S traordinaria resistencia do caramujo as de’ ulla consideravel- mente a esperanca de se obler algum meio de «control » susceptivel de uma aplicacio pratica, a menos que se consiga encontrar um. inimiga natural eficiente, e sobretudo mais manejavel do que seria 0 emprego de trematodios, por exemplo, para obter ao menos uma liquida merica de planorbideos. jaa rato aliado 0 nu- BIBLIOGRAFIA 1) Bezenra Covrinuo, A. 1938. «Nola sobre a ocorrencia do P. oliva Pontezinha, Pernambuco », Neurobiologi 2) Lutz, A. & PE 1918, Relatorio ¢ notas de viagem. Mem. Inst, Oswaldo Cruz, 10 cus Spix, 1827, na localidade a, 1 (2): 212-214. na, O. 3) Lurz, A. 1918. Espécies brazileiras de caramujos Mem. Inst. Oswaldo Cruz, 10 ( icos do genero Planorbis. 65-82.230 Memorias do Instituto Oswaldo Cruz 33, (1) 4) Bartow, C. H. 1933. The effect of the «winter rotation» of water upon in the spread of schistosomiasis in Egypt, 1930-1931, of Hyg, 17: 724-742. 5) Lessa pe Anpnape & Acceu MAGAniies: 1929, Prophylaxia do paludismo em Pontezinha, Imprensa Industrial, Re cife, 6) Favs C. 1938. Some newer aspects of schistosome infection in the Western Hemis- phere, The Journ. of Trop. Med. and Hyg, 38: 249-2 7) put ibuicho ao estudo do genero Australorbis Pilsbry, 1934. uldade de Medicina de Minas Gerais. Estampa 1 Fig. 1—Aspéto geral da planicie das Curcuranas, yendo-se em primeiro plano © juncal denominado localmente manibi. Fig. 2—Agua livre na orla do manibi, percebendo-se na super folhas de ninfeaceas. Em ultimo plano a silhuela das clevagies da formacio das barreiras,MEM. INST. OSWALDO CRUZ EST. 1 35 (1), JUN., 1040 ho, Gouvéa e Lucena : Esquistosomose em Pernambuco.Estampa 2 Fig. 3—Aspéto do juncal, tomado por ocasito da drenagem do manibit, A pro- fundidade da agua 6 pequena, (Genlileza da Delegacia de Satide Publica da 4° Regio, Servico de Profilaxia Antimalarica) ma superficie de agua livre no centro do manibii, caracterisada_ pela presenca de ninfeaceas. (Fot. da Delegacia da 1 Regio).MEM. INST. OSWALDO CRUZ EST. 2 35° (0, JUN., 1940 Fig. 4 Coutinho, Gouvéa e Lucena: Esquistosomose em Pernambuco.Estampa Fig 5 —A transi¢fo dos > 13,6 0% ees 12,1 > > 1938 38,8 90 Fsses dados percentuais, s6 se referem aos relatorios de autopsias com exames microscopi O ano de 1939, do qual consta alguns casos em nossos esludos; nao é tomado aqui em consideracio por ainda nio estar completo o re- latorio histologico. © primeiro aspéto reacional em torno do oyo de Schist. mansoni depositado num tecido, caracterisa-se por um processo inflamatorio sub- agudo, salvo algumas excecdes assinaladas mais adiante. Esse fato ji reterido por Bezerra Coutinho, foi igualmente visto por nds Em um dos nossos casos (213-34), encontramos 0 ovo ainda perfeito, circundado por raros linfocitos, dentro de um sinusoide dilatado. Este 10 pode ser considerado como 0 primeiro estagio lesional. 1a infillragio logo se modifica pelo aparecimento, além dos lin- focitos, de plasmocitos e de raros eosinofilos que se dispdem em torno do ovo. Posteriormente interveem os_histiocitos Vemos entio em torno do ovo células histiocitarias em abundancia variavel que se localizam nas partes mais centrais do nodulo, tomandq © lugar dos primeiros elementos encontrados, os quais se afastam mai para a periferia e se lornam mais escassos (fig. 1). A circunferencia ocupada pelo proceso reacional geralmente au- menta seu diametro. A esse aspéto sucede outro, caracterisado pelo aparecimento de roblastos e fibras reticulo-colagenas na periferia da formacio infla- matoria (fig. 2). Esse proceso proliferativo dispde-se 4 maneira de uma parede limitando 0 nodulo do tecido circunjacente. A zona mais interna dessa parede, apresenta malhas onde sio vislas células infiltrativas. O centro do nodulo fica sendo formado pelos histiocitos que entram em relagio direta com 0 ovo. Nessa fase da evolugio do nodulo 0 ovo ainda est perfeito. Esses aspétos podem ser vistos nas figs. 2, 3, onde além das células_histiocitarias dispostas ao redor 0s.dun, 1910 Coutinho e Coelho: Esquistosomose em Pernambuco 233 os linfocitos, plasmocitos e mais ex- fibras colagenas em dispo \juntivos é relacionado com uma fase mais adeantada da formacio do nodulo, em torno do ovo in- tegro. Esse fato, demonstra que a destruigio do ovo se processa numa Gpoca em que a reacio cronica ji patente. O inicio da alteragio slo caracterizar com precisio. Nao en- contramos nos diversos casos examinados, substancia que por ventura resullasse de um processo de desintegragio de suas partes brandas. O que podemos evidenciar, foi a presenca de uma pigmentacao sob a forma de granulos irregulares, muitas véses incluidos no citoplasma da célula sincicial ou entre os elementos inflamatorios (figs. 4, 5, 6). Nao obstante, nfo podemos coneluir que essa pigmentacio seja resullante de produtos de desintegracio do ovo. Outro aspéto de desintegra , embora pouco obseryado, vé-se na fig. 6, onde 0 ovo é como que transformado em uma substancia amorfa, ligeiramente _acido- fila, sem limites precisos com o tecido nodular. Aspétos observados: onde se nota invasio de suas partes brandas por alguns histiocitos, sto caracteristicos da desintegracio do ovo. formacio gigantocitica se estabel a fase evolutiva, po- dendo-se, por alguns aspétos, observar sua formacdo dependente dos his: liocitos cireunjacentes ao ovo, como no caso 372-34, onde se perecbe a condensagio’ de histiocitos na superfici terna da casca. Esse aspélo da reagio nodular, quando o gigantocilo est formado, caracteriza-so por uma diminui¢&o dos elementos inflamatorios ao lado de um aumento de tecido fibro-colageno, que se dispde sob a forma concentrica, encis: lante, de malhas mais estreitadas (figs. 4, 5). O nodulo entio, pelo predominio do tecido fibro-colageno, constitue um perfeito ninho (figs. 7, 11), tendo em seu interior a célula gigante envolvendo restos de casca ou numa ‘fase ainda mais tardia, unicamente a casea quilinosa compri mida e deformada (lig. 8). Pode ser observado em alguns casos a transformacio fibrosa do tecido histocitario (fig. 9), 0 que vae rareando {i proporcio do aumento fibro-colageno, Muilas véses encontramos for- macées conjuntivas parecendo tratar-se de nodulos antigos e que podem ser cicatrizes colagenas de provaveis formagdes nodulares (caso 205-39) — pancreas, ganglio linfatico). A fig. 10 d& uma id dular, Num dos nodulos, observa-se 0 ovo conservado, em torno do qual se dispdem elementos infiltrativo-histiocilarios, noutro se notam gi- gantocitos englobando restos de cascas com disereta ou nula reacio i filtrativa e ainda, se nota outro nodulo constituido unicamente por te do ovo, mais para fora, sio v ternamente ainda, fibroblastos ¢ poucas concentrica. O aparecimento de elementos co1 ovo, © consequente morte, 6 os mais a de tres estadios da evoluc