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1983 - CONTROLE REGULAR NA APLICAÇÃO DAS NORMAS DA OIT - ARNALDO SUSSEKIND - Sussekind - Arnaldo - Controle - Regular
1983 - CONTROLE REGULAR NA APLICAÇÃO DAS NORMAS DA OIT - ARNALDO SUSSEKIND - Sussekind - Arnaldo - Controle - Regular
ARNALDO SUSSEKIND
I — INTRODUÇÃO
O objetivo precípuo do Direito Internacional é, sem dúvida, o cumprimento
dos tratados ratificados. Daí proclamar a Carta das Nações Unidas, no seu
preâmbulo, ser indispensável o “respeito às obrigações decorrentes dos tratados”
e afirmar, no seu art. 27; que o Estado não poderá invocar o seu direito interno
para justificar o descumprimerito de um tratado.
Na esfera internacional o Estado é responsável pelos atos de qualquer de
seus poderes que importem em violação de um tratado ao qual aderiu por ma-,
nifestação soberana. Mesmo quando a norma internacional perde eficácia no
Direito interno, por se atritar com preceito superveniente de hierarquia consti
tucional (opinião prevalente na doutrina), essa circunstância não exclui a respon
sabilidade do Estádo pela violação do tratado (cf. Hildebrando Accioly, Tratado
de Direito Internacional Publico, Rio, 2.a ed., 1956, vol. I, p. 299).
A Organização Internacional do Trabalho (OIT), criada em 1919 pelo
Tratado de Versalhes e hoje integrante da família das Nações Unidas, inovou
o Direito Internacional ao instituir um sistema de controle da aplicação das
normas adotadas por sua Assembléia Geral (Conferência Internacional do Traba
lho). Esse sistema, aperfeiçoado em 1926 com a criação da Comissão de Peritos
na Aplicação de Convenções e Recomendações, e, em 1951, com a instituição
do Comitê de Liberdade Sindical, constitui uma das suas marcantes caracterís
ticas e vem servindo de modelo à organização de mecanismos similares em
algumas entidades internacionais ou regionais.
mento de certos órgãos onde os seus membros, vinculados por uma declaração
solene correspondente àquela dos juizes da Corte Internacional de Justiça, assu
mem verdadeiramente um papel de magistrados; seguem os princípios gerais
aplicáveis aos procedimentos judiciários clássicos” (“Aspects judiciaires de la
protection internationale des droits de l’homme par l’OIT”, in Revue des Droits
de l'Homme, Paris, 1971, vol. IV-4, p. 774).
da OIT. E, no dizer de Von Potobsky, ela adota, com este fim, "o procedi
mento mais efetivo para assegurar o cumprimento desse tipo de obrigação no
estado atual da nossa sociedade internacional” (Tratado de Derecho dei Trabajo,
dirigido por Mário Deveali, Buenos Áires, 2.a ed., 1972, p. 865).
Para a consecução desses objetivos., a Comissão de Peritos tem em conta
que as normas internacionais do trabalho podem corresponder:
a) à uma regulamentação detalhada ou à uma regra impositiva ou proibi
tiva, cuja aplicação independe de atos complementares (self-executing);
b) a princípios que exigem regras complementares para sua efetiva apli
cação (convenções de princípios);
c) a objetivos, diretrizes ou programas que o instrumento visa a promover
por etapas sucessivas (convenções promocionais).
A supervisão exercida pela Comissão de Peritos, com a finalidade de obter
a aplicação, de jure e de facto, das normas internacionais do trabalho e, bem
assim, a exegese a respeito revelada nos seus pronunciamentos, representair
"verdadeira assistência, tanto aos Estados, para a execução correta de suas
obrigações, como à própria OIT, por ajudá-la a cumprir sua missão de conse
guir uma aplicação extensa e sã de regras de direito de: valor universal” (Wolf,
trab. cit., p. 774).
D) Métodos utilizados — Como regra, a Comissão de Peritos utiliza méto
dos de crescente intensidade, a partir do diálogo com os governos responsáveis
pelas infrações detectadas.
Verificado o conflito entre a norma internacional e o direito interno ou o
descumprimento, na prática, de obrigação por ela gerada para o Estado, a
primeira providência consiste em dirigir uma demanda direta ao respectivo
governo. Esse expediente, que não é divulgado, nem comunicado à Conferência,
consiste em solicitar ao Governo interessado que, ciente dos comentários da
Comissão, adote certas medidas consideradas necessárias à observância da norma
a que soberanamente aderiu com a ratificação da Constituição da OIT ou da
Convenção em foco.
Não solucionada a questão em virtude do procedimento referido, a Co
missão pode sugerir, se entender justificado, um contato direto entre as autori
dades nacionais competentes na matéria e um representante do Diretor Geral
da RIT. Esse diálogo depende, entretanto, da concordância do governo interes
sado, verificando-se, normalmente, no território do país em causa. O repre
sentante designado deve expor às autoridades nacionais competentes o ponto
de vista dos órgãos de controle, informar-se da posição do governo e da nâtureza
e dimensão das dificuldades existentes para a plena aplicação, das normas inter
nacionais, e, bem assim, entrar em contato com as organizações de empregadores
e de trabalhadores interessados, no problema, a fim deocolocar à disposição da
Comissão de Peritos todos os elementos de informação recolhidos.
O êxito alcançado pelos contatos diretos é incontestável. Por isso mesmo,
a partir de 1980, passaram a funcionar, para as regiões da África, da América
Latipa e Caribe e da Ásia, conselheiros regionais, que permanecem à disposição
dos governos e das organizações de trabalhadores e de empregadores, com o
objetivo de prestar-lhes assistência direta, no tocante à interpretação e aplicação
das normas da OIT.
Somente quando infrutíferas as tentativas de promover a aplicação das
normas, seja por meio de demanda direta, seja mediante contato direto, a Co
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missão de Peritos formula suas observações públicas, que constam do seu rela
tório anual submetido à Conferência Internacional do Trabalho (Assembléia
Geral da OIT). Por vezes, independentemente dos seus comentários interpre-
tativos e conclusivos, ela solicita ao governo do Estado em foco a apresentação
de um relatório detalhado sobre a convenção em causa, ainda que, pelo critério
já referido, esse relatório, em relação à ela, não seja devido no ano seguinte.
Publicado nos idiomas oficiais da OIT, o relatório da Comissão de Peritos
é enviado aos governos dos Estados-membros e às organizações sindicais mais
representativas de empregadores e trabalhadores, sendo analisado pela Comissão
tripartida de aplicação de normas da Conferência anual. As proposições formu
ladas por essa Comissão, após debates costumeiramente prolongados, integram
o documento que ela submete ao plenário da Conferência, para decisão final.
Para a elaboração do estudo de conjunto e de direito comparado sobre uma
ou mais convenções e recomendações alusivas ao tema anualmente escolhido
pelo Conselho de Administração, a Comissão de Peritos designa, com 12 meses
de antecedência, um grupo de trabalho composto de três a cinco dos seus
membros. O projeto por este preparado tem por base os relatórios sobre os
instrumentos escolhidos, a que estão obrigados todos os Estados-membros. O
estudo, afinal aprovado pela Comissão de Peritos, é impresso em sèparado, como
documento da Conferência.
controle: 23% da África, 31% das Américas, 16% da Ásia e Oceania e 30%
da Europa (trab. cit., p. 13).
Por fim, cumpre acentuar que; no seu relatório sobre a reunião de í 982,
a Comissão de Peritos registrou que, em 70 casos alusivos a 34 .Estados e 5
territórios não-metropolitanos, haviam sido alteradas as correspondentes legis
lações ou as práticas nacionais, em conseqüência dos métodos por ela utilizados
para a consecução dos seus objetivos.
Esses dados evidenciam, sem sombra de dúvida, a eficácia do sistema de
controle regular das normas adotadas no âmbito da OIT.