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TEORIA DA LITERATURA, FLUC, 2022-2023

Avaliação Periódica – Sugestões para Trabalho Final

Docentes: Osvaldo Manuel Silvestre e Ricardo Namora

Este documento apresenta um conjunto de tópicos para trabalho final, que


devem ser tomados como sugestões que cada estudante poderá adotar ou
não. Caso o desejem, poderão apresentar versões reformuladas de um tópico.
Ou poderão apresentar tópicos inteiramente de vossa autoria. Em todo o
caso, trate-se de reformulação ou de nova proposta, o tópico a apresentar ao
docente deverá ter uma formulação do tipo da que poderão encontrar mais
abaixo. Escolhido o tópico, cada estudante deverá escrever ao docente
apresentando a sua escolha, até ao dia 28 de Maio de 2023. A versão final
será depois entregue até ao dia 10 de Junho de 2023. A extensão do texto e
as modalidades de apresentação do mesmo estão indicadas na página da
unidade curricular no Inforestudante.

1. A questão central de By Heart, de Tiago Rodrigues, quer em termos


dramáticos, quer em termos “filosóficos”, é a obrigação que os dez
espetadores que se oferecem voluntariamente para o coro têm de
aprender de cor um soneto de Shakespeare. Proponha a substituição
do texto de Shakespeare por um outro texto (não referido em aula) e
diga quais seriam as implicações e consequências dessa outra escolha
para o todo da peça.
2. O primeiro parágrafo do texto de By Heart, de Tiago Rodrigues,
apresenta o dispositivo dramático nuclear da peça. O segundo
parágrafo apresenta a avó Cândida e introduz a narrativa. Tendo
sempre em mente o que estudou sobre géneros literários, esclareça
esta questão: o que é mais relevante nesta peça, o elemento dramático,
centrado no diálogo, ou o narrativo, centrado na história narrada?
Justifique a sua posição com argumentos e excertos da obra.
3. Os homens e mulheres-livro de Fahrenhet 451 “comem o livro” que
decoram, para usar a expressão do Talmude recordada por Harold
Bloom a propósito do romance. Mas surge aqui um problema, pois o
que se “come” não é o livro, mas o seu conteúdo. Porém, nos autos de
fé, sejam os da Inquisição cristã, sejam os do romance de Ray
Bardbury, aquilo que se queima é um objeto, pois só o objeto arde,
não o seu conteúdo ou as suas ideias. Mas serão as ideias
independentes do objeto material que as transporta em letra impressa?
Tente discutir o romance de Bradbury a partir desta questão.
4. No capítulo VII do segundo volume de Frankenstein ou o moderno
Prometeu, de Mary Shelley, o monstro encontra uma sacola na floresta
com livros de Milton, Plutarco e Goethe. A certa altura, o monstro
comenta que “à medida que fui lendo, apliquei muito aos meus
próprios sentimentos e condição”. E, noutra ocasião: “Muitas das
coisas que li ultrapassavam a minha compreensão e experiência”.
Tente fazer o elenco das reações da personagem ao que lê e tente
responder, a partir desse elenco, à seguinte questão: como pode um
leitor aplicar aos seus sentimentos e condição coisas que ultrapassam a
sua compreensão e experiência?
5. Ao ser confrontada com a leitura de “Jabberwocky”, Alice oferece, em
sequência, três possíveis interpretações do poema: i) parece muito
bonito; ii) é realmente muito difícil de perceber; iii) enche-me a cabeça
de ideias, embora eu não saiba bem quais são. Discuta as implicações
de uma tal interpretação e tente demonstrar a exequibilidade de
exercícios hermenêuticos baseados na ideia de que a poesia “evoca
estados de espírito”.
6. A vantagem comparativa de se ter auto-consciência da ignorância é,
aparentemente, a de se saber já, e antecipadamente, alguma coisa. Ou,
segundo a personagem Artur, de A Noite e o Riso, “se ninguém
soubesse nada, os que soubessem isso sabiam mais que todos”. O
problema deste argumento é o de que ele desconsidera a cronologia
cumulativa que o senso comum atribui ao processo de aquisição de
conhecimentos (e por isso é que ele é, justamente, um “processo”).
Discuta, em paralelo, os argumentos de Artur e do “rapaz que
interpelara o orador”, e indique, justificando e expandindo, qual deles
é o mais adequado.
7. Na visita derradeira de Holden Caulfield a casa do professor Spencer,
em The Catcher in the Rye, aquele vê-se confrontado com uma resposta,
aparentemente insuficiente, produzida no seu teste de História em
resposta a uma pergunta sobre os Egípcios. No entanto, a resposta de
Caulfield revela vários aspetos interessantes: i) um aparente sentido
panorâmico da matéria em questão; ii) o foco num ponto particular
dessa matéria; iii) a auto-consciência da insuficiência deliberada da
resposta e a consequente adenda. Com base na experiência da
escolarização, e tendo em conta as discussões tidas em aula sobre a
dinâmica utilidade/inutilidade do conhecimento, comente a
indicação de Caulfield segundo a qual “não consigo interessar-me
muito por eles [os egípcios] embora as suas aulas sejam muito
interessantes”.
8. O poema de Peter Handke, “Die Aufstellung des 1.FC Nürnberg vom
27.1.1968”, parte de uma colectânea que inclui outros objetos
vagamente semelhantes, como “Die Japanische Hitparade vom
25.5.1968” (a tabela de êxitos musicais no Japão em 25 de Maio de
1968), parece ter como propósito elevar à condição de verso
constituintes atómicos que espelham um modelo reconhecível (neste
caso, o alinhamento de uma equipa de futebol ou uma lista de
canções). “O resultado disto”, escreve-se na contracapa do livro, “é que
a descrição frase-a-frase do mundo exterior acaba por se revelar ao
mesmo tempo uma descrição do mundo interior, da consciência do
autor, e vice-versa, e vice-versa outra vez”. À luz das premissas,
comente esta última afirmação.
9. Na conversa de caserna de A Oeste Nada de Novo, os soldados decidem-
se pela inutilidade prática, em contexto de guerra das trincheiras, de
coisas como a “trama tripartida da obra Guilherme Tell, de Schiller”, o
movimento poético Göttingen, os filhos de Carlos, o Temerário, a
Batalha de Zana, a filosofia política de Licurgo ou a população de
Melbourne. A ideia é a de que a escola não os ensinou a acender um
cigarro contra o vento, a acender fogueiras com lenha húmida ou a
espetar uma baioneta no corpo do inimigo de forma adequada. À luz
deste episódio, comente a ideia de longo curso de acordo com a qual
o conhecimento tem de ser útil.
10. Na introdução ao texto “Reading in Slow Motion”, Reuben Brower
condensa a sua descrição de leitura nos seguintes itens: i) “modo de
prolongar a atividade de sonhar acordado”; ii) “divertimento ativo”;
iii) colocar em ação a “alma do homem na sua totalidade” e o poder
da imaginação. Comente esta descrição, tendo em conta o lema que
Brower recupera de um verso de D.H. Lawrence, segundo o qual “Se
nunca for divertido, não o façam!”.
11. Comente o seguinte passo de Farenheit 451: “Encha-se-lhes a cabeça de
factos não-combustíveis, de tantos factos até se sentirem cheias mas
«brilhantes» por adquirirem tanta informação. Aí começarão a sentir o
que pensam, que se movem sem na realidade se moverem”. Até que
ponto é o conhecimento fornecido pela literatura “combustível”? Ao
lermos, não sentimos o que pensamos? Qual é a natureza do
“movimento” que se associa no trecho à literatura e às artes?
12. No episódio de Farenheit 451 em que Guy Montag enceta uma fuga
que o leva a tomar um transporte público (neste caso, o metro), a
dicotomia que subjaz a grande parte do livro ressoa em toda a sua
expressão plana e maquinal. O contraste é feito, neste caso, através de
uma célebre expressão usada por Jesus Cristo no Sermão da
Montanha (“olhai os lírios do campo”) e o reclame monocórdico ao
dentífrico Denham que ecoa dos altifalantes da carruagem. Procure
explicar por que motivo a literatura não é, aparentemente, um
produto da “cultura de massas.”

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