Avaliação Periódica – Sugestões para Trabalho Final
Docentes: Osvaldo Manuel Silvestre e Ricardo Namora
Este documento apresenta um conjunto de tópicos para trabalho final, que
devem ser tomados como sugestões que cada estudante poderá adotar ou não. Caso o desejem, poderão apresentar versões reformuladas de um tópico. Ou poderão apresentar tópicos inteiramente de vossa autoria. Em todo o caso, trate-se de reformulação ou de nova proposta, o tópico a apresentar ao docente deverá ter uma formulação do tipo da que poderão encontrar mais abaixo. Escolhido o tópico, cada estudante deverá escrever ao docente apresentando a sua escolha, até ao dia 28 de Maio de 2023. A versão final será depois entregue até ao dia 10 de Junho de 2023. A extensão do texto e as modalidades de apresentação do mesmo estão indicadas na página da unidade curricular no Inforestudante.
1. A questão central de By Heart, de Tiago Rodrigues, quer em termos
dramáticos, quer em termos “filosóficos”, é a obrigação que os dez espetadores que se oferecem voluntariamente para o coro têm de aprender de cor um soneto de Shakespeare. Proponha a substituição do texto de Shakespeare por um outro texto (não referido em aula) e diga quais seriam as implicações e consequências dessa outra escolha para o todo da peça. 2. O primeiro parágrafo do texto de By Heart, de Tiago Rodrigues, apresenta o dispositivo dramático nuclear da peça. O segundo parágrafo apresenta a avó Cândida e introduz a narrativa. Tendo sempre em mente o que estudou sobre géneros literários, esclareça esta questão: o que é mais relevante nesta peça, o elemento dramático, centrado no diálogo, ou o narrativo, centrado na história narrada? Justifique a sua posição com argumentos e excertos da obra. 3. Os homens e mulheres-livro de Fahrenhet 451 “comem o livro” que decoram, para usar a expressão do Talmude recordada por Harold Bloom a propósito do romance. Mas surge aqui um problema, pois o que se “come” não é o livro, mas o seu conteúdo. Porém, nos autos de fé, sejam os da Inquisição cristã, sejam os do romance de Ray Bardbury, aquilo que se queima é um objeto, pois só o objeto arde, não o seu conteúdo ou as suas ideias. Mas serão as ideias independentes do objeto material que as transporta em letra impressa? Tente discutir o romance de Bradbury a partir desta questão. 4. No capítulo VII do segundo volume de Frankenstein ou o moderno Prometeu, de Mary Shelley, o monstro encontra uma sacola na floresta com livros de Milton, Plutarco e Goethe. A certa altura, o monstro comenta que “à medida que fui lendo, apliquei muito aos meus próprios sentimentos e condição”. E, noutra ocasião: “Muitas das coisas que li ultrapassavam a minha compreensão e experiência”. Tente fazer o elenco das reações da personagem ao que lê e tente responder, a partir desse elenco, à seguinte questão: como pode um leitor aplicar aos seus sentimentos e condição coisas que ultrapassam a sua compreensão e experiência? 5. Ao ser confrontada com a leitura de “Jabberwocky”, Alice oferece, em sequência, três possíveis interpretações do poema: i) parece muito bonito; ii) é realmente muito difícil de perceber; iii) enche-me a cabeça de ideias, embora eu não saiba bem quais são. Discuta as implicações de uma tal interpretação e tente demonstrar a exequibilidade de exercícios hermenêuticos baseados na ideia de que a poesia “evoca estados de espírito”. 6. A vantagem comparativa de se ter auto-consciência da ignorância é, aparentemente, a de se saber já, e antecipadamente, alguma coisa. Ou, segundo a personagem Artur, de A Noite e o Riso, “se ninguém soubesse nada, os que soubessem isso sabiam mais que todos”. O problema deste argumento é o de que ele desconsidera a cronologia cumulativa que o senso comum atribui ao processo de aquisição de conhecimentos (e por isso é que ele é, justamente, um “processo”). Discuta, em paralelo, os argumentos de Artur e do “rapaz que interpelara o orador”, e indique, justificando e expandindo, qual deles é o mais adequado. 7. Na visita derradeira de Holden Caulfield a casa do professor Spencer, em The Catcher in the Rye, aquele vê-se confrontado com uma resposta, aparentemente insuficiente, produzida no seu teste de História em resposta a uma pergunta sobre os Egípcios. No entanto, a resposta de Caulfield revela vários aspetos interessantes: i) um aparente sentido panorâmico da matéria em questão; ii) o foco num ponto particular dessa matéria; iii) a auto-consciência da insuficiência deliberada da resposta e a consequente adenda. Com base na experiência da escolarização, e tendo em conta as discussões tidas em aula sobre a dinâmica utilidade/inutilidade do conhecimento, comente a indicação de Caulfield segundo a qual “não consigo interessar-me muito por eles [os egípcios] embora as suas aulas sejam muito interessantes”. 8. O poema de Peter Handke, “Die Aufstellung des 1.FC Nürnberg vom 27.1.1968”, parte de uma colectânea que inclui outros objetos vagamente semelhantes, como “Die Japanische Hitparade vom 25.5.1968” (a tabela de êxitos musicais no Japão em 25 de Maio de 1968), parece ter como propósito elevar à condição de verso constituintes atómicos que espelham um modelo reconhecível (neste caso, o alinhamento de uma equipa de futebol ou uma lista de canções). “O resultado disto”, escreve-se na contracapa do livro, “é que a descrição frase-a-frase do mundo exterior acaba por se revelar ao mesmo tempo uma descrição do mundo interior, da consciência do autor, e vice-versa, e vice-versa outra vez”. À luz das premissas, comente esta última afirmação. 9. Na conversa de caserna de A Oeste Nada de Novo, os soldados decidem- se pela inutilidade prática, em contexto de guerra das trincheiras, de coisas como a “trama tripartida da obra Guilherme Tell, de Schiller”, o movimento poético Göttingen, os filhos de Carlos, o Temerário, a Batalha de Zana, a filosofia política de Licurgo ou a população de Melbourne. A ideia é a de que a escola não os ensinou a acender um cigarro contra o vento, a acender fogueiras com lenha húmida ou a espetar uma baioneta no corpo do inimigo de forma adequada. À luz deste episódio, comente a ideia de longo curso de acordo com a qual o conhecimento tem de ser útil. 10. Na introdução ao texto “Reading in Slow Motion”, Reuben Brower condensa a sua descrição de leitura nos seguintes itens: i) “modo de prolongar a atividade de sonhar acordado”; ii) “divertimento ativo”; iii) colocar em ação a “alma do homem na sua totalidade” e o poder da imaginação. Comente esta descrição, tendo em conta o lema que Brower recupera de um verso de D.H. Lawrence, segundo o qual “Se nunca for divertido, não o façam!”. 11. Comente o seguinte passo de Farenheit 451: “Encha-se-lhes a cabeça de factos não-combustíveis, de tantos factos até se sentirem cheias mas «brilhantes» por adquirirem tanta informação. Aí começarão a sentir o que pensam, que se movem sem na realidade se moverem”. Até que ponto é o conhecimento fornecido pela literatura “combustível”? Ao lermos, não sentimos o que pensamos? Qual é a natureza do “movimento” que se associa no trecho à literatura e às artes? 12. No episódio de Farenheit 451 em que Guy Montag enceta uma fuga que o leva a tomar um transporte público (neste caso, o metro), a dicotomia que subjaz a grande parte do livro ressoa em toda a sua expressão plana e maquinal. O contraste é feito, neste caso, através de uma célebre expressão usada por Jesus Cristo no Sermão da Montanha (“olhai os lírios do campo”) e o reclame monocórdico ao dentífrico Denham que ecoa dos altifalantes da carruagem. Procure explicar por que motivo a literatura não é, aparentemente, um produto da “cultura de massas.”