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Digitalizada com CamScanner JUSTIA E LITIGIOSIDADE: HISTORIA E PROSPECTIVA Digitalizada com CamScanner JUSTIGA E LITIGIOSIDADE: HISTORIA E PROSPECTIVA HISTORIA E PROS Anténio Manuel Botelho Hespanha Aino Mec Heya ne em 195, inventor do sit i lcs Soi a Unies de Lats icin em Dito {outa eo nis Iron, €or Sc oars lola pobiada nesta cleo Poder nies ma Europ de Ai Re reece rs il dere mo tna 8 st dase. Epona model emer (P82. Vera 20 Lenin (1989, 8 por. 1999. Maria {Voy tg derecho ein trim Renee corenon 9 {CO Aigo Repme) ds Hira de Persea Sigur los Maio, Per, stint om legs i Unveridesde Sei © ‘Rms de Babe ini mand tg Nts do eo mide a = sic en anor de serra agen “ote tein de hit minal a da Westnet do i mes dos ose ‘Se. cain, pervs de ieen teeuahenaade eon oe poet de ive iin piso ses poropiewne cg Au oa tem ea a dines ail © {unl dn ed aay, hem em 5 pias ds sv de origi e Se ‘cin cis O devendaenn dace itn oder don mee, sxtm.qe hee ign an oJ fda eos de oti ed Und ‘ceric pont etic te Cites gnc ne Jana wn psn pentiv qu se Sis een € as 3S pe as o Digitalizada com CamScanner | Dero LeeLee, agi96 [elm Anténio Hespanha | oe {htih JU | JUSTICA E LITIGIOSIDADE: | HISTORIA E PROSPECTIVA __ SERVIGO DE EDUCAGAO FUNDAGAO CALOUSTE GULBENKIAN / LISBOA Zuo. 400.4 Wee EE Digitalizada com CamScanner INTRODUCAO, LEI E JUSTICA: histéria e prospectiva de um paradigma ‘A.M. HESPANHA Reservados tos 0s di de barmeonia coma lei igo da FUNDAGAO CALOUSTE GULBENKIAN Avenidade Bema LISBOA Digitalizada com CamScanner LEI E JUSTICA: HISTORIA E PROSPECTIVA DE UM PARADIGMA Este livro assume, conscientemente, um objectivo ambiciose & plural. Primeiro, 0 dle imeressar, a um tempo, juristas historiadoves: 0 que. dadas as actuais relagées entre a histéria, a ‘sociolagia ¢ a degmuttica juridicas, jé nao € tarefa fécil. Mas, mais ido que isto, Pretende interessar 0$ juristas, principalmente, com os largumentos que se podem tirar de temética histérica: e interessar 28 historiadores, sobretudo, com os modelos que decorrem das perspectivas actualistas sobre o direito. A ser conseguido, este livro pode, entélo, apresentarsse como win exempla de interdiscipli- nnaridade no campo do dircit, E, acrescente-se, de uma interdisciplinaridade consineida sobre bases que se pretendem metodologicamerte sas. Na verdade —e do porto de vista da utilizagiio heuristica da istéria para fins juridicos —, 0 que agui se pretencle nao é, ‘obyiamenie, apresentar etapas histOricas da evolugao jurfdica ‘conto passiveis modelos para o fiaturo —a volta aos “bons velhos tempos” —, 0 que equivaleria a wna operagdo de sentido ‘retr6grado, Nem to pauco milizar @ historia como documentério ‘do “progresso” do direito — a “luta pelo direito", o "triunfo do direito sobre a forca”, a “racionalizagdo das relagaes sociais pelo direita” — e, partanto, como instrumento de glorificacao dos ‘modelos juridicos actuais. A historia funciona — jd se sugerie — como unt instrumento de critica e de heuristica. Como um Digitalizada com CamScanner 8 instrumento de critica, ela revela 0 cardcter epocelmente situada dos paradignas politicas ¢ jurtdicas actualmente dominantes, homeadamente, do “estatismo” ¢ do “legalismo”. Coma instrumento de heuristica, ela sugere modelos alternativas de viver a dircto ¢ de 0 retacionar com ourras “teenologias disciplinares”, patentcando, também, as condigBes sociais, culturais ¢ politicas de ‘que dependlem. Por outro Jado, do ponte de vista da milizagae historiagréfica da reflexdo sabre 0 direito wigente, néo se pretende, agui, wilizar ‘as actuais categorias de andlise dogmdtica do direito (os conceitos ¢ classificagoes jurfdicas de hoje) como instrumentos de compreensao das experiéncias juridicas histéricas (um aspecto da Jjustamente tdo criticada: retroprajeccao das categorias vividas do historiador sobre os daclos do passado). Pelo contrério, as actuais categorias sito uilizadas, de forma dupla, como meio de evitar _owiro perigo — 0 sogobrar nas categorias da “auto-representagao ‘das sociedades hisiéricas. Como ? Mostrando, primeiro, pelo ‘confronto com as categorias dogndticas do presente, a provisoriedade das categorias histéricas. Depois, recorrendo a categorias da andlise socioldgica desenvolvidas pela reflexdo ‘actual! (0.94, @ oposigdo entre “courts” e “dispute institutiones", entre “justica oficial” e “justiga comunitéria”) para avaliar correctamente os mecanismos juridicos do passado, integrando-os em tipologias de vocagde transtemporal. Se, com o primeiro procedimento, estamos Juridica contra o positivisnto juridico (ou “legalismo™), com 0 segundo estamos a imunizar a reflexdo histérica contra 0 positivismo histérice, contra o respeito supersticioso pelo facto Brute ou pela “auto-representagao”, em nome de wm necessaria ‘apagamento do historiador emt face da “dindmica concreta” (Jorge Borges de Macedo) das socielades hstdri [Nao ignorannos as reacgdes que este projecto pode levantar: Do lado dos juristas, falar-se-d em “passadismo” (outros, mais dnisticos, falarao em “nitilixmo™ ..). Do lado dos historiadores, Jalar-se-d-em “constrativisma” (onros, mats drdsticas,falardo em “dogmatismo” ...). Basta esta sauddvel provacaciter das hibitos intelectuais estabelecides para tornar apetectvel organiza tévre- acinar a reflexdo Este preftcio ter duas partes disintas [Na primeira, abordan-se as temas postos actualmente a politica do direito ¢ da justiga por aguilo que defin inicialmente como a “crise do legalismo”. Partindo-se de wma definigdo desta crise, propée-se unta andlise histérica coma chave para a sua explicasio: ou seja, a andlise das condicionantes histéricas, tanto dda ascensdo do legalismo, como do seu apogeu e ocaso. Mas, rads ido qiee isso, mostra-se como sob a palavra “lei” (ou “primado da fei", ou “via legal de resolugao de conflitos”) se oculter uma realidade mutcivel e egutvoca, em permanente reconversdo de conterido ¢ de fungao, ¢ camo & esta equivocidade que tem fencoberto a continua crise do “legalismo”, entendido no sentido forte que termo teve na teoria oitacentista do Estado, [Nae segunda parte, @ histria cabe um papel menos ancitar, pots 0 diseurso volta-se expressamente para os historiadores, procurando, através de uma critica da sua tcoria politica esponsiinea — dominada pelos paradigms do “legalismo” ¢ do ‘estadualismo” —, possibilitar uma avatiago nto deformada das realidades da justiga na sociedade europeia do Antigo Regime (sécs, XIV-XVIIP. Ou sea, uma visao que: (i) surpreenda, em toda fa sua importancia, as mecanismos ndo oficias ¢ nda judiciais da Justiga: (ii) ndo sobrevatorize a justica “da corte” em face da Jjusti¢a periferica (e, sobrenudo, néo a tome pelo todo): (ii) atente nas “teenologias disciplinares” diferentes da le, da justica (numa palavra, da “coercdo”) na instiwicao da discplina social Falar de “crise da lei" & hoje um lugar comum, Claro que nem sempre se trata de um t6pica inocente; pelo contrério, muitas vezes nele se insinua um projecta politico “ordeiro”. Mas. se podemos questionar a terapéutica, jd 0 diagndstica é, em ‘contrapartida inguestiondvel. (0s sintomas mais evidentes desta crise soz ncia @ lei. por parte dos s mples da desobedi a) a generals cidadaos b) a no aplicacio (ow a aplicaye selectiva) da lei. por parte dos érgos do poder: Digitalizada com CamScanner 10 ea ineficiencia dos mecanismos de apticagdo eeeretiva da lei (Cerise da justia”, “crise da orden" ) Uma andtise mais detida permitiria decompor cada um destes: sintomas numa série de outros e estabelecer relagdes entre eles Falerrianos, entao, de temas coma a crise de legitimidade do Estado, a inadaptagtio do direito, o hermetismeo do mundo jurdico, fas falhas do sistema de comunicagao social do direito, relacionando estes temas com o primero tépico; de crise da ‘auoridade do Estado, de instrumentalicacao poltica do direito, de corrupgao e de ineficiéncia, relacionando-os Gom o segundo; de morosidade e ineficdcia dla justica, de complacencia com a criminalidade, relacionando-os com 0 terceiro. Qualgirer que seja 0 detathe da anditise, 0 que € certo & que se assiste a uma crise de eficiéneia daquito que, desde 0 adverto do Estado contempordneo na primeira metade do sécuto pasado, nos habituémos a considerar como o principat meio de diseiplina clas relagdes socials — a lei Esta crise tem sido diversamente expticada. Para alguns, trata-se, apenas, de um problema politico de natureza conjuntural: 0 governo descura a “orden” e, portanto, cada um faz © que quer Policia quanto baste e wm safanio a tempo seriam ai chave do problema. Para outros, em contrapartida, trata-se, também apenas, de wm problema moral, a resolver por uma regeneragdo dos costemes, desde logo dos costumes dos politicos. Sao pontos de vista bastante grosseiros ¢ irveffectidas, pelo que passaremos adiante. No meio dos juristas, por sua vez, 0 problema da “crise da lei” 6 frequentemente descrito como um problema de téenica legislativa: as leis ndo sao aplicadas porque, entre outras ravbes, dio mal feitas. Todo o peso da andilise se concentra, entdo, sobre 0s aspectos téenico-juridicos do problema — os trabalhos preparatérios, a redaccao, formuldrio e estilo, a sistematizagao, @ forma de publicagao, a implementagao. Em contrapartida, fica por questionar tudo quanto se encontra antes e depois do acto legislativo: os problemas da legitimidade da lei e da correspectiva " consciéncia do dever de obedecer séo remetidos para o fibsofo do Gineito; a questo da adequagdo ou justeza da tei, para o politica: 10 que nem sequer so normalnente colocadas as enguani interrogacdes acerca das funcoes (histéricas) da tei, das relagdes com outras “tecrologias disciplinares” (para formuta de M. Foucault), ou dos factores sociais, culturais € politicos que condicionam a sua eficdcia Escusado seré dizer que, colocada a questo mestes limitadas termos, todos 0s equivocos sto posstveis. Mas o mais conum é a de constrair uo modelo ideal ee “lei” ¢ definir, a partir dat, as ‘vdefeitos” a corrigir na legislacao, tal como hoje ela se manifesta, Gem se dar conta que, com este nome comum de “lei”, nie se designa nenhuma realidade dotaca dle wma substircia interaporat, ‘mas uma téenica de consroto social que, de época para época ¢ de lugar para lugar, desempenka fungdes (desde a coergao a ideologia) diferentes e se subordina a estratégias também muito iversas, unas predominantemente regulativas, ¢ outras sobretwto ‘simbolicas. O estilo majestoso, hiperbélica ¢ redunclante — por exemplo, oda legislacde pomalina ou do discurso vintista — pode ‘ser disfuncional do panto de vista das intengBes regulativas: mas jé essercial do ponto de vista das fungdes ideotdgicas: lo mesmo modo, a fluidez ou imprecisde des conceites, por muito que fembaracem quem tem que “aplicar” a lei, podem ser a forgosa tradugaa do compromisso politico que constitui 0 objective primeira le muitas leis Indo mais fundo na andlise, outros veem na “erise da legalidade” uma outra manifestacdo dos “limites de eficiéneia”™ do Wellare State. A intengo politica de regular a soviedade «i partir do Estado teria levado a que este fosse obrigado a alargar enormemente a suai aegéo, noneadamente no dominio das relacoes Sociais ¢ econémicas. E, em contrapartida, o desejo de garantir os direitos individuais contra os abusos desta interven¢do, teria obrigado a por de pé wma série correspondente de mecanismos cle controlo, Ora os modetos disponiveis de accdo do Estado, bem como os do seu controle, eram as do airecentista Estado de Direito: a vontade estadual de agir devia ser expressa pela tei, 0 Digitalizada com CamScanner 2 mecanisma de accao do Estado devia ser 0 “due process” urabelecdo net fe, os tnferesses particulares a proteger deviam Corresponder dirctos tutelados por lei. A lei acabava por estar no principio e no fin de toda a acco polfica, quer ela fosse iniciada polo Estado. quer pelos cidadaos. Eseapavam deste império dale, ‘quer alguns dominios deixados & mera iniciativa privacta (mas meso nestes «lei sink que intervie para dirémir as conflitos entre particulares), quer ts alguns outros em que 0 Poder dispunha de competéncias discriciandrias. Mas, se mio faltavee quem reclamasse tuna intervensio social do Estado ainda mais dilatada, também no faliaya quem pretendesse submeter progressivamemte 0 poder discriciondrio ao primaddo da lei ea controlos de tipo jurisdicional Para este ponto de vista, a “erise da lei" ere parente préxima de owtras crises da Estado intervencionista e dos seus aparelhos. Os remédios eram, correspondentemente, os mesmos — 0 retorna a economia liberal e a substituico da lei pele “mao invisivel™ do mercado. Ha, porém, quem destigue a “crise da lei” de uma, real ou presunida, “crise do Estado (intervencionista)" e a relacione com 0 esgotamento do “paradigma legalista” como tecnologia diseiplinar, Para esta perspectiva, os limites de eficiéncia da lei tém que ser buscados, ndo no sistema polftico que ela serve, mas nos préprios processos através dos quais @ lei realiza a sua fungae disciplinadora ¢ nos leques de condigdes (de diversa natureza) de que depende a efiedeia destes processos. Os méritos desta perspectiva parecem-me muitos” ¢, por i880, a escolhi como linha avientadora deste texto, © “paradigma legalista” caracteriza-se por instr clei como tecnologia disciplinar fundamental (ou mesmo exclusiva) das relagdes sociais, Qu seit a legitimidade de toela a actividade social, quer dos individuos, quer do poder, deve ser avetliada por confronto com normas eseritas, de cardcter geral e abstracto, obedecendo « um modeto técnico-racional, e editadas peto Estado, Coroldtrios deste axioma sao os principios “da legalidade” (nomeadamente no dominio do direito penal, fiscal € B administrative); "do primado da let” (no lominio do Direito politico}: bem como os ideais de “juridificacao” (Veerechtlichung) das relagdes sociaise de “acesso a justica” (pelo menos. num dos seus entendimentos: acesso a justica “oficial” dos tribunais estas. Se submeteros este paragma aon confrontohistbrica damo-nos conta de que ele corresponde a wna estratégia paradoxal. Ao instituir a lei como forma tnica le comrolo social, ele leva a cabo, nna verdade, uma enorme reducio da pandplia das teenologias diseiplinares dispontveis noutras épocas, mesma que nao eonsideremos serido aguelas que podem ser subsumidas a0 ‘canceite de tecrnologias “juridicas”. Isto numa época em que. coma nunca, tem vindo a crescer o dmbito de siwagdes regular. E. para dlém disso, a “forma legal” constitui wma técnica de controle exigente, requerendo a verificagio de uma série de condigaes sociais, cultura ejuridicas, As estratégias de controlo social sofreram, portanto, 1um afimitamento,e, ainda por cima. no sentido de uma via cheia de ‘pontos criieos. A compreensiio da actual crise da lei passa pela refleado critica sobre 0 paradoxo inerente a este “paradigma Tegalisia””, enquanto que a chave para a superacao da crise pode residir na restauragao de ur sistema menos unidimensional de regulacdo social 1. A génese da redugao legalista Por muito que toma historiografia retrospectiva” 0 encubra, 0 ondenamentajurdico pré-itacentsta era essenciadmente pluralist. Sobretudo, por duas razdes. Em primeiro lugar, a lei era, dentro do direito “oficial”, wma fonte minoritdria. O direita “oficial” — ie, aplicado pelos tribunais cemtrais ou pelos (poucos) tribunais “aficiais™ periféricos — era, esmagadoramente, le naturece dovtrinal, recotherde os juristas do ‘antigo regime & mxima romana segundo a qual “ius civile in sola prudentium interpretatione cansisti™ (Pomponius, D. 1, 2, 2.12: 0 Digitalizada com CamScanner 1 ineino [eval] consiste apenas nat ineerpretagde dos juristas). A tei ‘era parcamenie usada. apenas come meio de suprir ow adaptae 0 netia dousrinal. Bnire nds, por exemple, as Ordenagdes cobrem 1 sectores muito limitades da regulamentacde juridica: Prarcenente apenas a oreanizacdo das dngdos do poder “oficial” feentral ¢ focal. mas nde ale todos, rem mum plano nem no outro) raunizayin processual ¢ 0 dircito penal. O grande continente do Uircizo vil, bem como @ subcontinence do dircito comercial ou ‘administrative "s 0 mesmo se parssando. em geral. com 0 que hoje chamariamos “dircito constitucional”" ou "politico". A legislagdo exinasacante foi-se acumulando, att aos finais do antigo regime, mas a um ritmo mute diferente do actuat®, O recterso @ forma “Tegislativa™” apenas se davar quando a coroa pretendia introducit norma juridicas que pusessem en causa direitos adquiridos (ira qusesita) . pois a doutrina do dircito comum safvaguardava em aabsoluto estes direitos de todas as intervengies do poder que néio revestissem a forma de tei, invocada a potestas extrordinaria'". De resto, mesmo quando pretendesse estabetecer algo de novo, 0 poder utilicava outros meios normativos: 0 precedente judicial (Cestilo”: mais formal, “assento”), @ instrucao a éreaos administrativos inferiores (*decreto™, “proviso”, “portaria"), a regulamentagdo meramente interna (eX tei suse dicta, como os regimentos da administragdo “dominial” aw “doméstica” da corva, eri que 0 rei regulamentava os servigas “da sua ease"). Mas. em relagiio a dousrina, a tei ndo era apenas um fendmeno minoritério, era tambéns urn fenémeno subordinada, Isto é particularmente claro no dominio ela interpretacie, ert que @ douarina formula una série de regras que. na pritiea, fazem corm que as eventuais “novidades” legislativas sejam continamente absorvidas pelo acquis dorarinal: a lei deve ser interpretada de aacordo com os principias de sisterta eloutrinal (ratio itis); as fe estabetecendu contre estes principios (contra tenorer itis rationis) sie excepcionats (ou mesma “odiosae”) ¢ énsusceptiveis de interpretain euensiva eu de aplicageio anal «principe. ao ceditar a lei, esté linsitadlo pelo dircite “natural” Cou seja, pelos Jundamentos da “razdo juridica"). pelo que o juiz ndo fica Obrigado ws seguir “aguilo que carece de furdumente furidica e é Is contr 0 direto dowtrinal™ (A. Peo: “am cauna cane, & wbuempera”) No emtntoe iit da lao ve veniam gpa neste plano de teu confroto com a dontrina. Mas. tare, ve a its pirclres. ie denn df iran sen mess coment ype dx lard eee mominesfegatneste demo cram excepsoaat oid lesa pelo diretto dea om tthaande ete cl former recur erases {ere ti contrnertidene pow efcivos i= @ pF omnis terrors. os crentes era exelusivamiente tat ‘comunidades “primsiria seenciais, eulturais) era reconkeci 0. egulamentader anterior let, porque baxeado Ra propria hatureca dé soviedade. A este caricter “natura! compon politcos inferinres corresponclia ume diferense pm 1 dda oniem juridica, segundo o qual a norma mars construc om a para deerogave a morma geral, no seu particular dominio de valade Logon o estatute, tal come e priviléeio, impankate 3 let gat. ‘assim, ficava emtatada entre uma doutrina (0 ~% qc a Hiitave por einen, € wm direita dos ee por bana” Bm sexu Je facia part Naa vendacle, a maior porte da vida juridice ceserita, Extudon estatisticn Portugal, ner sec. NVEL mostram que @ res wos mda devia toc undo ugar 0 priiprin veto escrite © erie im minorizarie. era pritica juridica exert fav, «+ que correspond, porvent ilfabericade de erties. Os restantes 8 adres ae conatata” fas peta trai. tet untyassimas de reais va fos na O proprio ime aniverse que que inculeava Digitalizada com CamScanner 16 organizagio social e juridica tratar-se de formas inferiores d Chamavactie 0 “dircito des risticos” (ura rusticorumy deixando-o subsistir com um misto de despreco e condescendéncia cesos nisticas, filhos ainda de ume ignoréncia primitiva e sa (pristina et ingenna ignorantia”), seriam incapazes de compreender as subtilecas do direito erudito ("juris apices et scientiae legals subrilirates"). Em contrapartide, este mundo calocado fora dos cireuitos da eserita e da “ciéneia” tinha pelos Jiristas ¢ pelo seu mundo (direito escrito, eserivdes) uma profindg ‘antipatia. “Jeristen, bosen Christen fora a palavra de Lutero, enquanto que, entre nds, basta arentar na figura elo jurista letrado, tal conno transparece, por exemplo, do teatro vicentino (xg, 0 “corregedor” no Auto da Barca do Inferne) 0 “despotismo iltuninado” setecentista trazia consigo um project de reducdo ds pleralismo, pelo reforco de poder da conve At se integrava ama politica de valorizacao da lei, como ‘manifestagdo da vontal do menarca, que se cevia impor tanto aos corpos polticos perféricos como, sobretudo, ao corpo judiciério. A cadéncia da produsao tegistativa aumenta, é reafirmada a precedéncia da lei sobre as restantes fontes do direito, 0 préprio estilo Fegislativo se enfasiza, carregando-se de formulas que, ‘embora carecidas de contetida regulative, desempenhiavam wna Fungo xanbém disciplinadora, mas ao nivel da retérica. rel dos 0 “Tegatismo” ituminista pode ter sido eficiente ao n

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