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rabalhadores africanos e€ projetos imperiais jsio do Parlamento de abolir a escravatura nas suas em (3) identificou_o império britanico como o ho livre. Durante mais de um século, esta ‘a definir a forma como os decisores poli- a fungios justifica | by Ade |} coléni império do trabal formulagao ajuda ticos pen am a sua propr } | | &pansio da colon | | | Bretanha se definiu em relaca Jo a ouu tras pote aC niais € as presiongy ara eliminarem a_escrava para os crt tio cficaz como aquela que, por vezes, veio de circulos missio- nirios ou humanitarios: a acusagao de que o governo tolerava aescravatura «sob a bandeira britanica» ('). hs Arelagao entre o império e o trabalho forcado persistiria, \ 10 entanto, praticamente até a fase final do sistema colonial. rts Secretary of State for the Colonies, lorde [John] Russell, referiu-se alum «novo sistema de escravatura»- 0 indentured labor -, , que temia estar a causar a morte e a miséria A abddECroeo® Sing oven roQeolhro 2 3 6 xy = G MISTORIAS DE APRICA Koyo, HOLE i COND “YW § 3 2 crn FO 32 BOS” Y meio! E'S O dos produtos que poderiam ter Ievado os africanos ao trabalho! 4 a gissalariado nunca tinha sido tao escassa (*). Nos anos seguin. -S realidade que nem todos os defer tes constatou-se uma realidade q ‘odos os defensores do trabalho livre estavam dispostos a admitir: no complexo, sistema espacial de um império, os potenciais trabalhadores C nao iam necessariamente habitar junto dos locais onde eram 7 necessarios. Noutras regides, os trabalhadores talvez viessem e a ter ao seu dispor alternativas aos saldrios que os emprega- dores estavam dispostos a pagar. Além desta questao, outro aspeto desta longa histéria continua por explicar: a abolicéo da escravatura nao pés em causa a ligagao entre raca e traba QP as oe Iho. Em certo sentido, intensificou a racializagao da questio de t lo trabalho no império britanico. Antes da emancipacio, saber se os negros conseguiria responder aos incentivos do mercado e trabalhar como qual- quer outra pessoa era uma questéo em aberto. O mito do ~ Po ne: uigoso € a ideia de_qui egime especial de Sy x©” regulacdo e controlo do trabalhi necessario vigo- riramp tga ulna Gécada dy domain colepial ets Africa. O reconhecimento de qué os tabalhadores africanos, podiam ser pensados da mesma forma que os outros traba- Ihadores acabou, no entanto, por redundar numa visao ainda mais inflexivel da natureza perigosa e primitiva dos africanos que ndo tinham feito a transicio para esse enquadramento sagt, «modernos. Poy Acima de tudo, a ideia do trabalho livre nao soube adap- tar-se As combinacGes entre incentivos e constrangimentos @ que populagées vivendo em diferentes circunstancias foram expostas. Nao foi capaz de explicar por que razao as opt” 4 lag6es concordaram trabalhar em troca de salarios, ¢ mull ‘ menos a duracao das relagées laborais, o grau de assiduidade Vib ge dos trabalhadores ou os mecanismos individuais e coletiv5# o gy’ We estes recorreram para alterar ou subverter o regime ae ce trabalho. Durante boa parte do século do trabalho «livre A ; - or e © Frederick Cooper, Decolonization and African Society: The Question in French and British Africa (Cambridge, 1996), p. 125+ TRABALHADORES AFRICANOS E PROJETOS iMtPERIAIS | ; 205 pumanitérios britanicos defensores da gs formas de coercio laboral partilharam COM 08 apoiantes de sangdes aceasta ‘as ou judiciais para trabalhadores «preguigosos» © desinteresse em compreender o verdadeiro gignificado do trabalho em Africa ou nas { Nao queriam equacionar 0 trabalho c eliminagio de todas i j as Indias Ocidentais, a OM ato social | parte integrante da solidariedade e das tensdes nO oan uma familia ou de uma aldeia, ou como mais do que uma res- | posta individual a incentivos salariais. Também no queriam | reconhecer como, do ponto de vista social e politico, o tra- | balho estava incrustado numa sociedade capitalista. Tanto os | opositores da intervengao do Estado no recrutamento laboral | como os seus defensores podiam facilmente enredarese num | didlogo moralista: uns partiam do pressuposto de que um | africano que recusava tornar-se um trabalhador assalariado | permanente e disciplinado o fazia devido as suas limitacées } morais; os outros, de que um Estado que forcava as populacées fa trabalhar era imoral. Ainda que de forma cautelosa, s6 perto | do final do império britanico é que os debates sobre politica | laboral entraram no dominio do social, abordando as condi- des que determinavam quando e por que razao um individuo procurava assalariar-se, o modo como as condigées de traba- lho condicionavam a forma como os individuos trabalhavam €0s padrdes dos conflitos laborais. a | Ao longo de todo o perfodo entre 1830 € 1950, a historia dos africanos e do trabalho no império britanico esta ligada mas desvia-se da histéria do trabalho nas Ihas Britanicas devido ao facto de, no discurso britanico, a especificidade do hador africano ter sido considerada lado a lado coma ’stio da importancia do trabalho assalariado. E esta ete teve efeitos tanto no espaco como no tempo: a ce a dos trabalhadores em termos regionais € imperias Tor mn questao central no pensamento britdnico acerca do tra- lho africano. F 0 império britanico nunca foi um espace nee so pela Englishmess, exercendo oseu por St laramente definido. Fe desde 0 inicio, I HISTORIAS DE AFRICA 266 unidade politica diferenciada: ° poder politico estava deni, em relagio a Escécia, a Gales, a Irlanda, a Jamaica, AAmey, 2 do Norte até a diferentes parcelas de «Inglaterra», oO i volvimento de plantagdes de aguicar nas Indias Ocidenige detidas e geridas por empresarios bri Anicos, fornecedoras da Europa, ocorreu no quadro do poder imperial edo comércio regulado dentro de um sistema imperial, mas dependia de ligagées para la do territ6rio que a Gra-Bretanha controlaya de facto, sobretudo com os pontos de fornecimento de escra. vos em Africa ¢ com os mercados agucareiros fora do império, “A campanha contra o trafico de escravos demonstrou que as colénias eram nfo apenas um espago onde uma elite briti- ‘a podia explorar continuamente 0 trabalho «do outro», mas também um espaco moral, onde se podia defender, em tiltima instancia de forma convincente, que determinadas formas de recrutamento € exploracéo laboral manchavam o império britanico. Desde 0 inicio do movimento abolicionista, os capitalistas britanicos foram confrontados com a dificil tarefa de justificar 0 trabalho assalariado numa economia capitalista em expan- sao ¢ de explicar por que razio alguns trabalhadores deviam ser deixados 4 mercé do mercado de trabalho, ao passo que outros, dentro do mesmo império, eram escravos. O império nao era um espago onde se exercia apenas a vontade nacional, era uma formacao politica extremamente diferenciada, com atores de pesos desiguais mas, ainda assim, com capacidade para estabelecerem relagées politicas para 14 desses eleme” tos de diferenciacao. Os plantadc fndias Ocidentais por exemplo, conseguiram, num determinado momento, een de poder em Londres, mas foram of et ponniae eee de pressio humanitaria que ac ey rf trabalho nea »s do debate a respeito da escravature pério, | 267 toria das populagées de Britanicas na era da e este respeito. ada de 1830 deputados e p olt salientou que nos debates que levaram ao Emancipation TnCipais responsaveis coloniais elativa abertura de espfrito acerca da relacdo alho. Os mais otimistas acreditavam que, uma degradacao da escravatura, os africanos se -omo qualquer outro ator econémico racional terra prépria, procurariam um emprego. tas temiam uma excecio as regras da eco- nascida da diferenga racial ou da experiéncia vatura, apontando os perigos da inércia, do ‘0 €, porventura, da violéncia vinda da mao Uma administracio colonial firme vigia- procurando evitar que se deslocassem para das ilhas, mantendo-os junto da influéncia Estado e das plantagées onde o seu trabalh It mostrou também que a perspetiva através ridades coloniais consideravam a questio do otomia entre trabalho virtuoso e «preguica sel- correspondia 4 forma como 0s ex-escravos viam familias procuraram combinar perfodos de ado com a manutengio de hortas e a agricul- leno comércio em mercados. Os ex-escravos Sa trabalhar, mas nao necessariamente na rfodo de tempo que os plantadores queriam. «From Slavery to Freedom: Blacks in the Nineteenth- Indies», in Black Experience and the Empire, orgs. Sean Hawkins, pp. 141-165. S DE AFRIC. 28 HISTORIA AFRICA Contudo, para as autoridades coloniais o Principal teste erg valor da produgao de agacar, que na Jamaica caiu para Metade entre 1839 ¢ 1848 ('). . Duas tendéncias do pensamento imperial decorreram deste padrao. A primeira foi uma crescente racializagio dy pensamento, econémico. A abertura do inicio da década de 1830 atenuou-se nos anos 40: os negros mostraram ser traba. Ihadores resistentes € teimosos; a sua visdo alternativa acerca da vida economica tinha pouco peso nos circulos oficiais. Este no ceticismo oficial em relacao a possibilidade de integrar os apenas com base em relagoes de mercado; na aceitacao por parte de missionarios de que tanto a «civilizagao» e o Cristia- nismo como o comércio exigiam uma intervencéo imperial benevolente. Na Coldnia do Cabo, na Africa do Sul britanica, missio- - narios, colonos brancos e responsdveis do governo tinham iniciado, na era da emancipacao, um longo debate acerca ww das formas de intervengao numa regiao onde pastores e agri- Xp cultores africanos coexistiam com colonos brancos. De um lado encontravam-se aqueles que desejavam tratar 0s africa ‘jos como potenciais parceiros comerciais, potenciais cristios oy € talvez até como potenciais cidadaos; do outro aqueles que ye queriam usar todos os meios necessarios para obrigar os afri- yor canos a assalariar-se. Na Africa do Sul, a perspetiva mais dura prevaleceu devido ao aumento da procura de mao de obra ye 7? partir da década de 1860. Noutras regides, a visio raciali- zada da incapacidade do africano enquanto ator economic? aN foi reforcada pelos argumentos segundo os quais os aftican® y? precisavam de ser salvos da tirania e da servidao praticada | nou-se pelos se ntrolo : proprios governantes. Este argumento tor uma justificagao essencial para futuros projetos de CO entre as décadas de 1860 ¢ 1890. () Thomas C, Holt, The Problem of Freedom: Race, Labor, and aul in Jamaica and Britain, 1832-1938 (Baltimore, 1992), p. 119- d PRABALIADORES AFRICANOS E PROJETOS IMPERIAIS | 29 A segunda tendéncia no pensamento brit4 bre trae | no em contexto imperial dizia respeito x migragao) tanto mats, COMO AO trabalho migrat6rio contratado, tal como seria posteriormente raticado em Africa. Os puristas do mercado de trabalho livre nunca gostaram de contratos de trabalho de longa dvactof Adisciplina do trabalho livre pressupunha, na sua opiniiio. a «angio do despedimento»: 0 trabalhador devia gozar da liberdade de trabalhar ou nao trabalhar, mas com o conhe- cimento de que nao trabalhar podia significar passar fom Um indenture, ou seja um contrato de varios meses ou varios anos, assemelhava-se a escravatura temporaria na medida em que o empregado indentured nao tinha qualquer vanta- gem em parecer um bom trabalhador ao longo do contrato € seria disciplinado através de castigos em vez de incentivos, ou daameaga de despedimento (). A deslocagao do trabalhador contratado da seu local de residéncia para 0 local de trabalho também. reproduzia um dos principais aspetos da escravatura: o desenraizamento do escravo, o seu afastamento de redes de apoio social para um local onde o patrao era a tinica figura de autoridade. Ao longo do perfodo colonial, os circulos humanitarios continuariam a suspeitar de todas as formas de trabalho contratado. No contexto do século dezanove, a Gra-Bretanha, tal c a Franca e outras poténcias imperiais, via oftrabalho contra- tado tomo uma(necessidade desagradivel ara trazer pessoas ‘€ onde estas abundavam para 0s locais onde eram necessarias. Para responder ao incémodo causado pelo trabalho indentu- red, chamou-se a atengdo para o aspeto que demonstrava de forma mais clara a natureza «livres dg contrato: a aceitagao ‘Cum contrato. O(fetiche do contrato, jue escondia o misto © empobrecimento; PFessao administrativa, promessas vas bi pas 10 indentured labour, sobretudo nas Indias Ocide Rh Me Ver Charles van Onselen, Chibaro: African Mine Labour in Sours ciel 1900-1933 (Londres, 1976). Trata-se de uma ilustragio impls- “I dos dois tipos de abuso inerentes ao trabalho migrante contratado { ghAlica britanica e da percecao que os trabalhadores afticanos tinham “es contratos. WH OWIAS Dh AMINE v0 | HIVTOWIAS DE ARIICA aferavan a decisoes dos Wabalhadoyes is que 0 vicio do indentire prestava a virtude c esperangas rei era a homenagen) que do trabalho livre. As redes ¢ 08 sistent os trabalhadores sobrevive abalho) retorno de mio de obra estayam ito na década de 1840, com o ntimery aw de recrulalnento, CHYIO, COntaly @ (se vase © lio desejassen lixarese junto aos locais de em pleno funcionamer idores indentured a ating 9 seu pico Na década de de trabalhi 11é aproximadamente 1920, Quase 1850, ¢ mantiveramese é 1,4 milhdes de pessoas foram transportadas para destinos no império britanico (de entre dois milhdes de trabalhado- res indentured a nivel mundial). Perto de 82% eram ind alguns ¢ icanos que escolheram «livrementes partir para as regides para onde os seus antepassados tinham sido enviados como eseravos, A maioria foi enviada para planta- 1, sobretudo nas Indias Ocidentais Britinicas e Aescala deste sistema era tal que dew origem a uma infraestrutura, no interior € para Id do império britanico, crescer 0 custo de oportunidade de qualquer outro método de fornecimento de trabalhadores, Na realidade, apesar da vigilincia de grupos humanitarios metropolitanos, as plantagdes eram entidades relativamente isoladas, sendo a supervisao de: ida, em grande medida, uma ilusio- ‘Aquilo que mais impr “to de o trabalho indentured ter sido praticado em zonas do império britinico até 1922 ()- A suspensaio desta sistema deveu-se sobretudo a sceme influéncia de partidos nacionalistas na india. Mas 0s casos de adores contratados por varios meses, des mpenhando funcdes longe das suas casas ¢ das suas familias, continuaram a ser comuns em Africa muito depois disso. janoy; Goes de agtic nas Mauricia que fe te jiona Go fa (*) David Northrup, Indentured Labor in the Age of Imperial! te 183 -1922 (Cambridge, 1995), pp. 144-45, 156-60. es | | RADALTTADORES AFRIGANOS E PROJETOS IMPERIAIS . a A conquista colonial e 0 fracasso das politicas imperiais Aideia de Africa como continente assolado pela escrava. ues oe ura, 0 rimido pelos seus proprios tiranos ¢, assim, afastado doc minho para a civilizacao, era _essencial para a ara 0 cristianismo € para o comércio, aganda missionaria. Era também um a) omum entre as narrativas de exp] adores disponiveis aos leitores na Gra-Bretanha ¢ um meio para, na metr6) ole, angariar apoios para a intervengio TMpe- falno ultramar (’). Enquanto as tropas africanas sob comando britinico continuavam a conquistar o continente e permitiam oestabelecimento de administragées coloniais, alguns lideres politicos em Londres consideravam-se responsaveis pela trans- formagao na forma como a mao de obra era utilizada. No litoral da Africa Oriental e no interior da Africa Ocidental (sobretudo na Nigéria do Norte), por exemplo, a administracao esperava nao s6 manter as grandes unidades de producao nas maos de senhorios locais, mas também transformar 0 trabalho escravo 5. em trabalho assalariado (*). A pratica de governar Africa signi- ficava, poré: os regimes coloniais tin _Complesidades a or ee vast comune das formas locais de escravatura e com as difi- & Se de sistemas de producao a vender a sua forca ce tabalio. | forca de trabalho. jovernos colonials aperceber- -se-iam rapidamente dos Que fon dos. réprios instrumentos de compreensio 03 intervenciio na sociedade africana. (') Dois dos exemplos mais famosos sao David Livingstone, Narrative te Expedition on the Zainbezi and ls Tributaries; and of the Discovery of the 5 Shirwa and Nyassa, 1858-1864 (Londres, 1865), ¢ John Hanning Speke, Journal of the Discovery of the Source of the Nile (Edimburgo, 1863). 1¢ 4 relacio entre o movimento abolicionista ¢ o impe ait, ver ~ Suzanne Miers, Britain and the Ending of the Slave Trade (Nova Torquey ters: Plantation Labor Cooper, From Slaves to Squatters: jon tab in Zn an Coll Kenya, 1890-1925 (New Haven, nl joy ¢ Jan $. Hogendom, Slow Death for Slavery: 3 , 1897-, 1936 (Cambridge, 1993). a | HISTORIAS DE AFRICA coloniais dependi: cultivados por escravos € camponeses. Na maioria das Colénias, 0 controlo politico impe al era muito fragil, assentando por vezes em aliangas com lideres africanos que tinham interess. na escravatura. As coldnias britanicas opuseram-se rapida. mente as formas mais virulentas do comércio de escravos, mas hesitaram em relag&o a escravatura nas suas modalidades agri. As receité m das exportacoes de géney oO colas e domésticas. Nao puderam, no entanto, contemporizar com estas praticas, ja que os grupos de pressio abolicionis- tas visaram a tolerancia da escravatura em Africa como seu alvo principal. A conquista colonial perturbou os mecanis- mos de controlo e reprodugao dos proprietarios de escravos africanos, e em diversas partes da Africa britanica os escravos rapidamente assumiram 0 controlo das suas proprias vidas (’), Na Africa Oriental, a escravatura foi oficialmente ilegali- zada pelo governo britanico em Zanzibar em 1897 e, no litoral do Quénia, em 1907 ('°). No entanto, em ambos 0s casos, familias muculmanas de lingua suaili proprietarias de escra- vos, algumas das quais ha muito residentes na regiao, outras imigrantes oitocentistas da Arabia, mantiveram, de acordo com 0 direito islamico, titulos de posse da terra e de proprie- dade de Arvores produtivas. Os britanicos reconheceram os direitos sobre a terra daquelas populagées mas rejeitaram a propriedade de escravos. Esperavam que estes proprietarios se transformassem em capitalistas locais, recorrendo ao tra- balho assalariado, e que os ex-escravos, sem acesso a tera, fornecessem a mao de obra. Em alternativa, esperavam qué os antigos senhorios vendessem terras, em principio a colonos brancos. No litoral, 0 Estado negou aos ex-escravos direitos sobre a terra € usou a atmosfera coerciva dos tribunais, onde os escravos recebiam cartas de alforria, para os convencer | io esquematico de um processo complexe. Ul variagdes podem mais facilmente ser identificadas nos estudos incluides em Suzanne Miers ¢ Richard Roberts, eds., The End of Slavery in Aprice (Madison, Wise., 1988). () Este relato da aboligio em Zanzibar € no litoral do Quéni# ¢ retirado de Cooper, From Slaves to Squatters, r- a jaAPALIIADORES AFKIGANOS EPHOPETOS IMPERIAIS | r contratos de trabalho com os antigos senhores | celebrar cont porém, os ex-senhores ¢ ex-escravos acabaram por Na pratica, : + outro po de solugGes, para 14 do trabalho assala- negocial riado, ca" das por relages pessoais de longo prazo em yer de relagdes contratuais. Os ex-escravos tornaram-se, na sua maioria, ocupante: das terras dos proprietarios de planta- jes, onde alternaram entre a agricultura propria € periodos balho assalariado, raramente sendo trabalhadores per- ites, durante todo o ano. Os proprietarios beneficiaram populagées nas suas terras, assim demarcando manetl dapresenga da a propriedade, € obtiveram algum trabalho de ex-escravos, mas nao o tipo de trabalho estivel e permanente que as auto- ridades britanicas pretendiam. Em Zanzibar, onde a cultura poten de cravo-da-india exigia colheitas anuais, as populacoes locais negociaram entre si, e ndo por intermédio das auto- ridades coloniais, outro tipo de solugées com pessoas que tinham estado do lado de fora da economia de plantacao. Estas solucdes traduziam a diferenciagao social ¢ espacial da regio, As populacdes de aldeias vizinhas na ilha de Zanzibar encarregavam-se da colheita do cravo anualmente durante varias semanas, vivendo da sua propria terra ou pescando nos restantes meses do ano. Imigrantes de zonas mais dis- ta sobretudo do territorio continental do Tanganica, sob dominio alemao até 1919, vieram para Zanzibar cuidar das plantagdes fora da estagao da colheita, com contratos de maior duracdo. Este sistema assegurou @ Zanzibar, onde a econo- mia do cravo fora introduzida de forma inovadora em meados do século dezanove, um papel de importante produtor para exportagao. Dependia, no entanto, do modo como diversos grupos sociais, diferenciados entre si, desempenhassem as suas fungdes individuais no processo produtivo sem tentarem introduzir demasiadas melhorias na sua situagao. No litoral do Quénia 6 compromisse de classe era estrutu- ralmente semelhante ao de Zanzibar mas, na pratica, menos eficiente. O litoral, em tempos 0 baluarte da regiao, foi ultra- Passaclo por zonas no inte jor onde a agricultura de colonos almente lucrativa HISTORIAS DE ARICA ses africanos se adaptou as possibilidare, da economia colonial. Noutras par se exemplos semelhantes ge brancos ou campone’ € aos constrangimentos tes de Africa podem encontrar 1 transicées falhadas: 0 esforco das autoridades britanicas para assegurar a sobrevivéncia de uma classe alta terratenente ap mesmo tempo que a desabituava do trabalho escravo. Estes esforcos foram combatidos tanto de cima como de baixo, por exemplo pelas elites, que consideravam ser mais promissor ter o dominio social ou extrair um excedente agricola mani ; diferentes da relacao do que enveredar por relagdes sociais patrio-trabalhador. Com efeito, a conquista imperial pos fim a versées de grande escala e de grande distancia do trafico de escravos, € até limitou as formas mais localizadas de comércio de escra- Senhor severo, transferir a sua dependéncia para outros gru- pos ou individuos, redefinir relagoes de dependéncia ow rocurar emprego em cidades coloniais, nas forcas armadas, nos caminhos de ferro, nas escolas € nas estagoes missionarias. Com a aconquista colonial nemo dominio colonial lograram por em pratica o tipo de transformacao que as ideo- logias imperiais prometiam € que as politicas metro] olitanas , uma transformacao que Tevaria @ substituicao propugnavam da cos or incentivos de mercado, Os governante: coloniais tentaram desde cedo fazer de conta que os proble- mas em redor da emancipacao tinham ficado resolvidos com a adocao de uma definicio estrita ¢ legalista de escravatura e insistindo que os tribunais haviam deixado de reconhecer um tal estatuto. De modo geral, a escravatura era considerada uma questao masculina. As ambiguidades das relagoes de dependén- cia entre homens e mulheres eram remetidas pelos tribunais para a figura do casamento, exceto quando se tratava de uma dependéncia adquirida por meios demasiado violentos ()- (") Lovejoy and Hogendorn, Slow Death, p. 111; Martin Chanock, Law, Custom and Social Order: The Colonial Experience in Malawi cand Za (Cambridge, 1985), p. 169. — HCANOS E PROJETOS IMPERIAIS | outras relacoes de subordinacao foram subsumidas na cate- goria de arrendamento ou divida. Mais tarde, estes mesmos, governantes culparam os africanos e a sua alegada aversao & cultural ao trabalho estavel pela incapacidade britanica de por em pratica as condicées e a disciplina do capitalismo europeu em Africa. A sequéncia do pensamento britanico a respeito de Africa nas primeiras décadas do século vinte, que tem algumas seme- jhancas com 0 pensamento acerca das Indias Ocidentais na década de 1830, merece ser salientada: um episddio interven- cionista; o confronto com a complexidade da situagao local eo See cas da forma desejada; o argumento de que a singularidade do ex-escravo (e, neste cao tambam do exsenhosy iepedia MS a aplicacao de principios universais de progresso social € eco- => - némico O argumento popularizado por David Livingstone e por outros missionarios apés a década de 1860, segundo o qual a Africa era um continente assolado pela escravatura e care- cendo de redenc¢&o cristé, nao era valido apenas em relagao as zonas de Africa afetadas pela escravatura. Também se apli- cava aos camponeses das provincias britanicas da Africa do Sul e, mais tarde, a colénias como a Rodésia do Sul, onde a escravatura nao era um fator historico de grande relevancia. Como os escravos, os camponeses nao tinham sido plena- mente disciplinados por uma economia de mercado, tendo a possibilidade de reverter a autossubsisténcia. Como os escra- vos maltratados, os camponeses eram exceg6es 4 regra da racionalidade econémica e, desde logo, careciam de super- visio, Este tipo de concecao do cultivador atrasado ignorava 6 aumento consideravel, sobretudo na Africa Ocidental, da producdo de matérias-primas para 0s mercados em expansao na Europa em vias de industrializagao. Na Africa Ocidental, a exportacao dos produtos do palmar do litoral e do amendoim da Senegambia estava em crest imento. O trabalho escravo era por vezes relevante no cultivo ou comercializagao destes géne- tos agricolas, mas a producao de pequena escala, organizada | HISTORIAS DE AFRICA por unidades. familiares ou, por vezes, pot lideres religiosos bufam para a criagao de novas formas de organizagao socioecondémica, também deve ser tida em conta, Nem mesmo os europeus mais sensiveis 4 situacao social em Africa na segunda metade do século dezanove compreen. diam bem estas dindamicas. Na Africa do Sul britanica, alguns missiondrios procuraram estimular 0 desenvolvimento de comunidades agricolas mais individualistas em redor de esta- ges mi: s. Eles eram ambivalentes em relagao ao facto de, desde a década de 1860, as novas minas de diamantes exigirem mais mao de obra, as plantages de agticar precisa- rem de migrantes da regiéo e da india e os colonos brancos procurarem mais trabalhadores assalariados a medida que os seus mercados cresciam. A descoberta de ouro, na década de 1880, acentuou rapidamente as pressdes sobre o mercado de trabalho. Como alegaram na época varios sul-africanos libe- ais © como os académicos tém demonstrado desde entao, em algumas regides os camponeses africanos contribuiam para os mercados de cereais e de gado. Esta realidade foi igno- rada devido a crescente importancia e influéncia dos lébis que pediam mais mao de obra. Embora pelo menos desde a década de 1820 tivessem sido postos em pratica mecanismos de controlo sobre 0 movimento dos africanos, estes serviram cada vez mais para empurrar os africanos para determinados nichos do mercado de trabalho, para enfraquecer 0 acessO dos africanos a terra e para evitar que surgissem modalidades intermédias de arrendamento e ocupagao entre proprieta- rio e cultivador. Na realidade, durante décadas os africanos esforcaram-se por manter esse tipo de solugdes, deslocando-se com frequéncia em busca de um proprietario branco que lhes permitisse combinar trabalho, cultivo, comércio e criagao de gado. Mas as mudangas que ocorreram nas décadas de 1890 e 1900 prejudicaram-nos. Depois da vitéria na guerra béer, ° governo britanico apoiou a posigao dos grandes proprietarios e dos grandes empregado: A transformagio dos camponeses sul-africanos semiau- ténomos em trabalhadores dependentes foi, no entant? cujos discfpulos contr rr TRABALHADORES AFRICANOS EP OPETOS IMPERIALS, l 7 completa. Apesar da intensidade do agambarcamento de eras por colonos na regido, as populagoes loca com tel cidade para defender o seu acesso a terra e ao gado. Na medida em que as famili ‘anas tentavam assegurar in s lutaram s al diferentes formas de acesso a recursos, a sua forga de trabalho estava disponivel apenas por pequenos periodos de tempo. Como demonstrou Keletso Atkins em relagio ao Natal oitocen- tista, os nao foram totalmente ditadas pelos empregadores: 0 trabalho a jorna, no seu estudo ‘©, bem como outras formas de trabalho de curta dura- s, refletem a negociagao de um modus vivendi entre vontades, habitos e atitudes em relagao ao trabalho que pareciam incompativeis entre si ('*). Esta situagao nao signifi- cava, no entanto, que empregados e empregadores tinham os mesmos poderes. Na Africa do Sul, os poderes de uns ¢ outros eram particularmente desiguais. Noutras regides da Africa britanica, no dealbar da Primeira Guerra Mundial, as autoridades coloniais puseram de parte 4o mais reformista dos habitos de trabalho € da posse da terra dos africanos, tendo acabado por aceitar um vasto ‘A Africa britanica manteve-se pontuada leque de solugées. por ilhas de trabalho assalariado — as herdades colonas da Rodésia do Sul ou do centro do Quénia, as minas da Rodésia do Norte, centros de comércio € portos em todas as colénias rvastas areas organizadas segundo sistemas eco- endidos e que, de modo as situacdes laboraii uma vi ~, cercadas pot némicos que nao eram bem compre geral, eram deixados a sua sorte. Na altura da Primeira Guerra Mundial, a natureza into- cada da sociedade africana foi proclamada uma virtude do dominio colonial britanico. Na\fri idental esta id converteu-se na doutrina d colonial sensato apenas tentaria dades africanas lentamente, ¢ em qualquer caso, no quadro (") Keletso Atkins, The Moon is Dead! Give Us Our Money!: Cultural Origins ofan African Work Ethic, ‘Natal, South Africa, 1843-1900 (Portsmouth, NH, 1998). yp au w TISTORIAS DE AFRICA orn e wp ey v a zapenas para a As crengas «tradicionais» e da autoridade «tradicional, entagio do africano como tradicional era valida nao 1 Africa Ocidental, onde a economia de exporta. cdo dependia da agricultura de pequena escala praticada por familias africanas e grupos de parentesco alargados, por vezes complementada por mao de obra adicional, mas também para a Africa do Sul, onde a economia mineral e agricola dependia da exploragao do trabalho dos africanos, Cujo acesso a recur. sos produtivos fora sistematicamente limitado. Na Africa do Sul as «reservas» transformavam-se lentamente em depésitos de populagées excluidas do trabalho assalariado, em vez de locais de formacio de possibilidades econémicas alternativas. Em ambos os casos, 0 pensamento oficial reconhecia que os africanos podiam trabalhar, mas nao reconhecia que podiam ser trabalhadores. Os africanos ficavam circunscritos, mais do ponto de vista da ideologia do que na pratica, a um dominio essencializado da tradigao de onde eram chamados, de forma — ffequente ou ocasionat, a4 desempenhar o trabalho necessario, e para onde regressavam. A repres A questio do trabalho na Africa colonial Um dos comentarios mais reveladores acerca da poll- tica laboral britanica no perfodo entre as guerras pode ser encontrado num relatério de um assistant district commissioner (comissario provincial adjunto) destacado no litoral do Quénia em 1918. Ele constatou que obter mao de obra para colo- nos brancos de um chefe africano com sucesso «dependia de quanto ele podia ser levado a exceder as suas instrugdes» ("). A propésito das zonas de colonizagio, em Londres, 0 Ministt? das Col6nias, lorde Milner, declarou que desejava «alcanga® um meio-termo entre permitir que os. indigenas vivessem n0 © Provincial (8) Assistant District Comn Archives Commissioner (Arquivos Na sioner, Kilifi, para 18 de outubro de 1918, Kenya National is do Quénia), CP 38/582. Fr f TRABALHADORES APRICANOS IPKOPE TOS Duper jxcio eno vicio © USAF Melos ert los para os convencer i 11 hathare (2). Dante a consciénicia dos limites do poder colusal como o ree io doy protestas do lobiabolictonista en Laglater is obrigaran as autoridades colonials a recosrer a usna Conmbiiaa Jo de coergao (mais alnaves dat suposta wutoridade dos che ee sobre pelo Estado), incentivos (mais bens de consume), cgercay wndi- rela GINPOStOS payos Ent dinheiro) & uina politica que priyaria algumas regi exporlagio enquanto outras regibes benelicharian dos nessa 0 messin is aatias populagoes» do que do recutamenty direto bes de recursos parita produgag de cudturas para A manta de retalhos compost por sonas de agri- camponesa, reservas laborais ¢ areas de colonizacao cultar branea cobriu parte significativa da Alrica Austral Cental, bem como zonas da Africa Oriental, mas nao da Africa Ociden-\ tal, Esta tiltima regidio nao tinha colonos, a produgao agsicola local era predominante © as suas cidades estayan dotadas de ivamente flexiveis. ) do Norte come- mercados de trabalho reli Quando as minas de cobre da Rodé garam a funcionar, no final da década de 1920, com os seus Ihadores, varios responsaveis © gestores na segundo a qual unio de wabalhy a o fardo dos custos dezasseis mil trab: i m_a doutr (migratérig) de rapica circulagio redus iais sobre o capital, assegurava a manutengao di al ¢ prevenia os riscos sociais da proletarizagao. Contudo, 1 ern Causa, apenas para sutoridade algumas empresas mineiras puseram homens, a sensatez dos principios d. habitagio urbana que decorriam desta abordagem. Na sua opi- nido, um segmento da forca de trabalho dever pitar com a familia nas cidades durante uma parte da sua vida, Na pré- tica, as mulheres ndo eram as criaturas domésticas € passivas ce wh que os gestores de minas esperavam qué fossem. A presenga kA ha cidade mineira criou, para alguinas delas, a oportumidade autonomia que nao cra compativel nem C32 on com concecbes brivanicas da So guida pelas empresas Ja alta rotatividade © da lereee- de gozarem de uma com concegoes africanas, patriarcado. A despeito da visto prosse () House of Lords Debates 41 (14 de julho de 1920), col. 155. a eee ee HISTORIAS DE AFRICA oxo | mineiras, uma parte significativa dos trabalhadores das Ming _ 3%, de acordo com uma estimativa de 1931 ~ vivia . cidades mineiras com aS suas mulheres. A migracao circa \rnca foi tao eficaz na pratica como no pensamento ofigia} autoridades coloniais € OS chefes africanos procuraram entao reafirmar o sistema patriarcal neste terreno contestaq, o algumas mulheres em tribunais e em mudanga, acusand f ados maus comportamentos sexuais ('5) indigenas de alegi : s extua & No inicio dos anos 30 defendia-se que nao era possivel ir para ¥ 14 destas medidas, sob pena de contrariar a natureza da mente africana. As palavras do governa Thomas, iam nesse€ sentido: dor da Niassalandia, Sir Shen. ton ¥ yo Quero declarar que seria inconcebfvel para qualquer ind gena em qualquer dos paises onde cumpri fungées que o governo ' desejasse que cle se desenraizasse, As suas mulheres e as suas = AP criancas, do lugar consagrado aos seus olhos por associagées antigas, para abandonar as relagdes a que, de acordo com os costumes indigenas, est tao intimamente ligado, a sua parcela de terra, os seus rebanhos e as suas manadas, para se dedicat a um novo pais (""). Os casos de sucesso do modelo econdmico alternativo 20 trabalho assalariado — a produgdo para exportacao — também se concentravam em reas de produtividade excecional ma Africa briténica. A mais importante destas ilhas de relativa prosperidade surgiu sem planeamento nem estimulo imperial No litoral da Africa Ocidental, a produgao de dleo de palma fazia parte da economia pré-colonial; os cultivadores de cacat ("*) George Chauncey, Jr., ane a ‘opperbelt: 1926-1964», in Sharon. &) Jane L. orgs., Patriarchy and Class: African Women in in th Wore (Boulder, Colo., 1988), pp Tipee : 5 vernor, Nyasaland ssWeld, 7 de maio AG) Governor Para PassWeld, 7 de maio de yr PRADALHADORES APRICANOS FE PROJE LON IMPERIATS | ow o Ouro e da Nigéria Ocidental receberam rebentos c sua propria iniciativa a pro inal do século dezanove; e, nas primeiras da Costa d de miss onarios, langando por qugao de cacau no décadas do século vinte, os agricultores da Nigéria do Norte dedicaram-se a cultura do amendoim quando as autoridades coloniais tentavam convencé-los a cultivar algodao. Estes sis- temas agricolas nao eram safricanos», 0 que, P% imperial, significava estatico ou tradicional, nem capital no sentido proposto por Marx. O trabalhador do cacau aml cionava nado apenas receber um salério, mas também ter acesso A terra para se alimentar, uma parcela da colheita e, em mui- tos casos, estabelecer relagées de longo prazo com 0 senhorio, que poderia um dia vir a ajuda-lo a adquirir terras ¢ a plantar arvores. Na Costa do Ouro - 0 primeiro sistema de cacau ~ esta situagao modificou-se na década de 1930, & medida que as terras adequadas para a cultura do cacau foram fic esgotadas (). Os grandes projetos de obras publicas, sobretudo as primeiras obras de linhas de caminho de ferro na Af i dental, também dependeram do recrutamento oficial for enquantona Africa Oriental a construcao de vias exigiu impor goes em grande escala de trabalhadores indianos indentured (!"). Mas, de modo geral, a mao de obra para os portos, ¢ minhos, de ferro e operagées comerciais foi abrangida por, padroes de migracio e fixacdo urbana cada ver,maisdlifercnciaclos Verili- rcados de trabalho urbanos; os aideologia cou-se um crescimento dos mel rs of Southern Ghana (Cambridge, (7) Polly Hill, Migrant Cocoa-Farm 1d Socio-Economic Change in Rural 1963); Sara Berry, Cocoa, Custom, an Western Nigeria (Oxford, 1975). () Roger Thomas, «Forced Labour n British West Africa: The Case of the Northern Territories of the Gold Coast, 1906-27», Journal of African History, XIV (1973), PP: 79-103; Charles van Onselen, Chibaro: African Mine Labour in Southern Rhodesia, 1900-1933; Michacl Mason, «Working in the Railway: Forced Labor in Northern Nigeria, 1907- -1912s, in Robin Cohen, Jean Copans € Peter C.W. Gutkind, orgs., African Labor History (Beverly Hills, Calif, 1978), Pp. 56-79; R. D African Raitwaymen: Solidarity and ‘Opposition in an East African Labour (Cambridge, 1973)- | HISTORIAS DE AFRICA 282 5 de migraco passaram a englobar tanto os empregy, s campos de cacaul; alguns homens instruidg : i aram postos administrativos e de ensino ¢, y, a fundar associagoes mutuals s padro urbanos como 0} em missoes ocup2 década de 1920, comegaram ce sindicato: i a €poca, concentrada em manter a ordem através de SF — Sstruturas étnicas, principio fundamentz tica de indieg ° Toi utilizado para classificar indy. ey » guile, o rotulo «destribalz viduos normalmente vistos como trabalhadores ou habitantes Ss , de aldeias. Quando a Depressao atingiu a Africa britanica, a 5X0 possibilidade de reenviar trabalhadores assalariados para &. seguranga ¢ invisibilidade das suas aldeias e a produgio de ~ quantidades modestas de produtos de exportagao, ainda que a pregos baixos, fizeram 0 indirect rule e a migracao circular parecer abordagens particularmente sensatas. Varias colénias dotadas de departamentos especializados em questées labo- rais nos anos 20 encerraram-nos durante a Depressao, tendo transferindo as suas funcées para a administracao provincial, assistida por servigos médicos, reafirmando desta forma a dominagio burocratica do mecanismo da politica de indirect rule e 0 poder ideolégico da «tribo». | | Neste contexto, a adesao a ideologia do trabalho livre foi meramente formal. A Gra-Bretanha continuava a considera -se na vanguarda do colonialismo progressista, marcado acima de tudo pela rejeigao da violéncia e da coercdo de regimes coloniais anteriores. A Gra-Bretanha tivera, aliés, um pape ativo nos congressos internacionais de 1884-85 ¢ 1889-90 4° delinearam as regras da colonizagao moderna, sobretudo ° principio segundo 0 qual uma poténcia colonizadora est obrigada a suprimir o trafico de escravos nos seus territories a evitar praticas andlogas. A resolugdo antiescravatura da dors #25, ea declaragio contra 0 traballo cro ah Imereti da rao de 0 vint,ciddios britanicos organtnantes eomaniti vezes, 0 préprio eon atone humanitd 10 britanico, criticaram o rel. a TRABALHADORES AFRICANOS E PROJETOS IMPERIAIS | 28s 1 Belgica, a administracao colonial portuguesa em Angola e ogoverno liberiano por praticas de trabalho forgado. Os primeiros passos de uma discussao do sistema de traba- jho que ia para 14 da ideologia do trabalho livre foram dados fora dos circulos oficiais. Num livro publicado em 1933 sob gs auspicios do Conselho Missionario Internacional, defen- deu-se que 0 trabalho industrial ¢ as migragées «abalavam as bases da vida bantu», tornando os trabalhadores vulnera- yeis a doengas € a comportamentos antissociais nas cidades e deixando as comunidades de origem dos trabalhadores eco- nomicamente vulneraveis devido A sua auséncia. As migracées punham em causa o tinico recurso forte de que os africanos dispunham — a «solidariedade integrada e a dependéncia mnitua» das comunidades africanas -, enquanto os movimen- tos para tras € para diante dificultavam ainda mais os esforgos dos missionarios para os educarem. «E, gritante a incompa- tibilidade entre, por um lado, encorajar a integridade tribal através do sistema de indirect rule [...] e, por outro, encorajar a sua perturbacao através do atual sistema econdmico cadtico». O coordenador do livro apelou a «estabilizagao» a dois nivei para assegurar as condicées de uma vida sustentavel na aldeia; ¢ para transformar o trabalho mineiro num projeto de longo prazo ("), Foi precisamente este 0 aspeto que o pensamento oficial britanico evitou em meados dos anos 30. Nos circulos oficiais, 0 facto de os africanos sofrerem frequentemente de problemas de satide, de ma alimentacao ¢ de outras mas condicées de Uabalho era quase sempre considerado uma consequéncia do Carter primitive dos africanos, nao um problema do impers. (5 J. Merle Davis, ed., Modern Industry and the African: An Enquiry into "he Effect of the Copper Mines of Central Africa upon Native Saviely and the Work of Christian Missions Made under the Auspices of the Department of Social nd Industrial Research of the International Missionary Council (Londres, pp. vii, 1-2. at | HISTORIAS DE AFRICA O trabalho e o quadro do desenvolvimento Apesar das tentativas para evitar a questao laboral, esta voltaria a ser considerada um problema do império nas yés. do centendrio da aboligao da escravatura nas Caraibas, > verificada em St. Kitts, em Trinidad e na Guiana Britanica em 1935, em Trinidad e Barbados em 1937 e na Guiana Britanica e na Jamaica em 1938 comegara com gre- ves, que se espalharam tanto pelas dreas rurais como urbanas, tornando-se violentas em alguns casos. Estes movimentos abrangeram uma populagio para a qual as fronteiras entre tra- balho e desemprego, entre empregos estaveis e inseguranga, eram porosas (*°). O ponto mais alto destes acontecimentos ocorreu em 1938, precisamente um século depois de os brita- nicos terem abolido 0 apprenticeship programme (programa de aprendizagem) e terem declarado que os antigos escravos das suas col6nias eram plenamente livres. As autoridades coloniais britanicas tinham colhido os louros pela emancipagao durante boa parte desse século, mas em 1938 os governos das Indias Ocidentais decidiram cancelar as comemoracées do centena- rio: os motins ¢ as greves chamaram a atengao para o facto de a pobreza e a revolta serem alguns dos frutos de um século de emancipagao britanica. \ A primeira de uma vaga de greves importantes na britanica comegou também em 1935. A greve dos trabalha- dores mineiros da Rodésia do Norte, de 1935, foi organizada sem 0 apoio de sindica de cidade mineira em cidade mincira, por via das redes pes- soais, das coletividades de danga, das organizagées religiosas ¢, mais tarde, dos grandes comfcios. O movimento abarcou nao-minciros residindo nas cidades, € tanto mulheres quanto homens ("'), Outras greves gerais tiveram lugar em Dar es tos e espalhou-se de mina em mina, Os (*) Ocstudo mais pormenorizado 60 de Ken Post, Arise Ye Starveling The Jamaican Labour Rebellion of 1938 and its Aftermath (Maia, 1978). () Lan Henderson, «Early African Leadership: The Gopperbelt Disturbances of 1995 and 1940s, SAS, 1 (1975), pp. BINT: Charles Perrings, Black Mineworkers in Central Africa: Industrial Strategies ant the TRABALHADORES AFRICANOS E PROJETOS IMPERIAIS | Salaam em 1939 e em Mombaca em 1934 € 1939. A primeira reacio das autoridades britanicas as acdes dos trabalhadores africanos foi reafirmar a autoridade tribal. No seu conjunto, os acontecimentos que ocorreram nos ambientes sociais bastante distintos das antigas colénias de plantacao das Indias Ocidentais e das colénias dominadas pelo trabalho migrante da Africa Central levantaram questdes que nao se adequavam as categorias anteriormente utilizadas. Lon- dres ficou seriamente abalada em parte devido ao facto de as greves terem acontecido no periodo em que a Depressao estava a passar e a produgao aumentava, em que 0 perigo da erra com a Alemanha se aproximava e em que movimentos politicos em diferentes colénias dirigiam as autoridades impe- riais um conjunto de reivindicacées cada vez mais exigentes. Fem sido defendido que 0 Colonial Office pretendia fomentar 0 progresso econdémico ¢ social no império e que aproveitou os motins para persuadir os céticos, mas os arquivos sugerem que as autoridades coloniais foram surpreendidas pelos protestos | pan-imperiais, tendo a sua autoconfianga sido seriamente | abalada (22). . Em reacdo a estes acontecimentos, 0 responsaveis do Colo- nial Office nao puseram em causa 0 império, reformaram-no a partir de dentro. Isso significou, em primeiro lugar, instar as colonias a criar departamentos especializados em questoes laborais (ou a recrid-los, no caso dos territérios africanos que tinham relegado as questoes laborais para a «administragao indigena»). O Colonial Office nomeou, em 1938, 0 seu pro- prio Conselheiro para © Trabalho, 0 major G. St. J. Orde Browne. Em segundo lugar, © Colonial Office, sob a lideranca de Malcolm MacDonald, tentou que @ questio laboral fosse 1 in the Copperbelt 1911-41 (Nova Torque, E Proletavial olution of an African Pro on the African Copperbelt 1979); Jane Parpart, Labor and Capita Phil ‘a, 1983). . Fre) Setien C for of British Colonial Development Policy 1914-1940 (Lond: 23! J. M. Lee, Colonial Development and Good Government ( Official History of Colonial Developmen! ne, The Making , 1984), pp. 2 ‘Oxford, 1967); D 1 (Londres, 1980), Morgan, The vols. ORIAS DE AFRICA 26 | HISTORIA’ vista como uma questao de «desenvolvimento». O Colonial Office defenden o uso de verbas da metr6pole especificamente para melhorar as condigées de vida nas colénias, em especia| nas zonas urbanas e zonas de plantagées. A perspetiva teérica onomicos ¢ sociais utilizada para jusi- ficar estas i s (de tal forma ientistas socials nao estariam disponiveis para a defenderem numa for- mulacao tao simples): mas. condicées de vida geram desordem, Para ultrapassar 0 ceticismo dos conservadores fiscais que, sem surpresas, defendiam que cabia as col6nias enriquecer a metrépole, nao 0 contrario, 0 Colonial Office desenvolveu um argumento duplo: em territérios extremamente pobres, os investimentos sem retorno a curto prazo eram necessarios para criar as condicées que, em principio, motivariam o aumento da producgao. Uma forca de trabalho com acesso a melhor educagio, melhor habitacao e melhor alimentagao criaria tra- balhadores mais produtivos. Em segundo lugar, uma classe trabalhadora mais préspera tornar-se-ia ordeira e previsivel e pouparia o império a embaracos ¢ perigos. Este raciocinio \\ acabaria por levar 4 aprovacao do Colonial Development and acerca dos. Welfare Act, de 1940, que, por causa da guerra, apenas teve financiamento garantido aps 1945. Esta lei representou um marco na histéria do império britanico, nao apenas devido ao facto de ter autorizado 0 investimento de dinheiro dos contribuintes britanicos em pro- jetos que, embora nao fossem considerados lucrativos, eram vistos como despesas politicamente necessdrias para melho- rar o nivel de vida das populagées coloniais, em especial dos trabalhadores coloniais. Foi importante também do ponto de vista conceptual porque colocou os africanos € os naturais das Indias Ocidentais na mesma categoria. Considerava-s¢ que ambos tinham existéncia social. Dependendo das suas cond Ges de vida, podiam trabalhar bem ou mal, contribuir pa" preservar a ordem ou ameacar o Estado. Além dos investimentos para produzir rendiment forma mais imediata, o CD&W Act abordou as questoes OF habitagao, da agua, dos hospitais, das estradas e das escolas: ‘os de - TRABALIADORES APRICANOS E PROPETOS IMPERIAIS yarousse de uma MU inca de orientacao significativa no pen- 1 samen. imperial, também porque pressupunha que 0 sucesso ‘|: politica imperial podia ser medido nao por critéri Os Vagos e autorreterencials, Como © argumento de representar uma lizagao «superior, mas por critérios mais especificos de av progresso sock : rendimento per capita, literacia, esperanga de vida. As palaw do Secretary of State for the Colonies, Oliver m como 0 conceito de desenvol- stanley, de 1944, demonstr yimento, articulado pela primeira vez em 1939, influenciou 0 debate sobre politicas faturas: 6 império colonial significa tanto para nds que deviamos estar 41 assumir encargos de modo a garantir 0 seu é-lo, sera que se preparados pa futuro. Se nao pudermos ou nao quisermos faz justilica a sua mamutengio, sera que nos deveria ser permitide [...] Se estas verbas forem gastas de manter um império colonial? forma sensata, € se os planos prosseguirem 0 objetivo de aumen- tar o verdadeiro poder produtivo das colénias, a longo prazo Mas 0 meu argumento nao ands, por mais importantes que teremos beneficios consideriveis se baseia em ganhos materiais pi nos anos vindouros, sem a Commonw possam ser. Sinto que, alth eo império, este pais va relagdes mundiais € temos diante de a repetir-se, a um prego que ndo é extravagante, aa linha do desenvolvi- 1 connosco (”*). si desempenhar um papel menor nas nds uma oportunidade que pode nao volta de orientar 0 império colonial par: mento que mantera em contacto proximo ¢ leal O império estava, de facto, em questio. A lei de 1940 tinha sido motivada por manifestacoe: de ira nas {Indias Ocidentais e ha Africa Central. Pelo menos para 0 Colonial Office, 0 sucesso tiva dependia da questio de saber se 0 adeser | ty 4960 maAlln. () Secretary of State Stanley, reunido do ¢ slonial Economic Advisory Committee, 19 de dezembro de 1944, PRO, G AC (44)46, CO 852/588/2. Estas questdes ¢ outras Te cionadas sio discutidas em pormenor em Gooper, Decolonization and African Society, pp. VI1-124. da nova inicié o» conseg volyim, HISTORIAS DE AFRICA Do particular ao universal Mas a questa0 do trabalho em Aica nao podia, mate dade, ser subsumi r 10 de desenvolvimento, com mais evidente durante a Segunda Cian se tornou cada vez i 3 ete Mundial, antes de ter sido possivel dar inicio ao programs previsto no CD&W Act. Esta afirmagao continuava a ser yer, dadeira mais ou menos uma década depois da guerra, quandy se registava um rapido aumento da despesa. ‘A Rodésia do Norte, 0 Quénia, a Nigéria e a Costa do Ourp | assistiram a greves de grande escala durante a guerra 4) Independentemente da opiniao dos planeadores econdmicos em Londres acerca da gestao do desenvolvimento num periody de constrangimentos, os gestores politicos foram confrontados com a realidade imediata: 56 aumentos salariais significativos evitariam a paralisagao dos transportes e da mineragio nas colonias de exportacao. Tal como a greve de 1935, a greve dos mineiros da Rodésia do Norte de 1940 alastrou-se de mina em mina, traduzindo-se tanto em protestos nas cidades como nos centros industriais. A repress4o da greve causou perdas de vidas. O porto de Mombaga, no Quénia, esteve a beira da paralisacao em 1942 e, novamente, em 1945. A maioria dos fun- ciondrios ptiblicos e dos trabalhadores dos caminhos de ferro entrou em greve em 1945. As minas € os caminhos de ferroda Costa do Ouro estiveram a beira de importantes greves em varios momentos durante a guerra (¥*). Todos estes acontec mentos tiveram lugar num periodo em que havia necessidade urgente de mao de obra, pelo que as autoridades colonials nao se encontravam numa posic¢&o adequada para recor NG a coergao. Por outro lado, a legitimidade neotradicion! 4 % Este par: grafosinttiza uma discussio muito mais pormendti estes acontecimentos feita em C i ican Sots em Cooper, Decolonization and Af (*) Henderson, «Early Africz it 7 ly African Leadership»; Frederick G9 pe aes Waterfront: Urban Disorder and vansformation of Wo ie sa (New Haven, Conn., 1987); Richard Jeffries, a leology in Ghana: The Railwaymen of Sckondi (Cambridge: ! ida ao. conceit URABALHADORES AFRICANOS E PROJETOS IMPERIAIS | ow (a suposta | raldade do homem africano ao seu chefe) tinha pouca relevancia nos locais de trabalho e nas cidades. 1M a todos este: L acontecimentos era a expe riéncia_ dos trabalhadores cm eidades, en miiiias © em centros de trabalho assalariado desprovidos das condi= IS para assegurar a Lengao de um, 7 populacao trabalhadora. Na fase que se seguiu A Depressio, 0 bole a crescimento econdmico em toda a Africa britanica levou cada g-2 4 vez mais trabalhadores para as cidades, onde os governos nao froae des socials neces: estavam dispostos a investir em habitagdo, escolas ¢ outros servicos, e onde os empregadores e as autoridades coloniais mantiveram os salarios baixos, mesmo quando se verificou um. aumento dos pregos. A rigidez desta posicdo foi reforcada pela es crenga das autoridades coloniais de que os africanos eram, \ (QU por natureza, camponeses, e de que o trabalho assalariado era temporario e, além disso, uma questo masculina. Os tra- balhadores africanos nao viviam verdadeiramente na cidade. A realidade era mais complexa, As présperas cidades portua- rias da Africa Ocidental tinham um numero significative de habitantes africanos, incluindo trabalhadores qualificados e professores € outros profissionais. A nova vaga de habitantes urbanos criou simultaneamente tensées e possibilidades poli- ticas em cidades onde os jornais e organizagées africanos ja faziam reivindicacées politicas. Na Africa Central e Oriental, as autoridades coloniais britanicas tentaram controlar a migracéo para grande parte das cidades. Contudo, os homens nao par- avam de ser trabalhadores tiam necessariamente quando dei assalariados. As mulheres, por seu lado, vinham frequente- mente para as cidades como acompanhantes de homens ou Para tentar a sorte de forma independente, mesmo quando se esperava que estivessem a criar familias em aldeias rurais. AAAfrica urbana foi palco de tensdes entre africanos recém-che- ‘anos € curopeus, rados ¢ residentes.de longa-data, entre al entre homens e mulhere: , “Tratavase de cidades dinamicas, com potencial para novas ligacdes socials e politicas, A combinacio entre ntimeros cr centes de imigrantes € 6 aumento da inflagio entre o final | HISTORIAS DE AFRICA ¢ 0 perfodo do pés-guerra produz (« ) volati| kim alguns casos, por exemplo na Costa do Guro en Nigeria, os sindicatos organizaram varias greves bem. -sucedidas, enquanto noutros, como em Mombaca, as greves n lugar sem o apoio de sindicatos. Os movi- luziram-se em greves mas também em dos anos 1 umd situas gerais liver mentos urbanos tr revoltas de consumidores, na medida em que tanto as mulhe- res comerciantes que trabalhavam por conta propria como os homens trabalhadores sentiram as mesmas dificuldades para sobreviver, Um dos elementos comuns as agoes de protesto gurar a sobrevivéncia da da época eva a dificuldade em a familia numa altura em que os salaérios eram baixos, até para um homem solteiro. Apesar da difer enciagao existente nas cidades, a facilidade de comunicagao nos bairros densamente povoados possibilitou a mobilizagéo em massa na conjuntura intensa dos anos da guerra e do p6s-guerra. Q império britinico descobriu que o trabalhador nao as uma unidade de forga de trabalho, mas um ser era ap) humano que vivia em condigbes espectficas. Diferentes con- dices de vida podiam desencadear o cumprimento ordeiro de um regime de trabalho, o sentimento incipiente de raiva ou uma acao coletiva, alta rotatividade ou trabalho de longa duragio. Os trabalhadores tanto podiam aprender com 0 trabalho € tornar-se mais produtivos como enredar-se num circulo vicioso de baixa produtividade, que servia de justifica- Gio para salarios baixos e expectativas baixas. Acima de mda.a_ africanos cama-inferiores 2 we verdadeiro, i idade de fora de trabalho exe S) fda (emporariamente de um contexto «tradicional», produzt_ uma forga-de trabalho_em_massa ao invés de uma forga de uabatho diferenciada. Um funcionario colonial da Rodésity por exemplo, lamentou os efeitos das condigdes de vida urba nas «descuidadas ¢ precarias», a auséncia de vida em familia, a vestrutura social anormal», composta na sua maioria por homens jovens, e alertou para o perigo que a «massa fluidairres ponsavel do grupo etério dos dezoito aos trinta ¢ cinco” # proy abalhadores Nos SEABMMADOMES a9 KI woe . . ee TRENT TIN paren represemtava (") Nasi, muna coniesss perign Je as Breves nin continuarens avert de inflagao, 6 spritas industriais associatlas a Setores On isidtstsins espectfienss se disserni- it assem, E, de facto, assim fai: ‘s assem. facto, assim foi 14% foram de On asns 1999. reve ger al, aletando cidades inteiras como Mormbaca ou Dar es Salaasn em 1947, on todo o pats, como ta Nigeria em 1945. Como as greves dos anos 40, estes aeonter itmentens le oepecto da desordem inperial, nao ape laborais. ANtAvarn tas das disputas, . t, ee boosh pew Os relation de adsminisivadores eolaniais esn Arica e de | responsaveis do Colonial Office em Londres documenta de forma consistent 0 receio de os protestos laborais se trans: 7 formaren numa desordem em tava. A seguinte frase sintel of 4 preocupagio sentida no Copperbelt: «Se uma greve crew pode nao ser possivel reduzi-la 4 dimensdo de mera uta sin- dial». O governador interino da Nigésia assinalou, por seu lado, «a solidariedade entre todos as classes de funcionarios do governo na exigéncia de uma melhoria geval das condiges de vida» (®), Os governadores confessaram a sua impoténcia: «ha pouco mais que eu possa fazer para por fim a grever. Em Lon- dres, Frederick Pedler, um exemplo do funciondrio colonial perspicaz deste perfodo, reconhecen que “elm breve, pro- vavelmente de forma sdbita, a Africa Oriental tera de por de parte o trabalho pouco qualificado © 05 salrios muito baixos € optar por algo muito mais proximo do padrao do traba- tho manual curopeu ¢ do salario do trabalhador assalariado europeu» (”*), Feonomic, Social and Health Conditions of Africans Eenployed in Urbai Arease, janciva de 1944, () Minute, Arthur Dawe, [i de miaio de 1941, PRO, CO795/122/ 5100/7; Acting Governor, Nigeria, para o Secretary of State, 21 de maio de 1042, 246 de main de 1944 (elesrama), 9 de junho de 1942, PRO, CO 5954/1 20/33669; Acting Governor, Nigeria, para Governor, para Secre- tay of State, 19 de julhio de 1945, PRO, CO SBSI2T5I300407/1. ) B,J. Pedler, Minute, 14 de agosto de 1989, PRO, CO 583/515/ SR397/2, %) South eReport of the Committee to Investigate the (‘y HISTORIAS DE AFRICA, Enquanto os responsaveis politicos respondiam aa a y dmini 7 Meacas imediatas, outras vozes na administracao procuravam diferentes de lidar com o novo enquadramento da ames laboral. O conjunto de comissGes incumbidas de investigar aspreondicoes de trabalho apés cada uma das principais kal |x > tornou-se o principal forum para desenvolver um novo dis 4 curso sobre o trabalho. Uma comissao criada no Quénia, em 1945, afirmou, de forma dramatica, que estava em qUestio 9 Ye problema do nascimento de uma «classe trabalhadora utba- y nizada» (**). Diversos relatérios das comiss6es reconheceram oF que, independentemente daquilo que as autoridades colo- oy” tuais pensavam acerca da necessidade de os africanos virem . ye viver para a cidade e sobretudo para perto dos locais de tra- y balho assalariado, era fundamental lidar com essa realidade. Os valores eram pouco significativos em termos de percenta- gem da populagao, mas a circulacao das populacées de e para 0 local de trabalho indicava que uma percentagem maior de homens africanos tinha passado pela experiéncia do trabalho assalariado. Na realidade, tanto no Copperbelt como noutros locais, cada vez mais homens traziam consigo as suas mulhe- res e filhos, e diversos enquadramentos familiares, legais ou ilegais, se formavam nas cidades. Reenviar os trabalhadores para os seus locais de origem apés um periodo de trabalho nas minas ou nas docas revelava-se impossivel e a complexidade crescente dos centros urbanos facilitou a fixagao dos africanos. Quando, nos anos 40, as autoridades coloniais do Copper belt comecaram a debater o tema da «estabilizacao», a politic que consideravam desejavel j4 era um padrao com que ° africanos se tinham confrontado. O problema era geti-o (*) As investigacdes levadas a cabo a esse respeito desenvolvers™ uma linguagem acerca do controlo social cientifico que #"" —___ 2" os ibaa ) Report of Committee of Inquiry into Labour Unrest at Mom [Phillips Report] (Nairobi, 1945), gia mPa Report (N iliac do eet 8 Continuagio da discussio sobre estabilizagio netic

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